sábado, 2 de março de 2013

Gabriele d'Annunzio: poeta, sedutor e apóstolo da guerra

folha de são paulo

THOMAS JONES
DO "GUARDIAN"

O homem que Mussolini definiu como o "João Batista" do fascismo foi um herói nacional com apetite insaciável por sexo.
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Em 7 de agosto de 1915, Gabrielle d'Annunzio e Giuseppe Miraglia decolaram de Veneza em um avião, rumo a Trieste, então ainda parte do Império Austro-Húngaro, com uma carga de bombas e panfletos de propaganda. Miraglia, o piloto, tinha 32 anos e era oficial do exército italiano; d'Annunzio, que voava no assento do observador, era 20 anos mais velho que o companheiro e famoso em toda a Itália, Europa e mais além, como escritor, libertino e nacionalista feroz. Ele carregava um caderno, no qual anotou suas impressões sobre Veneza vista do ar ("os tortuosos canais, verdes como malaquita"), e usava as páginas para escrever mensagens a Miraglia: "Você quer um café?"
Ao chegar a Trieste, eles foram alvo de fogo inimigo. Miraglia mergulhou com o avião por sobre a marina da cidade, e d'Annunzio lançou bombas contra os submarinos austríacos e folhetos (cujo texto ele mesmo havia escrito) nas piazzas. Quando tomaram o curso de retorno à Itália, perceberam que uma das bombas havia ficado presa ao avião. "Veja se você consegue empurrá-la", Miraglia escreveu no caderno de d'Annunzio. "Mas não a gire". O escritor deve ter conseguido realizar a manobra, porque o avião pousou em segurança em Veneza. D'Annunzio havia acabado de "iniciar sua nova vida como herói nacional", escreve Lucy Hughes-Hallett em "The Pike: Gabriele d'Annunzio - Poet, Seducer and Preacher of War", a nova e instigante biografia desse "poeta, sedutor e apóstolo da guerra".
D'Annunzio nasceu na província de Abruzzo em 1863. Seu pai, proprietário rural e comerciante de vinho, era prefeito de Pescara, na costa adriática da Itália. Aos 11 anos, Gabrielle foi enviado a um colégio interno em Prato, do outro lado dos Apeninos, a 400 quilômetros de casa. "Primo Vere", seu primeiro livro de poesia, foi publicado quando ele tinha 16 anos, custeado por seu pai. A crítica da influente revista semanal "Fanfulla della Domenica" foi positiva. Pouco antes do lançamento de uma segunda edição expandida, no ano seguinte, um editor de jornal em Florença recebeu um cartão postal anônimo de Pescara, anunciando que d'Annunzio havia morrido depois de uma queda ao cavalgar. A notícia, reportada por jornais de toda a Itália, não era nem perto de verdadeira: d'Annunzio mesmo, exibindo seus talentos precoces não só como escritor mas para a autopromoção, havia enviado o postal.
Depois disso, detê-lo se tornou impossível. Não demorou para que se mudasse para Roma, escrevendo prolificamente --poesia, jornalismo, contos; gastando prodigiosamente-- não importa o quanto ou quão pouco estivesse recebendo, ele sempre viveu muito além de suas posses, tendo um fraco fatal por objetos de decoração; e praticando a promiscuidade sexual. O padrão que ele seguiria pelo resto da vida estava estabelecido. Pelos 20 anos seguintes, d'Annunzio pontuaria sua busca permanente de aventuras --cavalgadas, caçadas, corridas de carro, voos, e sexo quase ininterrupto-- com períodos de retiro que dedicava a escrever. O primeiro de seus sete romances, "Il Piacere", foi escrito em sete meses, em 1888, período que ele passou recluso na casa de um amigo em Abruzzo. O herói, Andrea Sperelli, é um jovem e cínico libertino vivendo os prazeres de Roma. Henry James admirou "o esplêndido senso visual" do texto, e o "estilo amplo e refinado" (um dos motivos para que o livro pareça datado, hoje). As vendas foram fantásticas, e o romance fez de d'Annunzio uma celebridade internacional.
Um problema para o biógrafo é que o encanto pessoal de d'Annunzio parece ter residido principalmente em sua voz e em sua competência sexual, e é difícil demonstrar essas qualidades na página. O insaciável apetite sexual do escritor deixou uma trilha de mulheres arruinadas, repudiadas pelos pais, abandonadas pelos maridos ou internadas em manicômios. Seu egoísmo absurdo, sua retórica nacionalista e obsessão quanto a "semear de sangue a terra": isso fica bem claro.
Mas temos de aceitar a palavra de todo mundo que o conheceu quanto aos seus atrativos irresistíveis (bem, nem todo mundo: Ernest Hemingway o definiu como "escroto", e a cortesã Liane de Pougy o descreveu como "um gnomo apavorante com olhos avermelhados e sem sobrancelhas, sem cabelo, dentes esverdeados, mau hálito e os modos de um fanfarrão".)
Uma das melhores descrições sobre a voz hipnótica de d'Annunzio vem da filha adolescente do compositor Pietro Mascagni: "Quando o signor d'Annunzio fala, é sempre como se estivesse contando um segredo ao interlocutor. Mesmo que esteja apenas dizendo bom dia". Ela o conheceu em Paris, para onde o escritor se mudou em 1910 a fim de escapar aos seus credores na Itália.
D'Annunzio fez um retorno triunfal ao seu país em maio de 1915, convidado a discursar na inauguração de um monumento a Garibaldi em Quarto, perto de Gênova. Ele usou sua voz mágica para falar às vastas multidões que acorreram para recebê-lo --100 mil pessoas quando ele chegou a Roma, em 12 de maio, de acordo com o jornal "Corriere della Sera" -, apelando para que a Itália entrasse na guerra e completasse a unificação do país pela anexação de vastas porções do Império Austro-Húngaro-- ainda que a decisão de fazê-lo já tivesse sido tomada de modo irrevogável quando o escritor ainda estava na França.
O imenso morticínio e os três anos de impasse na campanha dos montes Dolomitas em nada reduziram o entusiasmo de d'Annunzio pela guerra. Ele perdeu muitos amigos, entre os quais Miraglia, e ficou cego de um olho depois da queda de um avião em que estava voando. Mas depois do armistício escreveu que "sinto o fedor da paz". Para d'Annunzio, a guerra não estava acabada: em setembro de 1919, ele liderou um pequeno exército de combatentes irregulares e soldados amotinados e ocupou a cidade de Fiume (hoje Rijeka, na Croácia), cujo controle estava em disputa, estabelecendo-se como ditador. Reinou por 15 meses como "Duce" de Fiume, até que um bombardeio da marinha italiana o forçou a se retirar.
Em fevereiro de 1921 ele se mudou para a casa vizinha ao lago Garda onde viveria em reclusão parcial até a morte, em 1938, dedicando-se à cocaína, coito e decoração de interiores. Sua aposentadoria foi bancada, majoritariamente, pelo governo fascista, que queria mantê-lo quieto e fora do caminho. Mussolini desejava promover d'Annunzio como o João Batista do fascismo, e fazê-lo seria muito mais fácil caso o homem, que discordava dessa interpretação, estivesse fora do caminho.
"Ainda que d'Annunzio não fosse fascista", afirma Hughes-Hallet, "o fascismo era d'annunziano". Em 1892, ele havia escrito que "os homens serão divididos em duas raças. Aos superiores, que se terão erguido pela pura energia de sua vontade, tudo será permitido; aos inferiores, nada ou quase nada". Admiradora de alguns de seus trabalhos, e insistindo em avaliar d'Annunzio em seu contexto, Hughes-Hallett faz o possível para não pronunciar opiniões sobre a vida do escritor. Ela afirma ser "uma mulher escrevendo sobre um homem que se autodenominava 'o poeta da virilidade', e uma pacifista escrevendo sobre um homem belicoso, mas a desaprovação não é uma resposta interessante". Apesar disso, ela o define como "repulsivo" em diversas ocasiões --o que d'Annunzio de fato era. Desaprovação nem sempre é interessante, mas ocasionalmente é inevitável.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Por redução de custos, empresas dos EUA pedem mudança em lei que discrimina casamento gay

UOL/ New York Times
Erik Eckholm

Sarah e Emily Cofer oficializam a união em um tribunal em Seattle, em Washington, nos Estados Unidos Sarah e Emily Cofer oficializam a união em um tribunal em Seattle, em Washington, nos Estados Unidos
Argumentando que o Ato da Defesa do Casamento impõe sérios custos administrativos e financeiros sobre suas operações, algumas das maiores empresas do país entraram com um documento no Supremo Tribunal na quarta-feira (27), instando-o a derrubar uma parte do ato que nega benefícios federais e reconhecimento para casais do mesmo sexo.
O documento teve 278 assinaturas, inclusive de mais de 200 empresas - entre elas gigantes como o Citigroup, Apple, Mars e Alcoa - bem como prefeituras, escritórios de advocacia e outros grupos. Em depoimentos na quarta-feira, muitos declararam sua firme oposição à discriminação baseada na orientação sexual. Mas o documento se concentrou mais nos encargos impostos pela lei de 1996 sobre as empresas que oferecem benefícios para cônjuges do mesmo sexo.
O documento foi um entre centenas de outros recebidos pelo tribunal enquanto este considerava casos de direitos homossexuais e casamento.
Com a assinatura de uma ampla variedade de grandes empresas, é o mais recente sinal da rápida mudança em direção da aceitação do casamento homossexual no mundo corporativo, bem como no país.  Pesquisas recentes indicam que a maioria dos norte-americanos concordam que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser legalizado. Nove estados mais o Distrito de Columbia já legalizaram o casamento homossexual e mais três estados reconhecem casamentos homossexuais realizados em outros lugares.
O documento surgiu ao mesmo tempo em que republicanos proeminentes anunciaram que também apresentariam um documento ao Supremo Tribunal Federal em apoio a uma ação que busca derrubar a Proposição 8, uma iniciativa eleitoral da Califórnia proibindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e todas as proibições semelhantes.
No documento, os signatários afirmam que a lei federal "impõe sobre nós, empregadores, custos e uma complexidade administrativa desnecessários. Mas a lei também "nos obriga a tratar uma classe de nossos empregados casados legalmente diferentemente dos demais, quando o nosso sucesso depende do bem-estar de todos os funcionários."
Para as empresas que operam nos estados onde o casamento homossexual é legal, a proibição dos benefícios federais de acordo com a lei provou ser uma dor de cabeça. Leis de casamento contraditórias em estados diferentes também têm complicado os benefícios e outros programas de empresas que operam em múltiplos estados.
Tratar heterossexuais e funcionários casados com parceiros do mesmo sexo de forma diferente de acordo com a lei federal impõe altos custos administrativos à medida que as empresas devem manter sistemas duplos de retenção de impostos e folha de pagamento, disse o documento. Isso resulta em encargos fiscais adicionais para as empresas e funcionários com planos de saúde e pode afetar pagamentos, incluindo de aposentadoria, pensões e seguro de vida, bem como ter um efeito negativo sobre o moral dos funcionários.
"Sentimos que é fundamental que o tribunal entenda os encargos que a lei impõe sobre os empregadores e empregados", disse James Klein, presidente do Conselho Norte-Americano de Benefícios, em Washington, cujos membros incluem um amplo leque de grandes empregadores. "A lei de defesa do casamento não é apenas uma peça de legislação social, mas também tem custos muito práticos para a comunidade empresarial e as pessoas que ela emprega."
Entre as empresas que assinaram o documento estão grandes companhias como a Walt Disney, Starbucks, Amazon, Apple, Levi Strauss, Johnson & Johnson, Marriott International e New York Life, bem como empresas menores como a U.S. Balloon Co. no Brooklyn e Holdredge Wines na Califórnia.
A lista também inclui firmas de Wall Street como BlackRock, Goldman Sachs e Morgan Stanley.
O responsável por atrair o documento de apoio foi o caso Estados Unidos versus Windsor, nº 12-307, que desafiou uma parte do Ato de Defesa do Casamento que define o casamento como apenas entre um homem e uma mulher para fins de mais de mil leis e programas federais.
O caso envolveu Edith Windsor de Nova York, que havia se casado Thea Clara Spyer no Canadá em 2007. Spyer morreu em 2009, deixando sua propriedade para Windsor. Mas a Receita Federal disse que, de acordo com o Ato de Defesa do Casamento, Windsor não poderia ser tratada como um cônjuge sobrevivente e ela teve de pagar uma imensa fatura fiscal que um cônjuge do sexo oposto não teria que pagar.
Windsor processou e um tribunal federal de apelações derrubou a lei de 1996, na segunda vez que um tribunal de apelações considerou inconstitucional esta parte do Ato de Defesa do Casamento.
O caso é um dos dois que estão agora no Supremo Tribunal em relação ao casamento homossexual; o segundo, envolvendo a Proposição 8, é tema de outro documento apoiado por algumas das mesmas corporações que assinaram o de Windsor.
O tribunal deve ouvir os argumentos em ambos os casos, em março.
O documento do caso Windsor, elaborado principalmente por Sabin Willett, advogada da Bingham McCutchen em Boston, delineou os custos impostos sobre os empregadores e empregados quando as empresas devem manter políticas duplas para os funcionários casados com pessoas do mesmo sexo e para os casados com o sexo oposto. Ele também argumenta que a discriminação prejudica seu desempenho empresarial.
"É 2013, a face da nação está mudando e, para ser competitiva, para vencer nos negócios hoje, é preciso mudar com a demografia da nação", disse Bernadette Harrigan, vice-presidente assistente no departamento de direito da companhia de seguros de vida Massachusetts Mutual, uma das signatários, que tem sido ativa nas questões dos direitos homossexuais.
Várias empresas, em declarações feitas na quarta-feira, enfatizaram suas preocupações com o impacto do Ato em Defesa do Casamento não só nos custos, mas também por não ser justo.
"A decisão da Mars de apoiar documento foi baseada em nossa crença de que todos as associados casados da Mars deveriam ser tratados igualmente perante a lei", disse uma declaração da fabricantes de doces.
Uma declaração Johnson & Johnson disse: "Nós nos juntamos ao documento porque, como empregadores, acreditamos que todos os empregados casados legalmente devem ser tratados da mesma forma pela nossa empresa."
John Holdredge, da Holdredge Wines em Healdsburg, Califórnia, disse em entrevista por telefone: "Nós não queremos ter que perguntar aos funcionários sobre a sua orientação e não queremos ter que discriminar."
Tradutor: Eloise De Vylder 

Quadrinhos

folha de são paulo

LAERTEVISÃO      LAERTE
LAERTE
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
QUASE NADA      FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
HAGAR      DIK BROWNE
DIK BROWNE

Justiça anula multa de publicidade infantil


MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

A Justiça de São Paulo anulou três multas aplicadas pelo Procon de São Paulo por abusos relacionados à publicidade infantil.
Entre 2007 e 2009, Sadia, Del Valle e Nestlé foram multadas por promoções que, na visão do órgão de defesa do consumidor, abusavam da falta de capacidade de julgamento das crianças para aumentar as vendas. O Procon ainda pode recorrer.
A decisão que anulou a multa de R$ 305 mil aplicada à Sadia é de segunda instância. As decisões favoráveis à Del Valle (anulando multa de R$ 37 mil) e à Nestlé (R$ 407 mil) foram em primeira instância.
Renan Ferraciolli, assessor-chefe do Procon-SP, diz que o órgão vai recorrer. Ele acredita que a questão deverá ser decidida no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Editoria de Arte/Folhapress
"Sustentamos nosso argumento. Para que dirigir a estratégia comercial para quem não tem capacidade de entender e nem sequer vai adquirir o produto? A criança influencia, mas não decide. A comunicação não deve ser dirigida à criança."
Nos últimos cinco anos, o Procon-SP multou quase 20 empresas, em mais de R$ 12 milhões, por questões ligadas à publicidade infantil.
Ferraciolli não descarta novas derrotas no Tribunal de Justiça de São Paulo. "O risco existe. É 50% de chance para cada lado", diz. "Mas acreditamos que a posição do Procon é sustentável do ponto de vista jurídico e representa o anseio dos pais."
Procuradas, Nestlé e Sadia (hoje BRF) não quiseram comentar. A Del Valle não respondeu às ligações até o fechamento desta edição.
Para o presidente da Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade), Luiz Lara, a pressão da sociedade é "saudável" e a Justiça "está aí para proporcionar o equilíbrio entre as partes". "O mundo não é preto e branco, pode haver abusos, mas acredito que o arcabouço jurídico existente é suficiente para tratar dessa questão", diz ele.
CONAR
Novas regras do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) proibindo merchandising de produtos infantis em programas voltados para crianças, entraram em vigor ontem.
Apesar de reconhecerem "um avanço" nas novas regras", o Procon e o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) divulgaram nota criticando a timidez do conselho. "O Conar demorou 20 anos para falar o óbvio e reafirmar preceitos que estão no código do consumidor", diz Ferraciolli.
As entidades defendem a proibição total de merchandising na programação infanto-juvenil, mesmo no caso de produtos para adultos.
"Confiamos na capacidade do Conar e do mercado publicitário de fazer cumprir as novas normas, que apenas aperfeiçoam aquelas já em vigor", disse o presidente do Conar, Gilberto Leifert. "Oferecemos nossa contribuição dentro do que está ao nosso alcance: a autorregulamentação, a adesão voluntária e unânime do mercado publicitário às regras éticas."

USP apura hostilidade a feministas em trote

folha de são paulo

Veteranos simulam masturbação ao reagirem a protesto contra o desfile de calouras 'Miss Bixete' em São Carlos
'Rasgaram nossa faixa e tentaram agarrar as manifestantes', diz aluna; caso repercutiu nas redes sociais
JULIANA COISSIDE RIBEIRÃO PRETOUm jovem nu simulando masturbar-se, outro exibindo-se com o pênis para fora das calças, mais um fingindo que mantinha relação sexual com uma boneca inflável. Essas cenas aconteceram em público, em pleno campus de São Carlos (a 232 km de São Paulo) da USP, Universidade de São Paulo.
Foi assim que um grupo de veteranos respondeu, na última terça-feira, ao protesto contra uma atividade de recepção aos calouros denominada "Miss Bixete".
Organizado pelo auto-intitulado GAP (Grupo de Apoio à Putaria), o "Miss Bixete" inclui o "convite" às calouras para que subam a um palco e exibam seus corpos em um desfile -muitas são estimuladas a erguer a blusa e ouvem dos veteranos os gritos de "peitão" e "bundão" como resposta.
Desde 2005, o Caaso (Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira), entidade representativa dos estudantes do campus de São Carlos, participa dos protestos contra o "Miss Bixete".
Neste ano, o Caaso recebeu o apoio da Frente Feminista de São Carlos. No total, pelo menos 50 jovens (homens e mulheres) manifestaram sua inconformidade com o trote, por julgá-lo "violento" e "machista", conforme consta no site do centro acadêmico.
Segundo uma estudante de 20 anos, membro da Frente Feminista de São Carlos e que pediu o anonimato, pelo menos seis veteranos se irritaram com o ato e começaram a hostilizar os manifestantes.
"Chegaram ao ponto de arremessar sobre nós cerveja e bombinha", disse. "Rasgaram nossa faixa e até tentaram agarrar algumas das manifestantes."
A confusão foi fotografada e filmada. Os arquivos bombaram nas redes sociais. Para Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão, organização social feminista de São Paulo, a reação dos veteranos ao protesto contra o "Miss Bixete" só confirma que o trote era mesmo "desrespeitoso e violento".
"Diante da crítica, eles usaram de violência grotesca para tentar humilhar e calar. A USP não pode tolerar esse tipo de comportamento de gangue", disse a militante Nilza Iraci, 62, do Geledés, Instituto da Mulher Negra.
EXATAS
Com maioria de cursos da área de Exatas (engenharia, química, física e matemática, além de arquitetura e urbanismo), o campus de São Carlos da USP tem 4.761 alunos de graduação e 2.392 de pós (dados de junho de 2012).
A direção do campus anunciou ontem, quando disse ter tomado conhecimento do acontecido, que tentará identificar "os envolvidos nesse lamentável evento" para então abrir um processo administrativo contra eles.
Em nota, a USP afirmou que a atividade não faz "parte da Semana de Recepção dos Calouros" e que "é veementemente contra qualquer ação que cause constrangimento".
A universidade não divulgou os nomes dos agressores. Mas jovens que participaram do protesto contra o "Miss Bixete" apontaram ao menos seis alunos como protagonistas das cenas constrangedoras. A universidade tem uma linha direta, o serviço Disque-Trote (0800 012 10 90) para que qualquer pessoa denuncie abuso na recepção dos calouros.

    FRASE
    "Rasgaram nossa faixa e simularam sexo com uma boneca inflável na nossa frente. Até tentaram se aproveitar de algumas das manifestantes, tentaram agarrá-las"
    ESTUDANTE DE 20 ANOS
    integrante da Frente Feminista, que pediu o anonimato

    Walter Ceneviva

    folha de são paulo

    Código Civil e suas mudanças
    Os códigos fundamentais, próprios do passado do direito, já entraram no estágio de substituição
    NA PRIMEIRA metade do século 20, os códigos ainda eram uma espécie de bíblia imprescindível de todo o conjunto das normas vigentes. Cada código regulava, em princípio, todo ou quase todo segmento do direito envolvido nas práticas da vida.
    A tradição da força da lei codificada encontrou bom apoio no Código Civil francês de 1804. A redação, orientada por Napoleão Bonaparte, foi no sentido de que fosse escrito com tal clareza que nenhum cidadão deixasse de compreendê-lo.
    Referido como "Code Napoleon", em sua esteira servem de exemplo codificações civis da Alemanha e da Suíça. Depois se espalharam, aí incluído nosso Código Civil de 1916.
    Os tempos mudaram. Impôs-se o ajuste da lei a um universo mutante. A grande massa do direito foi dividida em partes cada vez menores.
    O tipo compacto dos códigos foi superado, aos poucos, por leis específicas, uma para cada alternativa inovadora da concentração urbana, da industrialização e dos inventos que mudaram a vida e a família.
    O exemplo mais atual desse resumo está em nosso Código Civil, que começou a vigorar em 11 de janeiro de 2003. A concentração do interesse predominante dos juristas nas emendas da norma codificada marcou o último decênio.
    Em breve repasse da parte geral, contei 25 artigos e parágrafos emendados ou substituídos até o art. 232. Daí até o art. 2046, foram 45 alterações na parte especial. Total: 70 mudanças. Sete por ano, em média.
    Além do Código, há, no direito civil brasileiro, mais de quarenta tipos de leis envolvidas.
    É o caso -entre outros exemplos- das questões de família, da criança e adolescente e do idoso. Sem falar na união estável ou no casamento entre parceiros do mesmo sexo.
    Ou seja: apesar da atualização do Código e de sua qualidade, é enorme o conjunto dos direitos estranhos à regra codificada. Como isso é possível? O cidadão comum tem dificuldade em encontrar resposta para seus problemas. Ou até mesmo para entendê-los.
    Uma crítica é válida, pela evidência da disparidade jurídica entre situações encontradas na França do século 19, comparadas com as situações de hoje, no Brasil.
    Haverá modo qualificado de superar a confusão? Ela é gerada pelas mudanças da sociedade heterogênea de nosso tempo, com os progressos da eletrônica, do transporte aéreo, da energia elétrica, do sistema bancário e da comunicação instantânea mundial.
    Pensando a questão em termos de direito, a resposta é difícil. A curto prazo, continuaremos navegando pela confusão encontrada no campo das múltiplas alternativas e das etapas no rumo do domínio completo de alterações extremas nos padrões da vida.
    Lembremos que no hemisfério sul do planeta Terra, a densidade de ocupação territorial é muito mais baixa que no hemisfério norte.
    Lá como cá, porém, os códigos fundamentais, próprios do passado do direito, já entraram no estágio de substituição de seus articulados específicos para o dos grandes princípios e fundamentos como parâmetros gerais da vida em grupo.
    Até que esse caminho seja percorrido, continuaremos sofrendo com a confusão. Anote, porém: falamos só do direito civil. Quando ajustarmos a grande massa das leis gerais ao novo perfil do progresso, teremos compreendido quanto o primeiro passo foi precioso.


    LIVROS JURÍDICOS
    DESATANDO NÓS E CRIANDO LAÇOS
    AUTOR Conrado Paulino da Rosa
    EDITORA Del Rey (0/xx/31/3284-5845)
    QUANTO R$ 78 (304 págs)
    Contribuição clara ao exame e compreensão de alternativas nos conflitos familiares, centrada em "novos desafios da mediação familiar". Exposição marcada por clareza e segurança, cuida da crise, da necessidade de intervenção e seus tipos, até a súmula dos temas do título.
    PARTICIPAÇÃO DOS EMPREGADOS NOS LUCROS E RESULTADOS DA EMPRESA
    AUTOR Marcelo Mascaro Nascimento
    EDITORA Saraiva (0/xx/11/3613-3344)
    QUANTO R$ 65 (288 págs)
    Marcelo Mascaro obteve o título de mestre (FADUSP) com esta dissertação. Tratamento exemplar do tema, vai às suas origens e chega às questões atuais com os avanços constitucionais no assunto.
    TÉCNICA PROCESSUAL E TUTELA COLETIVA DE INTERESSES AMBIENTAIS TRABALHISTAS
    AUTOR João Humberto Cesário
    EDITORA LTr (0/xx/11/2167-1100)
    QUANTO R$ 65 (201 págs)
    Cesário contribui com ensaio sobre provimentos mandamentais na proteção do trabalhador. Lança modelo do novo juslaboralismo, precedido pela evolução histórica, até técnicas de tutela coletiva. Alinha a efetivação da tutela e provimentos mandamentais.
    RESPONSABILIDADE CIVIL E ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA
    AUTOR Sérgio Savi
    EDITORA Atlas (0/xx/11/3357-9144)
    QUANTO R$ 53 (184 págs)
    Tese de doutorado defendida na UERJ, examina o lucro da intervenção, tema pouco tratado por nossos autores. O escritor se questiona sobre uma lacuna de nosso direito quanto ao tema. Em seguida, faz exaustivo exame das alternativas possíveis e propõe regras para a solução dos conflitos.
    CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
    AUTOR Kiyoshi Harada e Leonardo Musumecci Filho
    EDITORA Atlas (0/xx/11/3357-9144)
    QUANTO R$ 56 (280 págs)
    Autoridade do Direito Tributário e especialista em Direito Penal uniram-se para a criação de obra com evidente qualidade para os estudiosos.
    INQUÉRITO POLICIAL
    AUTOR Márcio Alberto Gomes Silva
    EDITORA Millennium (0/xx/19/3229-5588)
    QUANTO R$ 48 (208 págs)
    Delegado da Polícia Federal, o autor mescla teoria e prática concentradas na fase pré-policial do inquérito, desenvolvidas em segmentos breves e bem esclarecedores.

      Da Escola Base à UTI de Curitiba

      folha de são paulo

      PLANTÃO MÉDICO
      JULIO ABRAMCZYK - julio@uol.com
      HÁ 19 anos, os responsáveis pela Escola de Educação Infantil Base foram surpreendidos por um redemoinho de acusações, todas falsas.
      Receberam reparação financeira por danos morais mas, para as sequelas dos danos emocionais, não houve nem haverá consolo.
      No dia 19 deste mês, foi presa a médica-chefe da UTI de um hospital universitário de Curitiba, onde atuava há vários anos. Dias depois, o mesmo ocorreu com três outros médicos da mesma UTI.
      O crime: eutanásia (abreviar a vida, sem dor ou sofrimento, de doente incurável).
      Até o dia 23, o Conselho Regional de Medicina do Paraná nunca havia recebido denúncia contra a UTI. Com insistência, solicitou à Polícia cópia dos autos, recebida no dia 26, por decisão judicial.
      A direção do hospital, indiferente ao destino dos médicos, apenas comunicou mudanças na equipe.
      Da mesma forma que no escândalo da Escola Base, é possível que seja outra a verdadeira história.
      Uma UTI dispõe de avançados recursos e tratamentos de suporte a doentes em risco de vida. Os pacientes, encaminhados à UTI, em situação crítica, têm ali maior chance de sobrevivência que no leito comum do hospital.
      Apesar disso, segundo explica o professor J. Randall Curtis, da Universidade de Washington, na revista "Lancet", por mais avançados que sejam os recursos de uma UTI, esse é o local onde a morte é comum e cuidados de fim de vida são constantes.

        Agradecimento - Wislawa Szymborska



        Agradecimento

        Devo muito
        aos que não amo.

        O alívio de aceitar
        que sejam mais próximos de outrem.

        A alegria de não ser eu
        o lobo de suas ovelhas.

        A paz que tenho com eles
        e a liberdade com eles,
        isso o amor não pode dar
        nem consegue tirar o amor na entend

        Não espero por eles
        andando da janela à porta
        Paciente
        quase como um relógio de sol,
        entendo o que o amor na entende,
        perdoo,
        o que o amor nunca perdoaria

        Do encontro à carta
        não se passa uma eternidade,
        mas apenas alguns dias ou semanas.

        As viagens com eles são sempre um sucesso,
        os concertos assistidos,
        as catedrais visitadas,
        as paisagens claras.

        E quando nos separam
        sete colinas e rios
        são colinas e rios
        bem conhecidos dos mapas.

        É mérito deles
        eu viver em três dimensões,
        num espaço sem lírica e sem retórica,
        comum horizonte real porque móvel.

        Eles próprios não veem
        quanto carregam nas mãos vazias.

        “Não lhes devo nada” –
        diria o amor
        sobre essa questão aberta.

        Wislawa Szymborska – poemas, Ed. Companhia das Letras.

        Ambientalistas se dividem entre mico-leão-dourado e o muriqui para mascote da Rio-16

        folha de são paulo

        GIULIANA MIRANDA
        DE SÃO PAULO

        As Olimpíadas de 2016 ainda estão longe de começar, mas já têm uma grande disputa. Simpáticos, atléticos e 100% brasileiros, o mico-leão-dourado e o muriqui competem pela vaga de mascote oficial do evento.
        Os dois têm argumentos de peso. São carismáticos, endêmicos da mata atlântica e seriamente ameaçados.
        Espécie de pop star da fauna brasileira, o mico-leão-dourado tem a seu favor justamente essa fama.
        A agressiva campanha para salvar a espécie, que dominou a mídia há 20 anos -quando as discussões ambientais ainda eram bem menos comuns- tornou sua juba avermelhada conhecida em vários cantos do planeta.
        "Esse animal é a cara do sucesso. Tem uma história linda, de engajamento da sociedade. Vem gente de todo lugar do mundo só para conhecê-lo", diz Luís Paulo Ferraz, diretor-executivo da ONG Associação do Mico-Leão-Dourado, que encabeça a campanha do macaquinho.
        Editoria de Arte/Folhapress
        O esforço para salvar o animal tem reconhecimento em todo o mundo. Em pouco mais de duas décadas, a população na natureza saltou de cerca de 200 indivíduos para os atuais 1.700. Uma vitória conseguida principalmente pela proteção e recuperação da área de mata atlântica na qual eles vivem.
        "E, além de tudo isso, o mico-leão-dourado ainda é da cor da medalha de ouro", brinca o ambientalista.
        Modesta, a campanha pelo loiro-ruivo mais famoso das florestas se apoia principalmente nas redes sociais.
        Do outro lado da disputa, o muriqui, maior primata das Américas, tem um time estrelado de apoiadores, como Gilberto Gil e Chico Buarque, que aparecem em um caprichado vídeo de divulgação da campanha, encabeçada pelo Instituto Ecoatlântica.
        "O muriqui está para o Brasil como o panda gigante está para a China", diz Russell Mittermeier, presidente da Conservação Internacional e estudioso de primatas.
        Mittermeier e a ONG estão ajudando na internacionalização da campanha do muriqui, que tem ainda o apoio do governo do Rio de Janeiro.
        "Justamente por ser um animal menos conhecido, ele merece essa chance de aparecer. O mico também está ameaçado, mas a situação do muriqui é alarmante", diz Mittermeier. A estimativa é que, no Estado do Rio de Janeiro, haja apenas 160 deles.
        Apesar da repercussão de ambas as campanhas, não há garantia de que uma das espécies seja a escolhida.
        Não existe uma candidatura oficial, e o tema do mascote é livre. Ele será escolhido entre as propostas apresentadas pelas 15 agências de comunicação convidadas pela organização das Olimpíadas para enviar propostas de aparência e conceito.
        Ou seja, antes de conquistar o mundo, muriqui e mico-leão terão de conquistar os publicitários participantes.
        O resultado só sai em 2014, mas os cientistas estão otimistas. A definição do tatu-bola, também muito ameaçado, como mascote da Copa de 2014 é considerada um sinal de que a questão ambiental será determinante.
        Já os apoiadores dos dois primatas vão além: torcem para que haja mais de um mascote oficial.
        QUEM SERÁ O MASCOTE?
        A escolha será feita em 2014. O comitê organizador pediu para que 15 agências de comunicação pensassem no visual de mascotes que representassem o Brasil e o espírito olímpico, mas não existe uma lista pré-definida de candidatos

        Governo vai pagar bolsas para projetos privados de inovação

        folha de são paulo

        Ao menos R$ 12 milhões serão distribuídos a pesquisadores trabalhando em empresas com programas de desenvolvimento no país
        RENATA AGOSTINIDE BRASÍLIAO governo vai lançar, em abril, o edital de um projeto inédito de bolsas de estudo, pelo qual financiará pesquisadores que atuarem em programas de inovação conduzidos pela iniciativa privada.
        Os detalhes finais do edital ainda estão sendo discutidos no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mas já está definida a oferta de pelo menos R$ 12 milhões em novas bolsas nos próximos três anos.
        O modelo difere daquele que hoje rege os programas para o setor, como o Ciência Sem Fronteiras, carro-chefe da política de incentivo à pesquisa do governo. Pelo Ciência Sem Fronteiras, os pesquisadores brasileiros recebem bolsas para participar de programas de graduação e pós-graduação em universidades do exterior. A ideia agora é que os estudantes trabalhem em projetos de desenvolvimento conduzidos por empresas no próprio país.
        Além de bolsas semestrais e anuais, o edital irá prever o "estágio de verão", no qual os estudantes de pós-graduação e doutorado trabalharão no projeto nas férias.
        Ao arcar com parte da mão de obra necessária, o governo pretende acelerar a implementação de projetos de inovação em solo brasileiro.
        A seleção das empresas participantes e do número de bolsistas a que terão direito em cada projeto será feita pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A escolha dos bolsistas ficará à cargo de cada companhia.
        Para entrar no grupo de beneficiadas, as empresas terão de comprovar que têm projetos permanentes de pesquisa e desenvolvimento no país.
        "Terão de ser projetos de tecnologia de ponta. Queremos incentivar o fluxo de ideias. Não adianta a faculdade ficar isolada. Vamos levar estudantes a empresas avançadas e abrir portas para que eles se empreguem no futuro", afirma Virgílio Fernandes Almeida, secretário de política de informática.
        O novo modelo de bolsas será lançado como parte do programa TI Maior, cujo objetivo é aumentar o parque tecnológico brasileiro.
        Por meio dele, o governo já atraiu o compromisso de investimento de três multinacionais de tecnologia: Microsoft, EMC e Intel. Juntas, elas prometem aportar no país R$ 700 milhões em cinco anos e já manifestaram interesse em participar do edital.