domingo, 8 de dezembro de 2013

Cinemas de calçada - Martha Medeiros



Zero Hora 08/12/2013

Os cinemas em shoppings possuem um conforto e uma qualidade técnica que só confirma a evolução do setor, mas atire a primeira pipoca quem não sente saudades dos cinemas de bairro.

Como passei dos 11 aos 25 anos morando na D. Pedro II, o Astor era o mais perto de casa. Situado na esquina da Benjamim com a Cristóvão, tinha uma fachada imponente e era vizinho do cineteatro Presidente (onde nunca vi filmes, só shows). Foi no Astor que assisti Laranja Mecânica e E.T.

E havia o cine Colombo ali perto, acho que um dos primeiros a fechar, pois só recordo de ter ido lá quando criança, em turma, fazendo uma bagunça na primeira fila que atordoava os adultos sentados atrás de nós. Mas o que adultos faziam assistindo aos filmes do J.B.Tanko, como Som, Amor e Curtição?

Teve a fase do Coral, em frente ao Parcão, com sua imensa escadaria que nos reconduzia à realidade ao deixarmos a sala escura. Foi lá que assisti, aos 14 anos, meu primeiro filme proibido para menores de 18. Minha mãe me emprestou seus óculos escuros e cruzei o saguão feito uma Jackie Onassis mirim para assistirmos juntas a Nosso Amor de Ontem, com Barbra Streisand. E na véspera de um aniversário, quando bateu meia-noite e passei dos 16 para os 17 anos, estava dentro do Coral também, assistindo ao The Last Waltz, antológico show de despedida da The Band, filmado por Martin Scorsese. Bem melhor do que ouvir Parabéns a Você.

Difícil imaginar que houve um tempo em que eu ficava facilmente acordada à meia-noite, ainda mais dentro de um cinema. Como esquecer as sessões da madrugada no ABC, na Venâncio? Woodstock e Blade Runner foram vistos lá. Assisti Blade Runner apenas uma vez, sou um caso a ser estudado pela ciência. Na época, quem assistia menos, assistia quatro ou cinco vezes.

Perto do ABC tinha o Avenida, na João Pessoa, onde fui introduzida pela primeira vez à obra de Pedro Almodóvar com seu hilário Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.

O Vogue, na Independência, era meu reduto depois das aulas da faculdade. Foi lá que assisti obras políticas como Sacco & Vanzzetti, A Batalha de Argel e todos os do Costa Gavras, e foi lá também que assisti ao primeiro filme com o primeiro namorado (Jonas, que Terá 25 Anos no Ano 2000 – nome do filme, não do namorado).

No Centro, tinha o Imperial e o Cacique, lado a lado. Difícil lembrar em qual deles assisti, recém liberado pela censura, a O Último Tango em Paris ao lado do meu irmão, na única vez em que fomos ao cinema juntos depois de virarmos gente grande (eu com 18, ele com 16). E foi no Cine Victória, na Borges, que me encantei com A Marvada Carne, que segue na lista dos meus filmes nacionais preferidos.

Nunca fui ao Capitólio.

Por fim, a dobradinha Baltimore e Bristol, na Oswaldo Aranha. O Bristol era cult, com sua pequeníssima sala no segundo andar, alcançável por uma escada estreita onde nos espremíamos em filas para assistir aos ciclos do Godard. Já o Baltimore tinha uma programação mais comercial. Foi onde assisti a Uma Linda Mulher, já que filme cabeça todo dia não dá.

Qual o mais inesquecível dos cinemas? Na verdade, ficava a 200km de Porto Alegre: era o da SAPT de Torres, onde assisti desde os filmes do Roberto Carlos até 2001, Uma Odisseia no Espaço, sempre batendo com os pés no chão antes do início, fazendo barulho no assoalho de madeira para marcar aqueles anos que não voltariam mais.

Tempo de cantar [Ney Matogrosso lança Atento aos sinais]

Tempo de cantar 

Ney Matogrosso lança Atento aos sinais, disco que nasceu de seu mais recente show. Cantor aposta em novos compositores e resgata canções de Itamar Assumpção 
 
Ailton Magioli

Estado de Minas: 08/12/2013


Com 90% do repertório inédito, Atento aos sinais ao vivo começa a pegar o público já na abertura impactante do show (Marcelo Faustini/Divulgação)
Com 90% do repertório inédito, Atento aos sinais ao vivo começa a pegar o público já na abertura impactante do show

Pela terceira vez Ney Matogrosso grava em estúdio disco de repertório inédito, amplamente explorado no palco. Verdade que o impacto de Atento aos sinais ao vivo é muito maior do que na frieza da sala de gravação, mas, à medida que a audição do repertório avança, o disco vai-se igualando ao show. Isso se deve, principalmente, à força das inéditas, cuja gravação, reduzida a 14 faixas (no show eram 19), deixou de fora o que já não funcionava em cena ou foi guardado pelo cantor para o DVD, que será gravado, este sim ao vivo, no ano que vem.

“Fica tudo muito melhor, sob controle, depois de ter o repertório amadurecido no palco”, justifica Ney, que antes fez experiências do gênero em Inclassificáveis, de 2007, e Beijo bandido, de 2009, que só chegaram ao disco depois de amplamente experimentados no palco, sem necessidade de ficar lendo letras no estúdio, além de ter os arranjos das canções mais precisos. Risco na iniciativa? Ney Matogrosso não vê nenhum, mesmo porque milhares de pessoas que não tiveram oportunidade de ver o show agora terão a chance de ouvir o trabalho.

“É outra abordagem”, pondera o cantor, que optou por tirar do repertório do disco canções como Astronauta lírico, de Vitor Ramil, sob o argumento de que, mesmo gostando muito, ela não funciona no estúdio. “Guardei para o DVD, quando as pessoas vão reconhecer isto”, acrescenta, sobre um dos momentos mais emblemáticos do repertório pop-rock, belamente ilustrado com coloridos balões de gás soltos em pleno palco, ao fim da apresentação.

Com 90% do repertório inédito, Atento aos sinais ao vivo começa a pegar o público já na abertura impactante do show em que, ao som explosivo de canções politizadas como Rua da passagem, de Arnaldo Antunes e Lenine, e Incêndio, de Pedro Luiz, Ney surge esguio no centro do palco, sentado sobre trono formado por dois módulos espelhados, protagonizando uma verdadeira explosão de sons, luzes e cores, no espetáculo mais tecnológico que o cantor já fez.

“É tudo tão impactante que desarma as pessoas diante do ineditismo do repertório”, reconhece o cantor. “As pessoas me dizem que não conhecem nada das músicas, mas que gostaram”, diverte-se Ney, que nunca teve problemas com inéditas. Para se ter ideia de como o intérprete lida com o assunto vale lembrar que em Atento aos sinais há canções que ele queria cantar desde 2007, como a já citada Rua da passagem e Tupi fusão, de Vitor Pirralho. “Basta buscar que vai encontrar canções inéditas”, ensina o experiente intérprete, que está comemorando 40 anos de carreira desde a estreia no grupo Secos & Molhados.

“Para mim é muito fácil, tranquilo”, diz a respeito do processo por meio do qual o repertório inédito chega até ele. “Se não me enviam, vou atrás na internet”, afirma Ney, cujo novo repertório é calcado na chamada cena indie, em que se destacam as bandas Zabomba (SP) e Tono (RJ), além de Criolo (Freguês da meia-noite), Dan Akagawa (Todo mundo o tempo todo), Jerry e Alzira Espíndola (Beijos de imã) e o já citado Vitor Pirralho. Considerado por muitos um compositor (ainda) maldito, Itamar Assumpção (1949-2003) comparece com o rock Noite torta e Isso não vai ficar assim, que o cantor classifica de uma obra-prima.

“Gravo Itamar desde 1983. Tudo dele é interessante, uma sacada de letra, uma ideia. Os arranjos é que são muito datados, mas, se não se prender a isto, descobrem-se pérolas maravilhosas”, elogia Ney Matogrosso, que resgata também o samba Roendo as unhas, de Paulinho da Viola. Os arranjos são os mesmos do show, mas em estúdio, sob a direção musical do mesmo Sacha Amback, ele trabalhou com muita liberdade, com direito inclusive ao uso de elementos eletrônicos que agora está levando para o palco.

Vitor Ramil (A ilusão da casa), Dani Black (Oração, da qual saiu o título do trabalho), Beto Boing e Paulo Passos (Pronomes) e Rafael Rocha (Não consigo e Samba do blackberry, esta da parceria com Alberto) fecham o repertório do disco, que vai render ainda dois shows este mês. Em janeiro, Ney retoma a turnê no Rio, na expectativa de voltar a se apresentar em todas as capitais pelas quais já passou, incluindo Belo Horizonte.

Um trio de dois

Adepto da publicação de biografias, que tanta polêmica gerou nos últimos tempos, depois de Ney Matogrosso: ousar ser, de Bené Fonteles (textos) e Luiz Fernando Fonseca (fotos), o cantor volta a ser personagem de fotobiografia, desta vez assinada pelo ex-companheiro de Secos & Molhados Gerson Conrad. Trata-se de Meteórico fenômeno – Memórias de um ex-Secos & Molhados, na qual o autor transformou o trio em duo, diante da negativa de João Ricardo, o terceiro integrante da banda e detentor da marca, em participar do livro, sequer em fotografias.

“Não entendi, já que o livro não tem nenhuma ofensa ao João. Tudo isto é muito chato, gasta energia à toa”, diz Ney, que não pretende publicar algo do gênero. “Tenho vontade de fazer um levantamento das entrevistas que fiz, organizá-las cronologicamente e reunir tudo em um livro, para ver se o pensamento é coerente”, diz o cantor.

 “Totalmente a favor da liberdade de expressão”, Gerson Conrad diz que sua postura frente à polêmica é de que sempre existirá um caminho ético. “Sempre tive plena convicção de que, sem a formação mágica, os Secos & Molhados não significam absolutamente nada”, garante. Para Gerson, o que João Ricardo vem fazendo nos últimos anos é matar o mito. “Basta ver as tentativas dele em trazer o grupo de volta com cantores que imitam a voz de Ney Matogrosso. É patético”, critica.

Gerson Conrad gravou recentemente uma versão de autor para Rosa de Hiroshima, do poema de Vinicius de Moraes, que ele musicou, além da inédita Direto recado. Esta canção tem tudo a ver com a negativa de João Ricardo em autorizar a edição de fotos suas no livro Meteórico fenômeno. A publicação está sendo vendida (R$ 56) no site www.livrariadaana.com.br.


Rádio
Atento aos sinais é um disco tão radiofônico que Ney Matogrosso diz ter pedido à produção que o encaminhasse a todas as emissoras do país. “Ele tem muitas chances de tocar”, aposta o cantor, destacando o potencial de faixas como Rua da passagem, de Lenine e Arnaldo Antunes, e Roendo as unhas, de Paulinho da Viola. Freguês da meia-noite, de Criolo, já é um sucesso entre seu público, assim como Não consigo, de Rafael Rocha, da banda Tono. “Tem para todo gosto”, garante o cantor.

Cazuza
Amigo pessoal de Cazuza (1958-1990), com quem manteve um romance, Ney Matogrosso levantou por algum tempo a hipótese de dedicar um disco ao repertório inédito do artista. “Acabei ficando só com três das quais gostava, gravando-as com os autores”, revela o intérprete. Com George Israel ele registrou a inédita Quatro letras. Já Seda, ele bem que tentou, mas acabou desistindo de incluir no repertório de Inclassificáveis, por causa do arranjo, que não o satisfez.

Cinema

Presença cada vez mais marcante nas telas, o cantor, que protagonizou o filme Luz nas trevas, de Helena Ignez e Ícarro Martins, também fez participação em Primeiro dia de um ano qualquer, de Domingos de Oliveira, além do média-metragem Poder dos afetos, também de Helena Ignez. Joel Pizzini dirigiu o curta-documentário Olho nu sobre o cantor. O que fãs não conseguem entender é a ausência de Ney (como personagem) na cinebiografia Cazuza – O tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.

Tereza Cruvinel-Mandela e a política‏

Mandela tinha muitas virtudes, mas foi, sobretudo, um político excepcional. Sua partida proporciona uma reflexão sobre a importância da política, hoje tão demonizada


Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 08/12/2013



Até o dia 15, o mundo e os sul-africanos estarão se despedindo de Nelson Mandela, num rito prolongado como expressão de sua grandeza e raridade. Depois, ele habitará a História e seu povo enfrentará, na orfandade, as dificuldades da política interna que a mídia internacional vem apontando. Será tempo de reiterar seu ideário de uma sociedade tolerante, democrática e pluralista.

A saga extraordinária de sua vida, suas virtudes, seu exemplo, seu legado inspirador de tantos povos e líderes, tudo vem sendo contado e cantado à exaustão mundo afora. As circunstâncias tecnológicas ajudaram a fazer de Mandela o primeiro herói ou mito global. Quando ele deixou a prisão, em 1990, a internet começava a se popularizar, as comunicações e a economia, de mãos dadas, se globalizavam. Mas, mesmo antes deste tempo global, da prisão na Ilha de Robben ele já inspirava manifestações em diversas partes do mundo por sua libertação e contra o regime racista do apartheid. Ainda no início dos 27 anos de prisão, que suportou estoicamente, o ex-guerrilheiro Mandela fez sua autocrítica e passou a pregar a transição pacífica para uma sociedade que incluísse, em seu pluralismo, a própria minoria branca opressora.

Para os setores mais radicais de seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), marcados por anos de humilhação e violência impostos pela minoria branca, isso equivalia a oferecer a outra face ao opressor. Não foi fácil unificar o partido e a maioria negra, mas a estratégia de Mandela foi vitoriosa. Ele era este homem especial que o mundo chora. Mas era, sobretudo, um articulador habilidoso, um orador cativante, um estrategista clarividente. Ou seja, um político excepcional, que por entrega generosa à causa de seu povo tornou-se um dos grandes estadistas do século, senão o maior.

Sua partida propicia ao mundo reflexões sobre a tolerância, a coragem, a generosidade, o compromisso com o sonho coletivo. E, especialmente, uma reflexão sobre a política. Suas virtudes pessoais não teriam produzido os mesmos resultados se ele não as tivesse empregado essencialmente na ação política. Neste momento em que a atividade é tão demonizada no Brasil e em outros países, a morte de Mandela ajuda a lembrar que, na política, vicejam os seres menores que se servem dela no interesse próprio, os corruptos, os espertos e os medíocres . Mas a política produz também grandes e talentosos atores, que proporcionam a seus povos transformações extraordinárias, como as que foram possíveis na África do Sul, sob a liderança de Mandela. Claro que as figuras superiores são raras mas, fora da política, elas seriam pessoas especiais, mas não líderes ou estadistas.

Muitas interrogações pairam sobre a África do Sul sem Madiba, dizem os analistas internacionais. O país, parceiro do Brasil no Brics, é um emergente rico e promissor, mas ainda tem muito a fazer no combate à pobreza. O partido, no poder desde a eleição de Mandela em 1994, já com o terceiro presidente, ganhou ares de partido único, agigantado, reunindo interesses variados. O atual governo teria viés autoritário, e a tolerância andaria em baixa. A evocação de Mandela e sua saga podem ajudá-los a enfrentar essas questões.


Brasil: Madiba e seus irmãos
O mundo chora Mandela, mas alguns países, por razões específicas, sentiram mais o impacto de sua morte. Nos EUA, de passado racista, o presidente Obama admitiu a influência de Mandela na criação das condições que o levaram à presidência. No Brasil, pelo peso da África em nossa formação étnica, cultural e econômica, que fizeram de Mandela uma forte referência para os afrodescendentes em sua luta por mais igualdade racial. A Constituinte de 1988 já criminalizara o racismo, mas as políticas públicas afirmativas, de compensação pela iniquidade com que foram tratados, mesmo depois da abolição, só começaram a acontecer a partir de 1995, no governo Fernando Henrique. Foram aprofundadas na era Lula e prosseguem no governo Dilma, que acaba de criar cotas para negros, índios e deficientes também nos concursos públicos. Mas, à medida que tais políticas produzem resultados, elevam-se contra elas algumas vozes, minoritárias mas estridentes, classificando-as como racialistas, vale dizer, incentivadoras do racismo com sinal contrário. Exatamente o que Mandela rejeitou, a pregação da “África para os africanos”, em favor da conciliação entre brancos e negros. As conquistas dos afrodescendentes brasileiros conectam-se com a luta e a vitória de Mandela sobre o apartheid. Agora que ele virou mito, podem ganhar mais relevância e tolerância.


Pelos estados: Bahia
É tempo de acompanhar mais de perto a política dos estados onde os jogos estão sendo armados para a disputa de 2014. A coluna tentará resumir o quadro de um estado em cada edição, começando hoje pela Bahia. As definições avançaram: o governador Jacques Wagner lançou a candidatura do secretário Rui Costa, acolhida pelo PT. Em discurso no Senado, o preterido Walter Pinheiro aceitou disciplinadamente a decisão. Colheu apartes solidários até da oposição. Jogo jogado. Costa é um nome local, mas será içado pelo governador, que ficará no cargo até o fim do mandato. Se perder a aposta, pagará o preço.

Sem acordo com o PT, o PMDB terá Geddel Vieira Lima como candidato. O PSDB deve lançar o ex-prefeito João Gualberto, para garantir o palanque de Aécio Neves. No dia 19, a ex-corregedora do CNJ Eliana Calmon filia-se ao PSB de Eduardo Campos e deve ser a vice da senadora Lídice da Mata na disputa do governo. Resta o DEM, que pode lançar a candidatura do ex-deputado José Carlos Aleluia ou a do ex-governador Paulo Souto, deixando de retribuir o apoio de Geddel ao prefeito ACM Neto no pleito de 2012. Mas esse é um jogo ainda em curso. 

Tv Paga

Estado de Minas: 08/12/2013 



 (THC/Divulgação )

Fim de papo O canal History exibe hoje, às 23h, o final da sétima temporada de Estradas mortais, narrando a aventura de um grupo de caminhoneiros pelas rodovias geladas do Canadá. Uma coisa é certa: os assinantes do sexo masculino estão todos torcendo para o tesouro do Alasca, a bela Lisa Kelly (foto).

Estreias Estreia hoje, às 21h15, no Nat Geo, a produção Mulheres bíblicas, e logo com cinco episódios em sequência: “Eva”, “Dalila”, “Bate-Seba”, “Jezabel” e “Ester”. No Discovery Home & Health, às 19h30, estreia a segunda temporada de Louca compulsão, que mostra pessoas que levam suas obsessões ao extremo.

Calouros A TV Cultura exibe hoje, às 12h,a final do Prelúdio, o concurso de jovens talentos da música erudita. Entre os finalistas está o violoncelista mineiro Isaac Andrade, de 22 anos. Os outros concorrentes são três paulistas: as sopranos Camila Titinger e Lilian Giovanini e o violinista Wellington Rebouças.

Enlatados  Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Tudo de uma vez

A Netflix anunciou a data que os fãs de House of cards tanto esperavam. Os 13 episódios da segunda temporada da série sobre os bastidores da política norte-americana serão lançados em 14 de fevereiro. Com três Emmys (Elenco, Direção e Fotografia), a produção estrelada por Kevin Spacey
e Robin Wright vai trazer o casal central novamente chantageando todos para chegar ao poder. Carl Franklin (Homeland), James Foley (Glengarry Glen Ross), John David Coles (Justified), Jodie Foster e Robin Wright dirigiram os episódios.

Gelada –Na sexta-feira, chega ao Netflix a segunda temporada da série Lilyhammer, outra produção original do site de streaming. Estrelada por Steven Van Zandt (ator e guitarrista da E Street Band, o grupo de Bruce Springsteen), ela acompanha a trajetória do ex-mafioso Frank Tagliano, que entra no serviço de proteção a testemunhas e troca os Estados Unidos por uma cidadezinha gelada na Noruega.

Reality –A cantora de r&b Ashanti participa do episódio de terça-feira de Law & order: SVU, às 23h, no Universal. Também marcam presença três ex-integrantes de reality shows: Carly Rose Sonendar, que foi segundo colocada no The X factor de 2012; Taylor Hicks, vencedor do American idol de 2006; e Clay Aiken, participante do AI, de 2003. O episódio envolve um caso de abuso de um garoto de quatro anos.

Maratona –O canal +Globosat exibe a partir de amanhã, à meia-noite, a quarta e quinta temporadas de Mistérios do detetive Murdoch. O personagem-título desvenda crimes na Toronto do fim do século 19. Os episódios serão exibidos em sequência até 4 de janeiro.

Repercussão –The blacklist, que o Sony está exibindo desde outubro, teve sua segunda temporada confirmada. E olhe que somente oito dos 22 episódios do primeiro ano foram exibidos nos EUA – no Brasil, a série está uma semana atrasada. A produção estrelada por James Space totalizou 16,9 milhões de espectadores no exterior. É a primeira das novas séries a ser reconfirmada.

ARTE CONTEMPORÂNEA » Rede criativa Videobrasil celebra 30 anos

ARTE CONTEMPORÂNEA » Rede criativa 
 
Videobrasil celebra 30 anos com mostras que confirmam sua importância como fórum de reflexão e intercâmbio de culturas 

Gracie Santos

Estado de Minas: 08/12/2013


All ther others, de Hou Chien Cheng, desperta olhares para o homem paralisado diante do vaivém da cidade (Fotos: Videobrasil/Divulgação)
All ther others, de Hou Chien Cheng, desperta olhares para o homem paralisado diante do vaivém da cidade


TV aprisionada por tijolos: Demolishing rumor é instalação do chinês Morgan Wong
TV aprisionada por tijolos: Demolishing rumor é instalação do chinês Morgan Wong


The world, de Daniel Escobar: recortes de guias turísticos ou viagens transformadas em mercadorias
The world, de Daniel Escobar: recortes de guias turísticos ou viagens transformadas em mercadorias


Já na chegada ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, é possível perceber o que o Festival de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil representa. A 18ª edição, que começou em novembro e segue até 2 de fevereiro de 2014, confirma a vocação do evento de, nesses 30 anos agora celebrados, manter-se incomparável exemplo do intercâmbio de culturas, experiências e experimentações. Voltando ao aeroporto. Os convidados são recebidos por uma húngara com português fluente, Tünde Albert, que aprendeu a língua para trabalhar com cinema no Brasil, e por um brasileiro radicado em Berlim, Rod Disciascio, em situação oposta e, por isso mesmo, fluente em alemão.

Do pessoal de suporte às vans que circulam entre o Sesc Pompeia, o Cine Sesc e o hotel que hospeda os cerca de 150 convidados, a rede criativa se desenha nitidamente. Os carros transportam incomum mistura de raças e credos, artistas que discutem no trajeto e apresentam em suas obras seu olhar particular e universal de questões atuais, na maior parte das vezes partindo de vivências cotidianas. Antes mesmo de chegar ao espaço expositivo, ainda no trajeto, o Sul geopolítico (América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Europa do Leste, Sul e Sudeste asiático e Oceania) que o Videobrasil promete abarcar pode ser tocado. E o que se tem é agradável sensação de não se estar em São Paulo mas em algum lugar no resto do mundo.

Cristalizando a proposta, a mostra Panoramas do Sul exibe primorosa seleção com 94 obras (recolhidas entre pouco mais de 2 mil inscritas) de artistas de 32 nacionalidades. Diversidade também é marca da exposição que reúne instalações, performances, desenhos, esculturas, fotografias, pinturas, livros de artista e vídeos. E não apenas as linguagens são plurais. Variados suportes de vídeo chamam a atenção. Há desde uma tela minúscula com poético filme paquistanês (My father, de Basir Mahamood) a uma construção de tijolos que abriga pequena televisão exibindo obra na qual um homem quebra tijolos, em ações repetitivas, no vídeo Demolishing rumor, do chinês Morgan Wong. Em frente à telinha minúscula em que o pai de Basir tenta (sem sucesso) enfiar a linha na agulha há um tapete azul com raias pretas. É a obra Piscina, do paulista João Loureiro, que tem à sua frente bela “paisagem”, fotografias do mineiro Pedro Motta (Estatuto da divisão territorial). Do lado oposto às fotos, bem distante, imensa tela convida a assistir à tensão entre o indivíduo e o coletivo na obra do taiwanês Hou Chien Cheng. O título, All the others, confirma o potencial revelador da imagem que fala por si.

Amplitude acolhedora  


O espaço do Sesc Pompeia é privilegiado. Galpão iluminado, arejado e “disponível” para acolher todos os tipos de objetos e propostas. Não importa se a estranha composição de concreto armado (ainda nas fôrmas de madeira) de Perspectiva naval, escultura de Rodrigo Sassi, que se expande de maneira aleatória, lembrando restos de um barco naufragado. Obra de grande porte, passa a ideia de crescimento desordenado.

Os vídeos continuam sendo maioria entre os trabalhos em exibição. Nesse caso, o que chama a atenção, além da variedade dos tamanhos e quantidades de telas, é a coincidência temática (a convocatória foi aberta). Muitos são “depoimentos” em primeira pessoa. Caso do impressionante The sun glows over the mountais, de Nurit Sharett, de Israel, com falas emocionadas da própria diretora e de gente que conheceu ou trabalhou com seu avô Moshe Sharett, peça fundamental na implantação do Estado de Israel. Ela revisita as histórias da família e do país com rara sensibilidade.

Personalíssima é também a performance do mineiro Luiz de Abreu, O samba do crioulo doido, obra vencedora do grande prêmio do Videobrasil. O artista se apresenta nu, enrolado na bandeira do Brasil, expressão de seu pertencimento à pátria, que também lhe pertence. Durante a apresentação, o performer introduz a bandeira no corpo. Simbólico foi o fato de, na segunda edição em que o festival está aberto às diversas manifestações da arte e não apenas ao vídeo, a performance naturalista de Abreu, desprovida de “aparato tecnológico”, ser a vencedora.

Seleção natural

A curadoria da Panoramas do Sul não se baseou em tese ou ideia previamente concebida. O resultado são abordagens estéticas, políticas, sociais e subjetivas, retrato da contemporaneidade e espaço aberto a tensões específicas da região enfocada. Integrante da comissão curadora (ao lado de Solange Farkas, criadora e curadora-chefe do festival; de Fernando Oliva, curador e docente da Faap; e de Júlia Rebouças, curadora do Instituto Inhotim), o curador e professor da PUC Minas Eduardo de Jesus conta que eles decidiram ver o que emergia das obras inscritas. “Havia várias ligadas à memória afetiva, numa perspectiva da família; muitas relacionadas à arquitetura ligada ao território, propondo questões de poder ou de memória”, afirma.

Bom exemplo em arquitetura “é o vídeo do libanês Haig Aivazian. Into thin air into the ground, que retoma história do edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa, em Dubai, mostrando como sua construção mexeu com o imaginário coletivo, desde a propaganda à apocalíptica cerimônia de inauguração”. O prédio, “escalado” por Tom Cruise em Missão impossível – Protocolo fantasma, tem inimagináveis 828 metros de altura.

O turismo, afirma Eduardo de Jesus, foi outro tema recorrente. Caso da obra de Daniel Escobar, do Rio Grande do Sul, The world, que retrata a propaganda da indústria do turismo em recortes feitos pelo artista em guias de turismo. “Por que você quer ir aonde todo mundo vai, onde todos já conhecem?,” questiona Escobar, na opinião do curador. Que chama a atenção ainda para Drive-thru, de Christian Bermudez, da Costa Rica, “vídeo sobre pessoas que chegam a um lugar para conhecer um pajé, sem interesse algum em experiência mais profunda. Eles querem apenas fotografar. E é isso que vivemos hoje no mundo globalizado no qual o Brasil agora se insere”, afirma Eduardo.

Ponto forte no Videobrasil, como ele acentua, é a possibilidade do encontro. “Um curador vem aqui e faz contatos, procura um artista e assim vai-se criando essa rede. Tem outra coisa superforte: as residências que ampliam esse intercâmbio.”

QUE TÉDIO!

Toco não entende nada de arte contemporânea. A provocação está no hilário vídeo de 3min da carioca Mariana Xavier. A voz feminina dialoga com seu minúsculo Yorkshire. O cãozinho Toco boceja a cada tentativa de sua interlocutora de introduzi-lo no mundo das artes. O “burrinho” ainda é “desinformado” , acredite, nunca ouviu falar da mineira Lygia Clark ou do alemão Joseph Beuys. “Ou, quem sabe, acha que eles são datados?”, ela pergunta, entre um e outro cochilo do animal.

saiba mais

PELO MUNDO


Além do grande prêmio (R$ 70 mil) dado ao performer Luiz de Abreu, o Videobrasil oferece aos selecionados por comissão de jurados a oportunidade de fazer residências fora do país de origem. Assim, o libanês Ali Cherri vai para Varsóvia (Polônia) trabalhar no A-I-R Laboratory, enquanto o brasileiro Ayrson Heráclito ficará no Raw Material Company, em Dakar (Senegal). O malinês Bakary Diallo passará temporada criativa em Salvador (Brasil), no Sacatar Institute, e Basir Mahmood, do Paquistão, fará residência no Askal Awan, em Beirute (Líbano). Já o brasileiro Gabriel Mascaro desenvolverá projeto no Wexner Center For The Arts, em Columbus (EUA), e Laura Huertas Millan, da Colômbia, será residente no Arquetopia, em Oaxaca (México). LucFosther Diop, de Camarões (África), ficará no Lutetia Building, em São Paulo; a israelense Nurit Sharett no Red Gate, em Pequim (China); e a brasileira Virgínia de Medeiros no Residency Unlimited, em Nova York (EUA).

ENTREVISTA - LORENA COMPARATO » Garota de sorte‏

ENTREVISTA - LORENA COMPARATO » Garota de sorte
"Comecei com o pé direito e só tenho a agradecer" 
 
Estado de Minas: 08/12/2013

Lorena revela que gostaria de interpretar Dona Benta quando ficar velhinha  (Raphael Dias/Globo-7/1/13)
Lorena revela que gostaria de interpretar Dona Benta quando ficar velhinha


Declarações de amor e conflito interno são uma realidade para a comprometida Abigail (Lorena Comparato) e Clécio (Magno Bandarz) no seriado Pé na cova (Globo). No entanto, a intérprete da mulher de Ruço (Miguel Falabella) acha que a história dos dois pombinhos não acabará por aí. Aos 23 anos, Lorena já conquistou seu lugar na televisão. Pé na cova é o primeiro trabalho da atriz no veículo, no qual teve uma rápida experiência como apresentadora do programa infantil TV Globinho, em 2012. Lorena é filha do roteirista Doc Comparato e irmã da também atriz Bianca Comparato, a Betânia da novela Avenida Brasil (Globo). As duas, inclusive, aproveitam os encontros familiares para trocar dicas profissionais.

Quem é a Abigail para você?
É uma menina de 20 e poucos anos que sempre sonhou ter uma família. Órfã, vivendo em um lar, viu-se salva pelo Ruço, um homem bom, que lhe deu uma família. Mas, como toda menina, ela sonha. Sonha ter tudo aquilo que nunca teve e fazer aquilo que nunca fez.

Você se inspirou em alguém para compor a personagem?

Tive muitas inspirações para compor a Abigail. Conheci meninas no Irajá (bairro no subúrbio do Riode Janeiro, no qual se passa o seriado) nas minhas visitas ao local. Observei a minha afilhada, Flora, que inspirou os trejeitos infantis da Abigail. E ouvi muito Anitta, que se tornou uma querida amiga. Suas músicas de funkeira romântica sempre me motivam antes das gravações.

Como você avalia a relação dela com o Clécio?
Para a Abigail, Clécio é algo inevitável do qual, acreditem, ela tentou se esquivar. Talvez ele seja uma saída para o mundo. Coisa que ela nunca fez, mas, talvez lá no fundo, sempre quis.

O que podemos esperar para o casal?
Acho que o envolvimento é inevitável.

Você acredita em um relacionamento com diferenças de idade, como o de Abigail e Ruço?
Acredito em todos os tipos de relacionamentos que fazem bem para ambas as partes. Não vejo problema algum em uma pessoa se relacionar com alguém anos mais velho ou mais novo.

Esse é o seu primeiro papel na televisão e você já contracena com nomes como Miguel Falabella e Marília Pêra. Como é isso?
É uma bênção para mim. Toda jovem atriz sonha chegar aonde cheguei. Só não esperava que fosse tão cedo. Aprendo muito com os atores com quem contraceno. Todos são muito generosos e estão sempre dividindo suas experiências. Acredito que comecei com o pé direito e só tenho a agradecer.

Qual é o grande diferencial de Pé na cova?
Sou suspeita para falar, mas acho que Pé na cova tem uma irreverência, feita com muito bom gosto, que ainda é pouco vista na televisão. Esse trabalho e requinte se refletem na aceitação do espectador.

Você vê paralelo entre atuar e apresentar programas de entretenimento, como a TV Globinho?
Ao fazer um programa como Pé na cova, eu, como atriz, faço toda uma composição de personagem, diferentemente da apresentação de um programa de entretenimento, no qual sou eu mesma. Na minha opinião, o paralelo é a finalidade: o público. Estou sempre pensando em como posso fazer o trabalho da melhor forma para deixá-lo satisfeito.

Como é a relação com a sua irmã Bianca? Vocês trocam dicas profissionais?

Minha relação com a Bianca é maravilhosa! Trocamos muitas experiências e aprendemos muito uma com a outra. Somos diferentes, mas respeitamos muito esse fato e até gostamos, pois uma complementa a outra. Temos uma produtora com nossa irmã mais velha (Fabiana Comparato), e nosso grande sonho é trabalharmos juntas.

Seus pais apoiaram quando as duas filhas decidiram partir para a carreira artística?

Nossos pais sempre quiseram que fôssemos felizes. A carreira artística é difícil e isso sempre foi uma preocupação para eles, mas como qualquer pai teria. Sempre foram muito a favor da educação. Eu e Bianca somos formadas em comunicação social e tivemos acesso aos melhores ambientes de ensino. Sabendo que somos muito felizes com o que escolhemos, nossos pais nos apoiam sempre.

Teve algum conselho específico que a Bianca lhe deu e que ajudou bastante?

A Bianca sempre serviu de exemplo para mim e eu, assim como ela, sempre estudei muito os meus textos. Um dos meus maiores medos era não conseguir decorar as falas. No início, a Bianca me ajudou dividindo suas táticas para decorar texto. Hoje em dia, já desenvolvi a minha, mas seu conselho me ajudou muito na ocasião.

Há algum papel que você gostaria de fazer no futuro?

Existem vários papéis que adoraria fazer no futuro. Sempre disse que é um sonho meu fazer Malhação, além de novelas em todas as faixas de horário e de gênero. Gostaria muito de fazer a Lolita (personagem do romance homônimo do escritor russo Vladimir Nabokov) no teatro, enquanto ainda posso, mas meu maior plano é, daqui a muitos e muitos anos, fazer a Dona Benta, do Sítio do picapau amarelo. Afinal, quero trabalhar até ficar velhinha. 

Eduardo Almeida Reis - Dips(o)‏

"Quantas vezes você, caro e preclaro leitor, cantou o Hino à Bandeira e aquele outro, o da Independência, depois que saiu do colégio?"


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 08/12/2013



Antepositivo, do grego dípsa,és 'sede'; ocorre em vocábulos já originalmente gregos como dipsético (dipsétikós, “que provoca sede”), já em cultismos, geralmente da terminologia médica, do século XIX em diante: dípsis, dipsofobia, dipsofóbico, dipsófobo, dipsomania, dipsomaníaco, dipsômano, dipsopata, dipsopatia, dipsopático, dipsorréctico /dipsorréxico, dipsorrexia, dipsose, dipsoterapia, dipsoterápico, dipsótico, entre outros.

Acabo que confirmar no Houaiss que sou contumaz no erro ao escrever 19 em algarismos romanos. Não raras vezes, escrevo IXX, quando o certo é XIX, em que o nove é IX e o 21 é XXI. E o pior é que faz sentido: X (=100) + IX (=9). Donde se conclui que preciso deixar de ser besta passando a escrever século 19.

Volto ao antepositivo grego. Dipsomania, sabemos todos, é necessidade incontrolável de ingerir bebida alcoólica. Vejo no Google que dipsoterapia é tratamento por meio da sede e hidroterapia uso da água com fins terapêuticos, daí as estações de águas que duravam um mês, hoje reduzidas a três dias, um deles passado nos engarrafamentos das estradas.

Resta explicar o porquê dessa ida ao dips(o)-, sem pé nem cabeça, ao dealbar da aurora de um dia chuvoso. Deu-se que ontem à noite me lembrei do significado de dipsomania – necessidade incontrolável de ingerir bebida alcoólica – e supus que o antepositivo grego tivesse relação com o álcool, quando significa “sede”.

Pretendia escrever sobre esta “dipsorrepubliqueta” e quebrei a cara. Em contrapartida, aprendi que sem pé nem cabeça é expressão popular de origem romana, em latim nec caput nec pedes (habet). Valeu.

Noticiário
O supertufão Haiyan, de nível cinco, que varreu as Filipinas, suposto de ser o maior até hoje registrado, ensejou doloroso besteirol em nosso noticiário televisivo. Ventos que passavam dos 300km/h, com rajadas de 380km/h, num trecho das Filipinas em que vivem 12 milhões de pessoas. E os nossos apresentadores falando, repetidas vezes, em três ou quatro mortos, explicando sempre que ainda não havia notícia de brasileiros.

Ora, bolas: aquele furacão que já chegou a Nova York transformado em tempestade tropical – e Nova York não fica nas Filipinas – matou mais de 50 pessoas. Quantas morreram nas chuvas da Região Serrana do Rio? Só “desaparecidas” até hoje são mais que 900. Enquanto isso, os noticiaristas falando em três ou quatro mortos filipinos.

Seria muito mais inteligente dizer que o número de mortos era desconhecido e o telespectador que tirasse as suas conclusões. Mas a rapaziada é impossível e falou que a ONU estimava os prejuízos ou a necessidade de alimentos em dois milhões de dólares. Homessa! Dois milhões de dólares não alimentam São Joaquim de Bicas. É o preço de um bom apartamento em Belo Horizonte, onde já foram vendidas coberturas por R$ 17 milhões, mais que US$ 7 milhões com o dólar a R$ 2,30.

Dois bilhões ou vinte bilhões de dólares não consertam o estrago filipino. Quanto ao número de mortes, estimado em três ou quatro no noticiário de sexta-feira, 8 de novembro, dois dias depois passava dos 10 mil, caiu para 4.500 e sempre será incerto, felizmente sem brasileiros.

Pedagogia
Ciência que trata da educação dos jovens, que estuda os problemas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo, a pedagogia, através dos pedagogos, talvez possa explicar muita coisa que me ensinaram na escola sem qualquer serventia na vida prática. Presumo que as tais coisas ocupem boa parte de minha memória, tirando espaço para armazenar assuntos mais úteis no dia a dia.

Dou-lhes alguns exemplos das muitas tolices que até hoje entopem minha pobre cuca. E pergunto: tem cabimento ensinar a um menino de 10 ou 11 anos que o lindo pendão da esperança, o símbolo augusto da paz, cuja nobre presença nos traz à lembrança a grandeza da pátria? Que dizer, então, dos seguintes versos: “Não temais ímpias falanges, que apresentam face hostil”. Alfim e ao cabo, os peitos e os braços do leitor são muralhas do Brasil.

Quantas vezes você, caro e preclaro leitor, cantou o Hino à Bandeira e aquele outro, o da Independência, depois que saiu do colégio? Posso afirmar que não cantei, apesar de ser tido obrigado a decorar a letras deles e de outros, como aquele cheio de palavras que ninguém entende, mas os jogadores da Seleção de Felipão são obrigados a decorar e cantar.

O mundo é uma bola
8 de dezembro de 1191: os Grimaldi, família de exilados de origem genovesa, assentam a primeira pedra de uma praça fortificada, hoje palácio principesco de Mônaco. Em 1839, numa carta enviada pelo visconde de Santarém, historiador português, ao historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen, a palavra cartografia é utilizada pela primeira vez. Portugal teve três viscondes de Santarém. O último se chamava Manuel Francisco de Barros e Saldanha da Gama de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa, nome bonito pra dedéu.

Em 1863, di-lo a Wikipédia, é criado o futebol moderno. Em 1949, os nacionalistas chineses encerram sua evacuação para Taiwan. Do latim tardio evacuatio,onis “ação de despejar, de esvaziar”, evacuação pega mal à beça.

Hoje é o Dia da Família, da Mulata, do Ciclista, do Cronista Esportivo e da Justiça.

Ruminanças
“Em tuas faces / Brilha serena / A cor morena / do buriti: / Teus lábios vertem / Rósea frescura, / Cheiro e doçura / Do jataí” (João Salomé Quiroga, 1810-1878).

Sobram dúvidas sobre a contracepção logo após o nascimento de um filho

Delicada proteção 
 
Sobram dúvidas entre as mulheres sobre contracepção logo depois do nascimento de um filho 
 
Isabela de Oliveira

Estado de Minas: 08/12/2013


Gyselle descobriu a gravidez de Carolina quando Gabriel tinha cinco  meses: faltou informação sobre o melhor método contraceptivo (Ed Alves/CB/D.A Press)
Gyselle descobriu a gravidez de Carolina quando Gabriel tinha cinco meses: faltou informação sobre o melhor método contraceptivo
 Mal havia se adaptado à nova realidade, a de ser mãe, Gyselle Macoski Leite, de 33 anos, foi surpreendida com um presente inusitado do destino: a gestação de Carolina. A funcionária pública sempre quis ter dois filhos com idades próximas. Mas, apesar do sonho realizado, “a diferença não precisava ser assim tão pequena”, avalia. Afinal, quando soube da segunda gravidez, havia apenas cinco meses do nascimento de Gabriel. “Bateu um desespero, pois estava me adaptado ao primeiro filho. Praticamente voltei da licença-maternidade e engravidei de novo.” Hoje, o casal de crianças tem 4 e 5 anos. Gyselle acredita que se tivesse tido mais informações sobre métodos contraceptivos durante o resguardo, o intervalo entre os nascimentos teria sido maior.

Inúmeros fatores, como falta de informação, amamentação, amenorreia (ausência de menstruação), demora para retornar à vida sexual e menores intenções reprodutivas, levam as mulheres a não evitar uma nova gravidez logo depois do nascimento de um filho. Embora a amamentação consiga dar à mãe um bom grau de proteção até seis meses depois do parto, atrasando a ovulação e o retorno da menstruação, é aconselhável o uso de um método contraceptivo combinado. Um levantamento publicado no mês passado pelo Population Council, uma organização não governamental que realiza pesquisas internacionais em saúde pública, constatou que, no mundo, 12% das mulheres que estavam amamentando e sem menstruar engravidaram em seis meses após o parto. Além disso, 26% das lactantes já estavam ovulando nesse período.

Segundo especialistas, a contracepção deve ser iniciada praticamente logo após o nascimento do bebê. Entre 30 e 40 dias, a mulher precisa ser submetida a uma bateria de exames que avaliará o estado do útero, dos ovários e das mamas. É então que ela saberá se estará liberada para atividades sexuais. Nesse período, ela já deve considerar o planejamento familiar. É importante que a escolha do  tratamento passe indispensavelmente pela avaliação do médico. Isso porque o método errado poderá influenciar diretamente a amamentação e, portanto, o crescimento do bebê.

“A informação das pacientes é quase zero. Elas realmente não conhecem os métodos contraceptivos e não sabem quais podem ser usados. Os anticoncepcionais comuns, à base de estrogênio, podem influenciar na lactação e no crescimento do recém-nascido. Por isso elas não devem usar a pílula que tomavam antes de engravidar. Outras vezes, acham que só a amamentação é suficiente para prevenir a gravidez e, embora seja mais difícil engravidar nesse período, há uma boa chance”, adverte José Bento, ginecologista e obstetra dos hospitais Albert Einstein e São Luís, em São Paulo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), além de diminuir a quantidade de leite, os contraceptivos orais com estrogênio aumentam o risco de tromboembolismo venoso, quando um coágulo bloqueia o fluxo de sangue dentro de um vaso sanguíneo. Dependendo do grau de obstrução, ela pode ser fatal.

ALTERNATIVA Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Campinas e publicado em agosto no periódico Fertility and Sterility indica os dispositivos intrauterinos e os anticoncepcionais à base do hormônio sintético progestógeno para as mamães. Essas opções não geraram efeitos adversos nas mulheres e nem nos recém-nascidos. De acordo com o experimento, até nove semanas após o nascimento da criança a produção e o consumo de leite não foram afetados pela terapia hormonal nem por DIU.

Neandertais organizavam o espaço doméstico‏

Neandertais organizavam o espaço doméstico Segundo evidências coletadas em caverna da Itália, a espécie também dividia o lugar onde morava de acordo com as atividades do cotidiano, uma prática que se acreditava exclusiva do homem moderno 

Estado de Minas: 08/12/2013

Família neandertal retratada em museu na Croácia: estudos mostram que eles também eram capazes de inovar na tecnologia (NikolaA Solic/Divulgação  )
Família neandertal retratada em museu na Croácia: estudos mostram que eles também eram capazes de inovar na tecnologia
 Brasília – Autointitulado o “reabilitador dos neandertais”, o antropólogo Julien Riel-Salvatore, da Universidade de Colorado, encontrou outra evidência de que essa espécie humana extinta há mais de 50 mil anos tinha muito mais em comum com o Homo sapiens do que se imagina. Em um estudo publicado na revista Canadian Journal of Archeology, o pesquisador afirma que o Homo neanderthalensis organizava seu espaço doméstico de forma muito semelhante à dos primeiros homens modernos. Até agora, acreditava-se que apenas a nossa linhagem fosse capaz de “montar um lar”.

Por muitas décadas, os neandertais foram descritos como criaturas inferiores – afinal, eles foram dizimados –, brutos, ignorantes ou sem sentimentos. Mas, nos últimos anos, o primo mais próximo do homem moderno tem sido alvo de pesquisas que, aos poucos, desconstroem esse mito. As mais recentes mostram que, além de controlar o fogo, uma habilidade que requer inteligência, os neandertais tinham uma cultura sofisticada e até mesmo acreditavam em vida após a morte.

Riel-Salvatore é um dos principais nomes da pesquisa sobre a espécie. De acordo com ele, os neandertais eram capazes de inovar na tecnologia, criando equipamentos que, antes, eram atribuídos apenas ao homem moderno. Durante sete anos, o arqueólogo estudou sítios da França habitados no passado exclusivamente pela espécie, o que pode ser constatado pela ausência de fósseis do Homo sapiens. Ele descobriu que o Homo neanderthalensis projetava munições, ferramentas, ornamentos e peças para caça e pesca. Agora, ao escavar Riparo Bombrini, uma caverna soterrada no Nordeste da Itália, o especialista também constatou que a espécie organizava e decorava o ambiente doméstico, tal qual o homem moderno sempre fez.

Os neandertais que moravam nessa caverna de três andares a dividiram em diferentes cômodos, cada um deles com sua função. O nível mais elevado funcionava como um “home office”, onde provavelmente a caça do dia era combinada entre os membros do grupo, e os animais eram, posteriormente, abatidos. O do meio e o inferior serviam como a casa propriamente dita. De acordo com Riel-Salvatore, no primeiro andar foram encontrados muitos vestígios de carcaças animais, evidenciando a função de açougue do local. Mais no fundo do cômodo havia potes com ocre e, embora não se saiba a finalidade de uso da argila colorida, o pesquisador acredita que o material poderia ser aplicado para curtir couro ou com fins antissépticos.

No nível intermediário, a equipe encontrou evidências de uma ocupação humana bem organizada. Na parte da frente havia ossos de animais e ferramentas de pedra. No fundo, a cerca de meio metro da parede, foram achados vestígios de uma fogueira. Segundo os pesquisadores, isso permitia que o calor circulasse por toda a “sala de estar”. O andar mais inferior é semelhante, com evidências de produção de ferramentas e outros artefatos perto de uma abertura na pedra por onde a luz solar é acessível.

“Os neandertais abatiam animais, faziam ferramentas e se reuniam ao redor do fogo em diferentes partes de seus abrigos. Sempre houve essa ideia de que eles não fizeram um uso organizado do espaço, algo que se atribuía apenas aos humanos modernos. Mas descobrimos que os neandertais não apenas jogavam suas coisas por aí, mas, na verdade, eram bem organizados em relação ao espaço doméstico”, afirma Riel-Salvatore. “Há muitas outras evidências de que os neandertais eram muito mais sofisticados do que se dizia até agora. Se identificamos o comportamento do homem moderno com base na sua organização espacial, temos de estender isso aos neandertais também”, acredita.

CÉREBRO MAIOR Muitos estudos têm mostrado que essa espécie era tão inteligente quanto o Homo sapiens. Pesquisa conduzida pelo especialista em crânios antigos Ralph Holoway, da Universidade de Columbia, em Nova York, indicou que o cérebro do neandertal era cerca de 20% maior que o do humano moderno, e anatomicamente idêntico. Segundo Holoway, as áreas cerebrais responsáveis pelos pensamentos complexos eram tão avançadas nessa espécie quanto no Homo sapiens, o que significa que os neandertais tinham a mesma capacidade de pensar que seus primos próximos.

Se conseguia raciocinar, a espécie provavelmente era capaz de falar. Ao analisar o crânio de um indivíduo da espécie, o professor Bob Franciscus, da Universidade de Iowa, notou que o trato vocal dos neandertais era mais largo e curto do que o de um homem moderno, características, porém, que não impediam a fala. “Crucialmente, a anatomia do trato vocal é suficientemente próxima à nossa, indicando que não havia razão para que ele não produzisse uma complexa extensão de sons necessários para a fala”, escreveu Franciscus, em um artigo.

Ainda há muitas especulações sobre a extinção do neandertal. O sequenciamento genético da espécie revelou que eles eram três vezes menos diversificados que o homem moderno, o que dificulta a capacidade de se adaptar a modificações ambientais. E, de acordo com outro estudo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva publicado na revista Science, a população neandertal era muito pequena. Em média, havia 1,5 mil mulheres em idade reprodutiva entre 38 mil e 70 mil anos atrás. Exterminar uma quantidade restrita de habitantes não seria muito difícil. Ainda mais quando uma leva de Homo sapiens saiu da África e descobriu a Europa, o berço dos neandertais. Mais populoso que os primeiros habitantes, o homem moderno pode ter levado vantagem na competição por recursos. 

Classe C, essa desconhecida

Varejo ainda esbarra em preconceito e despreparo ao tratar consumidores que têm R$ 782 bilhões para gastar


Diego Amorim

Estado de Minas: 08/12/2013


Na primeira viagem de avião, o indígena Wellington Moreira reclamou da falta de boa vontade dos funcionários do aeroporto (Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
Na primeira viagem de avião, o indígena Wellington Moreira reclamou da falta de boa vontade dos funcionários do aeroporto

Brasília – Com R$ 782,4 bilhões para gastar por ano – uma cifra que não para de crescer –, a classe C virou a queridinha do mercado, mas nem sempre é tratada com o merecido respeito. Quase metade dos domicílios brasileiros – 48,6% – se encaixa nessa faixa social, responsável por quase um terço do potencial de consumo do país. As estratégias para atingi-la, no entanto, por vezes revelam despreparo, falta de conhecimento do público-alvo e mesmo preconceito.

Sob a alegação prática de que para oferecer produtos e serviços mais barato, é preciso cortar custos e, por consequência, sacrificar a qualidade, empresários se esquecem de que a nova classe média se caracteriza por ser exigente e bem informada. Ao ignorar ou subestimar os desejos de consumo da classe C, não são poucas as empresas – em vários segmentos – que perdem a oportunidade de conquistar a confiança de uma clientela fiel e promissora.

Quando as tevês por assinatura, por exemplo, despertaram para a euforia em torno do poder de compra da população emergente, algumas operadoras lançaram “pacotes especiais”, com valores bem abaixo da média. Ao contratar o serviço, os clientes não tinham acesso aos canais mais vistos e badalados da programação fechada. Resultado: uma debandada de consumidores insatisfeitos obrigou as empresas a reverem as opções.

Alvoroçado com a classe C e com o lucro que ela pode representar, o mercado acaba errando na aposta, no entender do diretor do iPC Maps Consultoria, Marcos Pazzini. “A maioria ainda não entendeu quem é a nova classe média. Falta pesquisa e preparo. As estratégias surgem da cabeça dos executivos, e eles acabam dando ‘tiro no pé’ e ‘queimando’ a empresa”, comenta. Retirar atributos de produtos ou serviços para vender mais barato, acrescenta ele, não é, nesse caso, a alternativa mais viável.

Na última semana, as donas de casa Aureny Soares, de 38 anos, e Valdelina da Silva, de 34, se revoltaram com promoções estampadas nas vitrines de um shopping no Centro da capital do país. Sandálias de péssima qualidade, na avaliação delas, eram anunciadas na liquidação. “Isso é uma falta de respeito com a gente: está barato, mas é descartável”, justificava Aureny. “A gente quer coisa boa também”, emendava a amiga.

Imaginar que as classes de renda mais baixa se contentam com pouco é o principal erro das empresas diante da nova realidade de consumo no Brasil. “O dinheiro do pobre é o mesmo dinheiro do rico. É a mesma moeda. Vale a mesma coisa”, comenta a atendente comercial Elaine Arruda, de 31, e igualmente indignada com as tentativas das empresas de fisgar a classe emergente a qualquer custo. “O que a gente vê é muita enganação”, completa.

Não se pode, avalia o consultor de varejo Alexandre Ayres, exigir que produtos e serviços sejam oferecidos de maneira isonômica. É com base no modelo de negócios da empresa, explica ele, que os preços e até a qualidade são definidos.

Falta de amadurecimento A atenção para a falta de “amadurecimento do mercado” em relação à classe C é também destacada por Ayres. “Não se pode generalizar, mas ainda existe muito pré-julgamento e uma dose considerável de situações anormais”, afirma o especialista.

Desde 2004, puxado justamente pelo avanço da classe C, o comércio brasileiro cresceu, em média, 8% ao ano e obteve os melhores resultados da história. A força do consumo vindo das periferias já deixou de ser novidade e, ainda assim, segue desafiando o mercado. No varejo, exemplifica Ayres, muitas vezes a aparência do consumidor determina o tratamento dado a ele, embora nenhum supervisor de vendedores ou gestor reconheça essa diferenciação.


Problemas no embarque


Brasília – O mercado da aviação é outro exemplo clássico para ilustrar a relação de interesse e, ao mesmo tempo, de desdenho pela classe C. À nova classe média deve-se o salto gigantesco na demanda por voos domésticos na última década no país. Foram os brasileiros que até então só viajavam de ônibus que ajudaram a tornar a situação financeira das companhias menos traumáticas. Em contrapartida, boa parte desses consumidores sente-se excluída nos aeroportos.

Na quarta-feira, o Estado de Minas encontrou a auxiliar de serviços gerais Luzirene Belarmino, de 40 anos, perdida no aeroporto de Brasília. A menos de 40 minutos para o horário do voo, ela tentava concluir o check-in, sem nem saber o significado do procedimento. A cearense chegou a entrar na fila de embarque internacional. “Tudo aqui é difícil. As pessoas mandam você para um lado e para o outro, e ninguém dá informação direito”, reclamava.

Era a primeira vez que Luzirene viajava de avião. Antes, a moradora de Fortaleza só havia pisado em aeroporto para receber parentes. “Só vim voando porque era emergência. Mas não gostei da experiência, achei mal sinalizado”, observou ela, que veio à capital do país para enterrar a mãe. Por dois dias tentou comprar a passagem de volta, paga em dinheiro. Ouvia das atendentes que não era possível porque as aeronaves estavam cheias. “Acho que era isso, não entendia nada.”

As companhias aéreas, diz o consultor Marcos Pazzini, sabem atrair e frustar a classe C. “Ainda bem que estou acompanhado de gente mais desenrolada do que eu. Se viesse sozinho, não saberia como fazer”, confessou o indígena mineiro Wellington Oliveira, de 23, que também estreou em aeroporto na última semana e reclamou da falta de boa vontade dos funcionários. “Tinha que ter mais gente disposta a ajudar, a orientar quem não sabe das coisas”, sugeriu.

Desigualdade Governo e empresas incentivaram agressivamente o consumo entre as classes emergentes, reforça o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes. Faltou, conclui ele, criarem as condições necessárias para absorver essa demanda. “Ainda é difícil mensurar exatamente onde está o problema, mas ele existe”, pondera Bentes, alertando para a “inquietante desigualdade” no tratamento e na oferta de produtos e serviços.

Apesar de o assunto não ser tratado de maneira escancarada, o que há ainda muito latente no Brasil é um preconceito em relação à classe C, na opinião do presidente do Walmart.com para a América Latina, Fernando Madeira. “O mercado quer esses clientes, mas ainda não entendeu direito ou não quer entender os desejos de consumo deles”, sustenta. No mundo virtual, defende o executivo, fica mais fácil encarar os consumidores de maneira isonômica e perceber a sofisticação exigida por eles. (DA)

Nilton Santos, o último grande herói‏

Nilton Santos, o último grande herói 
 
José Osvaldo de Souza - Advogado aposentado, ex-fiscal de
tributos da Fazenda estadual

Estado de Minas: 08/12/2013


Em sua trajetória terrena, o homem sempre teve necessidade de criar um ser a quem temesse, um líder para conduzi-lo e um herói que o empolgasse. Na última hipótese, o pai frequentemente encarna os valores dessa figura particularmente especial, inspiradora de respeito, admiração e afeto. Assim, o verdadeiro herói não é mais aquele vergado em batalha (felizmente nem mais encontradiço), nem quem tenha recebido laurel a tal título com a dúvida inerente, muito menos o campeão de qualquer modalidade esportiva, supervalorizado pela consagração popular. O herói fica fora desses padrões. Ele tem a imagem pura do homem simples, honesto, cujos valores são calcados no trabalho, na família e na boa conduta; suas proezas são as do cidadão comum – digno, trabalhador, honrado, que enfrenta as dificuldades variadas como o salário, a carestia, o desmazelo dos governos, a corrupção, e, ao final de uma existência dura, mas proveitosa, orgulha-se por deixar nome limpo e filhos bem constituídos, na linha prosaica dos rigorismos morais do pai. Esses, sim, os grandes heróis.

É certo, contudo, que se pode localizar além dos limites do lar alguém com os contornos do herói idealizado. De minha parte, quando há muitos anos perdi meu pai, atinei com três personagens que, frutos da minha admiração, poderiam, cada qual a seu modo, compor minha galeria particular de heróis: Mário Lago, Chico Xavier e Nilton Santos. Não percebera, para constatar depois, que figuras tão díspares formavam um grupo homogeneizado por um ponto comum: o amor. Sim, o amor a causas distintas, praticado de maneiras diferentes, mas essencialmente amor, qualificado pela coerência pessoal, a plena doação e a dignidade profissional, virtudes referenciais de cada um.

Mário Lago: ator, escritor, poeta, compositor e, no reverso, militante político. Permanecem aí, para os de bom gosto, preciosidades como Amélia, Atire a primeira pedra, Nada além, entre outras. Seu posicionamento político foi marcado pela coragem e a coerência na luta pela primazia do povo, ainda que passando pela indignação. Aliás, coerência foi virtude aviltada por alguns que vieram daquela época.

Já são anos sem Chico Xavier. Mesmo os que ignoravam ou até renegavam a doutrina espírita não deixam de reconhecer em Chico uma das expressões supremas de realização do amor em sua mais elevada e sublime concepção: a doação integral. Sua máxima, de formulação mínima – “amar por amar” –, encerra o ideal do amor pleno, espontâneo, desprendido. A exposição ampliada da sua vida e a maior divulgação do espiritismo, em razão dos livros e filmes neles inspirados, foram conquistas de grande proveito para o povo. Chico, o missionário desenquadrado do profissional da fé, continuou operando o bem.

Foi-se Nilton Santos: pobre, recolhido, vítima de doença insidiosa. A carreira mais respeitada de um jogador de futebol, o maior na posição em todo o planeta, como sacramentado pela Fifa. Quatro copas, campeão em duas. O que mais o enalteceu foi o amor ao seu clube, sua paixão e razão de ser. Renovava contratos sucessivos sem exigências. Afinal, não jogaria por nada em outra equipe. Hoje, descontadas as exceções de justiça, avulta a impressão de que prevalece um triste e frio mercenarismo, expresso na ausência de apego à camisa do clube, na fácil e constante mudança de compromisso, tudo entremeado por atitudes e declarações que muitas vezes não sugerem sinceridade. Pode ser que por tudo isso, ao lado de problemas outros como a violência e as arruaças, o futebol venha perdendo o seu encanto como o esporte mais querido e popular e um derivativo saudável. Por justiça inquestionável, o antigo estádio do Botafogo, no Rio de Janeiro, ostenta em seu pórtico o nome Estádio Nilton Santos – um monumento à dignidade profissional desse talvez derradeiro herói!