segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Meu retrato aos 67 - Carlos Emilio Faraco

Poesia
MEU RETRATO AOS 67


Cada linha
Da minha mão
É um fio de contradição:
Traz um sim,
Traz um não,
Um parto,
Uma negação.

O sim do que fiz,
O não do que contive,
O sim do que quis,
O não do que detive.

Uma só admite
Um tímido talvez:
Aquela que limita,
No começo e ao cabo,
O nascimento de Deus,
O batizado do Diabo.

As alianças no segundo turno - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 04/11/2013

A 26 de outubro de 2014, daqui a quase um ano, deveremos escolher o próximo presidente entre Dilma Rousseff e um candidato da oposição. Hoje, este é o cenário provável. Dilma terá sido a mais votada no primeiro turno, mas com menos votos do que os sufrágios tucanos somados aos da Rede+PSB. Matematicamente, isso significa que a oposição poderá vencer - mas apenas se o oposicionista que for para o segundo turno conseguir a transferência quase integral dos votos do oposicionista que não for.
A grande questão, desde já, é: os dois candidatos de oposição - que se opõem mais ao PT do que entre si - se unirão para o segundo turno? Desculpem, a pergunta está errada. Pode bem ser, sim, que se unam. Mas a verdadeira questão é: os eleitores do terceiro colocado, que estará fora da disputa, apoiarão quem disputar a final contra Dilma? Eis o ponto. 

Nosso eleitor não dá tanta importância às recomendações dos candidatos em quem votou antes. Decide em função de outros critérios. Isso pode decorrer de uma politização menor do que na Europa, mas tem o condão de deixar nosso votante mais independente, de permitir surpresas políticas e de dar mais oportunidade política à renovação. Os movimentos de votos que ocorrerão entre 5 e 26 de outubro não resultarão tanto de um acordo tardio entre os dois oposicionistas. Mas serão influenciados, sim, por suas campanhas.

Para que a aritmética (PSDB + PSB > PT) se torne realidade, será preciso muita política. Será necessário os candidatos de oposição blindarem seus eleitores contra a sereia petista - e isso começando agora, pensando já no segundo turno. Essa é a condição para uma transferência bem sucedida de votos. Têm assim de convencer seus eleitores de que a distância entre eles dois (Aécio ou Serra e Eduardo ou Marina) é menor do que o abismo separando todos eles do governo. Só que não adiantará pregar isso depois de abertas as urnas do primeiro turno. Na França, a cada eleição presidencial, aguarda-se com ansiedade o perdedor do primeiro turno - sempre um centrista - anunciar quem apoiará. No Brasil, será tarde. Nosso eleitor fará sua escolha para a final das presidenciais considerando, sim, o que dirá seu ex-candidato, mas apenas entre vários outros considerandos.

Se a oposição quiser levar em outubro de 2014, precisa começar a trabalhar desde já. Precisa preparar uma aliança implícita, não enunciada, discreta, que possa ter sucesso no segundo turno. Ou seja, não pode deixar para anunciar sua união após a primeira volta das eleições. Mas tampouco pode se apresentar unida antes do pleito. Os dois partidos precisam ter seus candidatos. Precisam ser diferentes. Precisam disputar para valer.

Não se trata de um pacto de não agressão. Agora deve baixar bastante o teor de críticas dos tucanos à Rede+PSB, ou desta ao PSDB. Mas o principal, para ambos, é fechar seus eleitores ao PT.

Um sinal disso se vê no aumento da tensão de Marina e mesmo Campos com o petismo. Até agora, Marina Silva se apresentou como a terceira via, propondo uma alternativa ao condomínio PT-PSDB que disputa o poder entre nós há quase 20 anos. Eduardo Campos procurava uma posição intermediária entre esses partidos, cultivando ao mesmo tempo Lula e Aécio, lançando-se candidato mas mantendo-se de bem com os dois. Marina é mais conceitual, mais utópica. Campos é intensamente pragmático. Ela é mais inovadora, queria uma terceira via; Campos, apenas um meio termo. Suas trajetórias, tão diferentes entre si, se os afastavam do PT, não os jogavam nos braços do PSDB. Agora, porém, ambos estão sendo marcados como oposicionistas.

Por itinerários distintos, os dois ex-ministros de Lula - que, separados, podiam não bater de frente no PT - ao se juntarem passaram a navegar em águas que têm mais traços tucanos do que petistas. Isso lhes dá força e fraqueza. Tornam-se fracos, porque o discurso da novidade, da terceira via de Marina, da moderação de Campos cede lugar a um endereço carimbado na oposição. Mas se fortalecem porque passam a disputar, com chances de êxito, o lugar que ainda é dos tucanos. Se Serra tem um teto baixo, limitando seu crescimento, e se Aécio não decola, abre-se espaço para um novo candidato, especialmente se for o membro mais popular da nova aliança, Marina.

Se ela ou Campos for para a final, contra Dilma, o eleitorado tucano os seguirá sem muita discussão. Se Aécio ou Serra for o finalista, a transferência é menos óbvia. Mas interessa aos dois partidos o apoio recíproco na final. E o importante é que, na cultura política brasileira, isso não se define em negociações entre as cúpulas partidárias na última hora, mas se lapida ao longo do tempo, na construção aos olhos do povo de duas figuras essenciais, a do antagonista e a do mero adversário.

Desde agora, na campanha para o primeiro turno, cada candidato elege um antagonista, aquele a quem vai se opor fortemente. Para o PSDB, é o PT, e vice-versa. E cada um elege adversários, com quem vai disputar, mas conservando espaço ou para seu apoio explícito, ou ao menos para garimpar votos entre seus eleitores.

Nesse conflito dos dois rivais históricos, o novo ator ganha, mas nem tanto. Porque o PT tentará desconstruir Marina e Campos com vários argumentos, acusando-os de abandonar seus compromissos históricos e procurando afastar deles os eleitores que valorizem a questão social. Porque Marina e Eduardo também se enfraquecem, ao deixarem de ser terceira via. Perdem justamente o que os distinguia. Em suma, os 12 meses prometem não ser fáceis para ninguém.

EDUARDO ALMEIDA REIS - Férias‏

Férias

Nesses dias, tenho refletido sobre a rubrica 'saúde' neste país grande e bobo. O SUS dispensa comentários: é aquilo que as tevês nos mostram de cotio, a cote, cotidianamente 

Estado de Minas: 04/11/2013





Sumiço de 30 dias disfarçado de férias, substantivo feminino plural – período de descanso a que têm direito empregados, servidores públicos, estudantes etc., depois de passado um ano ou um semestre de trabalho ou de atividades –, exige explicação, assunto chato porque envolve problemas de saúde: andei hospedado numa UTI durante dias, além dos outros que passei no hospital até sair com “alta” relativa. Sim, porque alta que não seja relativa ainda está para ser inventada.

Nesses dias, tenho refletido sobre a rubrica “saúde” neste país grande e bobo. O SUS dispensa comentários: é aquilo que as tevês nos mostram de cotio, a cote, cotidianamente. Cerca de 25% dos 200 milhões de brasileiros têm planos de saúde, uns melhores, outros piores, operados por instituições que geralmente pagam uma tuta e meia aos médicos conveniados. Sempre que me foi possível, paguei aos médicos, cash, os valores de suas consultas normais, deixando por conta dos planos de saúde os exames laboratoriais e as eventuais internações.

Agora o negócio foi mais complicado, porque saí de casa com a pressão 6 x 2, em ambulância de UTI. Pausa para explicar que havia duas ambulâncias na porta do prédio: a normal e a de UTI, funcionários educadíssimos, eficientes, carinhosos, que pretendo gratificar através da direção da Unimed-JF. Por hoje, chega de falar de doenças. Quarta-feira, 6 de novembro, o queixume continua, OK?

Since 1937

O fato de ter sido fundada em 1937 não permite que a empresa Pantherella Fine English Socks se possa orgulhar do since (desde), como as empresas francesas se orgulham do depuis, considerando que inúmeras empresas, até hoje de sucesso, foram fundadas ainda no século XIX e umas poucas no XVIII. Grupos empresariais de 1937 são novos, ao contrário das pessoas nascidas naquele ano, todas com indecorosos 76 aninhos.

É verdade que a Microsoft, a Apple e o Google, adolescentes, têm maior valor de mercado do que a soma de todas as empresas que se orgulham do since e do depuis. Não tenho culpa de sock, em inglês, significar peúga em bom português, que é o falado em Portugal, ou meia num país grande e bobo, onde tem diversos outros significados além de “peça de vestuário que calça os pés e alcança, de acordo com o modelo (soquete, três-quartos, comprida), diferentes alturas da perna ou da coxa”.

Todas essas belíssimas considerações, que certamente encantaram o leitor, vêm a propósito dos pares de peúgas Pantherella, contra o frio, recebidas como presente de uma filha, que mora e trabalha nos Estados Unidos. Tamanho: o maior disponível no site que as vende por US$12,99. Tratei de estrear um par 63% merino wool (lã), 22% alpaca e 15% nylon. Não faço à inteligência de ninguém a descortesia de informar que merino é raça de carneiros originária da Espanha e alpaca é mamífero artiodátilo da família dos camelídeos (Lama pacos), encontrado, sob domesticação, no Sul do Peru e Oeste da Bolívia; apresenta menor porte que a lhama, pelagem longa e lanosa e possui importância econômica (considerada, juntamente com a lhama, como variedade domesticada do guanaco). E assim, com as patas aquecidas na primavera siberiana de Minas, temos o philosopho pronto para o que der e vier, se observar o seguinte: lava a maquina con agua tibia con colores similares. No use blanqueador.

Curiosidade

 Em 0,38 segundos, o Google nos dá 1.010.000.000 entradas para smart, que significa elegante, inteligente, astuto, vivo, esperto, di-lo o Collins. Existem smartphones, prédios inteligentes, elevadores inteligentes, tudo hoje deve ser inteligente. Só falta inventar o smarthusband, o maridão que toda boa mulher merece.

O mundo é uma bola

 4 de novembro de 1857: fundação da cidade paulista de São Carlos, que hoje tem universidade federal. Nela, é professor Marco Antônio Villa, doutor em história social pela USP, autor de inúmeros artigos da mais alta lucidez em todos os jornais, um dos raros brasileiros que enxergam e têm a coragem de escrever sobre a entalada em que estamos metidos.

Em 1869 foi publicado o primeiro número da revista científica Nature. Em 1901, os jurados do Aeroclube da França declaram vencedor do Prêmio Deutsche o mineiro Alberto Santos Dumont. Em 1922, o arqueólogo britânico Howard Carter descobre no Vale dos Reis, Egito, a entrada para o túmulo do faraó Tutancâmon.

Em 1924, fundação da UEB, União dos Escoteiros do Brasil. Jamais perdoei meus pais pela ideia de matricularem seu filhinho na UEB. No pouquíssimo tempo em que andei por lá, vi coisas do arco da velha, como o rufar dos tambores na manhã em que foi expulso um “chefe” chamado César, de 17 ou 18 anos, pilhado na barraca do acampamento tentando violentar o menino Fernando, de 11 ou 12 aninhos, filho de um piloto comercial. Claro que não posso julgar o escotismo por um só episódio, mas o negócio que vi não me cheirou bem.

Em 1939, apresentado em Chicago, Illinois, o primeiro automóvel com ar-refrigerado. Em 1946, fundação da Unesco. Em 1963, início da beatlemania. Hoje é o Dia do Inventor.

Ruminanças


 “A grande história verdadeira é a das invenções” (Raymond Queneau, 1903-1976).

Tv Paga



Estado de Minas: 04/11/2013 

De volta para a telinha 


 (Comedy Central/Divulgação)


Conhecido por filmes de sucesso como De volta para o futuro e Dr. Hollywood, o ator Michael J. Fox volta às telinhas com sua nova série, O show de Michael J. Fox, que estreia hoje, às 20h, no Comedy Central Brasil. Na sitcom, ele entretém o público com uma comédia familiar e mostra de forma aberta, divertida e realista como é lidar com a família, o trabalho e a doença de Parkinson. Michael faz o papel de Mike Henry (foto), um dos apresentadores de TV mais queridos de Nova York, que interrompeu sua carreira para passar mais tempo com a família e cuidar da saúde. Cinco anos mais tarde, ele decide voltar a trabalhar.


TNT estreia série baseada
em obra de Stephen King

Na TNT, às 22h30, estreia a série Under the dome. Serão 13 episódios nesta trama baseada em um best-seller de Stephen King, narrando a história da pequena cidade que, de repente, é inexplicavelmente separada do resto do mundo por uma redoma enorme e transparente. Os habitantes agora terão de lutar para sobreviver a condições pós-apocalípticas enquanto procuram respostas sobre a redoma: de onde ela veio, se e quando será removida.

Bio mostra como é a vida
de colegiais americanas

No canal Bio, às 21h30, estreia a série Rainhas do baile, que segue as meninas mais populares das escolas secundárias norte-americanas, as chamadas high schools, pano de fundo para filmes de Hollywood e que fazem parte do imaginário de pessoas em todo o mundo. No Discovery Home & Health vai ao ar seleção de documentários sobre a adolescência, um dos períodos mais complicados e contraditórios da vida, começando com Adolescentes complexados, às 23h. No A&E, às 22h30, estreia a nova temporada de Os reis dos patos.

HBO também investe em
série de documentários

A segunda parte de Terra do gás é a aposta da HBO para esta noite, às 22h. O documentário apresenta uma visão profunda e ampla dos perigos da fratura hidráulica – polêmico método de extração de gás natural e petróleo usado em 32 países. A direção é de Josh Fox.

Arte 1 apresenta concerto
de Horowitz em Moscou

O cultuado pianista ucraniano Vladimir Horowitz começou a carreira na Rússia nos anos 1920 e seguiu tocando até sua morte, no fim dos anos 1980. Vencedor de vários Prêmios Grammy, Horowitz interpretou o Concerto para piano nº 23, de Mozart, ao lado do maestro Carlo Maria Giulini e da Orquestra do Teatro La Scala. A apresentação, gravada em Moscou em 1986 e dirigida por Brian Large, é atração de hoje, às 21h30, no canal Arte 1.

Drama, ação e humor na
programação de cinema

No pacote de filmes, o assinante tem 10 boas opções na faixa das 22h: Rock of ages: o filme, na HBO 2; Reino animal, na HBO HD; Príncipe da Pérsia – As areias do tempo, no Max Prime; Compramos um zoológico, no Telecine Premium; Guerra ao terror, no Telecine Action; Os falsários, no Telecine Cult; O plano perfeito, na MGM; Hancock, no Sony Spin; Comportamento suspeito, no ID; e A vida é bela, no Studio Universal. Outros destaques da programação: O que traz boas novas, às 20h, no Max; Ladrão de diamantes, às 21h, no Cinemax; Capitão América: o primeiro vingador, às 22h30, na Fox; Par perfeito, às 22h30, no Megapix; e Jerry Maguire – A grande virada, às 23h, no Comedy Central.

Novo vírus da dengue é desafio‏

Organismo encontrado na Malásia não se parece com os quatro tipos conhecidos. Descoberta pode interferir nos estudos em curso



Isabaela de Oliveira


Estado de Minas: 04/11/2013 



Pesquisadores identificaram um novo tipo de vírus da dengue na Malásia, o que pode adicionar, depois de 50 anos de estabilidade, um novo sorotipo – grupo que causa a mesma resposta imunológica no organismo – à doença viral. Até o momento, cientistas e médicos trabalham com quatro tipos do micro-organismo. A descoberta, portanto, impõe mais um desafio para o desenvolvimento de vacinas contra a dengue, que teriam que abordar um quinto tipo. Nikos Vasilakis, autor do trabalho, lembra, porém, que os resultados podem ajudar os cientistas a compreenderem melhor como o vírus evolui.

O grupo liderado por Vasilakis é integrado por cientistas da Malásia e de universidades americanas e australianas. Eles descobriram o vírus enquanto analisavam amostras virais da dengue coletadas durante um surto da doença no estado de Sarawak, na Malásia, em 2007. E suspeitaram que o micro-organismo era diferente dos quatro outros sorotipos. Após sequenciarem o vírus, descobriram que ele é filogeneticamente distinto e evoluiu de forma diferente.

A descoberta foi anunciada na semana passada, na Terceira Conferência Internacional sobre Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue, realizada na capital tailandesa, Bankgok. O artigo científico com os detalhes da pesquisa deverá ser publicado em dois meses. “Não posso dizer muito sobre o vírus agora, mas posso adiantar que ele não se parece com os outros tipos conhecidos, embora seja capaz de causar a dengue”, disse Vasilakis ao Estado de Minas.

Paulo Sousa Prado, biólogo especialista em saúde do Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal, explica que, basicamente, o vírus da dengue é composto por 10 proteínas. As sequências do genoma viral é que definem em qual subtipo ele está inserido. A análise de quais anticorpos são ativados na resposta de defesa ao vírus também é levada em conta. Prado prefere cautela a falar sobre a existência de um quinto subtipo. “Por enquanto, a comunidade científica tem apenas indícios. Só depois da publicação do artigo científico que cientistas do mundo inteiro poderão analisar os resultados”, afirma o especialista.

Segundo o biólogo, o cuidado é necessário porque cada subtipo tem variações genéticas próprias, as chamadas cepas virais, mas as diferenças não são grandes a ponto de mudar os micro-organismos de classificação. No entanto, caso a comunidade científica entre em consenso que há um novo subtipo, ainda é preciso saber quais implicações o sorotipo 5 terá no controle da dengue. “A informação divulgada até o momento é de que um novo tipo de vírus da dengue, detectado em espécies de macacos na Malásia, está associado a um único surto em seres humanos, nesse mesmo país, em 2007. Não há nenhuma informação de que esse surto tenha sido particularmente mais grave do que outros que ocorrem na região”, observa Ricardo Palacios, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, em São Paulo.
 
Palacios alerta que ainda é muito cedo para determinar como é o comportamento do vírus, particularmente em relação a pessoas que já foram expostas a outros tipos de vírus da dengue. “Os casos severos, que ocorrem com os quatro tipos tradicionais da doença, são muito mais frequentes em pessoas que já tiveram uma infecção anterior, contaminadas por um tipo diferente”, esclarece o especialista.

Entre macacos Vasilakis suspeita que o vírus circule entre macacos nas selvas da Malásia e da Indonésia. De acordo com o Centro de Polícias e Pesquisas para Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, a investigação focou-se no ciclo de transmissão silvestre na região. As infecções humanas foram colaterais, apesar do registro de pacientes em estado grave.

Ainda não há evidências de que o sorotipo 5 infecte de forma rápida os mosquitos vetores capazes de transmitir a dengue ao homem. Prado explica que não é raro que vírus que atacam apenas animais passem a interagir com humanos. Ou então que vírus humanos ataquem animais, gerando novos sorotipos. “Foi o que aconteceu com a influenza. Ela se misturou ao atacar um reservatório animal, no caso o porco, e dele saiu a gripe suína. Houve uma restruturação do vírus e nós não temos defesa contra ele. Talvez esse seja um vírus comum entre símios que ainda não chegou até a gente”, especula o biólogo.

Caso se espalhe, o sorotipo 5 poderá prejudicar as pesquisas para a imunização contra a doença. “Seria um novo desafio porque, até o momento, não temos comercialização de nenhuma vacina da dengue. “Para ser eficiente, ela precisará combater todos os tipos de vírus. As que estão em testes são focadas apenas nos quatro sorotipos conhecidos. Caso se prove que há um tipo 5, ele precisará entrar no cenário dessas pesquisas”, explica Paulo Prado.

Ricardo Palacios ressalta que os pesquisadores estão atentos às informações que virão dos futuros estudos a respeito do novo sorotipo. “Hoje, só conhecemos um surto (causado pelo subtipo 5) que ocorreu há seis anos em seres humanos numa região da Malásia, contudo continuamos a ter milhares de casos no Brasil e na América Latina com os quatro tipos de dengue tradicionais conhecidos”, ressalta o pesquisador. A vacina contra a dengue do Instituto Butantan (leia Saiba mais) contempla os quatro tipos de vírus. No mês passado, foram iniciados testes com humanos.

Saiba mais

Pesquisa de
sete anos


O Instituto Butantan, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), desenvolve uma vacina contra a dengue que combata, em uma única dose, os quatro tipos da doença. A vacina começou a ser desenvolvida em 2006 com institutos de saúde dos Estados Unidos. A técnica utiliza micro-organismos atenuados, modificados
para que as pessoas produzam anticorpos sem desenvolver a doença. Eles foram identificados nos EUA e transferidos para o Butantan em 2010. A vacina já foi testada em 600 norte-americanos, nos quais não foram observados efeitos colaterais relevantes.

Duas perguntas para...

Nikos Vasilakis, professor assistente da Universidade do Texas e líder do estudo

1) Quais impactos dessa descoberta?

Quando você lida com vírus que estão restritos a um local, é mais fácil. No entanto, vivemos em um mundo globalizado, onde as pessoas se deslocam com muita facilidade. Por enquanto, não sabemos muito sobre esse subtipo. Então, imaginar que ele pode se espalhar é complicado. As informações que o trabalho traz pode ajudar as autoridades asiáticas a tentarem controlar uma possível disseminação.

2) Podem existir mais vírus desconhecidos por aí?

Com o aquecimento global e a devastação das matas, acredito que muitas coisas que não conhecemos poderão aparecer, em especial vírus de animais que podem se espalhar para as cidades. A degradação do meio ambiente mostra que os problemas podem ser maiores do que apenas o calor exagerado em algumas regiões.