De soslaio, quando me
levantei, porque haviam chamado o meu nome, vi, na revista que a pessoa
até então ao meu lado estava lendo, uma frase em destaque: “Já dormi
com mais de 2 mil – diz dono da Meca do Sexo.”
Fiquei sem saber quem era o herói, nem qual Meca do Sexo lhe pertencia (há tantas!). Mas, quase sem querer, me pus a fazer contas. E olhe que sou muito ruim de números!
Senão vejamos: para completar 2 mil dormidas, o cavalheiro em questão – se é que a palavra cavalheiro se aplica – deveria dedicar uma noite a cada uma das parceiras durante menos de seis anos. Parece um belo feito erótico. Entretanto, se considerarmos que a vida sexual de um macho da espécie vai, oficialmente, dos 18 anos aos 70, perfazendo 52 de duração, a coisa muda de figura. Ao longo de 12 anos, por exemplo, ele recorreria aos serviços das moças uma noite sim e outra não, o que lhe garantiria bom descanso. E caso o feito glorioso transcorresse ao longo de 24 anos, ele só teria que demonstrar seu talento erótico quatro vezes por semana. Em 40, ele já cairia para a faixa do vexame, com duas modestas prestações por semana, tendo ainda que suportar 12 anos de absoluta inoperância.
Vexame, sim, porque longo estudo realizado com o patrocínio do laboratório Pfizer, com 3 mil homens e mulheres, nos garante que a média brasileira, justamente entre os 18 e os 70 anos, é de três comparecimentos semanais. E, convenhamos, 18 é um bocado tarde para iniciar os trabalhos.
Deixemos os números e passemos à qualidade. A frase nos entrega a principal preocupação do autor: quantas. Não quais. Não como. Mas quantas. O herói diligente contou uma por uma, foi para a cama com calculadora ou com livrinho, interessado em atingir cifras rocambolescas que o cobrissem de glória. Ele não disse: “Fui feliz com mais de 2 mil” ou “Fiz sorrir mais de 2 mil”. Poderia ter-se gabado afirmando: “Duas mil não esquecerão a noite que passaram comigo. “ Não o fez. É provável que nem sequer tenha lhe ocorrido. Ocupado com a conta, por que repararia nos detalhes da performance?
Don Juan, o rei dos caçadores de saias, também podia se gabar da contabilidade. Porém, o seu interesse primeiro, maior até do que o prazer que esse mesmo interesse lhe garantiria, era a conquista. Seduzir para o proibido, transformá-lo em inadiável, esse era o seu desafio. E desafio nada fácil, tendo em vista a época.
Já o “dono da Meca do Sexo” não precisou nem de belas frases nem de suspiros ao pé do ouvido, não precisou enfrentar maridos traídos nem pais furibundos, e estender a mão para colher mais uma mulher nunca representou para ele risco de duelo. O dono da macieira pode comer quantas maçãs quiser, sem pedir licença. E sem precisar escolher, porque alguém já o fez por ele, e nos galhos daquele pé de mulheres qualquer uma está no ponto.
Reconheço: meu olhar é de mulher. Um homem teria lido a mesma frase de outro modo, acrescentando automaticamente a palavra que está subentendida na frase: diferentes. E que sabor excelso ganham “mais de 2 mil mulheres” se declaradas diferentes. É o sonho do harém realizado, aquele em que só o prazer do dono importa. Esquece, o dono, que no harém como na meca, as moças cochicham entre si e, entre cochichos e murmúrios, costumam despi-lo não dos finos trajes, mas da grandeza pouca.
Fiquei sem saber quem era o herói, nem qual Meca do Sexo lhe pertencia (há tantas!). Mas, quase sem querer, me pus a fazer contas. E olhe que sou muito ruim de números!
Senão vejamos: para completar 2 mil dormidas, o cavalheiro em questão – se é que a palavra cavalheiro se aplica – deveria dedicar uma noite a cada uma das parceiras durante menos de seis anos. Parece um belo feito erótico. Entretanto, se considerarmos que a vida sexual de um macho da espécie vai, oficialmente, dos 18 anos aos 70, perfazendo 52 de duração, a coisa muda de figura. Ao longo de 12 anos, por exemplo, ele recorreria aos serviços das moças uma noite sim e outra não, o que lhe garantiria bom descanso. E caso o feito glorioso transcorresse ao longo de 24 anos, ele só teria que demonstrar seu talento erótico quatro vezes por semana. Em 40, ele já cairia para a faixa do vexame, com duas modestas prestações por semana, tendo ainda que suportar 12 anos de absoluta inoperância.
Vexame, sim, porque longo estudo realizado com o patrocínio do laboratório Pfizer, com 3 mil homens e mulheres, nos garante que a média brasileira, justamente entre os 18 e os 70 anos, é de três comparecimentos semanais. E, convenhamos, 18 é um bocado tarde para iniciar os trabalhos.
Deixemos os números e passemos à qualidade. A frase nos entrega a principal preocupação do autor: quantas. Não quais. Não como. Mas quantas. O herói diligente contou uma por uma, foi para a cama com calculadora ou com livrinho, interessado em atingir cifras rocambolescas que o cobrissem de glória. Ele não disse: “Fui feliz com mais de 2 mil” ou “Fiz sorrir mais de 2 mil”. Poderia ter-se gabado afirmando: “Duas mil não esquecerão a noite que passaram comigo. “ Não o fez. É provável que nem sequer tenha lhe ocorrido. Ocupado com a conta, por que repararia nos detalhes da performance?
Don Juan, o rei dos caçadores de saias, também podia se gabar da contabilidade. Porém, o seu interesse primeiro, maior até do que o prazer que esse mesmo interesse lhe garantiria, era a conquista. Seduzir para o proibido, transformá-lo em inadiável, esse era o seu desafio. E desafio nada fácil, tendo em vista a época.
Já o “dono da Meca do Sexo” não precisou nem de belas frases nem de suspiros ao pé do ouvido, não precisou enfrentar maridos traídos nem pais furibundos, e estender a mão para colher mais uma mulher nunca representou para ele risco de duelo. O dono da macieira pode comer quantas maçãs quiser, sem pedir licença. E sem precisar escolher, porque alguém já o fez por ele, e nos galhos daquele pé de mulheres qualquer uma está no ponto.
Reconheço: meu olhar é de mulher. Um homem teria lido a mesma frase de outro modo, acrescentando automaticamente a palavra que está subentendida na frase: diferentes. E que sabor excelso ganham “mais de 2 mil mulheres” se declaradas diferentes. É o sonho do harém realizado, aquele em que só o prazer do dono importa. Esquece, o dono, que no harém como na meca, as moças cochicham entre si e, entre cochichos e murmúrios, costumam despi-lo não dos finos trajes, mas da grandeza pouca.