quinta-feira, 19 de setembro de 2013

MARINA COLASANTI » Finos trajes e grandeza pouca‏

Estado de Minas: 19/09/2013 



De soslaio, quando me levantei, porque haviam chamado o meu nome, vi, na revista que a pessoa até então ao meu lado estava lendo, uma frase em destaque: “Já dormi com mais de 2 mil – diz dono da Meca do Sexo.”

Fiquei sem saber quem era o herói, nem qual Meca do Sexo lhe pertencia (há tantas!). Mas, quase sem querer, me pus a fazer contas. E olhe que sou muito ruim de números!

Senão vejamos: para completar 2 mil dormidas, o cavalheiro em questão – se é que a palavra cavalheiro se aplica – deveria dedicar uma noite a cada uma das parceiras durante menos de seis anos. Parece um belo feito erótico. Entretanto, se considerarmos que a vida sexual de um macho da espécie vai, oficialmente, dos 18 anos aos 70, perfazendo 52 de duração, a coisa muda de figura. Ao longo de 12 anos, por exemplo, ele recorreria aos serviços das moças uma noite sim e outra não, o que lhe garantiria bom descanso. E caso o feito glorioso transcorresse ao longo de 24 anos, ele só teria que demonstrar seu talento erótico quatro vezes por semana. Em 40, ele já cairia para a faixa do vexame, com duas modestas prestações por semana, tendo ainda que suportar 12 anos de absoluta inoperância.

Vexame, sim, porque longo estudo realizado com o patrocínio do laboratório Pfizer, com 3 mil homens e mulheres, nos garante que a média brasileira, justamente entre os 18 e os 70 anos, é de três comparecimentos semanais. E, convenhamos, 18 é um bocado tarde para iniciar os trabalhos.

Deixemos os números e passemos à qualidade. A frase nos entrega a principal preocupação do autor: quantas. Não quais. Não como. Mas quantas. O herói diligente contou uma por uma, foi para a cama com calculadora ou com livrinho, interessado em atingir cifras rocambolescas que o cobrissem de glória. Ele não disse: “Fui feliz com mais de 2 mil” ou “Fiz sorrir mais de 2 mil”. Poderia ter-se gabado afirmando: “Duas mil não esquecerão a noite que passaram comigo. “ Não o fez. É provável que nem sequer tenha lhe ocorrido. Ocupado com a conta, por que repararia nos detalhes da performance?

Don Juan, o rei dos caçadores de saias, também podia se gabar da contabilidade. Porém, o seu interesse primeiro, maior até do que o prazer que esse mesmo interesse lhe garantiria, era a conquista. Seduzir para o proibido, transformá-lo em inadiável, esse era o seu desafio. E desafio nada fácil, tendo em vista a época.

Já o “dono da Meca do Sexo” não precisou nem de belas frases nem de suspiros ao pé do ouvido, não precisou enfrentar maridos traídos nem pais furibundos, e estender a mão para colher mais uma mulher nunca representou para ele risco de duelo. O dono da macieira pode comer quantas maçãs quiser, sem pedir licença. E sem precisar escolher, porque alguém já o fez por ele, e nos galhos daquele pé de mulheres qualquer uma está no ponto.

Reconheço: meu olhar é de mulher. Um homem teria lido a mesma frase de outro modo, acrescentando automaticamente a palavra que está subentendida na frase: diferentes. E que sabor excelso ganham “mais de 2 mil mulheres” se declaradas diferentes. É o sonho do harém realizado, aquele em que só o prazer do dono importa. Esquece, o dono, que no harém como na meca, as moças cochicham entre si e, entre cochichos e murmúrios, costumam despi-lo não dos finos trajes, mas da grandeza pouca.

Tv Paga

Estado de Minas: 19/09/2013 



 (Canal Bis/Divulgação )

Gaby internacional


A tão aguardada estreia de Gaby Amarantos no canal Bis finalmente vai rolar esta noite. A cantora paraense está à frente do programa Gaby gringa (foto), que acompanha sua turnê pelos Estados Unidos e Europa. “Foi a primeira vez que viajei ao exterior, e a série revela esse lado deslumbrado da viagem. Mas também mostra a saudade que senti do Brasil, terra que eu amo”, explica a Rainha do Tecnobrega.

Multishow retoma hoje
cobertura do Rock in Rio


Por falar em música, o Multishow abre hoje a segunda parte da cobertura do Rock in Rio, ao vivo, a partir das 14h30. No SescTV, a pedida é a dança, com a série Coleções, focalizando hoje, às 21h30, o chamado caboclinho, que remonta à tradição indígena do Recife (PE). No Canal Brasil, o baiano Gerônimo Santana é o convidado de Moska em mais um programa Zoombido, às 21h30.

Canal Brasil reprisa filme
com quatro feras da MPB


Ainda no Canal Brasil, a mostra dos 15 anos da emissora continua hoje, às 22h, com o filme Canções do exílio, a labareda que lambeu tudo. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé e Jorge Mautner relembram momentos marcantes em suas trajetórias no longa-metragem dirigido por Geneton Moraes Neto. A coprodução do Canal Brasil com a Multipress Digital conta ainda com a participação especial da atriz Lorena da Silva e do ator Paulo Cesar Pereio.

Ação, drama e humor na
programação de cinema


Cinema de qualidade é também na Cultura, que promove seu Clube do filme toda quinta-feira, às 22h, hoje com o suspense Laura, clássico dirigido por Otto Preminger em 1944, com Gene Tierney, Dana Andrews e Clifton Webb nos papéis centrais. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Gonzaga – De pai para filho, no Telecine Pipoca; Espelho, espelho meu, no Telecine Fun; Água negra, no Telecine Action; O noivo da minha melhor amiga, na HBO HD; A garota, na HBO Signature; Superman – O filme, no TCM; Tron – O legado, no Disney XD; e A casa dos horrores, na MGM. Outros destaques da programação: As múmias do faraó, às 22h35, no Megapix; e Eu, meu irmão e nossa namorada, às 23h, no Comedy Central.

Mel Brooks ensina como
arrancar uma gargalhada


Um dos mestres da comédia mundial, Mel Brooks é o entrevistado do sétimo episódio de Por dentro da comédia, hoje, às 22h, no canal +Globosat. Vencedor do Oscar por Primavera para Hitler, Brooks explica como decidiu usar o ditador alemão como gancho para algumas de suas comédias. “A única maneira de se vingar de alguém é ridicularizá-lo”, justifica.

Série do Nat Geo vai de
Dubai a Miami num pulo


Dubai, nos Emirados Árabes, está no terceiro episódio do especial Aeroportos, do Nat Geo, hoje, às 18h. Um dos mais movimentados do mundo, o aeroporto de Dubai conta com nada menos que 60 mil funcionários. Na sequência, às 18h30, a emissora apresenta a série Bastidores, que vai mostrar como funciona o aeroporto internacional de Miami. 

Tereza Cruvinel - O primado das garantias‏

A vitória não foi dos condenados. Foi do estado democrático de direito e da observância do devido processo legal, que fundamentaram o voto do ministro Celso de Mello


Estado de Minas: 19/09/2013 



Com o voto de ontem do ministro Celso de Mello, garantindo a réus do mensalão o direito de interpor embargos infringentes, a vitória foi do estado democrático de direito e da observância do devido processo legal. Muito provavelmente, ele manterá, na apreciação dos embargos, a mesma severidade com que condenou os 12 réus aos quais garantiu o direito de um novo exame de suas condenações, nos casos em que tiveram quatro votos favoráveis. O voto de Mello deverá ser visto, no futuro, quando as paixões tiverem se dissipado, como referência na arte e responsabilidade de julgar: seja pelo valor técnico intrínseco ao voto, seja pela coragem de proferi-lo apesar das pressões internas e externas ou pela virtude de ter separado o direito dos réus do juízo formado sobre suas condutas.

Haverá desgaste para o STF e o Judiciário? No calor da hora, sim. As redes sociais foram tomadas por protestos dos que desejam ver todos os réus presos e algemados o mais rapidamente possível. Alguns poucos se manifestaram defronte ao STF e muitos ligaram para o gabinete do ministro dizendo impropérios. Todos movidos por convicções formadas sob o signo da paixão e da indignação, não do compromisso com a o ordem jurídica. Uma coisa, porém, é aplaudir ou censurar o STF no julgamento desse caso, que reproduz o Fla-Flu político-partidário em que se divide o Brasil de hoje. Outra, bem diferente, é a opinião dos brasileiros sobre a Justiça como um todo. As pesquisas estão sempre indicando a insatisfação com a morosidade, com o difícil acesso dos mais pobres, com a burocracia e os custos da Justiça. E isso não virá com o julgamento do mensalão, mas com mudanças de maior alcance, legais e operacionais, no que pese o simbolismo da condenação de pessoas influentes e notáveis. A criação do CNJ já produziu alguns resultados, mas falta muito ainda para que tenhamos uma Justiça digna de aplausos, em toda sua extensão. Logo, é balela dizer que o acolhimento dos embargos desmoralizará um Judiciário que já tem a moral tão baixa.

Nas preliminares de seu voto, Celso de Mello confrontou-se, transversalmente, com os colegas que justificaram a rejeição dos embargos alegando que o STF não poderia decepcionar a parcela da opinião pública contrária à concessão da segunda chance aos condenados. O juiz, ponderou, não é um delegado ou representante popular. Seu dever não é atender ao clamor externo, mas assegurar as garantias que o regime democrático reserva a todos. “Se é certo que a Suprema Corte constitui por excelência um espaço de proteção e defesa das liberdades fundamentais, não pode expor-se a pressões externas como as resultantes do clamor popular e pressões das multidões, sob pena de completa subversão do regime constitucional de direitos e garantias individuais". Uma carapuça, que vestirá quem puder ou quiser.

A parte técnica do voto também ofuscou a singeleza dos argumentos dos que votaram contra os embargos. Uns se apegando ao clamor popular, outros à hipótese de a Lei 8.030/90 ter revogado, embora sem explicitá-lo, o artigo do regimento do STF que admite tais embargos. Mello revisitou os cânones que vêm do Império e das ordenações filipinas, passando por todas as constituições democraticas do Brasil, destacando a de 1946 – promulgada em 18 de Setembro, como ontem, após uma ditadura – encontrando sempre a garantia ao duplo grau de recurso. No que toca à divergência entre os ministros, sobre a vigência dos embargos diante do silêncio da Lei 8.030/90, que os suprimiu para outras instâncias, mas calou-se em relação ao Supremo, fez uso do mesmo argumento aqui apresentado anteontem pelo relator da lei, ex-deputado Sigmaringa Seixas: eles foram suprimidos nas instâncias inferiores por desnecessários, na medida em que, nestes casos, existirá sempre a possibilidade de recurso à instância superior. Não cogitou o Congresso de suprimi-los no STF por não haver acima da Corte outra instância recursal, a não ser o próprio colegiado.

Outro elemento apresentado por Mello, e que nenhum outro ministro havia citado, foi também mencionado aqui anteontem: a rejeição da proposta de eliminação de tais embargos no STF, proposta pelo ex-presidente Fernando Henrique em 1998, por emenda supressiva do então deputado Jarbas Lima, acolhida pelos plenários da Câmara e do Senado. Logo, o legislador já havia manifestado sua vontade: a de manter os embargos. O colegiado devia saber disso.

Agora, segue-se outra etapa. Qualquer que seja o resultado para os réus, não se poderá acusar o STF de ter violado as garantias para atender às ruas. A corte deverá isso à erudição e à independência de Celso de Mello.

Sucessão acelerada

Com a decisão do PSB de deixar o governo Dilma, a sucessão ganha novo ritmo. Já ninguém terá dúvida de que o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, será candidato. Isso mudará o jogo para a coalizão dilmista nos estados e também para a campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG), em que só faltaram fogos ontem para celebrar a decisão. Eduardo no páreo é quase uma garantia de que haverá segundo turno.

A galera toda reunida - Ailton Magioli

Toninho Horta junta a nova geração da música mineira para montar a banda As Cores do Clube, recriando o clima que embalou o disco inaugural do movimento liderado por Milton Nascimento


Ailton Magioli


Estado de Minas: 19/09/2013 



A turma sobe ao palco do Teatro Bradesco para homenagear o baterista Mário Castelo, morto em 2005 (Cristiano Quintino/Divulgação)
A turma sobe ao palco do Teatro Bradesco para homenagear o baterista Mário Castelo, morto em 2005

A presença de inúmeros músicos entre os protagonistas Milton Nascimento e Lô Borges, tocando instrumentos além dos seus no disco Clube da Esquina, de 1972, chamou a atenção para o colorido instrumental da música mineira, que Toninho Horta pretende resgatar agora, ao lado da banda As Cores do Clube, criada e liderada por ele. O grupo é atração no Teatro Bradesco hoje à noite.

Formada por herdeiros do movimento musical mineiro, além dos chamados agregados, a banda promete trazer de volta o clima do disco. “Havia guitarra elétrica, guitarra de 12 com bandolim tocada com características às vezes mais melódicas e simples”, recorda Toninho, salientando a oportunidade que todos tiveram de fazer vocal e percussão no disco inaugural do Clube, além dos próprios arranjos que eles criavam na hora, em estúdio.

Lembranças De olho na rapaziada jovem que divulga aquela antológica criação musical, de maneira independente, Toninho começou a vislumbrar a formação de As Cores do Clube, que, na verdade, era para ter vindo à cena na Copa das Confederações. Com a aprovação do projeto na Lei Rouanet apenas mais recentemente, no entanto, ele acabou adiando os planos, que começam a se tornar realidade agora.

Dois Borges (Telo e Rodrigo), dois Guedes (Gabriel e Ian), um Tiso (Tutuca) e o próprio Toninho Horta, além do baixista Paulinho Carvalho, que tocou com todos os clubistas, estarão em cena. Assim como o guitarrista Beto Lopes e, de convidados, o baterista Esdra “Neném” Ferreira, o guitarrista Nelson Ângelo e as cantoras Carla Villar e Bárbara Barcellos. “É como se Tutuca Tiso fosse Milton Nascimento; Rodrigo Borges o tio Lô Borges; Gabriel Guedes o pai, Beto Guedes; Telo Borges o próprio Telo Borges; Ian Guedes no papel do guitarrista Fredera e as cantoras Carla Villar e Bárbara Barcellos estivessem na pele de Nana Caymmi e Solange Borges, respectivamente”, imagina Toninho Horta.

No show, cujo grande homenageado é o baterista Mário Castelo (1955–2005), Toninho estará vivendo o próprio integrante-fundador do Clube da Esquina. Segundo diz, mesmo morto prematuramente, o homenageado da noite fez escola na reconhecida influência pop-universal do Clube da Esquina. “Muita gente talvez não saiba da importância das levadas (3 x 4 e 6 x 8) do Mário Castelo na valsa mineira, a mais pop que existe”, detecta Toninho, lembrando que Esdra “Neném” Ferreira também sacou e sintetizou aquilo que Robertinho Silva havia levantado no início de toda a história.

Mesmo com a levada forte de roqueiro, Mário Castelo, como faz questão de ressaltar Toninho Horta, desenvolveu trabalho sofisticado ao lado de Lô Borges e Beto Guedes, com os quais tocou. Enfatizando  as décadas de 1970 e 1980, o repertório de mais de 30 canções, que será apresentado em cerca de 2h de show hoje à noite, inclui pérolas de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Tavinho Moura e do próprio Toninho. Entre elas Paixão e fé, Sonho real, Trem azul, Clube da Esquina 2 e Manoel, o audaz. Composições mais explosivas do movimento, como Nada será como antes e Fé cega, faca amolada, também estão no espetáculo, que será integralmente registrado em vídeo pelo cineasta Bruno Safadi (Meu nome é Dindi, Belair, Éden e O uivo da gaita) para registro em DVD promocional da formação, que partirá a seguir para turnê nacional.

TONINHO HORTA  & AS CORES DO CLUBE
Hoje, às 21h, no Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos a R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada). Informações: (31) 3516-1360

A versão dos vencidos - Ana Clara Brant

Festival de Diamantina começa hoje com 3 mil participantes. Histórias não contadas são tema do evento, que debate a relação de Tiradentes com a Revolução Americana



Ana Clara Brant

Estado de Minas: 19/09/2013 



O brasilianista Kenneth Maxwell chama a atenção para o caráter republicano da Inconfidência Mineira   (Eduardo Knapp/Agência Folha)
O brasilianista Kenneth Maxwell chama a atenção para o caráter republicano da Inconfidência Mineira


Quando o Festival de História de Diamantina (fHist) foi criado, há dois anos, os organizadores já sentiam que o evento – único do gênero no país – poderia se firmar, provando que o tema não se limita à academia. Tanto é que o festival, que começa hoje e vai até domingo, cresceu em números e importância. Viabilizado por recursos das leis de incentivo à cultura, deve receber cerca de 3 mil pessoas.

A ampliação das atividades e a incorporação de manifestações como música, cinema, poesia e fotografia é outro exemplo dessa consolidação, sem falar na relevância dos convidados. O fHist será aberto por um dos mais importantes brasilianistas: o historiador britânico Kenneth Maxwell. Fundador do Programa de Estudos do Brasil da Universidade de Harvard, ele vai falar sobre o papel de Tiradentes e sua relação com a Revolução Americana no contexto político internacional do século 18. A conferência de abertura contará também com Bruno Carvalho, professor de estudos brasileiros e estudos urbanos na Universidade de Princeton (EUA), e das historiadoras Júnia Furtado e Heloísa Starling, professoras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A programação tem como eixo a versão dos vencidos para fatos significativos da história brasileira. A agenda oferece mesas-redondas, conferências, oficinas, rodas de conversa, arenas digitais, exposições, lançamento de livros, concertos e shows. “Essa temática permite interessante diversificação de discussões e olhares. Nossa ideia sempre foi esta: criar um festival eclético. Vivemos um momento interessante no Brasil e na América Latina, porque há esforço da academia e da sociedade para recontar a nossa história, abrir baús e tirar a sujeira debaixo do tapete. O foco no que não foi contado permite abordagem bastante ampla”, destaca o jornalista Américo Antunes, coordenador do evento.

Entre os convidados estão os jornalistas e escritores Fernando Morais, Paulo Markun, Lira Neto, Ricardo Kotscho e Mário Magalhães; a historiadora especializada em arqueologia Valdirene do Carmo Ambiel, responsável pela exumação dos restos mortais de dom Pedro I e de suas mulheres, Leopoldina e Amélia; e a pesquisadora Isabel Lustosa, especialista em história da imprensa.

Desembarcarão em Diamantina a crítica cultural argentina Beatriz Sarlo, estudiosa dos dilemas e impasses da contemporaneidade no campo da cultura; o jornalista norte-americano John Dinges, autor de livros sobre os horrores praticados por ditaduras latino-americanas; e o antropólogo congolês Kabengele Munang, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em diáspora africana.

“É muito importante ver que a história, cada vez mais, faz parte do cotidiano das pessoas. Isso tem a ver com os desejos de transformação da sociedade, a necessidade de passar o país a limpo e de tomar outros rumos. Definitivamente, a história se mostra uma ferramenta fundamental de construção do presente”, conclui Américo Antunes.

CONFIRA

» Hoje

10h – Conferência “O outro lado da história: Tiradentes e a constituição da independência dos Estados Unidos da América”, com Kenneth Maxwell, Júnia Furtado, Heloísa Starling e Bruno Carvalho

14h – Mesa-redonda “Arqueologia e patrimônio: vestígios, restos e objetos que recontam a história”, com Rosana Pinhel Mendes Najjar, Marcelo Fagundes, Valdirene do Carmo Ambiel e Andrés Zarankin

16h – Mesa-redonda “Ditadura e jornalismo: a história contada a quente”, com Ricardo Kotscho, Paulo Markun e Fernando Morais
 
» Amanhã
9h – Mesa-redonda “Biografias reveladas: histórias da luta e do front”, com Mário Magalhães, Lira Neto e Ricardo Amaral

16h – Mesa-redonda “Histórias não contadas: memória e verdade em questão”, com Maria Rita Kehl, Heloísa Starling e Dulce Pandofi

21h – Leituras, com Maria Bethânia

» Sábado

11h – Mesa-redonda “Entre a cruz e aeroplano: perfis de mineiros no século 18”, com Guiomar de Grammont, Roberto Wagner de Almeida e Galeno Amorim

14h – Mesa-redonda “O Império do Brasil: nos bastidores da corte”, com Isabel Lustosa, Paulo Rezutti e Andréa Lisly Gonçalves

19h30 – Conferência “Testemunho e história”, com Beatriz Sarlo

21h – “História, cultura e resistência”, com Sérgio Vaz e Flávio Renegado

» Domingo

9h – Mesa-redonda “África/Brasil: histórias da diáspora e da identidade negra”, com Kanbengele Munanga, João José Reis e Petrônio Domingues



Três perguntas para...

Heloísa Starling
historiadora


Você participou da primeira edição do fHist, em 2011. Ele veio para ficar?

Realmente, vejo um crescimento com relação à estreia. A nova edição está muito melhor, traz nomes importantes do cenário nacional e internacional, como a crítica argentina Beatriz Sarlo e o jornalista norte-americano John Dinges. O festival tem todas as condições de se consolidar. Há público para isso, mas isso depende de outras questões, como a própria infraestrutura de Diamantina.

Por que o festival é tão significativo?

Além de ser evento único no país – não há nada parecido aqui –, ele não se restringe à academia. Além disso, dialoga com várias áreas e manifestações artísticas e culturais. Por causa dessa leveza, desse desprendimento, ele é tão especial.

As histórias não contadas são o tema desta edição. Qual é a importância de revivê-las?

Além da questão da Comissão da Verdade, que vem promovendo um momento de verdadeiro desvelamento no país, há várias histórias desconhecidas de nosso país. Isso vem desde os tempos do Brasil colônia, ocorre com várias rebeliões e revoltas escravas, por exemplo. Há muita coisa que as pessoas não conhecem. Reconstituir essa memória é importantíssimo.

A vez da poesia
   (Marcelo Sant%u2019Anna/EM/D.A Press - 17/3/09)

Uma das atrações mais esperadas é Maria Bethânia (foto), que vai mesclar leitura de textos com canções pouco comuns em seu repertório. A baiana estará acompanhada pelo violonista Paulo Dafilin e pelo percussionista Carlos César. O espetáculo, em que a cantora declama poesia brasileira, africana e portuguesa, estreou no projeto Sentimentos do Mundo (2009), no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais, em BH. Agora, vai virar DVD e livro.

2º Festival de História de Diamantina (fHist)

Até domingo, em Diamantina. Programação completa: www.festivaldehistoria.com.br.
As inscrições estão encerradas.

A idade das digitais

Brasileiros apresentam em revista internacional estudo sobre técnica que permite medir há quanto tempo uma marca das mãos ou dos dedos foi feita. A metodologia surgiu durante a investigação de um crime em Brasília


Bruna Sensêve


 Estado de Minas: 19/09/2013


Brasília – Diferentemente do que mostram as longas e árduas investigações da série de televisão norte-americana CSI, a identificação de uma impressão digital, palmar ou da planta dos pés é suficiente para solucionar um caso policial. Isso porque, muitas vezes, o vestígio pertence a uma pessoa que não tem acesso legítimo ao local do crime, e a comprovação de que ela esteve ali facilita imensamente o trabalho dos investigadores. No entanto, nem sempre o autor é alguém desconhecido das vítimas, e as impressões encontradas são todas de indivíduos que costumam ir ao local. Nessas situações, a investigação tende a se complicar, e a informação sobre o momento em que determinada impressão foi marcada na cena — antes, durante ou depois do crime — pode ser crucial para elucidar a história.
Foi um desses casos que chegou, em 2009, à equipe do Laboratório de Perícia Papiloscópica do Instituto de Identificação da Polícia Civil do Distrito Federal (II-PCDF). Ao investigar o homicídio do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, de sua mulher e da empregada da casa, os responsáveis pelo caso não acharam nenhuma impressão digital estranha. Chegou-se, então, à necessidade de confirmar quando a marca de uma palma da mão havia sido feita em um móvel do apartamento, na 113 Sul, em Brasíia (DF). O objetivo era descobrir em qual período o dono daquela impressão palmar tinha passado pelo local. Frente a esse desafio, o papiloscopista brasiliense Rodrigo Meneses de Barros, que ficou encarregado da missão, desenvolveu um método para chegar à resposta. Replicada em um experimento na Universidade de Brasília (UnB), a técnica foi descrita na última edição da respeitada revista forense internacional Science and Justice.
A demanda era nova para o laboratório. O grupo se reuniu e buscou, na bibliografia especializada, apoio científico para a análise. Um dos trabalhos mais expressivos sobre o tema é o da cientista Krystyna Baniuk, publicado na Forensic Science International em 1990. Segundo ela, as cristas observadas em uma impressão sofrem uma redução de espessura com o passar do tempo, fenômeno que pode ser detectado com microscópio. O conjunto de cristas e sulcos é deixado por uma secreção da pele sobre o objeto tocado. Na palma das mãos e dos pés, está presente somente a secreção originária de glândulas sudoríparas. No restante do corpo, glândulas sebáceas também produzem um resíduo.
“Uma impressão digital é uma mistura de secreções, já que estamos constantemente levando a mão a diversos locais do corpo, como o rosto e o cabelo. É essa mistura que sofre alterações com o tempo”, explica Barros. As modificações contribuem para a diminuição registrada na largura das cristas. “Outra característica que analisamos foi o percentual de cristas visíveis. Elas se tornam menos nítidas e algumas desaparecem”, completa.
O trabalho da pesquisadora pioneira também abria a possibilidade de analisar a evolução de impressões digitais em laboratório, recriando as condições da cena do crime.
Com esses dados à disposição, a equipe da PCDF partiu para as análises. Novas impressões do suspeito foram colhidas e armazenadas em uma câmara climatizada, que replicava as condições ambientais encontradas no apartamento. Registros das mudanças nas características das digitais foram feitos diariamente. As marcas levadas ao laboratório foram, então, comparadas com a da impressão achada na cena do crime. Isso deu uma boa estimativa de quando aquela mão havia se apoiada no móvel – portanto, de quando o suspeito havia estado no apartamento onde os Villela foram mortos. Sem revelar qual foi o resultado da análise, Barros diz que o estudo foi muito bem-sucedido.

Na UnB A experiência positiva foi levada à academia. O especialista apresentou um estudo sistematizado dessa metodologia como dissertação de mestrado na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília em março. Para isso, precisou repetir os experimentos, com uma nova equipe, formada pelas pesquisadoras Bruna Faria e Selma Kuckelhaus, que também assinam o artigo publicado na Science and Justice.
Vinte voluntários, sendo 10 mulheres e 10 homens, permitiram que suas impressões digitais fossem colhidas. O material foi, em seguida, mantido sob condições ambientais controladas. Um estudo morfométrico foi realizado nas marcas, utilizando um pó magnético que torna os detalhes mais visíveis, em sete diferentes intervalos de tempo após deposição: zero, cinco, 10, 15, 20, 25 e 30 dias. As avaliações consideraram um número de 60 cristas para cada digital.
“Em um período de 30 dias pudemos observar diferenças bastante significativas. Os atributos de largura das cristas e o percentual de cristas visíveis tornam possível fazer uma estimativa de quando foram depositados os vestígios”, afirma Barros.

Condições certas O especialista técnico Nadiel Dias, diretor adjunto do Instituto de Identificação da PCDF, ressalta que essa técnica não pode ser usada em todos os casos. Uma impressão digital encontrada no teto de um veículo, por exemplo, não é passível dessa metodologia, já que ela pode sumir em pouquíssimo tempo, dependendo da temperatura do local e a que condições foi exposta.
Para desenvolver esse tipo de trabalho, as condições e o local em que os vestígios foram encontrados precisam ser reproduzidos em laboratório. “O ambiente precisa dar boas condições. Se houver um local totalmente exposto ao sol, ele não é passível de ser reproduzido”, exemplifica Dias.
Geralmente, um ambiente interno protegido da chuva e da incidência direta do sol é o ideal para essa análise. “Se fizermos um experimento desse na Polônia, por exemplo, as condições são outras, porque, no frio, a bactéria que atua nesse processo não se reproduz da mesma forma. Tudo influencia, por isso deve sempre ser feito um novo experimento, no qual são reproduzidas as condições do local onde foi cometido o delito”, conclui o pesquisador. 

Ruas de junho e ironias da história

Vinícius De Bragança Müller e Oliveira

Professor de história econômica do Instituto de Ensino e Pesquisas (Insper)

Estado de Minas: 19/09/2013



Encontrar a medida certa entre a análise eventual, fruto do curto prazo e tomada por preferências e simpatias pessoais, e a análise estrutural, de prazo alongado, amparada em rigor científico e leitura cuidadosa, é uma das mais difíceis tarefas daqueles que pensam com o mínimo de profundidade os caminhos tomados pela sociedade.

As manifestações de junho que incendiaram o país são exemplos de tal dificuldade, dada a eventual adesão de parcelas da população que, a princípio, não deveriam reclamar da conjuntura; afinal, “nunca antes neste país” tivemos tantos motivos para comemorar: ascensão das classes E, D e C, Copa do Mundo e Olimpíadas no horizonte próximo, taxas de desemprego controladas e tudo isso patrocinado por um governo cujo representante maior é oriundo das classes populares, invertendo séculos de domínio da elite corrupta e encastelada na desigualdade que
a beneficia.

Pensei nisso após ouvir meu pai, logo no início das manifestações, indagar sobre os reais motivos de tanta gritaria, já que, segundo ele, não tínhamos uma crise econômica nem um governo autoritário. Indagação típica de quem viveu e lutou contra o governo militar nos anos 70 e enfrentou a hiperinflação dos anos 80.

Em ao menos três situações durante os últimos 100 anos o país viveu momentos de euforia seguida de depressão. As três estiveram historicamente ligadas a líderes de alta popularidade e fortemente personalistas: Vargas, Juscelino e Lula. Cada um promovendo, ao seu modo, a ascensão de grupos sociais escolhidos para serem os símbolos da prosperidade que caracterizaria seus respectivos governos.

A ascensão dos operários e de suas organizações sindicais marcou o governo de Vargas e foi garantida pela ampliação dos direitos políticos e sociais entre a população urbana. Tais direitos, etapas de construção do mundo ocidental pós-iluminista, tiveram no Brasil que se industrializava campo fértil, mas foi limitado pelo autoritarismo de uma das ditaduras mais ferozes que já tivemos. Quando, já nos anos 50, Vargas retomou seu projeto em ambiente democrático, seu governo terminou em uma das maiores crises políticas da história recente, culminando no suicídio de agosto de 1954.

Juscelino, por sua vez, escolheu a classe média como símbolo de seu governo, amparado como estava pela ascensão dos trabalhadores promovida por Vargas. Em outras palavras, o operário beneficiado pela política varguista transformava-se, nos anos de JK, em classe média urbana. Isso em meio ao auge dos debates ligados à Guerra Fria e, portanto, fortemente influenciado pelo que ditavam os EUA. À classe média alta, automóveis; à classe média baixa, eletrodomésticos. Juscelino foi um dos mais populares presidentes da história do Brasil, mesmo que tenha deixado as contas públicas arrasadas e não tenha conseguido eleger seu sucessor.

Já Lula, beneficiado pela melhoria institucional dos anos que o antecederam e pela favorável conjuntura econômica internacional, apostou coerentemente na ascensão das classes E, D e C como símbolo de seu governo. Desdenhou qualquer tipo de crítica que recebia como sendo manifestação da inveja que tinham os opositores de sua popularidade e garantiu que houvesse uma sensação, muitas vezes real, de melhoria de vida da população. Telefonia celular e outros eletrônicos invadiram a vida dos brasileiros, assim como cartões de crédito e financiamentos de automóveis a perder de vista. Elegeu sua sucessora, mas não ampliou significativamente os investimentos em saúde e educação. Em suma, andar de automóvel e falar ao celular, e não ser mais educado e saudável, são os símbolos da ascensão promovida por Lula. Por isso o cartaz que vi em uma das manifestações “queremos hospitais e escolas padrão FIFA” representa o limite dessa ascensão.

Vargas, Juscelino e Lula fazem parte da mesma trajetória, mas deixaram heranças muito diversas. Longe do alarmismo, é ínfima a chance de termos o desfecho trágico como nas duas primeiras ocasiões. Contudo, isso não ocorrerá pela eficiência dos governos Lula e Dilma, e sim pela solidez institucional que, por ironia da história, foi o legado do governo anterior ao de Lula. Aquela mesma, a chamada “herança maldita”. 

ESPIONAGEM » Desconfiança com adiamento de visita Renata Tranches

Estado de MInas: 19/09/2013 



Brasília – Tratada nos últimos anos como uma parceria que amadureceu, a relação entre Brasil e Estados Unidos entrou em prova de fogo após a decisão da presidente, Dilma Rousseff, de adiar a visita de Estado a Washington, programada para outubro. O governo brasileiro concluiu que não há clima para o compromisso depois de considerar insatisfatórias as explicações da Casa Branca sobre as denúncias de espionagem no Brasil. Jornais internacionais alertaram que a medida representa um revés para o relacionamento dos países. Analistas consultados pelo Estado de Minas afirmam que a atitude de Dilma não muda nada na agenda dos dois países, enquanto o equilíbrio for mantido, mas que a situação criou um clima de desconfiança entre setores comerciais dos países.

O equilíbrio observado no tratamento ao tema, segundo o especialista da agência de análise de risco Eurasia Group (Nova York) João Augusto de Castro Neves, será fundamental a partir de agora para impedir uma deterioração nas relações. Uma tarefa que muito dependerá da presidente Dilma, que levará o assunto para seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU. A decisão da presidente, para ele, já levou em consideração esse equilíbrio ao usar a expressão "adiar" e não "cancelar" a visita — a primeira no segundo mandato de Obama. "É um grande desafio para ela. Pessoalmente, porque não quer afetar esse canal de negócios com os EUA, mas ao mesmo tempo tem de demonstrar altivez e autonomia ao público brasileiro, os eleitores", avaliou. O cientista político especialista nas relações entre Brasil e EUA da American University (Washington) Matthew Taylor diz que “os dois lados sabem que não há ganhos sensíveis em extrapolar na discordância" e que não convém levar esse embate às últimas consequências".

Para alguns jornais internacionais, a decisão significou um retrocesso nas relações entre os dois paíse que evoluíram nos últimos anos, como afirmou o Financial Times, graças ao investimento de capital político de Dilma e Obama. O New York Times, por sua vez, assinalou que a decisão "ameaça reverter anos de esforços de Washington para reconhecer o perfil crescente do Brasil no mundo em desenvolvimento e neutralizar a crescente influência da China".

Eduardo Almeida Reis-Democracia‏

Que culpa têm os vizinhos do governador para ter suas calçadas e suas ruas transformadas em praças de guerra?


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 19/09/2013 



Democracia

Setenta anos depois do Manifesto dos Mineiros, documento que honrou as melhores tradições de Minas Gerais, temos tido diversas manifestações de mineiros e de outros patrícios na maioria dos estados deste país grande e bobo. Muitas são democráticas, é certo, mas precisamos separar as que são realmente democráticas das outras, que já são maioria. É justo que o povo do Rio de Janeiro esteja farto dos desmandos do governador Sérgio Cabral Filho. Falei desmandos, quando poderia ter dito coisa muito pior. Daí a interditar o acesso ao apartamento em que o governador mora com a sua atual família, prejudicando a vida de centenas de vizinhos que não têm nada com os seus desmandos, vai uma grande distância. Que culpa têm os vizinhos do governador para ter suas calçadas e suas ruas transformadas em praças de guerra: gás lacrimogêneo, spray de pimenta, pedradas, pauladas, rojões, tiros com balas de borracha e mesmo com balas de metal? E o quebra-quebra nas imediações: agências bancárias, lojas comerciais, postes? 

Também é muito justo que os moradores nas margens de diversas rodovias federais e estaduais mineiras reivindiquem a construção de passarelas, que lhes permitam atravessar as pistas sem risco de atropelamento. Daí a interditar a rodovia por 10, 12 horas, por meia hora que seja, vai uma grande distância. As pessoas que estão passando por ali têm compromissos, horários, médicos marcados, conexões com aeroplanos. Não é justo nem democrático que percam seus compromissos comerciais, suas consultas médicas, suas conexões, porque os moradores de Congonhas, de Ewbanck da Câmara e de outras localidades reivindicam a construção de passarelas.


Chicana
Do francês chicane, nos melhores dos nossos dicionários chicana é “sutileza capciosa em questões judiciais” ou “dificuldade criada, no curso de um processo judicial, pela apresentação de um argumento com base num detalhe ou num ponto irrelevante”. É muito de espantar que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que não é flor que se cheire, fique ofendido quando um colega diz que ele está fazendo chicana em determinado julgamento, como de fato estava: é contumaz chicaneiro. Pelo menos cinco articulistas conhecidos criticaram o presidente do STF por ter dito que o colega fazia chicana. Eventuais virtudes nas biografias dos cinco, somadas, não chegam aos pés da história de vida do doutor Joaquim Benedito Barbosa Gomes. Papel e tinta custam dinheiro, cascalho, erva, capim. Pena que o capim seja gasto para veicular  asneiras dos tais cavalheiros: no episódio em tela, melhor fariam se pastassem a graminácea.

Confusão
A mídia tem feito confusão com as palavras companheiro e namorado. Aquele cavalheiro David Miranda, que em boa hora foi preso para averiguações no aeroporto de Londres, não é companheiro do advogado/jornalista que abastece o jornal The Guardian de informações roubadas pelo traidor Snowden: é namorado. Vivem juntos e se curtem, se adoram, se cheiram, se amam. Companheiros são Aloysio Mercadante e José Eduardo Cardozo no admirável ministério Rousseff, onde contam ainda com o notável companheiro Crivella, ministro da Pesca. Namorados são casais de homens, casais de mulheres e casais daqueles que se usavam no tempo de antigamente, compostos de homem e mulher. É claro, como também é lógico e evidente, que David, namorando o jornalista, participa de suas atividades profissionais. Não teria cabimento que o norte-americano, ao escrever suas matérias, vendasse os olhos e aplicasse fones de ouvido no seu amor, para não tomar conhecimento dos assuntos que veicula. Resumindo: não gosto de perder tempo com tolices. A gloriosa polícia britânica obrou muitíssimo bem. E tem mais uma coisa: nossa imprensa precisa parar de perder tempo com os brasileiros presos no exterior. Os brasileiros beiram 200 milhões de almas e a esmagadora maioria não é flor que se cheire. Portanto, detenções de nove horas para averiguações são legais e embasadas, como disseram os ingleses. Em rigor, o doutor David Miranda só interessa ao seu namorado. Que sejam felizes.

O mundo é uma bola
19 de setembro de 1356: João II de Valois, o Bom, rei da França, é capturado pelos ingleses na Batalha de Poitiers. Filho de Filipe VI da França, João casou-se aos 13 anos com Bona de Luxemburgo, filha de João, o Cego, rei da Boêmia, com quem teve nove filhos. João II foi um dos reis franceses mais envolvidos na fase inicial da Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Em 1559, uma tempestade mata 600 pessoas nos naufrágios de navios espanhóis ao largo de Tampa, Flórida. Em 1861, Oliveira (MG) é elevada à categoria de município pelo fato de contar com o distrito do Morro do Ferro, terra da família Romano. Em 1909, a Guarda Suíça do Vaticano volta a vestir-se nos conformes do Michelangelo estilista. Em 1956, lei autoriza Juscelino Kubitschek a transferir para Brasília a capital do Brasil. Em 1985, um terremoto de 8.1 na escala Richter mata 9,5 mil, fere 35 mil e deixa 100 mil desabrigados na Cidade do México. Foi “outro dia” e ainda tem gente que gosta de fazer turismo na capital mexicana. Hoje é o Dia do Teatro e do Ortopedista.

Ruminanças
“Não há nada mais fútil, mais falso, mais vão, nada mais necessário que o teatro” (Louis Jouvet, 1877-1951).