terça-feira, 25 de março de 2014

Maria Ester Maciel - A poesia e os dias‏

A poesia e os dias


Maria Ester Maciel
Estado de Minas: 25/03/2014


Na sexta-feira, 21 de março, comemorou-se o Dia Internacional da Poesia. Fui lembrada da data por uma ex-aluna, que me enviou um poema de Drummond logo de manhã, a título de celebração. Assim, comecei a sexta com a (ingênua) expectativa de que aquele seria um dia especial. Mas tão logo abri os jornais, vi que a data não trazia nenhum tipo de encantamento para o mundo. As notícias eram puro desencanto. Entre elas, a falta de pistas sobre o avião da Malaysia Airlines, misteriosamente desaparecido com 239 pessoas a bordo; o agravamento da crise na Ucrânia; o absurdo dos preços no Brasil; a libertação dos policiais que arrastaram Claudia Silva Ferreira, numa viatura, pelas ruas do Rio de Janeiro; a confissão feita por um coronel reformado do Exército quanto à sua responsabilidade na ocultação do corpo de Rubens Paiva, cruelmente torturado no período da ditadura militar. E muitas outras coisas lamentáveis.

O que, entretanto, me salvou desse dia sem poesia foi o contato com os surpreendentes poemas do livro O corpo no escuro, de Paulo Nunes, recém-publicado pela Editora Companhia das Letras. Altamir Fernandes – professor e historiador de Patos de Minas, que sempre me envia textos e notícias interessantes por e-mail – sugeriu-me essa leitura, acrescentando que o Paulo era de Patos e tinha atuado na vida cultural de nossa terra, tempos atrás. Na mesma hora, encomendei o livro, que só pude ler na sexta. E, coincidentemente, ao receber o Estado de Minas no dia seguinte deparei-me com a ótima entrevista feita por Carlos Herculano Lopes com o referido poeta, o que me deixou ainda mais entusiasmada. Altamir tinha razão: a chegada da poesia de Paulo Nunes ao mundo literário brasileiro é algo a ser, mesmo, comemorado pelos seus conterrâneos. Ele é um poeta e tanto, desses que não aparecem por aí todos os dias.

Ainda na esteira das revelações poéticas, recebi, na tarde de domingo, outro e-mail do Altamir. Desta vez com a cópia de um número antigo do jornal patense Folha Diocesana, em que era noticiado o acidente de carro que deixara o grande poeta Altino Caixeta de Castro em estado grave num hospital de Patos, em outubro de 1959. Esclareço que Altino (o Leão de Formosa) foi mestre de praticamente todos os poetas de Patos ao longo de várias décadas, até sua morte, ocorrida em 1996. Mas o mais curioso na tal notícia de 1959 é a referência à situação precária da energia elétrica na cidade da época, o que poderia comprometer a cirurgia a ser feita no poeta, à noite. Para que sua vida fosse salva (afinal, ele era “o único menestrel da capital do Alto Paranaíba”, segundo a matéria do jornal), a prefeitura decidiu cortar – como prova do apreço dos patenses por ele – a energia de vários pontos da cidade, incluindo o Centro, de modo a concentrar, ao máximo, a força elétrica na região onde ficava o hospital. Assim, a operação poderia ser feita com segurança. Deu certo. Altino não apenas se salvou, como continuou, mais do que nunca, a se dedicar à poesia.

Um gesto como esse da cidade patense dos anos 1950 seria impossível no mundo desencantado de hoje. Mas que a memória desse gesto fique aqui como uma homenagem aos poetas e à poesia de todos os tempos.

Tereza Cruvinel - É a economia...‏

Tereza Cruvinel - É a economia...

Para desgastar Dilma, as notícias econômicas de ontem podem ser mais eficazes que a pretendida CPI da Petrobras
Estado de Minas: 25/03/2014


Depois de dobrar dois recalcitrantes, o ex-presidente Fernando Henrique e o governador Eduardo Campos, o pré-candidato tucano Aécio Neves deve unificar hoje os partidos de oposição no esforço para garantir a CPI mista da Petrobras. O segundo passo será buscar apoio entre os insatisfeitos da base governista para contornar a barricada que vem sendo montada por PT e aliados. Mas, afora a maioria avassaladora de que o governo dispõe, a oposição enfrenta o fato de que esse não é o tipo de assunto que mobiliza a opinião pública, forçando de fora para dentro a investigação parlamentar. Para desgastar Dilma, as notícias econômicas de ontem podem ser mais eficazes que a pretendida CPI.

O potencial de desgaste para a presidente existe. Afinal, pela legislação brasileira, os integrantes dos conselhos de administração das estatais respondem judicialmente e perante os tribunais de Contas pelos atos da diretoria executiva que aprovaram. Dilma não só integrava o conselho da Petrobras como o presidia quando a proposta de compra da refinaria de Passadena foi aprovada, com base em pareceres que, agora, ela classificou de falhos e incompletos. A demissão, por ordem dela, na sexta-feira, do responsável por tais pareceres, Nestor Cerveró, deu mais consistência ao discurso de Aécio de que o governo ficou quieto durante oito anos, só agindo agora, sob pressão da imprensa e da oposição. A nota do Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos do PSDB, é duríssima. Termina dizendo que, “de forma direta, Dilma Rousseff esteve metida nesses negócios nefastos ao interesse nacional. Agora, tenta imputar a outrem a responsabilidade por eles e a culpa pela lambança. Não é possível. Exercer a Presidência, seja do Conselho de Administração de uma companhia, seja de um país, não é algo que se possa terceirizar”.

Mas, a poucos meses da eleição, a maioria governista montará um palanque para a oposição? Apesar das refregas com o PMDB, não há sinais de que o partido esteja, em sua maioria, disposto a bandear-se para a oposição. Ah, mas tem o grupo de Eduardo Cunha. Tem, mas também ele e seus mais leais seguidores estão querendo dobrar Dilma, não inviabilizar a reeleição com a qual sairão também ganhando. Nesta altura do ano eleitoral, os deputados querem é montar suas campanhas e tratar da reeleição. O escândalo com o mau negócio da Petrobras foi um alento para a oposição, mas as notícias econômicas de ontem, dependendo de seus desdobramentos sobre a vida real, podem ser muito mais eficientes para o desgaste de uma candidata que continua favorita, graças ao sentimento de conforto da maioria, apesar da má vontade do topo da pirâmide social e das estruturas políticas, incluindo parcela do PT. Num só dia, uma importante agência de risco, a Standard & Poors, rebaixou a nota do Brasil como destino de investimento, o Banco Central elevou a previsão de déficit nas contas externas para US$ 80 bilhões e o mercado aumentou para 6,28% a previsão de inflação para este ano, percentual perigosamente próximo do teto da meta, de 6,5%. Os negócios da Petrobras não sensibilizam o eleitorado de Dilma, de baixa renda e baixa escolaridade. Já a inflação mexerá com o bolso dessas camadas que ampliaram seu poder de consumo e não estão dispostas a recuar.

Memória do golpe: A Revolta dos Marinheiros

Hoje faz 50 anos. O golpe já estava planejado, mas ganhou mais munição. Em 25 de março de 1964, os marinheiros se reuniram na sede dos Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, reivindicando o reconhecimento de sua associação, que estava proibida, melhoria da comida a bordo e mudanças no regulamento interno que vedava, inclusive, o casamento antes de 10 anos de serviço ativo. Ao ato, compareceram estudantes, ativistas pró-reformas, o líder da Revolta da Chibata (1910), João Cândido, com mais de 80 anos, e o então deputado Leonel Brizola, “radical” da esquerda petebista. O líder do movimento, porém, se tornaria tristemente famoso, não por sua liderança, mas por uma traição: José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo. O ministro da Marinha, Silvio Motta, mandou prender os cabeças da revolta e enviou ao local um grupamento de fuzileiros navais, que baixou as armas e aderiu ao movimento. O comandante dos fuzileiros, Almirante Aragão, era ligado a Brizola. As Forças Armadas, como todo o Brasil, estavam rachadas entre grupos pró e contra o governo Jango. Do Sul, onde passava a Semana Santa, Jango proibiu a invasão do sindicato, causando a renúncia do ministro da Marinha. De volta ao Rio, nomeou para seu lugar o almirante Paulo Mário, que, horas depois, anistiou os revoltosos, o que irritou a cúpula militar e contribuiu para a detonação antecipada do golpe. Jango foi acusado de estimular a quebra da hierarquia. Na ditadura, depois de militar em organizações de esquerda, Anselmo foi aliciado pelas forças da repressão. Documentos descobertos mais recentemente indicam que ele já era agente infiltrado antes de 1964 – e, portanto, da revolta. Com suas delações, causou a prisão, a tortura e a morte de dezenas de militantes, inclusive a da mulher dele, grávida de quatro meses, a paraguaia Soledad Barret.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 25/03/2014



 (Frazer Harrison/Getty Images/AFP)
SÓ INÉDITOS
O canal Universal volta a exibir hoje, às 23h, episódios inéditos da 15ª temporada de Law & order: Special victims unit, com apresentação do 14º episódio, que conta com participação especial de John Benjamin Hickey (foto). A Unidade de Vítimas Especiais investiga o desaparecimento de um garoto de 7 anos, Nicky (Duncan Nicholson), que pode ter fugido durante a madrugada. A mãe, Lisa (Jodie Markell), conta que o menino foi adotado há dois anos e, às vezes, fugia de casa, mas à tarde. Já o pai, Tom (John Benjamin Hickey), revela que o filho é um pouco isolado na escola e tem problemas para socializar-se com outras crianças.


PAIXÃO E LOUCURA EM FILME DE TRUFFAUT
O Telecine Cult exibe, às 20h10, A história de Adèle H., filme de François Truffaut lançado em 1975. Adèle Hugo, filha do escritor Victor Hugo, está apaixonada pelo tenente Pinson, que a abandona para servir na base de Halifax, no Canadá. Atormentada, ela não consegue esquecê-lo e segue em uma perseguição que resulta em sua própria loucura. No papel-título, Isabelle Adjani.

SÁTIRA EM ANIMAÇÃO NO COMEDY CENTRAL
Entra no ar às 20h30, no canal Comedy Central, a 17ª temporada de South Park, série animada criada por Trey Parker e Matt Stone. Com humor negro, a atração satiriza a sociedade de hoje e a cultura americana por meio de histórias e situações surreais dos seus personagens: quatro crianças.

PARTO DE GÊMEOS COM MUITA EMOÇÃO
Estreia às 21h, no GNT, a nova temporada do programa Boas-vindas. No primeiro episódio, é apresentada a história de Ana Paula e Bruno. Eles planejaram a gravidez nos mínimos detalhes, e descobriram que seriam pais de gêmeos. Mesmo ouvindo que o parto normal poderia ser perigoso para os gêmeos, Ana pesquisou e decidiu que queria ter um parto normal e o mais humanizado possível. O parto levou horas e foi emocionante.

DISPUTA GASTRONÔMICA ENTRE CHEFS CRIANÇAS
O Discovery Home & Health exibe, às 21h30, episódio da série Junior masterchef. O reality acompanha a disputa gastronômica entre crianças de 8 a 12 anos. Quem pensa que vai assistir a um festival de pizzas, sanduíches e gelatinas engana-se. Esses jovens precisam provar aos jurados que são capazes de aplicar conhecimento, criatividade e técnica em suas criações. Nesse episódio, os participantes terão que provar que entendem muito bem de uma das iguarias mais apreciadas do mundo: o chocolate.

CONHEÇA O LEOPARDO DOS CONFINS DO AFEGANISTÃO
O Nat Geo apresenta, às 21h30, documentário sobre o leopardo-das-neves, que vive no Afeganistão. Montar uma expedição de conservação de vida silvestre em uma zona de guerra parece estar fora do senso comum e desafia os conselhos do Departamento de Estado dos EUA. A região onde esse leopardo habita é propensa a avalanches, tempestades de areia e bruscas quedas de temperatura. Contra todas as probabilidades, a equipe do canal consegue capturar um – o primeiro a ser pego no Afeganistão por uma expedição científica – e recolher dados inéditos sobre seus movimentos e seu comportamento.


CARAS & BOCAS » Tudo por ele
Simone Castro
simone.castro@uai.com.br

Laerte (Gabriel Braga Nunes) é disputado por quatro mulheres na trama de Em família (João Miguel Júnior/TV Globo)
Laerte (Gabriel Braga Nunes) é disputado por quatro mulheres na trama de Em família
Elas não medem esforços para ficar com Laerte, o flautista interpretado por Gabriel Braga Nunes na trama de Em família. Apesar do jeitão introspectivo, possessivo disfarçado, tímido, mas extremamente sedutor, o músico é desejado por nada menos do que quatro mulheres da novela de Manoel Carlos. Além da mulher, Verônica (Helena Ranaldi), Luiza (Bruna Marquezine) é encantamento total e vive discutindo com a mãe, Helena (Julia Lemmertz), primeira namorada de Laerte, que ainda não o esqueceu. Já Shirley (Viviane Pasmanter) não esconde seu desejo de tê-lo a qualquer custo e vai à luta jogando com armas nem sempre muito honestas. Não bastasse armar um flagrante ao trocar beijos com ele numa boate, em breve jogará o filho deles, Leto (Ronny Kriwat), para cima de Luiza, na tentativa de tirar a garota do páreo. “A paixão de Helena por Laerte é inacabada. Ela vai pensar nele por um bom tempo”, diz Julia. “Luiza e Helena são igualmente sensíveis e querem o mesmo cara. Por isso brigam a toda hora”, avalia Bruna Marquezine. “São os triângulos e quartetos amorosos que agitam a vida dos personagens. Tudo vai virar de ponta-cabeça”, adianta o autor. Também com a intenção de afastar a mulher do músico, Virgílio (Humberto Martins) jogará uma cartada e tanto: dirá a Helena que vai apoiar a filha, Luiza, caso ela se envolva com Laerte. A leiloeira vai ficar com ódio e quebrará um espelho. Conciliador como sempre, Virgílio recuará e prometerá à mulher afastar a filha de Laerte. E ainda mentirá ao dizer que a filha nunca pensou em ter nada com o músico.


TROCA DE PROTAGONISTAS EM NOVELA QUE VEM AÍ
Búu, novela das sete que estreia em novembro na Globo, perdeu Débora Falabella como protagonista. Ela teria deixado a produção, em que faria par romântico com o personagem de Bruno Gagliasso, quando o ator se recusou a participar da trama, segundo o site Notícias da TV. Atualmente, ele é Franz em Joia rara (Globo). Assim, volta-se aos planos iniciais, que era de a mocinha ser interpretada por Nathalia Dill. A atriz só teria sido substituída para não repetir com Bruno o par que chegaram a formar na novela das seis. Houve outras mudanças: Sérgio Guizé, que seria o vilão, agora foi alçado ao posto de mocinho e como o mau da história entrará em cena Rodrigo Lombardi, que vai estrear (em abril) em Meu pedacinho de chão. O ator, então, viverá seu primeiro vilão. Ele dividirá as maldades com a parceira, interpretada por Cláudia Raia. A trama é de
Daniel Ortiz, com supervisão de Sílvio de Abreu.

PEDIDO DE CASAMENTO VAI AGITAR PENSÃO
No capítulo de hoje de Joia rara, um pedido de casamento inesperado vai agitar a pensão de dona Conceição (Cláudia Missura). É que Cléo (Luana Martau) decide não dormir mais com Joel (Marcelo Médici) até que ele a peça em casamento. E não é que o coreógrafo resolve ceder? “Eu e a pequenina vamos nos casar”, declara ele, deixando a moça chocada. “Estou em meu juízo perfeito? Não, não estou. Espero mudar de ideia em breve. Mas, enquanto isso não ocorre, que seja. Eu me caso”, explica Joel, recebendo um beijo de Cléo.

ELLEN JABOUR COMPARA SANTORO A DON JUAN
A apresentadora e modelo Ellen Jabour comentou, no quadro “Inimigo secreto”, do programa A máquina, que vai ao ar hoje, às 23h30, na TV Gazeta, passagem de quando namorava o ator Rodrigo Santoro. “Era muito chato às vezes chegar em casa, eu queria encontrar o Rodrigo e eu encontrava o Don Juan, eu chegava e ele estava falando espanhol. Ele ficava naquele personagem e não saía por nada. Ele incorporava, parecia que tinha baixado um espírito”, brincou Ellen. Em outro momento, ela contou que é vegetariana desde os 15 anos, quando começou a se espiritualizar e que já ficou uma semana sem dormir por ter projeção astral. “Achava que estava acordada e estava dormindo e meu corpo cheio de luz. Fiquei com medo, porque minha mão passava pela parede. Eu sabia que não podia olhar pra trás porque veria meu corpo”, afirmou.

ATOR VAI SER PAPAI
A atriz Mila Kunis está grávida do noivo, o ator Ashton Kutcher, segundo o site E!. Será o primeiro filho do casal. “Os dois estão muito, muito felizes. Mas ainda é muito cedo”, disse uma fonte do casal à revista People, afirmando ainda que ela não está grávida de gêmeos, como alguns veículos noticiaram. Kunis, de 30 anos, e Kutcher, de 36 , estão juntos desde abril de 2012. Os dois atuaram na série That 70’s Show, e Kutcher foi o responsável pelo primeiro beijo da atriz, que tinha 15 anos na época da estreia na TV. Noivos desde o início do ano, com direito a pedido ao pai da atriz, o casal ainda não marcou a data do casório, mas espera subiu ao altar ainda este ano.


VIVA
Linda cena entre Marina (Tainá Müller) e Clara (Giovanna Antonelli) na trama de Em família.


VAIA
Chata da Heloísa (Flávia Alessandra), que já nem menciona a filha em Além do horizonte (Globo).

TRÊS BRASIS » Conversa de cordas e sopro‏ - Eduardo Tristão Girão

TRÊS BRASIS » Conversa de cordas e sopro
 
Mais conhecido pela ligação com a música de raiz, o violeiro Chico Lobo grava disco de temas instrumentais com trio formado com Paulo Sérgio Santos e Márcio Malard 
 
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 25/03/2014


O violoncelista Márcio Malard e o clarinetista Paulo Sérgio Santos com o compositor mineiro Chico Lobo (Mário de Aratanha/Divulgação)
O violoncelista Márcio Malard e o clarinetista Paulo Sérgio Santos com o compositor mineiro Chico Lobo
 Chico Lobo é referência central da viola mineira, mas até então nunca gravara um disco instrumental. O artista confessa que tinha resistência à ideia, pois só aceitaria fazer algo que julgasse realmente novo – vale lembrar que nunca se experimentou tanto com essas 10 cordas como hoje. Pois a oportunidade que lhe apareceu não foi qualquer uma: a partir dos toques de viola registrados por Sérgio Lima Netto em seu estúdio em Araras (RJ), acrescentar o clarinete de Paulo Sérgio Santos e o violoncelo de Márcio Malard. Assim surgiu o recém-lançado 3 Brasis.

“Eu e Paulo Sérgio Santos participamos juntos de alguns shows e ele participou da música Canto a cântaros, do meu CD Caipira do mundo. Já o Márcio Malard não o conhecia pessoalmente, mas é amigo do Sérgio e sempre gravou muito lá no estúdio dele. O bacana é que, logo em seguida do início das gravações, eu e Márcio nos encontramos duas vezes no palco, uma aqui em BH e outra no Rio de Janeiro. Hoje, a amizade, parceria e respeito profissional nos unem”, conta Lobo, que é mineiro de São João del-Rei.

Das 15 faixas, 14 são do violeiro. A maioria das composições foi gravada por ele; Serra de Araras, Toque de feira e Lua de sertão são as únicas inéditas. “Foi um processo supernatural, pois tudo começou com as gravações de alguns toques meus e por eu ser compositor. Mostrei a eles alguns pessoalmente. Outros foram por e-mail ou nasceram neste processo. Quando tudo já estava quase pronto, sentimos falta de um tema que representasse nós três. Aí veio a ideia do Trenzinho do caipira, de Villa Lobos”, lembra.

O resultado ficou, de fato, singular. Os três instrumentos representam diferentes texturas e linguagens, habilidosamente costurados em arranjos escritos coletivamente. “Juntar a viola a dois instrumentos que vêm de orquestra foi uma aventura maravilhosa. Três instrumentos que podem ser solistas e de acompanhamento. A viola num timbre agudo, o violoncelo grave e a clarineta passeando pelos timbres. É impressionante essa riqueza”, analisa Lobo. Numa das faixas, Travessia do Sussuarão, o trio contou com a luxuosa contribuição de Jaime Alem, que assinou o arranjo.

O violeiro diz que sempre foi cobrado para gravar um álbum instrumental. Também por esse motivo – a perigosa expectativa – , a presença de nomes fortes como Malard e Santos foi importante. Apesar de já consolidado na cena violeira (são nada menos que 31 anos de carreira), o artista está mais habituado ao universo da canção. Entretanto, a consistência de sua obra, analisada separadamente, fica clara em composições como Vazante, Desafio de calango, Ibérica, Reinado e Sapateio no lundu. E reafirma seu talento como instrumentista.

Novas experimentações com a viola, a exemplo da que ele fez com violoncelo e clarinete, são bem-vindas, acredita: “É uma bela forma de fazer despertar as pessoas para a riqueza desse instrumento. Ele é muito mais do que algo do caipira, do folclore. A viola é da alma do brasileiro e é importante nunca se desconectar das origens. Assim, acho que se consegue trazer inovação para o instrumento, mas sempre com o olhar atento no respeito às raízes. Inovação só pela inovação não é a minha praia”, conclui.


SEM PARAR
Chico Lobo, Paulo Sérgio Santos e Márcio Malard deverão levar 3 Brasis para os palcos. “Devemos fazer São Paulo e Rio de Janeiro. Em BH, o concerto será dia 29 de maio”, adianta o violeiro. A propósito, o trabalho foi pré-selecionado ao Prêmio da Música Brasileira. Sobre gravar outros disco juntos, o músico ainda não sabe dizer se é possível: “São três artistas extremamente ativos”. No momento, Lobo prepara lançamento do DVD De Minas ao Alentejo em Portugal e desenvolve projeto de ensino de violas nas escolas rurais por meio do instituto que leva seu nome. E já quer gravar disco solo inédito.

Pessoas com mais chances de se tornarem diabéticas devem ficar atenta

Vigilância antes mesmo do pré-diabetes 
 
Israelenses sugerem que pessoas com mais chances de se tornarem diabéticas, como obesas e hipertensas, verifiquem regularmente se estão chegando ao limiar da desordem metabólica. 
 
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 25/03/2014


Se fosse possível prever condições de saúde crônicas em um estágio em que ainda pudessem ser revertidas ou mesmo prevenidas, essa seria, definitivamente, a opção de muitos pacientes. É o caso do pré-diabetes, uma condição preocupante que já apresenta sintomas em decorrência da desordem metabólica. A proposta de pesquisadores da Faculdade de Medicina Sackler, da Universidade de Tel Aviv, em Israel, é ainda mais ousada: descobrir o risco de ter o pré-diabetes. E a estratégia está baseada em um simples exame de sangue que não necessita nem mesmo de jejum prévio para a realização. As descobertas podem ajudar os médicos a fornecer tratamento e diagnóstico mais precoces na tentativa de frear a epidemia que, junto à obesidade, adoece milhões de pessoas por ano no mundo.

Em indivíduos saudáveis, a glicose jogada no sangue pela absorção de alimentos tem a entrada nas células garantida por um hormônio produzido no pâncreas, a insulina. A glicose será usada em inúmeros tecidos e órgãos para, principalmente, a produção de energia. Ao desenvolver o diabetes tipo 2, a pessoa se torna resistente à ação desse hormônio, e o açúcar passa a se acumular no sangue. Essa condição é irreversível e, muitas vezes, além do controle da alimentação, da prática de exercícios e de medicação, é preciso doses extras injetáveis de insulina para manter o organismo sob equilíbrio. Antes disso, no entanto, a grande maioria dos diabéticos desenvolveu o pré-diabetes, que anuncia a doença crônica e pode ser revertido sem medicação para a condição normal anterior.

Os resultados do estudo israelense conduzido por Lerner Nataly foram publicados no European Journal of General Practice. “Nosso estudo apoia a ideia de que o teste de A1c – usado hoje para diagnosticar o diabetes tipo 2 – também pode ser usado em um estágio inicial para rastrear a doença na população de alto risco, como pacientes com excesso de peso”, discorre o autor principal do trabalho. O teste de níveis de hemoglobina glicada (A1c) surgiu da necessidade de obter uma imagem dos níveis de glicose no sangue ao longo do tempo. Quando os níveis são altos, mais A1c é formado. Assim, o A1c serve como um biomarcador, indicando níveis médios de glicose no sangue ao longo de um período de dois a três meses, e tem sido muito utilizado para controlar o diabetes tipo 2.

Para avaliar a capacidade do teste de A1c para triagem de diabetes em pacientes de alto risco, os pesquisadores analisaram o histórico médico de 10.201 pessoas que receberam o teste na universidade entre 2002 e 2005. Eles descobriram que, em geral, 22,5% dos pacientes desenvolveram diabetes de cinco a oito anos. Pacientes com níveis de A1c próximos a 5,5% – abaixo do limite oficial para o diagnóstico de diabetes – foram significativamente mais propensos a desenvolver o diabetes do que aqueles com níveis abaixo de 5,5%. Cada 0,5% de aumento nos níveis de A1c duplica o risco de desenvolvimento da doença metabólica.

Chance de reversão Ainda existe uma dificuldade em caracterizar quando o diabetes começa ou qual nível de glicose no sangue é capaz de provocar problemas ao organismo. Nos estágios iniciais, a doença não causa sintomas e são necessários alguns anos para surgirem complicações. Até 50% desses pacientes vão evoluir da condição de pré-diabetes para a doença em si. Por esse motivo há a preocupação em criar o maior número possível de ferramentas capazes de identificar quem está em risco. O estágio de pré-diabetes é especialmente importante por ser a única etapa da doença que ainda pode ser revertida ou mesmo retardar a evolução para a doença crônica e suas complicações.

Hoje, o diagnóstico do diabetes é dado se o indivíduo apresenta dois testes de glicemia em jejum iguais ou acima de 126mg/dl ou se, duas horas após a ingestão de um concentrado de glicose, o nível glicêmico estiver superior a 200 mg/dl. Já o pré-diabetes é caracterizado se a glicemia em jejum fica entre 100 e 126mg/dl ou se, no teste de duas horas, ficar entre 140 e 200mg/dl. Obesos, hipertensos e pessoas com alterações nos lipídios são vistos como pacientes de alto risco.

Segundo a endocrinologista Rosane Kupfer, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a pesquisa não traz uma novidade, mas é mais uma evidência científica do caminho a ser seguido. “Ter uma hemoglobina glicada no nível entre 5,5% e 6,4% comparado a quem tem menor que 4,5% traz uma chance de 2,5 a 7,5 vezes maior de evoluir para diabetes.” Ela explica que a hemoglobina glicada é um exame que traduz a média da glicemia dos últimos dois ou três meses. Seu uso é comum para avaliar o controle glicêmico durante o tratamento, mas, há cerca de três anos, passou a ser usado também para o diagnóstico.

Rosane avalia que a proposta dos pesquisadores israelenses de dosar a hemoglobina glicada em quem tem fatores de risco para desenvolver diabetes é viável, mas ainda distante da realidade brasileira. “Apesar de não ser um exame caro, nem todos os laboratórios têm a metodologia correta e são confiáveis para dosar a hemoglobina glicada, pois realizam apenas o exame de glicemia”, explica. Segundo ela, laboratórios teriam que ser reequipados. “O que não se divulga é que, para dosar a glicemia, também se requer certa estrutura. Apesar do frasco onde é colhido a glicose conter uma substância conservante, não se pode demorar a dosá-la para o resultado ser confiável”, complementa.

Sem jejum Outra vantagem da hemoglobina glicada apontada pela endocrinologista é não ser necessário o jejum, podendo ser colhida a qualquer horário. Uma desvantagem estaria na coexistência de outras doenças, como a anemia falciforme, que podem alterar o resultado. Esse distúrbio tem alta prevalência principalmente no Nordeste do Brasil. “Não há dúvidas de que estamos vivendo uma epidemia de obesidade e diabetes.”

De acordo com a International Diabetes Federation, entidade ligada à ONU, existem no mundo mais de 380 milhões de diabéticos, a maioria deles com a doença associada a condições como obesidade e sedentarismo. “Essa pesquisa israelense mostra que, depois da hemoglobina glicada, o peso foi o maior preditor de diabetes.” Kupfer reforça que, mesmo sem a dosagem da hemoglobina glicada, deveriam haver mais políticas públicas voltadas para reverter esse quadro. “Não estamos no estágio dos Estados Unidos, mas a obesidade infantil e de adolescentes já é um problema em nosso meio.”


Critérios internacionais

Nos últimos anos, a Associação Americana de Diabetes (ADA, em inglês) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) adicionaram o teste às suas diretrizes como um critério para o diagnóstico do diabetes tipo 2. De acordo com a ADA, ter um nível de A1c de 6,5% ou mais é um indicador da doença e, entre 5,7 e 6,4%, é um indicador de pré-diabetes.

Palavra de especialista
Hélio Magarinos Torres Filho,
patologista clínico 

Sondagem mais apurada
“Esse é realmente um ótimo teste para o diagnóstico de diabetes. A grande diferença é que a glicose reflete os níveis da ocasião em que o sangue foi colhido, e esse teste está relacionado aos níveis médios do açúcar no sangue dos últimos 45, 60 dias, pois é a ela que está ligada a molécula de hemoglobina. Essa molécula permanece na circulação e está vinculada à glicose de forma irreversível pelo tempo de vida da hemácia na circulação. A única limitação é em relação a certos estados em que o tempo de vida das hemácias pode estar alterado, como anemias e algumas formas de variações genéticas da hemoglobina. Mas essas condições podem ser detectadas na realização do exame. Há alguns anos, a Associação Americana de Diabetes e a Asssociação Americana de Clínica Química estipularam a utilização da dosagem de A1c tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento e também como estabelecimento de risco. Este estudo é interessante porque estratifica melhor o risco por meio dos níveis de A1c.”