terça-feira, 15 de outubro de 2013

A batalha das biografias - BRUNO GÓES

O Globo 15/10/2013

Debate sobre necessidade de autorização prévia para a publicação de obras do gênero ganha mais vozes divergentes; em artigo para O GLOBO, Gilberto Gil defende a posição do Procure Saber, enquanto Joaquim Barbosa e artistas como Ivan Lins e Frejat se dizem contra proibição


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, afirmou ser contra qualquer tipo de proibição ou censura a biografias no Brasil. Barbosa tratou da polêmica ontem, defendendo a liberdade de publicação e chamando atenção para o fato de, segundo ele, não haver censura prévia no país. Também ontem, o Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música (GAP) — que reúne nomes como Ivan Lins, Sérgio Ricardo, Fernanda Abreu, Frejat, Leoni, Tim Rescala, Leo Jaime, Dudu Falcão e Mu Carvalho  — divulgou nota ontem declarando-se  “contrário à necessidade de autorização para biografias’.

Barbosa falou sobre o tema durante a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, no Rio. Ele sugeriu, como solução para o debate, a liberação das biografias sem restrição alguma, mas também a determinação de uma multa “pesada” para casos em que a honra ou a privacidade de um biografado seja violada.  — o ideal seria a liberdade total de publicação, com cada um (autor e editora) assumindo os riscos.

Quem causar dano deve responder financeiramente — disse o presidente do STF.  As declarações de Barbosa e do GAP são uma resposta à polêmica que vem sendo discutida no país há quase duas semanas: de um lado, a Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel) moveu no STF Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra os artigos do Código Civil que exigem necessidade da autorização dos biografados  para que um livro seja publicado; do outro, o grupo Procure Saber, que representa Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos, Djavan, Erasmo Carlos e Paula Lavigne, entre outros, veio a público defendendo o direito à privacidade.  

O caso no STF está sob responsabilidade da ministra Cármen Lúcia e ainda não há data para que o tribunal dê seu parecer. Hoje, de acordo com o artigo 20 do Código Civil, qualquer cidadão pode impedir que biografias sobre si sejam publicadas “se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais’  — Sinto um certo desconforto na situação em que um grande artista, músico ou compositor se depara subitamente com uma biografia devastadora sobre a sua vida e a sua intimidade.

É sobre isso que se deve cuidar, ninguém está interessado em proibir simplesmente a forma de produzir. Eu defendo, nestes casos, indenização pesada — disse Barbosa. 

ASSOCIAÇÕES DISCORDAM PELA PRIMEIRA VEZ 

Já o ponto de vista do GAP foi divulgado numa nota nas redes sociais. O grupo, fundado há dez anos, foi aliado do Procure Saber, criado neste ano, na luta por mudanças no direito autoral no Brasil, que culminou com uma nova lei de gestão coletiva, sancionada em agosto. Agora, é a primeira vez em que as duas associações discordam publicamente.

O texto do GAP, porém, pede mais atenção para discussões sobre defesa da privacidade na legislação brasileira e ainda sugere que sejam debatidas as formas de se aplicarem as indenizações por dano moral em casos de calúnia e difamação.  Diz a nota: “O GAP esclarece que é a favor da liberdade de expressão e contrário à necessidade de autorização para biografias e à obrigatoriedade de pagamento aos biografados.

Ao mesmo tempo, o GAP manifesta sua solidariedade aos integrantes do Procure Saber que receberam ataques, muitas vezes de cunho pessoal, desnecessários para a discussão pública do assunto. (...)  “o impulso que o tema ganhou nos últimos dias é muito oportuno. Este é um bom momento para discutirmos se as salvaguardas que a lei brasileira dispõe para a defesa da privacidade são adequadas. 


“Também é fundamental debater se as indenizações por dano moral vêm cumprindo seu papel, e ainda como obter maior homogeneidade no exame dos fatores que devem ser considerados para uma eventual condenação e para sua quantificação. São necessárias, ainda, novas regras para o direito de resposta (. . .)‘.

O reequilíbrio das dívidas com a União - Eduardo Paes e Fernando Haddad

O Globo - 15/10/2013

Está em discussão neste momento, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 238, que reequilibra os termos contratuais das dívidas entre a União e os estados e os municípios brasileiros, sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Na década de 1990, o governo federal assumiu e refinanciou as dívidas dos entes federativos. Em contrapartida, celebrou contratos com os entes da Federação, refinanciando o saldo dessas dívidas em 360 meses, com encargos de 6% a 9% ao ano, acrescidos de atualização monetária pelo IGP-DI.

À época, tais encargos eram inferiores às taxas com que a própria União se financiava e essa diferença era intencional, como forma de colaborar para o saneamento fiscal de estados e municípios. Isso pode ser comprovado pela própria mensagem presidencial 154, de 3 de agosto de 2000, que acompanhou o projeto: "Como a taxa de juros paga sobre a dívida renegociada é menor que o custo de captação da União, existe um subsídio..."

Entretanto, com a redução significativa dos juros reais no país e do custo de captação da União, acabou ocorrendo uma inversão desse cenário, que se transformou num diferencial de taxas favorável à União. Enquanto a taxa Selic acumulada entre julho de 1999 e dezembro de 2012 foi de 649%, os encargos acumulados aplicados na cidade do Rio de Janeiro foram de 940%. Outra evidência da distorção do espírito do contrato é que a penalização contratual por eventual inadimplência é a substituição do encargo pela Selic mais i% ao ano. Ou seja, nos termos atuais, São Paulo paga aproximadamente 16% ao ano de encargos (IGP-DI + 9% de juros). Mas, se ficasse inadimplente, o contrato mudaria para aproximadamente 10%.

O PL 238 permite a readequação dos saldos devedores dos entes que tiveram encargos acumulados superiores ao custo básico de captação de recursos da União (Selic) e muda os encargos futuros para IPCA mais juros reais de 4%, limitado ao teto da Selic.

É importante frisar que não estão sendo concedidos novos benefícios a estados e municípios, e sim, apenas, readequando-os para que ao menos não sejam instrumentos de geração de lucro por parte da União. No caso do município de São Paulo, nos termos atuais, a cidade continuará sem capacidade de investimento pelos próximos 20 anos (hoje, a parcela devida anualmente da dívida é mais que o dobro dos investimentos feitos) e, mesmo assim, não conseguirá pagar sua dívida até o fim do contrato em 2030.

A recomposição das condições originais não é favor, refinanciamento, anistia ou remissão. E não conflita, portanto, com o princípio expresso no artigo 35 da LRF, que veda refinanciamentos a entes da Federação. Não se pode homenagear a forma em detrimento do conteúdo. Não se está alterando a substância dos contratos.

Por último, vale a pena mencionar que não existe risco de descontrole em decorrência desta proposta. Estados e municípios continuarão proibidos de emitir valores mobiliários e os montantes de empréstimos permanecerão subordinados a Programas de Acompanhamento Fiscal rígidos.


Em resumo: a aprovação desse projeto de lei permitirá o reequilíbrio de contratos que há tempos destoam dos objetivos que nortearam sua celebração, readequando-os ao objetivo primordial da Lei de Responsabilidade Fiscal, buscando sanear no longo prazo as finanças e aumentando a capacidade de investimento dos entes que estão mais próximos das demandas cotidianas da população brasileira.

MARIA ESTHER MACIEL » Frankfurt à brasileira‏

O que os escritores levaram para suas discussões foi um Brasil múltiplo


Estado de Minas: 15/10/2013 




 
O Brasil tomou conta da cidade de Frankfurt na semana passada. O verde-amarelo pôde ser visto em grandes painéis, em diferentes prédios no Centro e em outras áreas distantes. Exposições de arte, peças teatrais, mostras de filmes, shows, performances e debates literários ocorreram em diversos museus, galerias, teatros, salas e auditórios. Brasileiros circulavam pelas ruas, estavam nos trens de metrô e nos pontos de ônibus. Tudo isso, graças à homenagem recebida pelo Brasil na Feira do Livro de Frankfurt deste ano.

O Pavilhão do Brasil, montado num espaço privilegiado da feira, parecia uma instalação de arte. Todo o cenário foi construído de forma a prestar um impactante tributo ao papel e ao livro impresso, em plena época digital. Não se via nenhum daqueles clichês nacionalistas que costumam aparecer em eventos brasileiros para estrangeiro ver. O país em destaque não era folclórico, nem caricatural. E isso foi, a meu ver, um grande acerto da organização. Já era tempo de levarmos ao mundo um país que não se resume a carnaval, praia e futebol.


Aterrissei em Frankfurt na manhã da segunda-feira, dia 7, sob uma chuva fina e descontínua. Ao chegar ao hotel, a primeira pessoa que vi e com quem conversei foi o escritor Luiz Ruffato, que faria, dois dias depois, o contundente e corajoso discurso de abertura da feira. Mais tarde, encontrei-me com diversos outros escritores integrantes da comitiva brasileira, e ainda tive a sorte de sair para jantar com a amiga mineira Ângela Lago e a poeta Alice Ruiz. Fomos a um aconchegante restaurante alemão perto do hotel. E, sob os efeitos do vinho, conversamos, entre outras coisas, sobre os artifícios e sacrifícios a que têm se rendido muitas mulheres maduras hoje em nome da beleza. Tingir os cabelos brancos, por exemplo. Ângela e Alice não tingem os seus, e estão lindas.


Os dias que se seguiram foram intensos. Muitas mesas de discussão, leituras de textos, coquetéis e eventos culturais. Meu filho, que está morando em Londres, chegou na sexta-feira, tornando meus dias em Frankfurt mais felizes. A cidade – oscilando entre horas de chuva e manhãs de sol – convidava aos passeios pelas ruas e pelos museus. Mas só tínhamos tempo, mesmo, para as atividades da feira, e era necessário deixar as outras coisas – como a visita à casa de Goethe – para depois.


O Brasil presente nas mesas de debate da Feira de Frankfurt também não tinha muito a ver com a imagem que os europeus cultivaram, por tanto tempo, da cultura brasileira. O que os escritores levaram para suas discussões foi um Brasil múltiplo, contemporâneo e consciente de suas próprias contradições. Uns se voltaram mais para questões políticas; outros, para a literatura brasileira contemporânea e para questões relativas aos seus próprios trabalhos literários. Muitas leituras de textos foram feitas, com traduções para o alemão ou o inglês.


Ainda fico aqui por mais três dias, para participar de um evento na universidade. E se der, quero ir de trem a algumas cidades próximas, como Heidelberg (uma das mais lindas e cultas cidades alemãs) e Bingen (terra de santa Hildegarda). No mais, é arranjar umas horinhas para curtir os museus, os parques e os bons restaurantes, com direito às incríveis cervejas que só os alemães sabem fazer.

Tv Paga

TV paga 


Estado de Minas: 15/10/2013


 (Ane Hinds/Divulgação )

Filho de peixe


Se é verdade que “quem sai aos seus não degenera”, entao os fãs do pernambucano Lenine devem conferir hoje o programa Experimente, às 18h, no Multishow. Neste episódio, Beto Lee vai receber João Cavalcanti (foto), cantor e compositor do grupo de samba Casuarina. Filho de Lenine, João está lançando seu primeiro disco solo, Placebo. Segundo ele, esse disco tem um pouco de tudo: tango, viola, rock, samba, pop e frevo.

Hockney revela alguns
truques dos pintores


Da música para as artes plásticas, o canal Arte 1 apresenta esta noite, às 21h30, o documentário Conhecimento secreto. O artista inglês David Hockney pesquisou como os pintores do passado representaram o mundo de forma tão precisa e descobriu que artistas como Caravaggio usaram espelhos e lentes para criar. A direção é de Randall Wright.

Os contos de terror
estão de volta na Fox


Para os fãs de séries de terror, a Fox caprichou com as estreias das novas temporadas de The walking dead, às 22h30, e American horror story, às 23h15. No caso da saga dos mortos-vivos serão oito episódios numa primeira leva de 16 n este quarto ano, narrando as aventuras dos sobreviventes de um apocalipse zumbi. Já no terceiro ano de American horror story, batizado “Coven”, serão 13 episódios, com a participação de estrelas como Kathy Bates, Angela Basset e Emma Roberts, além de Jessica Lange, Sarah Paulson e Frances Conroy, entre outros.

Psiquiatra enfrenta o
provocador Abujamra


Terror por terror, o médico psiquiatra Luís Fernando Tófoli que se prepare para enfrentar Antônio Abujamra no programa Provocações, às 23h30, na Cultura. Na entrevista, Tófoli vai falar sobre drogas, indústria farmacêutica, distúrbios psiquiátricos e a relação entre médico e paciente. Mais cedo, às 21h30, no Canal Brasil, José Wilker conversa com Edson Celulari em mais uma edição de Palco e plateia.

Boas alternativas no
pacotão de cinema


Por falar em Canal Brasil, Eduardo Vaisman dirige Eduardo Moscovis, Malu Galli e Felipe Abib no drama 180°, vencedor do Kikito de melhor filme, eleito pelo júri popular no Festival de Gramado de 2010. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais seis boas opções: O carro de Jayne Mansfield, na HBO; Jogo de espiões, na MGM; 88 minutos, no ID; 007 – Operação Skyfal, no Telecine Premium; Gigantes de aço, no Telecine Action; e Em um mundo melhor, no Telecine Cult. Outras atrações da programação: O reino, às 22h30, no Megapix; Espanglês, às 23h, no Comedy Central; e Moulin Rouge: Amor em vermelho, à meia-noite, na Cultura.

Roda da vida - Sérgio Rodrigo Reis

Roda da vida 


Centenário de G.T.O. é celebrado com exposição que será aberta amanhã no Centro de Arte Popular - Cemig. Trabalho do escultor mineiro é disputado no mercado de arte



Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 15/10/2013 


Trabalhos de G.T.O mesclam inspiração popular com elementos universais, como as mandalas, e permitem leituras religiosas e filosóficas ( Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Trabalhos de G.T.O mesclam inspiração popular com elementos universais, como as mandalas, e permitem leituras religiosas e filosóficas


“Tenho que pôr tudo aí dentro de minha arte, bom e mau, mau e bom, porque tem de tudo.” A frase do escultor Geraldo Teles de Oliveira, o G.T.O., resume bem sua obsessão em buscar formas para representar uma relação particular com a arte. Nascido em Itapecerica, Centro-Oeste de Minas, em 1913, ele se notabilizou com uma produção visual singular, gestada no ateliê em Divinópolis, terra que o adotou desde criança e onde morreu em 1990, deixando legado até hoje intrigante e disputado, peça a peça, pelo mercado. No ano em que se lembra seu centenário, o Centro de Arte Popular – Cemig preparou uma exposição que pretende, em vários aspectos, rever a produção do artista.

A mostra, que será aberta ao público amanhã, com curadoria do artista José Alberto Nemer, é como um retrato da obra de G.T.O.. Contará com 30 trabalhos, esculpidos em madeira, com dimensões entre 30cm e 260cm, além de uma curiosidade: uma peça rara executada em pedra-sabão. A criação do artista, como bem explica o curador, é espécie de “síntese da miscigenação brasileira, na qual o artista retrata seus antepassados indígenas, misturados a escravos, senhores, reis, soldados e outras figuras. As composições têm, quase sempre, uma simetria ritualística, onde os personagens se embaralham numa ordem de absoluta harmonia. São totens, rodas, capelas, pequenas cenas oníricas e enigmáticas”.

O resultado das esculturas, que tanto impressionam colecionadores, galeristas, críticos e o público, veio de um processo intuitivo. Autodidata, G.T.O. iniciou-se na arte com uma história parecida aos pares de ofício. Certo dia, aos 55 anos, sonhou em construir uma grande igreja. Daí em diante, iniciou a busca pela representação na madeira das referências vindas de sonhos, como um legado divino e uma missão. A trajetória é um pouco mais conturbada. Aos 28 anos, saiu de Divinópolis para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como moldador, funileiro e fundidor. Ao retornar para a cidade mineira, em 1951, conseguiu emprego como vigia noturno no Hospital São José, onde foi internado para tratamento de saúde. Um pároco, então, encomendou-lhe a que seria a primeira escultura, uma imagem para a Igreja do Bom Jesus.

Não demorou para aparecer a forma que o tornou conhecido. O que fazia era recorrer à figura humana – imagem de si mesmo – esquemática e repetida, inserida dentro de símbolos geométricos do círculo ou do quadrado, para conceber esculturas em forma de totens ou mandalas. Vez por outra, subvertia o conceito, lembrando-se da imagem da igreja de seu sonho seminal, para conceber capelas com a mesma iconografia. Também recorria às formas das correntes como metáforas de elos e ainda às figuras humanas. Frequentemente, concebia figuras cuja mão espalmada tocava a outra figura, simbolizando algo como o ciclo da vida. A relação com o divino também o inspirava. “Este aqui é Jesus Cristo trazendo o povo nas barbas”, dizia apontando para iconografia recorrente.


Com variados formatos e dimensões, peças do escultor sempre traduzem visão onírica do mundo ( Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Com variados formatos e dimensões, peças do escultor sempre traduzem visão onírica do mundo


GTO 100 Anos
Exposição em homenagem ao centenário do artista Geraldo Teles de Oliveira (G.T.O.). Abertura amanhã, às 10h, no Centro de Arte Popular – Cemig (Rua Gonçalves Dias, 1.608, Lourdes). A mostra, com entrada gratuita, pode ser visitada até 29 de dezembro, às terças, quartas e sextas, das 10h às 19h. Quintas, das 12h às 21h. Sábados e domingos, das 12h às 19h. Informações: (31) 3222-3231.



PALAVRA DE ESPECIALISTA » Lógica do sonho


O que mais chama a atenção na obra de G.T.O é a permanência no tempo. Quanto mais o tempo passa, mais o trabalho se torna singular e significativo. Ao mesmo tempo em que se inspira em personagens da etnia brasileira, como o índio, o negro e o branco, sua criação tem componentes absolutamente oníricos. A talha das mandalas e as rodas trazem um componente universal, que pode ser encontrado em qualquer parte do mundo. O que ele faz é unir aspectos da brasilidade aos da identidade nacional por meio do sonho e da talha. A exposição foi feita para revelar esses aspectos. Fico surpreso com a contundência, a força de imaginação e com o domínio técnico para fazer representar o seu sonho.

José Alberto Nemer
Artista plástico e curador


Três perguntas para...


Mário Teles
Filho de G.T.O.



Qual a lembrança mais forte do seu pai?
Foi de um fato que ocorreu em 1974. Meu pai e eu participamos de uma exposição no Palácio das Artes. Ganhou um prêmio internacional, mas, por motivo de saúde, não o recebeu. Como não foi, adiou-se três vezes a entrega, por oito meses. Daí em diante se tornou um artista conhecido mundialmente, mesmo sem ter estudo, sem ver trabalho de ninguém, sem conhecer nada de arte até os 55 anos. Isso foi em 1965.

Como ele criava suas esculturas?
O pai criava índios, pau de sebo, pirâmide. Depois começou a fazer os homenzinhos cumprimentando o povo. A roda da vida se tornou conhecida no Brasil. À medida que o mundo vai girando o povo vai girando junto. Era uma pessoa humilde, simples e não tinha estudo. O que vinha na cabeça colocava no papel, no papelão, e ia criando. Porque não tinha madeira na hora. Depois é que ia buscar. Dizia que era Deus quem lhe ensinava. Dizia que Deus lhe deu criatividade para conseguir manter o filho.

Por que a obra dele precisa ser lembrada?

Por ser uma pessoa simples e humilde e ter toda a força de vontade de expressar sua arte. Não se pode esquecer um artista como ele. Deixou seu nome na história. A luta agora é para que a Prefeitura de Divinópolis disponibilize um funcionário da Secretaria de Cultura para ajudar a abrir o museu. Ele fica fechado e só abro quando me ligam. 

Os ciclos da pele - Vilhena Soares

Ao analisar células-tronco epiteliais, espanhois descobrem que elas se regeneram à noite e se protegem de agentes externos durante o dia, mecanismo que pode ajudar em terapias mais eficazes contra o câncer e o envelhecimento


Vilhena Soares

Estado de Minas: 15/10/2013 


A exposição ao sol é um dos fatores externos de envelhecimento da pele  (Breno Fortes/CB/D.A Press - 19/6/11)
A exposição ao sol é um dos fatores externos de envelhecimento da pele
A pele segue um relógio biológico que regula quando ela deve “trabalhar” e em qual momento deve se proteger. É o que descobriram pesquisadores da Espanha. Os cientistas realizaram um experimento com células-tronco da pele de ratos e de humanos e perceberam que, em ambos os casos, essas estruturas fazem a regeneração do tecido epitelial à noite e encerram as atividades durante o dia para evitar os efeitos prejudiciais dos raios ultravioleta (UV). Os pesquisadores acreditam que, ao desvendar por inteiro o funcionamento dessas células, novos tratamentos que visam {a proteção da pele, contra o câncer e o envelhecimento, por exemplo, podem surgir.

 O trabalho, publicado sexta-feira na revista americana Cell Stem Cell, é fruto dos experimentos conduzidos por pesquisadores do Centro de Regulação Genômica de Barcelona. Salvador Aznar Benitah, professor do centro e um dos cientistas envolvidos no projeto, defende a importância da descoberta. “Isso é significante porque podemos observar que os tecidos precisam de um relógio interno para se manterem saudáveis”, justificou, em um comunicado à imprensa.

Na primeira etapa da pesquisa, os cientistas observaram o funcionamento das células-tronco da pele de ratos. Usando marcadores, notaram que, durante a noite, ocorria a duplicação do DNA dessas estruturas por meio da divisão celular. Esse processo resulta na substituição da pele velha por nova. Os pesquisadores desconfiaram que o mesmo sistema poderia ser detectado em humanos e conseguiram, também em laboratório, comprovar a suspeita. “Nosso estudo mostra que as células-tronco humanas de pele, assim como a dos ratos, têm um relógio interno que lhes permite saber com muita precisão a hora do dia e isso as ajuda a saber qual é o melhor momento para executar a função correta”, relatou Benitah.

Desajustes Para o professor Alfredo Miranda Goes, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho tem um potencial promissor no combate a problemas na pele, mas é preciso um maior detalhamento desse calendário de atividades celular. “Ao manipular essas células, eles conseguiram provar que, no ciclo de 24 horas, elas trabalham à noite e se resguardam durante o dia, mas eles mostraram também que esse ciclo sofre leves arritmias, pequenas interrupções de funcionamento, o que dificulta ditar um nível fixo”, detalha.

Segundo Goes, o estudo espanhol mostra que existe uma homeostasia na pele, um conjunto de fenômenos de autorregulação em busca da integridade da função fisiológica. O fenômeno pode servir de base para monitorar como devemos lidar com o tecido epitelial. “Com essas informações, é possível contribuir para o tratamento do envelhecimento da pele, das formações de tumor, além de criar estratégias de proteção”, diz, lembrando, em seguida, a recomendação já consolidada de que os raios solares da manhã são mais benéficos que os da tarde.

Dermatologista e coordenador do Departamento de Biologia Celular, Imunologia, Genética e Medicina Regenerativa da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Marco Andrey Cipriani Frade avalia que o estudo ajuda a enriquecer investigações na mesma área. Mas o especialista não acredita que o estudo deverá contribuir para outras estratégias além das já usadas atualmente para “defender” a pele.


“A comprovação desses efeitos em células-tronco humanas apenas esclareceram os mecanismos de proteção e diferenciação dos queratinócitos (células da pele que produzem queratina) frente aos estímulos do ambiente. No entanto, o retardamento do envelhecimento e a prevenção do câncer cutâneo continuam relacionados às ações preventivas já bem estabelecidas na literatura, como evitar o tabagismo e o sedentarismo, e a proteção solar precoce”, detalha.

Maior incidência
O câncer de pele é o mais frequente no Brasil. Corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O melanoma cutâneo tem origem nas células produtoras de melanina, os melanócitos, e é mais comum em adultos brancos. No ano passado, foram diagnosticados 6.230 casos da doença. Mais frequente, o câncer de pele não melanoma tem baixa mortalidade e tumores de diferentes linhagens. O carcinoma basocelular, responsável por 70% dos diagnósticos, começa com uma lesão (ferida ou nódulo) e evolui lentamente. Já o carcinoma epidermoide, que representa 25% dos casos, também surge por meio de uma ferida, mas progride com velocidade e vem acompanhado de secreção e coceira. Ao todo, foram diagnosticado 134.170 casos de câncer de pele não melanoma no ano passado no Brasil.


"O retardamento do envelhecimento e a prevenção do câncer cutâneo continuam relacionados às ações preventivas já bem estabelecidas na literatura, como evitar o tabagismo e o sedentarismo
"
Marco Andrey Cipriani Frade,
dermatologista


Saiba mais
Ações externas e naturais
O envelhecimento da pele é provocado pela passagem natural do tempo ou por fatores ambientais, como a exposição ao sol, tabagismo e falta de exercícios físicos. No primeiro caso, a pele acompanha o processo ocorrido em outros órgãos do corpo humano. Ao longo dos anos, as células têm a capacidade de renovação reduzida e cai a produção das fibras de colágeno e elastina, que dão firmeza e tonicidade. A pele, então, perde elasticidade e fica mais fina e flácida. As glândulas sudoríparas também têm a atividade reduzida, o que torna a pele mais seca, e há uma redução da microcirculação sanguínea, causando mudanças na vitalidade e na luminosidade.No caso do envelhecimento provocado por fatores externos, o efeito sobre o tecido epitelial é cumulativo e potencializa, principalmente, o surgimento de rugas e manchas. As rugas de expressão ficam mais evidentes devido ao envelhecimento natural da pele. Diariamente, uma pessoa faz em média 1.500 contrações faciais, que marcam a epiderme na forma de linhas finas. 
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica 

15%
do peso corporal é constituído pela pele, o maior órgão do corpo humano


Curando queimaduras

Vilhena Soares

Outro estudo divulgado na semana passada sugere o uso de células-tronco para intervenções na pele. Cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, usaram essa estrutura para potencializar a recuperação de queimaduras. Os experimentos ainda não foram feitos com humanos, mas apresentaram resultados promissores em ratos.

A ação de uma proteína chamada hypoxia 1 (HIF-1 ), responsável pela liberação de células-tronco, explica o benefício. Por meio de terapia gênica, os cientistas manipularam e potencializaram a função da HIF-1 em camundongos idosos. “Mudamos o sistema dela para alcançarmos melhor cicatrização de queimaduras”, explica John Harmon, um dos pesquisadores do estudo e professor do Departamento de Cirurgia da faculdade americana. “Os animais que receberam a terapia de combinação mostraram um melhor fluxo de sangue nos vasos sanguíneos que chegavam às feridas.”

Harmon explica que a pesquisa terá continuidade e que a intenção é usar a terapia em diferentes tipos de ferimento. “O nosso tratamento é especialmente projetado para melhorar a cicatrização em idosos. Trabalhamos nesses experimentos com o foco em queimaduras, mas esperamos que essa estratégia possa funcionar para muitos tipos de feridas, incluindo as úlceras do pé, que são um grande problema para as pessoas com diabetes.”

Para Marco Andrey Frade, estudos que buscam o tratamento de feridas podem trazer bastantes avanços em tratamentos dermatológicos, apesar de ainda serem incipientes na ciência.

“Cabe destacar os trabalhos envolvendo cicatrização de feridas cutâneas. Na cirurgia plástica, por exemplo, há estudos que utilizam células-tronco derivadas de células adiposas para melhorar a recuperação em lipoenxertia (enxerto de gordura) e reconstrução de mama. Os resultados, no entanto, ainda são bastante preliminares e têm caráter de investigação”, complementa.