Marshal McLuhan
previu a chegada da internet, cujas redes sociais enredam o homem
contemporâneo nas teias de um mundo virtualmente unificado
Rafaela Lôbo
Estado de Minas: 20/09/2014O termo Aldeia Global foi usado pela primeira vez pelo literato e filósofo canadense Marshal McLuhan, ainda nos anos 1960. Não se sabe ao certo em que ele se baseou para criar esse conceito. Alguns dizem que a origem foi a expressão “urban and orbal” encontrada na obra de James Joyce, autor por quem o filósofo tinha predileção. Outros dizem que se baseou no conceito de noosfera. Há, ainda, aqueles que defendem que Marshal se inspirou em um pensamento do escritor Wyndham Lewis, que mencionava o planeta Terra como uma grande aldeia.
Independentemente da origem, fato é que, indiscutivelmente, com uma formação basicamente literária e com recursos parcos (se comparados aos que existem hoje), somente um visionário poderia pensar na existência de uma grande “teia” gerida por uma “alma suprapessoal”, sem destinos ou lugares rígidos. No mínimo, o autor previu a internet. Mas como conseguiu?
McLuhan acreditava que os homens, devido ao surgimento da imprensa, estavam isolados, isso porque cada um era capaz de analisar, pensar e viver solitariamente. No entanto, afirmava que devido ao que classificou como “civilização da eletricidade”, tudo mudaria e voltaríamos ao passado na medida em que os homens viveriam novamente em grupo – a diferença é que isso seria facilitado por uma estrutura virtual. Na época, novas formas de contato midiático surgiam (telefone, televisão) e, além disso, por ser professor universitário, ele sentia a diferença entre as gerações. Foi nessas circunstâncias que imaginou uma nova forma de mídia. Para ele, a chegada de uma estrutura tecnológica possibilitaria o fim de um mundo linear.
Amado por uns, que o consideram pensador genial, odiado por outros, que entendem que suas análises eram superficiais, insisto: McLuhan era um visionário. Ao se referir à Aldeia Global, o filósofo cita um espaço de convergência, em que haveria “redes virtuais”, as noções de sentido se perderiam e as ideias estariam em direções caóticas. Para ele, haveria um mundo unificado, uma malha global, algo como uma grande teia democrática que abrigaria todos.
É fantástico pensar que hoje não há mais locais fixos. Com o advento da internet, uma pessoa, sem sair de casa, é capaz de conhecer o mundo, visitar países, cidades, bibliotecas...
As populações se conectam, ou, ao menos, têm noção umas das outras. Ocidentais e orientais partilham descobertas e nem mesmo a China, com todas as restrições ao uso da internet, consegue se manter isolada. A Primavera Árabe não é fruto do mero acaso; as manifestações no Brasil também não. Tudo possível porque as redes sociais promovem encontros e dissipam culturas e diversidades. Vivemos numa Aldeia Global.
Logo, poderíamos pensar que as teorias apresentadas na década de 1960 são perfeitas. Será? A questão é que se Marshal foi um “Nostradamus real”, haverá erros e acertos em suas teorias. Nesse sentido, o grande pensamento que se apresenta não é a previsão feita em relação à Aldeia Global, mas ao fato de isso remeter à alma suprapessoal.
Mesmo em aldeias, há manipuladores, poderosos, aqueles que definem como a sociedade funcionará. Inúmeras pessoas usam as redes sociais visando à manipulação. Inúmeras? Quero dizer, as pessoas usam as redes com fins, no mínimo, de autopromoção e disseminam apenas os conhecimentos que desejam. Essa é a realidade. Isso ocorre porque na rede se é quem se deseja ser, podemos criar personagens, esconder, enganar, tudo é possível. Pais se preocupam, jovens e imaturos se arriscam.
Como explicou McLuhan, os meios são extensões dos sentidos dos humanos. Assim, o telefone amplia a fala; as rodas de um carro ou as asas de um avião permitem que a pessoa viaje; o computador e a televisão não são simplesmente máquinas, mas conceituam a realidade de uma forma ou de outra. Será, então, a internet uma extensão de nossos pensamentos e desejos? Uma extensão do que somos e daquilo que acreditamos que somos? Será ela gerida por algo superior a todos nós? Ou somos os gestores de tudo isso?
A Aldeia Global é uma realidade. Usá-la para o bem ou para o mal será uma escolha humana.
. Rafaela Lôbo é mestre em linguística e professora do Centro Universitário UNA
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Comunicação
de massas
Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) se tornou conhecido por seus estudos sobre a comunicação de massas, em que focalizava o impacto das tecnologias – sobretudo a TV, nos anos 1950/1960 – sobre a cultura e a sociedade. Entre seus livros estão A galáxia de Gutemberg (1962), Os meios de comunicação como extensões do homem (1964) e Guerra e paz na Aldeia Global (1968).