segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Doida Demais - Carolina Braga

DOIDA DEMAIS Aos 74 anos, a atriz Teuda Bara prepara adaptação do conto A doida, de Carlos Drummond de Andrade, e é tema da biografia Comunista demais para ser chacrete, de João Santos


Carolina Braga
Estado de Minas: 16/02/2015




A atriz Teuda Bara, que recusou convite de Chacrinha para se tornar chacrete nos anos 1970 e é uma das fundadoras do Grupo Galpão, em 1982 (Paulo Filgueiras/EM/D.A.Press)
A atriz Teuda Bara, que recusou convite de Chacrinha para se tornar chacrete nos anos 1970 e é uma das fundadoras do Grupo Galpão, em 1982


Foi numa noite regada a muito uísque e cachaça, saboreados com linguiça e torresmo, debaixo de um pé de manga na Avenida do Contorno, que Abelardo Barbosa, o Chacrinha, conheceu a dona da risada mais marcante da cena teatral de Belo Horizonte.

“Ele ficava batendo a mão nas minhas coxas e falava: vamos para o Rio comigo, vamos lá para você ser chacrete”, lembra Teuda Bara, entre uma gargalhada e outra.

Era a década de 1970 e, depois de uma palestra dele na sede do DCE da UFMG, a então estudante de sociologia da Fafich estava no grupo incumbido de ciceronear o maior bufão que a comunicação brasileira conheceu. “Eu falava: ‘Não posso ser chacrete, sou gorda’. E ele: ‘Minha filha, faço programa para as classes C e D. Eles gostam de mulher peituda e coxuda’”, conta.

Teuda preferiu ficar em Minas. “Tinha acabado de entrar na universidade, descobrindo o que era aquela bagunça. Como você sai para ser chacrete?”

A verdade é que, em plena ditadura, a moça que em 1966 ouviu Caetano Veloso cantar ‘caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento’ e, literalmente, jogou seu RG pela janela, tinha ideias igualitárias demais para aceitar a proposta de quem gostava de distribuir bacalhau para a plateia.

E se Teuda Bara era comunista demais para ser chacrete, foi esse o título escolhido pelo jornalista e escritor João Luis Santos para o livro que reúne casos memoráveis da atriz, fundadora do Grupo Galpão.

Aos 74 anos, Teuda perdeu as contas de quanto tempo tem de carreira. João, não. Segundo ele, no ano que vem ela completa quatro décadas de um ofício que surgiu em sua vida por acaso. Primeiro, foram experiências com o teatro jornal (pequenas encenações a partir do noticiário), ainda na universidade, até que ela estreou profissionalmente sob a direção de Eid Ribeiro em Viva Olegário, em 1976.

Foi a partir de então que Teuda Magalhães Fernandes tornou-se Teuda Bara, uma referência - e homenagem - à estrela de Hollywood Theda Bara, de Cleópatra (1917).

“Todo mundo tem uma história da Teuda para contar. Por isso optei por não fazer uma biografia linear, mas escolher alguns casos. É um best of”, diz João Santos sobre o livro. Teuda Bara: comunista demais para ser chacrete começou como um projeto de conclusão do curso de jornalismo e se converteu na ideia do livro. Está no ar pela Variável 5 (www.variavel5.com.br) a campanha de financiamento coletivo para que a obra seja publicada neste ano.

‘TEVE AQUELA VEZ...’

Teuda tem humor peculiar ao narrar sua vida. Quando solta um “teve aquela vez...”, lá vem história, em geral contada de forma caótica e invariavelmente espalhafatosa. É assim que ela começa a se lembrar do fim do noivado de oito anos, graças a uma noitada, nos primeiros tempos da boemia no Edifício Maletta.

“Estava saindo do Instituto de Educação com o uniforme ‘Educar-se para educar’, e meu irmão me chamou para ver um show dele. Fui e adorei aquela coisa escura. Quando veio o gim tônica com o gelo iluminado pela luz negra, fiquei alucinada. No dia seguinte, fui, toda alegre, contar para o noivo, e ele ficou possesso.”

Para apaziguar a tristeza pelo término do noivado, o pai de Teuda a convidou para uma sessão do então badalado Circo Garcia. “Quando sentei para ver, pensei: ‘Que noivado, que nada’. Fiquei louca com tudo. Tinha elefante, macaco, cachorrinho, os artistas eram maravilhosos. Aí, claro que fiquei amiga do circo inteiro”, recorda. Não só amiga, mas também namorada de um certo trapezista alemão chamado Johann Grimm.

“No primeiro mês de namoro, já tinha ido a todas as boates de Belo Horizonte com ele”, conta. Quando o circo deixou Belo Horizonte, o rapaz ficou na cidade. Tornou-se bombeiro e o relacionamento não foi para a frente.
“Foi a maior besteira que eu fiz. Devia ter ido com o circo”, lamenta-se a atriz. Teuda nunca se casou. Mas como diz ser uma mulher de grandes paixões, logo já estava encantada pelas novidades que o diretor Zé Celso Martinez Corrêa aprontava com o Teatro Oficina. “Fiquei muito alucinada quando vi. Tinha certeza de que não queria fazer nada mais na vida que não fosse aquilo.”

Entrou para o Oficina, mas, logo que se descobriu grávida do segundo filho, voltou para Belo Horizonte.
No início da década de 1980, participou de oficina com integrantes do Teatro Livre de Munique. Naquela turma, conheceu Antônio Edson, Eduardo Moreira e Wanda Fernandes, com quem fundou o Grupo Galpão, em 1982. Teuda é a “mãezona” da companhia e a protagonista dos grandes casos de bastidores. Ela já parou trem na Europa e até fez militantes do Sendero Luminoso aguardarem uma ida dela ao banheiro na turnê pelo Peru.

Quando tinha 64 anos, a atriz recebeu o sedutor convite de atuar em uma montagem do Cirque du Soleil em Las Vegas, sob a direção de Robert Le Page. Mesmo sem falar uma palavra em inglês, ela foi e ficou por lá durante quatro anos. Resumindo, foi vítima da bolha imobiliária pré-crise financeira global, enfrentou falência da companhia aérea com a qual tinha o bilhete de volta e protagonizou escândalo no aeroporto para conseguir chegar ao Brasil.

Acharam que ela era doida. “Eu pirei. Juntei tudo o que eu sabia de inglês e falei: You think I’m crazy, I’m not. Eu fico crazy assim! Peguei a minha saia e levantei”, relata, usando a tradicional gargalhada como ponto final. Quando Teuda para e pensa no que já aprendeu da vida, lembra-se do amigo Paulo José, o maior exemplo de superação que tem por perto. “Aprendo todo dia. Não pode desanimar. Tem que ir. Vai arrastando, mas vai.”


Parceria inédita


Num currículo com mais de 20 peças teatrais, novelas, curtas e longas-metragens, entre eles O palhaço, com direção de Selton Mello, Teuda Bara vai acrescentar uma experiência inédita. Se tudo caminhar como o planejado, estreará neste ano a primeira peça ao lado do filho, Admar Fernandes. Será a adaptação do conto A doida, de Carlos Drummond de Andrade, com direção de Inês Peixoto. É um projeto paralelo à agenda do Grupo Galpão.  A ideia dessa montagem surgiu na época em que Teuda morava em Los Angeles, a serviço do Cirque du Soleil, para a montagem de K.A, sob a direção de Robert Le Page. Admar estava com ela e comentou o arrebatamento que sentiu ao ler conto do itabirano.  Há pelo menos cinco anos eles esperam o melhor momento para transformar o conto em uma peça.“Estava fazendo novela (Meu pedacinho de chão) com a Inês e por isso nós não entramos na última montagem (do Galpão). Aí, pensei: é a oportunidade”, diz. Por enquanto, Inês, Admar e João Santos, que foi convidado para adaptar o texto, têm-se reunido para os primeiros  estudos do conto. A história é sobre uma mulher frequentemente apedrejada por meninos travessos. “O fato é que é uma isolada, segregada”, pontua. Uma personagem que parece muito distante da Teuda Bara que todos já conhecem. 

Wagyu - Eduardo Almeida Reis

Existe uma butique vendendo picanha de wagyu a R$ 500 o quilo%u2026 Já temos 50 criadores e muitos alimentam os seus gados com cerveja


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 16/02/2015


Todo final de ano somos entupidos de conselhos sobre o que deve ser comprado para presentear pessoas queridas e o mínimo que a maioria das publicações faz é uma seção de “achados imperdíveis”. Por isso, deixei passar um tempinho para recomendar ao caro, preclaro e assustado leitor que procure comprar a carne de wagyu, já encontrada no Brasil: wagyu, wa de Japão e gyu de gado, ou seja “gado japonês”.

Se você não é vegetariano ou vegano, pode acabar com esta bobagem de economizar seus trocados e procurar nas butiques de carne as peças de wagyu. No Leblon do Rio, já existe uma butique vendendo picanha de wagyu a R$ 500 o quilo. Dir-se-á que picanha é um exagero: concordo. Você pode procurar peças mais baratas e o preço médio do quilo é R$ 300.

Aprendi na revista Animal Business Brasil, superiormente editada pelo veterinário Luiz Octávio Pires Leal, velho companheiro de mídia agropecuária, que o Brasil cria wagyu desde 1992, já existem 5 mil animais puros e 35 mil mestiços. O mundo só tomou conhecimento da raça wagyu em 1886, com a abertura do Porto de Kobe ao comércio internacional. Data daí o Kobe Beef e se estima que o gado tenha sido introduzido no Japão há vários séculos. Há wagyu de pelagem preta, Black Kobe, e de pelagem avermelhada, Red Kobe.

Já temos 50 criadores que se esmeram na criação e alimentação dos puros e dos mestiços, fazendo massagens para relaxar os seus animais. Muitos alimentam os seus gados com cerveja para alterar a microbiota ruminal, aumentando o apetite e melhorando o aproveitamento dos nutrientes na digestão.

Dois graduandos da Esalq-USP e um professor-doutor da mesma universidade escreveram o texto publicado na revista, quando explicaram que dois dos principais fatores que determinam o sabor da carne vermelha são o teor e a qualidade da gordura entremeada na musculatura, conhecida como marmoreio. É a gordura que confere características como a maciez, o aroma e a suculência. São as carnes denominadas Super Premium.

O empresário Lúcio Costa não come carne vermelha, mas tem recursos que lhe permitem comprar uns quilinhos de carnes Super Premium para me mandar de presente. Desde já agradeço a lembrança e me despeço do leitor com os melhores votos de picanhas e contrafilés de animais da raça wagyu, considerando que a vida é uma só.


Execução

De Guarapari, onde passa férias de 30 dias, meu amigo e colaborador habitual sugeriu por e-mail a seguinte ruminança: “A Indonésia não eliminou um brasileiro, mas um traficante internacional” (R. Manso Neto). Mesmo concordando com os termos da ruminança, evitei publicá-la naquele clima de guerra que se formou em Brasília contra a República da Indonésia, país de quase 2 milhões de km2 e aproximadamente 250 milhões de habitantes, que deve ter conhecido o Homem de Java, hominídeo que teria vivido cerca de 700 mil anos antes do presente.

Independente da Holanda desde 1949, a Indonésia teve o bom senso de adotar como língua oficial o indonésio, do grupo de línguas da família malaio-polinésia, evitando assim o holandês, língua indo-europeia do ramo germânico, sub-ramo ocidental.

De Guarapari, o professor-doutor R. Manso Neto mandou-me ainda diversas considerações sobre Obama, Hollande, Cameron, Netanyahu, Putin e Cristina Fernández de Kirchner, que não teriam condições de administrar seus países, porque nunca passaram férias no município do litoral capixaba, superiormente administrado pelo prefeito Orly Gomes. Realmente, Guarapari deve ser o batismo, a circuncisão social. Só quem passa férias por lá entende o planeta.

Voltando à Indonésia, os parentes e amigos do traficante executado têm o direito de ficar chocados, mas nós brasileiros temos assuntos muito mais importantes com os quais nos preocupar, a começar pelo desgoverno federal, pela seca anormal, pela roubalheira desenfreada, pela possibilidade provável de racionamento de energia elétrica e pelos milhões de patrícios às voltas com o trânsito maluco e os recordes mundiais nas taxas de homicídios. Para que o leitor faça ideia, no Brasil a taxa anual de homicídios por 100 mil habitantes é quatro vezes maior que a da Indonésia. O resto é piu-piu, já dizia Ibrahim Sued, meu contemporâneo nas redações cariocas.


O mundo é uma bola

16 de fevereiro de 1630: tropas holandesas entram em Olinda (PE). Preciso ver qual foi a semana do carnaval em 1630. De repente, em vez de invadir os holandeses só queriam pular no carnaval olindense.

Em 1773, as distinções entre cristãos velhos e cristãos novos são abolidas em Portugal, que decreta a destruição dos registros cadastrais dos judeus. No ano de 1832, Charles Darwin, em sua volta ao mundo a bordo do HMS Beagle, visita os Penedos de São Pedro e São Paulo, conjunto de pequenas ilhas rochosas situado na parte central do Atlântico equatorial, a 627 quilômetros do Arquipélago de Fernando de Noronha, 968 quilômetros do ponto mais próximo do continente e 987 quilômetros a partir de Natal (RN). O Arquipélago de São Pedro e São Paulo pertence a Pernambuco, embora fique mais próximo do Rio Grande do Norte. Hoje é o Dia do Repórter.


Ruminanças

“Bovinos e os outros animais irracionais têm sobre os racionais a virtude de não acenar, feito idiotas, quando sobrevoados por um helicóptero” (R. Manso Neto).