segunda-feira, 22 de julho de 2013

Leia cenas do roteiro do filme "Tatuagem", de Hilton Lacerda

folha de são paulo
HILTON LACERDA

SOBRE O TEXTO As cenas reproduzidas nesta página integram o roteiro do filme "Tatuagem", escrito e dirigido por Hilton Lacerda, que estreia no Festival de Gramado, em agosto. A história se passa em 1978, no início do processo de distensão política da ditadura militar brasileira (1964-1985), e retrata o romance entre o agitador cultural Clécio, dono do cabaré Chão de Estrelas, e o jovem soldado Arlindo, apelidado de Fininha.
*
SEQ 39 - CONTATOS IMEDIATOS
(Chão de Estrelas- int - noite - cor)
O Chão de Estrelas continua com seu burburinho noturno. Aparentemente os shows acabaram e as pessoas circulam entre as mesas. Estão mais alcoolizadas e mais afoitas. O elenco está misturado com a plateia.
_Fininha está em sua mesa, em companhia de Paulete e Viveca, que está com sua roupa de "baleira", mas sem a peruca e o tabuleiro. Está descalça. Conversam animadamente. Numa mesa, mais para o centro do Chão de Estrelas, estão Clécio, Joubert, Marquinho Odara e Dedê. Clécio olha para Fininha e termina o convidando, com um sinal, para ir à mesa. Paulete vê o sinal enviado por Clécio e, junto com Fininha e Viveca, segue até o grupo.
PAULETE (expansivo) Meu povo, esse aqui é Arlindo. Meu cunhado. Então vamos evitando o ataque, pois conheço minha manada e amo minha irmã.
Clécio olha para Fininha, sorrindo. Joubert intervém, animadamente.
JOUBERT (animada e largamente) Paulete, meu preferido... Você sabia que o ciúme é a primeira forma de possessão capitalista enquanto ideia? É aí que o desejo se mistura com a mercadoria e dá uma volta no juízo, uma confusão sem fim.
CLÉCIO (apertando a mão de Arlindo) Clécio. Muito prazer.
FININHA (sorrindo e falando muito baixo) Prazer.
O grupo fica em silêncio, como se tivessem acabado uma rodada de assunto. Clécio toma a dianteira.
CLÉCIO Peguem cadeiras e sentem com a gente.
PAULETE (fazendo cara de abuso) Posso? (pequena pausa) Não posso. Tenho que arrumar as coisas lá trás. (Se voltando para Viveca) Vamos, Viveca, que a gente já sai mais cedo pra anarquia e o prazer.
VIVECA (fazendo expressão de contentamento) Fazer o quê, Paulete? (saindo e olhando a mesa) Volto logo. (se voltando para Paulete, que a puxa com força) Peraí, frango. Porra! Deixa eu pegar um cigarro.
Arlindo, sem jeito, senta-se à mesa. Os outros continuam suas conversas. Clécio puxa assunto com Fininha.
CLÉCIO (sorrindo) E aí, Arlindo, como é o nome de sua namorada? A irmã de Paulete.
FININHA (tímido) Jandira. (silêncio) Jandira.
CLÉCIO (simpático) Eu ouvi. Sabia que Jandira é um poema de Murilo Mendes? (Fininha faz um sinal negativo com a cabeça enquanto se serve de cerveja) Gostou?
FININHA De que?
CLÉCIO Dos shows, da casa... de mim.
FININHA (sorrindo) É a primeira vez que venho num lugar assim. (pausa) Gostei de você cantando. (pequena pausa) Essa roupa não deixa você com muito calor?
CLÉCIO (sorrindo) Ou bem pensamos na elegância, ou bem pensamos no calor. (pausa)Que coincidência! Eu tinha certeza que um dia você ia aparecer aqui.
FININHA (sem compreender) Minha Tia Zózima diz que a coincidência é uma das provas de Deus.
CLÉCIO (encarando-o e irônico) Estamos feitos: tradição e família. Só falta a propriedade. (pausa) Onde você mora?
FININHA (sorrindo) No quartel.
CLÉCIO (falso espanto) Então você é um infiltrado? Veio aqui para nos vigiar? (pequena pausa) Ou para nos prender?
Clécio e Fininha miram-se, mas já não dizem mais nada. Fininha se mostra seduzido.
*
SEQ 40 - CUMPLICIDADES
(Casa de Clécio- int - madrugada - cor)
Vista da cidade do Recife à noite. Uma luminosidade de madrugada. Luzes de vapor de mercúrio contrastam com o breu das casas adormecidas. A visão que temos é a partir da janela do apartamento de Clécio. Começamos a ouvir o chiado de um disco que é colocado na vitrola. Fininha entra em quadro, e a câmera afasta-se um pouco, deixando as esquadrias quase como moldura da cena. A voz da cantora Dolores Duran explode.
Fininha está sem camisa. Observa a noite. Clécio, também sem camisa, entra em quadro. O movimento da câmera desvenda o apartamento. Os dois se encaram:
Adams Carvalho/Arte Folha
Ilustração de Adams Carvalho
Ilustração de Adams Carvalho
CLÉCIO (quase tímido) É essa a música que eu te falei. (pequena pausa) Conhece?(Fininha faz sinal negativo com a cabeça) Hum! Sua voz é tão agradável. Você não parece que tem essa voz, mas quando a gente ouve, não pode pensar em outra para você.
FININHA (de olhar baixo) No quartel me chamam de Fininha.
CLÉCIO (sorrindo) Melhor que Arlindo. (pausa) Não que Arlindo é feio, mas Fininha parece com você, Arlindo não.
FININHA (ainda olhar baixo) Você também não parece com Clécio. Parece outro.
CLÉCIO Qual? (Fininha dá de ombros e olha para Clécio) Quer dançar comigo? _(Fininha faz sinal afirmativo com a cabeça) _ Vamos?
Os dois se dirigem ao centro da sala. Atrapalham-se na hora de decidir quem "leva" a dança, mas Fininha cede. No início parecem tímidos, mas Clécio vai insistindo, e Fininha cedendo. A respiração dos dois é profunda. Começam a conversar, quase que falando dentro da orelha do outro.
FININHA Eu nunca tinha dançado assim com um homem.
CLÉCIO Eu nunca tinha dançado assim com um soldado. (pausa) Seu corpo tem cheiro doce.
FININHA (sorrindo) Doce? (Clécio balança afirmativamente a cabeça) Hum! Tá bem quente aqui.
CLÉCIO Eu servi no Exército, mas nunca tinha sentido esse cheiro.
FININHA (espantado) Você serviu? (Clécio faz sinal afirmativo com a cabeça) Qual a sua idade?
CLÉCIO Trinta e três.
FININHA, _ sem parar de dançar, se afasta um pouco e fica observando o rosto de Clécio. Respira fundo e volta a aninhar-se na dança._
FININHA Não parece. (pausa) Você serviu?
Os dois ficam em silêncio. A música continua e vai tomando conta da cena.
CLÉCIO (encarando Fininha) Meu pai é militar e achava que servindo ao Exército eu ia tomar jeito. Ia virar homem. (pequena pausa) Você já beijou um
homem?
Fininha nada responde. Encara Clécio e começa a beijá-lo.
HILTON LACERDA, 47, é roteirista dos filmes "Baile Perfumado", "Amarelo Manga" e "A Febre do Rato", entre outros. Lança no Festival de Gramado, em agosto, seu primeiro longa de ficção como diretor, "Tatuagem".

Charge - Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LARTE
LARTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Veneza - Marion Strecker

folha de são paulo
Ninguém fica invisível quando se conecta. Ninguém mais pode viajar às escondidas
O condutor do Vaporetto olha displicentemente a paisagem empunhando um celular. Os passageiros entram e saem. Uma garota atende do outro lado da linha.
Ele propõe um sorvete para aquela noite. Ela responde não, não e não. O condutor faz cara de paisagem. Arsenale, Pièta, San Marco-San Zaccaria. Passageiros continuam a entrar e sair.
Os italianos usam intensamente o celular há décadas. Lembro de Roma, muitos anos atrás. Rapazes com roupas e cabelos bem cortados falavam nas ruas com os seus aparelhos enquanto se locomoviam rapidamente para seus destinos.
Um senhor mais velho retirava uma cerâmica do chão, bem embaixo da sua calçada, num achado arqueológico casual.
Penso na história da tecnologia e no conceito que se faz dela hoje. Penso no que os antigos nos deixaram como história material, as cerâmicas, as cidades, as estradas, os aquedutos, as tapeçarias, os palácios, as pontes, as esculturas, os sinos, as torres, as pinturas.
Leio agora que o ex-presidente da Telecom Itália acaba de ser condenado à prisão. Penso nos conspiradores, nos corruptos, nos condenados que passaram pela ponte dos Suspiros que leva às masmorras no palácio Ducale. Masmorras maiores, mais arejadas e mais iluminadas que tantos quartos de empregada do Brasil de hoje.
Masmorras bem trancadas, com grades e cadeados que venceram os séculos. Leio sobre a sala de tortura onde confissões eram arrancadas ou forjadas. Arquitetura e tecnologia a serviço de manter o poder nas mãos de quem já o tem.
Olho as figuras retratadas nas pinturas do século 16. Tintoretto, Veronese. Políticos, anjos, mitos, nobres, santos, Deus. O touro e o rapto de Europa. A madeira talhada, a sala de armas, os canhões, as espadas, os escudos, as pistolas, as armaduras. Penso na peste negra que um dia dizimou metade da população local.
Volto um instante para a atualidade, as armas químicas, a ausência de armas químicas, os antibióticos, a falta de antibióticos, os drones, as guerras tribais. Lembro da Atenas bombardeada.
Vejo as esculturas gigantes no palácio Ducale e penso na admiração infinita que a arte grega clássica inspirou. Técnica, tecnologia. A destruição da arte. A sobrevivência da arte. Não vim a Veneza para me desintoxicar de equipamentos eletrônicos. Seria apenas um efeito colateral desejável.
E, a bem da verdade, nem pensei muito neles. Até que o telefone, que eu programara sem roaming para evitar as tarifas obscenas e usava como máquina fotográfica, tocou.
Eu subia a torre da piazza San Marco. A ligação ficou ruim. Confiei em não me preocupar.
O que eu poderia fazer lá de cima? À noite, quando eu me ligasse ao wi-fi do hotel, haveria algum e-mail, algum WhatsApp, algum Instagram me esperando.
Ninguém fica invisível quando se conecta. Ninguém mais viaja escondido. As muralhas que podiam separar a vida privada da vida profissional foram seriamente danificadas. Se o condutor não tivesse telefonado para a garota durante a jornada, talvez pudesse continuar sonhando com o sorvete da noite por mais algumas horas.

Qual o rumo do governo? - Renato Janine Ribeiro


Valor Econômico - 22/07/2013

Que repercussões os recentes protestos terão nas eleições de 2014? A pesquisa divulgada esta semana pela CNT mostra que Dilma Rousseff continua líder, mas com só um terço dos votos, enquanto Marina Silva garante 20%, seguindo-se Aécio Neves, com 15%, e fechando a fila com Eduardo Campos e seus 7,4%. É uma escadinha. Assim Dilma ainda pode se reeleger, com certa dificuldade, mas os tucanos ficariam fora da final pela primeira vez desde 1989. Só que tudo pode mudar.

Pode mudar, mas há parâmetros novos: Dilma tem pouco mais do que o piso petista. Os votos adicionais, que desde a campanha de 2002 permitiram uma sucessão de vitórias do PT, foram embora. Já Marina pode ter apenas um soluço de popularidade. Ela não ofende, soma em vez de agredir e seu discurso é o mais próximo das manifestações de rua. Mas seu partido é, parte por convicção, parte por fragilidade mesmo, pouco sólido para assegurar um bom desempenho em 2014 - até porque, segundo a sabedoria convencional, ele precisaria de palanques nos Estados, ou seja, como já afirmei aqui, necessita assegurar a governabilidade antes, e não depois, das eleições. Eduardo Campos bem pode desistir, porque não sei se lhe interessa concorrer para ter menos de dez por cento dos sufrágios; isso pode comprometer projetos futuros. Resta Aécio.

Neste momento, se Marina é a challenger moral de Dilma, porque une todos os atributos para propor outro rumo ao País, Aécio é seu desafiante político. Pode estar atrás dela - e isso é normal, dado o protagonismo que Marina alcançou - mas tem os governadores, prefeitos e parlamentares que escoram uma campanha eleitoral. Quando sonhos e utopias cederem lugar ao feijão e ao fator prosaico da política, os tucanos avançarão nas pesquisas. O tempo da usura e do desgaste milita em seu favor. Basta não cometer erros maiores - e já vimos que Aécio não os fará. Pode falhar, mas não errar. Explico: Serra errou, por agressividade. Aécio demorou a assumir posições, não se projetou ainda como presidenciável para valer, mas a restrição a ele não vai além do "ainda", o que, para um político jovem e cheio de vida, não constitui um problema maior.

Assim, na hora de ver quem ganhou e quem perdeu com a mudança no panorama político desde o dia seguinte ao Dia dos Namorados, dá para dizer: perderam Dilma e o PT, que podem se recuperar, mas terão que dar duro; ganha Marina, mas o que em teatro se chama um "succès d"estime", um sucesso de crítica, que não necessariamente se traduz em sucesso de público: é a vitoriosa moral; e ganham os tucanos.
Isso é curioso. Dos quatro presidenciáveis que citei, quem mais apareceu foi Marina Silva, seguida de Dilma Rousseff, que não podia se omitir quando entraram em cheque seu governo e partido. Mas o possível beneficiário político da crise é justamente - assim como Eduardo Campos - quem menos falou, porque talvez menos tivesse a dizer, sobre o clamor popular.

Agora, o que fica interessante é que tanto Marina quanto Aécio colocam a necessidade de uma nova agenda para o País, a do pós-Bolsa Família, como ele a chamou. Com efeito, os programas petistas mais populares, essa bolsa e o Pró-Uni, são medidas emergenciais contra a miséria e a injustiça social; ora, como ficará o País depois que sair da emergência? Quando as políticas - justamente - do PT tiverem levado o Brasil a uma normalidade, a uma saúde social, o que terão os candidatos a propor? Aqui me parece estar a questão quase fatal posta a cada um dos aspirantes ao Planalto.

Mesmo a falha na questão prejudica, em vez de ajudar, Dilma. Se é fato que os muito pobres e miseráveis passaram de 100 a 50 milhões no governo Lula, o problema é que as dezenas de milhões faltantes são as mais difíceis de retirar da grande pobreza. Portanto, a agenda petista não caducou. Continua sendo necessário erradicar a miséria. Mas já não está em jogo o destino de metade dos brasileiros, e sim de um quarto. Para os outros, novas agendas são necessárias. Aécio propõe a criação de novos empregos graças ao setor privado. Marina faz uso da ambiguidade da palavra "sustentável" - que nasce para tratar do verde, porém se pode aplicar a tudo, até mesmo à sustentabilidade de uma empresa no plano econômico, o que, sozinho, nada tem em comum com a ecologia - para sugerir uma revisão radical da economia e da sociedade. É a candidata, é o partido (ou Rede) mais utópico - e mais intelectualizado. Mas, enquanto isso, Dilma tem que formular sua proposta para o "day after" à pobreza, ao mesmo tempo que precisa continuar a erradicá-la. Jornada dupla de trabalho...

Para dificultar as coisas, seus antecessores deixaram marcas claras e populares. FHC concluiu a luta contra a inflação iniciada por Itamar Franco. Lula virou a política brasileira pelo avesso com a inclusão social. Mas qual é a marca de Dilma? Mesmo suas iniciativas mais fortes, como a redução na taxa de juros, trazem críticas sérias. Estamos naquele momento difícil em que qualquer movimento do cobertor mais expõe ao frio do que protege do calor. Propostas tão diferentes entre si como o plebiscito e o Mais Médicos geram efeitos negativos de tudo o que é lado. Será um problema de comunicação, como atiladamente observou Jânio de Freitas? Ou será mais fundo: de concepção? Não está claro o que o governo pretende. E a inércia das coisas, que até meados de junho favorecia a reeleição, agora a submete a um bombardeio cerrado. A boa fortuna de Dilma é que ela tem algum tempo - não muito, mas talvez o bastante, se mostrar "virtù" suficiente, para desenhar uma marca a aplicar às coisas.

Brasil aprova nova droga biológica contra o lúpus - Diego Maia e Ricardo Manini

folha de são paulo
Medicamento é o primeiro em 50 anos específico contra a doença autoimune
No Brasil, cerca de 200 mil pessoas têm a doença; novo tratamento custa mais de R$ 50 mil ao ano
DHIEGO MAIARICARDO MANINICOLABORAÇÃO PARA A FOLHAO primeiro medicamento desenvolvido em mais de 50 anos para tratar especificamente pessoas com lúpus chegou ao mercado brasileiro neste mês. A droga, batizada de Benlysta, é uma proteína que combate o processo responsável por levar o corpo do paciente a atacar as próprias células de defesa.
O tratamento é caro. Cada infusão da droga, administrada por injeção intravenosa, custa R$ 3.800 para alguém com até 60 kg. Só no primeiro ano do tratamento, é preciso desembolsar R$ 57 mil pelas 15 doses previstas, mas o custo pode ser maior, de acordo com o peso do paciente, segundo a fabricante GSK.
O tratamento existente hoje, à base do anti-inflamatório cortisona, não custa mais do que R$ 2.000 ao ano. A droga também é distribuída pela rede pública de saúde.
Estima-se que o Brasil tenha 200 mil pessoas com lúpus. Por ano, mais de mil casos são diagnosticados. Segundo o Ministério da Saúde, em 2012, a doença levou à internação 4.475 pessoas. As mulheres são as mais afetadas. Em cada grupo de dez doentes, nove são mulheres em idade reprodutiva.
NOVO TRATAMENTO
O lúpus é uma doença autoimune. Morton Scheinberg, reumatologista que coordenou parte dos testes clínicos da nova droga no Hospital Abreu Sodré, explica que os linfócitos B, células de defesa, produzem anticorpos que atacam o organismo das pessoas que têm a doença.
O lúpus mais "leve" causa artrite, fadiga, perda de cabelo e problemas na pele. Em fase moderada, a doença leva a uma queda no número de plaquetas e glóbulos brancos no sangue. Casos graves acometem os rins e o sistema nervoso central, causando desde dores de cabeça até convulsões e paralisia.
O novo remédio, que também é um tipo de anticorpo, dificulta o amadurecimento dos linfócitos B para reduzir seu ataque aos tecidos saudáveis do organismo.
Segundo Roger Levy, professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e pesquisador que avaliou o Benlysta no Brasil, os efeitos adversos da cortisona aparecem com o tempo. "Anos de uso podem causar diabetes, hipertensão, aumento de peso, queda de cabelo e necrose nos ossos", afirma.
A nova droga, porém, não é isenta de efeitos colaterais, incluindo infecções graves, náuseas, diarreias e febre.
De acordo com o reumatologista Luiz Coelho Andrade, da Unifesp, o Benlysta não vai substituir o tratamento existente. "O uso deverá ser complementar ao tratamento convencional."
O médico nota avanços no tratamento da doença. "Há 40 anos, mais da metade das pessoas com lúpus morria. Hoje, quando o paciente descobre que tem a doença, dizemos que ele vai levar uma vida normal, apesar de eventuais complicações."
A FDA (agência reguladora de fármacos nos EUA) autorizou a venda do Benlysta após oito anos de pesquisa. Os estudos foram feitos em 31 países, incluindo o Brasil. A GSK diz que pretende comercializar o medicamento também na versão para injeção subcutânea em três anos.
DEPOIMENTO
"Não tinha força nem para abrir a pasta de dente"
DA EDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
A consultora de moda Astrid Sekkel, 48, tem lúpus há seis anos e participou dos testes da nova droga aprovada para o tratamento da doença.
(DM)
-
"Comecei a perceber manchas arroxeadas na perna, dores nas articulações da mão e um cansaço muito grande. Fui ao dermatologista e ele disse que era uma picada de bicho. Tratei um ano como alergia e não melhorava.
A primeira reumatologista que procurei me disse que a doença era uma morte silenciosa'. Saí do consultório apavorada, chorando. Então decidi procurar uma segunda opinião. O médico me ofereceu para entrar no estudo clínico.
Muita gente próxima foi contra, porque você corre os riscos de ser a cobaia. Mas pensei que se o remédio não servisse para mim, poderia servir para outras pessoas.
Cada pessoa do teste reagiu de um jeito. Algumas ficaram enjoadas. Eu tinha sonolência no dia em que aplicava o remédio, mas acordava ótima.
As dores articulares pararam. Antes, não conseguia abrir a pasta de dente de manhã. Você fica absolutamente dependente. Hoje estou levando uma vida normal, faço pilates.
Acordo sem dizer ai'."

CARAS & BOCAS » Noiva em perigo


Simone Castro

Estado de Minas: 22/07/2013


Miá Mello faz participação especial em episódio de Tapas & beijos
Ela não tem ideia de onde foi se meter. No episódio de amanhã de Tapas & beijos (Globo), a noiva (Miá Mello) aparece na loja de vestidos de casamento e deixa as vendedoras alvoroçadas diante da possibilidade de bons negócios. Como era de se esperar, as lamúrias de Flavinha (Fernanda Freitas), Sueli (Andréa Beltrão) e Fátima (Fernanda Torres) podem pôr tudo a perder. De olho na comissão, Sueli se prontifica a ajudar a moça a escolher também os modelitos das 18 madrinhas. Ela tenta fazer uma “venda casada”, sugerindo que Jorge (Fábio Assunção), o novo cantor do pedaço, anime a recepção. Porém, ele não aprova a ideia. Já Fátima, para variar, ignora a tensão e só pensa em resolver sua vida amorosa. Com tanta agitação, Flavinha não consegue concretizar o negócio. Pior: a dona da loja e as vendedoras despejam as próprias frustrações nos ouvidos da noiva, que, assustada, começa a pensar se o casamento é mesmo uma boa decisão...



CANDIDATOS TENTAM LEVAR A MELHOR EM NOVA DISPUTA
Hoje, às 23h, no SBT/Alterosa, o programa Astros dá espaço a vários talentos. Todos farão o melhor para convencer os jurados Thomas Roth, Arnaldo Saccomani, Cyz Zamorano e Carlos Miranda que merecem levar R$ 5 mil em barras de ouro. O show começa com Vovó Gaga, cover de Lady Gaga, que escolheu a canção Alejandro para imitar a excêntrica diva. Júlio César, o Vaca Louca, vestido a caráter, promete dança divertida. Tchello, O Mentalista, exibe seu número de mágica. Ele já acertou o resultado de uma partida da Copa do Mundo antes de a bola rolar. Jermany Maciel, por sua vez, divulga sua arte circense em O despenhadeiro da morte.

MAIS UMA VEZ, ATÍLIO RECUPERA A MEMÓRIA
Em Amor à vida (Globo), Atílio (Luís Melo) se lembra do que ocorreu antes de perder a memória. Ele voltará para o Hospital San Magno a fim de desmascarar Félix (Mateus Solano), mas será chantageado pelo vilão, que o acusará de bígamo. Tudo ocorrerá repentinamente: Gentil, como é chamado em sua “outra vida”, está no forró se divertindo com Márcia (Elizabeth Savalla). Ao se lembrar da verdadeira identidade, foge e abandona a ex-chacrete. Auxiliado por Maciel (Kiko Pissolato), Félix fotografou a cerimônia de casamento do desmemoriado com Márcia. O vilão avisa: se denunciá-lo para César (Antônio Fagundes), Atílio terá de prestar contas por falsidade ideológica e por ter se casado com duas mulheres.

TEMAS POLÊMICOS AGITAM NOVAS EDIÇÕES DE A LIGA
Amanhã à noite, na Band, o programa A liga levará ao ar o quadro “Mundos opostos”, novidade da quarta temporada. A ideia é abordar, sob ângulos inusitados, temas polêmicos da atualidade. Entre eles está a tal “cura gay”. As experiências de uma drag queen e de um pastor evangélico que se diz ex-homossexual serão mostradas. A liga vai retratar a convivência, durante vários dias, do ator Valber com o missionário Robson.

O PAPA FRANCISCO E SUA PASSAGEM PELO BRASIL
Hoje, à meia-noite, o SBT repórter vai à Basílica de Aparecida para mostrar os cuidados para receber o papa Francisco. Num subúrbio carioca, foi composta canção especial para o sumo pontífice. O programa relembra também a visita de João Paulo II ao Morro do Vidigal, na capital fluminense, em 1980. César Filho revela os locais que Francisco frequentava quando morava em Buenos Aires, na Argentina. O público vai conhecer o barbeiro Jorge Mário, que costumava atendê-lo.


DIVAS DA TELINHA
A partir de 28 de agosto, o canal Viva (TV paga) vai apresentar o inédito Damas da TV, com entrevistas de estrelas da televisão brasileira. Seis das 22 atrizes – todas com mais de 40 anos de carreira – integram o elenco da novela Rainha da sucata, de Sílvio de Abreu, exibida pela emissora de segunda a sexta-feira, à meia-noite. Regina Duarte é a sucateira Maria do Carmo; Glória Menezes, a vilã Laurinha Figueiroa; Nicette Bruno interpreta Neiva; Aracy Balabanian brilha como a inesquecível dona Armênia, que chamava seus três marmanjões de “filhinhas”; Renata Sorrah fez o papel da doce e ingênua Mariana. Fernanda Montenegro chamou a atenção em participação especial no início da trama como Salomé, mãe de Mariana e Caio (Antônio Fagundes). Damas da TV comemora os 50 anos das telenovelas no Brasil.


VIVA
Globo repórter, na sexta-feira, sobre a atuação dos jovens missionários brasileiros às vésperas da Jornada Mundial da Juventude.


VAIA
Bruno (Malvino Salvador) e Paloma (Paolla Oliveira) discutem a relação em plena vara de família, enquanto a juíza só observa. Até parece... Outra bola fora de Amor à vida.


TV PAGA 


TELEMANIA » Limpando a barra
Publicação: 22/07/2013 04:00
Com o fim de temporada de Mad men, a HBO passa a ocupar a faixa das 21h nas noites de segunda-feira com a série Ray Donovan, estrelada por Liev Schreiber e Jon Voight. Schreiber faz o papel de um profissional encarregado de livrar de problemas celebridades e homens de negócios de Hollywood. Quando seu pai, Mickey Donovan (Voight), sai da cadeia, uma avalanche de acontecimentos é desencadeada.


Muitas alternativas na programação de filmes
Outra novidade de hoje é o drama Tudo em família, com Ryan Phillippe, Anna Paquin e Luke Wilson, que estreia às 22h, no Telecine Premium. O Megapix continua comemorando seus cinco anos com grandes sucessos do cinema nacional. Hoje, às 22h30, exibe a comédia Não se preocupe, nada vai dar certo!. O assinante tem outras seis boas opções às 22h: Frank e o robô, no Max; O despertar de uma paixão, na MGM; Estão todos bem, no Sony Spin; Ricos, bonitos e infiéis, no Glitz; Appaloosa – Uma cidade sem lei, no Space; e A mão que balança o berço, no TCM. Outros destaques da programação: 72 horas, às 21h, no Cinemax; e Atirador, às 22h15, no FX.

Médium ajuda polícia a esclarecer sumiço
O episódio de hoje de Parapsicólogos forenses, às 22h, no Bio, vai relatar o caso de Amy, garota que desapareceu na noite em que decidiu sair com amigos para ir a um bar na cidade de Portland (EUA). Lá, a moça conheceu Jeff, que a convenceu a ir a uma festa. Nunca mais a moça foi vista. Sem pistas da jovem, a polícia recorreu à médium Vicki Monroe para desvendar o caso.

Boas opções esta noite  na tela do Canal Brasil
No Canal Brasil, às 22h, será exibido o documentário Hotxuá, que marcou a estreia na direção da atriz Letícia Sabatella e do cenógrafo e artista plástico Gringo Cardia. O filme mostra a riqueza cultural dos índios da tribo Krahô, em Palmas, no Tocantins. Mais cedo, às 21h30, em Espelho, Lázaro Ramos conversa com Arrigo Barnabé e Denise Assumpção sobre o compositor Itamar Assumpção (1949 –2003). À meia-noite, em Matador de passarinho,
Rogério Skylab recebe o músico Tony da Gatorra.

Empresário lucra com mercadorias religiosas
Hoje, o programa Mundo S/A, da GloboNews, vai mergulhar no universo religioso para mostrar dois lucrativos negócios que só existem (e prosperam) por causa da fé. Em Ferraz de Vasconcelos (SP), uma empresa aposta na pluralidade religiosa e produz cerca de 1,8 mil itens em gesso e resina. Outro negócio que deu certo é a fabricação de hóstias na cidade mineira de Ponte Nova. Confira às 22h30.

Canal Off abre pacote  de variadas novidades
Nove produções e temporadas das mais populares séries de aventura e esporte de ação estreiam este mês no canal Off. Começa hoje com Picos do Brasil, em Cumbuco, no Ceará, às 19h. Campeões do skate mundial entram em cena, às 19h30, no programa Califorfun. Já às 21h30 é a vez de Melhores resorts de inverno, com a snowboarder Raquel Iendrik viajando pela Suíça, França e Itália. Às 22h30, começa a quarta temporada de Pela rua. Na abertura, mais um fera do skate: o catarinense Pedro Barros.

EDUARDO ALMEIDA REIS - Só ele?‏

Presumo que a biodiversidade encontrada nas jubas dos três atletas seja das mais ricas, misturando espécies de seres vivos da Inglaterra, da Espanha e da Alemanha 


Estado de Minas: 22/07/2013 

O leitor sabe que sempre fui inimigo das injustiças, como esta que fizeram com o ilustre deputado federal Natan Donadon (PMDB-RO), nascido dia 27/7/67 em Porecatu (PR), condenado a 13 anos de cadeia pelo furto de uma ou duas dúzias de milhões de reais. Só ele? E os outros que continuam roubando muito mais? Comparado com eles, Donadon é um trombadinha. É verdade que só deve cumprir dois anos em regime fechado, mas ainda assim foi injustiça.

Fatos rondonienses me falam de perto, porque Rondônia é o antigo território do Guaporé. Por 20 ou 25 minutos deixei de ser nomeado secretário-geral do território federal do Guaporé, cargo equivalente ao de primeiro-ministro. Em 1964, os governadores dos territórios eram coronéis do Exército e os secretários-gerais administravam as quitandas.

O general que fazia as nomeações, solteirão, mulherengo, meu amigo, perguntou: “Eduardo, você quer ser secretário do Guaporé?”. Informado de que o seu jovem amigo não queria outra coisa, o general disse: “Poxa, você não me falou e acabo de nomear um sujeito. Vou ver se consigo desfazer a nomeação”.

Não conseguiu, felizmente para mim e infelizmente para o leitor do Estado de Minas. No Guaporé, o philosopho teria morrido de malária ou flechado de índio, se não fosse abatido a tiros pelos garimpeiros e madeireiros. E agora, esta: nosso belo Donadon cassado e preso, talvez pela burrice de roubar muito menos do que tantos outros larápios conhecidos de todos nós. O produto de sua gatunagem só dá para comprar dois bons apartamentos em Belo Horizonte.

Biogeocenose capilar

Em rápidas pinceladas, ouçamos dona Zica Assis: “Dante, do Bayern, tem cabelo fino, mas o cacheado está todo embolado. Seria bom que ele fizesse o tratamento super relaxante, que ajuda a definir os cachos. Para manter esse penteado black power, ele deve cortar o cabelo sempre em camadas. David Luiz, do Chelsea, o cabelo dele é fino, com mechas louras, mas está bastante ressecado. Não precisa hidratar para dar brilho. Ele deve usar diariamente um creme de pentear com filtro solar para proteger a cor e não danificar as mechas. Marcelo, do Real Madrid, é o cabelo mais delicado, desidratado e crespo. É frisado e ele parece não pentear, o que faz que as pontas fiquem em forma de parafusos. Recomendo o uso de reparador de pontas e também de leave-in com filtro solar”. É o que aconselha a proprietária da Beleza Natural, rede com 13 salões especializados em cabelos crespos.

Morena bem morena, risonha, ostentando imensa cabeleira também crespa, mas penteada, sem pontas em parafusos, presumo que bem abastecida de leave-in com filtro solar, Zica foi levada ao estádio para conhecer de perto a biogeocenose capilar dos craques do professor Felipão.

E biogeocenose, como o leitor certamente ignora a exemplo do seu philosopho até 15 minutos atrás, é o mesmo que ecossistema, sistema que inclui os seres vivos e o ambiente, com suas características físico-químicas e as inter-relações entre ambos.

Presumo que a biodiversidade encontrada nas jubas dos três atletas, que se abraçam depois dos golos da equipa nacional brasileira, seja das mais ricas, misturando espécies de seres vivos da Inglaterra, da Espanha e da Alemanha, onde fazem sucesso nos clubes que detêm os seus direitos federativos.

Se me fosse dado palpitar, com todo o respeito, Zica Assis melhor faria se cortasse 80% de sua própria cabeleira, começando o embelezamento dos três atletas, antes de pensar em cremes e hidratações com filtro solar, pela máquina zero.

Muitos e muitos anos atrás, cerca de meio século, pensei montar em Botafogo, no Rio, um salão de beleza especializado em cabelos crespos. Sociedade com uma amiga cabeleireira, que entraria com o trabalho e a supervisão da equipe de manicures, cabeleireiras e podólogas. Chegamos a ver o espaço num segundo andar de prédio comercial na Rua da Passagem. Decorrido tanto tempo, não me lembro por que o negócio não foi adiante. Creio desnecessário dizer que o salão cuidaria somente de cabelos crespos femininos, que ficam lindos com chapinhas quentes, escovas progressivas e aquele tratamento perigosíssimo à base de formol.

Por derradeiro, informo que o Google tem 236.000 entradas para “como cuidar de cabelos crespos”, inclusivamente as informações do cabeleireiro Wilson Eliodorio, que cuida de Taís Araújo, Maria Fernanda Cândido e Alinne Moraes.

O mundo é uma bola
 

22 de julho de 1298: Eduardo I da Inglaterra e seus arqueiros derrotam William Wallace e seus lanceiros na Batalha de Falkirk, durante a Guerra da Independência da Escócia.

Em 1935, o presidente Getúlio Vargas cria A Hora do Brasil, programa transmitido obrigatoriamente para todo o território brasileiro, mas tarde transformado em A Voz do Brasil, seguramente um dos programas mais chatos da radiofonia mundial. Concorre em falta de audiência com a TV do Lula.

Em 1969, o generalíssimo Franco indica o príncipe Juan Carlos para futuro rei da Espanha. Em 2011, um maluco mata a tiros e bombas 93 pessoas e fere outras 90 na Noruega.

Hoje é o Dia do Trabalho Doméstico e o Dia do Cantor Lírico, não sei se no Brasil. Se não for, fica sendo.

Ruminanças

“Quando bebemos, ficamos bêbados. Quando ficamos bêbados, dormimos. Quando dormimos, não cometemos pecados. Quando não cometemos pecados, vamos para o céu. Portanto, vamos ficar bêbados para ir para o céu” (Brian O’Rourke).

Cultura do carro nos EUA dá marcha a ré - Raul Juste Lores

folha de são paulo
Total de jovens que não dirigem no país dobrou em 30 anos; ciclovias e transporte público recebem investimentos
Nova economia, além de concentrar emprego nas cidades, fez carro perder seu status de objeto de desejo, dizem estudos
DE WASHINGTONDos jovens americanos entre 20 e 24 anos de idade, 20% não têm carteira de habilitação; 40% dos que têm 18 anos tampouco. Nos dois casos, o número de jovens que não dirigem no país das autoestradas dobrou em 30 anos.
Desde 2001, o total de quilômetros dirigidos pelos americanos está em declínio, muito antes da crise de 2008.
Assim como Detroit --berço das montadoras, cuja prefeitura entrou em concordata e que encolheu de 1,8 milhão de habitantes nos anos 70 para 700 mil hoje--, a cultura automobilística dos EUA vive momento de marcha a ré.
"Minha geração quer cada vez mais morar nas cidades e fugir dos subúrbios. O uso de bicicleta e de transporte público nas maiores cidades está em alta", disse à Folha o urbanista Owen Washburn, 29, do Instituto Brookings.
Estudos dizem que os aparelhos tecnológicos substituíram os carros como objetos de desejo dos mais jovens. E que a vida na cidade, onde os empregos da chamada nova economia se concentram, também ficou mais atraente.
Apesar do barulho provocado pelo grande sistema de compartilhamento de bicicletas em Nova York, lançado em maio com 7.000 bikes, a surpresa é que cidades médias e até no interior americano seguem a tendência.
San Antonio, Austin (Texas) e Atlanta (Georgia) têm criado várias ciclovias --Austin terá compartilhamento de bicicletas no fim do ano.
"Há forte redução do uso do carro em Austin. Mas, no interior, ainda há caminhonetes por todo lado", diz o professor mineiro Fernando Lara (Universidade do Texas).
Washington e Seattle criam 20 km por ano de ciclovias. Em vários casos, há financiamento federal para as obras.
É o caminho oposto das políticas dos EUA que nos anos 40 e 50 estimularam o uso de veículos, da criação do sistema de rodovias à concentração de empregos em distritos aonde só se chegava de carro.
Um dos prefeitos que mais investiram na mudança acaba de virar o secretário dos Transportes dos EUA. Anthony Foxx, 42, fez do transporte público prioridade na Prefeitura de Charlotte, a maior cidade da Carolina do Norte --algo incomum nos conservadores Estados do Sul.
Estendeu um metrô de superfície e ressuscitou uma rede de bondes. A economia ajudou: Charlotte virou o segundo maior centro financeiro do país, após Wall Street, e muitos de seus novos trabalhadores são jovens que preferem viver perto do trabalho.
    ANÁLISE
    Montadoras já se preocupam com desinteresse em dirigir
    ROHIT JAGGIDO "FINANCIAL TIMES"Uma das mudanças mais visíveis causada pela humanidade no planeta pode ser atribuída ao automóvel --não só veículos são encontrados em quase todas as paisagens como é impossível escapar da infraestrutura que exigem.
    Mas a alta da população de carros de quase zero para muito mais que 1 bilhão em pouco mais de um século teve um preço. Em muitos lugares, o trânsito converteu o automóvel em gaiola quase imóvel. Somem-se a isso as preocupações ambientais e é muito possível que a maré da opinião pública sobre os carros tenha virado em boa parte do mundo desenvolvido.
    A China ainda compra muitos carros, mas muitos jovens de países desenvolvidos não demonstram nenhum interesse em aprender a dirigir, e isso preocupa as montadoras.
    A alemã BMW já investe em esquemas de partilha de carros. Carros elétricos devem ficar mais comuns. Prevenir acidentes terá destaque cada vez maior; a extensão lógica disso é entregar a tarefa de dirigir o carro a computadores.
    Veículos assim podem revolucionar o modo como usamos carros e o que fazemos com o tempo passado neles.

      Rubens Ricupero

      folha de são paulo
      Que falem os fatos
      Por trás dessa aparente improvisação do papa Francisco, existe método e coerência
      É pela revolução silenciosa dos atos e gestos de cada dia que o papa Francisco vem mudando a Igreja Católica de modo radical e profundo. Não houve relatório bombástico como o de Khruschov no 20º Congresso do Partido Comunista soviético. Tampouco se anunciou novo concílio ecumênico, como fez o papa João 23. Até agora, ninguém ouviu do papa um discurso programático de reforma.
      Nesse particular, seu comportamento parece inspirado, mais que em são Francisco, num dos primeiros franciscanos, santo Antônio. Num sermão, dizia este: "A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras".
      Palavras e gestos são simples. Numa manhã, o papa diz na missa, na presença dos funcionários do banco do Vaticano, que São Pedro nunca teve conta bancária... no dia seguinte, desculpa-se por não ir ao concerto onde deveria sentar-se em poltrona majestática isolada dos demais e explica: "Não sou um príncipe da Renascença!". Nas palavras dirigidas aos bispos italianos, censura o "mundanismo", o "carreirismo eclesiástico", lamenta os bispos que se portam como "funcionários preguiçosos". Depois, abraça um a um...
      Os tradicionalistas denunciam que ele "fa il parocco, non fa il papa", isto é, que age como pároco de aldeia, que ameaça dessacralizar a função papal ao recusar habitar os apartamentos pontifícios e passar férias em Castel Gandolfo, ao preferir singeleza na liturgia, pondo de lado paramentos e ritos elaborados, ao morar em hotel, tomar refeições junto a outras pessoas e não no esplêndido isolamento onde se tramam as conspirações de mordomos e cortesãos.
      Mas que ninguém se engane. Por trás dessa aparente improvisação, existe método e coerência. Tudo --atos, decisões, opiniões-- aponta na mesma direção: pobreza evangélica, serviço dos outros, sobretudo dos mais pobres, dos que habitam as periferias do mundo e da vida, exigência de conversão radical, de esforço para aliviar a dor e o sofrimento.
      Num de seus livros, sugere como se deu sua própria conversão: "Os padres das periferias e das favelas impuseram uma transformação nas mentalidades e no comportamento das autoridades eclesiásticas".
      O diretor do jornal do Vaticano captou assim os quatro eixos da mensagem de Francisco: "Falar de Deus em termos de misericórdia e ternura; exigir o engajamento cristão concreto; trabalhar na simplificação de si mesmo e da igreja; voltar-se às pessoas que estão na periferia do cristianismo".
      Não há nada de melífluo ou piegas nesse programa. Muito mais árduo do que o discurso do moralismo sem compaixão é colocar a vida a serviço dos outros. É o programa de Teresa de Calcutá e Francisco de Assis. Quantos, crentes ou não, são capazes de segui-lo?
      A visita ao Brasil e o encontro com a juventude oferecem ao papa a primeira oportunidade de sair da praça de São Pedro e enfrentar os desafios contemporâneos. No momento em que se extingue Mandela, o último herói de um mundo desesperançado, o que dirá Francisco aos jovens vindos de toda a parte e em especial aos jovens brasileiros que nas manifestações deram voz à esperança?