Palavras que curam
Maria Ester Maciel - memaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 25/02/2014
Sempre que posso,
leio alguns escritos de Santa Hildegard de Bingen sobre o poder curativo
das plantas e das pedras. Alguns de seus livros incluem até mesmo
receitas de elixires e infusões, cada uma adequada a um tipo de
distúrbio, seja este do corpo, da mente ou da alma. Seu principal livro
sobre saúde e cura intitula-se Physica, infelizmente ainda sem tradução
para o português. É uma espécie de enciclopédia da natureza, dividida em
nove partes. A primeira é sobre plantas e a última sobre metais. Os
animais também estão incluídos, assim como os elementos naturais, em
especial o ar e a água.
Os verbetes do livro são descritivos e
apontam as propriedades curativas de cada um dos itens catalogados. As
pesquisas foram feitas pela própria Hildegard, que, como se sabe, foi
monja, médica, escritora, compositora, pintora e mística do mundo
medieval. É considerada, por isso mesmo, uma precursora da homeopatia e
de outras terapias naturais. Ela fala, entre diversas outras plantas, da
urtiga, da chicória, da arruda, do funcho, do alho, da papoula, da
calêndula, do lírio, da verbena e da arnica. Sobre a canela, por
exemplo, Hildegard diz que ela diminui o mau humor de quem a come com
frequência. Um biscoito que leva canela, noz-moscada (ótima para abrir
os sentidos) e um pouco de cravos pode ser um antídoto eficaz contra o
amargor do coração. É também um bom purificador da sensibilidade. Já as
compressas de erva-doce na testa podem amenizar a melancolia. Para quem
está com a mente atormentada, nada como uma compressa de poejo molhada
no vinho para aliviar o tormento. Em outras palavras, cada erva tem, na
visão da médica, uma propriedade oculta capaz de muitos milagres. E
também certos animais tem esse poder, como alguns peixes que integram o
livro. Daí sua dica para quem sofre de dor de dente: colocar, à noite,
pó de osso de salmão no lugar onde dói.
Para preparar vários dos
seus elixires, Hildegard utilizava azeite, vinho, vinagre, pão e mel.
Aliás, são muitas as receitas que fez à base de vinho – este produzido
nas vinícolas que ficavam perto do convento onde a monja vivia, às
margens do Rio Reno. Consta que ela preferia, inclusive, usar o vinho no
lugar da água para preparar os remédios. É o que se lê nas páginas de
Os remédios de Santa Hildegard de Bingen, do francês Paul Ferris.
José
Pio – médico homeopata e querido amigo de longa data – emprestou-me, há
poucos meses, um livro que trata dos estudos da monja-médica alemã
sobre os efeitos das pedras preciosas no nosso ritmo biológico. Cada
pedra tem uma hora própria para seu efeito terapêutico, na visão da
santa. A esmeralda atua na parte da manhã; o topázio é a pedra da nona
hora do dia; a calcedônia pertence ao início da noite, quando o sol
quase desapareceu. E assim por diante. Do cristal, ela diz: quem está
com os olhos embaçados pode se valer do cristal. E recomenda: “Aqueça-o
sob o calor do sol e o coloque sobre os olhos”.
Quase tudo o que
Hidegard escreve se aproxima da poesia, mesmo quando o tema se insere
no mundo da medicina natural ou da teologia. Digo que só de ler seus
verbetes sobre plantas, animais e pedras já me sinto aliviada de alguns
males do corpo e do espírito. Suas palavras têm, elas mesmas, o dom da
cura.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
TeVê
Telemania - TV paga
Estado de Minas: 25/02/2014
fenomenal
O filme do mês do Canal Brasil costuma ser exibido sempre na última semana. Melhor, na última terça-feira. E apesar de já ter sido exibido pela Globo, vale a dica: a emissora estreia hoje, às 22h, a comédia Cine Holliúdy, com Edmilson Filho (foto) e um elenco de cabras da peste lá do glorioso Ceará. Aliás, o longa-metragem é totalmente falado em “cearensês”, com legendas. Outra curiosidade é o nome do protagonista: Francisgleydisson, um homem simples, fã de artes marciais, que se vê diante do desafio de montar um cinema numa cidadezinha nordestina.
Telecine valoriza os
campeões do Oscar
Outro destaque do pacote de filmes é o especial Oscar ao longo das décadas, no Telecine Cult, hoje com Noivo neurótico, noiva nervosa (20h10) e Domingo maldito (22h). Na faixa das 22h, o assinante tem mais seis boas opções: Atirador, no Studio Universal; O mariachi, no Cinemax; O corvo, na HBO 2; Moneyball – O homem que mudou o jogo, no Max HD; J. Edgar, no Max Prime; e Guerra ao terror, na MGM. Outras atrações da programação: Vida bandida, às 19h45, no Telecine Action; O clube dos corações partidos, às 21h, no Comedy Central; O artista, às 21h10, no Max; e O senhor das armas, às 21h30, no Viva.
Ótimas alternativas
hoje no canal Arte 1
Narrado por Matheus Nachtergaele, o documentário Onde a terra acaba é uma homenagem ao longa-metragem homônimo que Mario Peixoto iniciou em 1931 e não chegou a concluir por divergências com a atriz Carmen Santos, produtora e protagonista. O filme vai ao ar às 21h, no Arte 1, que exibe outro documentário interessante às 23h: Living the dance, sobre um grupo de cinco bailarinos holandeses, com trabalhos desenvolvidos ao longo de 30 anos.
A folia continua na
tela do Canal Brasil
A programação especial de carnaval do Canal Brasil continua hoje com três curtas e um média-metragem. Começa com Ó, linda!, em que o diretor Isaac Chueke cai na folia, no ritmo do frevo e do maracatu. Na sequência, No balanço de Kelly, de André Weller, destaca a música do pianista João Roberto Kelly, autor de famosas marchinhas carnavalescas. Depois é a vez de Carnaval do passado, de André Salles, num desfile saudosista pelos anos 1950 e 1960. Por fim, G.R.E.S. – Concentração, de Marcelo Maia e Luiz Guimarães de Castro, invade os bastidores de uma escola de samba. Em tempo: às 14h35, no Canal Futura, o Sala de notícias apresenta O samba paulista: do batuque à batucada, de Francisco Andrade Santos.
Curta! vai de Paris
ao Sertão do Cariri
No canal Curta!, uma das atrações que merecem a atenção do assinante é Eu olho e eu vejo, na série Teimosia da imaginação, às 23h. A produção vai ao Sertão do Cariri para mostrar os trabalhos em madeira do artista plástico cearense Francisco Graciano, filho do grande mestre escultor Manoel Graciano. Na mesma emissora, às 23h30, a série Arquiteturas focaliza a Ópera Garnier, uma das joias do conjunto arquitetônico da Paris do século 19.
Louco mata e acaba
em um manicômio
Um jovem feirante morador de Itaquaquecetuba (SP) circulava de bicicleta pela cidade com o rosto sob uma touca ninja, para poder atacar suas vítimas – todas do sexo masculino, com idade entre 20 e 50 anos – ou atirar nelas de maneira aleatória. Seu nome era Ronis de Oliveira Bastos, personagem de hoje da série Investigação criminal, às 22h30, no canal A&E. Autor de oito homicídios, ele está atualmente confinado num hospital psiquiátrico.
Caras & Bocas - Simone Castro
simone.castro@uai.com.br
Luiza (Bruna Marquezine) será impedida de conviver com o primo na novela Em família |
Medo de mãe
Helena (Júlia Lemmertz) fará marcação cerrada na filha, Luiza (Bruna Marquezine), depois do acidente de carro que a jovem sofreu e, pior, por estar na presença de Laerte (Gabriel Braga Nunes). Nos próximos capítulos de Em família (Globo), a leiloeira vai deixar claro que não quer o primo perto da filha de jeito nenhum. Em Goiânia, depois do enterro de Itamar (Nelson Baskerville), Luiza decide ir ao jantar oferecido por Shirley (Viviane Pasmanter) em sua homenagem. Ela retorna à casa tarde e vai para a cozinha pegar um copo d'água. Ao entrar, ela se assusta com a presença de alguém. A mãe avisa que é ela e pede para a moça não gritar, para não acordar o resto da família. Helena conta que ainda não retornou ao Rio de Janeiro por não estar se sentindo bem. Laerte aparece e a prima fica incomodada. Ela chama a filha para o quarto com a desculpa de que precisam acordar cedo. Luiza se enfurece: “O que é que você está querendo, mãe? Me sinto ridícula com essas suas cenas”, diz, assim que ficam sozinhas. Como Laerte está no quarto próximo do dela, Luiza provoca: “Você tem medo de que de repente ele erre de porta”. Irritada, Helena encerra o assunto e exige que a filha durma ao seu lado.
TRAMA DE MANECO PODE
SER ENCURTADA DE VEZ
Nem 150 capítulos. Assim, a novela Em família poderá ser fechada em 149 capítulos. O autor Manoel Carlos já havia feito o pedido à direção do canal para que a história fosse contada em 150 capítulos e, entre ajustes, o combinado foi uma trama de 179 episódios. Vale lembrar que a novela já havia sido enxugada na segunda fase, que recebeu cortes. Previsto para ir ao ar em agosto, o último capítulo poderá ser exibido em julho. A última trama de Maneco no mesmo horário, Viver a vida, teve 209 capítulos. Com a redução, se ocorrer, será antecipada a estreia de Falso brilhante, de Aguinaldo Silva. O que pode gerar problemas por causa da produção, que não é tarefa simples.
AULAS DE YOGA CORREM
RISCOS COM AS SURTADAS
Já estão a todo vapor as gravações da segunda temporada da série Surtadas na yoga, que estreia em abril no GNT (TV paga). A academia mudou e as aventuras – e desventuras – das personagens também, mas as surtadas são as mesmas: Jéssica (Fernanda Young), Marion (Anna Sophia Folch) e Ana Maria (Flávia Garrafa).
DIAMANTINA NA ROTA DE
PROGRAMA SOBRE MUSEUS
O Conhecendo museus desta terça-feira, às 17h30, na TV Brasil (canal 65 UHF), embarca até Diamantina para mostrar a importância da cidade para a história de Minas Gerais. O acervo em destaque é o do Museu do Diamante, que ocupa um dos prédios de maior significado histórico e arquitetônico do município. Construído em 1749, o prédio foi residência do inconfidente padre José de Oliveira e Silva Rolim, um dos principais implicados na chamada Conjuração Mineira de 1789. O museu abriga uma coleção de elementos característicos das jazidas de diamante da região do antigo Arraial do Tejuco.
NOVA ATRAÇÃO DO E! VAI
FALAR DO MUNDO FASHION
O canal E! (TV paga) estreia dia 10, às 22h, o Conexão da moda, produção nacional comandada pela modelo Giselle Hermeto, também apresentadora do Brasil bites. A nova série documental, com 12 episódios, vai relembrar as fases da moda no país, desde os anos 1960. Depois da estreia, o programa passará a ser exibido regularmente às segundas-feiras, às 22h30.
ANO SABÁTICO
Jennifer Lawrence, de 23 anos, precisa descansar. Uma das apresentadoras do Oscar deste ano, ela também concorre na categoria de atriz coajuvante por sua atuação em Trapaça. No ano passado, Jennifer venceu como melhor atriz por O lado bom da vida. O período de descanso pode durar até um ano, informou o produtor Harvey Weinstein ao tabloide britânico The Sun. “Tem sido intenso e ela merece um descanso”, disse. Nos últimos dois anos, a atual queridinha de Hollywood emendou vários trabalhos. Além dos já citados, fez também Jogos vorazes, A última casa da rua, The devil you know e Jogos vorazes: em chamas. A atriz já tem pelo menos mais quatro filmes engatilhados e estreia, em breve, X-men: dias de um futuro esquecido. Os outros são as duas últimas partes da saga Jogos vorazes e, como em O lado bom da vida, voltará a contracenar com Bradley Cooper no filme Serena.
PLATEIA
VIVA - Natália do Vale e Herson Capri, pela química de seus personagens, Chica e Ricardo, na novela Em família.
VAIA - Trama da tal máquina da felicidade, em Além do horizonte (Globo), já perdeu o gás. Novidades urgentes!
Helena (Júlia Lemmertz) fará marcação cerrada na filha, Luiza (Bruna Marquezine), depois do acidente de carro que a jovem sofreu e, pior, por estar na presença de Laerte (Gabriel Braga Nunes). Nos próximos capítulos de Em família (Globo), a leiloeira vai deixar claro que não quer o primo perto da filha de jeito nenhum. Em Goiânia, depois do enterro de Itamar (Nelson Baskerville), Luiza decide ir ao jantar oferecido por Shirley (Viviane Pasmanter) em sua homenagem. Ela retorna à casa tarde e vai para a cozinha pegar um copo d'água. Ao entrar, ela se assusta com a presença de alguém. A mãe avisa que é ela e pede para a moça não gritar, para não acordar o resto da família. Helena conta que ainda não retornou ao Rio de Janeiro por não estar se sentindo bem. Laerte aparece e a prima fica incomodada. Ela chama a filha para o quarto com a desculpa de que precisam acordar cedo. Luiza se enfurece: “O que é que você está querendo, mãe? Me sinto ridícula com essas suas cenas”, diz, assim que ficam sozinhas. Como Laerte está no quarto próximo do dela, Luiza provoca: “Você tem medo de que de repente ele erre de porta”. Irritada, Helena encerra o assunto e exige que a filha durma ao seu lado.
TRAMA DE MANECO PODE
SER ENCURTADA DE VEZ
Nem 150 capítulos. Assim, a novela Em família poderá ser fechada em 149 capítulos. O autor Manoel Carlos já havia feito o pedido à direção do canal para que a história fosse contada em 150 capítulos e, entre ajustes, o combinado foi uma trama de 179 episódios. Vale lembrar que a novela já havia sido enxugada na segunda fase, que recebeu cortes. Previsto para ir ao ar em agosto, o último capítulo poderá ser exibido em julho. A última trama de Maneco no mesmo horário, Viver a vida, teve 209 capítulos. Com a redução, se ocorrer, será antecipada a estreia de Falso brilhante, de Aguinaldo Silva. O que pode gerar problemas por causa da produção, que não é tarefa simples.
AULAS DE YOGA CORREM
RISCOS COM AS SURTADAS
Já estão a todo vapor as gravações da segunda temporada da série Surtadas na yoga, que estreia em abril no GNT (TV paga). A academia mudou e as aventuras – e desventuras – das personagens também, mas as surtadas são as mesmas: Jéssica (Fernanda Young), Marion (Anna Sophia Folch) e Ana Maria (Flávia Garrafa).
DIAMANTINA NA ROTA DE
PROGRAMA SOBRE MUSEUS
O Conhecendo museus desta terça-feira, às 17h30, na TV Brasil (canal 65 UHF), embarca até Diamantina para mostrar a importância da cidade para a história de Minas Gerais. O acervo em destaque é o do Museu do Diamante, que ocupa um dos prédios de maior significado histórico e arquitetônico do município. Construído em 1749, o prédio foi residência do inconfidente padre José de Oliveira e Silva Rolim, um dos principais implicados na chamada Conjuração Mineira de 1789. O museu abriga uma coleção de elementos característicos das jazidas de diamante da região do antigo Arraial do Tejuco.
NOVA ATRAÇÃO DO E! VAI
FALAR DO MUNDO FASHION
O canal E! (TV paga) estreia dia 10, às 22h, o Conexão da moda, produção nacional comandada pela modelo Giselle Hermeto, também apresentadora do Brasil bites. A nova série documental, com 12 episódios, vai relembrar as fases da moda no país, desde os anos 1960. Depois da estreia, o programa passará a ser exibido regularmente às segundas-feiras, às 22h30.
ANO SABÁTICO
Jennifer Lawrence, de 23 anos, precisa descansar. Uma das apresentadoras do Oscar deste ano, ela também concorre na categoria de atriz coajuvante por sua atuação em Trapaça. No ano passado, Jennifer venceu como melhor atriz por O lado bom da vida. O período de descanso pode durar até um ano, informou o produtor Harvey Weinstein ao tabloide britânico The Sun. “Tem sido intenso e ela merece um descanso”, disse. Nos últimos dois anos, a atual queridinha de Hollywood emendou vários trabalhos. Além dos já citados, fez também Jogos vorazes, A última casa da rua, The devil you know e Jogos vorazes: em chamas. A atriz já tem pelo menos mais quatro filmes engatilhados e estreia, em breve, X-men: dias de um futuro esquecido. Os outros são as duas últimas partes da saga Jogos vorazes e, como em O lado bom da vida, voltará a contracenar com Bradley Cooper no filme Serena.
PLATEIA
VIVA - Natália do Vale e Herson Capri, pela química de seus personagens, Chica e Ricardo, na novela Em família.
VAIA - Trama da tal máquina da felicidade, em Além do horizonte (Globo), já perdeu o gás. Novidades urgentes!
Tereza Cruvinel - Lula e Dilma
Tereza Cruvinel - Lula e Dilma
Lula não está picado pela mosca vermelha do retorno ao Planalto. Fará tudo para reeleger Dilma, mas acha mesmo que ela precisa mudar
Estado de Minas: 25/02/2014
Numa escala ontem em Manaus, a caminho de Cuba, o ex-presidente Lula chegou a pensar em divulgar uma nota negando que venha criticando o estilo da presidente Dilma Rousseff em conversas com os que o procuram para reclamar dela e do governo. Desistiu, acreditando que isso poria mais lenha num ambiente político-econômico que de fato o preocupa. Eles não vão se encontrar amanhã. Ele retorna na quinta-feira, um dia depois dela, mas vai se recolher durante o carnaval em algum lugar sossegado. Qualquer conversa, só no começo de março.
Na relação pessoal, não há estremecimento com a sucessora, que ele continua chamando de Dilminha, mas ele está mesmo angustiado com o rumo que as coisas vão tomando, na relação com os atores políticos e com os agentes econômicos, que, há meses, todos sabem, o procuram para se queixar. E, se houver brecha na conversa, para fazer alguma insinuação na linha “volta, Lula”. Em algum momento, disse ele na viagem, pode ter concordado com algum interlocutor, mas nunca se permitiu “ficar falando mal” de Dilma. Ela mesma, porém, admitiu que já não “tocam de ouvido”, plenamente afinados, como em outros tempos. Em Bruxelas, primeiro ela culpou os jornalistas: “Vocês podem tentar, de todas as formas, criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, mas não vão conseguir”. Mas emendou: “Eu e o presidente Lula não temos divergências, a não ser as normais”. Resta saber quais são, para ele e para ela.
As notícias sobre a suposta insatisfação de Lula com Dilma pipocaram na imprensa ontem, tal como na coluna de Luiz Carlos Azedo, no EM, e em reportagem na Folha de S.Paulo. Segundo auxiliares do ex-presidente, algumas posições ou comentários atribuídos a ele são corretos, mas outras não correspondem exatamente ao que ele tem dito. Podem ter sido distorcidas por interessados na versão. Não estaria ele, por exemplo, advogando mudanças na política econômica, que vem a ser uma continuidade da que foi implantada por ele, ao afastar-se da diretriz restritiva do governo anterior e apostar no crescimento impulsionado pelo consumo, na criação de um mercado de massas alavancado pelas políticas sociais compensatórias, os aumentos do salário mínimo e o choque na oferta de crédito, especialmente para as camadas que começaram a ter a renda ampliada.
Na sexta-feira passada, ele teve uma conversa de uma hora com Guido Mantega, que ele disse, durante o voo, nunca ter classificado como ministro da Fazenda “com prazo de validade vencido”. Ele pode até achar, diz o interlocutor, que Mantega se desgastou, mas não que esteja conduzindo uma política econômica equivocada. Foi com ele na Fazenda que seu governo alcançou as maiores taxas de crescimento, depois da inflexão desenvolvimentista após a saída de Palocci. Os ajustes que defende, e teria discutido fraternalmente com Mantega, são na forma de fazer o bolo, não na receita. E isso vale tanto para a economia como para a política: as decisões precisariam ser mais compartilhadas com os atores envolvidos, coisa em que ele é mestre, criando sempre a impressão de que as medidas foram negociadas, mesmo quando não foram. Mas Dilma, e não Mantega, é que precisaria mudar.
Neste momento, a maior preocupação dele é com a deterioração crescente e clara do arranjo político que propiciou suas duas eleições e a dela em 2010. Especialmente a relação com o PMDB, que, segundo ele recomendou no ano passado, não poderia “trincar”. Parece que trincou, já havendo em seu redor quem ache que a aliança, desse jeito, não está valendo a pena. Trincou porque o partido adotou postura mais conflitiva a partir da eleição de Eduardo Cunha para líder na Câmara, e porque o Planalto, de sua parte, errou na administração da nova situação. Quando o maior partido aliado chama outros oito para formarem um bloco “nem, nem” – nem governo nem oposição, vai depender de como formos tratados – a trincadura realmente é funda. O interlocutor diz nunca tê-lo ouvido recomendar a criação de um “núcleo duro”, mas é certo que ele sugeriu a Dilma reunir com mais frequência, como ele fazia, o chamado conselho político do governo, composto por presidentes e líderes de todos os partidos aliados. Ela só fez isso uma vez.
Embora preocupado, Lula não está picado pela mosca vermelha do retorno. Primeiro, como diz outro nome de seu núcleo duro atual, porque Dilma tem todo o direito à recandidatura. Depois, se decidisse rifá-la para se tornar candidato, estaria dizendo ao país que errou ao indicá-la como sucessora em 2010. Ele fará, a partir de agora, movimentos mais fortes em defesa do governo dela, e mergulhará na campanha da reeleição. Mas pedirá mesmo que ela faça a parte dela, mudando no que precisa mudar. Outro interlocutor disse ter ouvido dele: “Já falei com a Dilma, mas ela é muito teimosa”. Teimosia é algo que resume bem os traços que incomodam em Dilma: centralismo, autossuficiência, voluntarismo. Se mudar já é difícil depois de certa idade, imagine-se depois de galgada tão alta posição.
Os pesos do STF
Quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, determinou a prisão dos primeiros condenados do mensalão, negou a possibilidade de cumprirem pena nos próprios estados em que residiam, Minas Gerais e São Paulo. Foram todos removidos para Brasília, naquele avião meio sinistro da Polícia Federal. A assessoria dele explicou, na época, que um condenado pelo Supremo tem que pelo menos começar a cumprir pena na capital federal. Não foi o que aconteceu com Roberto Jefferson, ontem recolhido a um presídio do Rio. Faz parte dos pesos distintos da execução penal. Jefferson pode dizer que cumpriu seu desígnio. Quando estourou o escândalo nos Correios, em 2005, com Maurício Marinho dizendo que pedia propina em seu nome, ele declarou, no Conselho de Ética: “Se eu for para o banco dos réus, levo muita gente comigo”.
Lula não está picado pela mosca vermelha do retorno ao Planalto. Fará tudo para reeleger Dilma, mas acha mesmo que ela precisa mudar
Estado de Minas: 25/02/2014
Numa escala ontem em Manaus, a caminho de Cuba, o ex-presidente Lula chegou a pensar em divulgar uma nota negando que venha criticando o estilo da presidente Dilma Rousseff em conversas com os que o procuram para reclamar dela e do governo. Desistiu, acreditando que isso poria mais lenha num ambiente político-econômico que de fato o preocupa. Eles não vão se encontrar amanhã. Ele retorna na quinta-feira, um dia depois dela, mas vai se recolher durante o carnaval em algum lugar sossegado. Qualquer conversa, só no começo de março.
Na relação pessoal, não há estremecimento com a sucessora, que ele continua chamando de Dilminha, mas ele está mesmo angustiado com o rumo que as coisas vão tomando, na relação com os atores políticos e com os agentes econômicos, que, há meses, todos sabem, o procuram para se queixar. E, se houver brecha na conversa, para fazer alguma insinuação na linha “volta, Lula”. Em algum momento, disse ele na viagem, pode ter concordado com algum interlocutor, mas nunca se permitiu “ficar falando mal” de Dilma. Ela mesma, porém, admitiu que já não “tocam de ouvido”, plenamente afinados, como em outros tempos. Em Bruxelas, primeiro ela culpou os jornalistas: “Vocês podem tentar, de todas as formas, criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, mas não vão conseguir”. Mas emendou: “Eu e o presidente Lula não temos divergências, a não ser as normais”. Resta saber quais são, para ele e para ela.
As notícias sobre a suposta insatisfação de Lula com Dilma pipocaram na imprensa ontem, tal como na coluna de Luiz Carlos Azedo, no EM, e em reportagem na Folha de S.Paulo. Segundo auxiliares do ex-presidente, algumas posições ou comentários atribuídos a ele são corretos, mas outras não correspondem exatamente ao que ele tem dito. Podem ter sido distorcidas por interessados na versão. Não estaria ele, por exemplo, advogando mudanças na política econômica, que vem a ser uma continuidade da que foi implantada por ele, ao afastar-se da diretriz restritiva do governo anterior e apostar no crescimento impulsionado pelo consumo, na criação de um mercado de massas alavancado pelas políticas sociais compensatórias, os aumentos do salário mínimo e o choque na oferta de crédito, especialmente para as camadas que começaram a ter a renda ampliada.
Na sexta-feira passada, ele teve uma conversa de uma hora com Guido Mantega, que ele disse, durante o voo, nunca ter classificado como ministro da Fazenda “com prazo de validade vencido”. Ele pode até achar, diz o interlocutor, que Mantega se desgastou, mas não que esteja conduzindo uma política econômica equivocada. Foi com ele na Fazenda que seu governo alcançou as maiores taxas de crescimento, depois da inflexão desenvolvimentista após a saída de Palocci. Os ajustes que defende, e teria discutido fraternalmente com Mantega, são na forma de fazer o bolo, não na receita. E isso vale tanto para a economia como para a política: as decisões precisariam ser mais compartilhadas com os atores envolvidos, coisa em que ele é mestre, criando sempre a impressão de que as medidas foram negociadas, mesmo quando não foram. Mas Dilma, e não Mantega, é que precisaria mudar.
Neste momento, a maior preocupação dele é com a deterioração crescente e clara do arranjo político que propiciou suas duas eleições e a dela em 2010. Especialmente a relação com o PMDB, que, segundo ele recomendou no ano passado, não poderia “trincar”. Parece que trincou, já havendo em seu redor quem ache que a aliança, desse jeito, não está valendo a pena. Trincou porque o partido adotou postura mais conflitiva a partir da eleição de Eduardo Cunha para líder na Câmara, e porque o Planalto, de sua parte, errou na administração da nova situação. Quando o maior partido aliado chama outros oito para formarem um bloco “nem, nem” – nem governo nem oposição, vai depender de como formos tratados – a trincadura realmente é funda. O interlocutor diz nunca tê-lo ouvido recomendar a criação de um “núcleo duro”, mas é certo que ele sugeriu a Dilma reunir com mais frequência, como ele fazia, o chamado conselho político do governo, composto por presidentes e líderes de todos os partidos aliados. Ela só fez isso uma vez.
Embora preocupado, Lula não está picado pela mosca vermelha do retorno. Primeiro, como diz outro nome de seu núcleo duro atual, porque Dilma tem todo o direito à recandidatura. Depois, se decidisse rifá-la para se tornar candidato, estaria dizendo ao país que errou ao indicá-la como sucessora em 2010. Ele fará, a partir de agora, movimentos mais fortes em defesa do governo dela, e mergulhará na campanha da reeleição. Mas pedirá mesmo que ela faça a parte dela, mudando no que precisa mudar. Outro interlocutor disse ter ouvido dele: “Já falei com a Dilma, mas ela é muito teimosa”. Teimosia é algo que resume bem os traços que incomodam em Dilma: centralismo, autossuficiência, voluntarismo. Se mudar já é difícil depois de certa idade, imagine-se depois de galgada tão alta posição.
Os pesos do STF
Quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, determinou a prisão dos primeiros condenados do mensalão, negou a possibilidade de cumprirem pena nos próprios estados em que residiam, Minas Gerais e São Paulo. Foram todos removidos para Brasília, naquele avião meio sinistro da Polícia Federal. A assessoria dele explicou, na época, que um condenado pelo Supremo tem que pelo menos começar a cumprir pena na capital federal. Não foi o que aconteceu com Roberto Jefferson, ontem recolhido a um presídio do Rio. Faz parte dos pesos distintos da execução penal. Jefferson pode dizer que cumpriu seu desígnio. Quando estourou o escândalo nos Correios, em 2005, com Maurício Marinho dizendo que pedia propina em seu nome, ele declarou, no Conselho de Ética: “Se eu for para o banco dos réus, levo muita gente comigo”.
VIVA VOZ » A utopia de cada dia Ângela Faria
VIVA VOZ »
A utopia de cada dia
Ângela Faria
Estado de Minas: 25/02/2014
Caetano mostrou seu Abraçaço aos mineiros em abril do ano passado, no Palácio das Artes |
Com o perdão da rima pobre, Abraçaço ao vivo é um discaço. Gravado em agosto no Vivo Rio, o CD/DVD traz o repertório do álbum homônimo, lançado por Caetano Veloso em 2012, em vigoroso diálogo com antigas canções. Aos 71 anos, cabelos brancos e sutil rebolado, o velho baiano empurra a MPB para longe da zona de conforto. A Banda Cê – o power trio Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo e piano) e Marcelo Callado (bateria) – é coautora da proeza.
A faixa de abertura, a recente A bossa nova é foda, petardo em homenagem ao “bruxo de Juazeiro”, virou praticamente grito de guerra. De braço erguido, a plateia grita o refrão (ou palavra de ordem?) para em seguida ouvir Lindeza, com seus doces acordes, gravada em Circuladô (1991). Três meses depois das manifestações de junho, o público aplaude para valer o verso “vida sem utopia não entendo que exista”, de Um comunista, tributo ao guerrilheiro Carlos Marighella, ícone da esquerda brasileira. Enquanto Caetano revela seu desencanto com revoluções e violência, o “samba fúnebre” reverencia a saga do fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), executado por agentes da ditadura militar. A setentista Triste Bahia parece ter sido feita hoje, tão bem se encaixa na saga do mulato baiano. O pot-pourri de cantos populares traz toques de capoeira. Marighella costumava jogar com mestres no Pelourinho.
À recente Estou triste – “o lugar mais frio do Rio é o meu quarto” – segue-se a vigorosa Odeio, do álbum Cê (2006), em que o poeta se diz velho e feio. A tristeza acaba em samba, a contagiante Escapulário. “Dai-nos senhor a poesia de cada dia”, cantam Caetano e o público, arrebatado pela versão arrasa-quarteirão da Banda Cê para Funk melódico. Rock na veia.
Bom de palco, o setentão Caetano não está ali para conversar. Dança, dá seus pulinhos, brinca de roqueiro e, performático, se joga. Em Homem, ele confessa a inveja dos orgasmos múltiplos femininos e se esparrama pelo chão. Faz sutil striptease durante a veterana returbinada De noite na cama. Abre a blusa, mostrando barriga e peito. Bem menos que Ney Matogrosso, é certo, mas o suficiente para ironizar os militantes da ditadura dos sarados, devotos da eterna juventude.
O público o aplaude ao ouvir “cadê o Amarildo?”, mantra cívico que ecoou pelo Brasil durante as manifestações de junho e julho do ano passado. A pressão popular obrigou o governo fluminense a esclarecer o assassinato do pedreiro, acusado de tráfico, mas, na verdade, torturado por PMs na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha. “O império da lei há de vingar”, roga o velho baiano.
Descrente das revoluções, o conterrâneo de Marighella não foge à luta. Há anos Caetano Veloso ocupa seu lugar na arena para brigar por suas convicções – seja para questionar a atuação dos biógrafos no Brasil, defender o diálogo com os black blocs ou denunciar a posição da mídia em relação ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) no recente episódio da morte do cinegrafista Santiago Andrade. Zona de conforto, definitivamente, não é a praia deste medalhão da MPB
POLIGLOTA » Pedido de emprego em cinco idiomas
POLIGLOTA »
Pedido de emprego em cinco idiomas
Ex-faxineira do Mercado Central que se
revelou poliglota deixou o emprego por causa do baixo salário e enfrenta
dificuldade para achar trabalho. Está ganhando a vida em fábrica de
tijolos
Arnaldo Viana
Estado de Minas: 25/02/2014
Em
ano de Copa do Mundo, antevéspera da Olimpíada, em um país de raros
poliglotas que precisa incrementar o turismo, quanto vale uma mulher de
43 anos, 1,69m, 51kg, que domina fluentemente cinco idiomas, incluindo o
português, e, sem tanta fluência, se comunica em outros dois? Para o
Mercado Central de BH, de onde foi dispensada há sete meses, não mais
que R$ 1 mil por mês. Para o dono de uma cerâmica no Bairro Paquetá, em
Betim, na região metropolitana, apenas R$ 740 mensais, e sem carteira
assinada. Entre montanhas de argila e máquinas de prensar o barro, a
poliglotia de Maria da Conceição da Silva não tem a menor serventia. Por
isso, se quiser receber no fim do mês precisa, literalmente, botar a
mão na massa.
Natural do Recife (PE), filha de doméstica, mãe presente, e de caminhoneiro, pai ausente, Maria da Conceição da Silva tem trajetória semelhante à de incontáveis nordestinos que não viram oportunidades na terra natal e a deixaram para encarar o mundo. Antes de pegar a estrada, ou melhor, um avião, trabalhou na construção civil, em loja de autopeças, em manutenção de computadores e se formou em contabilidade. Até na mecânica se aventurou. Perambulou pela Europa, mais precisamente Holanda e Alemanha, onde aperfeiçoou o inglês, além de aprender espanhol, italiano, holandês e um tanto de alemão e hebraico.
Veio para a Grande BH há dois anos atraída pelo amor. Perambulou em busca de emprego, mas enfrentou preconceito e descrença, até o dia em que entrou no Mercado Central, em fevereiro do ano passado, para comprar goma de tapioca. Lá, precisavam de faxineiras. Candidatou-se e preencheu uma das vagas para ganhar um pouco mais que o salário mínimo. Um dia, um dos colegas da limpeza a viu falando ao celular de maneira incompreensível para ele. Procurou o superintendente Luiz Carlos Braga e denunciou: “Uma das faxineiras está ao telefone falando uma língua maluca”. Conceição foi chamada ao escritório. Explicou-se e ganhou uma vaga de atendente no guichê turístico do mercado.
A promessa é que o salário seria corrigido a uma faixa compatível à nova função. O mercado não conseguiu cumpri-la e, depois de seis meses de trabalho, Maria da Conceição foi dispensada. Ela preferiu assim. Enquanto estava a serviço de turistas, recebeu propostas de hotéis de Paraty (RJ), do Rio e de Recife, mas a preferência era por BH, pelo mercado. Saiu novamente a campo. Espalhou o currículo por hotéis, restaurantes e empresas em busca de trabalho, work, trabajo, lavoro, werk, e nada. Para sobreviver, aceitou emprego temporário na cerâmica, como servente. O trabalho é pegar tijolos prensados pela máquina, em uma esteira rolante, e levá-los de carrinho até as pilhas de secagem. A máquina cospe 30 unidades a cada dois minutos. É preciso rapidez e delicadeza para não danificá-los.
SEM RECORDAÇÕES Do Nordeste, Maria da Conceição só guarda saudade da mãe, que morreu no início dos anos 1990. Não há como guardar boas recordações de uma infância de privações, de ver a família dispersada pela necessidade, pois a mãe, sem apoio do marido, teve que doar os filhos para não vê-los com fome. Sorte da Conceição é que, no caso dela, a mãe se arrependeu e a pegou de volta para uma jornada difícil que a menina teve de ajudar a superar, iniciando-se no trabalho já aos 10 anos. E carregar tijolo não é para ela uma tarefa penosa. Está acostumada a pegar no pesado.
Aprendizado na Europa
Maria da Conceição foi para a Europa em 2005, atraída por um espanhol, um alemão e uma holandesa que conheceu no Nordeste. Mas não embarcou só. Homossexual assumida, levou a companheira, mineira de Betim, fruto de um relacionamento que nasceu nas redes sociais. Foi bem recebida na Holanda e orientada a estudar línguas. “Um marroquino maluco me ensinou um pouco de hebraico.” Fez de tudo por lá. De faxina a instalação de pisos de cerâmica. Um dia, a companheira precisou voltar, a chamado da família, e Maria da Conceição veio junto para perambular por BH até entrar no Mercado Central, porta que supunha aberta para outro mercado, mais amplo, o de trabalho.
“Realmente, era nossa intenção melhorar o salário dela, mas não havia um cargo aberto para aproveitá-la no que ela sabe fazer, que é receber. Teríamos que mexer em toda a nossa estrutura salarial, no plano de cargos e salários, daí a rescisão”, diz o superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga. Um desenlace amigável. “Por ter acreditado na promessa do mercado, perdi oportunidades. Queria ficar lá, gostei”, conta Maria da Conceição. Há quem pense que a reivindicação salarial está ligada à vaidade, que ela mudou depois que se tornou notícia nacional. A resposta vem em tom de sinceridade: “Será que foi? Quem quer aparecer se esconde? Moraria onde eu moro? Trabalharia onde trabalho?”.
Maria da Conceição tinha argumentos para resistir aos R$ 700 ou R$ 1 mil que ganhava no mercado. Entre os quais, o fato de morar longe e, para recepcionar pessoas, precisava andar bem vestida e maquiada. Isso tem custo. Na cerâmica, perto de casa, nem de ônibus precisa. Além disso, a baixa remuneração desqualifica o profissional. E teve de desempenhar a função no mercado enfrentando a ira do Sindicato dos Guias Turísticos. “Fui alertada. Disseram que, por não ser diplomada em turismo, não poderia acompanhar turistas em caminhadas pelas lojas. Cheguei a levar alguns do mercado até o Minascentro, em frente, a pedidos. Meu trabalho se resumia, segundo eles, a dar informações no guichê.”
No mercado, ganhou da Belotur um curso de informações turísticas. “O conteúdo era sobre os recursos turísticos de Minas Gerais. Muito bom, porque o turista estrangeiro é objetivo, exige informações precisas, e quem os recebe deve estar bem preparado. Além disso, tratar com pessoas requer tato, delicadeza. O turista não quer apenas informações sobre história, cultura. Quer saber também de transporte, se há ônibus, avião, onde pegar táxi, onde se hospedar e comer.” Com toda essa bagagem, por que não consegue um emprego condizente com o currículo? Maria da Conceição não fala em preconceito, mas em resistência à aceitação. “Aqui, a cabeça das pessoas se fecha. Se não houver uma indicação…”
E por que não foi embora, tentar a sorte em outro lugar? “Hoje, preciso de um porto seguro. E o meu, por enquanto, é aqui. Cheguei a ir ao litoral, mas não encontrei trabalho que desse segurança. Além disso, não estou sozinha. Tenho uma companheira, que trabalha como segurança patrimonial, que também precisa de emprego. Mas está difícil. Espalhei meu currículo e a única resposta que recebi via e-mail foi que, apesar das minhas qualificações, a empresa não se interessava em contratar alguém conhecida nacionalmente.” Só porque foi personagem de reportagens em jornais e na TV? Maria da Conceição deixa o endereço de e-mail para quem estiver interessado em seus conhecimentos: conceiçãoleeuw@gmail.com.
Arnaldo Viana
Estado de Minas: 25/02/2014
A máquina cospe 30 tijolos a cada dois minutos
e a rotina de Maria da Conceição, que ganha R$ 740 por mês, é
transportá-los em um carrinho de mão até as pilhas de secagem |
Natural do Recife (PE), filha de doméstica, mãe presente, e de caminhoneiro, pai ausente, Maria da Conceição da Silva tem trajetória semelhante à de incontáveis nordestinos que não viram oportunidades na terra natal e a deixaram para encarar o mundo. Antes de pegar a estrada, ou melhor, um avião, trabalhou na construção civil, em loja de autopeças, em manutenção de computadores e se formou em contabilidade. Até na mecânica se aventurou. Perambulou pela Europa, mais precisamente Holanda e Alemanha, onde aperfeiçoou o inglês, além de aprender espanhol, italiano, holandês e um tanto de alemão e hebraico.
Veio para a Grande BH há dois anos atraída pelo amor. Perambulou em busca de emprego, mas enfrentou preconceito e descrença, até o dia em que entrou no Mercado Central, em fevereiro do ano passado, para comprar goma de tapioca. Lá, precisavam de faxineiras. Candidatou-se e preencheu uma das vagas para ganhar um pouco mais que o salário mínimo. Um dia, um dos colegas da limpeza a viu falando ao celular de maneira incompreensível para ele. Procurou o superintendente Luiz Carlos Braga e denunciou: “Uma das faxineiras está ao telefone falando uma língua maluca”. Conceição foi chamada ao escritório. Explicou-se e ganhou uma vaga de atendente no guichê turístico do mercado.
A promessa é que o salário seria corrigido a uma faixa compatível à nova função. O mercado não conseguiu cumpri-la e, depois de seis meses de trabalho, Maria da Conceição foi dispensada. Ela preferiu assim. Enquanto estava a serviço de turistas, recebeu propostas de hotéis de Paraty (RJ), do Rio e de Recife, mas a preferência era por BH, pelo mercado. Saiu novamente a campo. Espalhou o currículo por hotéis, restaurantes e empresas em busca de trabalho, work, trabajo, lavoro, werk, e nada. Para sobreviver, aceitou emprego temporário na cerâmica, como servente. O trabalho é pegar tijolos prensados pela máquina, em uma esteira rolante, e levá-los de carrinho até as pilhas de secagem. A máquina cospe 30 unidades a cada dois minutos. É preciso rapidez e delicadeza para não danificá-los.
SEM RECORDAÇÕES Do Nordeste, Maria da Conceição só guarda saudade da mãe, que morreu no início dos anos 1990. Não há como guardar boas recordações de uma infância de privações, de ver a família dispersada pela necessidade, pois a mãe, sem apoio do marido, teve que doar os filhos para não vê-los com fome. Sorte da Conceição é que, no caso dela, a mãe se arrependeu e a pegou de volta para uma jornada difícil que a menina teve de ajudar a superar, iniciando-se no trabalho já aos 10 anos. E carregar tijolo não é para ela uma tarefa penosa. Está acostumada a pegar no pesado.
Nos tempos de Mercado Central, a experiência bem-sucedida na recepção de turistas, função que, segundo ela, não teve remuneração condizente |
Aprendizado na Europa
Maria da Conceição foi para a Europa em 2005, atraída por um espanhol, um alemão e uma holandesa que conheceu no Nordeste. Mas não embarcou só. Homossexual assumida, levou a companheira, mineira de Betim, fruto de um relacionamento que nasceu nas redes sociais. Foi bem recebida na Holanda e orientada a estudar línguas. “Um marroquino maluco me ensinou um pouco de hebraico.” Fez de tudo por lá. De faxina a instalação de pisos de cerâmica. Um dia, a companheira precisou voltar, a chamado da família, e Maria da Conceição veio junto para perambular por BH até entrar no Mercado Central, porta que supunha aberta para outro mercado, mais amplo, o de trabalho.
“Realmente, era nossa intenção melhorar o salário dela, mas não havia um cargo aberto para aproveitá-la no que ela sabe fazer, que é receber. Teríamos que mexer em toda a nossa estrutura salarial, no plano de cargos e salários, daí a rescisão”, diz o superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga. Um desenlace amigável. “Por ter acreditado na promessa do mercado, perdi oportunidades. Queria ficar lá, gostei”, conta Maria da Conceição. Há quem pense que a reivindicação salarial está ligada à vaidade, que ela mudou depois que se tornou notícia nacional. A resposta vem em tom de sinceridade: “Será que foi? Quem quer aparecer se esconde? Moraria onde eu moro? Trabalharia onde trabalho?”.
Maria da Conceição tinha argumentos para resistir aos R$ 700 ou R$ 1 mil que ganhava no mercado. Entre os quais, o fato de morar longe e, para recepcionar pessoas, precisava andar bem vestida e maquiada. Isso tem custo. Na cerâmica, perto de casa, nem de ônibus precisa. Além disso, a baixa remuneração desqualifica o profissional. E teve de desempenhar a função no mercado enfrentando a ira do Sindicato dos Guias Turísticos. “Fui alertada. Disseram que, por não ser diplomada em turismo, não poderia acompanhar turistas em caminhadas pelas lojas. Cheguei a levar alguns do mercado até o Minascentro, em frente, a pedidos. Meu trabalho se resumia, segundo eles, a dar informações no guichê.”
No mercado, ganhou da Belotur um curso de informações turísticas. “O conteúdo era sobre os recursos turísticos de Minas Gerais. Muito bom, porque o turista estrangeiro é objetivo, exige informações precisas, e quem os recebe deve estar bem preparado. Além disso, tratar com pessoas requer tato, delicadeza. O turista não quer apenas informações sobre história, cultura. Quer saber também de transporte, se há ônibus, avião, onde pegar táxi, onde se hospedar e comer.” Com toda essa bagagem, por que não consegue um emprego condizente com o currículo? Maria da Conceição não fala em preconceito, mas em resistência à aceitação. “Aqui, a cabeça das pessoas se fecha. Se não houver uma indicação…”
E por que não foi embora, tentar a sorte em outro lugar? “Hoje, preciso de um porto seguro. E o meu, por enquanto, é aqui. Cheguei a ir ao litoral, mas não encontrei trabalho que desse segurança. Além disso, não estou sozinha. Tenho uma companheira, que trabalha como segurança patrimonial, que também precisa de emprego. Mas está difícil. Espalhei meu currículo e a única resposta que recebi via e-mail foi que, apesar das minhas qualificações, a empresa não se interessava em contratar alguém conhecida nacionalmente.” Só porque foi personagem de reportagens em jornais e na TV? Maria da Conceição deixa o endereço de e-mail para quem estiver interessado em seus conhecimentos: conceiçãoleeuw@gmail.com.
O impacto da obesidade no Brasil - Rodrigo D'Alessandro de Macedo
O impacto da obesidade no Brasil
Rodrigo D'Alessandro de Macedo
Ortopedista, presidente da Sociedade Brasileira de Coluna Regional MG
Estado de Minas: 25/02/2014
O número de pessoas obesas tem aumentado de forma progressiva na população brasileira e a consequência é que a qualidade de vida e a saúde diminuem de forma proporcional. Muito se tem dito sobre o impacto da obesidade para o sistema cardiorrespiratório, diversos artigos relatam uma maior incidência de diabetes, hipertensão arterial e eventos isquêmicos como infarto agudo do miocárdio em pacientes obesos.
Porém é importante citar a repercussão sobre o sistema musculoesquelético. A obesidade é um dos fatores fortemente relacionados à dor na coluna e artrose em articulações que suportam o nosso peso (como quadris, joelhos, tornozelos e articulações dos pés). Essas condições se manifestam por dor crônica que determina, por sua vez, um ciclo vicioso em que os pacientes diminuem as atividades físicas devido à dor e, consequentemente, interfere no controle do peso corporal.
As cartilagens são tecidos que recobrem as superfícies das articulações e propiciam um movimento suave. Elas atuam como amortecedores e, como tais, apresentam uma vida útil funcional limitada e, quando expostas a uma carga excessiva, acabam se degenerando precocemente, determinando uma condição denominada de artrose. Infelizmente, ainda não existe tratamento que consiga recuperar a cartilagem deteriorada de forma efetiva.
Além dos custos pessoais em relação à qualidade de vida das pessoas, há um enorme custo econômico. Sabe-se que os quadros de lombalgia representam a segunda causa mais frequente de absenteísmo ao trabalho. Soma-se a isso o fato de que o tratamento da artrose dos membros inferiores é prolongado, com uso de medicamentos, reabilitação fisioterápica e em algumas situações há necessidade de procedimentos cirúrgicos, o que demanda recursos financeiros significativos ao estado e à população. Em determinadas situações, os procedimentos cirúrgicos adquirem riscos elevados pelas comorbidades que mais frequentemente acometem esses pacientes. Cria-se uma situação de difícil solução, pois a não realização de cirurgia leva a um sedentarismo que, por sua vez, dificulta o controle de determinadas condições clínicas e aumenta o risco de diversas doenças.
É importante investir em medidas que façam frente a essa tendência à obesidade em nossa sociedade. Medidas que se justifiquem tanto no plano de qualidade de vida como de recursos utilizados para tratamento das consequências.
Medidas simples como o estimulo à prática esportiva e alimentação saudável são fundamentais. Essas medidas preventivas, quando começam na infância, apresentam o maior impacto na redução da obesidade. As crianças desde cedo devem ser orientadas sobre a importância da prática esportiva diária. Elas se tornarão adultos com uma maior probabilidade de sentirem necessidade do esporte durante toda a vida. Verificamos que muitos países têm estimulado o esporte junto às escolas e universidades, propiciando um ambiente favorável à prática esportiva e fornecendo bolsas de estudo para os atletas. Mesmo que o aluno não se torne um atleta profissional, ele teve oportunidade de obter o aprendizado do esporte e seguir uma carreira profissional.
É importante investir em locais públicos como praças, quadras esportivas, parques e piscinas públicas. Informações veiculadas pela imprensa sobre a importância de uma alimentação saudável devem ser divulgadas de forma contínua. Um maior controle sobre a venda de produtos extremamente calóricos e pouco nutritivos deve ser realizado.
Infelizmente, muito pouco tem se observado no Brasil medidas que visem combater esse problema, que adquire cada vez mais uma proporção maior. Não se tem dado o enfoque a esse problema de forma responsável. Pode-se dizer que, de forma análoga ao investimento em medidas sanitárias, um real gasto no combate da obesidade representará centenas de reais economizados no tratamento das repercussões médicas da obesidade, além da melhora da qualidade de vida de nossa população.
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