folha de são paulo
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Marcelo Miterhof
folha de são paulo
Antecipo as homenagens pelo centenário de Ignácio Rangel, que será em fevereiro de 2014. Faço isso porque nas últimas semanas distintos temas tratados neste espaço fazem lembrar dele, em especial sua capacidade de aliar uma criatividade aguda para elaborar conceitos com um senso de realidade raro entre economistas.
Uso textos como "O papel da inflação", publicado na Folha de 30/07/1990, indicação do economista Thiago Mitidieri, com quem discuti sobre Rangel.
Nos anos 30, Rangel entendia que a industrialização precisaria vir junto com a reforma agrária. Mais tarde, reconheceu que no Brasil a industrialização, se não fosse um projeto de lideranças dos proprietários rurais, teria sido natimorta.
No entanto, isso não ocorreria sem graves problemas. A mecanização do campo sob uma estrutura fundiária concentrada jogaria muitas pessoas nas cidades, sem que houvesse ocupação suficiente na indústria e nos serviços para absorvê-las, o que favoreceu a repressão salarial, travando o adensamento do mercado interno, o motor da industrialização brasileira.
Avançar na industrialização --dos bens leves para os de consumo duráveis e daí para a indústria pesada-- era o jeito de continuar criando perspectivas. Porém os avanços ocorriam por saltos na estrutura produtiva em ciclos mais ou menos decenais, prósperos na primeira metade e recessivos na outra.
Não era tarefa fácil. Havia capacidade ociosa, por conta das grandes economias técnicas de escalas, e também estrangulamentos produtivos, fruto de desequilíbrios próprios de uma mudança estrutural e de restrições de divisas externas.
A inflação tinha até os anos 60 um comportamento inesperado, se intensificando na recessão. Os baixos ganhos salariais faziam a demanda agregada no Brasil ser estruturalmente deprimida, pois dependente do investimento.
Para Rangel, a inflação tinha outra fonte de aceleração: uma estrutura de mercado cartelizada, que elevava seus lucros espremendo tanto os consumidores finais quanto os produtores, em especial nos bens agrícolas. Como a procura de alimentos é pouco elástica, o aumento de seus preços fazia cair o consumo de outros bens pelos assalariados, aprofundando a recessão.
Mas a inflação era útil. Ao penalizar a liquidez, incentivava imobilizações --tanto pela antecipação da compra de bens duráveis pelos mais ricos quanto em investimentos incrementais-- quando um ciclo de mudança estrutural dava sinais de excesso de capacidade.
Essa imobilização especulativa mitigava a recessão e permitia alinhar as condições institucionais e o planejamento dos investimentos que fariam parte da nova fase de expansão industrial.
Rangel não vituperava contra a inflação, mas tampouco aderiu a ela, sabendo que seu papel foi circunstancial. A retomada do desenvolvimento viria pela realização de aperfeiçoamentos institucionais que o novo status de nação industrial exigia. Para isso, o capital financeiro precisava se integrar ao industrial, o que permitiria melhor coordenar os investimentos, algo que o país ainda está longe de ter.
Também estava claro que a capacidade de expandir a infraestrutura por meio de empresas públicas tinha se esgotado. Rangel tinha apontado nos anos 60 que esse modelo era útil, mas esbarraria na limitação de endividamento da União, o que ficou patente no início dos anos 80. Então, era preciso regenerar os sistemas de garantias, o que envolvia mudar o direito das concessões e realizar privatizações.
Hoje, a infraestrutura no Brasil se expande por meio do "project finance", em que sociedades de propósitos específicos, com controle privado, financiam os projetos com base na receita esperada. Nisso, a ideia de Rangel vingou.
Rangel não se furtava a mudar de posição, mas sem trocar uma crença idealizada no desenvolvimentismo e na cooperação por outra igualmente idealizada no liberalismo e na competição. Ele se manteve de esquerda e heterodoxo.
Isso não o impediu de transigir em questões concretas, defendendo que a industrialização, para se viabilizar, precisou da elite agrária e que a inflação não era um mal absoluto. Quando o projeto industrial mostrou sinais de esgotamento, defendeu as privatizações, antes de elas virarem uma efetiva bandeira liberal.
É possível discordar de Rangel em vários pontos, mas, houvesse mais economistas como ele, a economia avançaria bem mais, tanto como teoria quanto na política.
marcelo.miterhof@gmail.com
Ignácio Rangel
Para Rangel, a inflação tinha outra fonte de aceleração: uma estrutura de mercado cartelizada
Uso textos como "O papel da inflação", publicado na Folha de 30/07/1990, indicação do economista Thiago Mitidieri, com quem discuti sobre Rangel.
Nos anos 30, Rangel entendia que a industrialização precisaria vir junto com a reforma agrária. Mais tarde, reconheceu que no Brasil a industrialização, se não fosse um projeto de lideranças dos proprietários rurais, teria sido natimorta.
No entanto, isso não ocorreria sem graves problemas. A mecanização do campo sob uma estrutura fundiária concentrada jogaria muitas pessoas nas cidades, sem que houvesse ocupação suficiente na indústria e nos serviços para absorvê-las, o que favoreceu a repressão salarial, travando o adensamento do mercado interno, o motor da industrialização brasileira.
Avançar na industrialização --dos bens leves para os de consumo duráveis e daí para a indústria pesada-- era o jeito de continuar criando perspectivas. Porém os avanços ocorriam por saltos na estrutura produtiva em ciclos mais ou menos decenais, prósperos na primeira metade e recessivos na outra.
Não era tarefa fácil. Havia capacidade ociosa, por conta das grandes economias técnicas de escalas, e também estrangulamentos produtivos, fruto de desequilíbrios próprios de uma mudança estrutural e de restrições de divisas externas.
A inflação tinha até os anos 60 um comportamento inesperado, se intensificando na recessão. Os baixos ganhos salariais faziam a demanda agregada no Brasil ser estruturalmente deprimida, pois dependente do investimento.
Para Rangel, a inflação tinha outra fonte de aceleração: uma estrutura de mercado cartelizada, que elevava seus lucros espremendo tanto os consumidores finais quanto os produtores, em especial nos bens agrícolas. Como a procura de alimentos é pouco elástica, o aumento de seus preços fazia cair o consumo de outros bens pelos assalariados, aprofundando a recessão.
Mas a inflação era útil. Ao penalizar a liquidez, incentivava imobilizações --tanto pela antecipação da compra de bens duráveis pelos mais ricos quanto em investimentos incrementais-- quando um ciclo de mudança estrutural dava sinais de excesso de capacidade.
Essa imobilização especulativa mitigava a recessão e permitia alinhar as condições institucionais e o planejamento dos investimentos que fariam parte da nova fase de expansão industrial.
Rangel não vituperava contra a inflação, mas tampouco aderiu a ela, sabendo que seu papel foi circunstancial. A retomada do desenvolvimento viria pela realização de aperfeiçoamentos institucionais que o novo status de nação industrial exigia. Para isso, o capital financeiro precisava se integrar ao industrial, o que permitiria melhor coordenar os investimentos, algo que o país ainda está longe de ter.
Também estava claro que a capacidade de expandir a infraestrutura por meio de empresas públicas tinha se esgotado. Rangel tinha apontado nos anos 60 que esse modelo era útil, mas esbarraria na limitação de endividamento da União, o que ficou patente no início dos anos 80. Então, era preciso regenerar os sistemas de garantias, o que envolvia mudar o direito das concessões e realizar privatizações.
Hoje, a infraestrutura no Brasil se expande por meio do "project finance", em que sociedades de propósitos específicos, com controle privado, financiam os projetos com base na receita esperada. Nisso, a ideia de Rangel vingou.
Rangel não se furtava a mudar de posição, mas sem trocar uma crença idealizada no desenvolvimentismo e na cooperação por outra igualmente idealizada no liberalismo e na competição. Ele se manteve de esquerda e heterodoxo.
Isso não o impediu de transigir em questões concretas, defendendo que a industrialização, para se viabilizar, precisou da elite agrária e que a inflação não era um mal absoluto. Quando o projeto industrial mostrou sinais de esgotamento, defendeu as privatizações, antes de elas virarem uma efetiva bandeira liberal.
É possível discordar de Rangel em vários pontos, mas, houvesse mais economistas como ele, a economia avançaria bem mais, tanto como teoria quanto na política.
marcelo.miterhof@gmail.com
MARCELO MITERHOF, 38, é economista do BNDES. O artigo não reflete necessariamente a opinião do banco. Escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Como se fabricam Azevêdos - Clovis Rossi
folha de são paulo
É compreensível, mas exagerado, o ufanismo verde-amarelo nascido da escolha de Roberto de Carvalho Azevêdo para comandar a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Azevêdo não é um produto típico do Brasil oficial, mas de uma ilha de excelência no mundo do serviço público brasileiro, o Ministério das Relações Exteriores, mais conhecido como Itamaraty.
Sua vitória, em vez de ser festejada como uma exaltação ao Brasil, deveria servir para que uma presidente preocupada com a boa gestão tratasse de ampliar para o conjunto do serviço público brasileiro o modo Itamaraty de ser.
Breve resumo de como um Azevêdo chega até onde chegou o Roberto: começa com a admissão por meio de um rigoroso vestibular, em vez de entrar pela porta da indicação de um amigo, parente ou correligionário político bem colocado.
Normalmente, só 30 de uma batelada de candidatos passam por essa barreira inicial. Os aprovados ficam, então, um ano estudando no Instituto Rio Branco.
Ao final desse ano, passam a ser estagiários ou no próprio Itamaraty ou em embaixadas na América do Sul.
Só após um ano e meio desse percurso um Azevêdo pode ser lotado ou no Brasil ou no exterior.
Progredir na carreira não depende de padrinhos. É claro que, como em qualquer corporação, sempre há "panelinhas" que facilitam (ou dificultam) a vida dos Azevêdos.
Mas a meritocracia é um componente essencial, tanto que, de oito a dez anos após o início da carreira, o diplomata enfrenta um segundo filtro, o Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas.
Fiel à doutrina de que a formação é um processo contínuo e interminável, o Azevêdo de turno é submetido a um mês de provas e trabalhos, o que o habilita a passar de primeiro-secretário a conselheiro.
Ou seja, não se trata de passar no vestibular, iniciar a carreira e pendurar o paletó na cadeira à espera de o tempo passar.
Vencido o segundo obstáculo, vem o mais relevante, o chamado CAE (Curso de Altos Estudos). O diplomata tem que preparar, sem orientador, ao contrário do que é usual em teses de mestrado ou doutorado, um trabalho de entre 160 e 200 páginas.
O Azevêdo de verdade apresentou o seu em 2001, sobre "subsídios à exportação, o caso Embraer-Bombardier", na época rumorosa batalha entre Brasil e Canadá sobre quem subsidiava quem na fabricação de aviões.
A tese é defendida ante um banca composta por seis embaixadores, um relator diplomático e um relator acadêmico (de fora do Itamaraty). Uma banca que procura puxar cada Azevêdo ao limite, para testar não só seus conhecimentos, mas seu poder de iniciativa.
A partir daí, rumo ao posto máximo, o de embaixador, que, como demonstrou o novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, está longe de ser o mero "fru-fru" diplomático de coquetéis e recepções a que ainda está vinculada a imagem da diplomacia.
É essa formação que explica a vitória de Azevêdo, além, claro, de seu talento pessoal, formidável. Se o serviço público brasileiro em seu conjunto trabalhasse com esse modelo, o país seria outro.
crossi@uol.com.br
Como se fabricam Azevêdos
O modo de formação usado pelo Itamaraty deveria ser o modelo para todo o serviço público
Azevêdo não é um produto típico do Brasil oficial, mas de uma ilha de excelência no mundo do serviço público brasileiro, o Ministério das Relações Exteriores, mais conhecido como Itamaraty.
Sua vitória, em vez de ser festejada como uma exaltação ao Brasil, deveria servir para que uma presidente preocupada com a boa gestão tratasse de ampliar para o conjunto do serviço público brasileiro o modo Itamaraty de ser.
Breve resumo de como um Azevêdo chega até onde chegou o Roberto: começa com a admissão por meio de um rigoroso vestibular, em vez de entrar pela porta da indicação de um amigo, parente ou correligionário político bem colocado.
Normalmente, só 30 de uma batelada de candidatos passam por essa barreira inicial. Os aprovados ficam, então, um ano estudando no Instituto Rio Branco.
Ao final desse ano, passam a ser estagiários ou no próprio Itamaraty ou em embaixadas na América do Sul.
Só após um ano e meio desse percurso um Azevêdo pode ser lotado ou no Brasil ou no exterior.
Progredir na carreira não depende de padrinhos. É claro que, como em qualquer corporação, sempre há "panelinhas" que facilitam (ou dificultam) a vida dos Azevêdos.
Mas a meritocracia é um componente essencial, tanto que, de oito a dez anos após o início da carreira, o diplomata enfrenta um segundo filtro, o Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas.
Fiel à doutrina de que a formação é um processo contínuo e interminável, o Azevêdo de turno é submetido a um mês de provas e trabalhos, o que o habilita a passar de primeiro-secretário a conselheiro.
Ou seja, não se trata de passar no vestibular, iniciar a carreira e pendurar o paletó na cadeira à espera de o tempo passar.
Vencido o segundo obstáculo, vem o mais relevante, o chamado CAE (Curso de Altos Estudos). O diplomata tem que preparar, sem orientador, ao contrário do que é usual em teses de mestrado ou doutorado, um trabalho de entre 160 e 200 páginas.
O Azevêdo de verdade apresentou o seu em 2001, sobre "subsídios à exportação, o caso Embraer-Bombardier", na época rumorosa batalha entre Brasil e Canadá sobre quem subsidiava quem na fabricação de aviões.
A tese é defendida ante um banca composta por seis embaixadores, um relator diplomático e um relator acadêmico (de fora do Itamaraty). Uma banca que procura puxar cada Azevêdo ao limite, para testar não só seus conhecimentos, mas seu poder de iniciativa.
A partir daí, rumo ao posto máximo, o de embaixador, que, como demonstrou o novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, está longe de ser o mero "fru-fru" diplomático de coquetéis e recepções a que ainda está vinculada a imagem da diplomacia.
É essa formação que explica a vitória de Azevêdo, além, claro, de seu talento pessoal, formidável. Se o serviço público brasileiro em seu conjunto trabalhasse com esse modelo, o país seria outro.
crossi@uol.com.br
Tv Paga
Estado de Minas: 09/05/2013
As voltas que o mundo dá
Três mulheres assumem o comando de uma oficina mecânica. Isso, lá nos Estados Unidos. Só pelo ineditismo do feito já merecia uma produção como As mecânicas, que estreia hoje, às 21h, no Discovery Turbo. E convenhamos que é muito mais agradável ser atendido por beldades como Jessi Combs, Bogi e Cristy Lee (foto) que por um cara de macacão sujo de graxa.
Crise no Oriente Médio é tema de documentário
Destaque hoje em Sala de notícias, às 14h30, no canal Futura, o documentário Sírios em transição narra a trajetória de um ex-oficial do Exército sírio exilado em Moscou, onde estuda jornalismo, que retorna à terra natal para mostrar horrores cometidos pelo Exército de Bashar Al Assad, que a TV russa tenta esconder. Dirigidida por Marina Darmaros e Wissam Moukayed, a produção é inédita no Brasil.
Série do Nat Geo lembra os horrores da 2ª Guerra
Outro documentário que merece a atenção do assinante é Redescobrindo a Segunda Guerra. Na verdade, é uma série, e está em reprise no Nat Geo, que reservou para esta noite, a partir das 22h15, mais três episódios: "Momentos decisivos”, “O Dia D: 1944” e “O apocalipse”.
Alpinistas conquistam montanha no Paquistão
Durante 26 anos, 16 expedições tentaram sem sucesso escalar o Gasherbrum II, um dos maiores picos do Paquistão, com 8 mil metros de altitude. O alpinista e fotógrafo Cory Richards se tornou o primeiro americano a completar essa escalada, que fez ao lado dos parceiros Simone Moro e Denis Urubko, em 2 de fevereiro de 2011. Cory registrou tudo com sua câmera e o resultado foi Cold. Confira às 23h, no canal Off.
Produção do SescTV vai até o berço do carimbó
A série Coleções, do SescTV, mudou de tema, e agora vai tratar dos ritmos brasileiros, começando hoje com o carimbó. A produção foi ao município de Marapanim, no Pará, para mostrar como o ritmo e a dança popular são indissociáveis do cotidiano dos pescadores e de toda a região. Confira às 21h30.
Zé Bonitinho quer fazer dieta com jaca e melão
No episódio de hoje de Papo de Mallandro, o convidado é o irreverente Zé Bonitinho, personagem interpretado pelo humorista Jorge Loredo. Sérgio Mallandro recebe também a Mulher Jaca (Daiane Cristina) e a Mulher Melão (Renata Frisson). Às 22h, no Multishow.
Muitas alternativas na programação de filmes
O selvagem da motocicleta é o cartaz de hoje do Clube do filme, às 22h, na Cultura. Outras atrações da mesma faixa das 22h: Tieta do Agreste, no Canal Brasil; 12 horas, no Telecine Premium; Uma mãe para o meu bebê, no Telecine Fun; Flicka 3, no Telecine Pipoca; Como agarrar um marido, no Glitz; Viagem 2: a ilha misteriosa, na HBO HD; Sherlock Holmes – O jogo de sombras, na HBO 2; Filha das sombras, na MGM; Julie & Julia, no Sony; e Preciosa – Uma história de esperança, na TNT. E mais: Inimigos públicos, às 19h30, no Universal; A colheita maldita, às 20h, no FX; O casamento dos meus sonhos, às 22h20, no Megapix; e Um Natal muito louco, às 22h30, no Comedy Central.
Marina Colasanti - Navegar, sim, é preciso
Marina Colasanti - marinacolasanti.s@gmail.com
Estado de Minas: 09/05/2013
Saímos nadando
mansamente pelo igarapé, ele e eu, ele que era mais jovem e que como eu
havia vestido o colete salva-vidas. Os outros tinham saído de lancha
para pescar piranhas. No grande barco que nos hospedava, só alguns se
deixaram ficar. O sol fazia seu trabalho no azul irretocável, a água
escura tinha temperatura de chá, a mata fechava as margens. Tudo parecia
sereno, não fosse o voo de um gavião. E era imponente. Nadando ali,
como se àquele universo pertencesse, tive a funda sensação de estar o
mais próximo possível do paraíso terrestre.
Lembro disso agora, voltando de uma comovedora viagem pelo Rio Negro, no projeto Navegar é preciso, da Livraria da Vila, de São Paulo. Foram três dias a bordo alternando literatura e natureza. E deixando o porto de Manaus rumo a um pôr de sol grandioso entrecortado por colunas de chuva, novamente pensei estar mais próximo de Deus.
Pudor danado dá na gente falar essas coisas. Mas talvez seja só falta de hábito, porque o silêncio é improvável nas cidades e o aperto da multidão não conduz à transcendência.
As águas agora estão altas na Amazônia, a floresta alagada espera, duplicada no espelho escuro do rio, desse rio tão lento que no igapó se faz quase parado. Infinita é a paciência da mata. As águas não subirão mais este ano, é o que nos diz o caramujo grudado a um tronco, com suas ovas. Nenhum caramujo se afoga, nenhum caramujo abandona sua futura descendência. Onde o caramujo se instala antes da cheia, as águas não chegarão, ele sabe.
Aquela vez já distante em que nadei no igarapé, estávamos em um encontro organizado por Antonio Houaiss, então ministro, para secretários de Cultura do Norte e Nordeste. O jovem que nadava comigo era um dos secretários nordestinos, afeito ao mar. Um boto- cor-de-rosa aflorava e desaparecia adiante. E era atrás dele que, sem pressa, íamos. Houaiss, gourmet incorrigível, havia partido rumo a outro braço de rio em busca de piranhas, sonhava talvez jantar um caldo engrossado com farinha – se bem me lembro, o que trouxeram na volta não deu nem para isso. Quase todos os secretários, mais interessados no ministro do que nas piranhas, foram com ele. Affonso, sábio, havia ficado no barco. E quando me viu desaparecer ao longe, considerou mais prudente mandar alguém me chamar. O estardalhaço do jet ski estilhaçou a serenidade da mata. Nadamos de volta.
Agora, nem passou pela minha cabeça nadar no igarapé. Nadamos, porém, na Praia do Tupe, de areia branca e água tão quente como aquela cuja lembrança havia ficado na minha pele. Já envolvidos por intimidade fraterna, os participantes – alguns vindos de outros países – , nós escritores e os jovens músicos, brincamos de molho naquela espécie de liquido amniótico, coroando a viagem que terminaria no dia seguinte. Nos sentíamos longe no mundo e perto da vida.
Na viagem de Houaiss, jantando à noite, um dos organizadores me repreendeu: “você não devia ter ido nadar no igarapé. Por quê?, perguntei com leve ironia, nado muito bem. “Por causa das cobras”, disse ele. E eu, altiva, “não tenho medo de cobras”. “Você não entendeu, arrematou ele, “não estou falando de qualquer cobra, são as sucuris. Vêm por baixo da água, confundem tuas pernas com um peixe, se enroscam, e te puxam para baixo”.
Lembro disso agora, voltando de uma comovedora viagem pelo Rio Negro, no projeto Navegar é preciso, da Livraria da Vila, de São Paulo. Foram três dias a bordo alternando literatura e natureza. E deixando o porto de Manaus rumo a um pôr de sol grandioso entrecortado por colunas de chuva, novamente pensei estar mais próximo de Deus.
Pudor danado dá na gente falar essas coisas. Mas talvez seja só falta de hábito, porque o silêncio é improvável nas cidades e o aperto da multidão não conduz à transcendência.
As águas agora estão altas na Amazônia, a floresta alagada espera, duplicada no espelho escuro do rio, desse rio tão lento que no igapó se faz quase parado. Infinita é a paciência da mata. As águas não subirão mais este ano, é o que nos diz o caramujo grudado a um tronco, com suas ovas. Nenhum caramujo se afoga, nenhum caramujo abandona sua futura descendência. Onde o caramujo se instala antes da cheia, as águas não chegarão, ele sabe.
Aquela vez já distante em que nadei no igarapé, estávamos em um encontro organizado por Antonio Houaiss, então ministro, para secretários de Cultura do Norte e Nordeste. O jovem que nadava comigo era um dos secretários nordestinos, afeito ao mar. Um boto- cor-de-rosa aflorava e desaparecia adiante. E era atrás dele que, sem pressa, íamos. Houaiss, gourmet incorrigível, havia partido rumo a outro braço de rio em busca de piranhas, sonhava talvez jantar um caldo engrossado com farinha – se bem me lembro, o que trouxeram na volta não deu nem para isso. Quase todos os secretários, mais interessados no ministro do que nas piranhas, foram com ele. Affonso, sábio, havia ficado no barco. E quando me viu desaparecer ao longe, considerou mais prudente mandar alguém me chamar. O estardalhaço do jet ski estilhaçou a serenidade da mata. Nadamos de volta.
Agora, nem passou pela minha cabeça nadar no igarapé. Nadamos, porém, na Praia do Tupe, de areia branca e água tão quente como aquela cuja lembrança havia ficado na minha pele. Já envolvidos por intimidade fraterna, os participantes – alguns vindos de outros países – , nós escritores e os jovens músicos, brincamos de molho naquela espécie de liquido amniótico, coroando a viagem que terminaria no dia seguinte. Nos sentíamos longe no mundo e perto da vida.
Na viagem de Houaiss, jantando à noite, um dos organizadores me repreendeu: “você não devia ter ido nadar no igarapé. Por quê?, perguntei com leve ironia, nado muito bem. “Por causa das cobras”, disse ele. E eu, altiva, “não tenho medo de cobras”. “Você não entendeu, arrematou ele, “não estou falando de qualquer cobra, são as sucuris. Vêm por baixo da água, confundem tuas pernas com um peixe, se enroscam, e te puxam para baixo”.
Derretimento de geleiras da Groenlândia pode desacelerar
folha de são paulo
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Um novo estudo publicado na revista "Nature" usou uma sofisticada modelagem de computador para simular os efeitos do aquecimento global no degelo de quatro grandes geleiras da Groenlândia e sua consequente interferência na elevação do nível do oceano.
Dirk van As/Divulgação |
Gelo se parte na geleira Kangiata Nunata Sermia, uma das estudadas pelos cientistas |
O grupo verificou que o ritmo de derretimento não deve acompanhar as rápidas taxas dos últimos anos, mas isso não significa que as geleiras irão parar de diminuir.
O estudo prevê que as geleiras acrescentarão algo em torno de 19 mm a 30 mm até 2200 em um cenário de aquecimento moderado, de de 2,8°C. Já em um mundo 4,5°C quente, o incremento poderia chegar a 49 mm no mesmo período.
"É um estudo interessante porque a questão de cenários para essas geleiras da Groenlândia não apareceu muito no último relatório do IPCC (painel da ONU sobre as mudanças climáticas), diz o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Segundo ele, esses novos dados já devem ser levados em consideração na publicação do próximo relatório, em setembro.
Conselho de Medicina restringe reprodução assistida para mulheres acima dos 50 anos
folha de são paulo
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
O CFM (Conselho Federal de Medicina) determinou que mulheres com mais de 50 anos não podem ser submetidas a técnicas de reprodução assistida.
Segundo o conselho, a medida foi tomada por causa dos possíveis riscos à saúde da gestante mais velha, como hipertensão e diabetes, além da ocorrência de nascimentos prematuros e bebês nascidos com baixo peso.
Casos de pacientes acima dessa idade, mas com boa condição de saúde, deverão ser avaliados individualmente pelos Conselhos Regionais de Medicina.
Editoria de Arte/Folhapress |
arte de saúde reprodução assistida |
A determinação é de uma resolução que altera vários pontos da atual normal do CFM sobre reprodução assistida. Publicada no "Diário Oficial da União" de hoje, a norma já está em vigência.
Quem descumprir a regra incorrerá em desvio ético profissional e ficará sujeito à cassação do registro.
"A idade reprodutiva da mulher alcança os 45 anos. Após discussão exaustiva, chegamos ao limite de 50 anos", afirma José Hiran Gallo, coordenador da câmara técnica sobre o tema no CFM.
Esse limite vale para quem gera seus próprios filhos ou se oferece como "barriga de aluguel" --prática que não pode ser comercializada.
Para Selmo Geber, ex-diretor da Rede Latinoamericana de Reprodução Assistida, fixar a idade máxima para o tratamento em 50 anos é interessante, mas o melhor seria abordar o limite como recomendação, e não regra.
Estados Unidos e Espanha não têm um limite definido. Já a Dinamarca mantém o teto aos 43 anos, segundo Adelino Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, que integrou as discussões.
SELEÇÃO DE EMBRIÕES
Outra novidade com relação à atual regra --publicada em 2011-- regula uma situação cada vez mais frequente: a seleção de embriões compatíveis com um filho mais velho e doente para que as células-tronco ou os órgãos do bebê ajudem no tratamento.
A posição foi elogiada por Ciro Martinhago, médico responsável pela seleção do embrião que se transformou na pequena Maria Clara, de um ano. Em março, a menina doou células-tronco para a irmã, que nasceu com uma doença hereditária.
"Tenho uns cinco casos de [seleção de embriões para transplante] para aplasia medular. A criança corre contra o tempo."
José Roberto Goldim, chefe do serviço de bioética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, afirma que é preciso tratar esses casos como excepcionalidades.
A resolução ainda permite que, se os pais desejarem, embriões congelados por mais de cinco anos podem ser descartados. Há outras soluções --a doação para outros casais , para pesquisa ou a guarda até que seja de interesse dos pais.
Arnaldo Cambiaghi, diretor do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, criticou a possibilidade de descarte, mesmo diante dos custos de manter um embrião congelado. "A vida já existe com o embrião." Para Martinhago, o casal deve ter o direito de decidir sobre isso.
DOAÇÃO DE ÓVULOS
Ao atualizar as regras da reprodução assistida, o CFM chancelou um mecanismo que é prática nos consultórios: uma paciente mais nova doar óvulos excedentes a uma mulher mais velha em troca do custeio de parte do seu tratamento --cerca de 50% do valor total, gasto com a estimulação ovariana.
O processo deve ser anônimo: a doadora dos óvulos não pode ter informações sobre a receptora e vice-versa.
A entidade rejeita a visão de que se trate de mercantilização do ato. "É solidariedade", afirma Carlos Vital, presidente em exercício do CFM.
Adelino Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, diz que a troca e consequente redução do valor do tratamento não pode ser usada como atrativo de pacientes para uma determinada clínica. Um tratamento para engravidar, majoritariamente feito na rede privada de saúde, chega a custar até R$ 20 mil.
As novas regras ainda ampliam a possibilidade de parentes mais distantes (tias e primas) servirem de "barriga de aluguel", desde que sem fins lucrativos. Hoje, a regra fala em mãe, avós e irmãs.
Para o ginecologista Arnaldo Cambiaghi, a medida é boa. "Muita gente com problema de útero não tem irmã nem mãe. É excelente."
Outra alteração incorpora de forma mais clara as demandas das "novas famílias". A regra agora afirma que duas mulheres podem gerar um filho, de fato, em conjunto: o óvulo de uma pode ser fecundado e implantado no útero da outra --fato que já ocorreu no Brasil.
'O que importa é a saúde da mulher, não a idade'
DE SÃO PAULO
Para a relações-públicas Rosana Beni, 55, limitar a idade para tratamentos de reprodução é acabar com a possibilidade de realizar um sonho. Nesta semana, seus filhos, os gêmeos Raphael e Anita, completaram quatro anos de vida. Os dois nasceram depois de seis tentativas de fertilização in vitro.
"Respeito os médicos, mas sou o exemplo vivo de que a gestação pode dar certo. Agradeço a Deus e à ciência por essa oportunidade. O que importa é a saúde, não a idade."
Rosana conta que sempre se dedicou muito ao trabalho e acabou adiando a maternidade.
Ela diz que se cuidou muito durante a gestação. "Foram oito meses sem um sangramento. Não parei de trabalhar, mas respeitei meus horários."
A gestora de contratos Roseli Sicilia, 52, vai ser avó pela primeira vez em junho e mãe pela terceira vez em outubro.
Grávida de quatro meses de dois meninos, ela conta que buscou o tratamento porque, depois de ficar viúva, casou-se com um homem dez anos mais novo e que queria filhos.
Ela já tem dois --um de 26 e um de 20, que vai ser pai. A nova gestação veio na segunda tentativa de fertilização.
Para Roseli, a fertilização após os 50 anos deve permanecer um direito da mulher. "Sou contra um limite. Às vezes, a mulher demora a achar a pessoa certa. Quem tem de escolher o que quer é o casal."
ANÁLISE
Limitar a idade da gravidez em 50 anos é questionável
CLÁUDIA COLLUCCIEM JERUSALÉM
A decisão do CFM (Conselho Federal de Medicina) de limitar em 50 anos a idade materna para a fertilização in vitro pode resolver alguns dilemas éticos, mas deixa dúvidas do ponto de vista da saúde feminina.
Será mesmo que mulheres acima dos 50 têm um risco tão maior de complicações em relação às mais novas quando se trata de fertilizações com óvulos doados?
O último e maior estudo sobre o tema diz que não. A pesquisa avaliou 101 mulheres que engravidaram com óvulos doados: metade tinha 50 anos ou mais e a outra metade, 42 ou menos.
A conclusão foi que ambos os grupos tiveram taxas similares de complicações como diabetes gestacional, pressão alta e nascimentos prematuros. O estudo foi publicado ano passado no "American Journal of Perinatology".
A idade acima de 35 anos é apontada por si só como um fator de risco para a gestação. Segundo a cartilha "Gestação de Alto Risco "" Manual Técnico", do Ministério da Saúde, ela está relacionada a sérias consequências para a saúde da mãe e do bebê.
Por que então o corte em 50 anos? Quais são os estudos controlados nos quais o CFM se baseou para fixar esse limite?
O aumento da taxa de longevidade (nos EUA, as mulheres estão vivendo, em média, até os 84 anos) também é um outro ponto a favor das cinquentonas que tem sido levado em conta nos debates sobre maternidade tardia pelo mundo.
Ainda que represente um percentual muito pequeno no total das gestações, o número de mulheres que têm filhos com mais de 50 anos de idade tem aumentado em vários países. Na Inglaterra, a taxa dobrou na última década e já existem até associações de apoio específicas para essa faixa etária.
Lá, a recomendação é que a idade limite para gravidez com óvulos doados seja de até 55 anos.
Na ausência de uma regulamentação específica para reprodução assistida no país, a resolução do CFM pode desestimular médicos a tratar pacientes mais velhas, mas não fecha a questão. Se quiser comprar a briga, a mulher facilmente conseguirá valer o seu direito de ser mãe recorrendo à Justiça.
Tereza Cruvinel-Lula na linha
Por maior que seja a popularidade da
atual presidente, especialmente no Nordeste, um eventual confronto com
Lula ampliaria muito os riscos para qualquer desafiante
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 09/05/2013
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 09/05/2013
As explicações dadas
nos últimos dias pelos aliados do governador de Pernambuco, Eduardo
Campos (PSB), para seu recente chá de sumiço deixaram a impressão de que
faltava uma informação. Segundo esses interlocutores, Campos se retraiu
para evitar a eleitoralização de todos os seus atos e a hiperexposição
de imagem. E se voltou para as tarefas de governo também porque já
começavam a dizer que ele viajava muito. Tudo isso é razoável, mas o
ponto que faltava nos foi revelado por eminências do próprio PSB: uma
mensagem do ex-presidente Lula ao governador, nas vésperas do 1º de
Maio, também contribuiu muito para a desaceleração de seus movimentos.
A fonte não sabe precisar o meio pelo qual a mensagem chegou ao governador, mas conhece perfeitamente o conteúdo. Desde que o governador avançou na disposição de concorrer à Presidência em 2014, rompendo a aliança histórica do PSB com o PT, seus aliados afirmam que só uma situação poderia levá-lo a desistir da candidatura: aquela em que o candidato do PT fosse o ex-presidente Lula, e não a presidente Dilma Rousseff. Campos não seria ingrato com quem lhe deu todo apoio nos anos recentes, fazendo-o ministro, apoiando a candidatura a governador e propiciando-lhe recursos que ajudaram a garantir o êxito de suas duas gestões em Pernambuco. Sem dúvida, o governador é bom gestor, mas os investimentos federais no estado contaram muito. Para além da gratidão, existem também as fortes razões político-eleitorais. Por maior que seja a popularidade da atual presidente, especialmente no Nordeste, um eventual confronto com Lula ampliaria muito os riscos para qualquer desafiante.
A mensagem que Lula enviou, na semana do feriado, diz o informante do PSB, não foi afirmativa nem ameaçadora. Ele apenas pediu que Eduardo refletisse mais. Hoje, Lula teria mandado dizer: ele não é e não deseja ser candidato em 2014. A opção do PT já está feita por Dilma. Mas, e se lá na frente surgirem circunstâncias que o obriguem a concorrer? Iriam se enfrentar?
Depois disso é que Campos teria cancelado a participação na festa do trabalhador promovida pela Força Sindical, depois de ter prometido presença ao deputado Paulo Pereira da Silva, fundador da central. Cancelou também a visita que faria a um órgão de imprensa em São Paulo depois da festa. De lá para cá, tem se dedicado a visitar o interior de Pernambuco. Na semana passada, enquanto uma nuvem de políticos, com Dilma e Aécio Neves no destaque, participava da exposição agropecuária de Uberaba (MG), Campos visitava 16 cidades do agreste. Esta semana, circulará pelo sertão.
Para quem vinha em altíssima velocidade, a freada foi brusca. Pode ter sido determinada pelo repentino cuidado com a saturação da imagem. Entretanto, a incursão de Lula também teve seu peso, garante o socialista que sempre recomendou mais cautela.
O Brasil na OMC
O governo Dilma continuava festejando ontem a eleição de Roberto Azevêdo para diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), sem dúvida um grande feito brasileiro no jogo internacional. Mérito dele, pela competência e preparo, e do governo, pela ousadia de lançá-lo na disputa. A presidente, por exemplo, foi quem determinou, depois de ouvi-lo, que um jatinho oficial fosse colocado à sua disposição. Cabalou votos pessoalmente. Dois ministros, o chanceler Antonio Patriota e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, também se fortaleceram pelo papel que jogaram nas articulações. Tem parte na vitória também o ministro da Defesa, Celso Amorim. Foi ele quem enviou Azevêdo para a OMC, anos atrás, e também ajudou na cabala de votos.
Agora, o desafio é grande: eleito pelos emergentes contra os países ricos, Azevêdo terá que se afirmar como líder multilateralista, livrando-se de sequelas da disputa. Terá que tirar a OMC da inércia e destravar as negociações da rodada de Doha.
100 dias
Em discurso na tarde de hoje, o presidente do Senado, Renan Calheiros, fará um balanço de seus primeiros 100 dias no cargo, prestando contas do que fez em relação às três principais promessas como candidato: fortalecimento da transparência, aumento da eficiência e da economia de recursos da Casa, cortando despesas da ordem de R$ 302 milhões no biênio 2013/2014. Na semana que vem, a Lei de Acesso à Informação completará um ano de implantação. Renan anunciará o lançamento de um site disponibilizando um volume enorme de documentos hoje inacessíveis.
Cisão federativa
Definitivamente, algo não vai bem na Federação. A briga entre os estados pela partilha dos royalties do petróleo deu no que deu. Agora, as mudanças tributárias que significariam uma reforma, ainda que micro, caminham para o naufrágio. As bancadas do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado romperam com a proposta de alíquota única de 4%, fixando-a em 7% para os estados dessas regiões, mais o Espírito Santo. O Ministério da Fazenda não gostou e o governo deve desistir da unificação. Ficaremos com a guerra fiscal. De onde vem isso? Dos séculos de desigualdade que as regiões mais pobres agora querem resolver na lei, mas na marra.
A fonte não sabe precisar o meio pelo qual a mensagem chegou ao governador, mas conhece perfeitamente o conteúdo. Desde que o governador avançou na disposição de concorrer à Presidência em 2014, rompendo a aliança histórica do PSB com o PT, seus aliados afirmam que só uma situação poderia levá-lo a desistir da candidatura: aquela em que o candidato do PT fosse o ex-presidente Lula, e não a presidente Dilma Rousseff. Campos não seria ingrato com quem lhe deu todo apoio nos anos recentes, fazendo-o ministro, apoiando a candidatura a governador e propiciando-lhe recursos que ajudaram a garantir o êxito de suas duas gestões em Pernambuco. Sem dúvida, o governador é bom gestor, mas os investimentos federais no estado contaram muito. Para além da gratidão, existem também as fortes razões político-eleitorais. Por maior que seja a popularidade da atual presidente, especialmente no Nordeste, um eventual confronto com Lula ampliaria muito os riscos para qualquer desafiante.
A mensagem que Lula enviou, na semana do feriado, diz o informante do PSB, não foi afirmativa nem ameaçadora. Ele apenas pediu que Eduardo refletisse mais. Hoje, Lula teria mandado dizer: ele não é e não deseja ser candidato em 2014. A opção do PT já está feita por Dilma. Mas, e se lá na frente surgirem circunstâncias que o obriguem a concorrer? Iriam se enfrentar?
Depois disso é que Campos teria cancelado a participação na festa do trabalhador promovida pela Força Sindical, depois de ter prometido presença ao deputado Paulo Pereira da Silva, fundador da central. Cancelou também a visita que faria a um órgão de imprensa em São Paulo depois da festa. De lá para cá, tem se dedicado a visitar o interior de Pernambuco. Na semana passada, enquanto uma nuvem de políticos, com Dilma e Aécio Neves no destaque, participava da exposição agropecuária de Uberaba (MG), Campos visitava 16 cidades do agreste. Esta semana, circulará pelo sertão.
Para quem vinha em altíssima velocidade, a freada foi brusca. Pode ter sido determinada pelo repentino cuidado com a saturação da imagem. Entretanto, a incursão de Lula também teve seu peso, garante o socialista que sempre recomendou mais cautela.
O Brasil na OMC
O governo Dilma continuava festejando ontem a eleição de Roberto Azevêdo para diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), sem dúvida um grande feito brasileiro no jogo internacional. Mérito dele, pela competência e preparo, e do governo, pela ousadia de lançá-lo na disputa. A presidente, por exemplo, foi quem determinou, depois de ouvi-lo, que um jatinho oficial fosse colocado à sua disposição. Cabalou votos pessoalmente. Dois ministros, o chanceler Antonio Patriota e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, também se fortaleceram pelo papel que jogaram nas articulações. Tem parte na vitória também o ministro da Defesa, Celso Amorim. Foi ele quem enviou Azevêdo para a OMC, anos atrás, e também ajudou na cabala de votos.
Agora, o desafio é grande: eleito pelos emergentes contra os países ricos, Azevêdo terá que se afirmar como líder multilateralista, livrando-se de sequelas da disputa. Terá que tirar a OMC da inércia e destravar as negociações da rodada de Doha.
100 dias
Em discurso na tarde de hoje, o presidente do Senado, Renan Calheiros, fará um balanço de seus primeiros 100 dias no cargo, prestando contas do que fez em relação às três principais promessas como candidato: fortalecimento da transparência, aumento da eficiência e da economia de recursos da Casa, cortando despesas da ordem de R$ 302 milhões no biênio 2013/2014. Na semana que vem, a Lei de Acesso à Informação completará um ano de implantação. Renan anunciará o lançamento de um site disponibilizando um volume enorme de documentos hoje inacessíveis.
Cisão federativa
Definitivamente, algo não vai bem na Federação. A briga entre os estados pela partilha dos royalties do petróleo deu no que deu. Agora, as mudanças tributárias que significariam uma reforma, ainda que micro, caminham para o naufrágio. As bancadas do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado romperam com a proposta de alíquota única de 4%, fixando-a em 7% para os estados dessas regiões, mais o Espírito Santo. O Ministério da Fazenda não gostou e o governo deve desistir da unificação. Ficaremos com a guerra fiscal. De onde vem isso? Dos séculos de desigualdade que as regiões mais pobres agora querem resolver na lei, mas na marra.
O pioneiro (Lasar Segall) - Walter Sebastião
Exposição em BH reúne 35 importantes
gravuras do artista plástico Lasar Segall. Mestre do expressionismo, o
modernista expôs as contradições e o sofrimento do povo brasileiro
Walter Sebastião
Estado de Minas: 09/05/2013
A
onipresença da chamada arte contemporânea até tem o mérito de
apresentar ao público o charme da arte experimental. Mas, de certa
forma, foram esquecidas a radicalidade e a ousadia de artistas modernos –
fruto do manuseio de técnicas convencionais postas a serviço de novas
estéticas. A partir de amanhã, BH vai reencontrar essa contundência por
meio de Lasar Segall – um dos fundadores do modernismo no Brasil e, de
certa forma, no mundo.
A exposição A gravura de Lasar Segall – Poesia da linha e do corte ficará em cartaz até junho na Galeria de arte GTO, no Sesc Palladium, no Centro. Traz 35 trabalhos realizados entre 1913 e 1930.
Aos 15 anos, Lasar Segall (1891-1957) começou a estudar arte na Lituânia, sua terra natal. Mudou-se para a Alemanha, teve contato com os fundadores do movimento expressionista em Berlim e Dresden. Em 1912, ele já visitava o Brasil. No ano seguinte, expôs em São Paulo.
A partir de 1923, o lituano fixou residência na capital paulista. Naturalizou-se brasileiro em 1925, ao se casar com Jenny Klabin. Lasar Segall se tornou figura central do modernismo brasileiro, que teve nele referência e um articulador. De acordo com o crítico Mário Pedrosa, Segall trouxe ao Brasil o testemunho de toda uma época com a “rouca e quente” sonoridade das flautas rústicas.
Segall experimentou na pele os dramas de sua época, sobretudo as crises sociais que desembocaram nas guerras mundiais de 1914 e de 1939. Também testemunhou revoluções estéticas que mudaram radicalmente as concepções sobre arte no século 20. Judeu, foi perseguido na Alemanha. Um de seus trabalhos integrou a exposição Arte condenada, organizada a mando de Adolf Hitler.
Somados, esses aspectos vão mover tanto a identificação do artista com os excluídos quanto sua singular observação do Brasil. Lasar Segall trazia uma visão crítica de aspectos que os autores brasileiros celebravam romanticamente, como a pobreza, a precariedade da existência e o sofrimento estampado nas faces de nativos e imigrantes.
Contrastes As 35 gravuras reunidas na exposição mineira, explica Jorge Cabrera, diretor cultural do Sesc Palladium, formam um conjunto representativo do legado do artista. Contrastes de branco e preto, traço expressivo, habilidade técnica, atenção tanto ao conteúdo tanto quanto à forma resumem questões gerais da trajetória dele.
“A obra de Lasar Segall valoriza aspectos brasileiros num momento em que poucos colocavam tais temas em seus trabalhos”, observa Cabrera. As imagens revelam também os diferentes modos como o artista tratou a representação humana.
A GRAVURA DE LASAR SEGALL – POESIA DA LINHA E DO CORTE
De amanhã a 23 de junho. Galeria de arte G.T.O/Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h.
Cidadão honorário
Artista presente em BH, Lasar Segall é nome de rua no Bairro Tupi. Em 1944, ele participou da mostra dedicada à arte moderna que chocou a cidade, governada por JK. Em 1963, ganhou grande individual no Museu de Arte da Pampulha. Em 1977, Segall foi o centro de outra exposição importante, no Palácio das Artes.
Todas essas mostras eram dedicadas à gravura. Belo Horizonte bem que merecia ver os desenhos e as pinturas do artista.
Obras de Lasar Segall são raras em acervos belo-horizontinos, mas ele tem admiradores na cidade. O colecionador Delcir Costa guarda um desenho dos anos 1920, o retrato da poeta Berta Singermann. “Sou psiquiatra e me agrada muito aquela figura carregada de angústia. A linguagem é densa, sofrida, séria, o que afasta quem tem visão miúda da arte e gosta de coisas ligeiras”, observa Delcir. “Lasar Segall está entre os cinco artistas brasileiros mais importantes de todos os tempos”, garante.
O galerista Murilo de Castro guarda em sua coleção a litogravura Homem e mulher. “Segall trouxe o modernismo para o Brasil, inseriu o país na contemporaneidade”, explica. Castro admira a forte visualidade das obras do lituano, que rompeu com o academicismo para fazer a crônica da vida do povo. “Essa atitude trouxe coragem para muitos fazerem o mesmo”, acrescenta.
Murilo conta que gravuras de Segall já foram comuns em leilões de arte no país. “Elas escassearam, pois se tornaram peças de coleções empenhadas em guardar a história da arte brasileira”, conclui.
Museu A obra do artista é razoavelmente conhecida graças à atuante política de difusão desenvolvida pelo Museu Lasar Segall, em São Paulo, e à extensa bibliografia sobre sua trajetória. Um ótimo livro é Corpo presente – Lasar Segall (Pinakotheke).
O pintor de almas (Callis), de Lia Zatz, é dedicado ao público infantojuvenil. Imagens de obras do artista narram o encontro num museu de uma senhora judia com um guarda negro. “Sempre me encantou a sensibilidade humanista de Segall”, afirma Lia.
SAIBA MAIS
Expressionismo
O movimento de vanguarda surgiu no início do século 20, na Alemanha, mas já remetia à obra do pintor holandês Van Gogh (1853-1890), apontado como fundador dessa estética. Entretanto, há quem acredite que a linhagem expressionista chega até o barroco. Sua caraterística é a distorção. Figuras, cores e representações surgem descomprometidas com o naturalismo, trazendo a intenção de expressar estados da alma. Mesmo se detendo a temas ligados à subjetividade, os expressionistas sempre conectaram esse aspecto à observação de tensões e crises sociais que traziam angústia, desespero e falta de perspectiva. Lasar Segall se formou com herdeiros diretos da primeira geração expressionista. Sofreu influência direta de artistas ligados aos dois grupos alemães que teorizaram essa estética – A Ponte e Nova Objetividade. A última criticava o enfoque individualista e propunha atenção aos dramas da sociedade, valorizando imagens rudes em preto e branco – opostas à visão da arte como decoração.
Walter Sebastião
Estado de Minas: 09/05/2013
Exposição em BH reúne 35 importantes gravuras do artista plástico Lasar Segall |
A exposição A gravura de Lasar Segall – Poesia da linha e do corte ficará em cartaz até junho na Galeria de arte GTO, no Sesc Palladium, no Centro. Traz 35 trabalhos realizados entre 1913 e 1930.
Aos 15 anos, Lasar Segall (1891-1957) começou a estudar arte na Lituânia, sua terra natal. Mudou-se para a Alemanha, teve contato com os fundadores do movimento expressionista em Berlim e Dresden. Em 1912, ele já visitava o Brasil. No ano seguinte, expôs em São Paulo.
A partir de 1923, o lituano fixou residência na capital paulista. Naturalizou-se brasileiro em 1925, ao se casar com Jenny Klabin. Lasar Segall se tornou figura central do modernismo brasileiro, que teve nele referência e um articulador. De acordo com o crítico Mário Pedrosa, Segall trouxe ao Brasil o testemunho de toda uma época com a “rouca e quente” sonoridade das flautas rústicas.
Segall experimentou na pele os dramas de sua época, sobretudo as crises sociais que desembocaram nas guerras mundiais de 1914 e de 1939. Também testemunhou revoluções estéticas que mudaram radicalmente as concepções sobre arte no século 20. Judeu, foi perseguido na Alemanha. Um de seus trabalhos integrou a exposição Arte condenada, organizada a mando de Adolf Hitler.
Somados, esses aspectos vão mover tanto a identificação do artista com os excluídos quanto sua singular observação do Brasil. Lasar Segall trazia uma visão crítica de aspectos que os autores brasileiros celebravam romanticamente, como a pobreza, a precariedade da existência e o sofrimento estampado nas faces de nativos e imigrantes.
Contrastes As 35 gravuras reunidas na exposição mineira, explica Jorge Cabrera, diretor cultural do Sesc Palladium, formam um conjunto representativo do legado do artista. Contrastes de branco e preto, traço expressivo, habilidade técnica, atenção tanto ao conteúdo tanto quanto à forma resumem questões gerais da trajetória dele.
“A obra de Lasar Segall valoriza aspectos brasileiros num momento em que poucos colocavam tais temas em seus trabalhos”, observa Cabrera. As imagens revelam também os diferentes modos como o artista tratou a representação humana.
A GRAVURA DE LASAR SEGALL – POESIA DA LINHA E DO CORTE
De amanhã a 23 de junho. Galeria de arte G.T.O/Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h.
Cidadão honorário
Artista presente em BH, Lasar Segall é nome de rua no Bairro Tupi. Em 1944, ele participou da mostra dedicada à arte moderna que chocou a cidade, governada por JK. Em 1963, ganhou grande individual no Museu de Arte da Pampulha. Em 1977, Segall foi o centro de outra exposição importante, no Palácio das Artes.
Todas essas mostras eram dedicadas à gravura. Belo Horizonte bem que merecia ver os desenhos e as pinturas do artista.
Obras de Lasar Segall são raras em acervos belo-horizontinos, mas ele tem admiradores na cidade. O colecionador Delcir Costa guarda um desenho dos anos 1920, o retrato da poeta Berta Singermann. “Sou psiquiatra e me agrada muito aquela figura carregada de angústia. A linguagem é densa, sofrida, séria, o que afasta quem tem visão miúda da arte e gosta de coisas ligeiras”, observa Delcir. “Lasar Segall está entre os cinco artistas brasileiros mais importantes de todos os tempos”, garante.
O galerista Murilo de Castro guarda em sua coleção a litogravura Homem e mulher. “Segall trouxe o modernismo para o Brasil, inseriu o país na contemporaneidade”, explica. Castro admira a forte visualidade das obras do lituano, que rompeu com o academicismo para fazer a crônica da vida do povo. “Essa atitude trouxe coragem para muitos fazerem o mesmo”, acrescenta.
Murilo conta que gravuras de Segall já foram comuns em leilões de arte no país. “Elas escassearam, pois se tornaram peças de coleções empenhadas em guardar a história da arte brasileira”, conclui.
Museu A obra do artista é razoavelmente conhecida graças à atuante política de difusão desenvolvida pelo Museu Lasar Segall, em São Paulo, e à extensa bibliografia sobre sua trajetória. Um ótimo livro é Corpo presente – Lasar Segall (Pinakotheke).
O pintor de almas (Callis), de Lia Zatz, é dedicado ao público infantojuvenil. Imagens de obras do artista narram o encontro num museu de uma senhora judia com um guarda negro. “Sempre me encantou a sensibilidade humanista de Segall”, afirma Lia.
SAIBA MAIS
Expressionismo
O movimento de vanguarda surgiu no início do século 20, na Alemanha, mas já remetia à obra do pintor holandês Van Gogh (1853-1890), apontado como fundador dessa estética. Entretanto, há quem acredite que a linhagem expressionista chega até o barroco. Sua caraterística é a distorção. Figuras, cores e representações surgem descomprometidas com o naturalismo, trazendo a intenção de expressar estados da alma. Mesmo se detendo a temas ligados à subjetividade, os expressionistas sempre conectaram esse aspecto à observação de tensões e crises sociais que traziam angústia, desespero e falta de perspectiva. Lasar Segall se formou com herdeiros diretos da primeira geração expressionista. Sofreu influência direta de artistas ligados aos dois grupos alemães que teorizaram essa estética – A Ponte e Nova Objetividade. A última criticava o enfoque individualista e propunha atenção aos dramas da sociedade, valorizando imagens rudes em preto e branco – opostas à visão da arte como decoração.
Eduardo Almeida Reis» Cruzadismo
Democracia é uma coisa, estelionato é outra muito diferente. É crime
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/05/2013
Prática ou cultivo do passatempo das palavras cruzadas, o cruzadismo complica a vida dos que leem um texto escrito por brilhante cruzadista como o jornalista Lauro Diniz. Supondo que o destinatário seja conhecedor da língua, o que não é o meu caso, o cruzadista se desculpa do lapso de ter escrito “levar a domicílio” explicando que foi um hilotismo. E isso num dia em que o philosopho dormiu pouco e mal, depois de continuadas garrafas de vinho no melhor restaurante da cidade a convite de velho amigo. Noitada que terminou às duas da manhã.
Hilotismo... Será que alguém que não tenha o mestrado e o doutorado em cruzadismo conhece o significado do substantivo masculino que entrou em nosso idioma em 1851? Será que alguém sabe o que significa hilota, substantivo de dois gêneros que o português acolheu em 1823? Confesso que jamais soube dos lexemas, como presumo que o pacientíssimo leitor, não sendo cruzadista, também os desconheça. Se é assim, vamos lá: hilota, do grego heílós,ótos 'hilota, servo lacedemônio', pelo latim helótes,um ou ilótae,árum 'hilotas, escravos em Esparta'. Na rubrica história significava escravo do Estado, que, em Esparta, cultivava o campo. Em sentido figurado, pessoa de ínfima condição social ou que foi reduzida ao grau extremo da miséria, do servilismo ou da ignorância. Hilotismo, como dá para adivinhar, além de estado ou condição de servo, em sentido figurado é ato, estado ou condição que revele abjeção e ignorância.
E isso pela manhã, depois de noite maldormida. O jantar foi ótimo e uma das convidadas, advogada famosa, prometeu mandar-me lista das frases que retirou de textos que lhe passaram pelo escritório. Garanto que o leitor vai morrer de rir. As frases não foram escritas pelos meninos do Enem, mas por engenheiros formados, muitos deles com mestrados e doutorados. Não vou dizer os nomes dos doutores nem da advogada, por motivos mais que óbvios. Garanto que o leitor vai ficar horrorizado com o hilotismo de profissionais que exercem altos cargos neste Piscinão de Ramos. E tem mais uma coisa: os vinhos foram muitos, mas não tive ressaca. Faz tempo que não tenho. Só pode ser o resultado de treinamento alcoólico durante décadas.
Democracia
Desconcordo, discrepo, divirjo de ilustre juiz de direito, por sinal meu amigo, quando escreve que o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tem o direito de dizer o que pensa e que isso é democracia. Não é, pelo menos no direito que estudei com Benjamin de Moraes e Roberto Lyra, no ano de mil novecentos e antigamente. Democracia é uma coisa, estelionato é outra muito diferente. É crime: “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. É o artigo 171 do Código Penal que está ultrapassado, mas foi nele que estudei. Ultrapassado, segundo modernos operadores do direito, porque ninguém entende o significado de “conjunção carnal”. Ora, bolas: mesmo não entendendo, todo mundo conjunge.
Não me refiro à homofobia e ao racismo, mas ao fato de o pastor manter em erro, mediante artifício, um monte de bobos em seus templos, obtendo vantagem ilícita. Ele, Feliciano, e milhares de outros, como aquele que tem um vídeo circulando na internet, em que pede aos inquilinos que depositem em sua arapuca o valor de um aluguel pago por mês, garantindo que ainda este ano todos os que depositarem terão casa própria “em o nome do Senhor Jesus”. O pilantra continua solto, risonho, isento de impostos, cada vez mais rico. Pode?
O mundo é uma bola
9 de maio de 1386: assinada a Aliança Luso-Britânica, entre Portugal e Inglaterra, a mais antiga das alianças entre nações ainda em vigor. Queixam-se muitos portugueses das tungas de que têm sido vítimas ao longo dos séculos, considerando que os ingleses nunca foram de brincadeira. Algo me diz que a Inglaterra se aliou a Portugal como forma de combater os espanhóis, que também são carne de pescoço. Quase 200 anos depois da Aliança de 1386, Henrique VIII, de Inglaterra, casou-se com uma espanhola bonitinha e estudada, com as credenciais de cunhadinha, viúva de seu irmão. Está para nascer o homem que resista ao amor cunhadio. Em 1605, Miguel de Cervantes Saavedra publica a primeira parte de Don Qvixote de La Mancha, título e ortografia originais. Cervantes e Shakespeare, expressões máximas das literaturas espanhola e inglesa, morreram no mesmo dia de 1616, e é provável que um nunca tenha ouvido falar do outro. Hoje, Caetano, o cantor, solta um pum na Bahia e Feliciano, o pastor, diz que a ventosidade tem parte com o demônio. Em 1960, isso é, ainda outro dia, autorizada a venda de pílulas anticoncepcionais nos Estados Unidos. Em 1837 nascia Antônio Luís von Hoonholtz, o barão de Tefé, diplomata, geógrafo, político e almirante da Marinha do Brasil, morto em 1931. Em Esperantina (PI), hoje é o Dia do Orgasmo.
Ruminanças
“Bons tempos aqueles em que havia pessoas de ambos os sexos. Hoje, são tantos os sexos que a gente se confunde.” (R. Manso Neto).
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/05/2013
Prática ou cultivo do passatempo das palavras cruzadas, o cruzadismo complica a vida dos que leem um texto escrito por brilhante cruzadista como o jornalista Lauro Diniz. Supondo que o destinatário seja conhecedor da língua, o que não é o meu caso, o cruzadista se desculpa do lapso de ter escrito “levar a domicílio” explicando que foi um hilotismo. E isso num dia em que o philosopho dormiu pouco e mal, depois de continuadas garrafas de vinho no melhor restaurante da cidade a convite de velho amigo. Noitada que terminou às duas da manhã.
Hilotismo... Será que alguém que não tenha o mestrado e o doutorado em cruzadismo conhece o significado do substantivo masculino que entrou em nosso idioma em 1851? Será que alguém sabe o que significa hilota, substantivo de dois gêneros que o português acolheu em 1823? Confesso que jamais soube dos lexemas, como presumo que o pacientíssimo leitor, não sendo cruzadista, também os desconheça. Se é assim, vamos lá: hilota, do grego heílós,ótos 'hilota, servo lacedemônio', pelo latim helótes,um ou ilótae,árum 'hilotas, escravos em Esparta'. Na rubrica história significava escravo do Estado, que, em Esparta, cultivava o campo. Em sentido figurado, pessoa de ínfima condição social ou que foi reduzida ao grau extremo da miséria, do servilismo ou da ignorância. Hilotismo, como dá para adivinhar, além de estado ou condição de servo, em sentido figurado é ato, estado ou condição que revele abjeção e ignorância.
E isso pela manhã, depois de noite maldormida. O jantar foi ótimo e uma das convidadas, advogada famosa, prometeu mandar-me lista das frases que retirou de textos que lhe passaram pelo escritório. Garanto que o leitor vai morrer de rir. As frases não foram escritas pelos meninos do Enem, mas por engenheiros formados, muitos deles com mestrados e doutorados. Não vou dizer os nomes dos doutores nem da advogada, por motivos mais que óbvios. Garanto que o leitor vai ficar horrorizado com o hilotismo de profissionais que exercem altos cargos neste Piscinão de Ramos. E tem mais uma coisa: os vinhos foram muitos, mas não tive ressaca. Faz tempo que não tenho. Só pode ser o resultado de treinamento alcoólico durante décadas.
Democracia
Desconcordo, discrepo, divirjo de ilustre juiz de direito, por sinal meu amigo, quando escreve que o deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) tem o direito de dizer o que pensa e que isso é democracia. Não é, pelo menos no direito que estudei com Benjamin de Moraes e Roberto Lyra, no ano de mil novecentos e antigamente. Democracia é uma coisa, estelionato é outra muito diferente. É crime: “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. É o artigo 171 do Código Penal que está ultrapassado, mas foi nele que estudei. Ultrapassado, segundo modernos operadores do direito, porque ninguém entende o significado de “conjunção carnal”. Ora, bolas: mesmo não entendendo, todo mundo conjunge.
Não me refiro à homofobia e ao racismo, mas ao fato de o pastor manter em erro, mediante artifício, um monte de bobos em seus templos, obtendo vantagem ilícita. Ele, Feliciano, e milhares de outros, como aquele que tem um vídeo circulando na internet, em que pede aos inquilinos que depositem em sua arapuca o valor de um aluguel pago por mês, garantindo que ainda este ano todos os que depositarem terão casa própria “em o nome do Senhor Jesus”. O pilantra continua solto, risonho, isento de impostos, cada vez mais rico. Pode?
O mundo é uma bola
9 de maio de 1386: assinada a Aliança Luso-Britânica, entre Portugal e Inglaterra, a mais antiga das alianças entre nações ainda em vigor. Queixam-se muitos portugueses das tungas de que têm sido vítimas ao longo dos séculos, considerando que os ingleses nunca foram de brincadeira. Algo me diz que a Inglaterra se aliou a Portugal como forma de combater os espanhóis, que também são carne de pescoço. Quase 200 anos depois da Aliança de 1386, Henrique VIII, de Inglaterra, casou-se com uma espanhola bonitinha e estudada, com as credenciais de cunhadinha, viúva de seu irmão. Está para nascer o homem que resista ao amor cunhadio. Em 1605, Miguel de Cervantes Saavedra publica a primeira parte de Don Qvixote de La Mancha, título e ortografia originais. Cervantes e Shakespeare, expressões máximas das literaturas espanhola e inglesa, morreram no mesmo dia de 1616, e é provável que um nunca tenha ouvido falar do outro. Hoje, Caetano, o cantor, solta um pum na Bahia e Feliciano, o pastor, diz que a ventosidade tem parte com o demônio. Em 1960, isso é, ainda outro dia, autorizada a venda de pílulas anticoncepcionais nos Estados Unidos. Em 1837 nascia Antônio Luís von Hoonholtz, o barão de Tefé, diplomata, geógrafo, político e almirante da Marinha do Brasil, morto em 1931. Em Esperantina (PI), hoje é o Dia do Orgasmo.
Ruminanças
“Bons tempos aqueles em que havia pessoas de ambos os sexos. Hoje, são tantos os sexos que a gente se confunde.” (R. Manso Neto).
Bebida promete efeito contra alzheimer
folha de são paulo
GIULIANA MIRANDADE SÃO PAULOUm complemento alimentar que promete melhorar a memória de pacientes em estágio leve de alzheimer entrou discretamente no mercado brasileiro em setembro de 2012 e já é usado por mais de 2.000 pessoas no país.
Apresentado oficialmente para o público ontem, o produto, porém, divide especialistas. Para alguns, faltam pesquisas que comprovem os benefícios do composto.
O suplemento é uma mistura de nutrientes --incluindo óleo de peixe, ômega 3, selênio e vitaminas-- que têm o objetivo de "turbinar" o cérebro.
Eles ajudariam na formação da membrana dos neurônios, melhorando, assim, as sinapses --a comunicação química dessas células.
Por enquanto, os efeitos do Souvenaid, fabricado pela Danone, só estão documentados em um cenário: pacientes em estágio muito leve da doença e que ainda não fazem uso de remédios que inibem a beta-amiloide, proteína apontada como a culpada pelo mal de Alzheimer.
Em dois estudos patrocinados pela Danone com pessoas nessas condições, quem usou o composto teve melhora na memória em relação ao grupo que recebeu placebo.
Mas, em outro teste, com pacientes em um estágio moderado da doença e que tomavam remédios, a bebida não fez diferença.
EFEITO PREVENTIVO
Especialistas ouvidos pela Folha disseram que, com base nos estudos já apresentados, ainda é precipitado falar em uso preventivo contra o mal de Alzheimer.
"Ainda não há resultados sobre o uso [do suplemento] por pessoas saudáveis ou por pacientes leves que já usem medicação", afirma a neurocientista Luísa Lopes, pesquisadora do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa.
"Não podemos afirmar que existe efeito protetor, mas os dados permitem inferir que isso é possível", disse Marcelo Borges, presidente da Divisão de Nutrição Especializada da Danone.
"De qualquer maneira, o objetivo não é substituir a medicação. É algo complementar ao tratamento", diz Cláudio Sturion, diretor médico da divisão, destacando que o Souvenaid não interfere no uso do remédio e não tem efeitos adversos sérios.
A combinação do suplemento alimentar e a medicação, porém, dobraria os gastos dos pacientes, já que os dois têm preços similares.
O neurologista Ivan Okamoto, coordenador do Instituto da Memória da Unifesp, disse já ter apresentado a bebida para alguns de seus pacientes, mas diz que, por causa do preço --R$ 10 cada potinho, que deve ser tomado diariamente--, muitos preferem usar só a medicação.
Também à venda na Bélgica, Alemanha, Holanda, Itália, Irlanda e no Reino Unido, o composto deve ser lançado em mais dez países até o fim de 2013 e nos EUA em 2014, dependendo da aprovação das agências reguladoras.
Suplemento tem mistura de nutrientes que melhoraria memória em casos leves; especialistas pedem cautela
Cientistas dizem que faltam pesquisas que comprovem todos os benefícios do composto e seu uso na prevenção
Apresentado oficialmente para o público ontem, o produto, porém, divide especialistas. Para alguns, faltam pesquisas que comprovem os benefícios do composto.
O suplemento é uma mistura de nutrientes --incluindo óleo de peixe, ômega 3, selênio e vitaminas-- que têm o objetivo de "turbinar" o cérebro.
Eles ajudariam na formação da membrana dos neurônios, melhorando, assim, as sinapses --a comunicação química dessas células.
Por enquanto, os efeitos do Souvenaid, fabricado pela Danone, só estão documentados em um cenário: pacientes em estágio muito leve da doença e que ainda não fazem uso de remédios que inibem a beta-amiloide, proteína apontada como a culpada pelo mal de Alzheimer.
Em dois estudos patrocinados pela Danone com pessoas nessas condições, quem usou o composto teve melhora na memória em relação ao grupo que recebeu placebo.
Mas, em outro teste, com pacientes em um estágio moderado da doença e que tomavam remédios, a bebida não fez diferença.
EFEITO PREVENTIVO
Especialistas ouvidos pela Folha disseram que, com base nos estudos já apresentados, ainda é precipitado falar em uso preventivo contra o mal de Alzheimer.
"Ainda não há resultados sobre o uso [do suplemento] por pessoas saudáveis ou por pacientes leves que já usem medicação", afirma a neurocientista Luísa Lopes, pesquisadora do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa.
"Não podemos afirmar que existe efeito protetor, mas os dados permitem inferir que isso é possível", disse Marcelo Borges, presidente da Divisão de Nutrição Especializada da Danone.
"De qualquer maneira, o objetivo não é substituir a medicação. É algo complementar ao tratamento", diz Cláudio Sturion, diretor médico da divisão, destacando que o Souvenaid não interfere no uso do remédio e não tem efeitos adversos sérios.
A combinação do suplemento alimentar e a medicação, porém, dobraria os gastos dos pacientes, já que os dois têm preços similares.
O neurologista Ivan Okamoto, coordenador do Instituto da Memória da Unifesp, disse já ter apresentado a bebida para alguns de seus pacientes, mas diz que, por causa do preço --R$ 10 cada potinho, que deve ser tomado diariamente--, muitos preferem usar só a medicação.
Também à venda na Bélgica, Alemanha, Holanda, Itália, Irlanda e no Reino Unido, o composto deve ser lançado em mais dez países até o fim de 2013 e nos EUA em 2014, dependendo da aprovação das agências reguladoras.
CHAPADA DO NORTE » Festa reconhecida como bem imaterial Gustavo Werneck
Gustavo Werneck
Estado de Minas: 09/05/2013 04:00
Tradição de dois séculos ganha reconhecimento como bem imaterial de Minas. O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) aprovou ontem, por unanimidade, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, como a expressão de religiosidade e de fé. De acordo com informação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), trata-se do segundo bem registrado, sendo o primeiro, inscrito no Livro dos saberes, o modo de fazer o queijo da região do Serro. “É um privilégio ter esse reconhecimento para uma festa secular”, disse, ontem, o integrante da irmandade Manoel Aparecido Júnior, de 41 anos, nascido em Chapada do Norte e residente na capital. A festividade secular, agora no Livro das celebrações, movimenta irmãos, fiéis, comunidade e a população do Médio Jequitinhonha.
Durante a reunião do conselho, o processo de registro da festa foi apresentado pelo gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha, Luís Gustavo Molinari Mundim, lembrando que a política da instituição é inscrever as manifestações em livros específicos. “Estamos desenvolvendo um trabalho na Comunidade do Arturos, em Contagem, na Grande BH, que será registrado no Livro de lugares e, em breve vamos começar um trabalho para o Livro de formas de expressão”, diz Mundim. Durante o processo de instrução do registro foram levantadas e analisadas informações e dados que destacam a importância da festa como bem cultural imaterial.
Durante a reunião do Conep, 10 membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos viajaram 528 quilômetros até Belo Horizonte para acompanhar a decisão dos conselheiros. Eles ouviram atentamente os pareceres positivos e se emocionaram com o resultado. Em outubro, durante 15 dias, há várias etapas da celebração: meio-dia (primeiro dia da novena), novenas (preparação espiritual para a festa), leilões (durante cinco noites após a celebração da novena), lavagem da igreja pelas mulheres, quinta do angu (distribuição de refeição), buscada da santa (encenação da aparição da Virgem do Rosário), mastro a cavalo (após a última celebração da novena, considerado o apogeu da festa), reinado (caminhadas e cortejos que conduzem os reis festeiros), missa da festa, distribuição do doce, coroação, buscada do cofre, divertimentos noturnos, feira dos mascates, tamborzeiros e congada.
ORGULHO “Estou muito orgulhoso e emocionado, pois meu pai, Manoel Bento Machado, falecido em 1999, foi secretário da irmandade por 10 anos. Eu fui rei festeiro, em 2006, quando a festa foi inventariada, com todo o levantamento histórico. Além do reconhecimento de uma manifestação singular, o registro vai permitir que o evento mantenha a originalidade, já que, em algumas épocas, sofreu tentativas de ser desvirtuada. Agora, pelo visto, vai continuar do jeito que sempre foi”, disse. Na reunião do conselho, que ocorreu na sede do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG), o vice-presidente da irmandade, José Olímpio Soares, contou que começou a frequentar a Festa do Rosário “bem pequeno, ainda no colo de mãe”. O próximo passo, adiantou, será reunir com os membros da irmandade e conduzir trabalhos de educação patrimonial nas escolas da região.
Estado de Minas: 09/05/2013 04:00
Tradição de dois séculos ganha reconhecimento como bem imaterial de Minas. O Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) aprovou ontem, por unanimidade, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha, como a expressão de religiosidade e de fé. De acordo com informação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), trata-se do segundo bem registrado, sendo o primeiro, inscrito no Livro dos saberes, o modo de fazer o queijo da região do Serro. “É um privilégio ter esse reconhecimento para uma festa secular”, disse, ontem, o integrante da irmandade Manoel Aparecido Júnior, de 41 anos, nascido em Chapada do Norte e residente na capital. A festividade secular, agora no Livro das celebrações, movimenta irmãos, fiéis, comunidade e a população do Médio Jequitinhonha.
Durante a reunião do conselho, o processo de registro da festa foi apresentado pelo gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha, Luís Gustavo Molinari Mundim, lembrando que a política da instituição é inscrever as manifestações em livros específicos. “Estamos desenvolvendo um trabalho na Comunidade do Arturos, em Contagem, na Grande BH, que será registrado no Livro de lugares e, em breve vamos começar um trabalho para o Livro de formas de expressão”, diz Mundim. Durante o processo de instrução do registro foram levantadas e analisadas informações e dados que destacam a importância da festa como bem cultural imaterial.
Durante a reunião do Conep, 10 membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos viajaram 528 quilômetros até Belo Horizonte para acompanhar a decisão dos conselheiros. Eles ouviram atentamente os pareceres positivos e se emocionaram com o resultado. Em outubro, durante 15 dias, há várias etapas da celebração: meio-dia (primeiro dia da novena), novenas (preparação espiritual para a festa), leilões (durante cinco noites após a celebração da novena), lavagem da igreja pelas mulheres, quinta do angu (distribuição de refeição), buscada da santa (encenação da aparição da Virgem do Rosário), mastro a cavalo (após a última celebração da novena, considerado o apogeu da festa), reinado (caminhadas e cortejos que conduzem os reis festeiros), missa da festa, distribuição do doce, coroação, buscada do cofre, divertimentos noturnos, feira dos mascates, tamborzeiros e congada.
ORGULHO “Estou muito orgulhoso e emocionado, pois meu pai, Manoel Bento Machado, falecido em 1999, foi secretário da irmandade por 10 anos. Eu fui rei festeiro, em 2006, quando a festa foi inventariada, com todo o levantamento histórico. Além do reconhecimento de uma manifestação singular, o registro vai permitir que o evento mantenha a originalidade, já que, em algumas épocas, sofreu tentativas de ser desvirtuada. Agora, pelo visto, vai continuar do jeito que sempre foi”, disse. Na reunião do conselho, que ocorreu na sede do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG), o vice-presidente da irmandade, José Olímpio Soares, contou que começou a frequentar a Festa do Rosário “bem pequeno, ainda no colo de mãe”. O próximo passo, adiantou, será reunir com os membros da irmandade e conduzir trabalhos de educação patrimonial nas escolas da região.
Dias de frio e de dor nas costas-Paulo Lima
A estação das baixas temperaturas também
é a das crises de lombalgia. Especialistas alertam que o desconforto
pode ser o indício de problemas mais graves e pouco percebidos no verão,
como as artrites
Paulo Lima
Estado de Minas: 09/05/2013
A temperatura não caiu tanto ainda, mas Ana Ferreira, de 55 anos, já sente no corpo a chegada do frio. “Transpiro os pés e as mãos e a coluna começa a doer”, diz a goiana, que mora no Distrito Federal. A mudança da estação altera a rotina da empresária. “Tenho artrose. Durante o frio, meus batimentos cardíacos aceleram e sinto falta de ar. Tomo medicamentos, evito sair à noite e, para me aquecer, durmo com dois cobertores. Ainda assim, não é suficiente para sumir com as dores”. Ana faz parte de um número significativo de pessoas que sofrem com esse problema. Segundo estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública, que ouviu mais de 12 mil brasileiros, 36% afirmaram sentir dores nas costas, incômodo que costuma se intensificar no inverno.
“É comum as pessoas acharem que a dor é resultante apenas do clima frio, mas, nesse período, há um aumento significativo do diagnóstico de doenças que podem parecer assintomáticas nos dias quentes, como a artrose e as artrites em geral”, detalha Julian Machado, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da regional do Distrito Federal. A resposta por trás do aumento da dor no frio está na musculatura. Segundo a fisioterapeuta Íris Oliveira Dutra, o tecido se contrai involuntariamente, principalmente pelo fato de o indivíduo ficar mais tempo parado. Existe ainda o fato de as pessoas andarem mais encurvadas para tentar se proteger da baixa temperatura. Com isso, surge a vasoconstrição — processo de constrição dos vasos sanguíneos que reduz a irrigação muscular e faz com que o músculo leve mais tempo para exercer suas funções, ocasionando a rigidez muscular.
De acordo com o especialista em dor Carlos Gropen, por causar contratura muscular, o frio pode piorar uma dor preexistente, mas o desconforto causado unicamente pelo frio pode ser devido a algum problema clínico ainda não diagnosticado, chamado alodínia. “São sensações de dor provocadas por mecanismos não dolorosos, como tato, pressão e variações bruscas de temperatura”, explica.
Wesley Martins, de 50 anos faz parte da lista dos que necessitam de cuidados ainda mais especiais com a coluna durante as baixas temperaturas. “Tem que tratar e se cuidar. É nesse período de frio que os sintomas são mais presentes. Se eu não tivesse descoberto a tempo, hoje poderia estar em uma cadeira de rodas”, diz. O técnico em redes de telefonia demorou até descobrir que as crises eram sintomas de três hérnias de disco. “Foi difícil o diagnóstico. Eram atestados médicos um atrás do outro. Tomava injeções e voltava para casa”, lembra. “Um exame de ressonância magnética constatou que eu estava no início de uma quarta hérnia de disco.” Wesley acabou fazer uma cirurgia para reverter o quadro e se dedica às aulas de hidroterapia.
Postura inadequada, ganho de peso, sedentarismo, uso de sapatos inapropriados, controle inadequado de problemas clínicos, como o diabetes mellitus, e sobrecarga são alguns fatores que podem desencadear a dor nas costas. Mas o problema também pode estar associado ao fator genético. Segundo Gropen, existe um predisposição familiar a algumas patologias na coluna, como a artrose e a hérnia de disco. “Já foram identificados genes específicos, como o GDF5, o MCF2L e o FRZB, na predisposição à artrose mais grave e precoce”, afirma. A Organização Mundial da Saúde estima que 80% da população mundial teve, tem ou terá dor nas costas ao longo da vida.
Rotina equilibrada Entre os cuidados com a coluna, o ortopedista Julian Machado enfatiza a importância da prática de atividade física, além do uso de agasalhos para evitar a exposição prolongada ao frio. O alinhamento postural previne alterações na musculatura da coluna, mas é necessária uma adequação nos hábitos diários. “Alguns métodos podem ajudar na reabilitação, como o pilates, a reeducação postural global (PRG) e a hidroterapia”. Especializada em terapias manuais, Iris Oliveira Dutra também atesta a eficácia de outros métodos, como a mobilização neural, que consiste em avaliar os problemas neurais da irradiação da dor para determinadas partes do corpo; o método Mckenzie para tratamento na dor lombar; o Iso Stretching, que corrige as alterações musculoesqueléticas, disfunções de coluna e na postura; e a crochetagem, que usa um instrumento que lembra um gancho e é indicado para estimular a circulação sanguínea. “Vale frisar que essas técnicas não devem ser isoladas, elas atuam no complemento uma da outra para alívio da dor e tratamento”, diz.
Como a indicação é não ficar parado, a pintora Helena Vieira, de 43 anos, recorre ao balé para amenizar as dores nas colunas que ficam mais fortes durante o clima frio. “Descobri com um especialista que não tenho patologias, mas percebo que os alongamentos e os inúmeros exercícios ajudam a trabalhar a coluna”, diz ela, que frequenta a aulas duas vezes por semana. A professora de Helena, Flávia Tavares, confirma os benefícios. “Por se tratar de um exercício aeróbico, trabalha em conjunto a musculatura da coluna. Possibilita mais elasticidade, força muscular e o equilíbrio do quadril”.
A alimentação também é coadjuvante nesse processo. Para conter os estímulos dolorosos, a nutricionista Joana Lucyk sugere equilíbrio no consumo de ômega 6, presente em alimentos como óleos vegetais, milho, linhaça e gergelim. “O indicado é que seja uma dieta que contenha ômega 3, encontrado na linhaça, na canola, na semente de abóbora, no atum, na sardinha, no brócolis, na gema de ovo e no cassis”, pontua. Sobre o aumento da fome durante o tempo frio, Lucyk explica que, para driblar os excessos e aquecer o corpo, vale apostar em sopas que contenham substâncias bioativas presentes na cebola, no alho, no aipo, na soja, no pimentão vermelho e no tomate. “Uvas roxas e cupuaçu também atuam no controle da dor”, completa.
Paulo Lima
Estado de Minas: 09/05/2013
A temperatura não caiu tanto ainda, mas Ana Ferreira, de 55 anos, já sente no corpo a chegada do frio. “Transpiro os pés e as mãos e a coluna começa a doer”, diz a goiana, que mora no Distrito Federal. A mudança da estação altera a rotina da empresária. “Tenho artrose. Durante o frio, meus batimentos cardíacos aceleram e sinto falta de ar. Tomo medicamentos, evito sair à noite e, para me aquecer, durmo com dois cobertores. Ainda assim, não é suficiente para sumir com as dores”. Ana faz parte de um número significativo de pessoas que sofrem com esse problema. Segundo estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública, que ouviu mais de 12 mil brasileiros, 36% afirmaram sentir dores nas costas, incômodo que costuma se intensificar no inverno.
“É comum as pessoas acharem que a dor é resultante apenas do clima frio, mas, nesse período, há um aumento significativo do diagnóstico de doenças que podem parecer assintomáticas nos dias quentes, como a artrose e as artrites em geral”, detalha Julian Machado, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da regional do Distrito Federal. A resposta por trás do aumento da dor no frio está na musculatura. Segundo a fisioterapeuta Íris Oliveira Dutra, o tecido se contrai involuntariamente, principalmente pelo fato de o indivíduo ficar mais tempo parado. Existe ainda o fato de as pessoas andarem mais encurvadas para tentar se proteger da baixa temperatura. Com isso, surge a vasoconstrição — processo de constrição dos vasos sanguíneos que reduz a irrigação muscular e faz com que o músculo leve mais tempo para exercer suas funções, ocasionando a rigidez muscular.
De acordo com o especialista em dor Carlos Gropen, por causar contratura muscular, o frio pode piorar uma dor preexistente, mas o desconforto causado unicamente pelo frio pode ser devido a algum problema clínico ainda não diagnosticado, chamado alodínia. “São sensações de dor provocadas por mecanismos não dolorosos, como tato, pressão e variações bruscas de temperatura”, explica.
Wesley Martins, de 50 anos faz parte da lista dos que necessitam de cuidados ainda mais especiais com a coluna durante as baixas temperaturas. “Tem que tratar e se cuidar. É nesse período de frio que os sintomas são mais presentes. Se eu não tivesse descoberto a tempo, hoje poderia estar em uma cadeira de rodas”, diz. O técnico em redes de telefonia demorou até descobrir que as crises eram sintomas de três hérnias de disco. “Foi difícil o diagnóstico. Eram atestados médicos um atrás do outro. Tomava injeções e voltava para casa”, lembra. “Um exame de ressonância magnética constatou que eu estava no início de uma quarta hérnia de disco.” Wesley acabou fazer uma cirurgia para reverter o quadro e se dedica às aulas de hidroterapia.
Postura inadequada, ganho de peso, sedentarismo, uso de sapatos inapropriados, controle inadequado de problemas clínicos, como o diabetes mellitus, e sobrecarga são alguns fatores que podem desencadear a dor nas costas. Mas o problema também pode estar associado ao fator genético. Segundo Gropen, existe um predisposição familiar a algumas patologias na coluna, como a artrose e a hérnia de disco. “Já foram identificados genes específicos, como o GDF5, o MCF2L e o FRZB, na predisposição à artrose mais grave e precoce”, afirma. A Organização Mundial da Saúde estima que 80% da população mundial teve, tem ou terá dor nas costas ao longo da vida.
Rotina equilibrada Entre os cuidados com a coluna, o ortopedista Julian Machado enfatiza a importância da prática de atividade física, além do uso de agasalhos para evitar a exposição prolongada ao frio. O alinhamento postural previne alterações na musculatura da coluna, mas é necessária uma adequação nos hábitos diários. “Alguns métodos podem ajudar na reabilitação, como o pilates, a reeducação postural global (PRG) e a hidroterapia”. Especializada em terapias manuais, Iris Oliveira Dutra também atesta a eficácia de outros métodos, como a mobilização neural, que consiste em avaliar os problemas neurais da irradiação da dor para determinadas partes do corpo; o método Mckenzie para tratamento na dor lombar; o Iso Stretching, que corrige as alterações musculoesqueléticas, disfunções de coluna e na postura; e a crochetagem, que usa um instrumento que lembra um gancho e é indicado para estimular a circulação sanguínea. “Vale frisar que essas técnicas não devem ser isoladas, elas atuam no complemento uma da outra para alívio da dor e tratamento”, diz.
Como a indicação é não ficar parado, a pintora Helena Vieira, de 43 anos, recorre ao balé para amenizar as dores nas colunas que ficam mais fortes durante o clima frio. “Descobri com um especialista que não tenho patologias, mas percebo que os alongamentos e os inúmeros exercícios ajudam a trabalhar a coluna”, diz ela, que frequenta a aulas duas vezes por semana. A professora de Helena, Flávia Tavares, confirma os benefícios. “Por se tratar de um exercício aeróbico, trabalha em conjunto a musculatura da coluna. Possibilita mais elasticidade, força muscular e o equilíbrio do quadril”.
A alimentação também é coadjuvante nesse processo. Para conter os estímulos dolorosos, a nutricionista Joana Lucyk sugere equilíbrio no consumo de ômega 6, presente em alimentos como óleos vegetais, milho, linhaça e gergelim. “O indicado é que seja uma dieta que contenha ômega 3, encontrado na linhaça, na canola, na semente de abóbora, no atum, na sardinha, no brócolis, na gema de ovo e no cassis”, pontua. Sobre o aumento da fome durante o tempo frio, Lucyk explica que, para driblar os excessos e aquecer o corpo, vale apostar em sopas que contenham substâncias bioativas presentes na cebola, no alho, no aipo, na soja, no pimentão vermelho e no tomate. “Uvas roxas e cupuaçu também atuam no controle da dor”, completa.
HELP!
A invasão
de gafanhotos no show de Paul McCartney em Goiânia foi parar no blog do
beatle, que publicou fotos e matéria sobre o inusitado público.
Harold na rede
Estado de Minas: 09/05/2013
Harold na rede
Estado de Minas: 09/05/2013
Conhecido por
defender o vegetarianismo e os direitos dos animais, Paul McCartney fez
questão de colocar as fotos dos insetos que invadiram o show dele
anteontem, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, no seu blog oficial.
Ontem, a página contou a história de Harold, como o ex-beatle chamou um
dos bichos que permaneceram no ombro dele durante várias músicas.
Segundo Paul, era um “grasshopper”, gafanhoto em português. “Estamos nos
divertindo com os gafanhotos, hein?”, brincou. Esperanças e mariposas
também apareceram, logo depois da sétima música.
Dois dias depois da abertura da turnê Out there! no Brasil, que lotou o Mineirão, em Belo Horizonte, Paul pareceu se divertir com a nuvem de insetos que dividiu com ele as atenções no palco. Durante as duas horas e quatro minutos da apresentação para um público de 40 mil pessoas, o músico viu os insetos atacarem sua camisa, seus cabelos e seu rosto, mas não perdeu o bom humor. Hoje, o ex-beatle se apresenta no Estádio aCstelão, em Fortaleza.
Dois dias depois da abertura da turnê Out there! no Brasil, que lotou o Mineirão, em Belo Horizonte, Paul pareceu se divertir com a nuvem de insetos que dividiu com ele as atenções no palco. Durante as duas horas e quatro minutos da apresentação para um público de 40 mil pessoas, o músico viu os insetos atacarem sua camisa, seus cabelos e seu rosto, mas não perdeu o bom humor. Hoje, o ex-beatle se apresenta no Estádio aCstelão, em Fortaleza.
Pasquale Cipro Neto
folha de são paulo
"Ao invés de" ou "em vez de"?
A recíproca não é sempre verdadeira; sempre se pode substituir "ao invés de" por "em vez de", mas...
A coleção de mensagens de leitores que me pedem comentários sobre as mais diversas questões da língua é imensa. Faz tempo que me perguntam, por exemplo, sobre a diferença entre "em vez de" e "ao invés de".
No uso efetivo da língua, essas duas expressões se igualaram há um bom tempo; nos dicionários, gramáticas, manuais e guias de uso, no entanto, a diferença persiste. É bom lembrar que, via de regra, as obras citadas se baseiam no uso formal da língua.
A expressão "ao invés de" tem por núcleo a palavra "invés", que vem do latim "inversum" ("de modo contrário"). Como se vê, "invés" e "inverso" são da mesma família. No uso culto, a expressão "ao invés de" ocorre unicamente quando há oposição real entre duas ideias, fatos, palavras etc. Quando chega a safra de determinado produto agrícola, por exemplo, é normal que o preço desse produto caia. Se ocorre o oposto, diz-se que, "ao invés de cair, o preço subiu".
Também se pode dizer que alguém "subiu, ao invés de descer" (imagine alguém que estava no sexto andar à procura de um escritório que fica no quinto e, ao invés de descer, subiu). O "Houaiss" dá este exemplo: "Era um governante piedoso, ao invés de cruel". A mesma obra diz que "a locução ao invés de deve ser empregada quando houver uma oposição real entre determinada coisa e outra; só é sinônima de em vez de, portanto, num dos sentidos desta".
Permita-me perguntar-lhe, caro leitor: entendeu a observação do "Houaiss"? Leia-a de novo, se necessário. E então? O que se diz lá é que, num de seus sentidos, a locução "em vez de" (atenção: "em vez de") é sinônima de "ao invés de". Em outras palavras, o "Houaiss" diz que, na língua culta, ocorre o uso de "em vez de" com o sentido de "ao invés de", mas...
Mas a recíproca não é sempre verdadeira, isto é, sempre se pode substituir "ao invés de" por "em vez de", mas nem sempre se pode substituir "em vez de" por "ao invés de".
Resumo da ópera: na língua culta, registra-se uma construção como "Em vez de estudar, foi ver a namorada", mas não se registra algo como "Ao invés de estudar, foi ver a namorada". Como se sabe, "estudar" nem de longe é o oposto de "ir ver a namorada".
No uso prático da língua, ou seja, na língua do dia a dia, essa distinção beira a filigrana, por isso mesmo é sumariamente ignorada. Pela aproximação semântica, as expressões citadas (como já vimos) acabam sendo igualadas, isto é, são usadas como equivalentes.
A esta altura, os pragmáticos já devem estar pensando que é melhor pura e simplesmente riscar do mapa a expressão "ao invés de" e usar sempre a expressão "em vez de", que, como o caro leitor deve ter deduzido, não ocorre exclusivamente com o papel de estabelecer relação de oposição real entre uma coisa e outra.
Para os que amam a tradição linguística, lembro que, no padrão formal da língua, o verbo "preferir" não se constrói com "em vez de" ou com "que/do que", mas com a preposição "a", o que equivale a dizer que, nesse registro, uma frase como "Preferiu namorar em vez de estudar" é substituída por "Preferiu namorar a estudar". Na língua oral a construção "culta" tem incidência próxima de zero. O "Houaiss" diz que "o uso, embora frequente no Brasil, de preferir seguido de do que não é aceito pela norma culta da língua, embora se abone em escritores modernos e clássicos".
A julgar pelo que se vê em provas recentes ou mais antigas, os vestibulares (mesmo os mais "modernos") e os concursos públicos continuam exigindo dos candidatos o emprego da construção que o "Houaiss" dá como culta, portanto, se você participar de um desses exames, é bom ficar de olho nessas minúcias. É isso.
-
Minas bem-aventurada - Gustavo Werneck
Após beatificar Nhá Chica, em Baependi,
Vaticano conclui fase romana da documentação para fazer o mesmo com mais
dois religiosos, que viveram em Três Pontas, Sul do estado
Gustavo Werneck / Enviado especial
Estado de Minas: 09/05/2013
Três Pontas
– Depois da beatificação da bem-aventurada Nhá Chica, ocorrida com
grande festa no sábado, em Baependi, no Sul de Minas, mais dois
mineiros, religiosos que viveram em Três Pontas, na mesma região do
estado, estão na lista, com processos adiantados, para ganhar os altares
das igrejas. Em primeiro lugar, já cumprindo a chamada fase romana, com
documentação na Santa Sé, está padre Francisco de Paula Victor
(1827-1905), o Padre Victor, que ostenta o título de venerável. Para se
tornar beato, “falta apenas um milagre a ser reconhecido pelo Vaticano”,
informou, ontem, o bispo da Diocese de Campanha, dom frei Diamantino
Prata de Carvalho, que participou, segunda-feira e ontem, em Três
Pontas, de um encontro reunindo 25 representantes de associações
brasileiras, da Bahia ao Rio Grande do Sul, envolvidos em causas de
beatificação e canonização. No domingo, também na cidade sul-mineira,
haverá o encerramento, com missa solene, da fase diocesana (levantamento
histórico, estudo da vida , virtudes e grau de santidade) da madre
Tereza Margarida do Coração de Maria (1915-2005), a Nossa Mãe,
fundadora, há 50 anos, do Carmelo São José.
A Praça da Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, no Centro de Três Pontas, está cercada de estandartes com as fotos de Padre Victor, filho de uma escrava, natural de Campanha e residente na cidade durante 53 anos, e de Nossa Mãe, natural de Borda da Mata e priora, por 33 anos, da instituição das irmãs carmelitas, que vivem em regime de clausura. No memorial dedicado ao padre Victor, um imponente casarão colonial ao lado da matriz, há, em exposição, paramentos usados pelo sacerdote, livros, fotos de procissões, objetos pessoais, uma escultura em tamanho natural e documentos. Entusiasmada, a integrante da Associação Padre Victor de Três Pontas, Denise Barbosa Reis Abreu, explica que o processo de beatificação começou há 20 anos, com parecer complementar em 1998. “As pessoas têm muita fé em padre Victor. No dia da festa em homenagem a ele, em 23 de setembro, comparecem de 50 mil a 60 mil pessoas aqui.”
“Ao memorial, vem gente todos os dias, as pessoas relatam as graças alcançadas, e às segundas-feiras um grupo reza o terço”, conta Denise. O funcionário público aposentado Paulo Carvalho Vinhas, de 76 anos, tem a maior admiração por Padre Victor, e, assim, como os demais devotos do candidato a beato, fala com doçura e intimidade sobre a trajetória dele. Ao lado da mulher, Elza Tiso Vinhas, Paulo conta que recebeu uma graça imensa de Deus ao pedir a intercessão do padre para um problema de saúde. “Tive uma trombose mesentérica intestinal, que tratam popularmente como enfarte do intestino. Ao ser internado, clamei: ‘Padre Victor, não me deixe morrer’. A minha mulher levou ao hospital a relíquia e a pôs sobre o meu peito. Mantive a confiança, mesmo o médico dizendo que era preciso esperar 72 horas e que 99% dos casos são fatais. Hoje estou aqui, muito bem.”
HOMEM SANTO Com um sorriso Paulo Carvalho disse que, no seu caso, não foi um milagre, já que houve a intervenção dos médicos. “Mas foi uma grande bênção, tenho certeza de que padre Victor será beato e depois santo”, afirma, com alegria, ao lado de Elza, Célia de Carvalho Vinhas, Norma de Carvalho Vinhas e Inês Maria Frutuoso. Na Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, onde há missa todos os domingos às 10h30, a visitação ao túmulo do sacerdote é intensa. As pessoas rezam, depositam flores, fazem pedidos, enfim, fazem a sua reverência à memória daquele que consideram um homem santo. Durante alguns minutos, a dona de casa Sueli Aparecida Amaral, de 40, moradora de Ilicínea, rezou contrita e fez os seus pedidos. “A minha filha nasceu com sério problema de refluxo e foi curada. Agradeço a Deus e ao padre Victor”, revelou, certa que padre Victor será o primeiro santo negro brasileiro. De genuinamente brasileiro, só existe São Frei Galvão, canonizado em cerimônia em São Paulo em 2007, pelo papa Bento XVI.
No Carmelo São José, onde estão sepultados os restos mortais da madre Tereza Margarida do Coração de Maria, a expectativa cresce a cada dia. No domingo, às 16h, Dia das Mães, dom Diamantino vai celebrar a missa encerrando a fase diocesana, com a presença do italiano Paolo Vilotta, postulador (advogado) da causa de beatificação de Nhá Chica, padre Victor, irmã Benigna e outros brasileiros, de um total de 40 processos de beatificação e canonização no mundo, que estão sob seus cuidados. Na segunda e terça-feira, ele participou do encontro no Memorial Padre Victor, ao lado de dom Diamantino, que falou sobre santidade e disse que os processos dos dois religiosos mineiros estão bem encaminhados.
“O doutor Paolo Vilotta vai levar toda a documentação ao Vaticano, encerrando a fase diocesana. Agora, vamos esperar por um milagre obtido por intercessão da serva de Deus”, disse a priora do Carmelo São José, irmã Vânia Maria do Espírito Santo. Ela explicou que, na ordem, é natural que as carmelitas chamem a superiora de Nossa Mãe, e assim, dessa forma carinhosa, a fundadora ficou conhecida pela população. “Mas, na beatificação, certamente será usado o nome de madre”, disse, com esperança, a religiosa, que conviveu com a priora durante 33 anos. “Nossa Mãe viveu uma vida de santidade e o mais importante é que isso dê exemplo para todas as pessoas. É uma forte candidata a santa”, afirmou.
CANDIDATOS A BEATIFICAÇÃO
PADRE VICTOR
A expectativa é de que padre Victor se torne o primeiro santo negro brasileiro. O processo de beatificação de Francisco de Paula Victor começou em 1993. Natural de Campanha, no Sul de Minas, ele atuou como padre em Três Pontas.
NOSSA MÃE
Madre Tereza Margarida do Coração de Maria (nome de batismo Maria Luiza), natural de Borda da Mata, no Sul de Minas.Em Três Pontas, fundou o Carmelo São José, onde viveu enclausurada de 1962 a 2005, quando morreu.
IRMÃ BENIGNA
Em janeiro, foi encerrada a fase diocesana do processo da serva de Deus Benigna Victima de Jesus, a irmã Benigna. Ela nasceu em 16 de agosto de 1907, em Diamantina. Tornou-se religiosa da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, aos 28 anos. Morreu em 16 de outubro de 1981.
MONSENHOR ALDERIGI
Alderigi Maria Torriani nasceu em Jacutinga, no Sul de Minas. Morou na Itália durante a infância. Como padre assumiu a Paróquia de Santa Rita de Caldas, também no Sul do estado. O processo de beatificação começou em fevereiro de 2001.
MADRE MARIA IMACULADA
Maria Giselda Vilela, Mãezinha, nasceu em Maria da Fé, no Sul de Minas. Aos 13 anos teve um tumor na virilha. Morreu em janeiro de 1988, depois de seguir na vida cristã. O processo de beatificação começou em 2006
DOM VIÇOSO
O servo de Deus Antônio Ferreira Viçoso (1787-1875) ingressou no noviciado da Congregação da Missão, em Lisboa, em 25 de julho de 1811, sendo ordenado padre lazarista em 7 de março de 1818. Veio de Portugal para fundar missões na então província de Mato Grosso e acabou por se tornar diretor do Colégio do Caraça, em Minas.
DOM LUCIANO MENDES
A abertura do processo de beatificação de dom Luciano Mendes de Almeida, nascido no Rio de Janeiro e arcebispo de Mariana por 18 anos, foi anunciado em agosto de 2011. Ele morreu em 27 de agosto de 2006.
MONSENHOR HORTA
Monsenhor José Silvério Horta nasceu em Mariana em 20 de junho de 1859 e morreu em 30 de março de 1933. Servo de Deus, seu processo se encontra na fase diocesana de estudos há quatro anos.
ISABEL CRISTINA
A serva de Deus nasceu em Barbacena em 1962. Estudante em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1º de setembro de 1982, um homem tentou violentá-la em casa. Lutou até a morte, atingida por 15 facadas, morrendo virgem. O processo de beatificação está em Roma de 2009.
FLORIPES DORNELAS DE JESUS (LOLA)
Leiga, nascida em 1913, em Mercês, na Zona da Mata, morreu em 9 de abril de 1999. O processo de virtude, aberto em 2004, se encontra na fase diocesana.
Gustavo Werneck / Enviado especial
Estado de Minas: 09/05/2013
Bispo de Campanha, dom Diamantino de Carvalho (C), e Paolo Vilotta, postulador da causa de beatificação de padre Victor |
A Praça da Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, no Centro de Três Pontas, está cercada de estandartes com as fotos de Padre Victor, filho de uma escrava, natural de Campanha e residente na cidade durante 53 anos, e de Nossa Mãe, natural de Borda da Mata e priora, por 33 anos, da instituição das irmãs carmelitas, que vivem em regime de clausura. No memorial dedicado ao padre Victor, um imponente casarão colonial ao lado da matriz, há, em exposição, paramentos usados pelo sacerdote, livros, fotos de procissões, objetos pessoais, uma escultura em tamanho natural e documentos. Entusiasmada, a integrante da Associação Padre Victor de Três Pontas, Denise Barbosa Reis Abreu, explica que o processo de beatificação começou há 20 anos, com parecer complementar em 1998. “As pessoas têm muita fé em padre Victor. No dia da festa em homenagem a ele, em 23 de setembro, comparecem de 50 mil a 60 mil pessoas aqui.”
“Ao memorial, vem gente todos os dias, as pessoas relatam as graças alcançadas, e às segundas-feiras um grupo reza o terço”, conta Denise. O funcionário público aposentado Paulo Carvalho Vinhas, de 76 anos, tem a maior admiração por Padre Victor, e, assim, como os demais devotos do candidato a beato, fala com doçura e intimidade sobre a trajetória dele. Ao lado da mulher, Elza Tiso Vinhas, Paulo conta que recebeu uma graça imensa de Deus ao pedir a intercessão do padre para um problema de saúde. “Tive uma trombose mesentérica intestinal, que tratam popularmente como enfarte do intestino. Ao ser internado, clamei: ‘Padre Victor, não me deixe morrer’. A minha mulher levou ao hospital a relíquia e a pôs sobre o meu peito. Mantive a confiança, mesmo o médico dizendo que era preciso esperar 72 horas e que 99% dos casos são fatais. Hoje estou aqui, muito bem.”
HOMEM SANTO Com um sorriso Paulo Carvalho disse que, no seu caso, não foi um milagre, já que houve a intervenção dos médicos. “Mas foi uma grande bênção, tenho certeza de que padre Victor será beato e depois santo”, afirma, com alegria, ao lado de Elza, Célia de Carvalho Vinhas, Norma de Carvalho Vinhas e Inês Maria Frutuoso. Na Matriz de Nossa Senhora da Ajuda, onde há missa todos os domingos às 10h30, a visitação ao túmulo do sacerdote é intensa. As pessoas rezam, depositam flores, fazem pedidos, enfim, fazem a sua reverência à memória daquele que consideram um homem santo. Durante alguns minutos, a dona de casa Sueli Aparecida Amaral, de 40, moradora de Ilicínea, rezou contrita e fez os seus pedidos. “A minha filha nasceu com sério problema de refluxo e foi curada. Agradeço a Deus e ao padre Victor”, revelou, certa que padre Victor será o primeiro santo negro brasileiro. De genuinamente brasileiro, só existe São Frei Galvão, canonizado em cerimônia em São Paulo em 2007, pelo papa Bento XVI.
No Carmelo São José, onde estão sepultados os restos mortais da madre Tereza Margarida do Coração de Maria, a expectativa cresce a cada dia. No domingo, às 16h, Dia das Mães, dom Diamantino vai celebrar a missa encerrando a fase diocesana, com a presença do italiano Paolo Vilotta, postulador (advogado) da causa de beatificação de Nhá Chica, padre Victor, irmã Benigna e outros brasileiros, de um total de 40 processos de beatificação e canonização no mundo, que estão sob seus cuidados. Na segunda e terça-feira, ele participou do encontro no Memorial Padre Victor, ao lado de dom Diamantino, que falou sobre santidade e disse que os processos dos dois religiosos mineiros estão bem encaminhados.
“O doutor Paolo Vilotta vai levar toda a documentação ao Vaticano, encerrando a fase diocesana. Agora, vamos esperar por um milagre obtido por intercessão da serva de Deus”, disse a priora do Carmelo São José, irmã Vânia Maria do Espírito Santo. Ela explicou que, na ordem, é natural que as carmelitas chamem a superiora de Nossa Mãe, e assim, dessa forma carinhosa, a fundadora ficou conhecida pela população. “Mas, na beatificação, certamente será usado o nome de madre”, disse, com esperança, a religiosa, que conviveu com a priora durante 33 anos. “Nossa Mãe viveu uma vida de santidade e o mais importante é que isso dê exemplo para todas as pessoas. É uma forte candidata a santa”, afirmou.
CANDIDATOS A BEATIFICAÇÃO
PADRE VICTOR
A expectativa é de que padre Victor se torne o primeiro santo negro brasileiro. O processo de beatificação de Francisco de Paula Victor começou em 1993. Natural de Campanha, no Sul de Minas, ele atuou como padre em Três Pontas.
NOSSA MÃE
Madre Tereza Margarida do Coração de Maria (nome de batismo Maria Luiza), natural de Borda da Mata, no Sul de Minas.Em Três Pontas, fundou o Carmelo São José, onde viveu enclausurada de 1962 a 2005, quando morreu.
IRMÃ BENIGNA
Em janeiro, foi encerrada a fase diocesana do processo da serva de Deus Benigna Victima de Jesus, a irmã Benigna. Ela nasceu em 16 de agosto de 1907, em Diamantina. Tornou-se religiosa da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, aos 28 anos. Morreu em 16 de outubro de 1981.
MONSENHOR ALDERIGI
Alderigi Maria Torriani nasceu em Jacutinga, no Sul de Minas. Morou na Itália durante a infância. Como padre assumiu a Paróquia de Santa Rita de Caldas, também no Sul do estado. O processo de beatificação começou em fevereiro de 2001.
MADRE MARIA IMACULADA
Maria Giselda Vilela, Mãezinha, nasceu em Maria da Fé, no Sul de Minas. Aos 13 anos teve um tumor na virilha. Morreu em janeiro de 1988, depois de seguir na vida cristã. O processo de beatificação começou em 2006
DOM VIÇOSO
O servo de Deus Antônio Ferreira Viçoso (1787-1875) ingressou no noviciado da Congregação da Missão, em Lisboa, em 25 de julho de 1811, sendo ordenado padre lazarista em 7 de março de 1818. Veio de Portugal para fundar missões na então província de Mato Grosso e acabou por se tornar diretor do Colégio do Caraça, em Minas.
DOM LUCIANO MENDES
A abertura do processo de beatificação de dom Luciano Mendes de Almeida, nascido no Rio de Janeiro e arcebispo de Mariana por 18 anos, foi anunciado em agosto de 2011. Ele morreu em 27 de agosto de 2006.
MONSENHOR HORTA
Monsenhor José Silvério Horta nasceu em Mariana em 20 de junho de 1859 e morreu em 30 de março de 1933. Servo de Deus, seu processo se encontra na fase diocesana de estudos há quatro anos.
ISABEL CRISTINA
A serva de Deus nasceu em Barbacena em 1962. Estudante em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1º de setembro de 1982, um homem tentou violentá-la em casa. Lutou até a morte, atingida por 15 facadas, morrendo virgem. O processo de beatificação está em Roma de 2009.
FLORIPES DORNELAS DE JESUS (LOLA)
Leiga, nascida em 1913, em Mercês, na Zona da Mata, morreu em 9 de abril de 1999. O processo de virtude, aberto em 2004, se encontra na fase diocesana.
Faltaria guilhotina se o povo soubesse o que se passa, diz Alckmin
folha de são paulo
PAULO GAMADANIEL RONCAGLIADE SÃO PAULOO governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), fez ontem um discurso em tom de desabafo em que criticou a impunidade no Brasil e afirmou que o "povo não sabe de um décimo do que se passa contra ele" próprio.
"Se não, ia faltar guilhotina para a Bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro", afirmou.
O tucano fez o discurso no lançamento de um programa estadual que auxilia prefeituras a disponibilizar portais de acesso a informações públicas. Começou dizendo que grandes casos de corrupção foram descobertos por acidente. "O controle é zero."
"O sujeito fica rico, bilionário, com fazenda, indústria, patrimônio e não acontece nada. E o coitado do honesto é execrado. É desolador."
As críticas de Alckmin foram feitas em frente ao chefe do Ministério Público de São Paulo, Márcio Elias Rosa, e do corregedor-geral da Administração do Estado, Gustavo Ungaro, representantes dos dois principais órgãos paulistas de combate à corrupção.
A situação causou constrangimento entre aliados, já que o tucano não dirigiu suas críticas a uma esfera específica de Poder nem isentou o próprio governo dos ataques.
O governador não poupou sequer o programa que estava sendo anunciado. Criticou as fundações do governo que receberam para desenvolver o sistema. "Não deviam cobrar nada, isso é obrigação."
Alckmin acusou também a existência de uma "grande combinação" que impede que dados sejam disponibilizados. "Salários, ninguém põe na internet, porque o sindicato pediu liminar. Olha eu gostaria de pôr, mas a Justiça proibiu'", ironizou.
O Legislativo de São Paulo, de maioria alckmista, se enquadra no ataque --não divulga salários por decisão judicial obtida por servidores.
Alckmin criticou ainda a morosidade do Judiciário. "A corrupção, o paraíso é o Judiciário. Todo mundo diz: Na hora que for para Justiça vai resolver'. Vai levar 20 anos."
O tucano não atendeu a pedido de entrevista e deixou o evento sem comentar a fala.
Governador de SP afirma que há 'controle zero' sobre casos de corrupção e critica morosidade do Judiciário
Discurso em frente aos chefes da Corregedoria e do Ministério Público de São Paulo constrange aliados do tucano
"Se não, ia faltar guilhotina para a Bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro", afirmou.
O tucano fez o discurso no lançamento de um programa estadual que auxilia prefeituras a disponibilizar portais de acesso a informações públicas. Começou dizendo que grandes casos de corrupção foram descobertos por acidente. "O controle é zero."
"O sujeito fica rico, bilionário, com fazenda, indústria, patrimônio e não acontece nada. E o coitado do honesto é execrado. É desolador."
As críticas de Alckmin foram feitas em frente ao chefe do Ministério Público de São Paulo, Márcio Elias Rosa, e do corregedor-geral da Administração do Estado, Gustavo Ungaro, representantes dos dois principais órgãos paulistas de combate à corrupção.
A situação causou constrangimento entre aliados, já que o tucano não dirigiu suas críticas a uma esfera específica de Poder nem isentou o próprio governo dos ataques.
O governador não poupou sequer o programa que estava sendo anunciado. Criticou as fundações do governo que receberam para desenvolver o sistema. "Não deviam cobrar nada, isso é obrigação."
Alckmin acusou também a existência de uma "grande combinação" que impede que dados sejam disponibilizados. "Salários, ninguém põe na internet, porque o sindicato pediu liminar. Olha eu gostaria de pôr, mas a Justiça proibiu'", ironizou.
O Legislativo de São Paulo, de maioria alckmista, se enquadra no ataque --não divulga salários por decisão judicial obtida por servidores.
Alckmin criticou ainda a morosidade do Judiciário. "A corrupção, o paraíso é o Judiciário. Todo mundo diz: Na hora que for para Justiça vai resolver'. Vai levar 20 anos."
O tucano não atendeu a pedido de entrevista e deixou o evento sem comentar a fala.
Painel - Vera Magalhães
folha de são paulo
Ansiolítico Em conversa com Dilma ontem após a divulgação de que a inflação de abril fechou em 0,55%, Guido Mantega (Fazenda) disse que o resultado ainda estava contaminado pela alta de preços dos alimentos e que os números de maio serão melhores.
Conta-gotas 1 A Procuradoria-Geral da República só havia recebido até ontem 3 dos 26 embargos de declaração do mensalão enviados por Joaquim Barbosa a Roberto Gurgel para análise.
Conta-gotas 2 Assessores do STF informam que os recursos foram enviados, mas houve uma demora na saída devido à burocracia na corte. Gurgel quer esperar para fazer uma manifestação única sobre os recursos.
Tudo igual Interlocutores acreditam que o procurador-geral seguirá a linha de suas recentes declarações e dará parecer contra os embargos e qualquer alteração no acórdão do julgamento.
Páreo A procuradora-geral de Justiça do Distrito Federal, Eunice Carvalhido, entrou no páreo para a cadeira do ministro Carlos Ayres Britto no Supremo, vaga há seis meses. Ela conta com a simpatia do vice-presidente da corte, Ricardo Lewandowski.
Plano B Diante do risco de derrota na votação da medida provisória dos portos, o governo estudava alternativas. Além de licitar todas as áreas portuárias com contratos anteriores a 1993 e já vencidos, outra ideia é fatiar a reforma do setor por tópicos.
Compensação Senadores da base aliada já estudam, com o conhecimento da Fazenda, compensações para São Paulo, atingido pelas mudanças no ICMS aprovadas na Comissão de Assuntos Econômicos. Uma delas seria incluir na proposta benefícios para o polo tecnológico da região de Campinas.
War Do senador Delcídio Amaral (PT), relator da reforma do ICMS e pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul: "Quanto mais Geraldo Alckmin e Andrea Calabi disserem que eu prejudiquei o Sudeste, mais votos me garantem no meu Estado''.
Bolado A contrariedade de Alckmin com a mudança no ICMS foi responsável pelo discurso duro do tucano ontem. "É inacreditável. E tem tudo para piorar. É preciso indignação da população", disse. Depois, ligou para vários governadores para articular reação ao projeto.
Manda ver A base governista na Assembleia paulista vai deixar correr sem dificuldades um eventual pedido de impeachment do vice Guilherme Afif caso evolua a representação do deputado Carlos Giannazi (PSOL).
Controle remoto O Legislativo paulista publica hoje edital da licitação para a produção de conteúdo da TV Assembleia. O contrato atual, de R$ 40 milhões e firmado sem licitação, vence amanhã. Prorrogado duas vezes desde 2011, é investigado pelo Ministério Público.
-- Só se for de alto nível. Bertrand Russell para cima --advertiu o presidente José Américo (PT).
Benko começou citando Nietzsche, mas se convenceu de que a sabedoria popular era mais adequada para cobrar celeridade do prefeito Fernando Haddad na regulamentação de atendimentos a pessoas com autismo.
--Faço então uma citação filosófica muito útil para vereadores novatos como eu, do grande filósofo Zeca Pagodinho: "Camarão que dorme a onda leva".
Ontem, hoje e amanhã
O programa de TV do PT que vai ao ar hoje encerra a era da comparação com a herança do PSDB e apresenta os governos de Lula e Dilma Rousseff como um projeto "vitorioso'' e que ainda tem "mais" a oferecer ao país. Numa edição dinâmica, serão mostradas realizações dos últimos dez anos para passar a mensagem de continuidade das gestões petistas. Para lançar a ideia de mais quatro anos para Dilma, serão martelados os desafios para o "futuro", palavra-chave na propaganda.
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Coffee break Após a posse de Guilherme Afif no Planalto, hoje, Dilma Rousseff receberá Rui Falcão no Alvorada, com o ex-presidente Lula. Também participa da conversa o onipresente Aloizio Mercadante (Educação).Ansiolítico Em conversa com Dilma ontem após a divulgação de que a inflação de abril fechou em 0,55%, Guido Mantega (Fazenda) disse que o resultado ainda estava contaminado pela alta de preços dos alimentos e que os números de maio serão melhores.
Conta-gotas 1 A Procuradoria-Geral da República só havia recebido até ontem 3 dos 26 embargos de declaração do mensalão enviados por Joaquim Barbosa a Roberto Gurgel para análise.
Conta-gotas 2 Assessores do STF informam que os recursos foram enviados, mas houve uma demora na saída devido à burocracia na corte. Gurgel quer esperar para fazer uma manifestação única sobre os recursos.
Tudo igual Interlocutores acreditam que o procurador-geral seguirá a linha de suas recentes declarações e dará parecer contra os embargos e qualquer alteração no acórdão do julgamento.
Páreo A procuradora-geral de Justiça do Distrito Federal, Eunice Carvalhido, entrou no páreo para a cadeira do ministro Carlos Ayres Britto no Supremo, vaga há seis meses. Ela conta com a simpatia do vice-presidente da corte, Ricardo Lewandowski.
Plano B Diante do risco de derrota na votação da medida provisória dos portos, o governo estudava alternativas. Além de licitar todas as áreas portuárias com contratos anteriores a 1993 e já vencidos, outra ideia é fatiar a reforma do setor por tópicos.
Compensação Senadores da base aliada já estudam, com o conhecimento da Fazenda, compensações para São Paulo, atingido pelas mudanças no ICMS aprovadas na Comissão de Assuntos Econômicos. Uma delas seria incluir na proposta benefícios para o polo tecnológico da região de Campinas.
War Do senador Delcídio Amaral (PT), relator da reforma do ICMS e pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul: "Quanto mais Geraldo Alckmin e Andrea Calabi disserem que eu prejudiquei o Sudeste, mais votos me garantem no meu Estado''.
Bolado A contrariedade de Alckmin com a mudança no ICMS foi responsável pelo discurso duro do tucano ontem. "É inacreditável. E tem tudo para piorar. É preciso indignação da população", disse. Depois, ligou para vários governadores para articular reação ao projeto.
Manda ver A base governista na Assembleia paulista vai deixar correr sem dificuldades um eventual pedido de impeachment do vice Guilherme Afif caso evolua a representação do deputado Carlos Giannazi (PSOL).
Controle remoto O Legislativo paulista publica hoje edital da licitação para a produção de conteúdo da TV Assembleia. O contrato atual, de R$ 40 milhões e firmado sem licitação, vence amanhã. Prorrogado duas vezes desde 2011, é investigado pelo Ministério Público.
com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA
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TIROTEIO
"Depois da rodada de boxe entre os Estados na questão dos royalties, o governo federal patrocina agora o sangrento UFC do ICMS."
DO DEPUTADO CARLOS SAMPAIO, líder do PSDB na Câmara, sobre a atuação de Dilma Rousseff na negociação da discussão da reforma do tributo.
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CONTRAPONTO
Deixa a vida me levar
Em sessão na Câmara paulistana, Laércio Benko (PHS) pediu a palavra e disse que adotaria "linha filosófica".-- Só se for de alto nível. Bertrand Russell para cima --advertiu o presidente José Américo (PT).
Benko começou citando Nietzsche, mas se convenceu de que a sabedoria popular era mais adequada para cobrar celeridade do prefeito Fernando Haddad na regulamentação de atendimentos a pessoas com autismo.
--Faço então uma citação filosófica muito útil para vereadores novatos como eu, do grande filósofo Zeca Pagodinho: "Camarão que dorme a onda leva".
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