quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Nina Horta

folha de são paulo

Bichos fora do mato
Com o retorno da vida selvagem, os quintais se tornaram campos de batalha
Depois da lei de que não se pode cortar uma árvore, aquele meu pedaço, pelo menos, da serra do Mar, em Paraty, virou mato, mesmo, mata cerrada. Aparecem cabecinhas de macaco por onde se anda, uns "miquinhos" que nem sei o nome que vieram alegremente se juntar aos pernilongos, às pererecas, aos morcegos, às cobras, às aranhas e aos gambás. Esses são os bichos que na nossa cabeça deveriam morar lá fora, no mato, mas que vira e mexe vêm nos fazer companhia.
Vamos nos conformando, mas fiquei surpresa ao dar com o livro "Nature Wars": a incrível história de como, com o retorno da vida selvagem, os quintais se tornaram campos de batalha. O autor é Jim Sterba, editora Crown.
Livro de americano, realidade diferente da nossa, mas com muitas aproximações. Jim Sterba afirma que estamos perdendo certos direitos de propriedade para as criaturas selvagens. Parece que criamos um estilo de vida "bunda-no-sofá" e assistimos à natureza no canal Discovery. Não sabemos nada sobre florestas, quem são os bichos, como devem ser tratados. Pensamos que as galinhas já nascem depenadas, pescamos os peixes e os jogamos de volta ao mar com um beijo na boca. O que terá acontecido?
O autor acha que muito pouco tempo se passou depois que promovemos a extinção e a destruição de florestas e animais selvagens.
Nos Estados Unidos, o conservacionismo começou em 1880. Em 1950 já havia chegado a um bom nível de reflorestamento. E, em 2000, a maioria dos americanos morava em subúrbios altamente preservados, ou melhor, reflorestados. Nas décadas seguintes, criaram-se habitats em áreas rurais e foram reintroduzidas espécies em extinção. Deu certo por um período, mas começaram a perceber que algumas espécies não só se adaptavam, mas cresciam em número muito maior do que em seu próprio habitat. Principalmente porque nós, antigos predadores, passamos a protetores.
Essa mistura de homens, florestas e bichos nunca havia alcançado proporções semelhantes. Os mantenedores de vida selvagem se concentraram em manter populações saudáveis e os protetores dos animais se empenhavam em salvá-los do predador humano. Nenhum dos grupos estava preparado para o excesso de vida selvagem e à interação dos homens com os bichos.
Protetores de baleias, gatos, raposas, lobos, atum, bacalhau e mais e mais formaram exércitos proclamando que o seu bicho estava em extinção. Grandes campanhas foram feitas e o trabalho dos conservacionistas é sério e intenso.
Formaram-se grupos diferentes como os que são totalmente contra a morte de animais em benefício de qualquer ser humano. Grupos que não fazem objeções ao uso responsável de animais, contanto que eles não sofram. E outros que rejeitam a filosofia de direitos animais e acreditam em um uso responsável.
O assunto do livro é esse, a discussão, reflexão e constatação de como andam as coisas. Essa é uma pequena e incompleta resenha sobre um livro interessante. Não são opiniões minhas e não responderei a e-mails de ódio. O livro pode ser comprado naAmazon.com.

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CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

Dieta rica em carboidrato separou os cães dos lobos

folha de são paulo

Cachorros domésticos foram selecionados entre os capazes de digerir amido
Estudo que analisou mutações em cães e lobos fortalece ligação entre a domesticação e o início da agricultura
RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULOA "revolução agrícola" de 10 mil anos atrás não afetou só o ser humano, que deixou de viver em pequenas comunidades nômades de caçadores-coletores e começou a criar civilizações com milhares, milhões e hoje bilhões de pessoas graças à muito maior disponibilidade de comida.
A invenção da agricultura e da pecuária também "transformou" lobos selvagens em cachorros domésticos. E uma prova disso está nos genes, segundo estudo da equipe de Erik Axelsson, da Universidade Uppsala (Suécia).
Mutações genéticas permitiram aos cães se adaptarem a uma dieta contendo mais amido, encontrado nas plantas que passaram a ser cultivadas pelo homem. Já os lobos continuaram dependentes de uma dieta carnívora.
"Durante a domesticação, era crucial para os cães serem capazes de digerir amido eficientemente. Animais que eram melhores no processamento de amido ganhavam tamanha vantagem que todos os cachorros modernos que nós analisamos são descendentes desses cães eficientes na digestão de amido", disse Axelsson à Folha.
"Era uma questão de vida e morte. No entanto, isso tem pouco a ver com o que os cachorros preferem comer. Não tenho dúvida de que preferem carne a amido", diz ele.
"Não se trata do que os cachorros desejam comer, mas sim sobre a capacidade de animais antigos usarem um novo recurso alimentar."
CÃES E LOBOS
Como é praxe para entender o processo de domesticação do cão, os pesquisadores também vasculharam os genes do ao mesmo tempo "primo" contemporâneo e "ancestral" remoto, o lobo.
Cães e lobos pertencem à mesma espécie biológica e podem cruzar entre si deixando híbridos férteis, mas derivaram para "subespécies": Canis lupus lupus (lobo) e Canis lupus familiaris (cão).
Axelsson e colegas identificaram 36 regiões do DNA com genes ligados tanto ao desenvolvimento do cérebro como do metabolismo do amido que estariam em seleção intensa nos cães.
Três genes foram identificados com papéis nítidos na digestão de amido. O estudo foi descrito na revista científica "Nature".
"A domesticação do cão foi um importante episódio no desenvolvimento da civilização humana. O local e o momento precisos desse evento ainda são debatidos e pouco se sabe das mudanças genéticas que acompanharam a transformação de antigos lobos em cães domésticos", escreveu a equipe.
SOBRAS
A hipótese mais comum sobre a domesticação do cão sugere que os animais teriam sido atraídos pelas sobras de comida em torno das aldeias humanas. Poder comer alimentos ricos em amido seria uma vantagem para esses "vira-latas" pré-históricos.
"Adaptações novas permitindo aos ancestrais dos cães modernos prosperarem em uma dieta rica em amido, relativamente à dieta carnívora dos lobos, constituíram um passo crucial na primitiva domesticação dos cães", afirmam os autores.
Axelsson diz que não há como saber ainda quando a seleção para melhor digestão de amido começou, mas que o desenvolvimento da agricultura acelerou o processo.
"Eu diria que havia alguns lobos com mutações que os tornavam ligeiramente melhores na digestão de amido e, quando surgiu a agricultura, eles estavam em melhor posição para tirar vantagem dos novos recursos."
Existem indicações de que um fóssil com 33 mil anos encontrado nas montanhas Altai, na Sibéria, seria de um canídeo semelhante ao cão.
Mas os fósseis mais antigos confirmados como sendo de cães domésticos foram encontrados junto a esqueletos humanos em Israel entre 12 mil e 11 mil anos atrás.

    Cães herdaram tendência a comer demais
    DE SÃO PAULOCães gostam de gordura e tendem a se empanturrar. É o que indica um estudo feito no Centro Waltham para Nutrição de Animal Doméstico (Reino Unido), ligado a um fabricante de rações.
    O trabalho mostra que, em termos do potencial energético, cães preferem uma dieta com 63% de gordura, 30% de proteína e 7% de carboidratos.
    Foram testadas cinco raças: papillon, schnauzer miniatura, cocker spaniel, labrador e são-bernardo.
    O estudo, publicado na revista "Behavioral Ecology", também dá um alerta aos donos de pets: se você der comida demais, o bicho vai se empanturrar.
    É uma tendência natural herdada do ancestral e primo do cão, o lobo. Em estado selvagem, a alimentação não é regular. Logo, os bichos comem muito quando é possível.
    Uma regra do comitê de ética do instituto previa que o animal sairia do estudo se passasse de 15% do seu peso corporal ideal, o que aconteceu com 16 dos 51 cães, com destaque para os cocker spaniels.

      Artigo aponta falhas em exame de resistência a bactérias

      folha de são paulo

      Investigação de revista britânica mostra que empresa vendeu produtos com problema de qualidade; fabricante nega acusações
      DE SÃO PAULOUma investigação conduzida pela equipe da revista médica "British Medical Journal" revela que uma fabricante de testes diagnósticos à venda no mundo todo falsificou dados de controle de qualidade e pode ter enviado produtos ineficazes aos laboratórios e hospitais.
      O produto em questão é um tipo de disco de papel absorvente contendo antibióticos usado para determinar se uma bactéria que está infectando um paciente é resistente à droga presente no teste.
      O disco é colocado na cultura feita a partir do material biológico do doente (urina, sangue ou escarro, por exemplo). Se a bactéria for suscetível ao remédio no disco, o laboratório consegue ver um círculo indicando a morte dos micro-organismos. O tamanho dessa marca determina se a droga é ou não capaz de acabar com a infecção.
      Segundo o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, esse teste é bastante corriqueiro e seu resultado influencia diretamente a decisão do clínico na hora de escolher o antibiótico adequado para tratar o paciente.
      "Se esse teste não for confiável, isso é muito preocupante", diz o médico.
      A reportagem publicada pelo "BMJ" afirma que é possível que discos sem antibióticos ou com uma quantidade errada deles tenham sido vendidos com o conhecimento da empresa, que nega as acusações. De acordo com a investigação, na pior das hipóteses, pacientes podem ter recebido prescrições de antibióticos errados ou mais fortes do que o necessário - o disco sem remédio daria a impressão de que a bactéria seria resistente à droga que deveria estar ali.
      E-mails internos mostram também que a empresa teria enganado órgãos reguladores britânicos sobre métodos de controle de qualidade dos discos com antibióticos.
      Em resposta ao "BMJ", a empresa, que pertence à americana Thermo Fischer, disse que usa padrões rígidos de controle de qualidade e que sempre avisou as autoridades quando houve problemas.
      Folha tentou contato com representantes da Oxoid no Brasil por telefone e e-mail, mas não houve resposta até a conclusão desta edição. A empresa tem distribuidores em diversos Estados.

        Entrevista Gleisi Hoffmann - Valdo Cruz

        folha de são paulo

        Burocracia trava os investimentos do setor público
        MINISTRA-CHEFE DA CASA CIVIL DIZ ESPERAR QUE EMPRESÁRIOS NÃO TEMAM A CONCORRÊNCIA E QUE BC TERÁ AUTONOMIA CONTRA A INFLAÇÃO
        VALDO CRUZDE BRASÍLIANa avaliação da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o "ritmo da burocracia" prejudica o bom andamento da máquina pública e de seus programas de investimento.
        Para ela, o "principal desafio do setor público brasileiro é resolver o ritmo da burocracia e fazer com que as pessoas tenham compromisso com o resultado".
        Sobre as críticas de conselheiros da presidente e de empresários às regras dos programas de concessão do governo, Gleisi respondeu dizendo esperar que os empresários brasileiros não estejam com medo da concorrência, ao destacar que os investimentos estrangeiros diretos estão em um ritmo forte, de US$ 65 bilhões em 2012.
        "Então, não quero crer que nossos empresários estejam com medo de concorrência."
        Sobre a inflação em alta, disse que o Banco Central, seguindo orientação da presidente Dilma, terá toda autonomia para atuar caso os preços subam ainda mais.
        Defendeu ainda o ministro Guido Mantega e disse ser a favor da "meritocracia", inclusive para melhorar o ritmo do governo.
        -
        Folha - O ano começou com um clima negativo para o governo, inflação em alta, crescimento não tão forte, queixas de empresários sobre regras nas concessões, câmbio provocando tensão. O que está acontecendo de errado com o governo?
        Gleisi Hoffmann - Sou muito otimista com 2013. Temos bons resultados. Menor taxa de desemprego da história, redução sistemática da miséria, redução nas taxas de juros, investimentos estrangeiros expressivos no país.
        Durante 2012, todas as medidas foram tomadas para que tivéssemos uma retomada do nosso crescimento.
        Desoneração tributária, estruturação de programas de infraestrutura, financiamentos com redução de taxas de juros. Enfim, acredito que 2013 vai ter bons resultados. É uma questão de tempo, de curto espaço de tempo.
        Apesar disso, temos um cenário de inflação alta, como a de janeiro, e crescimento ainda fraco. Não deveríamos estar num cenário melhor? Por que não decolamos?
        A presidente Dilma tem um grande compromisso de manter a inflação na meta. Não temos motivo para ficarmos alarmados com isso.
        E, se a inflação superar o teto da meta, de 6,5%, o Banco Central terá autonomia para atuar? O mercado levanta dúvidas sobre isso.
        Sempre foi um compromisso do governo, e o Banco Central sempre teve sua autonomia para atuar nessa área.
        As críticas à política econômica e ao ministro Guido Mantega, antes restritas ao Brasil, estão vindo de fora também. A política adotada pelo governo está perdendo credibilidade internacional?
        Para mim, o que mede a confiança externa no Brasil é o nível de investimento estrangeiro direto. E ele tem crescido sistematicamente. Em 2012, fechou tão forte quanto em 2011. Não vejo a confiança externa abalada.
        O empresariado continua reclamando das condições colocadas pelo governo para os programas de concessões, queixas endossadas por conselheiros da presidente Dilma.
        Nós temos visto um crescimento do investimento estrangeiro direto no Brasil. Além disso, um pesquisa no Fórum Econômico Mundial, em Davos, com mais de 1.300 executivos, mostra que o Brasil é um país atraente para seus investimentos. Então, não quero crer que nossos empresários estejam com medo de concorrência.
        Mas o próprio governo teve de mudar regras como as de concessão de rodovias. Há dificuldades em admitir erros?
        Em primeiro lugar, ninguém vai perder dinheiro com o Brasil. A taxa de retorno dos investimentos vai ser proporcional a cada empreendimento e ao risco dele e às condições econômicas do país. Fizemos um estudo sobre rodovias e divulgamos. Tivemos pessoas que sugeriram alterações, disseram que seria melhor fazer adequações. E nós aceitamos, porque queremos acertar para que a parceria com o setor privado dê certo e o país cresça.
        As mudanças feitas em rodovias podem ser feitas em outros programas?
        Estamos terminando estudos em ferrovias, como também em portos e aeroportos. Os estudos são colocados em audiências públicas. Quando fazemos isso, estamos dizendo aos investidores para fazerem questionamentos, críticas e sugestões. Então, a partir dessa fase, recolhemos todas essas colaborações dadas. Se adequações forem necessárias, elas serão feitas.
        Mantega está sendo alvo de várias críticas aqui e lá fora. Pode haver mudança na equipe econômica?
        Nomeação e demissão de ministro cabem à presidente Dilma responder, não a mim. Quero só dizer que o ministro Guido Mantega é um grande ministro. Coordenou a economia em momentos muito relevantes, quando o país teve uma das melhores fases de crescimento.
        O governo da presidente Dilma, vista como uma boa gerente, tem sido criticado pela demora na montagem e na execução de programas. O que está dando errado?
        Não tenho essa avaliação. O ano passado foi profícuo em medidas gerenciais. Lançamos o novo marco de portos, o programa de investimento em aeroportos, em rodovias e em ferrovias. Tivemos a prorrogação dos contratos de energia elétrica. São medidas muito grandes, com impactos enormes no país. Não são simples de construir e foram feitas em um ano.
        Nos trabalhos da Câmara de Gestão [formada por empresários e ministros para discutir a gestão pública], qual o diagnóstico do que mais prejudica o bom andamento da máquina pública, dos programas de investimento do governo?
        O ritmo da burocracia. As pessoas são acostumadas, no poder público, a deixar as coisas quase que se resolverem por conta própria. A burocracia vai resolvendo as coisas no seu ritmo.
        O principal desafio do setor público é resolver o ritmo da burocracia e fazer com que as pessoas tenham compromisso com o resultado.
        Se eu preciso fazer com que uma licitação saia, tenho de pegar o meu processo e ir em cada setor para que ele ande e saia no prazo. Funciona assim na iniciativa privada, por que não pode funcionar da mesma maneira no setor público?
        O que vai ser feito para mudar isso?
        É um processo, não vamos fazer isso do dia para a noite, mas temos de começar. Então, um sistema de monitoramento adequado, discussões e debates com a máquina pública, cobranças sistemáticas por resultados.
        Para melhorar o ritmo da burocracia, a senhora é a favor do pagamento de um bônus salarial por desempenho no serviço público?
        Sou muito simpática à ideia da meritocracia. É um tema que temos debatido muito na Câmara de Gestão.
        Sou simpática à ideia, não é simples de implantar em toda gestão pública, mas é um desafio que podemos vencer. Está nas nossas metas.
        A senhora avalia que há servidores demais ou de menos no governo?
        O Brasil é um país de dimensões continentais, com muitos serviços públicos colocados à disposição da população. Isso requer também muitos servidores. Temos é de qualificar cada vez mais a máquina pública e melhorar cada vez mais a gestão. É uma das metas da presidente.
        A sra. é a favor da diminuição das indicações políticas? Elas deveriam ser reduzidas? Não prejudicam o andamento do serviço público?
        Sempre tem essa ideia de contrapor a política à técnica, o que acho muito ruim. Porque a técnica qualifica a política, e a política dá sentido à técnica. Elas não podem caminhar desassociadas, não podemos ter um governo só tecnocrático ou só político.
        O que temos de diminuir na máquina pública é a utilização dos cargos apenas para fazer política partidária.

          Jornais nos EUA ganham fôlego, e setor tem otimismo

          folha de são paulo

          Novas plataformas e recuperação da economia dão vigor para o segmento
          Jornalismo impresso está se estabilizando e expectativa de vida do setor é maior que a esperada, diz analista
          LUCIANA COELHODE WASHINGTONA aposta dos jornais nos EUA em novas plataformas e a recuperação econômica incipiente do país deram fôlego às empresas tradicionais de mídia impressa no fim de 2012, e analistas já veem sinais de estabilidade no mercado.
          Três de quatro grandes grupos de mídia que anunciaram resultados na semana passada tiveram aumento de receita no fim de 2012: a New York Times Company, a dona do "Wall Street Journal" (News Corp.) e a proprietária do "USA Today" (Gannett).
          A McClatchy, que publica jornais como o "Miami Herald", manteve-se estável.
          No ano fechado de 2012, as donas do "New York Times" e do "USA Today" também ampliaram a receita acima do esperado -o lucro anual da primeira também cresceu.
          Um avanço mais forte do setor em 2012 esbarrou nos custos de reestruturação (pagamento de direitos trabalhistas e investimentos, além de mudanças tributárias).
          A receita do braço editorial da News Corp., do magnata Rupert Murdoch, teve contração de 0,8% no segundo semestre de 2012 -o ano fiscal da empresa acaba em junho.
          O faturamento da McClatchy, do "Miami Herald", caiu 3,1% em 2012, resultado afetado pela redução dos anunciantes e pelo pagamento de dívidas, além de custos de reestruturação.
          A empresa, porém, espera melhora neste ano, com maior investimento em meios digitais e assinaturas pagas.
          "Parece que o [jornalismo] impresso está se estabilizando, e a expectativa de vida hoje é maior do que a esperada há alguns anos", disse Rick Edmonds, pesquisador do Instituto Poynter especializado em mercado de mídia.
          "Mas é muito otimismo apostarmos que o pior já passou", advertiu, evocando o dinamismo do mercado. "Acho que faz sentido, porém, dizer que as coisas melhoraram, sobretudo em relação aos primeiros anos de crise [econômica global]. E estão melhores do que há um ou dois anos porque há mais coisas acontecendo."
          Uma das "coisas acontecendo" é o uso do chamado "paywall poroso" -a cobrança para acesso ao site após um determinado número de textos lidos por mês, iniciada pelo "New York Times" e usada também pela Folha e por cerca de 450 jornais nos EUA.
          O sistema tem trazido retorno para grandes publicações e também para regionais.
          A conjugação de novos elementos (sobretudo vídeo) para explorar as novas plataformas de mídia e a diversificação de produtos não jornalísticos -como assessoria para otimização dos sites das empresas em mecanismos de busca- também estão revitalizando o setor.

            Alexandre Schwartsman

            folha de são paulo

            Teoria gravitacional da inflação
            Redução dos juros é uma bandeira eleitoral e, com pleito próximo, alta forte da taxa Selic é improvável
            O IBGE registrou em janeiro a inflação mais elevada para o mês desde 2003, 0,86%. O número é alto, mas sua análise revela características ainda mais inquietantes.
            Nada menos do que 75% dos itens pesquisados registraram aumento de preços em janeiro, também a maior proporção observada desde 2003, sugerindo que -ao contrário da história oficial- a aceleração da inflação não está ligada à evolução de uns poucos preços, mas se trata de fenômeno disseminado.
            Além disso, as medidas de inflação que buscam atenuar os movimentos exagerados de preços (os chamados "núcleos" da inflação) também alcançaram níveis recordes para o mês.
            Registre-se, por fim, que o mau desempenho ocorreu a despeito do apelo patético feito aos prefeitos de grandes capitais para que adiassem a elevação das passagens de ônibus, assim como da antecipação da redução das tarifas de energia. Sem tais manobras, a encrenca seria ainda maior.
            Há, é bom que se diga, um tanto de sazonalidade na história: a inflação mensal é, em geral, mais alta no começo e no final do ano e perde força no período de maio a julho.
            Seria, portanto, despropositado tomar o resultado do mês de janeiro como valor representativo do que nos espera ao longo de 2013. Ainda assim, a inflação medida em 12 meses (portanto livre de sazonalidade) superou os 6%, sacudindo, aparentemente, o torpor que tem caracterizado a atuação do Banco Central nos últimos anos, a ponto de o organismo admitir, embora com ressalvas, preocupação com a evolução da inflação "no curto prazo".
            Foi o que bastou para que o mercado passasse a questionar a estratégia (com o perdão da palavra) anti-inflacionária do Banco Central. É sabido que este não revela a menor intenção de alterar a taxa de juros "por um período de tempo suficientemente prolongado".
            À luz, porém, da aceleração inflacionária e do aparente desconforto do Banco Central com tal situação, já há quem aposte na possibilidade de que a promessa de estabilidade da taxa Selic se mostre impossível de ser mantida, pelo menos por um período tão longo quanto o prometido pelo Copom.
            Não por outro motivo as taxas de juros futuros se elevaram, incorporando uma probabilidade mais alta de o Banco Central ser obrigado a retomar uma posição mais ativa na condução da política monetária, condizente com o que se espera de uma instituição minimamente comprometida com a estabilidade de preços.
            Em momentos como este é que se espera que um economista diga a que veio, isto é, se haverá (ou não) aumento das taxas de juros neste ano, contrariando o consenso da profissão, que ainda aponta para estabilidade da Selic até dezembro de 2013.
            Por mais que me desagrade repetir o consenso, desta vez me parece mais provável que o BC mantenha a Selic inalterada.
            De qualquer forma, mesmo que, em cenário mais remoto, o BC venha a elevar as taxas de juros, creio que não o fará (como não o fez) em intensidade suficiente para domar o processo inflacionário, ainda mais considerando a proximidade com o ciclo eleitoral.
            A verdade é que a definição da taxa Selic, que deveria ser um instrumento para controlar a inflação, tornou-se um objetivo de política econômica e, mais que isso, uma bandeira eleitoral.
            Em tais circunstâncias o Banco Central enfrenta obstáculos consideráveis à sua autonomia, como a redução dos juros em meio à aceleração inflacionária permite inferir.
            É mais provável que o governo lide com a inflação da forma como tem feito nos últimos tempos, ou seja, por meio de reduções pontuais de tributos, adiando o momento de encontro com o teto da meta (6,5%), sem tratar, porém, das causas fundamentais do problema.
            Não há, porém, como trazer a taxa de inflação de volta à meta sem uma verdadeira estratégia de política monetária, apenas alívios temporários, que não mudam a tendência central do processo. Inflação não volta à meta por gravidade, nem por torcida; somente quando o Banco Central faz o seu trabalho de forma consistente.

              Obama anuncia redução do contingente no Afeganistão

              folha de são paulo

              No discurso anual do Estado da União ao Congresso, presidente acena com reformas no sistema de saúde
              LUCIANA COELHODE WASHINGTONExortando o Congresso a romper a paralisia, Barack Obama usou seu discurso do Estado da União, na noite de ontem, para anunciar a retirada de metade do contingente militar dos EUA no Afeganistão até 2014 e listar reformas econômicas para reduzir o deficit e o desemprego.
              Segundo o presidente, os EUA vão retirar 34 mil dos 68 mil soldados que mantêm no Afeganistão até fevereiro próximo, e, ao longo de 2014, encerrar 13 anos de guerra junto com a Otan (aliança militar ocidental). As operações dos EUA passarão a focar, depois disso, treinamento e ações de contraterrorismo.
              "A retirada continuará, e, até o fim do ano, nossa guerra estará encerrada", disse.
              Detalhes sobre o ritmo da retirada após fevereiro, porém, ficaram em aberto.
              No discurso -prestação de contas anual do presidente ao Congresso, determinada pela Constituição-, Obama prometeu negociar com a Rússia novas reduções do arsenal nuclear de ambos e manter apoio a governos aliados no combate ao terrorismo.
              Lembrando que fará "tudo para evitar que o Irã obtenha uma arma nuclear", exortou Teerã a negociar saída diplomática para seu programa nuclear e prometeu continuar apoiando a oposição síria.
              Afirmou ainda que trabalhará com o Congresso para garantir maior transparência -e respeito à lei- nas ações para perseguir, prender e julgar terroristas, em uma aparente alusão à sua controversa política de drones (robôs aéreos pilotados remotamente usados para matar suspeitos em regiões remotas).
              Mas a maior parte do discurso foi ocupada por questões domésticas, sobretudo pela necessidade de enxugar o Orçamento e reduzir o desemprego, hoje em 7,9%.
              Obama voltou a exortar o Congresso a aprovar uma reforma tributária que eleve alíquotas para os mais ricos, mas, pela primeira vez, admitiu a necessidade de reformas mais amplas e abriu a porta para a reestruturação da assistência de saúde para os mais pobres, o Medicaid.
              "Temos de aceitar a necessidade de reformas modestas, ou os programas de aposentadoria vão consumir os investimentos que precisamos fazer em nossas crianças."
              O democrata insistiu na necessidade de investir em infraestrutura, energia limpa, inovação e educação para criar empregos, além de prometer atrelar o salário mínimo ao custo de vida.
              Reeleito e preocupado em forjar um legado, defendeu o combate à mudança climática e, no momento mais aplaudido da noite, a reforma do sistema de imigração, privilegiando estrangeiros formados em ciências e tecnologias e quem imigrou na infância.
              Por fim, abordou um tema que assumiu papel central na agenda do segundo mandato: o controle de armas.
              Evocando o massacre na escola de Sandy Hook e falando aos pais de uma adolescente morta em um tiroteio, que assistiram ao discurso com a primeira-dama, pediu que o Congresso vote um projeto para ampliar a checagem de antecedentes e a proposta bipartidária que está sendo costurada no Senado.
              "Sei que este país já debateu [o tema] outras vezes, mas agora é diferente. Temos maiorias, inclusive de defensores da Segunda Emenda [direito ao porte de armas], unidas por uma reforma."

                Fernando Brant-Vagando e divagando no carnaval‏


                Fernando Brant
                Estado de Minas: 13/02/2013 
                Passeio de carro pelas ruas vazias de gente e carnaval. Sei que é cedo ainda para os blocos se espalharem pelos vários cantos da cidade. A festa está crescendo por aqui, cada bairro organizando sua folia, a animação reúne vizinhos, amigos e famílias para as comemorações regadas a marchas e sambas de sempre. Parece que, além de repetir o que se fazia antigamente, as pessoas se cansaram de ver e querem participar. São manifestações alegres, afastadas de qualquer violência.

                Dá até para saborear algumas cervejas; quem pula no bloco não dirige. Os donos dos botequins esfregam as mãos de contentamento, os quatro dias não são mais tempo de casa fechada. Mas no meu caminho não há nada, só imaginação. Parado no sinal, vejo o prédio da Federação das Indústrias de Minas Gerais. Onde se ergue a construção moderna havia uma casa da prefeitura que distribuía sopão para os mendigos. Não havia exploração política, tanto que nem me lembro ao certo se era municipal ou particular aquele lugar bendito que alimentava os necessitados. Sei que, voltando de minhas peladas, descia pela avenida e me encontrava com homens e mulheres descansando à sombra dos fícus enormes. Chegavam um pouco antes da hora da comida. Depois de alimentados, descansavam e seguiam seus rumos.

                No outro dia, estavam de volta. Havia o carnaval da timidez e do lança-perfume. Flertava-se à distância, mas cadê coragem para abordar a menina? Era preciso que a prima puxasse o medroso para o meio do salão. Misturado à confusão de samba e marcha-rancho, um ímpeto o levava a segurar uma das mãos da loura ou da morena e, com o consentimento dela, abraçá-la e sair bailando como se dono do mundo fosse. A felicidade daquele momento permaneceria por muito tempo, muito além de Momo, mesmo que a garota morasse em outra cidade ou bairro distante. Isso era até um alívio, pois evitava as formalidades de bater à sua porta, ficar com ela, puxar conversa que não julgava saber iniciar nem prosseguir. E se tivesse de falar com os pais dela? Isso seria demais para seu acanhamento.

                Com o tempo, tudo se ajeita. O primeiro amor e a primeira namorada são experiências que começam muito antes do encontro definitivo. Há um temor e um tremor antecipados, o sofrimento de incerteza quanto ao sucesso da investida. Mais saboroso, evidentemente, que a tensão que cerca a primeira fala em público ou, ainda mais, o primeiro cantar em público.

                Muita gente tira, ou parece tirar, isso de letra. Desinibidos, voluntariosos, destemidos. Mas devagar ele chegou lá. Do seu jeito, calmamente, sem alarde ou propaganda, quase em silêncio. Silêncio como o dessa rua na manhã de domingo de carnaval. Não há nem buzina, embora ele não tenha visto que o sinal está aberto.

                Frei Betto-Quaresma com Eliot‏

                É o que convém buscar na quaresma e que as vítimas da boate de Santa Maria já alcançaram: o silêncio no Verbo 

                Frei Betto
                Estado de Minas: 13/02/2013 
                Faz um tempo longo. Noviço no alto da Serra, em Belo Horizonte, pedi ao mestre dispensar-me da liturgia de quarta-feira de cinzas. Não que a soberba me assaltasse e eu quisesse evitar o selo das cinzas em minha fronte. Do pó viemos, ao pó retornaremos, bem sei. Hoje, a astrofísica o confirma: somos todos feitos de pó das estrelas, fornos nos quais se cozinha, em diferentes consistências, toda a tabela periódica dos átomos que integram a matéria do universo.

                Aos 20 anos o mundo me parecia infinito. E minha vida, infinda. Para mim, o passado não existia, o presente impregnava-se de fé, o futuro se abria no par de portas destrancadas por todo o idealismo que me consumia a subjetividade. 

                No jardim do convento, junto à horta, da qual me tocava cuidar, recolhi-me em companhia dos versos de T. S. Eliot em Quarta-feira de cinzas. Porque eu também não espero voltar (e isso vale ainda hoje). Sobretudo agora que pertenço ao grupo etário da eterna idade – todos nós que ultrapassamos seis décadas de existência e, portanto, estamos mais próximos do fim de todos os mistérios.

                “Não mais me empenho no empenho de tais coisas.” O verso de Eliot me soou como interrogação. A vida me ensinou que renúncias exigem convicções arraigadas. O jejum da quarta-feira de cinzas é muito mais do que abster-se de carne. É esperar não conhecer “a vacilante glória da hora positiva”.

                Como são desafiadoras as virtudes! “Ensinai-nos a estar postos em sossego”, rogava o poeta ecoando Teresa de Ávila. Não me atrevo à santidade. O jejum da quarta-feira de cinzas ou, como outrora, exigido durante toda a quaresma, é a coragem de dizer não a tudo isso que nos esgarça, retalha, fragmenta, como se múltiplos seres se atritassem no oco de nosso ser, confundindo-nos quanto ao rumo adequado a seguir.

                “Alegro-me de serem as coisas o que são.” Ser do tamanho que se é. “E rogo a Deus porque desejo esquecer essas coisas que comigo por demais discuto, por demais explico.” Não seria o racionalismo exacerbado o principal inimigo do amor?

                Ignoro se Eliot, atraído pela fé cristã, alcançou tamanha graça. Eu não. As múltiplas vozes seguem ressoando dentro de mim. Apenas me socorro no enigma intranscendente da fé e na embriaguês mística das liturgias. Penso agora nos quase 250 jovens calcinados na boate Kiss, em Santa Maria. O que faziam ali tantos jovens? Buscavam o essencial: liturgia.

                A vida é insuportavelmente atrelada ao reino da necessidade. E anseia pela gratuidade. Não se vai a uma danceteria apenas em busca de música, dança, bebida e paquera. Tudo isso pode ser mais confortavelmente desfrutado na intimidade.

                O que move centenas de pessoas à festa – na danceteria e na roça, no baile a rigor e no carnaval – é a imprescindível liturgia que nos faz transcender do reino da necessidade à esfera lúdica, onírica, mistérica, da gratuidade. A celebração intensa, coletiva, comunitária, a alegre confraternização que permite o descanso da razão (“senhora dos silêncios”, escreveu Eliot) e o alvorecer da emoção: “Fala sem palavra e palavra sem fala”. Naquele jardim conventual, em companhia do poeta, intuí a importância de jejuar de tudo aquilo que não alimenta o espírito. E deixar que ele se liberte no ímpeto glutão de tudo isso que ressoa no esplendor do coração, como o sentimento de pertença à natureza, à família humana, a Deus – matérias-primas da oração.

                Por que então pedi dispensa da liturgia comunitária na capela e me isolei no jardim com Eliot? Não recomendou Jesus evitarmos multiplicar palavras ao orar? “Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra gasta se gastou, se a palavra inaudita e inexpressa inaudita e inexpressa permanece, então, inexpressa a palavra, ainda perdura o inaudito Verbo (...) o silente Verbo”. É o que convém buscar na quaresma e que as vítimas de Santa Maria já alcançaram: o silêncio no Verbo. Eis o paradoxo da fé e o sentido desse tempo litúrgico que precede a Páscoa.

                Renúncia evidencia clima de 'guerra civil' no Vaticano

                folha de são paulo

                Decisão de Bento 16 de deixar o cargo foi encorajada pelas 'lutas fratricidas' na Cúria, afirmam especialistas
                CLÓVIS ROSSIENVIADO ESPECIAL A ROMA
                O dia seguinte ao anúncio da renúncia de Bento 16 evidenciou ainda mais o ambiente de guerra civil no Vaticano que boa parte dos especialistas aponta como a razão de fundo para a sua decisão, muito mais que o peso da idade.
                O melhor resumo está no editorial de capa do sóbrio "Corriere della Sera", assinado por ninguém menos que seu diretor, Ferruccio de Bortoli. Diz que o ato do papa "foi certamente encorajado pela insensibilidade de uma cúria que, em vez de confortá-lo e apoiá-lo, apareceu, por diversos de seus expoentes, mais empenhada em jogos de poder e lutas fratricidas".
                Reforça Massimo Franco, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres, autor do premiado "Era uma Vez um Vaticano": a renúncia do papa seria, para ele, "o sintoma extremo, final, irrevogável, da crise de um sistema de governo e de uma forma de papado".
                Bento 16 é apontado como um dos culpados por essa crise de sistema de governo até por quem, como o vaticanista Luigi Accattoli, elogia aspectos de seu papado: "Bento 16 iniciou uma grande obra de limpeza em matéria de escândalos sexuais e de finanças vaticanas, mas não conseguiu restabelecer a boa ordem na Cúria" (o órgão administrativo da Santa Sé, que coordena e organiza o funcionamento da Igreja Católica).
                A pergunta seguinte inescapável é esta: a renúncia será suficiente para pôr fim ao que Bortoli chamou de "lutas fratricidas" ou, ao contrário, servirá para acentuá-las de forma que o lado vencedor imponha seu preferido para ocupar o trono de Pedro?
                Paolo Griseri se atreve a responder, em texto para "La Repubblica", escolhendo a segunda hipótese: "O que esteve dividido durante o pontificado de Bento 16 permanecerá dividido no conclave e nos dias que o precederão".
                O mais paradoxal na guerra civil no Vaticano é que ela não se dá mais entre os chamados "progressistas" e os "conservadores".
                Estes venceram e reduziram o outro lado à impotência e/ou ao silêncio, para o que Joseph Ratzinger foi essencial, em seu longo período à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, antiga Inquisição.
                Os contornos do novo conflito são mais embaçados, até porque a Igreja Católica está impregnada de uma cultura do segredo. Mas parece tratar-se de uma disputa entre o velho e o novo.
                Um pouco nessa linha seguiu Juan Arias, o correspondente de "El País" no Brasil e que, em seu longo período no Vaticano, tornou-se um dos mais respeitados analistas da igreja no mundo.
                Arias minimiza a importância da discussão sobre se seria melhor "um papa latino-americano, africano, asiático ou de novo europeu e, mais concretamente, italiano".
                Para ele, "importante é que o sucessor de Bento 16 seja capaz de entender que o mundo está mudando rapidamente e que de nada servirá à igreja continuar levantando muros para impedir que lhe cheguem os gritos de mudança que provêm de boa parte da própria cristandade".
                É curioso que Arias, um leigo progressista, coincida com o próprio papa, notório conservador, que, no texto em que anunciou a renúncia, atribuiu-a à falta de forças para "o mundo de hoje, sujeito a mudanças rápidas e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé".
                É razoável supor que o papa estivesse se referindo a temas como a necessária limpeza dos pecados que a igreja acobertou (os padres pedófilos), o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o celibato dos padres, o papel da mulher na vida da igreja.
                Resta saber se um colégio cardinalício feito à imagem e semelhança de Ratzinger tem, entre seus membros, número suficiente de purpurados abertos ao mundo capazes de conduzir um dos seus ao trono de Pedro.


                TRANSIÇÃO NA IGREJA
                Papa promete não interferir em sucessão
                Vaticano informou que Bento 16 utiliza marca-passo 'há anos', mas descarta que isso tenha pesado na renúncia
                Santa Sé desconhece qual será o título que caberá ao atual papa após o 1º de março, quando terá renunciado
                GRACILIANO ROCHAENVIADO ESPECIAL A ROMAO papa Bento 16 não vai interferir na escolha do seu sucessor. Tampouco vai exercer qualquer função concreta no Vaticano a partir das 20h do dia 28 deste mês (17h de Brasília), quando sua saída se efetivar.
                A promessa, que contraria a avaliação da maioria dos analistas, foi feita ontem pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, um dia após o surpreendente anúncio da renúncia por motivos de debilidade física.
                O Vaticano também revelou que o pontífice de 85 anos utiliza um marca-passo "há muitos anos", mas negou que problemas cardíacos estejam relacionados à sua renúncia.
                "Não teve nenhum peso na decisão", disse Lombardi. Há três meses, o papa passou por cirurgia para trocar as baterias do aparelho cardíaco.
                Normalmente, um papa influi indiretamente na sua sucessão ao nomear os cardeais que votarão no conclave após a sua morte.
                Com a abdicação, entretanto, Bento 16 continua ocupando o trono de são Pedro enquanto as articulações para a escolha do próximo pontífice já começaram a ocorrer nos bastidores. Dos 118 cardeais que hoje compõem o colégio eleitoral, 67 foram nomeados pelo alemão.
                A situação é tão insólita no Vaticano que o próprio porta-voz não soube indicar ontem o título que caberia ao atual papa após 1º de março.
                Após deixar o posto, segundo Lombardi, o papa vai primeiro descansar na residência de verão, próxima de Roma. Depois, ele passará a viver em um convento dentro dos muros do Vaticano.
                Na prática, haverá então dois papas, um aposentado e outro no Palácio Apostólico, vivendo na cidade-Estado. O porta-voz disse que isso não criará nenhum problema porque Bento 16 usará o seu tempo para a "oração e reflexão".
                "O papa Bento 16 é uma pessoa discreta e extremamente rigorosa e não terá nenhuma interferência que provoque o menor desconforto ao seu sucessor."
                ÚLTIMOS DIAS
                Estão previstas para hoje as primeiras aparições públicas do papa desde o anúncio da abdicação. De manhã, Bento 16 concederá a audiência aos fiéis. À tarde, presidirá a celebração da tradicional missa de Quarta de Cinzas na Basílica de São Pedro.
                Até o final da semana, ele receberá párocos de Roma e os presidentes da Romênia e da Guatemala. Depois, parte para um retiro de Páscoa.
                O Vaticano prepara uma despedida em que o papa se encontre com uma grande multidão, no dia 27. Na véspera de deixar o cargo, Bento 16 presidirá sua última audiência na praça São Pedro, que pode receber centenas de milhares de pessoas.
                Segundo Lombardi, o "anel do pescador", um baixo relevo de São Pedro, será destruído após a renúncia. O anel simboliza o pontificado e é especialmente feito para cada um dos pontífices.

                  Sete dias para desatar o Orçamento-Paulo de Tarso Lyra e Adriana Caitano‏

                  Findo o carnaval, o Planalto cobrará dos aliados eleitos para os comandos da Câmara e do Senado a aprovação das contas para o ano, tendo como trunfo a reforma ministerial 

                  Paulo de Tarso Lyra e Adriana Caitano
                  Estado de MInas: 13/02/2013 
                  Brasília – Passado o retiro de carnaval na base naval de Aratu, na Bahia, a presidente Dilma Rousseff retornará a Brasília com alguns nós a desatar para que 2013 comece de maneira efetiva. O primeiro desafio será a votação do Orçamento, remarcada pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para terça-feira, dia 19. Além disso, ela deverá deflagrar a reforma ministerial necessária para incorporar o PSD ao governo, acomodar insatisfações no PMDB e reabilitar o PR.

                  Dilma queria que o Congresso tivesse aprovado o Orçamento no dia 5. Afinal de contas, foi o segundo adiamento provocado por falta de consenso entre a base aliada e a oposição — no fim de dezembro, a peça orçamentária já havia batido na trave ao ir a votação. Contaminado pela polêmica na apreciação dos vetos presidenciais, a análise foi transferida para o dia 5, data subsequente à eleição de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) à Presidência da Câmara. 

                  Não deu certo. Mais uma vez, a presidente estendeu o adiamento. Segundo conversas com pessoas próximas, ela interpretou a mudança na votação à necessidade de Renan e de Henrique darem uma demonstração de força a seus eleitores, provando que o Legislativo, daqui para frente, “não vai mais se subordinar integralmente aos interesses do Executivo”. Ambos foram eleitos em primeiro turno, fizeram discursos para dentro do Congresso. Era natural que adotassem uma postura corporativista no primeiro dia.

                  Agora, espera o Planalto, será diferente. “Tudo bem, passou a folia, passou a eleição, temos que começar a trabalhar para que o país volte a crescer”, afirmou ao Estado de Minas um interlocutor da presidente. Embora acreditem que, do ponto de vista econômico, a não votação do Orçamento até o momento não chega a ser um desastre – a Medida Provisória liberando R$ 42,8 bilhões para investimentos supre as necessidades imediatas do governo —, nunca é bom governar sem uma peça orçamentária aprovada pelo Congresso.

                  Opinião Pública Além disso, os tempos de rebeldia são curtos, analisam os aliados do Planalto. O Congresso está espremido entre uma presidente com índices astrônomicos de popularidade e um Supremo Tribunal Federal (STF) em estado de graça após o julgamento do mensalão, presidido por um ministro – Joaquim Barbosa – galgado à condição de herói nacional. “Eles (os parlamentares) não vão querer passar a impressão de que remam contra a opinião pública”, disse uma pessoa próxima à presidente.

                  Dilma também está preocupada com os rumos da base aliada. Por precaução, durante a visita feita por Henrique Eduardo Alves — protocolar e formal, sem grandes emoções —, ela perguntou ao peemedebista o que esperar do novo líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha. Ouviu um desanimado Henrique Alves responder: “Não sei”. Há muito os antigos aliados não falam a mesma língua. E o deputado potiguar ficou assustado com a celeridade com que o peemedebista fluminense exonerou Francisco Bruzzi, assessor direto da liderança do PMDB, que teria sido flagrado pela Operação Navalha, em 2007, recebendo R$ 20 mil de propina da empreiteira Gautama.

                  Na conta de Temer Segundo apurou o Estado de Minas, no entanto, Henrique Alves pode ficar tranquilo, mesmo que Eduardo Cunha cometa loucuras na liderança. Não é dele que a presidente Dilma Rousseff vai cobrar a fidelidade do PMDB na Câmara. Os alvos, se o caldo entornar, são o vice-presidente Michel Temer e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O primeiro empenhou a palavra à presidente de que “qualquer líder eleito seria fiel ao Planalto”. E Cabral foi ainda mais específico. “Se eleito, Eduardo Cunha será fiel ao Planalto.” 

                  Toma lá um cargo A presidente ensaiou também , na semana passada, uma reaproximação com PR. Recebeu primeiramente o senador Blairo Maggi (MT), que presidirá a Comissão de Agricultura, Meio Ambiente e Fiscalização do Senadoe sempre foi o nome preferido por Dilma caso o PR retorne à Esplanada. Depois, recebeu o atual presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM), e o líder do partido na Câmara, Anthony Garotinho (RJ). Sinalizou que deseja ter o partido mais perto do governo, mas ainda não prometeu nada. “Foi uma conversa muito tranquila. A ideia do partido é esperar a reforma ministerial e ver se ela vai nos colocar em algum ministério. Se sim, o partido vai colher os nomes possíveis que tenham o perfil do ministério que ela escolher”, declarou ao Estado de Minas o deputado Lincoln Portela (MG).

                  O atual titular dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, sempre foi visto como um “forasteiro” pelo PR, por não ter militância partidária. Dilma, no entanto, gosta dele. Mas Passos tem se sentido desprestigiado nos últimos tempos, com a criação da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), responsável por conduzir as concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. “Dilma não prometeu nada para ninguém. Eles (Alfredo e Garotinho) vieram aqui porque Maggi foi recebido em uma dia e eles não queriam parecer desprestigiados um ano antes das eleições”, desconversou um aliado da presidente.

                  Enquanto isso...

                  … Renan terá que controlar crise

                  O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), terá de retomar as negociações para contornar o foco da primeira crise do mandato: a votação dos 3.059 vetos presidenciais engavetados até hoje na Casa. No retorno dos trabalhos do Legislativo, a tentativa de votar o Orçamento Geral da União deste ano naufragou diante da insistência do Congresso em esvaziar a pauta de vetos antes de deliberar a proposta orçamentária. A posição da Casa é ainda uma reação à liminar concedida em dezembro do ano passado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, determinando que vetos presidenciais só poderiam ser analisados em ordem cronológica. Para evitar novos entraves, a Advocacia-Geral da União (AGU) quer que o Supremo se pronuncie formalmente sobre o rito para a aprovação da peça orçamentária. O governo já caminha para entrar no terceiro mês do ano executando apenas 1/12 dos recursos de custeio da União e teme o impacto financeiro da derrubada de vetos como o que derrubou o fim do fator previdenciário.

                  Os jardins de Burle Marx pedem socorro-Sérgio Rodrigo Reis‏

                  Joia do complexo modernista da Pampulha, os jardins de Burle Marx pedem socorro. Prometidas para setembro, as obras de revitalização foram adiadas para depois do período chuvoso 

                  Sérgio Rodrigo Reis
                  Estado de Minas: 13/02/2013 
                  O complexo da Lagoa da Pampulha reúne algumas das mais belas obras de arte do Brasil, como os painéis de Candido Portinari (1903-1962), na Igreja de São Francisco de Assis, inspirados na Via Sacra; e esculturas de Alfredo Ceschiatti (1918-1989), August Zamoyski (1893-1970) e de José Pedrosa (1915-2002), instaladas no Museu de Arte da Pampulha (MAP). Reconhecidos internacionalmente e bem conservados, esses trabalhos convivem com o estado precário dos jardins de Burle Marx (1909-1994), outra joia do conjunto modernista. Anunciadas pela Prefeitura de Belo Horizonte em meados do ano passado, a restauração e manutenção por cinco anos da obra paisagística que emoldura os prédios de Oscar Niemeyer (1907-2012) foram muito comemoradas. Entretanto, ali apenas começava uma novela.

                  O festejado projeto que revitalizaria a obra do paisagista e artista plástico Burle Marx, criada no início dos anos 1940, ficou a cargo de Ricardo Lana. Autor do livro Arquitetos da paisagem, ele se baseou em documentos, plantas originais e, no caso de espaços dos quais não há registros antigos, em interpretações de fotos, depoimentos, recortes de jornais e revistas.

                  Arquiteto e urbanista, Lana explica que seu objetivo é fazer renascer no entorno de prédios como o museu, a Casa do Baile e a igrejinha a obra de um dos maiores paisagistas do século 20. Burle Marx, lembra o especialista, inspirou-se nas artes plásticas e na vegetação nativa para criar um paisagismo que rompia com influências internacionais. Entretanto, com dinheiro e projeto de reforma definidos, a iniciativa ainda não saiu do papel por causa da burocracia. 

                  “Quem está perdendo é a cidade. Trata-se de algo importantíssimo, porque se refere a um dos primeiros jardins modernistas do mundo. Burle Marx inova aqui em BH, usando a vegetação de campos rupestres e se adequando totalmente ao espírito modernista”, salienta Lana. De acordo com ele, várias instâncias do poder público retardaram essa revitalização. “Eles não têm deixado o projeto caminhar. Todo mundo dá um palpite”, reclama. O paisagista explica que as obras deveriam ser iniciadas em setembro. Por conta disso, agendas dos equipamentos culturais onde haverá intervenções, como a Casa do Baile e o Museu de Arte da Pampulha, foram modificadas. “O projeto está saindo de graça e abarca tudo: recomposição dos jardins, irrigação, iluminação e mobiliário. Por causa da burocracia, está se perdendo esta oportunidade”, alerta.

                  Além da ação da Prefeitura de Belo Horizonte e da vontade de Ricardo Lana, contratado como consultor técnico, a revitalização exige uma série de autorizações. Como se trata de intervenção em complexo tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a documentação e a autorização podem demorar meses. Só no Iphan, o projeto tramita desde junho. Não saiu do papel até agora, de acordo com Ricardo Lana, porque a proposta incluía adequações com o objetivo de tornar os jardins aptos ao uso.

                  “Não estamos discutindo questões específicas ligadas ao paisagismo, pois Ricardo Lana é um especialista reconhecido na área, mas questões formais”, alega Rafael Arrelaro, coordenador técnico da representação do Iphan em Minas. Durante a entrevista ao EM, ele anunciou a aprovação do projeto.

                  A decisão do Iphan é o sinal verde para a reforma. “Já podem começar”, avisa Rafael Arrelaro à Prefeitura de Belo Horizonte. O projeto original foi aprovado no Iphan com modificações. De acordo com Arrelaro, elas qualificam as intervenções propostas e as justificam. O especialista reconhece a importância da iniciativa. “Recuperados, os jardins poderão atrair novamente a atenção das pessoas para os bens no entorno da orla da Pampulha. Hoje, infelizmente e por motivos diversos, vários deles perderam a atratividade. Além da revitalização dos jardins e do museu de arte, a prefeitura prometeu inaugurar a Casa Kubitschek e despoluir a lagoa. Tudo isso deve trazer qualidade para aquele conjunto”, afirma Arrelaro. 

                  Carlos Henrique Bicalho, diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, diz que não há risco de a revitalização não ser realizada. Agora, explica ele, faltam apenas a oficialização da aprovação do Iepha e o fim do período chuvoso. Bicalho atribuiu o atraso à complexidade da operação. “Restauração de jardins modernos não é iniciativa usual. De jardins historicistas, como os ingleses e os franceses, temos muitos exemplos, mas a restauração dos modernos é mais rara. Várias questões tiveram que ser elucidadas antes de o trabalho ser apresentado efetivamente. Os trâmites estão em andamento, mas precisamos respeitar o tempo necessário, pois a iniciativa é complexa”, conclui.


                  ENTENDA O CASO
                  A oportunidade de revitalizar e recuperar os jardins criados por Burle Marx na orla da Lagoa da Pampulha surgiu depois de acordo firmado entre a Prefeitura de Belo Horizonte e uma construtora. Como medida compensatória a dano que causou na capital, a empresa concordou em arcar com os custos do trabalho, cerca de R$ 4 milhões. Concluído o projeto, a cargo do urbanista Ricardo Lana, foi necessário obter a aprovação de órgãos municipais, estaduais e federais ligados à área de patrimônio. O início das obras estava previsto para setembro, mas isso não ocorreu devido a entraves burocráticos. A liberação por parte do Iphan só foi confirmada na semana passada, depois de a reportagem do Estado de Minas questionar técnicos do órgão sobre a demora.