Zero Hora - 21/05/2014
Que comece logo essa Copa e que termine de uma vez, para que, de volta à
rotina, possamos avaliar o que está acontecendo no país de forma mais
focada. A Copa não tem culpa de nada, mas sem dúvida despertou uma
enorme sensação de injustiça e revolta – perdeu quem contava com o povo
pacífico de sempre. Esse despertar é positivo, pois só reivindicando é
que teremos as necessidades prioritárias atendidas, mas, para
atendê-las, os três poderes precisam assumir suas funções com honradez. O
que está ocorrendo é justamente o contrário: um desgoverno crescente.
Diante disso, as pessoas passam a agir pela própria cabeça e com seus
próprios meios.
A onda de linchamentos ilustra esse desgoverno. Provocada pela
excitação do momento e pela sensação de impunidade que a ação em bando
provoca, acaba-se cometendo crimes atrozes contra suspeitos que não
tiveram julgamento nem chance de defesa. Barbárie pura.
Num grau menos violento, mas igualmente perturbador, são os saques
que tomaram conta de Pernambuco nos últimos dias – e cito Pernambuco
apenas como exemplo recente. Vendo as cenas de transeuntes saindo de
lojas carregando o que podiam, fiquei pensando como tudo é uma questão
de semântica. O que difere o saqueador de um ladrão? O fato de não ter
havido ameaça antes do roubo? De não ter sido um ato planejado, e sim
uma ação provocada por uma oportunidade? O direito de propriedade
privada deixa de existir caso o movimento seja feito em grupo e não
isolado?
Ainda no Nordeste, já aconteceu de estradas terem sido fechadas por
moradores das redondezas a fim de promover um “pedágio solidário”: só
liberavam o trânsito se o motorista colaborasse com dinheiro ou com
produtos para a cesta básica. Caminhoneiros precisavam ceder parte da
carga para poder ir em frente, e assim as comunidades eram abastecidas
com leite, cereais, remédios, frutas. Carros particulares podiam dar uma
quantia em espécie, a critério do gentil doador. Sem uso de arma, tudo
muito educado. Uma contribuição “espontânea”.
Há saqueadores de todo tipo. Os de baixa renda reforçam a despensa
na beira da estrada, os de alta renda sonegam impostos, e assim cada um
vai fazendo justiça à sua maneira. Essa subversão não é consequência da
gestão de um partido específico, e sim de uma cultura política que vem
apodrecendo há décadas, somada a uma índole nacional que nunca foi
exatamente nobre (sermos alegres, hospitaleiros, musicais e bons de bola
nos torna simpáticos, mas simpatia não é um valor que, por si só, salve
o caráter).
Se antes o “jeitinho” acontecia por baixo dos panos, agora colocamos
a cara na janela, deixando claro que não estamos mais dispostos a
obedecer nada e a ninguém. Ou o Brasil passa a ser governado com
profunda seriedade, ou esse será, infelizmente, o plano mais
bem-sucedido da nossa história: o plano B.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Compreender não é aceitar - Mãe Stella de Oxossi
A Tarde/BA 21/05/2014
Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá
opoafonja@gmail.com
A atitude do juiz que não reconheceu manifestações afro-brasileiras como religiões precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita
Mais uma polêmica para que possamos refletir e dar um passo rumo a umestágio evolutivo elevado
que ajude a construir uma sociedade harmônica e equilibrada. O noticiário televisivo deu a seguinte manchete: “Juiz não reconhece manifestações afro-brasileiras como religiões. A decisão gerou polêmica e surpreendeu líderes do candomblé e da umbanda e o Ministério Público Federal.” Sou uma líder do candomblé e confesso que eu não fiquei nem um pouco surpreendida.
Venho de um tempo em que a referida religião era perseguida pela polícia, em virtude de na época o Brasil ter uma religião oficial – o catolicismo. A atitude do juiz precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita. Optei por não dizer seu nome, pois o nome de uma pessoa é tão sagrado que não deve ser pronunciado quando o dono dele comete atos impensados e infelizes.
Um belo e significativo ensinamento da Ordem Rosa Cruz diz: “Eu te compreendo, mas em nome do verdadeiro amor não posso aceitar.” Podemos compreender uma atitude que tem por base o preconceito, que é fruto da ignorância sobre o tema que o juiz ousou julgar. O ignorante é assim mesmo: é insolente, “grosseiro nos gestos, nas palavras ou nas ações.”
Não fiquei surpresa, fiquei indignada. Senti repulsa, não pelo cidadão em si, mas pelo seu ato vergonhoso. Quanto a meu irmão que praticou tal ato, verdadeiramente, senti pena e, consequentemente, desejo de ajudá-lo. Afinal, ele é meu irmão, somos filhos de uma única energia, que para o candomblé é chamada de Olorum – o Deus Supremo, que vive no céu (no orum), o qual se expandiu e Dele fez surgir todos os seres vivos que habitam a Terra.
Essa é uma explicação que dou para ajudar meu irmão a entender que as religiões de matriz africana têm, sim, um texto base no qual se baseiam para realizar seus rituais, mas principalmente para ajudar seus adeptos a se tornarem cidadãos “assentados” no bem e na verdade. Esse texto base nos ensina que não basta sentir pena. O Código de Ifá, conjunto de ensinamentos no qual se baseia o candomblé, ensina a seus adeptos que a ignorância precisa ser perdoada, compreendida, mas nunca aceita, e que cabe àquele que conhece os mistérios, instruir aqueles que não os conhecem. Obedecendo, portanto, às orientações dadas pelos seres superiores, esclareço a meu irmão alguns detalhes do candomblé sobre o qual ele demonstra não ter o conhecimento necessário para realizar um julgamento.
A religião trazida para o Brasil por um povo possuidor de dignidade e generosidade inigualáveis tem um texto base, o qual é inclusive codificado através de códigos matemáticos. Não podemos, nem devemos esquecer-nos que um texto, em seu sentido amplo, é um conjunto de palavras expressas de maneira oral ou escrita, que pode ser longo ou breve, antigo ou moderno. Preciso pacientemente repetir que o texto base do candomblé é o Código de Ifá, pois um educador é educad para ser paciente. E nós, sacerdotes de qualquer religião, somos educadores de almas. Explicando ainda mais um pouco, o Código de Ifá é um sistema longo e antigo, considerado axiomático por revelar verdades universalmente dignas e válidas, ditas de maneira simples para expressar a complexa realidade da vida.
Também pacientemente repito que o candomblé possui um Deus Supremo, sendo os orixás divindades que servem como intermediárias entre Olorum e os humanos. Quanto à hierarquia, este é um dos grandes e fortes pilares dessa religião milenar, tanto no que se refere ao mundo das divindades quanto à comunidade dos “terreiros”. No mundo sagrado se tem: Olorum, orixás funfun (descendente direto do hálito do Deus Supremo), orixás vinculados ao ar, água, fogo e terra, seres humanos, animais, vegetais e minerais. Nas comunidades do candomblé a hierarquia está em tudo: nos cargos (iyalorixá, iyakekere egbomi, yaô, abian); no respeito à idade de nascimento do corpo (os “nossos mais velhos”) e à idade de nascimento, na Terra, da essência divina de cada um. Encerrarei este texto com um provérbio contido no Código de ifá: “O tempo pode ser longo, mas uma mentira não cai em esquecimento.”
Maria Stella de Azevedo Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá
opoafonja@gmail.com
A atitude do juiz que não reconheceu manifestações afro-brasileiras como religiões precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita
Mais uma polêmica para que possamos refletir e dar um passo rumo a umestágio evolutivo elevado
que ajude a construir uma sociedade harmônica e equilibrada. O noticiário televisivo deu a seguinte manchete: “Juiz não reconhece manifestações afro-brasileiras como religiões. A decisão gerou polêmica e surpreendeu líderes do candomblé e da umbanda e o Ministério Público Federal.” Sou uma líder do candomblé e confesso que eu não fiquei nem um pouco surpreendida.
Venho de um tempo em que a referida religião era perseguida pela polícia, em virtude de na época o Brasil ter uma religião oficial – o catolicismo. A atitude do juiz precisa ser compreendida, porém jamais pode ser aceita. Optei por não dizer seu nome, pois o nome de uma pessoa é tão sagrado que não deve ser pronunciado quando o dono dele comete atos impensados e infelizes.
Um belo e significativo ensinamento da Ordem Rosa Cruz diz: “Eu te compreendo, mas em nome do verdadeiro amor não posso aceitar.” Podemos compreender uma atitude que tem por base o preconceito, que é fruto da ignorância sobre o tema que o juiz ousou julgar. O ignorante é assim mesmo: é insolente, “grosseiro nos gestos, nas palavras ou nas ações.”
Não fiquei surpresa, fiquei indignada. Senti repulsa, não pelo cidadão em si, mas pelo seu ato vergonhoso. Quanto a meu irmão que praticou tal ato, verdadeiramente, senti pena e, consequentemente, desejo de ajudá-lo. Afinal, ele é meu irmão, somos filhos de uma única energia, que para o candomblé é chamada de Olorum – o Deus Supremo, que vive no céu (no orum), o qual se expandiu e Dele fez surgir todos os seres vivos que habitam a Terra.
Essa é uma explicação que dou para ajudar meu irmão a entender que as religiões de matriz africana têm, sim, um texto base no qual se baseiam para realizar seus rituais, mas principalmente para ajudar seus adeptos a se tornarem cidadãos “assentados” no bem e na verdade. Esse texto base nos ensina que não basta sentir pena. O Código de Ifá, conjunto de ensinamentos no qual se baseia o candomblé, ensina a seus adeptos que a ignorância precisa ser perdoada, compreendida, mas nunca aceita, e que cabe àquele que conhece os mistérios, instruir aqueles que não os conhecem. Obedecendo, portanto, às orientações dadas pelos seres superiores, esclareço a meu irmão alguns detalhes do candomblé sobre o qual ele demonstra não ter o conhecimento necessário para realizar um julgamento.
A religião trazida para o Brasil por um povo possuidor de dignidade e generosidade inigualáveis tem um texto base, o qual é inclusive codificado através de códigos matemáticos. Não podemos, nem devemos esquecer-nos que um texto, em seu sentido amplo, é um conjunto de palavras expressas de maneira oral ou escrita, que pode ser longo ou breve, antigo ou moderno. Preciso pacientemente repetir que o texto base do candomblé é o Código de Ifá, pois um educador é educad para ser paciente. E nós, sacerdotes de qualquer religião, somos educadores de almas. Explicando ainda mais um pouco, o Código de Ifá é um sistema longo e antigo, considerado axiomático por revelar verdades universalmente dignas e válidas, ditas de maneira simples para expressar a complexa realidade da vida.
Também pacientemente repito que o candomblé possui um Deus Supremo, sendo os orixás divindades que servem como intermediárias entre Olorum e os humanos. Quanto à hierarquia, este é um dos grandes e fortes pilares dessa religião milenar, tanto no que se refere ao mundo das divindades quanto à comunidade dos “terreiros”. No mundo sagrado se tem: Olorum, orixás funfun (descendente direto do hálito do Deus Supremo), orixás vinculados ao ar, água, fogo e terra, seres humanos, animais, vegetais e minerais. Nas comunidades do candomblé a hierarquia está em tudo: nos cargos (iyalorixá, iyakekere egbomi, yaô, abian); no respeito à idade de nascimento do corpo (os “nossos mais velhos”) e à idade de nascimento, na Terra, da essência divina de cada um. Encerrarei este texto com um provérbio contido no Código de ifá: “O tempo pode ser longo, mas uma mentira não cai em esquecimento.”
Frei Betto - Preconceitos
Preconceitos
Discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam as nossas almas
Frei Betto
Estado de Minas: 21/05/2014
Discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam as nossas almas
Frei Betto
Estado de Minas: 21/05/2014
García Márquez, em
Doze contos peregrinos, conta a história de um cachorro que, todos os
domingos, era encontrado no cemitério de Barcelona, junto ao túmulo de
Maria dos Prazeres, uma ex-prostituta.
Com certeza se inspirou nas histórias reais de Bobby, um terrier de Edimburgo, Escócia, que durante 14 anos guardou o túmulo de seu dono, enterrado em 1858. Pessoas comovidas com a sua fidelidade cuidavam de alimentá-lo. O animal foi sepultado ao lado e, hoje, há ali uma pequena escultura dele e uma lápide, na qual gravaram: “Que a sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós”.
Em Tóquio, ergueram também uma estátua, na estação Shibuya, em homenagem a Hachiko, cão da raça Akita que todos os dias ali aguardava seu dono retonar do trabalho. O homem morreu em 1925. Durante 11 anos o cachorro foi aguardá-lo na mesma hora em que ele costumava regressar. Hoje, a estação tem o nome do animal.
Cães e seres humanos são mamíferos e, como tal, exigem cuidados permanentes, em especial na infância, na doença e na velhice. Manter vínculos de afeto é essencial à felicidade da espécie humana. A Declaração da Independência dos EUA teve a sabedoria de incluir o direito à felicidade, considerada uma satisfação das pessoas com a própria vida.
Pena que atualmente muitos estadunidenses considerem a felicidade uma questão de posse, e não de dom. Daí a infelicidade geral da nação, traduzida no medo à liberdade, nas frequentes matanças, no espírito bélico, na indiferença para com a preservação ambiental e as regiões empobrecidas do mundo.
É o chamado “mito do macho”, segundo o qual a natureza foi feita para ser explorada; a guerra é intrínseca à espécie humana, como acreditava Churchill; e a liberdade individual está acima do bem-estar da comunidade.
O darwinismo social é uma ideologia cujos hipotéticos fundamentos já foram derrubados pela ciência, em especial a biologia e a antropologia. Basta ler os trabalhos do pesquisador Frans de Waal, editados no Brasil pela Companhia das Letras. Essa ideologia foi introduzida na cultura ocidental pelo filósofo inglês Herbert Spencer, que no século 19 deslocou supostas leis da natureza, indevidamente atribuídas a Darwin, para o mundo dos negócios. John D. Rockfeller chegou ao ponto de atribuir à riqueza um caráter religioso ao afirmar que a acumulação de uma grande fortuna “nada mais é que o resultado de uma lei da natureza e de uma lei de Deus”.
Na natureza há mais cooperação que competição, afirmam hoje os cientistas. O conceito de seleção natural de Darwin deriva de sua leitura de Thomas Malthus, que em 1798 publicou um ensaio sobre o crescimento populacional. Malthus afirmava que a população que crescer à velocidade maior que o seu estoque de alimentos seria inevitavelmente reduzida pela fome.
Spencer agarrou essa ideia para concluir que, na sociedade, os mais aptos progridem à custa dos menos aptos e, portanto, a competição é positiva e natural. E os que são cegos às verdadeiras causas da desigualdade social alegam que a miséria decorre do excesso de pessoas neste planeta, e que medidas rigorosas de limitação da natalidade devem ser aplicadas.
Nem Malthus nem Spencer colocaram uma questão muito simples que, em dados atuais, merece resposta: se somos 7 bilhões de seres humanos e, segundo a FAO, produzimos alimentos para 12 bilhões de bocas, como justificar a desnutrição de 1,3 bilhão de pessoas? A resposta é óbvia: não há excesso de bocas, há falta de justiça.
Quanto mais são derrubadas barreiras entre classes, hierarquias, pessoas de cor de pele diferente, mais os privilegiados e seus ideólogos se empenham em busca de possíveis justificativas para provar que, entre humanos, uns são naturalmente mais aptos que outros.
Outrora, os nobres eram considerados uma espécie diferente, dotada de “sangue azul”. Como quase não tomavam sol e tinham a pele muito branca, as veias das mãos e dos braços davam essa impressão.
Com a Revolução Industrial, gente comum se tornou rica, superando em fortuna a nobreza. Foi preciso então uma nova ideologia para tranquilizar aqueles que galgam o pico da opulência sem olhar para trás. “Que o Estado e a Igreja cuidem dos pobres”, insistiam eles. E tão logo o Estado e a Igreja passaram a dar atenção aos pobres (e é bom frisar, sem deixar de cuidar dos ricos, que o digam o BNDES e a Cúria Romana), como no caso do Estado de bem-estar social, do socialismo e da Teologia da Libertação, os privilegiados puseram a boca no trombone, demonizando as políticas sociais, acusadas de gastos excessivos, e a “opção pelos pobres” da Igreja.
Preconceitos e discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam as nossas almas.
Com certeza se inspirou nas histórias reais de Bobby, um terrier de Edimburgo, Escócia, que durante 14 anos guardou o túmulo de seu dono, enterrado em 1858. Pessoas comovidas com a sua fidelidade cuidavam de alimentá-lo. O animal foi sepultado ao lado e, hoje, há ali uma pequena escultura dele e uma lápide, na qual gravaram: “Que a sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós”.
Em Tóquio, ergueram também uma estátua, na estação Shibuya, em homenagem a Hachiko, cão da raça Akita que todos os dias ali aguardava seu dono retonar do trabalho. O homem morreu em 1925. Durante 11 anos o cachorro foi aguardá-lo na mesma hora em que ele costumava regressar. Hoje, a estação tem o nome do animal.
Cães e seres humanos são mamíferos e, como tal, exigem cuidados permanentes, em especial na infância, na doença e na velhice. Manter vínculos de afeto é essencial à felicidade da espécie humana. A Declaração da Independência dos EUA teve a sabedoria de incluir o direito à felicidade, considerada uma satisfação das pessoas com a própria vida.
Pena que atualmente muitos estadunidenses considerem a felicidade uma questão de posse, e não de dom. Daí a infelicidade geral da nação, traduzida no medo à liberdade, nas frequentes matanças, no espírito bélico, na indiferença para com a preservação ambiental e as regiões empobrecidas do mundo.
É o chamado “mito do macho”, segundo o qual a natureza foi feita para ser explorada; a guerra é intrínseca à espécie humana, como acreditava Churchill; e a liberdade individual está acima do bem-estar da comunidade.
O darwinismo social é uma ideologia cujos hipotéticos fundamentos já foram derrubados pela ciência, em especial a biologia e a antropologia. Basta ler os trabalhos do pesquisador Frans de Waal, editados no Brasil pela Companhia das Letras. Essa ideologia foi introduzida na cultura ocidental pelo filósofo inglês Herbert Spencer, que no século 19 deslocou supostas leis da natureza, indevidamente atribuídas a Darwin, para o mundo dos negócios. John D. Rockfeller chegou ao ponto de atribuir à riqueza um caráter religioso ao afirmar que a acumulação de uma grande fortuna “nada mais é que o resultado de uma lei da natureza e de uma lei de Deus”.
Na natureza há mais cooperação que competição, afirmam hoje os cientistas. O conceito de seleção natural de Darwin deriva de sua leitura de Thomas Malthus, que em 1798 publicou um ensaio sobre o crescimento populacional. Malthus afirmava que a população que crescer à velocidade maior que o seu estoque de alimentos seria inevitavelmente reduzida pela fome.
Spencer agarrou essa ideia para concluir que, na sociedade, os mais aptos progridem à custa dos menos aptos e, portanto, a competição é positiva e natural. E os que são cegos às verdadeiras causas da desigualdade social alegam que a miséria decorre do excesso de pessoas neste planeta, e que medidas rigorosas de limitação da natalidade devem ser aplicadas.
Nem Malthus nem Spencer colocaram uma questão muito simples que, em dados atuais, merece resposta: se somos 7 bilhões de seres humanos e, segundo a FAO, produzimos alimentos para 12 bilhões de bocas, como justificar a desnutrição de 1,3 bilhão de pessoas? A resposta é óbvia: não há excesso de bocas, há falta de justiça.
Quanto mais são derrubadas barreiras entre classes, hierarquias, pessoas de cor de pele diferente, mais os privilegiados e seus ideólogos se empenham em busca de possíveis justificativas para provar que, entre humanos, uns são naturalmente mais aptos que outros.
Outrora, os nobres eram considerados uma espécie diferente, dotada de “sangue azul”. Como quase não tomavam sol e tinham a pele muito branca, as veias das mãos e dos braços davam essa impressão.
Com a Revolução Industrial, gente comum se tornou rica, superando em fortuna a nobreza. Foi preciso então uma nova ideologia para tranquilizar aqueles que galgam o pico da opulência sem olhar para trás. “Que o Estado e a Igreja cuidem dos pobres”, insistiam eles. E tão logo o Estado e a Igreja passaram a dar atenção aos pobres (e é bom frisar, sem deixar de cuidar dos ricos, que o digam o BNDES e a Cúria Romana), como no caso do Estado de bem-estar social, do socialismo e da Teologia da Libertação, os privilegiados puseram a boca no trombone, demonizando as políticas sociais, acusadas de gastos excessivos, e a “opção pelos pobres” da Igreja.
Preconceitos e discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam as nossas almas.
TeVê
TV paga
Estado de Minas: 21/05/2014
Rumo ao altar
Estreia hoje, às 19h50, no Discovery Home & Health, a segunda temporada de O vestido ideal – Madrinhas, série que acompanha a rotina dos assessores e estilistas da loja Bridals by Lori, especializados em lidar com as amigas das noivas, aquelas criaturas doces e afáveis que, quando em surto, podem transformar os preparativos do casamento no caos completo. Quem comanda as ações é mais uma vez Lori Allen (foto), a dona da butique.
Vanguart faz show
esta noite no SescTV
A banda cuiabana Vanguart é a atração de hoje, às 22h, no SescTV. A gravação foi feita em outubro do ano passado, no Sesc Pompeia, em São Paulo, evidenciando um pop-rock com claras influências do folk norte-americano, com uma boa trama de guitarra, baixo, bateria, violino, gaita, trompete, bandolim e teclados. No repertório, músicas do terceiro álbum do grupo, Muito mais que o amor. Em tempo: às 20h30, no Arte 1, vai ao ar o documentário Titãs – A vida até parece uma festa, dirigido por Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves.
Entrelinhas discute
hoje a literatura GLS
O programa Entrelinhas vai tratar hoje da literatura homoerótica. A produção entrevista Laura Bacellar, dona da editora Malagueta, especializada em ficção voltada para o público homossexual feminino, e dois escritores que assumem sua orientação sexual: o poeta Horácio Costa e o romancista João Silvério Trevisan. Às 23h30, na Cultura.
Arte 1 exibe fita do
iraniano Kiarostami
No canal Curta!, o destaque de hoje na verdade são três: os filmes A dama do Peixoto, de Allan Ribeiro e Douglas Soares; Canosaone, de Felipe Gamarano Barbosa; e Mãos de outubro, dirigido por Vitor Souza Lima. Para quem prefere longa-metragem, a pedida é Cópia fiel, do diretor iraniano Abbas Kiarostami, que rendeu a Juliette Binoche o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 2010. No caso, às 22h, no Arte 1.
Muitas alternativas
no pacote de filmes
Ainda na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: A antropóloga, no Canal Brasil; Jack – O caçador de gigantes, na HBO; Amostras grátis, na HBO HD; Anônimo, na HBO 2; O abrigo, no Max Prime; Os agentes do destino, no Space; Assédio sexual, no Glitz; Gangues de Nova York, na MGM; Trishna, no Telecine Cult; e 007 – Operação Skyfall, no Telecine Action. Outras atrações da programação: Ele não está tão a fim de você, às 20h50, na Warner; Kick-Ass – Quebrando tudo, às 21h40, no Universal Channel; Cidade de Deus, às 21h45, no Megapix; Um amor de tesouro, às 21h50, no TBS; e Os infiltrados, às 22h30, na TNT.
CARAS & BOCAS » Loucuras de Lili
Simone Castro
A
comédia romântica Lili, a ex, com estreia prevista para o segundo
semestre deste ano, no GNT (TV paga), terá a atriz Maria Casadevall no
papel principal. É a primeira protagonista da atriz, que viveu a
insaciável Patrícia, na novela Amor à vida (Globo). Lili é uma mulher
que vive importunando o ex-marido e faz de tudo para empatar sua vida.
“A loucura da personagem me atrai. Ela é completamente nonsense. Faz as
coisas mais absurdas achando que é totalmente normal”, comenta a atriz.
Maria adianta: “Já está tão gostoso ler no papel. Acho que vai ficar
muito mais divertido em uma terceira dimensão”. A série, que é inspirada
nos quadrinhos do cartunista brasileiro Caco Galhardo, será produzida
pela O2 Filmes, contará com 13 episódios e terá Luís Pinheiro e Lilian
Amarante, respectivamente, na direção geral e direção.
RELAÇÃO DE LUizA E LAERTE
SERÁ ENTRE TAPAS E BEIJOS
Como Helena (Júlia Lemmertz) previu, o romance entre a filha Luiza (Bruna Marquezine) e Laerte (Gabriel Braga Nunes) não será nenhum mar de rosas. E os próximos capítulos de Em família (Globo) começarão a mostrar uma relação cheia de altos e baixos, feita de tapas e beijos. Apesar da paixão que os une, vira e mexe o casal se estranhará. E o tempero será um ciúme doentio de ambos. Luiza ficará cada vez mais irritada com o cerco de Shirley (Viviane Pasmanter) ao seu namorado e a proximidade de Lívia (Louise D’Tuani), do flaustista. Já ele não suportará sequer ver a moça conversando com o ex-namorado, André (Bruno Gissoni). E é justamente sobre homens e mulheres com quem convivem que Luiza e Laerte terão uma briga danada. O pior ela nem imagina: todas as vezes em que estão juntos na intimidade, o músico pensa que ela é Helena, pois só vê sua antiga paixão na fisionomia da atual namorada.
SEGREDO DE JONAS MARRA
DEIXA VERÔNICA CHOCADA
Verônica (Taís Araújo) e Jonas Marra (Murilo Benício), cada vez mais próximos, acabarão confidentes, em Geração Brasil. Numa das conversas reservadas, ele vai revelar para a jornalista um grande segredo que esconde há tempos, segundo o site oficial da trama. E quando ouvir a declaração, Verônica ficará em choque.
GLOBO CIDADADIA REPRISA
ESPECIAL SOBRE ESPORTES
A poucas semanas da Copa do Mundo, o Globo cidadania vai tratar das carreiras ligadas ao esporte, em reapresentação de programas exibidos no ano passado. O Globo universidade apresenta as variadas alternativas de profissionalização e vai até a Universidade Federal de Minas Gerais, onde existe um grupo de estudos em direito de justiça do esporte. O programa mostra
ainda a estatística, uma opção para quem deseja trabalhar na área – seja disponibilizando conteúdo à imprensa ou mesmo influenciando nas grandes contratações do futebol.
STEPHEN KING FAZ PONTA
EM SÉRIE SOBRE SEU LIVRO
Under the dome, série que é exibida no Brasil pela TNT (TV paga), baseada no livro de Stephen King, contará com a ilustre presença do escritor em episódio de estreia da segunda temporada. Ele também vai assinar o roteiro do episódio, onde o domo irá atrair para si todos os objetos de metal da cidade, como se fosse um imã. Em Under the dome, uma pequena cidade é refém de uma cúpula gigante de vidro.
FARRA NA GRAVAÇÃO
A funkeira Valesca Popozuda, Tatá Werneck e Wanessa (foto) se divertem durante as gravações de Tudo pela audiência, novo programa de auditório do Multishow (TV paga). A atração, que será comandada por Tatá e Fábio Porchat, tem estreia marcada para 15 de julho, com exibição de segunda a sábado, às 22h30.
VIVA
Humberto Martins, cada vez mais se destacando como o sensível Virgílio, de Em família. E o personagem já não é há tempos o homem passivo que aparentava no início da trama.
VAIA
Apesar de serem bons atores e da química, espera-se que Isabelle Drummond e Humberto Carrão não repitam, em Geração Brasil, par romântico de Sangue bom e Cheias de charme.
Estado de Minas: 21/05/2014
Estreia hoje, às 19h50, no Discovery Home & Health, a segunda temporada de O vestido ideal – Madrinhas, série que acompanha a rotina dos assessores e estilistas da loja Bridals by Lori, especializados em lidar com as amigas das noivas, aquelas criaturas doces e afáveis que, quando em surto, podem transformar os preparativos do casamento no caos completo. Quem comanda as ações é mais uma vez Lori Allen (foto), a dona da butique.
Vanguart faz show
esta noite no SescTV
A banda cuiabana Vanguart é a atração de hoje, às 22h, no SescTV. A gravação foi feita em outubro do ano passado, no Sesc Pompeia, em São Paulo, evidenciando um pop-rock com claras influências do folk norte-americano, com uma boa trama de guitarra, baixo, bateria, violino, gaita, trompete, bandolim e teclados. No repertório, músicas do terceiro álbum do grupo, Muito mais que o amor. Em tempo: às 20h30, no Arte 1, vai ao ar o documentário Titãs – A vida até parece uma festa, dirigido por Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves.
Entrelinhas discute
hoje a literatura GLS
O programa Entrelinhas vai tratar hoje da literatura homoerótica. A produção entrevista Laura Bacellar, dona da editora Malagueta, especializada em ficção voltada para o público homossexual feminino, e dois escritores que assumem sua orientação sexual: o poeta Horácio Costa e o romancista João Silvério Trevisan. Às 23h30, na Cultura.
Arte 1 exibe fita do
iraniano Kiarostami
No canal Curta!, o destaque de hoje na verdade são três: os filmes A dama do Peixoto, de Allan Ribeiro e Douglas Soares; Canosaone, de Felipe Gamarano Barbosa; e Mãos de outubro, dirigido por Vitor Souza Lima. Para quem prefere longa-metragem, a pedida é Cópia fiel, do diretor iraniano Abbas Kiarostami, que rendeu a Juliette Binoche o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 2010. No caso, às 22h, no Arte 1.
Muitas alternativas
no pacote de filmes
Ainda na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: A antropóloga, no Canal Brasil; Jack – O caçador de gigantes, na HBO; Amostras grátis, na HBO HD; Anônimo, na HBO 2; O abrigo, no Max Prime; Os agentes do destino, no Space; Assédio sexual, no Glitz; Gangues de Nova York, na MGM; Trishna, no Telecine Cult; e 007 – Operação Skyfall, no Telecine Action. Outras atrações da programação: Ele não está tão a fim de você, às 20h50, na Warner; Kick-Ass – Quebrando tudo, às 21h40, no Universal Channel; Cidade de Deus, às 21h45, no Megapix; Um amor de tesouro, às 21h50, no TBS; e Os infiltrados, às 22h30, na TNT.
CARAS & BOCAS » Loucuras de Lili
Simone Castro
Maria Casadevall será protagonista em série inspirada em quadrinhos |
RELAÇÃO DE LUizA E LAERTE
SERÁ ENTRE TAPAS E BEIJOS
Como Helena (Júlia Lemmertz) previu, o romance entre a filha Luiza (Bruna Marquezine) e Laerte (Gabriel Braga Nunes) não será nenhum mar de rosas. E os próximos capítulos de Em família (Globo) começarão a mostrar uma relação cheia de altos e baixos, feita de tapas e beijos. Apesar da paixão que os une, vira e mexe o casal se estranhará. E o tempero será um ciúme doentio de ambos. Luiza ficará cada vez mais irritada com o cerco de Shirley (Viviane Pasmanter) ao seu namorado e a proximidade de Lívia (Louise D’Tuani), do flaustista. Já ele não suportará sequer ver a moça conversando com o ex-namorado, André (Bruno Gissoni). E é justamente sobre homens e mulheres com quem convivem que Luiza e Laerte terão uma briga danada. O pior ela nem imagina: todas as vezes em que estão juntos na intimidade, o músico pensa que ela é Helena, pois só vê sua antiga paixão na fisionomia da atual namorada.
SEGREDO DE JONAS MARRA
DEIXA VERÔNICA CHOCADA
Verônica (Taís Araújo) e Jonas Marra (Murilo Benício), cada vez mais próximos, acabarão confidentes, em Geração Brasil. Numa das conversas reservadas, ele vai revelar para a jornalista um grande segredo que esconde há tempos, segundo o site oficial da trama. E quando ouvir a declaração, Verônica ficará em choque.
GLOBO CIDADADIA REPRISA
ESPECIAL SOBRE ESPORTES
A poucas semanas da Copa do Mundo, o Globo cidadania vai tratar das carreiras ligadas ao esporte, em reapresentação de programas exibidos no ano passado. O Globo universidade apresenta as variadas alternativas de profissionalização e vai até a Universidade Federal de Minas Gerais, onde existe um grupo de estudos em direito de justiça do esporte. O programa mostra
ainda a estatística, uma opção para quem deseja trabalhar na área – seja disponibilizando conteúdo à imprensa ou mesmo influenciando nas grandes contratações do futebol.
STEPHEN KING FAZ PONTA
EM SÉRIE SOBRE SEU LIVRO
Under the dome, série que é exibida no Brasil pela TNT (TV paga), baseada no livro de Stephen King, contará com a ilustre presença do escritor em episódio de estreia da segunda temporada. Ele também vai assinar o roteiro do episódio, onde o domo irá atrair para si todos os objetos de metal da cidade, como se fosse um imã. Em Under the dome, uma pequena cidade é refém de uma cúpula gigante de vidro.
FARRA NA GRAVAÇÃO
A funkeira Valesca Popozuda, Tatá Werneck e Wanessa (foto) se divertem durante as gravações de Tudo pela audiência, novo programa de auditório do Multishow (TV paga). A atração, que será comandada por Tatá e Fábio Porchat, tem estreia marcada para 15 de julho, com exibição de segunda a sábado, às 22h30.
VIVA
Humberto Martins, cada vez mais se destacando como o sensível Virgílio, de Em família. E o personagem já não é há tempos o homem passivo que aparentava no início da trama.
VAIA
Apesar de serem bons atores e da química, espera-se que Isabelle Drummond e Humberto Carrão não repitam, em Geração Brasil, par romântico de Sangue bom e Cheias de charme.
Cálcio em equilíbrio
Suplementação do mineral, questionada em
2008, tem eficiência aprovada em novas pesquisas. Recomendação da classe
médica é receitá-la com prudência
Lilian Monteiro
De Punta del Este*
Estado de Minas: 21/05/2014
Lilian Monteiro
De Punta del Este*
Estado de Minas: 21/05/2014
O combate à
osteoporose, doença silenciosa tão perigosa quanto a hipertensão e que
pode progredir durante anos sem sintomas, diminuindo a força dos ossos
até que ocorra a fratura, exige níveis determinados de cálcio no
organismo, seja pela ingestão natural do nutriente ou na forma de
suplemento. Palestra de Sebastião Cezar Radominski, chefe do Serviço de
Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná
(HC-UFPR) e presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e
Osteometabolismo (Abrasso), destacou a revisão da literatura e
apresentou novas pesquisas sobre os efeitos dos suplementos de cálcio na
saúde, indicado para prevenir e tratar a osteoporose, durante o
Congresso da Liga Panamericana de Associações de Reumatologia (Panlar),
em Punta del Este, no Uruguai.
A revisão desses estudos é importante porque, em 2008, estudo de Mark Bolland, pesquisador da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, alertou para o risco da ingestão de cálcio levar a doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio) e vascular cerebral. Desde então, dúvida e insegurança pairam sobre médicos e pacientes.
No entanto, pesquisas recentes, como o estudo Caifos, diferente do neozelandês, mostram resultados contrários. Seu resultado, publicado em março no Journal of Boneand Mineral Research, não exibiu risco aumentado. “Na pesquisa, os médicos analisaram 700 mulheres que tomaram o cálcio e outras 700 com placebo. As taxas de mortalidade por doença cardiovascular foram similares. Não houve aumento de depósito de cálcio na ultrassonografia da carótida, nem aumento da incidência de infarto do miocárdio”, explica Radominski. Outro estudo destacado por ele foi o de Framingham, publicado em 2012 no American Journal of Nutrition, que também tem como resultado o não aumento da mortalidade em quem consome o suplemento na quantidade de até 1.200mg diárias.
Radominski diz que Bolland deveria fazer outros estudos para comprovar seu achados e não apenas fazer metanálise de dados já publicados. Com as metanálises, o neozelandês achou motivo para fazer alarde. E fez. “Hoje em dia, estamos com problemas na hora de receitar o cálcio. Pacientes não querem tomar, alguns cardiologistas dizem para não usá-lo. No entanto, os estudos não foram desenhados para avaliar o desfecho cardiovascular, e, além disso, o número de pacientes era pequeno. Criou-se medo do suplemento.”
Na visão do médico ortopedista do grupo de doenças osteometabólicas do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FC/FMUSP) Márcio Passini Gonçalves de Souza, o estudo de Mark Bolland já causou muita celeuma, inclusive no meio médico, citando como exemplo a suspensão do suplemento de cálcio e vitamina D pela Secretaria Muncipal de Saúde de São Paulo na rede pública. Segundo Passini, os estudos de Bolland colocam em discussão a suplementação medicamentosa de cálcio e não o fornecimento de cálcio pela dieta. “Pessoalmente, não consigo distinguir um ‘cálcio bom’ (da dieta) e um ‘cálcio ruim’ (da suplementação). O elemento químico cálcio é único e indistinguível. Deveríamos supor que na dieta o cálcio é acompanhado de outras substâncias que favoreceriam sua função? E que nos suplementos poderia ser acompanhado de substâncias que prejudicariam sua função? Não há evidências. Também sabemos que a suplementação de cálcio, e não o cálcio da dieta, pode aumentar transitoriamente os níveis de cálcio no sangue, o que poderia provocar arritmias em pessoas sujeitas a arritmia cardíaca. Isso pode ocorrer devido à maior biodisponibilidade de cálcio nos suplementos”, esclarece.
IMPRECISÃO O ortopedista destaca que “o cálcio é sempre o mesmo elemento químico. Poderia haver na alimentação substâncias que favoreçam a ação adequada do cálcio no organismo humano, e nos suplementos alimentares substâncias que prejudiquem essa ação. Mas isso, por enquanto, é suposição repetida de autor para autor, sem confirmação científica séria.” Passini acrescenta que, quanto aos estudos de Bolland e seus colegas, um dos trabalhos jogou luz sobre parte de uma população que foi estudada (até por outros pesquisadores) com outro objetivo.
“Hoje entendemos que uma avaliação de uma população deve ser prospectiva, isso é, os sujeitos da análise devem ser selecionados depois que se desenhou o estudo, sabendo-se de antemão o que se procura e a população suscetível de nos dar a resposta, sem enganos. O trabalho de Bolland pecou pela imprecisão científica. No entanto, foi publicado numa revista científica muito séria. Porque, em ciência, o contraditório sempre deve ser explorado. Havendo fumaça, sempre pode haver fogo. Deve ser discutido, explorado e comprovado”, alega.
A mesma população estudada pelo Bolland e seus colegas, foi avaliada por outros autores, com resultados diferentes. Outros pesquisadores fizeram estudos para comprovar as afirmações de Bolland e encontraram resultados opostos. “O cálcio é o quinto elemento químico mais frequente na crosta terrestre e o quinto elemento químico mais frequente em nosso corpo (e no de todos os seres vivos, animais e vegetais). É muito importante para a vida. Veja a estreita margem de variação permitida em nosso plasma. Só isso já seria suficiente para nos mostrar sua importância. Seu nível constante é importante para a boa função cardíaca. Não pode ser mais, nem menos”, acrescenta Passini.
O cálcio sempre foi incluído no sistema terapêutico e entra no rol das chamadas medidas não medicamentosas, que são parar de fumar, praticar atividades físicas e adotar uma boa ingestão de cálcio, preferencialmente por meio da própria dieta. “O Instituto de Medicina de Washington recomenda, para mulheres a partir dos 51 anos, 1.200mg de cálcio diários, para uma boa saúde óssea e geral. Nem todos os pacientes conseguem todo o cálcio necessário por meio da alimentação. Alguns inclusive lidam com a intolerância à lactose. Há casos em que é inevitável ingerir os dois, por meio da dieta e do suplemento. Por isso, hoje, antes de receitarmos o cálcio, reforçamos que sua ingestão natural precisa ser um hábito alimentar. Por exemplo, um copo de leite tem 300mg (mesmo o desnatado), um iogurte light ou diet tem 400mg. Então, se a pessoa toma dois iogurtes e um copo de leite diariamente, ela não tem de ingerir suplemento. Se gosta de queijo, duas fatias têm 300mg”, explica o reumatologista Sebastião Cezar Radominski, chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR).
INGESTÃO Conforme Radominski , a recomendação agora é receitar o medicamento com equilíbrio. “Vemos como o paciente está em termos de vitamina D e cálcio. Se ele ingere 600mg de cálcio pela dieta, passo um comprimido de 500mg para chegar lá (nos 1.200mg). Antes, a prática era dois compridos de 500mg para todo mundo, independentemente da dieta. Hoje, não. Primeiro, estimulamos o paciente a consumir cálcio natural, por meio dos alimentos. Se ele não atingir, tem de complementar. E se o paciente for totalmente intolerante ao cálcio, aí é preciso receitar a dose cheia de suplemento.”
O mineral não é importante apenas para evitar a osteoporose, mas é necessário para todo o organismo. “Você precisa de x de gordura, x de carboidrato e 1.200mg de cálcio, quantidade que não é só para o osso. Para o coração bater, é preciso cálcio; para a fígado fazer a metabolização vai cálcio; vários órgãos usam o mineral.” Radominski enfatiza que as mudanças de orientação na medicina são muito comuns. “A medicina é uma ciência de verdades passageiras. A partir de um estudo, outros médicos fazem outras pesquisas, e novos resultados surgem. No caso do suplemento do cálcio, novos trabalhos mostraram que o índice cardiovascular foi o mesmo, contrariando Bolland. Mas como ficamos? De um ambiente que era totalmente do bem, se transformou no mal, e agora não é tão mal assim. Por isso, precisamos ter um estudo bem mais amplo, com maior número de pessoas, para chegar a uma conclusão. Estudos recentes comprovam que não é tão perigoso usar cálcio, desde que seja com dieta, que não exceda a taxa diária de 1.200mg, mesmo com o suplemento. Não pode extrapolar. A adequada ingestão permanece importante, e sua suspensão depende de cada caso.”
* A repórter viajou a convite da AR: Juntos por Esta Causa | Panlar – Liga Panamericana das Associações de Reumatologia
O estudo de Bolland
O estudo de Mark Bolland publicado em 2008 foi “Eventos cardiovasculares em mulheres idosas saudáveis recebendo suplementação de cálcio: estudo randomizado controlado”. Em 2010, ele publicou uma metanálise sobre os “efeitos da suplementação de cálcio no risco de infarto do miocárdio e eventos cardiovasculares. Como foi muito criticado por não levar em consideração a suplementação de vitamina D, publicou em 2011 nova metanálise sobre “suplementos de cálcio, com e sem vitamina D e risco de eventos cardiovasculares: reanálise e metanálise, de acesso limitado, aos dados do Women’s Health Initiative (WHI)’”. Nesses estudos os autores encontraram aumento da incidência de distúrbios coronarianos (infarte) e cerebro-vasculares (derrame) em mulheres do estudo WHI.”
Novos medicamentos
Entre os novos tratamentos contra a osteoporose apresentados no Congresso da Panlar, estão o odanacatibe, que age impedindo a reabsorção do cálcio, já que as mulheres na fase da menopausa têm a reabsorção por causa dos hormônios. O osso fica mais susceptível à retirada do cálcio. Essa nova droga tem outro mecanismo de ação, que impede essa reabsorção, retardando-a. O reumatologista Sebastião Cezar Radominski diz que no evento foi debatida também uma nova molécula, a esclerostina, que quando inibida permite a reconstrução do osso, formando um osso novo. “Alguns pesquisadores identificaram um anticorpo que inibe a esclerostina, que é o freio do osteoblasto (célula que produz osso). É mais uma perspectiva de ela se tornar um novo reconstrutor do osso, um novo remédio formador de osso. Esse remédio está em estudo em fase três, de pré-aprovação. Terminada a fase três, ele será submetido a publicação e, depois, à aprovação das agências reguladoras como o Food and Drugs Administration (o FDA, dos Estados Unidos) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil.” Nosso país participa com 800 pacientes desse teste, que deve durar dois anos e vai provar se realmente o medicamento é eficaz e seguro.
A revisão desses estudos é importante porque, em 2008, estudo de Mark Bolland, pesquisador da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, alertou para o risco da ingestão de cálcio levar a doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio) e vascular cerebral. Desde então, dúvida e insegurança pairam sobre médicos e pacientes.
No entanto, pesquisas recentes, como o estudo Caifos, diferente do neozelandês, mostram resultados contrários. Seu resultado, publicado em março no Journal of Boneand Mineral Research, não exibiu risco aumentado. “Na pesquisa, os médicos analisaram 700 mulheres que tomaram o cálcio e outras 700 com placebo. As taxas de mortalidade por doença cardiovascular foram similares. Não houve aumento de depósito de cálcio na ultrassonografia da carótida, nem aumento da incidência de infarto do miocárdio”, explica Radominski. Outro estudo destacado por ele foi o de Framingham, publicado em 2012 no American Journal of Nutrition, que também tem como resultado o não aumento da mortalidade em quem consome o suplemento na quantidade de até 1.200mg diárias.
Radominski diz que Bolland deveria fazer outros estudos para comprovar seu achados e não apenas fazer metanálise de dados já publicados. Com as metanálises, o neozelandês achou motivo para fazer alarde. E fez. “Hoje em dia, estamos com problemas na hora de receitar o cálcio. Pacientes não querem tomar, alguns cardiologistas dizem para não usá-lo. No entanto, os estudos não foram desenhados para avaliar o desfecho cardiovascular, e, além disso, o número de pacientes era pequeno. Criou-se medo do suplemento.”
Na visão do médico ortopedista do grupo de doenças osteometabólicas do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FC/FMUSP) Márcio Passini Gonçalves de Souza, o estudo de Mark Bolland já causou muita celeuma, inclusive no meio médico, citando como exemplo a suspensão do suplemento de cálcio e vitamina D pela Secretaria Muncipal de Saúde de São Paulo na rede pública. Segundo Passini, os estudos de Bolland colocam em discussão a suplementação medicamentosa de cálcio e não o fornecimento de cálcio pela dieta. “Pessoalmente, não consigo distinguir um ‘cálcio bom’ (da dieta) e um ‘cálcio ruim’ (da suplementação). O elemento químico cálcio é único e indistinguível. Deveríamos supor que na dieta o cálcio é acompanhado de outras substâncias que favoreceriam sua função? E que nos suplementos poderia ser acompanhado de substâncias que prejudicariam sua função? Não há evidências. Também sabemos que a suplementação de cálcio, e não o cálcio da dieta, pode aumentar transitoriamente os níveis de cálcio no sangue, o que poderia provocar arritmias em pessoas sujeitas a arritmia cardíaca. Isso pode ocorrer devido à maior biodisponibilidade de cálcio nos suplementos”, esclarece.
IMPRECISÃO O ortopedista destaca que “o cálcio é sempre o mesmo elemento químico. Poderia haver na alimentação substâncias que favoreçam a ação adequada do cálcio no organismo humano, e nos suplementos alimentares substâncias que prejudiquem essa ação. Mas isso, por enquanto, é suposição repetida de autor para autor, sem confirmação científica séria.” Passini acrescenta que, quanto aos estudos de Bolland e seus colegas, um dos trabalhos jogou luz sobre parte de uma população que foi estudada (até por outros pesquisadores) com outro objetivo.
“Hoje entendemos que uma avaliação de uma população deve ser prospectiva, isso é, os sujeitos da análise devem ser selecionados depois que se desenhou o estudo, sabendo-se de antemão o que se procura e a população suscetível de nos dar a resposta, sem enganos. O trabalho de Bolland pecou pela imprecisão científica. No entanto, foi publicado numa revista científica muito séria. Porque, em ciência, o contraditório sempre deve ser explorado. Havendo fumaça, sempre pode haver fogo. Deve ser discutido, explorado e comprovado”, alega.
A mesma população estudada pelo Bolland e seus colegas, foi avaliada por outros autores, com resultados diferentes. Outros pesquisadores fizeram estudos para comprovar as afirmações de Bolland e encontraram resultados opostos. “O cálcio é o quinto elemento químico mais frequente na crosta terrestre e o quinto elemento químico mais frequente em nosso corpo (e no de todos os seres vivos, animais e vegetais). É muito importante para a vida. Veja a estreita margem de variação permitida em nosso plasma. Só isso já seria suficiente para nos mostrar sua importância. Seu nível constante é importante para a boa função cardíaca. Não pode ser mais, nem menos”, acrescenta Passini.
O cálcio sempre foi incluído no sistema terapêutico e entra no rol das chamadas medidas não medicamentosas, que são parar de fumar, praticar atividades físicas e adotar uma boa ingestão de cálcio, preferencialmente por meio da própria dieta. “O Instituto de Medicina de Washington recomenda, para mulheres a partir dos 51 anos, 1.200mg de cálcio diários, para uma boa saúde óssea e geral. Nem todos os pacientes conseguem todo o cálcio necessário por meio da alimentação. Alguns inclusive lidam com a intolerância à lactose. Há casos em que é inevitável ingerir os dois, por meio da dieta e do suplemento. Por isso, hoje, antes de receitarmos o cálcio, reforçamos que sua ingestão natural precisa ser um hábito alimentar. Por exemplo, um copo de leite tem 300mg (mesmo o desnatado), um iogurte light ou diet tem 400mg. Então, se a pessoa toma dois iogurtes e um copo de leite diariamente, ela não tem de ingerir suplemento. Se gosta de queijo, duas fatias têm 300mg”, explica o reumatologista Sebastião Cezar Radominski, chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR).
INGESTÃO Conforme Radominski , a recomendação agora é receitar o medicamento com equilíbrio. “Vemos como o paciente está em termos de vitamina D e cálcio. Se ele ingere 600mg de cálcio pela dieta, passo um comprimido de 500mg para chegar lá (nos 1.200mg). Antes, a prática era dois compridos de 500mg para todo mundo, independentemente da dieta. Hoje, não. Primeiro, estimulamos o paciente a consumir cálcio natural, por meio dos alimentos. Se ele não atingir, tem de complementar. E se o paciente for totalmente intolerante ao cálcio, aí é preciso receitar a dose cheia de suplemento.”
O mineral não é importante apenas para evitar a osteoporose, mas é necessário para todo o organismo. “Você precisa de x de gordura, x de carboidrato e 1.200mg de cálcio, quantidade que não é só para o osso. Para o coração bater, é preciso cálcio; para a fígado fazer a metabolização vai cálcio; vários órgãos usam o mineral.” Radominski enfatiza que as mudanças de orientação na medicina são muito comuns. “A medicina é uma ciência de verdades passageiras. A partir de um estudo, outros médicos fazem outras pesquisas, e novos resultados surgem. No caso do suplemento do cálcio, novos trabalhos mostraram que o índice cardiovascular foi o mesmo, contrariando Bolland. Mas como ficamos? De um ambiente que era totalmente do bem, se transformou no mal, e agora não é tão mal assim. Por isso, precisamos ter um estudo bem mais amplo, com maior número de pessoas, para chegar a uma conclusão. Estudos recentes comprovam que não é tão perigoso usar cálcio, desde que seja com dieta, que não exceda a taxa diária de 1.200mg, mesmo com o suplemento. Não pode extrapolar. A adequada ingestão permanece importante, e sua suspensão depende de cada caso.”
* A repórter viajou a convite da AR: Juntos por Esta Causa | Panlar – Liga Panamericana das Associações de Reumatologia
O estudo de Bolland
O estudo de Mark Bolland publicado em 2008 foi “Eventos cardiovasculares em mulheres idosas saudáveis recebendo suplementação de cálcio: estudo randomizado controlado”. Em 2010, ele publicou uma metanálise sobre os “efeitos da suplementação de cálcio no risco de infarto do miocárdio e eventos cardiovasculares. Como foi muito criticado por não levar em consideração a suplementação de vitamina D, publicou em 2011 nova metanálise sobre “suplementos de cálcio, com e sem vitamina D e risco de eventos cardiovasculares: reanálise e metanálise, de acesso limitado, aos dados do Women’s Health Initiative (WHI)’”. Nesses estudos os autores encontraram aumento da incidência de distúrbios coronarianos (infarte) e cerebro-vasculares (derrame) em mulheres do estudo WHI.”
Novos medicamentos
Entre os novos tratamentos contra a osteoporose apresentados no Congresso da Panlar, estão o odanacatibe, que age impedindo a reabsorção do cálcio, já que as mulheres na fase da menopausa têm a reabsorção por causa dos hormônios. O osso fica mais susceptível à retirada do cálcio. Essa nova droga tem outro mecanismo de ação, que impede essa reabsorção, retardando-a. O reumatologista Sebastião Cezar Radominski diz que no evento foi debatida também uma nova molécula, a esclerostina, que quando inibida permite a reconstrução do osso, formando um osso novo. “Alguns pesquisadores identificaram um anticorpo que inibe a esclerostina, que é o freio do osteoblasto (célula que produz osso). É mais uma perspectiva de ela se tornar um novo reconstrutor do osso, um novo remédio formador de osso. Esse remédio está em estudo em fase três, de pré-aprovação. Terminada a fase três, ele será submetido a publicação e, depois, à aprovação das agências reguladoras como o Food and Drugs Administration (o FDA, dos Estados Unidos) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil.” Nosso país participa com 800 pacientes desse teste, que deve durar dois anos e vai provar se realmente o medicamento é eficaz e seguro.
Eduardo Almeida Reis - Transferências
Muita gente, mas muita gente mesmo, gosta de entortar, como se entortada ficasse bem na foto
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/05/2014
Até hoje, a Polícia Federal não encontrou os 500 mil que o doleiro Alberto Youssef depositou na minha conta. Como também não encontrei, sou levado a crer que o cascalho foi usado para cascalhar outras estradas. É pena, porque 500 mil cairiam bem à beça e à bessa. Mas não vou falar de transferências monetárias e sim da transferência psicanalítica, processo no curso do qual o paciente em psicoterapia transpõe para o analista seus sentimentos e atitudes com relação a outros objetos ('alvo') de amor.
Nos livros de Freud a explicação é complicadíssima e ocupa centenas de páginas. Veja um trechinho: “Assim, é perfeitamente normal e inteligível que a catexia libidinal de alguém que se acha parcialmente insatisfeito, uma catexia que se acha pronta por antecipação, dirija-se também para a figura do médico. Decorre de nossa hipótese primitiva que esta catexia recorrerá a protótipos, ligar-se-á a um dos clichês estereotípicos que se acham presentes no indivíduo; ou, para colocar a situação de outra maneira, a catexia incluirá o médico numa das ‘séries’ psíquicas que o paciente já formou”.
Catexia libidinal... Libidinal é adjetivo conhecidíssimo, mas o substantivo feminino catexia, ortoépia cs, que ninguém conhece, é a concentração de todas as energias mentais sobre uma representação bem precisa, um conteúdo de memória, uma sequência de pensamentos ou encadeamento de atos.
Isso em vista, pergunto: antipatia pode ser transferida? Sim, porque tive amigos na Rede Globo que detestavam determinado repórter, que não conheço pessoalmente e nunca me fez mal. Baseado nas opiniões dos amigos tomei horror ao rapaz, evito vê-lo na telinha e tiro o som durante as chamadas para os seus programas, mesmo sabendo que é filho de um político decente, peça raríssima, e foi casado com a neta de um amigo meu.
Fagundes
O ator Antônio da Silva Fagundes Filho, nascido no Rio em 1949, pai de Bruno Fagundes, de seu casamento com Mara Carvalho, e de Dinah Abujamra Fagundes, Antônio Fagundes Neto e Diana Abujamra Fagundes, de seu casamento de 15 anos com Clarisse Abujamra, diz que detesta dar autógrafos e tirar fotos com os fãs que encontra por aí.
Realmente, deve ser chatíssimo. O sobrenome Fagundes, que não é dos mais bonitos, deve derivar de Facundo ou Fagundo. Facundo é eloquente, falador. Presumo que seja insuportável o assédio dos fãs, como também deve ser muito chato, para um ator de tevê, circular por aí sem ser reconhecido.
Antônio Fagundes deve ser ótima pessoa. Estive na fazenda em que ele passou semanas gravando a novela O Rei do Gado. Os empregados, garçons, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras, jardineiros, que eram os mesmos quando lá cheguei, só falavam bem do astro, muito simpático e educado com todos eles, procedimento incomum entre os célebres. Vale o registro.
Fotografias
Não sou de guardar as fotos em que apareço, isto é, aparecia quando era festeiro. São aqueles cromos de um grupo de cinco ou seis pessoas que conversavam e o profissional pede que formem um semicírculo, bate a foto e anota os nomes. Juro que gostaria de ver as fotos do tempo em que andei festando para constatar se também fazia aquela cara de idiota, com o sorriso imbecil, marca registrada de quase todos os que se deixam fotografar.
Muita gente, mas muita gente mesmo, gosta de entortar, como se entortada ficasse bem na foto. É impressionante e pode ser visto em todas as colunas de todos os jornais e revistas. Por que, diabo, entortando as pessoas acham que melhoram?
Outra constante, no Brasil inteiro, é a falta de noção das coisas. A partir de certa idade, não há roupa, não há maquilagem que dê jeito na maioria das senhoras. Isto não obstante, todas adoram ser fotografadas e entortam para o profissional da área. O resultado é doloroso, sobretudo e principalmente quando são da minha geração.
Ainda bem que há notícia dos metamateriais, novos materiais que estão sendo desenvolvidos em laboratórios com as mais diversas finalidades, como, por exemplo, tornar os objetos invisíveis. Graças aos avanços da nanotecnologia, os cientistas são capazes de controlar como os elétrons dos materiais respondem quando atingidos pela luz. Numa segunda etapa, talvez seja possível tornar invisíveis as senhoras e as senhoritas feias diante das luzes dos flashes.
As exceções continuam sendo as noivas nos dias dos casamentos: não há foto de noiva feia. Devem estar pensando nos maridos, sem saber que são iguais às menstruações: quando chegam, incomodam; quando atrasam, preocupam.
O mundo é uma bola
21 de maio de 1910: fundação da Fifa, Fédération Internationale de Football Association, que está completando 110 anos de existência e tem sua sede em Zurique, na Suíça. Na condição de cronista-Fifa jubilado, isto é, aposentado, apraz-me constatar que estamos a pouquíssimos dias da Copa das Copas, quando o mundo verá, assombrado, tudo que é possível fazer num país superiormente administrado por gente honesta e competente, um governo padrão-Fifa. Hoje é o Dia da Língua Nacional e o Dia do Profissional de Letras.
Ruminanças
“Chamais de línguas mortas as línguas de Flaco e de Píndaro? Mas tudo que vive nas nossas vem dessas duas” (Goethe, 1749-1832).
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/05/2014
Até hoje, a Polícia Federal não encontrou os 500 mil que o doleiro Alberto Youssef depositou na minha conta. Como também não encontrei, sou levado a crer que o cascalho foi usado para cascalhar outras estradas. É pena, porque 500 mil cairiam bem à beça e à bessa. Mas não vou falar de transferências monetárias e sim da transferência psicanalítica, processo no curso do qual o paciente em psicoterapia transpõe para o analista seus sentimentos e atitudes com relação a outros objetos ('alvo') de amor.
Nos livros de Freud a explicação é complicadíssima e ocupa centenas de páginas. Veja um trechinho: “Assim, é perfeitamente normal e inteligível que a catexia libidinal de alguém que se acha parcialmente insatisfeito, uma catexia que se acha pronta por antecipação, dirija-se também para a figura do médico. Decorre de nossa hipótese primitiva que esta catexia recorrerá a protótipos, ligar-se-á a um dos clichês estereotípicos que se acham presentes no indivíduo; ou, para colocar a situação de outra maneira, a catexia incluirá o médico numa das ‘séries’ psíquicas que o paciente já formou”.
Catexia libidinal... Libidinal é adjetivo conhecidíssimo, mas o substantivo feminino catexia, ortoépia cs, que ninguém conhece, é a concentração de todas as energias mentais sobre uma representação bem precisa, um conteúdo de memória, uma sequência de pensamentos ou encadeamento de atos.
Isso em vista, pergunto: antipatia pode ser transferida? Sim, porque tive amigos na Rede Globo que detestavam determinado repórter, que não conheço pessoalmente e nunca me fez mal. Baseado nas opiniões dos amigos tomei horror ao rapaz, evito vê-lo na telinha e tiro o som durante as chamadas para os seus programas, mesmo sabendo que é filho de um político decente, peça raríssima, e foi casado com a neta de um amigo meu.
Fagundes
O ator Antônio da Silva Fagundes Filho, nascido no Rio em 1949, pai de Bruno Fagundes, de seu casamento com Mara Carvalho, e de Dinah Abujamra Fagundes, Antônio Fagundes Neto e Diana Abujamra Fagundes, de seu casamento de 15 anos com Clarisse Abujamra, diz que detesta dar autógrafos e tirar fotos com os fãs que encontra por aí.
Realmente, deve ser chatíssimo. O sobrenome Fagundes, que não é dos mais bonitos, deve derivar de Facundo ou Fagundo. Facundo é eloquente, falador. Presumo que seja insuportável o assédio dos fãs, como também deve ser muito chato, para um ator de tevê, circular por aí sem ser reconhecido.
Antônio Fagundes deve ser ótima pessoa. Estive na fazenda em que ele passou semanas gravando a novela O Rei do Gado. Os empregados, garçons, cozinheiras, copeiras, arrumadeiras, jardineiros, que eram os mesmos quando lá cheguei, só falavam bem do astro, muito simpático e educado com todos eles, procedimento incomum entre os célebres. Vale o registro.
Fotografias
Não sou de guardar as fotos em que apareço, isto é, aparecia quando era festeiro. São aqueles cromos de um grupo de cinco ou seis pessoas que conversavam e o profissional pede que formem um semicírculo, bate a foto e anota os nomes. Juro que gostaria de ver as fotos do tempo em que andei festando para constatar se também fazia aquela cara de idiota, com o sorriso imbecil, marca registrada de quase todos os que se deixam fotografar.
Muita gente, mas muita gente mesmo, gosta de entortar, como se entortada ficasse bem na foto. É impressionante e pode ser visto em todas as colunas de todos os jornais e revistas. Por que, diabo, entortando as pessoas acham que melhoram?
Outra constante, no Brasil inteiro, é a falta de noção das coisas. A partir de certa idade, não há roupa, não há maquilagem que dê jeito na maioria das senhoras. Isto não obstante, todas adoram ser fotografadas e entortam para o profissional da área. O resultado é doloroso, sobretudo e principalmente quando são da minha geração.
Ainda bem que há notícia dos metamateriais, novos materiais que estão sendo desenvolvidos em laboratórios com as mais diversas finalidades, como, por exemplo, tornar os objetos invisíveis. Graças aos avanços da nanotecnologia, os cientistas são capazes de controlar como os elétrons dos materiais respondem quando atingidos pela luz. Numa segunda etapa, talvez seja possível tornar invisíveis as senhoras e as senhoritas feias diante das luzes dos flashes.
As exceções continuam sendo as noivas nos dias dos casamentos: não há foto de noiva feia. Devem estar pensando nos maridos, sem saber que são iguais às menstruações: quando chegam, incomodam; quando atrasam, preocupam.
O mundo é uma bola
21 de maio de 1910: fundação da Fifa, Fédération Internationale de Football Association, que está completando 110 anos de existência e tem sua sede em Zurique, na Suíça. Na condição de cronista-Fifa jubilado, isto é, aposentado, apraz-me constatar que estamos a pouquíssimos dias da Copa das Copas, quando o mundo verá, assombrado, tudo que é possível fazer num país superiormente administrado por gente honesta e competente, um governo padrão-Fifa. Hoje é o Dia da Língua Nacional e o Dia do Profissional de Letras.
Ruminanças
“Chamais de línguas mortas as línguas de Flaco e de Píndaro? Mas tudo que vive nas nossas vem dessas duas” (Goethe, 1749-1832).
A CLT precisa ser atualizada
Revisão é necessária para que a legislação caminhe junto da sociedade
César Costa
Consultor organizacional, diretor da Rhumo Consultoria
Estado de Minas: 21/05/2014
César Costa
Consultor organizacional, diretor da Rhumo Consultoria
Estado de Minas: 21/05/2014
A criação da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi uma vitória para todos os
trabalhadores brasileiros ao regulamentar as relações individuais e
coletivas de trabalho. A CLT foi sancionada em 1943, por meio de
decreto-lei, pelo então presidente Getúlio Vargas, e marcou a inserção
dos direitos trabalhistas na legislação brasileira. A principal
finalidade foi modernizar o Brasil, visto que, para industrializá-lo,
seria preciso uma legislação específica e eficiente para proteger o
trabalhador contra abusos e explorações. Junto da CLT, foram criadas a
carteira de trabalho, a jornada de oito horas diárias, o pagamento de
férias, o aviso prévio e a estabilidade depois de 10 anos de serviço,
substituída, posteriormente, pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS).
Em 2014, a CLT completa 71 anos, possibilitando a construção de relações de trabalho mais justas por meio da criação de obrigações e direitos de proteção do trabalhador. Desde sua vigência, já foram feitas importantes atualizações, como o fim da estabilidade e o reconhecimento do trabalho à distância, garantindo os mesmos direitos para profissionais que exerçam trabalho remoto. Não se pode negar a importância da Consolidação das Leis de Trabalho como instrumento legal do direito trabalhista, contudo, é preciso repensar sua modernização para caminhar junto da evolução e inovação da sociedade. Muitas transformações e mudanças aconteceram em 70 anos e algumas ações não funcionam mais como naquela época. Atualmente, as relações de trabalho não precisam mais de tanta tutela como na década de 1940. O texto da Consolidação das Leis do Trabalho não acompanhou a evolução e precisa ser revisto para favorecer tanto os profissionais quanto as empresas. A legislação brasileira é muito rigorosa, pois cria ônus excessivo para as organizações. Geralmente, cerca de 70% das obrigações de uma empresa são com a folha de pagamento. Assim, qualquer aumento de encargos tira a possibilidade de lucro e, consequentemente, de mais benefícios aos profissionais. Em vez de ajudar, acaba prejudicando, já que os custos ficam pesados para a organização. A modernização resultará em mais vantagens aos profissionais, pois será possível pagar mais e gastar menos, a exemplo da participação nos lucros e resultados. Os colaboradores têm mais benefícios e as empresas podem remunerar melhor, sem estourar o orçamento.
É necessária uma alteração significativa, visto que a carga tributária e os encargos incidentes sobre a contratação, manutenção e demissão do profissional são muito altos. A criação da Consolidação das Leis de Trabalho valoriza o trabalhador e, com a atualização, continuará valorizando, pois seus direitos são garantidos por lei. A CLT, sem dúvida, veio para somar e proteger os profissionais, mas, hoje em dia, não deveria estabelecer tantos limites. Podemos citar, como exemplo, a definição de pisos salariais e a regulamentação de determinadas profissões, que, muitas vezes, em vez de gerar benefícios e vantagens aos profissionais, resultam em demissões ou diminuição das vantagens antes obtidas.
Em 2014, a CLT completa 71 anos, possibilitando a construção de relações de trabalho mais justas por meio da criação de obrigações e direitos de proteção do trabalhador. Desde sua vigência, já foram feitas importantes atualizações, como o fim da estabilidade e o reconhecimento do trabalho à distância, garantindo os mesmos direitos para profissionais que exerçam trabalho remoto. Não se pode negar a importância da Consolidação das Leis de Trabalho como instrumento legal do direito trabalhista, contudo, é preciso repensar sua modernização para caminhar junto da evolução e inovação da sociedade. Muitas transformações e mudanças aconteceram em 70 anos e algumas ações não funcionam mais como naquela época. Atualmente, as relações de trabalho não precisam mais de tanta tutela como na década de 1940. O texto da Consolidação das Leis do Trabalho não acompanhou a evolução e precisa ser revisto para favorecer tanto os profissionais quanto as empresas. A legislação brasileira é muito rigorosa, pois cria ônus excessivo para as organizações. Geralmente, cerca de 70% das obrigações de uma empresa são com a folha de pagamento. Assim, qualquer aumento de encargos tira a possibilidade de lucro e, consequentemente, de mais benefícios aos profissionais. Em vez de ajudar, acaba prejudicando, já que os custos ficam pesados para a organização. A modernização resultará em mais vantagens aos profissionais, pois será possível pagar mais e gastar menos, a exemplo da participação nos lucros e resultados. Os colaboradores têm mais benefícios e as empresas podem remunerar melhor, sem estourar o orçamento.
É necessária uma alteração significativa, visto que a carga tributária e os encargos incidentes sobre a contratação, manutenção e demissão do profissional são muito altos. A criação da Consolidação das Leis de Trabalho valoriza o trabalhador e, com a atualização, continuará valorizando, pois seus direitos são garantidos por lei. A CLT, sem dúvida, veio para somar e proteger os profissionais, mas, hoje em dia, não deveria estabelecer tantos limites. Podemos citar, como exemplo, a definição de pisos salariais e a regulamentação de determinadas profissões, que, muitas vezes, em vez de gerar benefícios e vantagens aos profissionais, resultam em demissões ou diminuição das vantagens antes obtidas.
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