terça-feira, 26 de março de 2013

Gil compara gostar de Sartre a gostar de Lula

folha de são paulo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHAO ciclo de debates batizado de Sartre Night, que Annie Cohen-Solal promove em junho na França, terá pesquisadores, filósofos e artistas de todo o mundo, incluindo o brasileiro Gilberto Gil.
A organizadora descobriu o interesse do músico por Sartre nos anos 1980, quando o viu declamar em um show trechos de "Diário de uma Guerra Estranha".
Gil leu poucos livros do filósofo -cita "A Náusea", "O Ser e o Nada" e "As Palavras"-, mas pretende deixar uma mensagem de apreço ao autor, cuja obra, diz, acabou contaminada por um julgamento político.
"Sartre chegou a posturas radicais por lealdade a seu existencialismo. E isso eu admiro nele, um homem que se perde ou que é levado ao erro no sentido histórico por causa de sua lealdade", diz.
Gil foi apresentado à obra do filósofo por Caetano Veloso e Waly Salomão, numa época em que o núcleo do cinema e da música brasileira estava influenciado pelo existencialismo.
Para ele, Sartre teve o mérito de difundir pelo mundo conceitos filosóficos de Martin Heidegger (1889-1976).
Além disso, comprometeu-se com a modernização dos hábitos pessoais e familiares.
"Gosto de Sartre por essas questões mais profundas. É como gostar de Lula independente de como ele leva seu fazer político", afirma.

    A idade da redenção
    Para biógrafa de Sartre, filósofo que nunca deixou de ser popular no Brasil volta a ser debatido por intelectuais franceses
    MARCELO BORTOLOTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHAMais de 30 anos após a morte de Jean-Paul Sartre (1905-1980), ninguém ainda é capaz de arriscar de que forma sua obra entrará para a posteridade. O filósofo francês continua despertando paixões, e sendo louvado ou execrado conforme a orientação política do seu leitor.
    Sua biógrafa, a franco-argelina Annie Cohen-Solal, autora de "Sartre, 1905-1980" (LP&M), começa a enxergar uma retomada de estudos mais isentos -ou mais acadêmicos- a seu respeito.
    Esta semana ela entregou à editora Gallimard os originais de "Une Renaissance Sartrienne" ("Um Renascimento Sartreano", em tradução livre), no qual aponta a volta do autor aos círculos universitários da França, de onde ele havia sido banido.
    Cohen-Solal é uma defensora aguerrida do filósofo, e ela própria é parte deste movimento. Em junho, ela organiza na École Normale Supérieure, universidade parisiense onde Sartre estudou, um ciclo de debates sobre ele.
    Há exatos 70 anos, Sartre publicou "O Ser e o Nada", um marco na filosofia do século 20. A obra deu popularidade ao existencialismo, doutrina segundo a qual a existência precede a essência, e portanto o homem se constrói pelos seus próprios atos.
    Difundindo suas teses em livros de filosofia (como "O Imaginário"), mas também em obras de dramaturgia e romance (como "A Idade da Razão"), Sartre tornou-se uma celebridade mundial.
    Mas sua imagem começou a ser maculada no final da década de 1950. Seu livro "Crítica da Razão Dialética", lançado em 1960, foi recebido com muita desconfiança por tentar unir o existencialismo a ideias marxistas.
    A partir daí, adotando posições políticas cada vez mais radicais como a adesão incondicional ao regime de Mao Tsé-tung, na China, sua produção foi acusada de estar à serviço de uma ideologia comunista.
    Annie Cohen-Solal fala à Folha da condenação que Sartre experimentou na França e defende seu legado.
    -
    Folha - Seu livro defende que as ideias de Sartre continuam vivas?
    Annie Cohen-Solal - Não. Eu apenas descrevo a situação na França hoje. Depois de três décadas de uma crítica brutal contra Sartre na imprensa, e com muito poucas pesquisas acadêmicas sobre ele, surpreendentemente para mim, as coisas estão mudando. Toda uma geração de jovens estudantes está agora olhando para sua obra com uma perspectiva diferente.
    Por quê?
    Quando Sartre morreu, em 1980, recebeu tantas homenagens que parecia estarmos enterrando um segundo Victor Hugo. Em seguida, seu trabalho embarcou em uma aventura estranha, cheia de felicidade ou infortúnios, dependendo do país e de acordo com os tempos.
    Enquanto na França passou a ser divertido criticar detalhes insignificantes da sua vida, as homenagens da Europa, África, Ásia e nas duas Américas concordavam que a mensagem de Sartre era uma ferramenta de referência para descriptografar o nosso tempo. Agora, estudantes franceses começaram a perceber esta relevância, especialmente na École Normale Supérieure, onde estamos discutindo a criação de uma cadeira Sartre.
    Qual é seu legado mais importante?
    Ele foi o intelectual global que deu poder aos enfraquecidos. O apoio dele aos excluídos, como judeus, africanos colonizados, homossexuais, mulheres e trabalhadores, ajudou a reverter a relação de poder. Hoje, muitas pessoas estão fazendo pesquisa sobre sua obra na África.
    Por que recebeu tantas críticas na França?
    Sartre foi educado em uma família protestante. Recebeu educação em casa até os dez anos, e foi muito influenciado por esses valores, que expressou em toda a sua vida.
    Esse espírito protestante o levou a enfrentar tabus da memória coletiva francesa, como a colaboração com os nazistas, a tortura, a colonização etc. E sua atitude chocou muitas pessoas em um país de tradição católica.
    Sua adesão radical ao comunismo afetou essa imagem?
    Ele nunca foi um membro de carteirinha do Partido Comunista Francês, apenas um companheiro fortuito entre 1952 e 1956.
    Ele apoiou os comunistas quando manifestações do partido estavam sendo injustamente sufocadas pela polícia francesa, mas se afastou deles quando os russos reprimiram a insurreição húngara e quando os tanques soviéticos invadiram Budapeste. Sartre terminou sua vida como um maoista, tornando-se mais e mais radical.
    Sua participação política deve ser esquecida?
    Eu não colocaria dessa forma. Acho que a trajetória e a obra de Sartre são um todo. E pessoas muito à direita não iriam se interessar por seu trabalho de qualquer modo.
    Por que Sartre não saiu de moda no Brasil?
    Eu digo que o Brasil é um dos países mais sartreanos em que já estive. E acredito que isso se deva, em parte, ao fato de Sartre ter passado três meses no país no verão de 1960. Na época, ele lutava ao lado dos revolucionários argelinos pela independência da colonização francesa, e suas ideias tiveram grande repercussão no país.

      Cúpula do PSC decide manter Feliciano na presidência de comissão

      folha de são paulo

      TAI NALON
      DE BRASÍLIA

      Após sofrer pressões crescentes do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a cúpula do PSC se rebelou e decidiu nesta terça-feira (26) manter o pastor Marco Feliciano (SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
      "O deputado Feliciano já se desculpou por colocações mal feitas. Qualquer um pode deslizar nas palavras, pode errar. Informamos aos senhores e senhoras que o PSC não abre mão da indicação feita pelo partido", disse o vice-presidente da legenda, pastor Everaldo Pereira, ao ler pronunciamento oficial.
      Nesta terça-feira (26) acaba o prazo dado pelo presidente da Câmara para que o PSC encontrasse uma solução para a questão.
      "Do jeito que está, a situação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias se tornouinsustentável, disse Alves na última quinta-feira (21).
      Ontem, o presidente da Casa já admitia que a situação não avançou no fim de semana. "Não tive notícias."
      Apesar de ter manifestado a colegas insatisfação com a permanência do pastor no comando da comissão, o presidente da Câmara lembra que não há margem regimental, como uma intervenção direta, para tirá-lo da presidência. Por isso, apelou à cúpula do partido.
      Em entrevista ao programa 'Pânico', da Band, gravada na semana passada, mas levada ao ar apenas no domingo, Feliciano disse que só deixaria o cargo morto.
      "Estou aqui por um propósito, fui eleito por um colegiado. É um acordo partidário, acordo partidário não se quebra. Só se eu morrer", disse o pastor.
      ENTENDA O CASO ENVOLVENDO FELICIANO
      Entenda a polêmica sobre a presidência da Comissão de Direitos Humanos na Câmara
      27.fev
      Partidos dividem cargos nas comissões temáticas da Câmara. Após acordo, o PT abre mão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias e o PSC fica com o direito de indicar o presidente.
      4.mar
      Cotado para a vaga, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) é alvo de protestos em redes sociais por ter opiniões consideradas homofóbicas e racistas por ativistas dos direitos humanos. O pastor reage e abre um abaixo-assinado em seu site para reunir apoio por sua indicação à comissão.
      6.mar
      Indicado pelo seu partido para a vaga, a reunião que o elegeria presidente da Comissão de Direitos Humanos é suspensa após manifestações e adiada em um dia.
      7.mar
      Em reunião fechada, sem os manifestantes, Feliciano é eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos com 11 votos dos 18 possíveis. Após bate-boca, representantes do PT, do PSOL e do PSB deixaram a reunião antes mesmo de a votação ser convocada.
      9.mar
      Manifestantes contrários à eleição do pastor para a presidência da comissão vão às ruas pedir a sua destituição do cargo. Só em São Paulo, ao menos 600 pessoas participaram do ato, de acordo com a Polícia Militar.
      11.mar
      O deputado é alvo de novo protesto, desta vez em Ribeirão Preto, cidade que abriga uma das principais filiais de sua igreja evangélica, a "Catedral do Avivamento". Manifestantes foram para a frente do templo pedir sua saída da comissão
      13.mar
      Folha revela que o deputado emprega no gabinete cinco pastores de sua igreja evangélica que recebem salários da Câmara sem cumprir expediente em Brasília nem em seu escritório político em Orlândia (cidade natal dele, no interior de São Paulo, a 365 km da capital).
      13.mar
      Na primeira sessão da Comissão de Direitos Humanos, Feliciano enfrenta protestos, bate-bocas e questionamentos. Em quase duas horas de sessão, marcada pela intervenção constante de movimentos sociais, o pastor pediu "humildes desculpas" e um "voto de confiança".
      16.mar
      Pelo segundo fim de semana seguido, manifestações pelo país pela saída do pastor da presidência da comissão tomas as ruas. Em São Paulo, a passeata começou na avenida Paulista e terminou na praça Roosevelt (centro)
      18.mar
      Com o acirramento das críticas, Feliciano divulga em sua conta na rede social Twitter umvídeo que chama de "rituais macabros" os atos contra a sua indicação para o cargo
      20.mar
      Na segunda reunião da comissão sob o comando de Feliciano, a sessão é suspensa após novos protestos de movimentos sociais
      21.mar
      O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pressiona para que Feliciano renuncie à presidência da Comissão e dá prazo até terça-feira (26) para uma solução

      Clovis Rossi

      folha de são paulo

      O tirano e o caixeiro-viajante
      Levar a Odebrecht ao país do ditador Obiang, como fez Lula, é dar aval a um regime corrupto até as entranhas
      Deu domingo na Folha: na sua única viagem internacional como representante oficial do governo Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou na delegação à Guiné Equatorial um diretor da Odebrechet.
      "A Odebrecht entrou na Guiné Equatorial após a visita de Lula, sendo favorita para obras na parte continental, onde está sendo construída uma capital administrativa", dizia ainda o texto.
      No mesmíssimo domingo, deu em "El País": "Fazer negócios com o clã familiar que lidera Teodoro Obiang [ditador da Guiné Equatorial desde 1979] é arriscado. O pagamento de comissões é obrigatório e as disputas comerciais, muitas vezes fictícias, derivam, às vezes, em extorsão, ameaças e em perda do investimento para salvar a vida".
      Não é fantasia do jornal: a Chancelaria espanhola acaba de divulgar nota na qual adverte que estão ocorrendo casos de empresários espanhóis e estrangeiros que não podem abandonar a antiga colônia espanhola por desentendimentos com seus sócios locais.
      O passaporte é confiscado e ficam impedidos de deixar o país até que desistam de suas propriedades.
      Conclusão do jornal: "Este sistema corrupto impregna até o último rincão da administração guineana".
      Não por acaso, o ditador Teodoro Obiang ficou em oitavo lugar na lista dos governantes mais ricos do mundo, apesar de chefiar um país obscenamente pobre.
      Traçado o perfil da Guiné Equatorial e de seu tirano, cabe perguntar: as empresas brasileiras que atuam no país são imunes à máquina de corrupção lá instalada ou, ao contrário, engraxam os mecanismos que enriquecem o clã Obiang? Segundo a reportagem da Folha, além da Odebrecht fazem negócios na Guiné também a ARG, a Andrade Gutierrez, a Queiroz Galvão e a OAS.
      Parece supina ingenuidade acreditar que tenham obtido a concessão de obras sem pagar qualquer pedágio aos Obiang, se, como diz "El País", a corrupção impregna tudo.
      Que Lula trabalhe como caixeiro-viajante dessas empresas já é esquisito, mas, convenhamos, é o que fazem hoje em dia não apenas ex-presidentes mas até presidentes/primeiros-ministros em pleno exercício do cargo.
      Mas que feche os olhos para uma tirania obscena como, entre tantas outras, a de Obiang, no cargo há 34 anos, vira também uma obscenidade, mais ainda como representante oficial de um governo que diz pôr direitos humanos no centro de sua política externa.
      Prestaria um serviço mais decente se se dedicasse exclusivamente aos países africanos que vão penosamente estabelecendo regimes democráticos. Segundo levantamento recente da "Economist", se, ao término da Guerra Fria, 30 anos atrás, só três Estados africanos, dos 53 então existentes, eram democráticos, hoje já são 25, de "vários tons", e muitos mais fizeram eleições, "imperfeitas, mas valiosas" (22 só no ano passado).
      Para que, então, sujar as mãos com um tirano?
      PS - Errei no texto de domingo: os novos líderes do Parlamento italiano querem que seus pares trabalhem 96 horas mensais, não semanais.

      Decisão e arrependimento de Bill Clinton sobre a lei do casamento gay‏


      Peter Baker


      • Justin Sullivan/Getty Images/AFP
        Clinton participa de evento de empresa de eletrônicos para levantar fundos a educação de crianças Clinton participa de evento de empresa de eletrônicos para levantar fundos a educação de crianças

      Ele tinha acabado de atravessar o país de avião, após um dia de campanha exaustivo em Oregon e em Dakota do Sul, pousando na Casa Branca após o anoitecer. Mas o presidente Bill Clinton ainda tinha mais trabalho pela frente antes de poder dormir. Ele pegou uma caneta e assinou seu nome, sancionando uma lei.


      Restavam 10 minutos para a 1 hora da manhã de sábado, 21 de setembro de 1996, e não havia câmeras, nem cerimônia. O horário era sob medida para o cálculo político e angústia pessoal. Com sua assinatura, a lei federal agora definia o casamento como sendo a união entre um homem e uma mulher. Clinton considerava a medida como uma armadilha para os gays, mas não estava disposto a colocar em risco a reeleição a vetando.


      Por quase 17 anos desde então, aquele momento na madrugada assombra Clinton, uma fonte de tensão com amigos, conselheiros e defensores dos direitos dos gays. Ele tentou explicar, defender e justificar. Ele pediu compreensão. Então ele recuou aos poucos. Finalmente, neste mês, ele rejeitou totalmente a Lei de Defesa do Casamento, pedindo para que a lei seja derrubada pela Suprema Corte, que discutirá o assunto na quarta-feira, no segundo de dois dias de argumentos dedicados a questões de casamento de mesmo sexo.


      Suprema Corte dos Estados Unidos discute casamento gay

      25.mar.2013 - Ativistas a favor do casamento homossexual fazem fila nesta segunda-feira (25) em frente ao prédio da Suprema Corte dos EUA, em Washington. A Justiça do país vai julgar casos notórios de casais gays que querem oficializar a união. Nove dos 50 Estados do país permitem o matrimônio homossexual
      Raramente um ex-presidente declara que uma ação tomada por ele no governo violou a Constituição. Mas a jornada de Clinton da sanção da Lei de Defesa do Casamento até o seu repúdio espelha as mudanças maiores na sociedade, à medida que o casamento de mesmo sexo passou de uma ideia marginal a contar com o apoio da maioria.


      "O presidente Clinton evoluiu neste assunto assim como quase todos os americanos", disse Chad Griffin, que trabalhou como assessor de imprensa na Casa Branca de Clinton e agora lidera a Campanha de Direitos Humanos, a mais proeminente organização de direitos dos gays do país.


      Mas nem todo americano evoluiu da mesma forma que Clinton. Uma proporção considerável de americanos ainda é contrária ao casamento de mesmo sexo, e para eles a mudança de posição de Clinton é uma espécie de traição. Mas nem defensores e nem oponentes a consideram totalmente surpreendente, já que ambos os lados sabiam que o ex-presidente sancionou a lei por razões políticas, não por princípio.
      Clinton foi o primeiro presidente a cortejar abertamente os americanos gays. Ele se conheceu um homem assumidamente gay pela primeira vez em Oxford, em 1968, quando um estudioso de Rhodes, Paul Parish, revelou ser gay. "Ele sempre teve amigos gays", lembrou Parish na semana passada. "Ele sempre quis fazer o certo para os gays."

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      Como candidato presidencial em 1991, Clinton voou para a Califórnia para uma reunião arranjada pelo estrategista político David Mixner e outros defensores dos direitos dos gays. "Eles estavam bastante céticos em relação ao governador do Arkansas, como é possível imaginar", lembrou Mickey Kantor, o diretor de campanha de Clinton na época. Mas após duas horas e meia, Kantor disse que Clinton os conquistou com "sua empatia, sua conexão emocional".


      Ele tropeçou no início de sua presidência ao subestimar a oposição à abertura das forças armadas aos gays e lésbicas, aceitando a concessão da postura "não pergunte, não diga", que exigia que mantivessem sua orientação sexual em segredo. Assim, quando os republicanos propuseram a Lei de Defesa do Casamento em um ano eleitoral, Clinton optou por não se queimar de novo.


      Franceses protestam contra o casamento gay

      24.mar.2013 - Protestos reuniram uma multidão nas ruas de Paris, neste domingo (24). Os manifestantes são contrários ao projeto de lei que autoriza o casamento gay e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo na França. O projeto deve ser votado no Senado em abril. Outra manifestação contra a lei foi realizada na cidade em janeiro deste ano

      O projeto de lei foi aprovado com grande margem de votos, o suficiente para derrubar um veto. Ele esperava evitar chamar atenção para a ela ao sancioná-la depois da meia-noite. Mike McCurry, o secretário de imprensa, recebeu um telefonema em casa perguntando se deviam esperar até a manhã para anunciá-la. "Sua postura foi claramente motivada pelas realidades políticas de um ano eleitoral em 1996", lembrou McCurry.


      Alguns defensores dos gays ficaram ultrajados. Mixner, já alienado devido à concessão às forças armadas, se recusou a participar da convenção democrata depois que Clinton deixou claro que sancionaria a lei. "Ele fez um cálculo político que foi um cálculo imoral", lembrou Mixner.


      O cisma ampliou quando a campanha de Clinton veiculou propagandas na rádio cristã em 15 Estados, alardeando que ele tinha sancionado a Lei de Defesa do Casamento. Mas a maioria dos eleitores gays mesmo assim votou nele, segundo as pesquisas. Seu apoio pela lei de não discriminação no emprego, os fundos para Aids e a remoção dos limites às liberações de segurança aos civis gays superavam o que na época mais parecia uma questão teórica.


      "As pessoas gritaram o mais alto possível dentro e fora do prédio até o minuto em que ele a sancionou, e então ele o fez e o todo mundo passou a cuidar de outros assuntos", disse Richard Socarides, o então consultor da Casa Branca de Clinton para assuntos de gays e lésbicas.


      Em seu segundo mandato, Clinton foi o primeiro presidente a tratar da Campanha de Direitos Humanos e ele indicou James Hormel como o primeiro embaixador assumidamente gay. "Ele realmente me apoiou em um momento em que realmente não precisava", disse Hormel na semana passada.


      Mas Clinton não recuou na lei do casamento. No final de 2004, quando 11 Estados colocaram em votação medidas contra o casamento de mesmo sexo, Clinton aconselhou de modo privado John Kerry a endossar a proibição constitucional, segundo a história da campanha da "Newsweek". Matt McKenna, o porta-voz de Clinton, disse que esse relato é "completamente falso".


      Com o passar do tempo, entretanto, Clinton ouviu repetidas vezes seus amigos gays. "Nas minhas conversas com ele, ele se mostrou pessoalmente embaraçado e arrependido", disse Hilary Rosen, uma antiga estrategista democrata. "Ele fica incomodado por algo pelo qual ele foi responsável tenha causado tanta dor para tantas pessoas com as quais ele genuinamente se importa."
      Em 2009, os tempos mudaram, assim como as pesquisas. Após um discurso, Clinton disse que tinha mudado de opinião. Ele chamou Socarides naquela tarde. "Eu acho que preciso sair em defesa do casamento de mesmo sexo", disse Clinton.


      Quando poucos notavam, Socarides encontrou outra forma de chamar atenção para isso, sugerindo a Anderson Cooper da "CNN" que perguntasse a respeito durante uma entrevista que seria feita. Então, sem mencionar seu próprio papel, Socarides enviou um e-mail para um importante assessor de Clinton sugerindo que ele assegurasse que o ex-presidente estivesse pronto para falar a respeito do casamento de mesmo sexo, porque Anderson poderia perguntar.


      "Eu percebi que tenho mais de 60 anos", disse Clinton para Cooper. "Eu cresci em um tempo diferente. Eu estava nervoso com a palavra. E eu tinha todos esses amigos gays. Eu tinha todos esses casais gays amigos. E eu estava ansioso a respeito. E então percebi que estava errado."


      União de 16 casais gays é oficializada em Campinas (SP)

      A Prefeitura de Campinas realizou na tarde desta quinta-feira (21) o primeiro casamento comunitário gay do município. A união de 16 casais do mesmo sexo --dois de homens, 12 de mulheres e dois de transexuais-- foi formalizada pela juíza de paz Aline Priego, no 3º Cartório de Registro Civil 
      Dois anos depois, ele endossou a legislação em Nova York legalizando o casamento de mesmo sexo e no ano passado gravou uma mensagem por telefone pedindo aos eleitores da Carolina do Norte que rejeitassem a medida em votação proibindo essas uniões. Mas com a Suprema Corte agora julgando uma contestação da Lei de Defesa do Casamento, ele concluiu que finalmente precisava se manifestar a respeito da lei que ajudou a aprovar.


      Apesar de ter se recusado a participar de uma opinião anexada aos autos do processo apresentada por ex-senadores, Clinton escreveu a mão um artigo de opinião ao "The Washington Post". Ele disse que sancionou a lei para evitar um resultado pior, uma emenda constitucional proibindo o casamento de mesmo sexo, mas percebeu agora que "a lei em si é discriminatória" e "deveria ser derrubada".


      Para os defensores da lei, a nova posição de Clinton parece tão oportunista quanto a sua posição original do outro lado. Suas "mudanças de posição são o motivo para termos um Judiciário independente", disse John Eastman, presidente da Organização Nacional pelo Casamento, que é contrária ao casamento de mesmo sexo. "A Constituição não foi feita para mudar de acordo com os ventos políticos do momento."


      Para alguns defensores dos gays, a declaração foi inadequada. "Eu gostaria que ele dissesse que sempre foi errada e, mesmo que tenha sido forçado a fazer um cálculo político, que estava profundamente arrependido por ela ter se tornado lei", disse Elizabeth Birch, que liderava a Campanha de Direitos Humanos em 1996.
      Mixner concordou, mas disse que a mudança basta. "O propósito de um movimento é mudar mentes, e não de um modo stalinista punir aqueles que não são ideologicamente puros", ele disse. "Nós criamos um local seguro onde ele pôde mudar de ideia."


      Tradutor: George El Khouri Andolfato

      Em menos de 50 anos, luta pelos direitos dos gays dá grande salto‏

      John Harwood
      Em Washington (EUA)

      • 24.mar.2013 - Emmanuel Dunand/AFP
        Manifestante segura cartaz que pede "direitos iguais a todos" durante protesto a favor do casamento gay, em Nova York. A Suprema Corte dos Estados Unidos começa a julgar nesta terça-feira (26) a constitucionalidade de leis que restringem os direitos civis de casais de mesmo sexoManifestante segura cartaz que pede "direitos iguais a todos" durante protesto a favor do casamento gay, em Nova York. A Suprema Corte dos Estados Unidos começa a julgar nesta terça-feira (26) a constitucionalidade de leis que restringem os direitos civis de casais de mesmo sexo




      A luta pelos direitos dos afro-americanos, simbolizada pela sangrenta marcha de Selma de 1965, é tão antiga quanto a nação. Os esforços pelos direitos das mulheres americanas teve início em Seneca Falls, Nova York, há mais de 150 anos.

      A luta moderna pelos direitos dos gays, em comparação, mal chega a meio século de idade, datando dos distúrbios de Stonewall, em Nova York. Mas, nesta semana, quando a Suprema Corte ouve dois casos importantes sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo, a velocidade do movimento está surpreendendo seus apoiadores.

      "Nós, o povo, declaramos hoje que a mais evidente das verdades --a de que todos nós somos criados iguais-- é a estrela que ainda nos guia, assim como guiou nossos antepassados por Seneca Falls, Selma e Stonewall", disse o presidente Barack Obama em seu discurso de posse em janeiro, em um momento histórico para gays e lésbicas, incluídos em um discurso desses pela primeira vez. "Nossa jornada não estará completa até que nossos irmãos e irmãs gays sejam tratados legalmente como qualquer pessoa."

      As mudanças foram tão rápidas que às vezes é surpreendente lembrar que gays e lésbicas até recentemente tinham medo de se assumir e quantos obstáculos existiam. "Todos nós estávamos escondidos", disse o ex-deputado Barney Frank, democrata de Massachusetts, que em 1987 se tornou o primeiro membro do Congresso a revelar voluntariamente sua homossexualidade. Na época, a reprovação pública à homossexualidade --tão poderosa que gays e lésbicas hesitavam em se identificar, quanto mais buscar mudanças políticas-- ajudava a conter a ascensão do movimento.

      "Era uma população tímida e temerosa demais até mesmo para erguer sua mão, um grupo de pessoas que teve que começar do zero para criar seu lugar na cultura da nação", escreveram Dudley Clendinen e Adam Nagourney em "Out for Good", a história deles de 2001 do movimento dos direitos dos gays.

      No último século na política americana as fontes dessa reticência não eram um mistério. Os ensinamentos judaico-cristãos, interpretados como condenando a homossexualidade, forneciam o pano de fundo para o debate político em uma nação mais religiosa do que as outras no mundo industrializado. Nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, a Associação Psiquiátrica Americana deu credencial médica e científica às visões que rotulavam a homossexualidade como uma desordem mental.

      Mas as mudanças culturais ocorridas nos anos 60 começaram a minar essas barreiras. Em resposta aos primeiros movimentos em grandes cidades como Nova York, Los Angeles e San Francisco, George McGovern se tornou o primeiro candidato à presidência a se identificar com o movimento ao permitir oradores assumidamente gays na Convenção Nacional Democrata de 1972.

      Quatro anos depois, Jimmy Carter, um batista do sul da Geórgia, se opôs à discriminação contra gays e lésbicas ao mesmo tempo em que mobilizava o apoio dos cristãos evangélicos. Durante sua presidência, a coordenadora de Carter, Midge Costanza, realizou a primeira reunião formal com ativistas gays na Casa Branca.

      Mas Carter perdeu em 1980 para um Partido Republicano em ascensão que, sob o presidente Ronald Reagan, uniu conservadorismo econômico e social.

      Antes de chegar à Casa Branca, Reagan ajudou os ativistas gays a derrotar uma iniciativa que seria votada na Califórnia proibindo gays e lésbicas de lecionarem em escolas públicas. Mas, durante sua presidência, Reagan manteve distância. A legislação estendendo proteções de direitos civis a gays e lésbicas, introduzida pelos democratas liberais em 1974, continuou parada no Congresso.

      O aparecimento da Aids nos anos 80, entretanto, deu nova energia e urgência ao movimento. A epidemia levou muitos gays e lésbicas a assumirem publicamente sua opção sexual e aumentou a pressão sobre as autoridades eleitas, que de repente se viram diante de votações sobre o uso do dinheiro do contribuinte em resposta à crise de saúde pública.

      Os legisladores alinhados com os ativistas gays começaram a formar alianças no Capitólio que antes eram impossíveis em temas abstratos como os direitos dos gays.

      "Quando era puramente simbólico, eu não conseguia encontrá-los", lembrou Frank sobre tentar reunir apoiadores aos direitos dos gays. "Mas quando as vidas de pessoas estavam em risco, eu passei a ouvir: 'Certo, eu acho que terei que votar com você'."

      Bill Clinton, o primeiro presidente da geração pós-Segunda Guerra Mundial, colocou o movimento ainda mais em proeminência. Ele participou de um evento para arrecadação de fundos patrocinado por gays, destacou a Aids em sua convenção em 1992 e prometeu uma ordem executiva proibindo a discriminação contra gays e lésbicas nas forças armadas.

      "Ele nos trouxe para dentro do Partido Democrata", disse David Mixner, um velho amigo de Clinton da oposição à Guerra do Vietnã, que se tornou seu conselheiro e embaixador para o movimento dos direitos dos gays.

      Mas as vitórias permaneceram intermitentes. Os democratas sofreram uma dura derrota nas eleições de 1994, obrigando Clinton a adotar um tom mais conservador.

      Em 1996, ele enfureceu seus eleitores gays ao sancionar a Lei de Defesa do Casamento, cuja constitucionalidade está sendo discutida nesta semana em um dos casos de casamento de mesmo sexo que estão sendo ouvidos na Suprema Corte. A lei limitou a definição de casamento a uniões entre um homem e uma mulher.

      A posição de Clinton acompanhava a opinião pública americana, que continuava distinguindo os direitos dos gays de outras causas de direitos civis. Em uma pesquisa Gallup de 1996, 68% dos entrevistados eram contrários ao reconhecimento do casamento de mesmo sexo.

      A resistência da população ofuscou avanços mais discretos em outras partes. Os sindicatos trabalhistas há muito eram os "aliados mais fortes" do movimento na busca por proteções aos trabalhadores gays, disse Gregory King, um representante da Federação Americana dos Funcionários Estaduais e Municipais. E, à medida que um número cada vez maior de funcionários gays assumia sua sexualidade, as grandes empresas passaram a estender os programas de benefícios para cobrir os casais de mesmo sexo.

      "O setor privado sempre esteve à frente dos políticos", disse Hillary Rosen, uma lobista de Washington ativa nas causas dos direitos dos gays. Assim como a cultura popular, particularmente a TV, que nos últimos anos tem apresentado várias figuras gays de modo positivo.

      Esses desdobramentos --e a ascensão de uma geração de eleitores mais jovens, socialmente tolerantes, que não consideram o casamento de mesmo sexo controverso-- provocaram uma mudança na opinião pública.

      Em novembro de 2012, o Gallup apontou que 53% dos entrevistados apoiavam o reconhecimento legal do casamento de mesmo sexo. Uma pesquisa na semana passada mostrou que 54% apoiam benefícios para funcionários públicos federais casados com parceiros de mesmo sexo.

      Essas atitudes produziram um ajuste político que altera o debate, independentemente do que a Suprema Corte decida a respeito dos direitos de casamento de mesmo sexo.

      A ex-secretária de Estado Hillary Rodham Clinton postou recentemente --17 anos após seu marido ter apoiado a Lei de Defesa do Casamento-- um vídeo apoiando o casamento de mesmo sexo. Nenhum outro candidato democrata potencial à presidência em 2016 apresentou uma posição contrária ou deverá fazê-lo. O senador Rob Portman de Ohio, um candidato à chapa presidencial republicana, anunciou que apoiaria o casamento de mesmo sexo após descobrir que seu filho adulto era gay.

      O ritmo das mudanças continua surpreendendo os defensores do casamento gay.

      Frank disse que, em sua juventude, percebeu que se sentia pessoalmente atraído por homens e profissionalmente pelo governo. Ele presumiu que o primeiro impediria o segundo. "A esta altura", concluiu, "acho que minha atração sexual por homens é politicamente mais aceitável do que minha atração pelo governo".


      Tradutor: George El Khouri Andolfato 

      Suzana Herculano-Houzel

      folha de são paulo

      NEURO
      Coceira contagiosa
      Voluntários assistiram, dentro de um tubo de ressonância magnética, a vídeos de pessoas se coçando
      quase escrevi esta coluna sobre bocejo, mas acabei torcendo o nariz para o artigo que tinha me chamado a atenção -não sem antes bocejar uma boa dezena de vezes só de ler a palavra "bocejo" várias vezes seguidas.
      Folheando o meu reservatório de artigos interessantes, deparei-me com um sobre outro comportamento contagioso: a coceira.
      E não deu outra: ao final do primeiro parágrafo eu já estava sentindo uma necessidade incrível de coçar a cabeça, o rosto, a coxa, depois a outra perna... Como você, leitor, que já deve estar com alguma coceira pelo corpo.
      Por que a coceira é contagiosa? Um grupo do Reino Unido se interessou pela questão e convidou 51 jovens a assistir, de dentro do tubo de um aparelho de ressonância magnética, a vídeos de pessoas coçando o braço ou tamborilando os dedos no braço, sem coçá-lo.
      A diferença entre as duas imagens é pequena, mas o efeito é grande: a vontade de se coçar fica em média duas vezes maior após a pessoa ver alguém se coçando.
      O cérebro explica. Assistir a alguém se coçando ativa as estruturas principais do "complexo da coceira", que são aquelas estruturas acionadas quando há de fato algo na pele provocando prurido, como histamina: o córtex, que representa as sensações da pele; o córtex pré-motor, que organiza movimentos; e o córtex da ínsula, que representa sensações fisiológicas do corpo. E tudo isso na ausência de qualquer modificação real na pele.
      Ou seja: veja alguém se coçar e seu cérebro reagirá como se você de fato precisasse dar uma coçadinha também, com direito à sensação da coceira, ao incômodo associado e à preparação motora. Tudo por pura imitação.
      E, quanto mais forte for a ativação do córtex pré-motor, que prepara a ação de se coçar e contém os "neurônios-espelho" que refletem em nosso cérebro as ações alheias, mais forte é a "necessidade" de você também se coçar.
      A coceira é ainda mais contagiosa em algumas pessoas. No estudo inglês, a coceira sugestionada de alguns voluntários era até cinco vezes mais forte do que a dos outros. Esses mais sugestionáveis tendem a ser os voluntários com maior grau de neuroticismo, que é a tendência a emoções negativas.
      Quanto maior o neuroticismo, maior a ativação do córtex pré-motor e maior a necessidade de se coçar -sem a menor necessidade.
      Só mudando de assunto é que a coceira passa. Ainda bem que a coluna acabou!
      SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para Uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blogwww.suzanaherculanohouzel.com

      Vovó viu a vulva

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      Rosely Sayão

      folha de são paulo

      Tudo ao mesmo tempo
      Muitas mulheres anularam suas vidas pelos filhos. Mas ser mãe exige alguma dose de renúncia
      Durante as férias escolares e ao final do período recebi mensagens comentando a respeito de um mesmo tema: a presença de pais com crianças pequenas em locais e horários destinados especificamente a adultos.
      Em quase todas essas mensagens, os leitores relataram cenas que testemunharam e os deixaram incomodados. Vale ressaltar que a maioria dos leitores que me escreveu também tem filhos e não concordou com a escolha feita pelos pais de se fazerem acompanhar pelas crianças em programas e horários impróprios para elas.
      Crianças acordadas na madrugada, presentes em festas realizadas em hotéis de férias, em jantares ocorridos altas horas da noite, em bares e até em sessões de cinema com projeção de filmes que exigiam muita concentração foram situações relatadas por vários leitores.
      Algumas pessoas se incomodaram com a simples presença das crianças, porque consideram que as situações eram impróprias para elas e, possivelmente, as afetariam de alguma maneira.
      Outras se incomodaram porque as crianças têm reações típicas e naturais na infância -choram, reclamam, querem mexer no que está ao seu alcance- e elas estavam em locais onde isso não deveria acontecer. Na última sessão de um filme, no cinema, por exemplo.
      Recebi também a mensagem de uma avó que notou que a sua filha, com um bebê de menos de um ano, estava se comportando da mesma maneira, ou seja, levando o bebê a todos os lugares que costumava ir sozinha, como shopping, supermercado, restaurante etc. E, como ela, a avó, está sempre disponível para ficar com a neta, conversou com a filha e disse que não considerava certo levar o bebê a lugares tão barulhentos e movimentados.
      A resposta da filha deixou essa avó pensativa, o que a levou a me escrever. A filha respondeu que o tempo de se anular por causa dos filhos havia acabado.
      "É isso mesmo?", perguntou-me a avó.
      A questão também me fez pensar bastante. Gostaria de compartilhar minhas reflexões com você, caro leitor. Talvez estejamos vivendo em uma época que nos leva a cometer alguns equívocos e a fazer confusões. Ter filhos e comprometer-se com esse fato pode estar numa dessas zonas de confusão.
      Sim, muitas pessoas, mulheres principalmente, já anularam suas vidas por causa dos seus filhos.
      Quer dizer: a partir do momento em que se tornaram mães, essas mulheres transformaram esse papel no quase único de sua vida. E, é bom lembrar, isso não prejudicou apenas a mulher, mas os filhos também. Sabe o que significa carregar nas costas todos os anseios de realização da sua mãe?
      Bem, mas ter filhos acarreta algumas renúncias. A maioria delas é de natureza temporária, mas, ainda assim, é renúncia.
      O problema é que vivemos em uma época de apologia do prazer, da satisfação imediata e da felicidade. E renúncias não combinam com isso, não é verdade?
      Renunciar a algumas coisas se transformou em sinônimo de se anular, portanto. E esses são dois conceitos bem diferentes.
      Casar significa renunciar à vida de solteiro; ter filhos significa renunciar à vida sem filhos. Será que aceitamos essas premissas, entre outras, nestes tempos em que é imperioso buscar a felicidade completa, nos moldes em que entendemos hoje essa palavra? Pelo jeito, não. Queremos tudo ao mesmo tempo e agora. Como os adolescentes.
      ROSELY SAYÃO é psicóloga

        Angeli - Charge

        folha de são paulo

        Editorial FolhaSP

        folha de são paulo

        Estudar, crescer, trabalhar
        Serão necessários muitos estudos, ainda, para aquilatar o resultado das ações afirmativas em universidades brasileiras. Os até aqui realizados não permitem conclusões sólidas sobre o benefício real obtido para jovens de baixa renda.
        Considerem-se as dez universidades públicas retratadas em reportagem ontem nestaFolha. As políticas variam, das inaceitáveis cotas raciais a vagas ou bônus para egressos de escolas oficiais. Em quatro instituições (USP, Unicamp, UFMG e Uerj), a proporção de candidatos da rede pública caiu de 2004 a 2012, em vez de aumentar.
        Há mais de uma hipótese para explicar tal dificuldade em recrutar os 85% de secundaristas formados no sistema estatal. Com o ensino de má qualidade recebido, o aluno pode achar que não tem chance de passar no vestibular.
        Há quem aponte que lhe falta, também, informação sobre os diversos sistemas de incentivo. Não se pode desprezar, tampouco, o papel do ProUni, programa federal que desde 2005 contemplou mais de 1 milhão de estudantes com bolsas para faculdades privadas.
        É na rede particular que se deu a maior parte da expansão do ensino superior. De 7 milhões de estudantes universitários, 5 milhões estão em faculdades privadas.
        O aquecimento do mercado de trabalho é outra explicação. Há 20 milhões de empregos para quem tem só o ensino médio completo, contra 7,6 milhões de formação universitária, e as vagas do primeiro tipo crescem mais rapidamente.
        Sendo assim, não parece implausível que muitos jovens escolham entrar diretamente no mundo do trabalho. Ou, então, que optem pelo ProUni e pelas universidades particulares, com sua flexibilidade para oferecer cursos de corte mais profissional que acadêmico.
        A busca por trabalhadores qualificados também motivou a criação de 2,5 milhões de vagas de ensino técnico pelo governo federal -68% das quais, contudo, em cursos de curtíssima duração (160 horas). O ensino superior pode não ser o mais adequado para todos os jovens, mas não será com uma formação improvisada que eles se realizarão como profissionais.

        Helio Schwartsman

        folha de são paulo

        De volta ao aborto
        SÃO PAULO - Em geral, não dá certo explicar melhor colunas que não foram bem assimiladas de primeira, mas, em respeito aos que me escreveram para comentar o texto de sexta sobre o aborto, arrisco fazê-lo.
        Eu até poderia ter dito que é inútil tentar proibir o que todos fazem, mas meu argumento não era esse, mesmo porque não é a maioria das mulheres que aborta. O que quis dizer quando evoquei a necessidade de construir 5,5 presídios por dia é que a pena prevista é desproporcional ao ato praticado, mesmo para quem julga o aborto um tipo de homicídio.
        Com efeito, teríamos um país melhor se o sistema fosse capaz de prender todos os autores dos cerca de 35 mil homicídios dolosos anuais registrados no Brasil. Mas, se fizéssemos o mesmo com todas as mulheres que recorrem ao aborto, o resultado, penso, seria uma sociedade pior, já que multiplicaríamos a taxa de infelicidade sem extrair benefícios palpáveis.
        Embora nossas mentes gostem de privilegiar instantes percebidos como essenciais, a natureza costuma operar por meio de processos contínuos. Não acho, portanto, que faça muito sentido marcar um momento mágico a partir do qual o embrião se torna titular de plenos direitos civis -quem você salvaria do incêndio na clínica de fertilidade, as duas crianças na sala de espera ou a geladeira com 200 embriões congelados?
        Para os que insistem em ver as coisas dessa maneira, porém, lembro que a lei já prevê várias situações em que homicídios não são punidos. O próprio aborto necessário, para salvar a vida da mãe, é um deles. Há ainda legítima defesa, estrito cumprimento do dever etc. Até damos medalhas para nossos soldados que matam o maior número de inimigos, a maioria deles jovens tão inocentes quanto os nossos, que apenas nasceram do lado errado da fronteira. Historicamente, sociedades só proíbem os homicídios que tendem a desorganizá-las, tolerando e até incentivando os que as mantenham coesas.

          Eliane Cantanhêde

          folha de são paulo

          Abolição da escravatura
          BRASÍLIA - A escravatura já tinha sido oficialmente abolida, mas minha bisavó e depois a minha avó foram cercadas de escravas. Até "ama de leite" o meu pai teve, antes de a usina ruir sob o peso das multinacionais e a família falir.
          Essas escravas pós-escravatura eram as "crias". Matavam-se dias e noites na casa-grande, em troca de cama, comida e água fresca na senzala -pela qual deveriam ser muito gratas às sinhazinhas. Marina Silva sofreu na pele essa história.
          Do outro lado da família, o urbano, minha mãe trabalhou desde sempre e fui criada por empregadas que vinham "do norte", não tinham onde morar e viravam "pessoas da família". Eram gratas por serem acolhidas, mas também mereciam gratidão por cuidarem dos filhos pequenos e tinham salário, direito de ir e vir, folgas nos fins de semana. Era pouco.
          Na minha geração, com as mulheres mergulhando no feroz mercado de trabalho, proliferaram os empregados domésticos e vieram a carteira assinada, o salário-mínimo, as férias anuais, o 13º salário. Ainda pouco.
          Já na das minhas filhas, prevalecem as diaristas, horário estipulado, de segunda a sexta, todos os direitos. E, em vez de babás, os pais assumem os seus bebês e contratam creches.
          Estamos, claro, falando de famílias de classe média/média alta de uma parte do país. Em outra, como no meu Maranhão paterno, ainda há fortes resquícios de escravatura em pleno 2013. E o pior é quem condena o que ocorre lá, mas discorda da PEC das domésticas cá.
          O argumento de que "vai ficar caro e faltar emprego" dissimula o velho pretexto "econômico" para impedir direitos e avanços sociais. Se fosse só uma questão econômica, a escravatura jamais teria terminado. Nem nos EUA nem aqui.
          Que o Senado diga "sim", hoje, à nova legislação dos trabalhadores domésticos. Eles não são mais escravos nem precisam de patrões "bonzinhos". São profissionais com direitos e deveres como qualquer outro.

          Vladimir Safatle

          folha de são paulo

          Invisível
          Ao menos no quesito "exploração", o Brasil conseguiu chegar a patamares de Primeiro Mundo. Temos também entre nós a exploração sistemática de imigrantes ilegais postos em situação de trabalho escravo. Diga-se "sistemática" porque tudo indica que não se trata de situações isoladas produzidas por grupos empresariais gananciosos.
          Na verdade, há setores inteiros da indústria brasileira que parecem funcionar de maneira criminosa.
          Na semana passada, 28 trabalhadores bolivianos foram resgatados de condições análogas à escravidão em uma oficina da zona leste de São Paulo. Eles trabalhavam para a empresa GEP, formada pelas marcas Emme, Cori e Luigi Bertolli e pertencente ao mesmo grupo que representa a marca GAP no Brasil. Meses atrás, algo semelhante ocorreu com trabalhadores que produziam para a marca Zara.
          Em todos esses casos, a reação é sempre a mesma: as empresas afirmam que nada sabiam sobre as reais condições dos trabalhadores que faziam seus produtos. A esse respeito, vale a pena dizer que esse "não saber" é bastante sintomático.
          Tais empresas sabem tudo a respeito das condições de suas lojas, da maneira como a marca aparece nos letreiros, da qualidade e design de suas peças, dos gastos e dos resultados de seus múltiplos esforços de comunicação milimetricamente mensurados.
          No entanto, vejam só vocês, elas nada sabem sobre quem faz seus produtos. Aparentemente, nunca foram nas oficinas a fim de pelo menos conhecer suas reais condições de trabalho. Há de perguntar de onde vem esse desejo de nada saber.
          Talvez tal desejo seja uma bela forma de resolver uma contradição social. Pois, se no século 19, os donos das indústrias fabris eram obrigados a ver todos os dias seus operários doentes e moribundos, hoje tal cena, nem um pouco glamourosa, não sobressaltará seus corações.
          Agora, ele pode apelar à "terceirização da exploração" e não ver nada. Assim, enquanto desfila suas roupas nas "fashion weeks" da cidade, prometendo aos consumidores acesso simbólico à modernidade, tais marcas podem remeter seus trabalhadores à noite brutal e silenciosa da exploração medieval. Tudo isso "sem saber".
          Contra esse cinismo, um boicote aos seus produtos seria uma reação eficiente. Quem sabe, "hackear" seus sites com os dizeres: "Essa marca usa trabalho escravo". Assim, enquanto a legislação brasileira não eleva o trabalho escravo à condição de crime hediondo e inafiançável, empresários começariam a ter, pelo menos, alguma curiosidade em saber sobre como seus produtos são fabricados.

          José Simão

          folha de são paulo

          Páscoa! A Volta do Túnel de Ovo!
          Foi ao supermercado esses dias? É tanto ovo no teto que a gente tem que fazer compra de quatro
          BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E esta: "Ladrão chamou morador de pé de chinelo em arrastão nos Jardins". Como disse uma amiga minha: "meu medo é esse!". Rarará! Que humilhação! Ser chamado de pé de chinelo na frente dos vizinhos!
          Piada Pronta: "Ministério Público de Rondônia investiga empresas fantasmas no ramo funerário". E esta: "GNT lança nova série: 'Meu Filho Come Mal', com apresentação da nutricionista Gabriela Kapim". Isso que é predestinada: nutricionista Gabriela Kapim! E esta da ONU: "Dos 7 bilhões de habitantes do mundo, 6 bi tem celular, mas 2,5 bi não tem banheiro". Tem que lançar celular com piniquinho. E a Vivo lançar o slogan: "Vivo fazendo no mato". Rarará!
          O mundo já tem 7 bilhões? Como disse uma amiga: "O mundo tem 7 bilhões e ninguém me toca há meses". Rarará! O mundo tem 7 bilhões. E eu entrei num supermercado na Bahia e todas as caixas estavam grávidas! O mundo tem 7 bilhões. E todos tomam o metrô na estação da Sé? O mundo tem 7 bilhões porque não obedeceram aquela placa do Sesi: "Planejamento familiar! Entrada pelos fundos!".
          E o tuiteiro Paulo Galvão postou que "é tanta mentira nessa novela 'Salve Jorge' que o dragão já virou crocodilo".
          E Socuerro! A Volta do Túnel de Ovo! Alguém já foi ao supermercado esses dias? Só tem túnel de ovo de Páscoa! É tanto ovo pendurado no teto que a gente tem que fazer compra de quatro, de gatinhas! Sabão em pó? Não tem! Tem ovo! Granola? Não tem! Tem ovo!
          Eu peguei um não pra comprar, mas pra abrir caminho! Túnel de ovo! Existe coisa mais constrangedora que passar por um túnel de ovo? E com a eterna placa "favor não apertar os ovos". Aiiii, só de ler a placa, senti dor! Custa escrever "de Páscoa"? Favor não apertar os ovos VÍRGULA de Páscoa! E tem até ovo do Batman. Sendo que o ovo do Batman é do Robin, já tem dono! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
          O Brasil é Lúdico! Olha este cartaz num sofá do Ponto Frio: "Favor não assentar-se para fazer lanche... produto de mostruário". E esta placa de academia que tá correndo no Facebook: "Cansado de ser feio e gordo? Seja só feio!". E esta pregada num poste: "Trago o Jim Morrison de volta". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!
          Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

          Para Alfredo Bosi, obra de Graciliano segue atual

          folha de são paulo

          Autor está em livro do crítico que hoje sente falta de 'força e beleza' similares
          Texto do crítico literário sobre escritor foi apresentado em conferência e será publicado em 2013
          RAQUEL COZERCOLUNISTA DA FOLHA"Não conheço escritor tão senhor dos segredos da linguagem literária que haja padecido tanto para dominar o alfabeto quanto o autor de 'Infância'", ponderou o crítico literário Alfredo Bosi, 76, na última quarta-feira, ao se propor a uma abordagem renovada sobre Graciliano Ramos (1892-1953).
          O professor emérito da USP fez, no auditório da faculdade de história da universidade, a palestra de abertura do colóquio em homenagem aos 60 anos de morte do escritor alagoano.
          "Quando fui convidado a falar sobre Graciliano, pensei: 'E agora, como dizer alguma coisa nova com interesse sobre sua obra, depois de tantos anos em que a li pela primeira vez?'."
          Decidiu discorrer sobre "Infância", título de 1945 "que não é romance, não é história, não é memória" e sobre o qual nunca tinha meditado mais detidamente.
          Sua análise do sofisticado modo de construção da memória do autor partiu de reflexão sobre passagens que o comoveram, como o testemunho de Graciliano sobre a palmatória e outros antigos expedientes de abuso de poder que o fizeram padecer com o aprendizado.
          O texto da conferência estará no livro "Entre a Literatura e a História", que a editora 34 lança ainda neste ano. Integrará a seção de ensaios sobre teoria estética e literária, na qual serão abordados também Cecília Meireles, Machado de Assis e outros.
          O título terá ainda uma parte dedicada à história literária, outra retomando temas de seu "Ideologia e Contraideologia" (Companhia das
          Letras, 2010) e uma terceira com artigos publicados na imprensa, como aqueles motivados por sua militância ambiental.
          Para encerrar o volume, haverá três entrevistas: sobre Otto Maria Carpeaux, sobre Celso Furtado e sobre sua trajetória como estudioso.
          A última entrevista, pode-se dizer, resume a proposta do livro, pinçando temas centrais da ampla gama de interesses de Bosi nessas mais de quatro décadas de atuação na vida intelectual brasileira.
          CLÁSSICOS
          "Graciliano Ramos é um desses poucos escritores que continuam a nos repropor temas da nossa sociedade tratados com vigor e rigor estilístico excepcional", disse Bosi àFolha por e-mail, depois da palestra.
          O crítico evita o pessimismo ao analisar nossa atual produção literária -o poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar é o único autor vivo que, a princípio, cita entre os que estarão no livro.
          Antes de comentar o tema, esclarece que "é preciso considerar a existência de uma questão de gosto".
          Mas argumenta: "Quem se formou na leitura de Machado, Raul Pompeia, Guimarães Rosa e Clarice Lispector, para citar alguns pontos altos, tem a impressão de que, a partir dos anos 1970-1980, a ficção brasileira não atingiu, se não em casos raros isolados, o patamar de força e beleza que aqueles criadores nos legaram." E ressalva: "Só o futuro julgará se tal impressão é correta".
          Bosi inclui José Lins do Rego, Lima Barreto, Cornélio Pena e Dyonélio Machado entre os pontos altos do passado. Toma mais cuidado ao ser questionado sobre os "raros casos isolados" dignos de nota hoje.
          "Eles já conhecem minha opinião favorável sobre suas obras, mas, se forem divulgados, isso produzirá constrangimento e mal-estar entre os numerosos autores que não seriam citados. Nem as omissões involuntárias seriam perdoadas."
          Há anos distante da rotina de crítica literária na imprensa, diz que os bons suplementos do gênero "foram rareando por conta de alterações ocorridas na estrutura do mercado cultural".
          Mas, complementa, "ainda cabe aos jornais o papel de informar o que vem sendo editado. De preferência, com textos que não sejam apenas expressão dos humores deste ou daquele jornalista".


          FRASE
          "Quem se formou na leitura de Machado, Raul Pompeia, Guimarães Rosa e Clarice Lispector tem a impressão de que a partir dos anos 1970-1980 a ficção brasileira não atingiu, se não em casos raros isolados, o patamar de força e beleza"
          ALFREDO BOSI
          crítico literário