domingo, 23 de março de 2014

MARTHA MEDEIROS - A fita crepe

Zero Hora - 23/03/2014

Sempre fiquei intrigada com mulheres que posam para fotos virando-se de costas, dando apenas uma espiadinha para a câmera por cima do ombro. Que as Mulheres Melões e Melancias façam isso, é compreensível: estão oferecendo às lentes o produto que as tornou famosas. Porém, no sofisticado tapete vermelho, acontece o mesmo. Divas em seus vestidos longos de grife oferecem ao mundo uma visão frente e verso, e não só a bem torneada Jennifer Lopez, mas também sílfides como Anne Hathaway, Cate Blanchett e Naomi Watts. Provavelmente para mostrarem suas escápulas em um exclusivo decote Dior, para exibirem o colar da Tiffany que pende pelas costas, para que reparem no corte de cabelo batidinho na nuca, ou em alguma tatuagem, vá saber. Mas gosto de pensar que elas dão essa viradinha por um motivo mais divertido: para provar que não há fita crepe ajustando a roupa ao corpo.

Nem sempre as roupas que a gente vê nas revistas caem feito uma luva no corpo das modelos. Aliás, quase nunca. Metros e metros de fita crepe ajustam camisas, grudam vestidos na cintura, afunilam a perna da calça – quando não esticam o pescoço da criatura ou puxam sua barriga, numa espécie de cirurgia plástica instantânea. Acontece não só dentro dos estúdios. Já escutei casos hilários de mulheres que foram flagradas em festas com uma fita crepe escondida atrás da orelha, a fim de estender uma pelezinha saliente que não deu tempo de remover com bisturi.

Estou exagerando, claro, mas nem tanto. Há uma frase célebre de bastidor: não haveria cinema sem a fita crepe. E também não haveria a fotografia, a televisão, as mostras de decoração e arquitetura. Todos os expositores sabem que sem fita crepe não é possível construir uma ilusão.

Sem desprestígio aos alfinetes, às joaninhas, aos pregadores de roupa, aos clipes e demais acessórios de primeiros socorros de uma produção, mas é inegável que fita crepe é o quebra-galho soberano: funciona para tudo. Prende, cola, ajeita, segura, amarra. É o salvador dos cenários, o braço direito dos iluminadores, e, como já se disse, a melhor amiga dos figurinistas. Você não precisa ser atriz de Hollywood para testar: basta conferir o efeito de uma camiseta exposta no manequim da vitrine de uma loja e depois experimentar o efeito vestindo-a em você mesma, dentro do provador. Pois é, alguns vitrinistas também recorrem a essa espécie de “photoshop” artesanal.

Não pretendo ser estraga-prazer, ao contrário, espero estar salvando seu dia: quando você for às compras e a roupa não cair tão bem no seu corpo como cai no da Alessandra Ambrósio, não excomungue os deuses nem a si mesma. Até as mais perfeitas das beldades, aquelas que ganham milhões de dólares para fotografar com lingeries divinas, já contaram com a ajuda bem terrena de uma fita crepe que custa menos de 10 reais.

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Essas máquinas que nos amam "

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Essas máquinas que nos amam
Estado de Minas: 23/03/2014




Algumas pessoas viram aquele filme Ela e me convenceram a assisti-lo. Fui. Era sobre um homem que se apaixona por uma voz. Quando me contaram isto até disse: conheço uma estória parecida. O Afonso Borges, do Sempre um papo, me contou de um amigo que se apaixonou pela voz de uma portuguesa no GPS que ele usou lá na Europa. Ficou tão ligado nela que comprou a voz, levou-a para sua casa no Brasil para amá-la sonoramente.

De alguma maneira somos seduzidos por vozes. Dizem que Joana d’Arc ouvia vozes que lhe davam ordens. Não eram dessas que nos atormentam hoje. Eram mensagens celestes.

 Por exemplo: ligo para um desses serviços telefônicos para reclamar sobre a TV. E a máquina me atende com tanta intimidade que não sei se me apaixono ou se rio de mim mesmo. A moça na máquina é impecável, minha amiga de infância, diz aquelas expressões que os linguistas chamam de linguagem fática: interjeições, expressões que não dizem nada, mas servem para dar naturalidade à fala e para pontuar o discurso: “Ah! que bom, então, né, pois bem…”.

A pessoa que fez o texto dessa gravação é um craque em diálogos. Muito natural. Mas não estou querendo conversar com essa moça ou máquina simpática. Quero é resolver o problema. Estou há 45 minutos ouvindo gravações de publicidade de toda ordem e ela dizendo coisas amáveis.

Mas voltemos aos filme Ela. Aí a coisa chega ao paroxismo. Mostra um tempo futuro em que não se escreviam mais cartas. No entanto, um cidadão vivia de escrever cartas para as pessoas. Ele as ditava, o texto saía manuscrito e era enviado para indivíduos solitários, que se comoviam. Como se vê, ele era o personagem ideal para se apaixonar por uma voz.

Ele aceita o convite para entrar num programa ultramoderno e se relacionar com uma voz que passa a ser seu segundo ego. Uma espécie de secretária ultraeficiente, que lê os e-mails dele e vai ficando tão íntima que acaba se apaixonando por ele. Ele também por ela, é claro. Mas como amar uma abstração, uma voz sem corpo? Bem que o roteirista tenta introduzir algo picante: o homem tendo relações eróticas com a voz. E como não bastasse, resolve meter lá um amor a três. Creio que os roteiristas se divertiram muito com isso.  Havia uma cliente disposta a ser o corpo da voz e aparece para o ménage à trois. Que não dá certo.

 O problema piora porque o rapaz fica sabendo que a voz é “íntima” de uma centenas de pessoas. Ou seja, não era monógama, era uma voz de utilidade pública (e às vezes, púbica).

Vocês já perceberam que que achei o filme fraco, quase ruim. Longo demais. Mas teve gente que amou. E muitos sabem até o nome da atriz dona daquela voz: Scarlett Johansson. Um amigo foi assistir a uma peça de teatro em Nova York com aquela atriz só para ver a incorporação da voz na pessoa propriamente dita.

A película pretende retratar um mundo futuro em que a virtualidade nos deixará atônitos. Coisas que estavam em Blade Runner e em Matrix.

Outra forma de entender o filme é concebê-lo como um tratado da solidão na sociedade futura. O cenário é meio indicativo disso, e tudo termina com a “morte” (ou desaparecimento) da voz. No fim, mostram um homem e uma mulher desamparadamente solitários.

Matar a voz foi uma solução fácil dos roteiristas. Não é de hoje que o autor liquida o personagem quando não sabe o que fazer dele. Oswald de Andrade expulsou um personagem de seu romance.

Mas voltando à vida real, deparo-me com uma voz intransponível que não me dá afetos, mas só aborrecimentos. Ligo milhões de vezes para o Decolar.com e não me atendem, ou quando atendem, como uma máquina pouco amorosa, não conseguem dar solução aos equívocos de uma passagem que comprei para Bolonha.

Era melhor quando eu ia pessoalmente a uma agência de viagem. Como dizem os italianos: “Estávamos melhor quando estávamos pior”.

TeVê

TV paga 


Estado de Minas: 23/03/2014 


 (Lions Gate/Divulgação )

AÇÃO Nicolas Cage já teve prestígio. Ganhou o Oscar por Despedida em Las Vegas (1996), por exemplo. Trabalhou com diretores como David Lynch, em Coração selvagem (1990). Mas o ator começou a aceitar todo tipo de papel, inclusive o de protagonista de filmes de ação mais comerciais, como Perigo em Bangkok (foto), atração do A&E às 22h. Dirigido pelos irmãos Pang, o filme conta a história de Joe (Cage), um criminoso que está na Tailândia para realizar quatro assassinatos sob encomenda.

SISTEMA Códigos secretos movem o mundo. O DNA, o código da vida, é o sistema operacional de todos os organismos, gerou vida inteligente e eventualmente criou os códigos de nossa própria linguagem e o alfabeto. Há ainda todo um universo digital criado por códigos binários que alimenta a maquinaria da idade moderna. É possível que o próprio universo também se movimente por meio de um código. A grande história se debruça sobre o assunto em episódio inédito, às 22h, no History. 

Enlatados  Mariana Peixoto 

Meu marido ama o seu

Depois de uma participação como a todo-poderosa do canal a cabo ACN em The Newsroom, Jane Fonda parece ter tomado gosto pelas séries. A Netflix anunciou, na última semana, que a veterana atriz vai protagonizar sua nova incursão em seriados, ao lado de Lily Tomlin. A comédia Grace and Frankie, que será lançada em 2015, conta a história de duas velhas rivais que se deparam, já na maturidade, com uma situação complicada. Os respectivos maridos anunciam que estão apaixonados um pelo outro e que pretendem se casar. Com o tempo, elas descobrem que podem contar uma com a outra. A assinatura é de Marta Kauffman, nome indiscutível quando se trata de fazer rir: é uma das criadoras de Friends.

Divã – Numa semana de poucas estreias, o destaque fica para a produção nacional Psi, que a HBO lança hoje, às 21h. Em 13 episódios, a série dramática conta as aventuras de Carlo Antonini (Emilio de Melo), psiquiatra e psicanalista cheio de neuroses. Sempre envolvido com casos pouco convencionais, ele vai atravessar maus pedaços na vida pessoal. “A série não só dramatiza a solução clínica dos casos, mas coloca em questão temas existenciais do mundo contemporâneo”, diz o material de divulgação. Ah, tá, então não é uma cópia de Sessão de terapia...

Trono – Nas próximas duas semanas, não haverá outro assunto, ainda mais depois que True detective, a grande surpresa de 2014, acabou. Todos à espera do retorno de Game of thrones, agora em sua quarta temporada, em 6 de abril, na HBO. Espertamente, estão sendo lançados, também agora, boxes com a terceira temporada e um outro, mais completo, com os três primeiros anos da série, inspirada nos livros de George R. R. Martin. Tanto em DVD quanto em blu-ray. Vamos ver quem vai se dispor a pagar até R$ 400 pela coleção, pois não custa lembrar que nos dois últimos anos, GoT bateu todos os recordes de downloads ilegais.

Caras & bocas  Simone Castro


Cidade de bonecos

 (TV Globo/Divulgação)

[FOTO3]
Quem já reparou nas chamadas da novela Meu pedacinho de chão, substituta de Joia rara (Globo) a partir de 7 de abril, percebeu que vem aí uma espécie de conto de fadas. Com base no original de 1971, de Benedito Ruy Barbosa, o remake, escrito pelo próprio autor, ganhou concepção bem ao estilo do diretor Luís Fernando Carvalho, que criou a obra-prima Hoje é dia de Maria. Agora, em sua nova fábula, a cidade é um imenso brinquedo de lata, em que cavalos articulados se movem, e pessoas, como bonecos, em seus figurinos coloridos, circulam e conduzem a narrativa. É a Vila Santa Fé, vilarejo que é a representação do mundo lúdico que povoa a imaginação das crianças Serelepe (Tomás Sampaio) e Pituca (Geytsa Garcia). “É como um jogo de armar peças”, define o diretor. No universo rural criado pelo autor, estarão lá, como no original, os coronéis, os capangas, a professorinha. Uma luta será travada entre a prepotência e a justiça; o egoísmo e a solidariedade. Tudo estilizado e com boa dose de humor. Entre os personagens estão Antônio Fagundes, Rodrigo Lombardi, Bruna Linzmeyer (fotos). Esqueça o realismo da primeira versão e embarque neste mundo encantado. Era uma vez...

DESCUBRA UM POUCO MAIS DE LAVRAS NOVAS

O Viação Cipó, hoje, às 9h, na TV Alterosa, retorna até Lavras Novas para mostrar outros cantos da linda região de Minas. Confira as cachoeiras, o mirante, o restaurante com ares medievais. Mais: a receita de um delicioso filé ao
molho de pimenta rosa e o artesanato do cipó.

CHAPADA DIAMANTINA É CENÁRIO DE NOVELA

Falso brilhante, novela de Aguinaldo Silva que vai substituir Em família (Globo), terá cenas gravadas na Chapada Diamantina (BA). O local poderá substituir o Monte Roraima, localizado na tríplice fronteira da América do Sul, por onde alguns personagens da trama, como o de Alexandre Nero, deverão passar.

GLÓRIA PIRES JÁ ESTÁ CERTA EM NOVA TRAMA
Sucessora de Falso brilhante, a trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, com o título provisório de Três mulheres e que deverá entrar no ar em 2015, já tem protagonista definida. Trata-se de Glória Pires, que volta a trabalhar com os autores depois de Insensato coração, em que viveu a presidiária Norma.

MUNDO VIRTUAL VIRA TEMA DE COMÉDIA

A TV Cultura deve lançar, ainda neste ano, a comédia Quero ter um milhão de amigos. Trata-se da trama de Érico, uma celebridade que manda muito bem no mundo virtual, mas é uma negação na vida real.

GABI RECEBE ATIVISTA, QUE FALA DA PRISÃO

 (Carol Soares/TV Globo)

Ana Paula Maciel, ativista do Greenpeace, é a convidada de Marília Gabriela (foto), no De frente com Gabi deste domingo, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Ela passou dois meses presa na Rússia, acusada de vandalismo e pirataria por fazer uma campanha contra a exploração de petróleo no mar Ártico. Gaúcha, Ana é formada em biologia e defensora ferrenha do meio ambiente. No bate-papo, ela fala do período na prisão – “a comida era comida. Como eu ia reclamar com tanta gente no mundo morrendo de fome?” –, de suas lutas, da vida pessoal e sobre o convite para posar nua na Playboy. “Vou fazer o ensaio para a revista de abril”, revelou. O dinheiro do cachê tem destino certo. “Estou aproveitando essa oportunidade para poder realizar o sonho de ter uma reserva ambiental.” Em tempo: no GNT (TV paga), às 22h, o Marília Gabriela entrevista recebe Mateus Solano, que fala, entre outras coisas, sobre o Félix de Amor à vida.

Poeta da canção Paulo César Pinheiro, autor de mais de 2 mil canções, vai ser tema de documentário

Poeta da canção Paulo César Pinheiro, autor de mais de 2 mil canções, vai ser tema de documentário.

Compositor teve 120 parceiros, entre eles Pixinguinha, Tom Jobim e Baden Powell

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 23/03/2014



Paulo César Pinheiro cantou todas as regiões do país, com destaque para Minas, terra de seu parceiro mais constante, Sérgio Santos (Silvana Marques/Divulgação)
Paulo César Pinheiro cantou todas as regiões do país, com destaque para Minas, terra de seu parceiro mais constante, Sérgio Santos

Um século separa o parceiro mais antigo, Pixinguinha – que se estivesse vivo teria 117 anos – e o mais novo, Joaquim Carrilho, de 17, do compositor, poeta e romancista carioca Paulo César Pinheiro. Um “arco do tempo”, como ele próprio define. A trajetória de quem atravessou cinco gerações e tem mais de 2 mil músicas compostas ao lado de Tom Jobim, Baden Powell, João Nogueira, Francis Hime, Edu Lobo, Joyce, Lenine, Toquinho e Maurício Tapajós, vai virar filme. Com o nome provisório de Paulo César Pinheiro – De letra e alma, da produtora Terra Firme, o documentário está em fase de captação de recursos.

“Até hoje ninguém se atreveu a fazer um filme ou algo do gênero comigo, porque quando se deparam com a quantidade de coisas que já fiz na vida se assustam e acabam desistindo. É muita coisa para falar em pouco espaço de tempo”, brinca o artista, de 64 anos, nascido no Bairro de Ramos, no Rio de Janeiro. Entretanto, Paulo César se mostrou bastante aberto à proposta dos documentaristas Cleisson Vidal e Andrea Prates. A ideia é focar no compositor e o colocar contando suas próprias histórias. “Vamos mostrar a visão de mundo dele, entrar no universo do Paulo César como compositor, dramaturgo, poeta e escritor. É todo focado nele, tanto que não teremos outras entrevistas. Queremos apresentar suas impressões do mundo e do Brasil e vamos filmar em diversas regiões do país que têm a ver com sua obra, como o Rio, o interior do Nordeste, a região Amazônica, a Bahia e Minas. Queremos fazer um filme lindo que faça não só uma homenagem ao Paulo, mas à própria música e à cultura brasileira”, ressalta Cleisson.

Andrea, que deu a sugestão para o documentário, destaca que mesmo que todo mundo já tenha ouvido falar no nome do compositor ou saiba alguma de suas músicas, seu rosto e sua pessoa são muito pouco divulgados para o grande público. “A maioria conhece as canções, o intérprete, mas não quem está por trás. Brinco que o Paulo César Pinheiro se parece com Deus. Ele está em todo lugar, é onipresente, abrangente, mas ninguém o vê. Ele está presente no cancioneiro do país inteiro, recorrente em toda parte e é esse outro lado que queremos mostrar. Até porque o Paulo é uma figura muito introspectiva, discreta.”

Lapinha O começo de tudo se deu há 50 anos, quando Paulo tinha 14 e compôs com João de Aquino a primeira obra, Viagem. Mas o início oficial foi aos 18, com o samba Lapinha, parceria com Baden Powell e gravado por Elis Regina. “De lá pra cá não parei mais. Se bobear, devo ser a pessoa com mais obras na música mundial. Estou sempre produzindo”, reforça. E o que mais impressiona, segundo o cantor e compositor mineiro Sérgio Santos, seu parceiro há duas décadas, é o fato de Paulo César ter atravessado cinco gerações e ter conseguido manter uma linha e a mesma qualidade. “Ele cortou a música brasileira desde Pixinguinha e hoje já está compondo com os filhos dos parceiros. Isso é muito bacana. Se você quiser falar da poética da música brasileira, tem que considerar Paulo César Pinheiro”, frisa.

Em suas mais de 2 mil canções, Paulo exaltou o Brasil como poucos. De Norte a Sul. O samba, o carnaval, a cultura afro, os terreiros de candomblé, as festas populares, os congados, as marujadas, o boi-bumbá, os reizados, o maracatu, a capoeira e as romarias. “Falo da cultura brasileira. Sou apaixonado pelo meu país e me especializei em Brasil. A minha música é absolutamente brasileira e foi isso que me conduziu durante todo esse tempo. Esses meninos que tocam o Brasil é que me procuram. Gente de todos os cantos. Tenho parceiros em quase todos os estados. E é isso que me mantém vivo e me estimula”, reconhece.

Paulo César, que também é escritor e poeta, está preparando o lançamento de um livro de sonetos para violões e orquestra ainda para o primeiro semestre, e diz que literatura, poesia e música sempre conviveram em harmonia. “Nunca parei de escrever letras, livros e poemas. São muitos os caminhos literários. Quando um começa a se esgotar, passo para outro. Isso funciona naturalmente. Quando estou escrevendo um romance e me acho repetitivo, parto para a música; se me canso, vou para o teatro. As coisas vão se substituindo com naturalidade”, diz.



Mapa musical do Brasil



Dos cerca de 120 parceiros musicais, foi com o mineiro Sérgio Santos que Paulo César Pinheiro criou o maior número de canções, aproximadamente 200. “Ele empata comigo, porque é obsessivo como eu”, brinca. Sérgio fica lisonjeado com o título, mas de cara justifica. “Maior parceiro numérico, viu. Imagina concorrer com nomes como Radamés Gnattali, Pixinguinha, Tom Jobim, Edu Lobo. É covardia”, diverte-se.

Para o compositor mineiro, um dos aspectos que mais impressionam na obra do colega carioca é a capacidade de falar e entender tão bem as Gerais, como se fosse um legítimo conterrâneo. “Essa ligação com o nosso estado surpreende. Mas Paulinho consegue falar muito bem do Nordeste, do Amazonas, do Pará, do Rio Grande do Sul. Isso é maravilhoso. Ele tem essa coisa camaleônica, vai se transformando à medida em que a música pede”, diz.

Além de Sérgio Santos, outro parceiro garimpado por aqui foi Sirlan. É de impressionar como o carioca – que inclusive foi casado com uma mineira, a cantora Clara Nunes – descreve o universo do estado em canções como As catedrais, Cantador das Gerais, Desafio de violas, As festas populares, Mineiro-pau e Galanga Chico-Rei. Sem falar nas belíssimas Desenredo, com Dori Caymmi, e Sagarana, inspirada na obra do grande ídolo de Paulo César, o escritor Guimarães Rosa. Paulo conta que descobriu Rosa quando começou a ler literatura brasileira e desde então se apaixonou. “Foi uma paixão imediata. Antes mesmo de conhecer Minas, conheci o Rosa. Ele foi o escritor que mais me encantou na vida e passei a entender tão bem sua linguagem que, num determinado momento, passei a escrever de um jeito similar. Fazia letra de música com o jeito característico do Guimarães Rosa. Tenho várias composições com esse estilo rosiano. Até hoje é assim. O encanto por sua obra continua”, revela o compositor.

Desenredo (“Ê Minas, ê Minas, é hora de partir”) deu a Paulo César a Medalha da Inconfidência e obteve o segundo lugar em concurso popular que escolheu as músicas que melhor representavam o estado. “O povo elegeu Peixe vivo e aí não dava mesmo para concorrer (risos). Mas fiquei extremamente lisonjeado. Querendo ou não, é obra que tem a cara de Minas. Fiquei muito feliz”, recorda.

Dori Caymmi, que compôs ao lado de Paulo César aproximadamente 70 canções, também exalta o trabalho do artista e amigo. Aliás, o filho de Dorival está lançando Setenta anos, segundo disco com a parceria dos dois. “Paulinho começou tão cedo, aos 14 anos. Depois vieram os afrossambas com o Baden Powell e, a partir de então, ninguém segurou mais. Trata-se de um trabalho extraordinário e fascinante, tanto em termos de música quanto de letra. Agora ele faz letras para todos. Costumo dizer que se Dilma (Rousseff) pedir, ele faz uma letra para ela. Para mim, Paulinho é essencial. Descobri isso no disco anterior (Poesia musicada) que fizemos. A poesia dele me alimenta. Com ela eu faço a minha música”, resume Dori Caymmi. (Colaborou Ailton Magioli) 

Tereza Cruvinel - O mal de sempre‏

O mal de sempre  

No caso Petrobras, Dilma só tem uma saída: jogar detergente, demitir quem for preciso e deixar tudo em pratos limpos 

Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 23/03/2014


Em todo governo – pelo menos desde que passou a vigorar o presidencialismo de coalizão, por conta da multiplicação dos partidos políticos depois da redemocratização –, quando os aliados brigam, abre-se uma temporada de fogo amigo, e o resultado são denúncias que acabam atingindo todos eles. Assim foi detonado o escândalo do mensalão. Ainda que o governo consiga barrar a instalação de uma CPI, o caso tem elementos que podem, como nenhum outro no governo Dilma, chamuscar a imagem da presidente.

Tenha ou não o ex-presidente Lula dito que Dilma deu um tiro no pé, é fato que ela riscou um fósforo no paiol ao dizer que o Conselho de Administração da empresa, que ela presidia em 2006, aprovou a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, com base em pareceres falhos e incompletos. Nas estatais brasileiras, a responsabilidade legal por contratos é da Diretoria Executiva, cabendo ao conselho referendar apenas aqueles de maior monta. Cada estatal fixa o limite do valor de alçada da diretoria. Se o de Pasadena foi ao conselho, é porque extrapolou o valor, exigindo, portanto, exame mais acurado. Se isso não aconteceu, descuidou-se o conselho e quem o presidia. Dilma colocou-se no alvo e o ex-procurador da República Roberto Gurgel, numa expressão de saudosismo do cargo em que caçou petistas, disse que ela poderia ser investigada pela Procuradoria Geral da República.

Este, como outros escândalos de corrupção, tem a ver com governabilidade e sistema de governo, pois, mais uma vez, os atos suspeitos foram cometidos por gestores indicados por partidos políticos da coalizão de apoio ao governo. O PMDB suspeitou que Dilma, com sua nota, tivesse querido atingi-lo como responsável pelo diretor internacional que emitiu o parecer incompleto e falho, Nestor Cerveró, hoje diretor financeiro na BR Distribuidora. O senador Renan Calheiros reagiu, atribuindo a indicação ao senador petista Delcídio Amaral. “Estou certo de que Delcídio não o indicou para ele roubar na Petrobras.” Já o ex-diretor de Comercialização e Refino Paulo Roberto da Costa, preso pela Polícia Federal durante a Operação Lava a Jato, ao investigar um megaesquema de lavagem de dinheiro, foi indicado pelo falecido deputado José Janene, do PP. Costa teria sido um importante elo no esquema da compra da refinaria a preços exorbitantes, com grandes prejuízos para a Petrobras, vale dizer, a União e os acionistas.

É fácil culpar um morto, mas o fantasma de Janene continua pairando sobre negócios obscuros ocorridos entre 2003 e 2005, fase em que o PT, sem maioria na Câmara, precisou recorrer aos pequenos partidos. Por meio de Marcos Valério, proporcionou-lhes recursos que o PT alega terem sido para o pagamento de dívidas de campanha e Roberto Jefferson afirmou terem sido para a compra de votos, o mensalão. Menos os R$ 4 milhões que ele recebeu, estes sim, destinados a campanhas do PTB.

Na operação Lava a Jato, o alvo da Polícia Federal era o notório doleiro de Londrina (PR) Alberto Yousseff. Chegou a Paulo Roberto da Costa com a descoberta de que ele teria sido presenteado pelo doleiro com um Land Rover. E o prendeu ao saber que ele estava queimando documentos comprometedores. No fim dos anos 1990, Janene foi acusado de participação num grande esquema de corrupção na prefeitura de Londrina, onde o prefeito era Antônio Belinatti, do PP. Ele escapou ileso, mas, em 2000, Belinatti foi cassado e passou a responder a 22 ações penais, que prescreveram no ano passado, quando ele completou 70 anos. Yousseff teria lavado para Janene e Belinatti os milhões desviados da prefeitura. Acabou sendo investigado pela CPI do Banestado pelo envio de dinheiro de políticos e empresários ao exterior através de contas fantasmas. A Polícia Federal prendeu agora Enivaldo Quadrado, dono da corretora Bônus Banval, que mediou a transferência de recursos do valerioduto para os parlamentares do PP, mas suspeita que seu verdadeiro dono seja Yousseff. Janene, morto, não foi julgado, mas Enivaldo foi condenado pelo STF, na Ação Penal 470, a penas alternativas.

Indicado por Janene para a Diretoria de Comércio e Refino, Paulo Roberto da Costa teria se aproximado do diretor internacional, Nestor Cerveró, atraindo-o para a compra da refinaria americana. O fantasma de Janene paira, mas certamente não foi apenas ele o padrinho dos agentes do esquema de Pasadena. Na Petrobras, por sua grandeza, todos os negócios são milionários, mas esquemas menores acontecem em todos os órgãos da administração pública. A origem do mal é a mesma: o rateio das diretorias de estatais para atender aos pleitos dos partidos que sustentam os governos no Congresso. Uma situação que só mudará quando mudarmos o sistema político com uma reforma, providência que, confesso, depois de duas décadas, não tenho mais energia para explicar e defender.

A oposição não perderá a oportunidade de desgastar Dilma, a quem só resta uma saída: jogar detergente, não só demitindo Cerveró e quem mais for preciso, mas deixando tudo em pratos limpos.

Memória do golpe: o coração de Jango

Bombardeando sempre seus superiores em Washington com notícias alarmantes sobre o governo João Goulart e o Brasil, ao mesmo tempo que trama o golpe, criando o clima e organizando a conspiração militar, o embaixador americano Lincoln Gordon esperava que um enfarte matasse Jango, facilitando seu objetivo de removê-lo. Em 1963, depois que Goulart vence o plebiscito por larga maioria, recuperando os poderes presidenciais, ele escreve ao Departamento de Estado: “Se Deus é realmente brasileiro, o problema cardíaco que acometeu Goulart em 1962 em breve vai se tornar agudo”. Lida hoje, a frase pode ser entendida apenas como praga, desejo de um enfarte fatal. Pode ter outro sentido para os que acreditam que a morte de Jango no exílio, 12 anos depois, foi produto de uma operação para induzir o enfarte pela troca de seus remédios. 

EM DIA COM A PSICANÁLISE » O país que queremos‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » O país que queremos
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 23/03/2014




Há alguns dias, publiquei o artigo “Entre o melhor e pior”, e disse que movimentos de protesto pelos quais as pessoas vão às ruas denunciam a distorção de gastar tanto na Copa do Mundo em um país onde nem em 10 anos se gastará soma igual na educação e saúde da população.

Ainda opinei que, com problemas estruturais, o nosso não deveria sediar a Copa. É um luxo para o qual não estamos preparados. Os protestos confirmam grande insatisfação e é preciso escutar isso.

Brasileiros percebem que o momento é de mover os pauzinhos para termos o país que queremos. Errei ao dizer que no Brasil não se gasta soma igual com saúde e educação. Gasta-se sim, até mais se falamos em números exatos, mas a percepção que temos do real é de que não. Vivemos na carência social, moral e ética. Isso que nos trouxe a um cenário assustador e de intranquilidade.

E mesmo com o que o país gasta, os investimentos ainda são insuficientes. É o real que demonstra nos sintomas a que assistimos a cada dia, não só na boca de cada um, como na nossa porta e também na mídia.

Segundo decreto publicado no Diário Oficial da União em 2013, as áreas de saúde, educação e programas sociais receberão R$ 152,7 bilhões dos R$ 937,4 bilhões de todas as receitas previstas para este ano – ou 16,3%.

Em 2014, o Ministério do Planejamento informou investimentos na saúde no valor de R$ 100,3 bilhões. Para a educação, R$ 92,4 bi. A previsão de gastos com a Copa do Mundo é de R$ 33 bilhões. Portanto, está retificado meu equívoco.

No entanto, sabemos que se o papel aceita tudo, o real é de outra matéria: ou essas cifras são insuficientes ou mal administradas ou desviadas, porque infelizmente sabemos que a corrupção granjeia nosso país, e há tendências perversas no ser humano, não se podem controlar completamente os repasses.

Quantas notícias temos de roubos, formação de quadrilha, dinheiro nas cuecas; merenda escolar deteriorada e perdida, abandonada sem distribuição; posto de saúde sem instrumentos e recursos; médicos mal remunerados, com salários em atraso, entre outras perversões do sistema?

 Existem infelizmente administradores desonestos que se encarregam do controle dos gastos públicos. Tanto para a formação de recursos humanos, como para a interiorização com qualidade do acesso ao sistema de saúde e na educação para todos, são necessários muito mais recursos, bem como administração mais cuidadosa, porque são preciosas demais para a população.

Assim, os movimentos populares de rua iniciados desde o ultimo ano espelham uma grande insatisfação e o temor pelos rumos assumidos no país, reiniciando uma onda de desconfiança e desestabilização. Dinheiro para Cuba e outros países de ideologia comunista desencadearam maior contrariedade ainda.

A prova disso é a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade (que ocorreu em 1964, em São Paulo) convocando a população para ontem (dia 22) sair às ruas. Uma das demandas, pasmem, é a intervenção militar contra a corrupção e a violência no país. E tais medidas radicais da extrema-direita ameaçam a democracia e remetem à antiga bipolaridade ditadura versus comunismo, relançada agora.

Precisamos de novos modelos sim, outro sistema político que de fato nos represente, um sistema prisional decente e sim, da participação popular para fazer o país que desejamos. O difícil é não cair nos trilhos destrutivos de acreditar que militares fizeram melhor e sejam preferíveis à democracia. Isso é um tremendo equívoco e perigoso demais.

Existe aqui um povo que quer mudar um país. O problema é: como fazê-lo?.

Sem cirurgia ou medicamento‏ - Lilian Monteiro

Sem cirurgia ou medicamento 
 
Chiropatia, que utiliza impulsos manuais para estimular músculos, vértebras e órgãos para melhor circulação da raiz neurológica com a medula, soluciona 98% das dores de coluna 
 
Lilian Monteiro
Estado de Minas: 23/03/2014




De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 84% da população mundial teve, tem ou terá dor na coluna. Certamente, você conhece alguém. Além da vontade de se livrar do incômodo, muitos pacientes vivem tensos diante da possibilidade de passar por uma cirurgia. Isso quando não viram escravos de medicamentos. Conhecido como “dr. Coluna”, Flávio Calixto, formado em chiropatia pela Parker University (EUA), reconhecido pela Aliança Mundial de Chiropatia (maior entidade do ramo na América Latina) e presidente-fundador do Instituto Brasileiro de Coluna de Curitiba (1997), garante ser possível tratar 98% dos casos sem medicamento ou cirurgia.

Precursor da chiropatia no Brasil, que utiliza impulsos manuais para estimular músculos, vértebras e órgãos para a melhor circulação da raiz neurológica com a medula, Flávio Calixto diz que ela é uma ciência à parte, como tem a medicina alopata, homeopata, naturista e oriental. É a medicina chiropata. E para quem a confunde com a quiropraxia, ele explica as diferenças: “É dúvida comum. A chiropatia é um doutorado ao nível médico na ciência chiropática. A quiropraxia é uma profissão brasileira que não tem as qualificações de um doutor”.

Com quase 20 anos de carreira, Flávio Calixto explica que desenvolveu a própria técnica de tratamento, que “alcança 98% de êxito nos pacientes tratados”. Ele avisa que nem todos podem se submeter à chiropatia, “porque passaram do limite de tratar com segurança ou sofrem de uma doença que não tem a ver com coluna, como câncer, cisto na medula ou neurológica”. Flávio deixa claro que chiropatia se dedica à biomecânica da coluna, ou seja, é indicada para restabelecer os funcionamentos normais do órgão. “Nossos pacientes têm modificações da função da coluna, que ocorrem pela alteração mecânica. Há 10 anos você carrega a bolsa pesada no ombro esquerdo. A coluna entorta para a direita. Essa disfunção vai criar a dor.”

Flávio Calixto lembra que, sejam pequenas pontadas ou fortes incômodos, as dores nas costas podem ser o sinal de que algo mais grave ocorre. Essas queixas físicas são comuns, com intensidades variadas (leves ou extremas, rápidas ou constantes e com causas distintas). Ele lembra que a dor pode ter origem na coluna vertebral, músculos, nervos ou a partir de outras estruturas na região e se irradiar a partir de órgãos como rins ou ovários. Por isso, antes de iniciar tratamentos tradicionais, ele assegura que a chiropatia tem de ser levada em consideração. “Temos de buscar a causa, não matar quem avisa sobre o problema. A dor é uma boa amiga, ela diz que algo está errado. Estudos comprovam que, se tirássemos a dor do ser humano, não chegaríamos aos 10 anos. Uma vez que a ouvimos, precisamos nos certificar se a dor é aguda, crônica, temporária ou intermitente. Depois, é hora do diagnóstico.”

A chiropatia, segundo esclarece o médico, não é uma técnica de massagem, como muitos pensam. O chiropata tem conhecimentos sobre a coluna, como um cardiologista tem do coração. “É uma ciência preventiva e recuperadora. Por meio dela, é possível manter a saúde das articulações e garantir a defesa do organismo, já que ela restabelece a comunicação entre corpo e cérebro.”

MÃOS Com as mãos, Flávio destaca que restabelece a função normal de cada vértebra. Não há remédio que endireite a coluna. A situação é mecânica. A fisioterapia ou outras técnicas de movimento são fantásticas, mas para manter a coluna boa ou para a prevenção. Agora, escoliose, hiperlordose, enfim, os desvios, nenhum deles vai restabelecer sem a chiropatia, que atua onde a mecânica foi alterada.” A procura pela chiropatia só aumenta devido a sua eficácia na prevenção e no tratamento de doenças como hérnia de disco, bico-de-papagaio e artrose, comum nas pessoas mais idosas. Na adolescência, ela ajuda na melhora de problemas relacionados à má postura, como escoliose e lordose.

Flávio alerta que “não é uma panacea. Há um programa de tratamento com três etapas: o primeiro é agudo, com foco na dor. O segundo, a reabilitação, que é reestruturar e fazer o tratamento ficar permanente, com a fortificação muscular e o alongamento da coluna. E o terceiro é a manutenção, necessária ao paciente. Recomendo uma vez por mês ou a cada 90 dias.”

De acordo com Flávio, “a coluna é um ‘órgão’, porque armazena a medula, com a função de protegê-la, e faz parte do sistema nervoso central. Por isso, tem de ter manutenção sempre, porque a usamos demais, até dormindo. A coluna é o armazém de parte do cérebro, que é a medula”. Ele reforça que a chiropatia é um tratamento seguro, o terceiro mais comum no mundo e para todas as idades.” Uso as mãos e, se preciso, apenas como auxílio, uso algum aparelho em que me apoio para quantificar a profundidade do tratamento.”

O Instituto Brasileiro de Coluna é em Curitiba, mas Flávio Calixto vai expandi-lo para outros estados. “Queremos que mais pessoas conheçam nossas soluções e evitem métodos agressivos. Por isso, vamos oferecer o negócio por meio de franquias, formatadas pela Global Franchise. É um excelente nicho para profissionais da área da saúde, como fisioterapeutas, médicos e profissionais de educação física. Ensinaremos toda nossa ciência e técnica exclusiva, além de dar suporte.” Contato: www.institutobrasdecoluna.com.br.

Personagem da notícia
Um cuidado a mais

Debora Keller B. Souto,
engenheira cartógrafa

“Tenho malformação da quinta vértebra lombar. Ela tem de ser redonda e a minha é meio ovalada, o que caracteriza o início de uma hérnia de disco. Passei por um estresse e torci a coluna dormindo, de forma involuntária. Comecei a sentir dores horrorosas e fiquei uma semana sem andar, a coluna travou. Procurei um ortopedista e fiz fisioterapia. No entanto, a melhora foi leve, praticamente não resolveu. A dor permanecia recorrente e continuava a me incomodar e, apesar das várias sessões. Um amigo canadense chiropata falou para eu procurar um profissional da chiropatia no Brasil. Pesquisei e encontrei o dr. Flávio Calixto. Há sete anos fiz o tratamento agudo e, agora, uma vez por ano, mantenho uma consulta para manutenção, pura profilaxia, um cuidado comigo. Nunca mais senti dor, não sei o que é dor na coluna. Como dizem as pessoas do interior, ele tirou a dor com as mãos. Aliás, no primeiro dia, na consulta, ele me aplicou uma sessão, um paleativo, que me fez dormir todo o fim de semana, tamanho o alívio. Cheguei até a perder peso e recuperei minha qualidade de vida.”

Palavra de especialista
É preciso se policiar

Rodrigo D’Alessandro, presidente da Sociedade Brasileira de Coluna, Regional Minas Gerais

“A chiropatia é bastante difundida nos Estados Unidos. É uma sociedade organizada, com publicações sérias e trabalhos científicos bem conduzidos. No Brasil, não é tão propagada. Há poucos profissionais e, geralmente, se não estou equivocado, desperta maior interesse nos fisioterapeutas. É preciso ter cuidado com pessoas que não têm conhecimento e aplicam a técnica, já que, se for errada, pode piorar o quadro clínico. Nos EUA é uma especialização levada muito a sério e com bons resultados. A dor de coluna é bem frequente e está associada à má postura do dia a dia, ao envelhecimento (aumento da longevidade e o aparecimento da artrose), a determinadas doenças como o câncer (metástase e o aumento da sobrevida) e a obesidade (além da sobrecarga do peso, há o aparecimento precoce da artrose nos adolescentes). Ainda há uma teoria de essa frequência de dor estar ligada ao desenvolvimento humano e sua postura bípede (a maioria dos mamíferos é quadrúpede, apoiando as quatro patas no solo com excelente estabilidade. A dor nas costas surgiu quando o homem ficou de pé). O segredo para evitá-la é ter um velhice saudável, estimular a atividade física desde a infância para que faça parte da vida inteira, não ter sobrepeso, ter boa postura, não fumar, porque causa artrose, e carregar peso de forma adequada. Enfim, se policiar.”

Implante biodegradável mostra sua eficácia‏

Implante biodegradável mostra sua eficácia Cientista da Funed desenvolve nova forma de usar a polêmica talidomida, muito adotada como antitumoral, mas cheia de efeitos adversos


Carolina Cotta
Estado de Minas: 23/03/2014





A administração de talidomida a partir de um implante polimérico biodegradável reduziu em até 47% o volume de tumores de mama. A pesquisa realizada na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, foi feita em modelo animal, no caso camundongos, mas aponta para um novo tratamento de pacientes com câncer que se beneficiam da talidomida. O polêmico medicamento tem efeitos biológicos importantes, como a inibição da angiogênese, formação de novos vasos sanguíneos que determinam o avanço dos tumores. Nos últimos anos, essa capacidade do medicamento tem tornado crescente o interesse na sua utilização como agente antitumoral. Seus efeitos adversos, portanto, são um entrave à disseminação de sua aplicação.

Nesse ponto está a contribuição da pesquisa, realizada em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O pesquisador da Funed Bruno Pereira elaborou e comprovou a eficácia de uma nova formulação farmacêutica para a veiculação da talidomida. Segundo ele, os implantes compostos por polímeros biodegradáveis são promissores sistemas de liberação de fármacos, não necessitando remoção e promovendo uma liberação prolongada e localizada. Avaliadas as características físico-químicas, a farmacocinética e os efeitos adversos da talidomida, o estudo aponta para a melhoria da resposta terapêutica do medicamento quando administrado, para o tratamento de câncer, na forma de implante polimérico.

"Os implantes biodegradáveis representam uma forma farmacêutica com potencial no tratamento de tumores uma vez que promovem a liberação controlada do fármaco, permitindo a manutenção de níveis terapêuticos eficazes por um período de tempo prolongado. Também permitem a liberação direta no local de ação, evitando os efeitos adversos provocados quando os mesmos são administrados pela via sistêmica e protegendo os compostos da inativação antes de atingirem o seu local de ação", explica Pereira, doutor em ciências farmacêuticas. Por serem biodegradáveis, esses sistemas não precisam ser removidos cirurgicamente após a liberação completa do fármaco, ao contrário dos implantes poliméricos de ação contraceptiva já disponíveis no mercado.

Os implantes usados no estudo medem 1mm por 4mm e têm formato de bastão. Foram feitas três opções: com 1mg, 2mg ou 3mg de talidomida. Os bastões foram implantados próximos aos tumores sólidos de Ehrlich, um tipo de tumor de mama, em camundongos. Técnicas próprias permitiram avaliar tanto a morfologia e as dimensões dos implantes quanto a interação do fármaco com o polímero. Segundo Pereira, os implantes, com o passar do tempo, vão liberando a talidomida e assim mudam de formato. Os bastões foram produzidos de formas diferentes e essas condições de preparo também geraram alterações nas características do implante.

Considerando a atividade antiangiogênica da talidomida, um dos mecanismos mais interessantes do fármaco no que se refere ao combate ao câncer, foi preciso avaliar sua atuação por diferentes métodos. Segundo Pereira, o fato dessa ação ser governada por fatores diversos e da resposta da talidomida variar, como mostraram estudos anteriores, o efeito foi avaliado em mais de um modelo de estudo de inibição de angiogênese, buscando demonstrar que a inclusão da talidomida nos implantes não impede que essa atinja essas características antiangiogênicas. “A estrutura da talidomida é mantida e a mesma é liberada para os meios biológicos testados em concentração suficiente para atingir o efeito”, explica.

NECESSIDADE DE OUTROS TESTES Os dispositivos implantáveis desenvolvidos demonstraram eficácia na inibição do crescimento do tumor sólido Ehrlich. Os níveis terapêuticos de talidomida obtidos pela liberação a partir do implante alteraram o ciclo de vida de células desse tipo de tumor. “Os resultados favoráveis obtidos demonstraram que os implantes poliméricos biodegradáveis contendo talidomida têm potencial para serem aplicados como sistemas de liberação para o tratamento localizado do câncer, com manutenção de forma prolongada das concentrações de fármaco”, defende o pesquisador. O próximo passa é estudar a viabilidade dos implantes para o tratamento de tumores, uma vez que podem ultrapassar desvantagens das terapias convencionais usadas para combater o câncer.

É preciso também avaliar a distribuição sistêmica a partir de diversos locais de implantação. Além disso, o sistema desenvolvido permite a associação de mais de um fármaco, o que certamente potencializaria os efeitos no tratamento do câncer. "As perspectivas de aplicação em humanos devem ser avaliadas a partir da aplicação do sistema a outros modelos, incluindo outras espécies e locais de aplicação para determinar de forma mais ampla o perfil de toxicidade e eficácia. Os próximos passos devem ser a aplicação a outros modelos de câncer de mama em camundongos e a avaliação de farmacocinética, ou seja, de como o medicamento se comporta no organismo", acrescenta Bruno Pereira.

COMO SÃO FEITOS OS IMPLANTES

» Os sistemas de liberação de fármacos têm como objetivo a manutenção contínua do nível do fármaco dentro da faixa terapêutica por um longo período, a redução de efeitos adversos devido à liberação direcionada, a possibilidade de diminuição da quantidade de fármaco necessário e a diminuição da frequência e número de doses o levam a uma maior adesão do paciente ao tratamento.

» Atualmente, existe no mercado um implante de PLGA contendo gosserrelina para o tratamento de câncer de próstata e mama. O medicamento é aplicado na via subcutânea de forma simplificada por meio do uso de uma seringa apropriada. Por ser biodegradável, não necessita procedimento cirúrgico para remoção do implante após a liberação do fármaco.

» Há também implantes não biodegradáveis no mercado. Nesses, a matriz requer um tempo muito grande para ser degradada e por isso é necessário a sua remoção cirúrgica após o tratamento. Um exemplo são os implantes contraceptivos, já usados por cerca de 10 milhões de mulheres ao redor do mundo.


Uma droga temida, mas de grande interesse


Apesar do trágico episódio que marcou sua retirada de circulação em 1961, quando esteve associada a malformações congênitas, a talidomida é hoje um fármaco de grande interesse para a comunidade científica internacional. Além de suas atividades anti-inflamatórias e imunomoduladoras, a descoberta de seu efeito antiangiogênico impulsionou a proposta de adotá-la no tratamento de diversas patologias, entre elas o câncer. Sintetizada pela primeira vez em 1954, como um antiepilético, e efetivamente introduzida em 1956 como sedativo e antiemético, capaz, portanto, de aliviar problemas relacionados ao enjoo, náuseas e vômitos, a prescrição da talidomida para gestantes tornou-se rotineira.

Na década de 1960, quando já havia se tornado um sedativo popular de venda livre, comercializado em cerca de 20 países, inclusive no Brasil, foi retirada do mercado após relacionarem seu uso aos defeitos nos membros superiores de recém-nascidos de mães que adotaram o remédio, e também a casos de neuropatia periférica, doença que atinge os nervos e pode ser fatal. Três anos depois de sair do mercado observou-se um efeito benéfico em pacientes com hanseníase, o que a trouxe de volta às farmácias. Nos anos 2000, foram relatadas, pela primeira vez, suas propriedades antiangiogênicas, anti-inflamatórias e imunomoduladoras. Desde 2006, o Food and Drug Administration (FDA), órgão americano de controle de medicamentos, equivalente à nossa Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autorizou o uso da talidomida no tratamento de pacientes com mieloma múltiplo, tipo de tumor primário da medula óssea. No Brasil, a droga é, inclusive, fornecida pelo Ministério da Saúde para esse fim, e também para hanseníase e lúpus.

Segundo o oncologista Alexandre Chiari, da Oncomed-BH, a talidomida trouxe um ganho de sobrevida estatística e clinicamente significativo para pacientes com mieloma múltiplo. Isso porque a droga, em função dessa propriedade antiangiogênica, impede que novos vasos sanguíneos sejam constituídos. “A formação vascular é concomitante ao crescimento de um tumor. Como todo tecido, ele precisa de nutrientes e oxigênio para crescer e consegue isso por meio de uma vascularização própria. A talidomida age exatamente inibindo a formação dessa nova vascularização, consequentemente, diminuindo o tumor”, explica o especialista que como outros oncologistas prescreve o medicamento aos seus pacientes.

O grande problema é que a talidomida é um medicamento extremamente tóxico, causando, principalmente, neuropatia periférica, constipação intestinal e eventos tromboembólicos. “Esses efeitos são limitantes do seu uso. O médico que prescreve o medicamento, contudo, tem que estar atento. Há casos que precisamos diminuir a dose ou até suspender a talidomida por causa dos efeitos”, alerta Chiari. Um rígido controle da natalidade é premissa para a autorização de sua adoção em tratamentos, o que inclui ações como teste de gravidez negativo em mulheres férteis, uso de duas formas eficazes de contracepção e uso de preservativos.

Porque dizer não a nossos filhos - José Carlos Lassi Caldeira - Médico

Estado de Minas: 23/03/2014



O medo de dizer não aos filhos, aos irmãos, aos amigos, nos dias hedonistas atuais, onde a regra é mostrar-se sempre “bem” e demonstrar ao respeitável público do facebook que se está sempre no gozo dos prazeres da vida, tem contribuído para a deturpação dos valores, para a não aceitação de limites, para o desrespeito dos direitos dos próximos e para a desorganização do tecido social. Hedonismo, aqui usado, não no sentido filosófico-epicurista, da busca necessária e genuína do prazer como recompensa de um esforço, mas no sentido do prazer pelo prazer, do demonstrar-se sempre feliz, independente das circunstâncias.

Meu ilustre colega psiquiatra, José Sebastião, certa feita disse-me: “O caráter molda-se no não. Ele dá a dimensão dos direitos e deveres”. Na verdade, a compreensão do “não” constitui a primeira introjeção do conceito de lei, da noção do espaço pessoal – inviolável sem a permissão do outro e dos nossos deveres com relação aos direitos da coletividade.

Se à criança não é ensinado o valor do não, teremos, com muita probabilidade, adolescentes e adultos com desvios de condutas e, como consequência, a violência que hoje é, no Brasil, a maior causa de mortes entre jovens. Homicídios, acidentes de trânsito, suicídios, principalmente entre homens jovens em idade produtiva, são responsáveis por quase 10% do total de mortes anualmente no país: muito mais que numa guerra.

A violência é gerada por conflitos onde uma ou mais partes não cedem: não foram educados para aceitar as frustrações e os impedimentos. Não contemporizam, não compreendem e nem aceitam princípios, o que leva a comportamentos sugestivos de psicopatologias das mais variadas magnitudes.

Na adolescência, com o inevitável contato com o mundo fora de casa e com o complexo de super-homem, surgem pesadamente as consequências da ausência das negativas e, em muitos casos, o uso de drogas lícitas e ilícitas na tentativa de aplacar as dores e os desequilíbrios afetivo-emocionais. Não apenas o álcool, a maconha, a cocaína e o crack, mas também o uso indiscriminado e cada vez mais irrestrito de antidepressivos, ansiolíticos, antipsicóticos etc.

A consequência do uso abusivo dos entorpecentes é o advento frequente de condutas antissociais, as agressões às famílias, os comportamentos esquizoides. Os extremos dessas condutas perversas são o que mais se vê na maior parte do tempo dos nossos telejornais, na forma de matricídios, homicídios, latrocínios e agressões de toda ordem (isso tem viciado muito a audiência, aproximando-a ou do pânico ou da indiferença ou do sadismo).

As outras drogas citadas, vendidas geralmente com prescrição médica, vêm sendo usadas em uma escala impressionante, mesmo em depressões reativas, como nas perdas, para desfavorecer a tristeza, o pesar, a tolerância. O hedonismo não permite mais a dor, o luto, o arrependimento. Como contraponto, provoca o riso sem a graça, o achar-se iluminado quando tudo está escuro.

Vivemos uma época de trevas onde impera o sim. E caminhamos celeremente para uma época em que teremos muitas saudades de um não bem dito: ene-a-o-til. Dever-se-ia buscar entre tese e antítese uma hipótese que permitisse o sim e o não viverem em harmonia, principalmente na educação das novas gerações.