sábado, 3 de agosto de 2013

Quadrinhos - Laertevisão

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
QUASE NADA      FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
HAGAR      DIK BROWNE
DIK BROWNE

Como criar memória falsa - Fernando Reinach

Estado de São Paulo
Fernando Reinach
Imagine que você vai visitar um local desconhecido, um templo no Tibete. No dia seguinte, em um outro lugar, usando um equipamento instalado na sua cabeça, eu ativo os milhões de neurônios do seu hipotálamo que guardam as memórias formadas durante sua visita ao templo. No momento em que essas memórias são reativadas, você recebe um choque elétrico. No terceiro dia voltamos ao templo, e você, com medo, se recusa a entrar. Eu pergunto a razão e você afirma, apavorado: "Na última vez que estive aqui tomei um choque. Claro que não vou entrar novamente".
Duas memórias, o templo e o choque, adquiridas em locais diferentes, em dias diferentes, foram combinadas em única memória, a de que você levou um choque quando visitou o templo. Uma falsa memória foi criada em seu cérebro, e por muitos anos você vai ter medo de visitar templos. Ficção científica? Não, um experimento muito semelhante, feito com camundongos, foi descrito pelo grupo de Susumo Tonegawa, um prêmio Nobel que trabalha no MIT.
Primeiro os cientistas construíram um camundongo transgênico que tem em todas as suas células um interruptor (na verdade um gene que funciona como um interruptor, capaz de ligar ou desligar outros genes). Esse interruptor permanece desligado quando o animal ingere Dox (deoxyciclina). Quando o Dox é retirado da dieta, o interruptor é ligado.
Animais contendo esse interruptor foram criados na presença de Dox (interruptor desligado) desde a infância. Quando adultos, os camundongos foram operados, seu crânio foi aberto e um pedaço de DNA contendo um gene chamado ChR2-mCherry (CR2) foi injetado na região do cérebro responsável pela formação de memórias. Durante a operação, além de injetar o CR2, é implantada uma fibra óptica capaz de iluminar o local do cérebro que recebeu a injeção. Finda a operação, o rato volta para a gaiola.
O CR2 só é ativado quando o interruptor está ligado (falta de Dox na dieta) e ele tem duas funções. Quando ligado, o CR2 se incorpora às células do cérebro que estão ativas. Após ter sido incorporado aos neurônios, ele é capaz de ativá-los quando é atingido por um feixe de luz. Essas duas características do CR2 tornam possível o experimento. Usando esse sistema complexo é possível "marcar" as células ativas em um dado momento (ligando o interruptor), e mais tarde é possível "ativar" essas mesmas células (incidindo um feixe de luz sobre elas).
Após preparar os camundongos, os cientistas iniciaram os experimentos. Primeiro, removeram o Dox da dieta dos animais (o que ativa o CR2) e colocaram os camundongos em um ambiente totalmente novo (o equivalente a uma visita ao templo no Tibete). Os animais exploraram o ambiente, memorizando o espaço, seus cheiros e suas cores. Enquanto isso acontecia, as células que estavam sendo ativadas durante o processo de formação dessa nova memória, por estarem ativas, incorporaram o gene CR2.
Finda a visita ao novo ambiente, os camundongos foram levados para um segundo ambiente. Nesse novo ambiente, a luz instalada no seu cérebro foi acesa (isso ativa o CR2 que estimula as células marcadas durante a visita ao primeiro ambiente) de modo a reativar as memórias do dia anterior.
Ao mesmo tempo, os camundongos foram submetidos a um forte choque elétrico. Feito isso, a vida desses animais voltou ao normal: retornaram a suas gaiolas e voltaram a ser alimentados com Dox. Em resumo: os animais visitaram o templo um dia e, no dia seguinte, em outro ambiente, levaram um choque.
Animais normais passam a ter medo do local onde levaram o choque, mas não apresentam nenhuma reação estranha ao serem levados ao primeiro ambiente. Mas os animais que foram manipulados têm um comportamento completamente diferente: eles ficam com medo do primeiro ambiente, apesar de nunca terem levado choque lá.
Esse resultado demonstra que os cientistas, usando a manipulação experimental, foram capazes de provocar o aparecimento de uma memória completamente falsa no cérebro dos camundongos. Os bichinhos passaram a ter medo de um local onde nunca ocorreu algo de ruim com eles. A memória do choque foi sobreposta à memória da visita ao primeiro ambiente (o templo) e agora eles lembram que levaram um choque no primeiro ambiente, o que nunca ocorreu na realidade.
O experimento é a primeira demonstração de como é possível criar memórias falsas no cérebro de um animal, manipulando diretamente a atividade dos neurônios. Além disso, essa descoberta torna possível um novo campo de investigação científica: o da manipulação experimental do processo de formação de memórias.
MAIS INFORMAÇÕES: CREATING A FALSE MEMORY IN THE HIPPOCAMPUS. SCIENCE VOL. 341 PÁG. 387 2013
Fernando Reinach é biólogo

Maioria dos consumidores lê rótulo de alimento, mas parte não entende - Johanna Nublat

folha de são paulo
Maioria dos consumidores lê rótulo de alimento, mas parte não entende
Entre os que leem, 40% compreendem só parcialmente ou não entendem dados nutricionais
Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor ouviu 807 mulheres em 4 capitais
JOHANNA NUBLATDE BRASÍLIA
Três biscoitos recheados de uma marca tradicional têm 141 calorias, 6 g de gorduras totais e 78 mg de sódio, suprindo, respectivamente, 7%, 11% e 3% da dieta média estabelecida para um adulto.
Esse tipo de informação desperta o interesse da maioria dos consumidores, segundo pesquisa realizada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). No entanto, parte significativa do público não entende plenamente o que está escrito.
Foram ouvidas 807 mulheres --principais responsáveis pelas compras dos alimentos-- com idades entre 20 e 65 anos, de todas as faixas de renda, em Porto Alegre, São Paulo, Goiânia e Salvador.
Um pouco mais de seis em dez mulheres disse ler, sempre ou às vezes, a tabela nutricional nos rótulos. Dessas que leem, 40% entendem os dados só parcialmente ou muito pouco ou não entendem o que está lá descrito.
"Apesar de a informação ser procurada, ela ainda é de difícil entendimento pelos consumidores", avalia Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora do Idec.
Os indicadores mais populares entre as consumidoras, aponta o levantamento, são a quantidade de calorias, proteínas, sódio e carboidratos.
ALERTAS
Para Antônio Augusto, coordenador da unidade técnica do CFN (Conselho Federal de Nutricionistas), a inclusão das informações nutricionais nos rótulos de alimentos foi um avanço.
No entanto, afirma, é preciso dar "um salto de qualidade" no setor, o que poderia ser feito, por exemplo, por meio de uma campanha de esclarecimento à população.
"O indivíduo observa que o alimento supre 25% da recomendação diária de uma substância numa dose, mas não tem noção do que é isso. Pode até parecer pouco, mas vai atingir 100% se ele comer quatro doses."
O Idec defende uma abordagem mais ousada, com a inclusão de alertas nas embalagens de produtos com altos teores de açúcares, sal ou gorduras. Outra possibilidade é o uso de cores que sinalizem claramente produtos que devem ser consumidos com cautela.
Para 78% das entrevistadas, as informações nutricionais ficariam mais compreensíveis se fosse adotado um modelo de gradação de cores, a depender do percentual de substâncias como sódio e gordura (o chamado "semáforo nutricional").
E 96% delas declararam que frases de alerta ajudariam na escolha dos alimentos mais saudáveis.
A rotulagem, no Brasil, segue acordos do Mercosul. Desde 2006, é obrigatório imprimir informações nutricionais em todos os alimentos.
Antonia Aquino, gerente de produtos especiais da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), relativiza a vantagem da inclusão de frases de alerta.
"É preciso pensar na alimentação de forma global. Você não pode tornar um alimento o vilão."
Segundo Aquino, já foi solicitada, na esfera do Mercosul, a discussão da revisão das normas.
"Acho que o Mercosul trabalhará mais a visualização da informação nutricional, possivelmente com aumento da letra e critérios para uma melhor visibilidade do rótulo.

CNPq inocenta biólogo Rui Curi de fraude

folha de são paulo
Comissão constata "falha no exercício do rigor" em estudos com suposta manipulação
DE SÃO PAULOO comitê do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que investigou estudos do biólogo Rui Curi, da USP (Universidade de São Paulo), inocentou o pesquisador de acusações de fraude.
Curi, ex-diretor do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) e integrante da Academia Brasileira de Ciências, tem parte de suas pesquisas financiada pelo CNPq, e alguns de seus estudos vinham sendo avaliados pela instituição por suspeita de manipulação de dados.
Após os resultados de dois dos trabalhos de Curi terem sido cancelados pelos periódicos científicos que os publicaram, a Ciac (Comissão de Integridade na Atividade Científica do CNPq) passou a investigar o caso, mas concluiu que não houve "falsificação de resultados".
"A Ciac conclui que houve falha no exercício de rigor na condução e divulgação de resultados, indispensáveis à pesquisa de qualidade", afirma um comunicado assinado pelo presidente da comissão, Paulo Sérgio Beirão.
Segundo o CNPq, a decisão se baseou no parecer de um técnico contratado para a ocasião. O cientista era especialista em bioquímica, área de pesquisa de Curi, mas não trabalhava na mesma linha de estudo do professor da USP. A comissão diz ter buscado uma pessoa de fora de São Paulo e ter tomado precaução para que o parecerista não tivesse nenhum tipo de relação com o acusado.
DENÚNCIAS ANÔNIMAS
Vários trabalhos de Curi vinham sendo investigados desde novembro de 2012, quando foram divulgados pelo blog Science Fraud (www.science-fraud.org), que acolhia denúncias anônimas.
Em fevereiro deste ano, o site encerrou as atividades por não conseguir arcar com os custos legais dos processos que vinha sofrendo.
As denúncias originalmente publicadas no blog apontavam indícios de manipulação na composição de figuras usadas nos estudos de Curi, que mais tarde reconheceu os problemas como sendo erro.
Além de ter dois estudos anulados --um no "Journal of Endocrinology" e outro no "Journal of Lipid Research"--, o pesquisador ainda submeteu erratas relacionadas a outros três artigos.
Um outro processo de investigação sobre os trabalhos de Curi passou pela USP, que o encaminhou agora para a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), financiadora de alguns de seus trabalhos.

    Facebook fecha acordo com operadoras para acesso grátis - Clara Roman

    folha de são paulo
    Facebook fecha acordo com operadoras para acesso grátis
    Rede conquista mais usuários; empresas de celulares lucram com cliques em links externos
    Claro, Oi, Tim e Nextel criam parcerias com a empresa americana, que tem 76 milhões de usuários no Brasil
    DE SÃO PAULOPara aumentar sua participação no mercado móvel e incentivar o acesso dos usuários, o Facebook está firmando parcerias com quatro das principais operadoras de telefonia celular do Brasil.
    Ontem, a Claro anunciou que todo cliente da operadora terá acesso gratuito à rede social pelo celular (quando se clica em um link para outro site a partir do Facebook, porém, o acesso é cobrado).
    A promoção já tinha sido feita durante seis meses no ano passado, segundo o Facebook, mas o acesso era limitado ao aplicativo "Facebook Para Qualquer Telefone", versão da rede para "feature phones" (celular simples com acesso à internet).
    Segundo Gustavo Diament, diretor-executivo de marketing da Claro, em troca da oferta ao cliente, a operadora de telefonia recebeu espaço publicitário na rede social.
    Ele afirma que as duas empresas estão desenvolvendo produtos em conjunto, com compartilhamento de equipes de engenharia, e essa promoção faz parte do pacote.
    Para telefones pré-pagos, o acesso gratuito é permitido se o cliente tiver créditos dentro do período de validade.
    Já no pós-pago, o acesso ao Facebook não é descontado do pacote de dados que o cliente tem direito por mês.
    A Oi oferece desde maio promoção parecida, só que o acesso gratuito é restrito ao aplicativo Facebook Messenger em smartphones, versão da rede de bate-papo online.
    Na Tim, o acesso gratuito é apenas aos usuários do receptor de banda larga pré-paga. O serviço cobra R$ 1,99 por dia, mas apenas quando o cliente utiliza a internet no modem ou tablet. Se o cliente usar apenas o Facebook, sem acessar links externos, a tarifa não é cobrada.
    Nextel, Oi e Tim também disponibilizam o serviço de SMS, em que o usuário recebe atualizações do Facebook por mensagens de texto, sem se conectar à internet.
    Não há, nesse caso contrapartidas para o Facebook --a não ser ampliar o número de acessos à rede social.
    Para as operadoras, a rede social induz ao acesso a outros sites, que não é gratuito.
    NOVO FOCO
    Segundo a Claro, dos 58 milhões de aparelhos que acessam a internet, 32 milhões (55%) são "feature phones" e 26 milhões (45%), "smartphones". Além disso, segundo o Facebook, cerca de 58% de seus 76 milhões de usuários no Brasil também fazem o acesso pelo celular.
    Diament afirma que a Claro quer focar a expansão na internet para celular, e não mais nos planos de voz.
    Para isso, a gratuidade do Facebook pesa. "A gente entende que voz é importante, mas dados são mais", afirma.
    As empresas atuam juntas no desenvolvimento de produtos. "Esta semana tivemos uma reunião com o pessoal de Palo Alto [sede do Facebook nos EUA]".

      Alexandre Vidal Porto

      folha de são paulo
      A fumaça fora do armário
      Para o mundo, o presidente do Uruguai mostrou que, no governo, a hipocrisia beneficia os corruptos
      A relação do homem com a maconha é antiga. O primeiro registro conhecido de seu uso foi feito na China, há quase 3.000 anos. Desde então, o consumo medicinal, religioso ou recreativo foi observado em todos os continentes. O mundo inteiro tragou da erva.
      O hábito permaneceu. Segundo a ONU, cerca de 180 milhões de pessoas consumiram maconha ou derivados no ano de 2011. Se os maconheiros fundassem um país, seriam a sétima população do planeta.
      Tudo indica que, apesar dos riscos legais e de saúde envolvidos, parcela da população global continuará a fazer uso da maconha. Trata-se de comportamento semelhante ao consumo de álcool e tabaco: uma enfermidade social à qual nenhum país é imune.
      Para tratá-la, o atual modelo internacional parece esgotado. A Convenção Única da ONU sobre Entorpecentes é de 1961. Desde então, gastam-se bilhões de dólares em programas para eliminar produção, tráfico e consumo, sem que progressos palpáveis de erradicação tenham sido observados.
      No caso específico da maconha, o comércio ilícito global movimentava, no ano de 2005, mais de US$ 140 bilhões. Esse dinheiro anda sem controle pelo mundo, financiando atividades ilegais de todo tipo. No Uruguai, com 3,3 milhões de habitantes, o mercado de maconha movimenta US$ 40 milhões. É como se, todo ano, cada uruguaio contribuísse com US$ 12 para um fundo de estímulo à criminalidade.
      Nesse quadro, o governo do presidente José Mujica fez o que devia: admitiu a falência do receituário tradicional e propôs tratamento alternativo. Em outubro, o Senado uruguaio deve aprovar no país a regulamentação da produção e da distribuição da maconha --o consumo já era legal.
      Com isso, pretende-se inviabilizar o monopólio dos traficantes e passar a tratar uma questão de saúde publica como tal. De quebra, incorpora-se à economia formal uma volumosa fonte de recursos, que estava nas mãos de criminosos, causando dano social.
      Considera-se que a política de Mujica tem potencial para revolucionar o tratamento dado pelas autoridades mundiais ao consumo de cannabis. O presidente, no entanto, diz que não pretende servir de exemplo para ninguém. Quer somente enfrentar um problema que afeta o Uruguai. Sua opção teria sido continuar com o desperdício dos impostos dos uruguaios em políticas antidrogas ineficazes.
      Mujica não admite, mas agiu, sim, de maneira exemplar. Seu exemplo, porém, não foi a política inovadora que introduziu, mas seu inconformismo. Foi ter coragem para admitir que parcela da população uruguaia consome maconha e, ao mesmo tempo, recusar que a criminalidade associada a esse fato seja um dado inelutável.
      Ao propor políticas inovadoras para tratar questões irresolvidas, Mujica cumpre seu dever de liderança com o povo uruguaio. Para os dirigentes do resto do mundo, ele mostrou que, no governo, a hipocrisia beneficia corruptos, e que, na solução de problemas complexos, a criatividade pode ser fator essencial.

      Richa atinge limite de gastos com salários e congela obras - Estelita Hass Carazzai

      folha de são paulo
      O ESTADO DA FEDERAÇÃO - PARANÁ
      Richa atinge limite de gastos com salários e congela obras
      Após reajuste a servidores, governador busca empréstimos para cumprir metas
      Tucano acusa União de barrar financiamentos; aumento do piso do funcionalismo foi promessa eleitoral
      ESTELITA HASS CARAZZAIDE CURITIBAEleito com a promessa de gastar menos e melhor, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), elevou as despesas com pessoal ao limite, com reflexos negativos no investimento e nas metas de gestão.
      O montante pago ao funcionalismo já representa cerca de metade dos gastos. No fim de 2012, o Paraná atingiu o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal: mais que 46,55% da receita é destinada à folha de pagamento. Com isso, não pode mais contratar ou reajustar salários.
      O aumento do piso de professores e policiais, em 2012, foi o responsável pelo baque. Richa assumiu promessa de que equipararia o salário dos docentes ao dos demais servidores. No caso dos policiais, foi forçado a cumprir lei aprovada na gestão anterior, e enfrentou ameaça de greve até aumentar o piso.
      O governo diz que está cumprindo suas obrigações, e culpa as transferências federais. Por causa de desonerações, esses repasses subiram só 0,95% neste ano, contra 12% das receitas estaduais. Representam 14% do caixa, mas, segundo o governo, causam "falta de liquidez".
      "Não tem dinheiro em caixa. O dinheiro entra e sai, não há sobra", diz o secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly.
      A gestão, porém, reconhece fragilidades: gastos têm crescido mais que receitas. Despesas com custeio, por exemplo, devem atingir 20% do total este ano.
      Com o cobertor curto, o governo cortou 25% do orçamento restante do ano. Reformas de escolas, presídios e construção de moradias foram canceladas.
      Para obter recursos e cumprir metas, Richa está recorrendo a PPPs (Parcerias Público-Privadas) e até a um polêmico acordo com o Tribunal de Justiça, que propôs emprestar parte dos depósitos judiciais ao Estado.
      A gestão também pleiteia oito financiamentos, em avaliação no Tesouro Nacional, responsável por liberar as operações aos Estados. Os empréstimos são como "bote salva-vidas" para o governo. Aprovados por organismos como Banco Mundial e BNDES, somam R$ 4,1 bilhões.
      Para o Tesouro, porém, o Paraná já ultrapassou o teto de gastos com pessoal, de 49%, o que o impede de tomar empréstimos.
      O órgão desconsidera uma exclusão de gastos com aposentados e Imposto de Renda autorizada pelo Tribunal de Contas do Paraná. Sem ela, a despesa com pessoal sobe a 54%.
      O governo acusa Brasília de agir politicamente --lá está uma das prováveis rivais de Richa em 2014, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), do PT. "É evidente que é político", diz o secretário de Planejamento, Cassio Taniguchi.
      O Tesouro não quis comentar. A Casa Civil nega atuação política e diz que o Estado não consegue os empréstimos por questões técnicas.
      Além da petista Gleisi, deve concorrer com Richa o senador Roberto Requião (PMDB).
        RAIO-X
        Série analisa as gestões estaduais
        A reportagem de hoje abre série semanal que irá analisar as administrações dos 26 Estados e do Distrito Federal. O objetivo é avaliar a aplicação dos recursos públicos e o cumprimento das promessas de campanha dos governadores.

          Painel Vera Magalhães

          folha de são paulo
          Efeito Donadon
          Advogados do mensalão e ministros do STF acreditam que o presidente da corte, Joaquim Barbosa, pode levar antes do dia 14 ao plenário a decisão sobre se cabem ou não embargos infringentes no julgamento. A defesa de Delúbio Soares antecipou a discussão desse recurso. Os réus estão pessimistas com o precedente do ex-deputado Natan Donadon. Acham que os ministros podem considerar os recursos protelatórios e mandar expedir os mandados de prisão dos condenados.
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          Nova ordem O regimento interno do STF estabelece que, nas ações penais originárias, como o mensalão, não há revisor nos embargos. Desta forma, Ricardo Lewandowski não será o segundo a votar, mas o oitavo. Depois de Barbosa votarão Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.
          In loco Casada com a orientação dada a ministros para viajar, Dilma Rousseff vai priorizar nas próximas semanas inaugurações de obras em quatro Estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, e Santa Catarina.
          Resgate Não por acaso, as regiões são aquelas onde a presidente tem registrado o pior desempenho nas últimas pesquisas de aprovação.
          Cruzada O governo se prepara para maior reação de religiosos neste fim de semana, quando ocorrem cultos e missas, sobre a sanção presidencial do projeto que assiste vítimas do estupro.
          Sem recuo A despeito das críticas, o Planalto vai marcar reunião com evangélicos, já prevista após visita do papa Francisco, para reafirmar que não quebrou acordo feito em 2010, de que não ampliaria as possibilidades de aborto no SUS.
          Onde pega Uma das razões de irritação de Dilma Rousseff com Aloizio Mercadante foi que, no entender da presidente, o titular do MEC não se empenhou para fazer prevalecer a destinação de 100% dos royalties de petróleo do pré-sal para a educação, área de sua pasta.
          Construção Depois de meses recolhido e dedicado ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos volta a falar ao empresariado. O presidenciável do PSB será estrela de almoço do Secovi-SP no dia 22 sobre conjuntura nacional.
          Sintonia José Serra pediu informações à cúpula do Palácio dos Bandeirantes antes de reagir às denúncias de formação de cartel nas licitações do metrô e trem de São Paulo. As duas partes concordaram com a linha de destacar a motivação política do Cade na investigação.
          De perto O governo paulista estuda uma manobra jurídica para retirar as investigações de dentro do Cade. Auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) buscam uma jurisprudência que determine a remissão dessas apurações para instituições regionais.
          Torcida 1 A preferência interna do PT por Alexandre Padilha para ser o candidato ao governo paulista encontra resistência da parte de alguns aliados.
          Torcida 2 O PR, que negocia também com o PSDB de Geraldo Alckmin, tem dito à cúpula petista que preferiria apoiar Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy.
          #vemprarua Alvo de críticas da oposição, o prefeito Fernando Haddad (PT) ampliou sua agenda pública nas últimas semanas para acompanhar a execução de obras e programas do município. Só ontem, participou de quatro eventos fora da prefeitura.
          Time Alfredo Manevy é o novo número dois da Secretaria de Cultura paulistana. Ele trabalhou com o titular da pasta, Juca Ferreira, no Ministério da Cultura.
          Fácil O governo federal prepara pacote para reduzir a burocracia dos contratos trabalhistas. O ministro Guilherme Afif (Micro e Pequena Empresa) vai apresentar às centrais sindicais proposta de aplicar as regras do Simples Nacional a esses contratos, unificando tributos e trâmites administrativos.
          com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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          TIROTEIO
          "Em vez de explicar as denúncias graves, o PSDB se volta contra o órgão que investiga o que o próprio governo deixou de apurar."
          DO DEPUTADO ESTADUAL ÊNIO TATTO (PT-SP), sobre a acusação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de que o Cade atua como "instrumento político".
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          CONTRAPONTO
          Vaga preferencial
          "No lançamento do Fórum Mundial de Direitos Humanos, Garibaldi Alves (Previdência) prometeu ser breve:
          --Vou falar dois minutos, conforme prometi à Maria do Rosário, a segunda ministra mais temida da Esplanada.
          Diante da surpresa de todos, o ministro complementou:
          --O primeiro é o Mantega, que cuida do dinheiro e dos cortes. A segunda é a Maria do Rosário, que me cobra a implementação dos direitos humanos, em especial dos idosos.

            Restaurantes brasileiros cobram preços excessivos? Sim/Não? [Tendências/debates]

            folha de são paulo
            PAOLA CAROSELLA
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            Restaurantes brasileiros cobram preços excessivos?
            SIM
            Um ato de amor
            O Brasil está caríssimo. Uma ida rápida ao supermercado na semana retrasada me custou R$ 90 e rendeu: três saquinhos de manga desidratada, uma barra de chocolate meio amargo, um litro de leite, quatro pacotinhos de gelatina e 200 gramas de queijo parmesão nacional.
            Saí do super, olhei a conta, peguei a levíssima sacolinha e me dei conta de que o almoço executivo do meu restaurante, e de outros bons restaurantes de São Paulo, custa menos da metade disso. Mas nós somos os vilões da vez.
            Nunca vi tanto espaço em jornais e revistas dedicado aos preços dos restaurantes. De um dia para o outro, a única coisa cara desta cidade passou a ser os restaurantes. O resto vai bem, obrigado.
            A lista de despesas que temos num restaurante que paga o que tem pagar e faz o que tem fazer "comme il faut" é interminável. Matéria-prima, reposição de louça, lavanderia, flores, manutenção predial, nutricionista, coleta de lixo, medicina do trabalho, uniformes, treinamento, sindicato,energia elétrica, água, gás, correios, internet, telefone, contador, advogado, despesas bancárias, juros, aluguel, impostos, segurança privada, taxas de prefeitura, folha de pagamento, encargos sociais, seguro médico, odontológico e de vida e vale transporte: aquele transporte que o funcionário que trabalha de noite não tem para voltar para casa, pois, São Paulo, a "capital mundial de gastronomia", não tem transporte público 24 horas.
            Falei em segurança privada? Pois é, também precisamos fornecer segurança para nós mesmos, nossos funcionários e nossos clientes.
            E assim aumenta o valor do prato do seu restaurante predileto.
            Particularmente, penso que este momento pelo qual estamos passando é genial. Sempre achei um tédio profundo toda a pompa em torno da "alta gastronomia". Me surpreendi quando cheguei a São Paulo, em 2001, com a quantidade de garçons por mesa e o grau de exigência do cliente paulistano. Cozinhar, comer e receber são atos de amor, e não de sofisticação ou de perfeição rígida e cronometrada.
            Fico muito brava quando escuto que comer em Paris é melhor e mais barato do que em São Paulo. Claro! Viver em Paris é muito melhor e mais barato do que em São Paulo.
            Muitos dos melhores restaurantes de Paris são pequenos, têm 40 lugares, o chefe está na cozinha e o sócio, mulher ou marido, no salão. Os dois atendem 40 pessoas por noite. O cardápio tem uma ou duas opções, e é isso. De nenhuma outra forma seria possível cobrar preços justos e atender com eficiência.
            Eu tenho um restaurante que um tempo atrás começou a ficar caro. Eu não queria ter um restaurante caro. Propus aos meus sócios uma mudança de estilo. Precisaria de um pequeno investimento. Eles não toparam. Eu insisti. Consegui terminar a sociedade, peguei dinheiro emprestado e comecei a fazer as mudanças que desejava.
            Mudei o cardápio e diminuí o número de mesas, a carta de vinhos e a equipe. Tirei o jogo americano de linho, as velas, troquei flores frescas por plantas em vasos e foquei o que realmente acho importante: o conteúdo no prato, a qualidade da matéria-prima, a estrutura da cozinha e a gentileza dos atendentes.
            Tirei a taxa de rolha, não tenho mais sommelier e tenho uma carta de vinhos de apenas 40 rótulos. O restaurante ficou menos caro e mais amável.
            O momento demanda mudanças, tanto para nós, donos de restaurantes, como para nós, clientes. Talvez seja o fim das mordomias, talvez seja o momento de o Brasil diminuir as diferenças de classes. Talvez seja o momento para que tudo fique mais acessível e menos abusivo. Não somente os restaurantes.
            JUN SAKAMOTO
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            Restaurantes brasileiros cobram preços excessivos?
            NÃO
            Um ateliê de detalhes
            O meu restaurante existe há 13 anos. São 30 lugares e só abre para o jantar. Não é difícil encher a casa.
            Tenho 15 funcionários e atendo cerca de 40 clientes por noite. Ou seja, tenho praticamente um funcionário para cada casal de clientes. E esse casal gasta, em média, R$ 500 pela refeição.
            O chef de cozinha lá ganha R$ 5.000. Mas o salário dobra quando pago todos os encargos.
            O restaurante é um ateliê, não uma fábrica de produção em massa. O nosso trabalho são os detalhes. E preciso de funcionários formados para cuidar bem deles.
            Os preços que cobramos são resultado da soma dos detalhes dos quais não abro mão.
            Por exemplo, intercalamos os horários das reservas, porque nem sequer teríamos louça para servir todas as mesas ao mesmo tempo. Quando um cliente está na metade do jantar, chega o próximo.
            Há alguns anos, percebi que não estava ganhando dinheiro nem iria ganhar. Ainda assim, não quis mudar. Resolvi abrir uma hamburgueria, e agora me esforço para a sua ampliação. Porque ninguém fica rico de alta gastronomia.
            Excessivos mesmo são os impostos. O custo mais alto de qualquer business legal no Brasil --porque o ilegal a gente sabe como funciona-- é o custo Brasil.
            Os impostos deveriam servir para o governo investir em infraestrutura, segurança, educação e saúde. Mas eu pago plano de saúde e escola particular para o meu filho. E por que tenho que pagar segurança para pôr na frente do meu restaurante? Eu tenho quatro seguranças. Alguém tem que pagar essa conta, porque, no final do dia, tenho que ter uma margem de lucro.
            No Japão, o restaurante não precisa de segurança. Lá o preço do jantar pode ser menor.
            Quem tem dinheiro está em Miami (porque sai mais caro ir para o Nordeste). Com a vantagem de que lá o cliente não sente medo quando sai para jantar nem precisa pagar o manobrista. E toma um vinho importado, francês, por exemplo, pelo mesmo preço ou às vezes até menor que o nacional.
            Aqui importar custa caro. O governo não quer que importemos. Mas ele não nos ajuda a empreender. O BNDES empresta dinheiro para o Eike Batista, mas não pra mim, porque o meu negócio é pequeno: 1% de comissão de R$ 1 milhão é muito pouco.
            Dizem que no Brasil se come mais caro do que no exterior. O Zeca Camargo falou isso. Mas o que ele está comparando? Um restaurante médio lá fora e um top de linha aqui.
            Enfrentei todas as crises durante esses 13 anos sem crise, mas a atual bateu. Vivemos uma crise financeira profunda, que o governo tenta esconder. A inflação galopou violentamente. E a gente não pode repassar, para não afugentar a clientela. Além da insegurança, ainda tem a Lei Seca. Se o cliente sai e não pode beber, ele chama um chef e se diverte com os amigos em casa.
            O resultado é que o movimento caiu 20% neste ano. E não aumentamos os preços. A verdade é que trabalhamos de graça. Por isso, eu sou chef à noite. De dia, sou empresário, cuido da minha rede de hamburgueria. Quero garantir a minha aposentadoria.
            Tenho duas garrafas de champanhe Krug no meu restaurante há quatro anos, no estoque. Os clientes que as consumiam, e eu as comprava só para eles, se mudaram para o exterior.
            Esse casal gastava R$ 1.500 por jantar. Mas temos clientes que gastam R$ 150 --tomam chá, que é de graça, e comem pouco.
            Com o serviço que oferecemos, não é caro. Aliás, quem melhor sabe se os preços são excessivos são os clientes. Se forem, eles não voltam. E eles voltam.

              Tv Paga


              Estado de Minas 03/08/2013 


              Sai de baixo!
              Ação ou drama? O que o assinante quer afinal para a noite deste sábado? A primeira opção é Os mercenários 2, às 22h, no Telecine Premium. O elenco é formado por um batalhão de astros pesos- pesados, com Sylvester Stallone à frente do pelotão. Olha só o calibre da arma usada por Terry Crews (foto). O time fica completo com Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Chuck Norris, Randy Couture e Liam Hemswortg, mais Jean-Claude van Damme, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger. Faltou alguém?

              Na HBO, a novidade
              é um drama canino

              A alternativa oferecida pela HBO, também para a faixa das 22h, é Querido companheiro, com Diane Keaton, Kevin Kline, Dianne West, Richard Jenkins e Elisabeth Moss, todos envolvidos na busca a um cachorro perdido, sob a direção de Lawrence Kasdan. De especial, mesmo, é a dobradinha de Rowan Atkinson no Telecine Fun, em As férias de Mr. Bean (18h15) e O retorno de Johnny English (20h). No Telecine Touch, quem faz hora extra é Nia Vardalos, em Eu odeio o Dia dos Namorados (16h45) e Falando grego (18h25). Já o canal A&E Movies aposta no suspense, com Eu sei o que vocês fizeram no verão passado (20h ) e O albergue – Parte 2 (22h).

              Muitas opções para
              quem curte cinema

              A concorrida faixa das 22h tem mais 10 filmes para o assinante escolher: Depois daquele baile, no Canal Brasil; Eu, tu, eles, no Sony Spin; Se beber não case, na TNT; No rastro da bala, na MGM; Anjos da vida – Mais bravos que o mar, no Megapix; Sucker Punch – Mundo surreal, no Max HD; Millennium – Os homens que não amavam as mulheres, na HBO 2; Capitão América – O primeiro vingador, no Telecine Action; Precisamos falar sobre o Kevin, no Telecine Cult; e Cães de aluguel, no TCM. Outras atrações da programação: 400 contra 1 – Uma história do crime organizado, às 21h, no AXN; Seabiscuit – Alma de heroi, às 21h, no Boomerang; A névoa, às 21h, no Animal Planet; e Homem-Aranha 3, às 21h35, no Universal Channel.

              Dia da Cerveja foi
              feito para festejar

              No canal Bem Simples, vai ao ar hoje, a partir das 18h45, a maratona Pratos com cerveja. É que hoje se comemora o Dia Internacional da Cerveja, e a bebida vai servir como ingrediente para várias receitas. Carla Pernambuco começa ensinando a fazer queijo fundido com cerveja em Brasil no prato. Em seguida, as meninas do Cozinha caseira mostram como preparar pão de cerveja, carne assada com cerveja preta e tempurá de cerveja. Já no Escola de culinária, o prato escolhido foi o lombinho marinado na cerveja preta, e de sobremesa mousse de cerveja vermelha. Por último, os meninos do Homens gourmet inventam uma exótica chocotorta
              com cerveja.

              MPB, rap e clássico
              no pacote musical

              Sábado é sempre um dia com muita música. A Cultura costuma sair na frente, como faz mais uma vez hoje, com duas atrações bacanas: MC Xis no Manos e minas, às 17h, e o programa Clássicos, às 21h45, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo apresentando o Concerto para violoncelo de Witold Lutoslawski e a Sinfonia nº10 em mi menor de Dmitri Shostakovich, com solistas convidados. No Viva, às 22h30, o Globo de Ouro destaca artistas como Lobão, Fafá de Belém, Eduardo Dusek e Paralamas do Sucesso, entre outros. 

              João Paulo - O pecador e o criminoso‏

              Estado de Minas - 03/07/2013

              Foram dezenas os balanços da visita do papa Francisco ao Brasil. Todos, sem exceção, destacando a mudança de rumos da Igreja Católica. Embora o próprio cardeal Bergoglio propusesse uma nova topologia política – em vez de esquerda e direita entra o par centro e periferia –, desviando da inspiração da ideologia para a do ativismo, o que se constatou foi uma aproximação destemida entre religião e política, como há muito não se via.

              Temos, todos nós, ocidentais pós-iluministas, uma concepção muito restrita de religião. Tudo se passa como se a crença fosse apenas experiência individual, enraizada na sensibilidade e na intuição. Perto de ser incomunicável, ela passaria ao largo de todo o esforço da razão em buscar a verdade. Mesmo o compartilhamento de valores, na linha da comunidade de destino, teria como suporte a relação direta com o sagrado, sem necessidade de justificação de qualquer natureza. A crença não precisa ser explicada.

              Como se houvesse, no processo que nos constitui como pessoas, etapas que fossem se sobrepondo. Sobrecarregados pelo mistério da vida, todos nascem religiosos, com o tempo aprendem que a fé não garante nada além do próprio sujeito e, então, abre-se o terreno para a razão, as ciências e a arte, entre outras formas de expressão do nosso caminho em direção à maturidade.

              Esse tem sido um caminho convencional, que separa fé e razão, ciência e superstição, indivíduo e sociedade. Basta prestar atenção na forma como as pessoas se tornam religiosas ou têm sua concepção de Deus moldada por uma cultura infantil: o Deus do medo, que tudo vê e tudo pode, além do espaço da compreensão e do diálogo. No entanto, quando se trata da experiência racional, quanto mais maduros, mais estamos abertos ao debate com o outro. Nossa concepção de razão amadurece com o tempo, nossa concepção de Deus queda adormecida em motivos atávicos.

              Os adultos sabem que não existiram Adão e Eva, compreendem que se trata de uma história simbólica, o que permite, portanto, que convivam no mesmo sujeito dimensões da religião e da ciência. No entanto, nem tudo na religião (como querem os novos profetas do ateísmo) se reduz ao embate com a racionalidade. Não somos fé ou razão, mas fé e razão. A experiência religiosa, para merecer o campo de constituição do homem maduro, precisa dar a ele uma experiência que não seria alcançada em outro terreno que não o da espiritualidade.

              Por isso, na história do pensamento, encontramos grandes filósofos e cientistas que, mesmo senhores dos instrumentos da razão, não apenas mantiveram sua inserção religiosa no mundo, como fizeram questão de refletir sobre elas. É o caso de, entre outros, dos filósofos Husserl (1859 –1938), Peirce (1839 –1914), Bergson (1859 –1941), Maritain (1892 –1973), Lévinas (1906 –1995) e Ricouer (1913 –2005) e de cientistas do porte de Max Planck (1858 –1947), Werner von Braun (1912 –1977) e Einstein (1879 –1955).

              O que, no projeto intelectual desses pensadores, permite que tenham se dedicado com igual empenho à razão e à religião? Sobretudo a certeza de que, no terreno da fé, estamos tratando de uma experiência pessoal, e não de um conjunto de saberes ou instrumentos. A religião – e por isso ela não é contraditória com a razão – não se encaminha para o território do conhecimento, mas da prática de vida. Ser religioso não é sustentar um conjunto de dogmas (quase sempre equivocados), mas se comportar em relação aos outros a partir da noção de compromisso. Nesse sentido, toda religião é, antes de ser dogmática, política.

              É preciso, no entanto, distinguir religião de igreja. A experiência religiosa, mesmo em grande parte dos casos se manifestando a partir da convenção que emana de uma igreja, qualquer que seja ela, vai muito além da institucionalidade. Talvez por isso os cismas e as heresias sejam o terreno comum das igrejas: não é possível emparedar o impulso para a transcendência nas normas sistematizadas por uma estrutura hierárquica, marcada por disputas internas.

              Uma forma de constatar essa contradição é perceber como, hoje, todas as posições radicais em termos religiosos são resultado de demandas políticas, não de verdades reveladas. Assim, judeus e palestinos disputam a mesma região ancorados em argumentos pretensamente religiosos e de precedência histórica; católicos e evangélicos batalham pelos mesmos fiéis, igualmente sustentados por argumentos fundamentalistas que são traduções de interesses políticos claros; os muçulmanos são considerados perigosos em razão de comportamentos nitidamente políticos, que ganham tradução fideísta.

              Reviravolta de Francisco

              A visita do papa Francisco ao Brasil foi histórica exatamente por revelar a dimensão política da experiência religiosa. Não se trata de buscar aproximação com a teologia da libertação, em sua opção preferencial pelos pobres, ou de valorizar as críticas dirigidas ao consumismo e ao modelo inviável de desenvolvimento econômico concentrador e anti-humanista. Fosse isso, o papa apenas estaria apontando uma reversão de rota, um arejamento nas posturas tomadas pela Igreja Católica nas últimas décadas.

              Há uma radicalidade nas atitudes de pronunciamentos de Bergoglio que apontam para a recuperação da dimensão social e comunicativa da experiência religiosa. O papa assumiu uma posição que vira as costas para o clericalismo (uma igreja que tem como gozo a realização ritual de seus mandamentos e convenções, entre a burocracia e o autoritarismo), para a ostentação (com a desconstrução de todos os símbolos de distinção de classe que vieram da nobreza para os corredores do Vaticano) e para o solipsismo (mantido vivo pelas seitas conservadoras que valorizam apenas atitudes pessoais e, quando muito, assistencialistas e redentoras de culpas psicológicas).

              Além disso, e talvez tenha sido o ponto marcante da reviravolta franciscana, o papa fez questão de juntar no mesmo projeto as dimensões da espiritualidade e da convivência social. Reconheceu erros, defendeu punições exemplares aos ladrões, fugiu de qualquer desvio corporativista no julgamento de ações tomadas no âmbito da vida social. Diferenciou pecadores – que somos todos, segundo ele – dos criminosos. Aos primeiros, o perdão; aos outros, a cadeia.
              Enquanto os papas anteriores tentavam separar pedofilia de Igreja e crimes financeiros da cúria, por exemplo, o novo papa não quis dar a ações condenáveis a capa de qualquer justificação religiosa, histórica ou dogmática. Nesse sentido, lembra a atitude de João XXIII, que, ao saber de uma greve dos servidores do Vaticano, ordenou o imediato processo de negociação que resultou em aumento de salário. Quando advertido de que o dinheiro sairia de obras da Igreja, respondeu: “Primeiro a justiça, depois a caridade”.

              Por fim, a nota preocupante: há preconceito violento de parte da sociedade brasileira em relação aos evangélicos. É preciso reconhecer que grande parte da mídia e dos estudiosos da religião – postura que ecoa na classe média – compreende as religiões pentecostais e neopentecostais como capitulação, um sintoma de empobrecimento espiritual.

              Várias análises apresentadas na última semana faziam questão de encarar a perda de fiéis da Igreja Católica para os evangélicos como um problema que precisava ser superado, doença social carente de tratamento, nunca como opção livre dos crentes. Nação acostumada a se sentir católica (“o maior país católico do mundo”), parece haver dor de consciência pelos fiéis perdidos pelo catolicismo, dor esta que instiga pesquisadores, jornalistas e leigos a se esforçar com ideias que contribuam para a “recuperação” dos fiéis à sua origem.

              Há inspiração quase higienista e discriminatória por trás dessa atitude. Não que os evangélicos façam por merecer boa vontade, é só seguir suas manifestações preconceituosas, homofóbicas e questionáveis em termos éticos, sociais e econômicos. Mas essas são atitudes das quais a Igreja Católica, por sua vez, não pode igualmente se jactar em sua longa trajetória de equívocos.

              A melhor lição ficou mesmo com Francisco ao se dirigir aos jovens: “Sejam revolucionários”. É bem mais edificante que ser católico ou evangélico.

               jpaulocunha.mg@diariosassociados.com.br

              Grito de alerta - Carlos Roberto Jamil Cury

              Exigido nas ruas por milhares de brasileiros, o ensino de qualidade só será concretizado se houver empenho efetivo dos integrantes da Federação em prol do pacto pró-educação 


              Carlos Roberto Jamil Cury

              Estado de Minas: 03/08/2013 

              Se há uma área social que conta com muitas coberturas oficiais, essa é a da educação: gratuidade no ensino público, impostos vinculados e subvinculados, assistência alimentar, material didático e múltiplos programas de apoio que podem ser solicitados por estados e municípios à União. A educação, por ser direito público subjetivo, em matéria de acesso, conta com a exigibilidade da parte do cidadão e, no caso de omissão, até mesmo com a justiciabilidade. Essa cobertura rendeu inegável acesso (praticamente universalizado) ao ensino fundamental. O mesmo não se pode dizer da qualidade. Portanto, boa parte da seletividade se deslocou para dentro da escola e aí a questão da qualidade se impõe de modo urgente.

              Por que nos protestos sociourbanos há críticas à educação escolar?

              Em primeiro lugar, embora o Brasil não tenha conhecido revoluções como a francesa ou a americana, há vários registros históricos de rebeldias por conta de problemas políticos ou sociais. Relembrem-se os casos do Quebra-quilos e da Cabanagem, entre outros de fundo social, e os movimentos que conduziram à abdicação de dom Pedro I. Hoje, em que pesem as melhorias sociais trazidas pela transferência de rendas e pelo aumento da capacidade aquisitiva de segmentos populares, há insatisfação generalizada com a vida e a mobilidade urbanas e com a qualidade dos serviços públicos. Ela atinge diretamente o aluno obrigado a se locomover de casa e/ou do trabalho para chegar à escola. Nesse trajeto, ele desembolsa recursos e perde tempo. Isso se torna mais grave no caso do ensino noturno. Muitos estudantes são trabalhadores, o que transforma seus itinerários em mais um trajeto cansativo. O resultado se percebe no interior das salas de aula. Nesse caso, a educação compartilha o caos urbano com as deficiências de outras áreas, como trabalho, saúde e justiça.

              Em seguida, é notório que a qualidade do ensino deixa a desejar por falta de condições que o tornem um elemento próprio da modernidade. O aluno percebe a distância entre a contemporaneidade dos recursos tecnológicos na rapidez das comunicações e o anacronismo de materiais de que se servem nossas escolas. Mais que isso, não são poucas as denúncias relativas à conservação de prédios escolares.

              Ora, esse estado de coisas fica mais próximo da indignação social diante do enorme gasto público em obras desnecessárias de modernos estádios, alvo de denúncias de superfaturamento. Mais ainda, os políticos se veem às voltas com uma imagem desgastada, próxima da desmoralização. Por contraste, a realidade dos serviços públicos deixa ao cidadão a promessa, sempre adiada, da prestação qualificada dos direitos sociais constitucionalmente consagrados. Enquanto isso, obras urgentes de mobilidade ficam para as calendas tanto quanto as que deveriam aperfeiçoar a qualidade da oferta dos serviços públicos.

              Decoro

              Quando se veem as denúncias de mordomias e quebra de decoro, o olhar para dentro e para o entorno das escolas gera maior consciência crítica, permitindo a eclosão de sentimentos contidos. Quem não sabe da (in) segurança que permeia o entorno das nossas escolas, especialmente daquelas que funcionam no período noturno? Local da busca de convivência social entre os iguais e diferentes, espaço da transmissão de conhecimentos para a inserção consciente na vida profissional, a escola é o símbolo da não violência. Por isso mesmo, torna-se presa da violência que permeia nossa sociedade.

              No âmbito próprio da educação escolar, há o cansaço do corpo docente por conta de descontinuidades administrativas em que programas se sucedem a cada novo governo sem que se dê continuidade a iniciativas que fariam jus a tanto. Isso gera distanciamento entre administração e funcionamento do sistema de tal modo que o diálogo, campo privilegiado da educação, vai se tornando cada vez mais difícil. Infelizmente, essa tradição de descontinuidade se casa com o caráter tardio da organização da educação nacional. Quando se compara o Brasil com a França, a Noruega e a Inglaterra, pode-se estar esquecendo do investimento secular que esses países já fizeram. O patamar histórico deles é muito diferente do nosso.

              Nossa educação básica com dimensões nacionais é tardia. Remonta à Constituição de 1934, que instituiu a gratuidade e a obrigatoriedade do então ensino primário de quatro anos, determinou a elaboração de um Plano Nacional de Educação e vinculou impostos ao financiamento do setor. Maiores rigor e disciplina na aplicação dos recursos datam da imposição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), ampliado para Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que constituiu um conselho social para fiscalizar a chegada e a aplicação dos mesmos. Isso sem falar nos dois períodos de ditadura (1937 –1945 e 1967 –1985) em que a vinculação deixou de existir. É preciso não esquecer que essa desvinculação ocorreu junto da extensão da obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos.

              Obviamente, com a redução significativa de recursos e aumento das atribuições, houve enormes prejuízos para o acesso ao ensino obrigatório, para a carreira docente e para o salário dos professores. Boa parte desse legado perverso tem ressonância em nossos dias. Por isso, não se pode imputar todo esse caráter tardio a uma só administração. Mas é preciso grande esforço por parte das atuais administrações dos sistemas de ensino, sob a coordenação do Ministério da Educação, para que a articulação orgânica permita às gestões futuras a qualidade desejada por todos.

              Investimento

              A ampliação de recursos no orçamento, prevista na Emenda Constitucional nº 59/09, compete com muitos outros campos de investimento. Eles são necessários até pelo prolongamento da obrigatoriedade escolar (dos 4 aos 17 anos). Não se pode adaptar uma escola de ensino fundamental para crianças da educação infantil. Não se pode ter uma escola de ensino médio (etapa conclusiva da educação básica!) apenas com recursos advindos do ensino fundamental. A família será ampliada – e muito. Se os recursos antes eram apertados, o que fazer para responder aos novos desafios ora ampliados?

              Certamente, os recursos ampliados, urgentes e necessários não trazem, por si sós, o milagre da qualidade. Será preciso esforço conjunto para garantir uma formação inicial sólida e, dentro do exercício da docência, propiciar formação continuada orgânica com a área de conhecimento. Apenas três anos são suficientes para formar um bom professor? As pesquisas a respeito de aparatos formadores de docentes nas licenciaturas e na pedagogia não trazem resultados nada fabulosos a esse respeito. É preciso cortar em algum ponto, em algum momento, o círculo vicioso, a formação fica aligeirada porque a carreira não atrai e os salários não são competitivos. Temos suficiente número de licenciados para ocupar todas as vagas e postos na educação pública. Só que esses licenciados não se fizeram docentes. Foram exercer outras atividades profissionais. De outro lado, é preciso melhorar a gestão desses recursos, seja pelo controle estatal, seja pela prestação de contas, seja pela fiscalização social.

              Federação

              Aqui entra o problema básico: embora tenhamos incluído na Constituição o princípio organizador do setor pelo sistema nacional de educação, o núcleo essencial está por se fazer de modo completo: o regime de colaboração entre os entes federados. A validade de nossos certificados e diplomas, dentro do sistema, é nacional e uma etapa sucede a outra. Mas as etapas são segmentadas entre os entes federativos. Nada contra isso, especialmente em país federativo como o nosso, de grandes extensões territoriais e diversidade regional ampla. O problema está na celebração de um pacto que confira estrutura e funcionalidade orgânicas a esse regime de colaboração.

              O grito advindo dos movimentos urbanos, saído, sobretudo, da voz dos jovens, é sinal precioso de que eles exigem a consagração efetiva de direitos longamente proclamados. Em que pesem excessos condenáveis de uns poucos violentos, é salutar vê-los criticando o desvio de recursos ou sua aplicação em coisas adjetivas e exigindo a realização em ato dos direitos sociais. A Constituição põe a educação como o primeiro dos direitos sociais. Afinal, ela é a chave de abertura para outros direitos estabelecidos e para a consecução de novos. É por ela que o protesto quer também se fazer ouvir.