sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Dúvidas - Eduardo Almeida Reis

Portanto, encerro este suelto, que está com 385 palavras, com uma boa notícia: o CHIKV é muito melhor do que o ebola


Estado de Minas: 14/11/2014




Quando ouço que a seca de 2014 é a maior em 80 anos, fico sem saber se já houve ano mais seco ou só começaram a anotar as chuvas há 80 anos. O brasileiro é meio distraído em matéria de números. O guineano Sulymane Bah, quando suspeito de circular com o vírus do ebola, na reportagem de um mesmo telejornal, ora teria ficado hospedado com um casal em Cascavel, ora hospedado num abrigo que tinha 30 pessoas dormindo num só quarto.

Com a seca de 2014, o Norte de Minas chegou ao Triângulo Mineiro. Há 40 anos pensei comprar fazenda margeando o Rio Verde Grande, quando visitei um ror de propriedades rurais norte-mineiras. Todos os fazendeiros, sem exceção de um único, ao receber um visitante, mesmo que não estivessem vendendo as fazendas, cuidavam de relacionar seus açudes, seus poços, só falavam das águas disponíveis.

Nos telejornais agora de outubro, além dos incêndios que consumiam Minas, o assunto principal foi a seca no Triângulo. Assoreamento, sabemos todos, é o acúmulo de sedimentos pelo depósito de terra, areia, argila, detritos etc. na calha de um rio, na sua foz, em uma baía, um lago etc., consequência direta de enchentes pluviais, frequentemente devido ao mau uso do solo e à degradação da bacia hidrográfica, causada por desmatamentos, monoculturas, garimpos predatórios, construções etc.

O excesso de etc. corre por conta do Houaiss, porque me limito à seguinte constatação: os mesmos repórteres que culpavam o assoreamento dos rios do Triângulo pela seca de 2014, acusavam as dragas de extração de areia e argila das calhas dos rios pela mesmíssima seca. Parece-me, e o leitor talvez concorde comigo, que as dragas extraem areias e argilas que assoreiam, portanto devem contribuir para reduzir o assoreamento ou acabar com ele. Resumindo, nem se pode dizer que a situação está preta, porque seria crime de racismo. Digamos, então, que está ruça. Pela atenção, muitíssimo obrigado.

Maconde

Maconde é a língua falada pelos macondes, grupo de populações originalmente de agricultores, de línguas nigero-congolesas orientais (bantos), que vive no Nordeste de Moçambique, especialmente em Mueda e estendendo-se até Macomia e o Norte de Mocímboa da Praia e também no Sudeste da Tanzânia.

Chicungunha é o aportuguesamento de chikungunya, nome em maconde da febre documentada pela primeira vez em 1953, termo proveniente da raiz verbal kungunyala, que significa “tornar-se dobrado ou contorcido” com a curvatura dos pacientes pelas dores articulares e musculares. Em Angola, a febre é conhecida como catolotolo, do quimbundo katolotolu, derivação do verbo kutolojoka “ficar alquebrado”, como acabo de aprender.

A exemplo da dengue, a chicungunha pode ser culpa nossa: minha, sua, dos nossos vizinhos. Ao estado competem as políticas econômicas, educacionais, de saúde e segurança públicas, os projetos de governo etc. Compete-nos cuidar dos nossos jardins e fiscalizar os lotes vizinhos, para evitar que se formem depósitos de águas limpas como caixas sem tampas, pneus velhos, latas etc. nos quais se multiplicam os mosquitos transmissores da dengue e da febre chicungunha.

No Brasil, doença que não tenha sido explicada pelo Dr. Dráuzio Varella não existe, é cisma, é boato. Ouçamos, portanto, o que diz o mestre: “A febre chikungunya é uma doença viral parecida com a dengue, transmitida por um mosquito comum em algumas regiões da África. Nos últimos anos, inúmeros casos da doença foram registrados em países da Ásia e da Europa. Recentemente, o vírus CHIKV foi identificado em ilhas do Caribe e na Guiana Francesa, país latino-americano que faz fronteira com o estado do Amapá.

O certo é que o chikungunya está migrando e chegou às Américas. No Brasil, a preocupação é que o Aedes aegypti e o Aedes albopictus, mosquitos transmissores da dengue e da febre amarela, têm todas as condições de espalhar esse novo vírus pelo país. Seu ciclo de transmissão é mais rápido que o da dengue. Em no máximo sete dias a contar do momento em que foi infectado, o mosquito começa a transmitir o CHIKV para uma população que não possui anticorpos contra ele. Por isso, o objetivo é estar atento para bloquear a transmissão tão logo apareçam os primeiros casos”.

Não me agrada, nunca fez e não faz o meu gênero assustar o caro e preclaro leitor. Portanto, encerro este suelto, que está com 385 palavras, com uma boa notícia: o CHIKV é muito melhor do que o ebola.


O mundo é uma bola

14 de novembro, dia paupérrimo em matéria de fatos de real importância. Querem ver? Então, vamos lá: em 1821, dom Pedro I eleva Porto Alegre à categoria de cidade. Acontece que o rapaz, em novembro de 1821, ainda não era Pedro I, mas príncipe regente. Em 1945, a Bolívia é admitida como Estado-membro da ONU. Em rigor, o único fato digno de nota no dia 14 de novembro foi a transferência, em 1963, da Escola Nacional de Florestas de Viçosa (MG) para Curitiba (PR), até hoje injustificável. Se bem que a Universidade Federal de Viçosa, anos mais tarde, tenha tentado justificar aquela imbecilidade quando outorgou o título de doutor honoris causa a um analfabeto. Hoje é o Dia da Amizade, da Alfabetização, do Bandeirante e da Diabetes.

Ruminanças
“Ainda que expulses a natureza com um forcado, voltará a reaparecer” (Horácio, 65-8 a.C.).

Mutirão das letras

Bienal do Livro de Minas começa hoje com o objetivo de estimular o hábito da leitura e aproximar autores do povo. Agenda tem lançamentos, palestras e sessões de autógrafos


Mariana Peixoto
Estado de Minas: 14/11/2014



Dezenas de títulos serão lançados na Bienal do Livro de Minas, que será encerrada no dia 23



 (EULER JR./EM/D.A PRESS)
Dezenas de títulos serão lançados na Bienal do Livro de Minas, que será encerrada no dia 23


A hora do livro chegou. Pela primeira vez desde sua criação, em 2008, a Bienal do Livro de Minas é realizada em novembro. Até dia 23, o evento pretende levar ao Expominas 250 mil pessoas, que terão acesso a uma programação de debates e sessões de autógrafos. Em quatro grandes espaços – Café Literário, Conexão Jovem, Bienal em Quadrinhos e Minas de Histórias (para o público infantil) –, o evento vai receber 125 autores. Além disso, boa parte dos 160 expositores oferecerão programação própria, também destinada a lançamentos literários.

Tradicionalmente realizado em maio – a data foi mudada este ano por causa da Copa do Mundo e das eleições –, o evento, dada a proximidade do Natal, pretende suplantar os números da edição anterior. “Se nas festas literárias o momento é do autor, na bienal o livro fica sob os holofotes. Por causa do apelo do fim de ano, nossa meta é arrecadar mais de R$ 17 milhões em vendas, o valor que conseguimos da última vez”, afirma a presidente da Câmara Mineira do Livro (CML), Rosana Mont’Alverne.

Há outras razões para tal. Belo Horizonte figura no topo das cidades brasileiras com o maior número de livrarias por habitante, seguida por três gaúchas e uma mineira: Lajeado, Carazinho, Porto Alegre e Viçosa. O dado integra a pesquisa realizada pela CML em parceria com a Associação Nacional de Livrarias (ANL). Além disso, a população de BH lê 2,4 livros por trimestre, índice superior à média nacional, que é de 1,85.

“Se é garantia de mais vendas? Digamos que seja um bom indicador de uma cultura leitora que se fortalece na capital mineira. Em BH, estamos colhendo os frutos de programas governamentais de incentivo à leitura, bem como de iniciativas das próprias editoras, ONGs, bibliotecas e escolas públicas e privadas no sentido de promover o livro, o leitor e a leitura”, observa Rosana Mont’Alverne.

ENCONTROS

Essa política não seria tão efetiva se não houvesse a presença do autor. Para tal, a programação é extensa. Hoje, na abertura da bienal, haverá homenagens a escritores mortos recentemente. Às 19h, Zeca Camargo lerá textos de Ariano Suassuna. A memória do mineiro Rubem Alves será lembrada na biblioteca que leva o nome do escritor de Boa Esperança. Serão oferecidos 250 volumes para leitura, entre títulos de Alves e de outros autores.

Também hoje, outro mineiro ilustre, o escritor e crítico Silviano Santiago, participa da abertura oficial da bienal. Às 19h30, ele dá início à programação do Café Literário conversando com o público sobre o conjunto de sua obra. Também vai analisar as fronteiras entre realidade e imaginação, com direito a um passeio por sua trajetória intelectual nas últimas décadas. Vencedor do Prêmio Machado de Assis em 2013 pelo conjunto de sua obra e um dos mais brilhantes ensaístas brasileiros, Santiago é professor universitário e recebeu recentemente o Prêmio Ibero-americano de Letras José Donoso 2014, concedido pela Universidade de Talca, no Chile.

O escritor João Paulo Cuenca assina a curadoria do Café Literário, que vai oferecer debates diários sobre temas diversos. Amanhã, serão três encontros: Adriana Calcanhotto (que faz show hoje no Palácio das Artes) e Gregório Duvivier conversam sobre poesia (às 14h); Luiz Ruffato e André Sant’Anna sobre literatura e política (às 17h); e Carlos de Brito e Mello, Mário Alex Rosa e Ana Maria Martins debatem sobre a nova literatura mineira (às 19h30). Domingo, Sérgio Rodrigues fala sobre literatura e futebol (às 15h) e Lira Neto e Paulo César de Araújo sobre biografia (17h).

JOVENS

Com o boom da produção para jovens, a Bienal do Livro de Minas vai contar pela primeira vez com um espaço voltado para o encontro do público com autores que se destacam nesse segmento. A Conexão Jovem vai trazer no domingo, ao meio-dia, a norte-americana Margaret Stohl. Pela primeira vez no Brasil, a coautora da série Beautiful creatures (que deu origem ao longa-metragem 16 luas) vai autografar seu primeiro romance solo, Ícones, além de Sirena, título de nova série escrita em parceria com Kami Garcia. Autoras de best-sellers, Paula Pimenta e Thalita Rebouças também participam da bienal.

Outros dois segmentos fortes do mercado livreiro, o infantil e o de quadrinhos, contam com espaços próprios. “Além da literatura jovem, houve no Brasil uma valorização do autor e do ilustrador infantil. Isso significa a reconquista da imaginação pelo livro”, conclui Rosana Mont’Alverne, presidente da Câmara Mineira do Livro (CML).

Vá ao Universo das Palavras

O Estado de Minas vai contar com um espaço na bienal, o Universo das Palavras, que oferecerá uma série de atividades para o público, principalmente o infantil. Estão programadas palestras, contação de histórias, shows e apresentações teatrais sobre os temas leitura, escrita, sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Os leitores conhecerão os chargistas Quinho, Lelis e Son Salvador, que vão ministrar oficinas de desenhos.

Gabriela Francisco, de 11 anos, vai apresentar seu projeto Fadas do livro, que leva a leitura a crianças de creches, hospitais e comunidades carentes. A edição de amanhã do Guri será dedicada à bienal. O caderno vai divulgar a programação completa do espaço, bem como mostrar o projeto Guardião Ouro Azul, de preservação da natureza.

Assinantes do EM têm desconto de 20% na compra de um par de ingressos. Há outros benefícios para os assinantes na compra de livros das editoras Liga de Jovens Autores e Lê. Apresentando o cartão no espaço Universo das Palavras, o assinante ganha encarte da coleção As pinturas mais valiosas do mundo.

Silviano Santiago participa da sessão de abertura, no Expominas, e fala sobre sua obra
 (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
)
Silviano Santiago participa da sessão de abertura, no Expominas, e fala sobre sua obra


BIENAL MINEIRA

250 mil
visitantes esperados

R$ 17 milhões
em vendas

120
autores convidados

160
expositores


RAIO X

3.095
livrarias no Brasil

55%
das livrarias brasileiras ficam no Sudeste

62 mil
títulos publicados no país em 2013

480 milhões
de exemplares vendidos em 2013

1,85
livro/habitante lido no Brasil por trimestre

1,62
 livro/habitante lido em MG por trimestre

2,40
livro/habitante lido em BH por trimestre

Fontes: CML, CBL, Snel e Fipe

BIENAL DO LIVRO DE MINAS
Até dia 23. Expominas, Avenida Amazonas, 6.030, Gameleira. Abertura hoje, às 12h. De segunda a sexta-feira, das 9h às 22h; sábados e domingos, das 10h às 22h. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Informações: www.bienaldolivrominas.com.br