| |
Com a estudante Gabriella Pires, as
pesquisadoras Luciene Tafure e Mariana Gontijo propõem novas formas de
combater o câncer de mama |
Segundo tipo
mais comum, principalmente entre as mulheres – 22%, segundo o Instituto
Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) –, o câncer de
mama tem na fitoterapia – a cura por meio das plantas – um novo e
promissor meio de tratamento, que pode, a longo prazo, elevar a
sobrevida média de 61% dos pacientes, depois dos cinco primeiros anos de
diagnóstico. Pesquisa iniciada pela Faculdade de Ciências Humanas,
Sociais e da Saúde (FCH) da Universidade Fumec há 14 meses, e cujos
primeiros resultados foram apresentados na 29ª Reunião Anual da
Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), em agosto, em
Caxambu (Região Sul de Minas Gerais), identificou alterações
metabólicas em células doentes tratadas com fitoterápicos, com
indicativos de morte celular.
A observação foi realizada por
alunos de Biomedicina, com a coordenação das professoras nas áreas de
bioquímica, imunologia e patologia geral Mariana Gontijo Ramos e Luciene
Simões de Assis Tafuri, em parceria com pesquisadores da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) – que forneceram as substâncias das
plantas utilizadas. A expectativa agora, com a continuidade dos estudos,
é identificar alternativas de curva e prevenção, além do tratamento
convencional já adotado.
Duas previsões de dados do Inca para este
ano ressaltam a importância do desenvolvimento de pesquisas como esta
no combate ao mal, que é relativamente raro abaixo dos 35 anos: 5 mil
mortes devem ocorrer por câncer de mama até o fim do ano, além de 57 mil
novos casos em todo o mundo.
“A pesquisa surgiu do interesse de
professores e da universidade em desenvolver atividades científicas. Em
colaboração com grupo de pesquisas da UFMG, surgiu a ideia de se
trabalhar com células de câncer de mama e produtos naturais. Na
universidade, existia uma série de substâncias a serem testadas. Quando
surgiu a ideia, pegamos as substâncias disponíveis e não sabíamos quais
teriam atividade biológica. Realizamos testes para saber quais eram
ativas e, dessas, quais as mais ativas. A melhor ação foi a com a
warifteína”, conta a professora Luciene.
A pesquisa durou cerca de
um ano na fase inicial, com os resultados preliminares divulgados, e
vai continuar por pelo menos mais um ano em busca de respostas mais
completas. Quatro alunos em iniciação científica – todos bolsistas
(CNPq, e dois do Pro-PIC) – participaram da observação microscópica. Um
deles integra hoje o Ciências Sem Fronteiras, do governo federal,
realizando pesquisas nos Estados Unidos. Substância extraída de plantas
frequentes na Região Nordeste do Brasil, como a abuteira, a milona, a
jarrinha ou a orelha-de-onça, a warifteína é muito utilizada na medicina
popular, por exemplo, como chá antidepressivo e no trato respiratório. A
substância foi isolada em laboratório, aplicada nas células com câncer e
apresentou o melhor efeito. Além da UFMG, a Universidade Federal da
Paraíba forneceu a substância. “São plantas comuns na natureza,
encontradas entre o Ceará e a Bahia. As quantidades são pequenas, menos
de 1ml, colocando em contato com células com tumores mantidas em
cultura”, explica a professora da Fumec.
EXPOSIÇÃO
Durante o procedimento de pesquisa, na medida em que as células foram
crescendo, em intervalos de observação de 24 horas, 48 horas e 72 horas,
doses de warifteína eram acrescentadas para medir esse crescimento. As
pesquisadoras identificaram, então, que, quanto maior o tempo de
exposição da substância à cultura, maior era o número de células mortas.
“Além de matar a célula, a warifteína alterava o seu formato. O
principal resultado foi a morte da célula. Queríamos ver se era possível
matar a célula cancerígena com o menor efeito colateral, o que foi
demonstrado pelos estudos. Na segunda fase, queremos entender quais os
mecanismos de morte, como essa substância mata as células, testando o
efeito citotóxico da substância na célula cancerosa. Também vamos fazer
testes nas células sadias”, adianta a pesquisadora.
O tratamento
conseguiu reduzir a viabilidade da célula cancerígena em 70%, em 72
horas de exposição. Morte considerada expressiva pelas pesquisadoras.
A
metodologia, ressalta Luciene, venceu pela simplicidade, por se valer
de técnicas usadas corriqueiramente em laboratórios de pesquisa, com
recursos relativamente pequenos, sem aparelhos sofisticados. Essa é
também a primeira e, até então, única experiência da Faculdade de
Ciências Humanas, Sociais e da Saúde da Fumec no uso de fitoterápicos em
células cancerosas.
Mariana e Luciene sustentam que, com os
resultados já obtidos, podem-se identificar substâncias a serem usadas
no tratamento do câncer de mama com o mínimo de efeitos colaterais aos
pacientes, principalmente mulheres. “Esperamos que a pesquisa contribua
com mais uma substância a ser usada no tratamento. Ainda há muitos
estudos a serem feitos. Temos um caminho bem longo pela frente, mas
todas as pesquisas começam com esse tipo de estudo, que serve de base
para estudos mais avançados, até chegar aos testes em humanos. Esperamos
contribuir para um achado importante. É preciso valorizar a pesquisa
básica, para a qual não se dá tanta importância, porque não tem muita
visibilidade”, conclui Mariana.
Saiba mais
O que é fitoterapia?
É
a cura por meio das plantas. As ervas medicinais hoje têm papel valioso
como recurso terapêutico oferecido pela natureza. A fitoterapia
consiste no conjunto das técnicas de utilização dos vegetais no
tratamento das doenças e na recuperação da saúde.