O Estado de S. Paulo - 23/10/2013
TV Brasil não passa "Roda Viva" com ex-ministra e fala em "falha humana" na hora da transmissão
A TV Brasil, canal estatal do governo federal, não retransmitiu ao
vivo a participação da ex-ministra Marina Silva no "Roda Viva", da TV
Cultura, na noite de anteontem. A justificativa: um problema técnico de
polarização de sinal causado por falha humana.
Essa falha, disseram os assessores da estatal federal, foi causada
por um funcionário novo que estava no posto de trabalho no Rio de
Janeiro, de onde o material da Cultura, TV estatal paulista, seria
retransmitido.
Os assessores da TV Brasil disseram que esse novato "não conseguiu
sincronizar o sinal que chegava de São Paulo". Quando o técnico mais
antigo, conhecedor do procedimento, chegou, já haviam se passado 15
minutos do início do programa com Marina. A direção da TV Brasil
decidiu, então, reprisar um programa antigo, com o artista e escritor
Nuno Ramos.
Quando as queixas começaram a surgir, no intervalo da entrevista de
Nuno Ramos, a TV Brasil exibiu um comunicado explicando que, "por
problemas técnicos", a emissora estava "impossibilitada de exibir o
programa Roda Viva" ao vivo. Informava também que a entrevista com a
entrevista da ex-ministra de Lula, hoje opositora do governo federal,
seria apresentada no dia seguinte, no mesmo horário, "na íntegra".
Autonomia. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República disse que foram informados de que "houve um problema técnico
na TV Brasil", mas sugeriram que a reportagem procurasse a própria
emissora para obter os esclarecimentos. "Lembramos que a TV Brasil é
uma empresa pública e goza de autonomia legal, estando vinculada mas
não subordinada à Secom. Esclarecemos ainda que o Conselho de
Administração da EBC não tem atribuições na gestão da programação da TV
Brasil". Em nota oficial a TV Brasil esclareceu que "uma falha na recepção do sinal enviado pela TV Cultura para a TV Brasil
no Rio de Janeiro impossibilitou a transmissão do programa" "Roda
Viva".
A nota diz ainda que "houve problema no acionamento do código que faz
o alinhamento do sinal" e "assim que tudo foi resolvido, 17 minutos
depois do início do programa, a diretoria de conteúdo e programação da
emissora tomou a decisão de exibi-lo na íntegra hoje (ontem)".
Primeira vez. A assessoria de imprensa da TV Cultura informou que o
sinal do programa foi transmitido normalmente. Foi a primeira vez,
disse a assessoria, que uma ocorrência como essa foi registrada na
transmissão do "Roda Viva". / Tânia Monteiro e Igor Giannasi
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Não aprenderam nada, nem esqueceram nada - Luiz Werneck Vianna
O Estado de S. Paulo - 23/10/2013
O estado de coisas da política no País desafia o entendimento, tudo está fo-, ra dos eixos e sob o império da imprevisibilidade. São três as candidaturas principais à sucessão presidencial, de certo, mesmo, apenas as legendas - PT, PSDB e PSB-Rede -, uma vez que cada qual tem seu duplo: Dilma, o Lula; Aécio Neves, José Serra; e Eduardo Campos, Marina Silva. As manifestações e os protestos de rua, que se sucedem numa interminável parada cívica, iniciaram-se sob o figurino de Chapeuzinho Vermelho para a horas tantas, imprevistamente, se travestirem com as roupagens do Lobo Mau.
A política, arredia até os idos das jornadas de junho, a partir daí tomou conta do cenário, com intensa movimentação dos partidos, inclusive com a criação de mais duas legendas, e dos movimentos sociais, particularmente daqueles vinculados às novas camadas médias -categoria social que, entre nós, é de compreensão fugidia -, embora esses dois grupos mal se toquem, salvo nos pontos mais doloridos. Mas, como se viu, essa movimentação girou no vazio, uma vez que, com a distância que partidos e movimentos sociais mantêm entre si, nem aqueles têm sua legitimidade reforçada, nem estes refinam suas agendas, a fim de conduzi-las à concretização, as quais são, no melhor dos casos, tangidas em estado bruto para uma ação legislativa de emergência. Nessa lógica, os movimentos exaurem-se em suas atividades episódicas, não deixando rastro institucional.
Num certo momento, a fúria legislativa, orientada para sanar o imenso vazio entre os órgãos de representação e os representados, foi de tal monta que poderia sugerir estarmos a viver um processo constituinte permanente. Apropria Constituição, justo no ano em que completa 25 anos de bons serviços prestados ao País, foi posta sob ameaça com a tentativa da Presidência da República de convocar uma dita Assembleia Constituinte para o fim exclusivo de realizar uma reforma política, que certamente ultrapassaria esses limites. Felizmente, tal risco foi exorcizado e ninguém fala mais dela. Na retórica, flertou-se com o tempo das revoluções, não faltando os devaneios barrocos sobre os poderes constituintes da multidão.
Mas o fosso a separar os partidos e os políticos das ruas, da juventude e dos movimentos sociais, longe de diminuir no curso desses longos meses que já nos separam dos idos de junho, agrava-se. Trata-se de uma combinação que alia a descrença generalizada nas instituições políticas e, em geral, nas republicanas à adesão a um fervor quase místico na ação espontânea do social. O colunista Arnaldo Bloch, no artigo Sobre nazismo e descrença na política (O Globo, 12/10), não importa que hiperbolicamente, fixou um registro que não pode mais passar despercebido: "No Brasil, um caldo de cultura ruim está se formando".
Por toda parte, larva a síndrome do ressentimento, especialmente nos jovens e em todos os que não se sentem reconhecidos em seus direitos e identidades, a sensação de uma exclusão injusta porque, embora se sintam formalmente convidados pelas nossas instituições e pelo discurso oficial a participar do festim dos êxitos da modernização econômica do País, esbarram na estreiteza das portas que dão acesso a ele. No SUS, nas escolas, por toda parte. Ressentimento, desconfiança, anonimato, nas ruas e na internet, orgulhosa recusa dos caminhos do diálogo com o outro e desdém, quando não desprezo, pela esfera pública instituída. Nada medra nesse terreno sáfaro e tudo definha ao seu redor.
Duas décadas de uma política que hipotecou a sorte do moderno à modernização, em suas opções pelas alianças com o que há de recessivo e anacronicamente tradicionalista, sob o império dessa forma de presidencialismo de coalizão sem princípios triunfante entre nós, obstou o acesso à participação política dos filhos dos seus próprios sucessos econômicos-, recomendando-lhes que usufruíssem as delícias do consumo. A recomendação valia para todos, mas o desfrute, é claro, teria de ser duramente diferencial.
Não à toa, quando esses setores emergentes despertaram! para a política, processo disparado pelo tema da mobilidade; urbana, tinham diante de si uma sociedade civil apática, envolvida nas malhas das agências estatais, com suas ONGs cooptadas e uma atividade partidária que mais lembrava um mercado em que se tomava cá para entregar algo acolá. A reação à sua presença foi quase caricata, legislando-se de afogadilho em obediência à pauta que as tabuletas portadas pelos manifestantes estampavam, fazendo morrer à míngua uma reforma democrática da política que lhe devolvesse vida.
A política, contudo, não conhece vácuo e, fechados os novos caminhos que pareceram abertos para ela, está aí, trilhando com pachorra os que lhe são velhos conhecidos. Aí, o retor-nocfa Ação Penal 470, já esquecida dos "crimes contra a República" - qualificação dada pelos votos da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal no seu julgamento -, para a satisfação do nosso cediço bacharelismo, com esses embargos infringentes que aí estão e as piruetas hermenêuticas que os justificam. E para atestar que tudo está como j dantes no quartel de Abrantes, também aí os lances rocambolescos deste início de sucessão presidencial, testemunhando que os nossos políticos "não aprenderam nada, nem esqueceram nada" com as jornadas de junho, tal como na frase conhecida de um estadista da França do período da Restauração sobre os aristocratas do Antigo Regime que, banidos pela Revolução Francesa, se recusavam a reconhecer que não havia volta para o seu mundo de antanho.
Não há dúvida, em 2014, dentro e fora dos estádios, devemo-nos preparar para emoções de tipo padrão Fifa.
Professor-pesquisador da PUC-RIO.
O estado de coisas da política no País desafia o entendimento, tudo está fo-, ra dos eixos e sob o império da imprevisibilidade. São três as candidaturas principais à sucessão presidencial, de certo, mesmo, apenas as legendas - PT, PSDB e PSB-Rede -, uma vez que cada qual tem seu duplo: Dilma, o Lula; Aécio Neves, José Serra; e Eduardo Campos, Marina Silva. As manifestações e os protestos de rua, que se sucedem numa interminável parada cívica, iniciaram-se sob o figurino de Chapeuzinho Vermelho para a horas tantas, imprevistamente, se travestirem com as roupagens do Lobo Mau.
A política, arredia até os idos das jornadas de junho, a partir daí tomou conta do cenário, com intensa movimentação dos partidos, inclusive com a criação de mais duas legendas, e dos movimentos sociais, particularmente daqueles vinculados às novas camadas médias -categoria social que, entre nós, é de compreensão fugidia -, embora esses dois grupos mal se toquem, salvo nos pontos mais doloridos. Mas, como se viu, essa movimentação girou no vazio, uma vez que, com a distância que partidos e movimentos sociais mantêm entre si, nem aqueles têm sua legitimidade reforçada, nem estes refinam suas agendas, a fim de conduzi-las à concretização, as quais são, no melhor dos casos, tangidas em estado bruto para uma ação legislativa de emergência. Nessa lógica, os movimentos exaurem-se em suas atividades episódicas, não deixando rastro institucional.
Num certo momento, a fúria legislativa, orientada para sanar o imenso vazio entre os órgãos de representação e os representados, foi de tal monta que poderia sugerir estarmos a viver um processo constituinte permanente. Apropria Constituição, justo no ano em que completa 25 anos de bons serviços prestados ao País, foi posta sob ameaça com a tentativa da Presidência da República de convocar uma dita Assembleia Constituinte para o fim exclusivo de realizar uma reforma política, que certamente ultrapassaria esses limites. Felizmente, tal risco foi exorcizado e ninguém fala mais dela. Na retórica, flertou-se com o tempo das revoluções, não faltando os devaneios barrocos sobre os poderes constituintes da multidão.
Mas o fosso a separar os partidos e os políticos das ruas, da juventude e dos movimentos sociais, longe de diminuir no curso desses longos meses que já nos separam dos idos de junho, agrava-se. Trata-se de uma combinação que alia a descrença generalizada nas instituições políticas e, em geral, nas republicanas à adesão a um fervor quase místico na ação espontânea do social. O colunista Arnaldo Bloch, no artigo Sobre nazismo e descrença na política (O Globo, 12/10), não importa que hiperbolicamente, fixou um registro que não pode mais passar despercebido: "No Brasil, um caldo de cultura ruim está se formando".
Por toda parte, larva a síndrome do ressentimento, especialmente nos jovens e em todos os que não se sentem reconhecidos em seus direitos e identidades, a sensação de uma exclusão injusta porque, embora se sintam formalmente convidados pelas nossas instituições e pelo discurso oficial a participar do festim dos êxitos da modernização econômica do País, esbarram na estreiteza das portas que dão acesso a ele. No SUS, nas escolas, por toda parte. Ressentimento, desconfiança, anonimato, nas ruas e na internet, orgulhosa recusa dos caminhos do diálogo com o outro e desdém, quando não desprezo, pela esfera pública instituída. Nada medra nesse terreno sáfaro e tudo definha ao seu redor.
Duas décadas de uma política que hipotecou a sorte do moderno à modernização, em suas opções pelas alianças com o que há de recessivo e anacronicamente tradicionalista, sob o império dessa forma de presidencialismo de coalizão sem princípios triunfante entre nós, obstou o acesso à participação política dos filhos dos seus próprios sucessos econômicos-, recomendando-lhes que usufruíssem as delícias do consumo. A recomendação valia para todos, mas o desfrute, é claro, teria de ser duramente diferencial.
Não à toa, quando esses setores emergentes despertaram! para a política, processo disparado pelo tema da mobilidade; urbana, tinham diante de si uma sociedade civil apática, envolvida nas malhas das agências estatais, com suas ONGs cooptadas e uma atividade partidária que mais lembrava um mercado em que se tomava cá para entregar algo acolá. A reação à sua presença foi quase caricata, legislando-se de afogadilho em obediência à pauta que as tabuletas portadas pelos manifestantes estampavam, fazendo morrer à míngua uma reforma democrática da política que lhe devolvesse vida.
A política, contudo, não conhece vácuo e, fechados os novos caminhos que pareceram abertos para ela, está aí, trilhando com pachorra os que lhe são velhos conhecidos. Aí, o retor-nocfa Ação Penal 470, já esquecida dos "crimes contra a República" - qualificação dada pelos votos da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal no seu julgamento -, para a satisfação do nosso cediço bacharelismo, com esses embargos infringentes que aí estão e as piruetas hermenêuticas que os justificam. E para atestar que tudo está como j dantes no quartel de Abrantes, também aí os lances rocambolescos deste início de sucessão presidencial, testemunhando que os nossos políticos "não aprenderam nada, nem esqueceram nada" com as jornadas de junho, tal como na frase conhecida de um estadista da França do período da Restauração sobre os aristocratas do Antigo Regime que, banidos pela Revolução Francesa, se recusavam a reconhecer que não havia volta para o seu mundo de antanho.
Não há dúvida, em 2014, dentro e fora dos estádios, devemo-nos preparar para emoções de tipo padrão Fifa.
Professor-pesquisador da PUC-RIO.
MARTHA MEDEIROS - Excluída
Zero Hora - 23/10/2013
A Ana me ligou no final da tarde de sexta: “E aí, você vem?”.
Eu não fazia ideia sobre o que ela estava falando. Foi então que a Ana se deu conta de que eu não estava no Facebook, portanto, não sabia da festa que a turma havia armado. Como eu não havia me pronunciado, ela resolveu ligar para saber se eu estava viva.
O cerco está apertando. Antes, eu trocava e-mails com os amigos com uma certa frequência, agora todos debandaram, só um ou outro lembra que eu não estou nas redes sociais e faz a caridade de me manter informada sobre o que acontece no universo.
Não tenho vontade de ter perfil em lugar algum (e mesmo assim tenho, criados e postados por pessoas que não sei quem são). Instagram, Twitter, WhatsApp, nada disso me seduz, não conseguiria tempo para esse contato eletrizante. Ainda me custa compreender pessoas que deixam o iPhone sobre a mesa do restaurante, que precisam fotografar cada minuto vivido, que desmaiam quando esquecem o celular em casa. Eu deveria ter me alistado na expedição de colonização de Marte, onde certamente eu me sentiria menos deslocada do que aqui na Terra.
Mas não me alistei, então terei que me ajustar à nova ordem social do meu planeta.
Óbvio que a tecnologia não é a vilã da história, e sim o uso obsessivo que se faz dela. Para quem tem autocontrole, esses gadgets são fascinantes por seu dinamismo, modernidade, capacidade de agregação, de agilização de tarefas, e ainda resolvem a questão do anonimato, com o qual ninguém mais quer lidar. As redes transformaram palco e plateia numa coisa só: todos são espectadores dos outros e ao mesmo tempo possuem um holofote sobre si. Já que existir virou sinônimo de “quantos me curtem”, a população mundial conseguiu um jeito de ficar quite com o próprio ego.
É muito provável que eu estivesse nas redes caso não escrevesse colunas em jornais. Como tenho esse canal de expressão semanalmente, não me fazem falta outros. Ou não faziam. Estou nesse impasse agora: devo mergulhar com mais profundidade no mundo virtual? Reconheço três vantagens: acompanhar o que meus amigos andam tramando às minhas costas, me atualizar com mais rapidez e oferecer aos meus leitores um perfil oficial. Além de me sentir menos mumificada.
Será isso que chamam de “se reinventar”?
Ando cada vez mais próxima da filosofia budista, exalto a desaceleração, prezo uma boa conversa, adoro ter tempo para meus livros, meu silêncio, minhas caminhadas. Não sinto falta de saber mais, de ter mais acesso à informação, de conhecer mais gente. Por outro lado, não quero me isolar dos amigos nem ficar sem assunto com eles – e com o mundo.
Que dúvida. Pela primeira vez, reflito sobre algo de que, numa era em que se debate tudo, pouco se fala: o nosso direito de ser indiferente.
A Ana me ligou no final da tarde de sexta: “E aí, você vem?”.
Eu não fazia ideia sobre o que ela estava falando. Foi então que a Ana se deu conta de que eu não estava no Facebook, portanto, não sabia da festa que a turma havia armado. Como eu não havia me pronunciado, ela resolveu ligar para saber se eu estava viva.
O cerco está apertando. Antes, eu trocava e-mails com os amigos com uma certa frequência, agora todos debandaram, só um ou outro lembra que eu não estou nas redes sociais e faz a caridade de me manter informada sobre o que acontece no universo.
Não tenho vontade de ter perfil em lugar algum (e mesmo assim tenho, criados e postados por pessoas que não sei quem são). Instagram, Twitter, WhatsApp, nada disso me seduz, não conseguiria tempo para esse contato eletrizante. Ainda me custa compreender pessoas que deixam o iPhone sobre a mesa do restaurante, que precisam fotografar cada minuto vivido, que desmaiam quando esquecem o celular em casa. Eu deveria ter me alistado na expedição de colonização de Marte, onde certamente eu me sentiria menos deslocada do que aqui na Terra.
Mas não me alistei, então terei que me ajustar à nova ordem social do meu planeta.
Óbvio que a tecnologia não é a vilã da história, e sim o uso obsessivo que se faz dela. Para quem tem autocontrole, esses gadgets são fascinantes por seu dinamismo, modernidade, capacidade de agregação, de agilização de tarefas, e ainda resolvem a questão do anonimato, com o qual ninguém mais quer lidar. As redes transformaram palco e plateia numa coisa só: todos são espectadores dos outros e ao mesmo tempo possuem um holofote sobre si. Já que existir virou sinônimo de “quantos me curtem”, a população mundial conseguiu um jeito de ficar quite com o próprio ego.
É muito provável que eu estivesse nas redes caso não escrevesse colunas em jornais. Como tenho esse canal de expressão semanalmente, não me fazem falta outros. Ou não faziam. Estou nesse impasse agora: devo mergulhar com mais profundidade no mundo virtual? Reconheço três vantagens: acompanhar o que meus amigos andam tramando às minhas costas, me atualizar com mais rapidez e oferecer aos meus leitores um perfil oficial. Além de me sentir menos mumificada.
Será isso que chamam de “se reinventar”?
Ando cada vez mais próxima da filosofia budista, exalto a desaceleração, prezo uma boa conversa, adoro ter tempo para meus livros, meu silêncio, minhas caminhadas. Não sinto falta de saber mais, de ter mais acesso à informação, de conhecer mais gente. Por outro lado, não quero me isolar dos amigos nem ficar sem assunto com eles – e com o mundo.
Que dúvida. Pela primeira vez, reflito sobre algo de que, numa era em que se debate tudo, pouco se fala: o nosso direito de ser indiferente.
Tv Paga
Estado de Minas: 23/10/2013
Mestre do samba
Um dos mestres do ritmo, autor de dezenas de clássicos do gênero, Wilson Moreira (foto) é o artista da vez na série Enciclopédia do samba, hoje, às 18h45, no Canal Brasil. Em entrevista ao cineasta Luiz Carlos Lacerda, que dirige o documentário ao lado do fotógrafo Alisson Prodlik, Wilson Moreira fala de seus parceiros e do processo de criação de pérolas como Meu apelo, Quintal do céu e Coisa da antiga.
Rosamaria Murtinho
diz o que viu da vida
Na véspera de completar 78 anos, Rosamaria Murtinho fala sobre vida e carreira no programa Damas da TV, hoje, às 21h, no canal Viva. Com mais de 50 anos dedicados à TV e ao teatro, a atriz afirma que não tem vocação artística: “Tenho talento, isso é outra coisa. Quando vejo uma pessoa dizendo: ‘Sempre, desde criança, quis ser atriz’, babo de inveja”, brinca ela. Rosamaria foi a primeira contratada da TV Excelsior logo que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, assumiu a emissora,
em São Paulo. Casada há 54 anos, a atriz conheceu seu marido, Mauro Mendonça, trabalhando no Teatro Brasileiro de Comédia.
Comédia e terror em
evidência na telinha
O Telecine Cult continua a série de homenagens a Woody Allen na sessão Drive-in, reservando para hoje os filmes Hannah e suas irmãs, às 20h, e Interiores, às 22h. No Universal Channel, quem está podendo é Adam Sandler, nas comédias Tratamento de choque (20h) e Zohan – O agente bom de corte (22h). Na sessão Retrô do Megapix pintou um clima terror com a proximidade do Dia das Bruxas, o que justifica a escolha de Sexta-feira 13 parte VI: Jason vive, à 0h05. Outros destaques da programação: Lemon tree, às 21h30, no Arte 1; Burlesque, às 22h, no Max HD; Intocáveis, às 22h, no Telecine Premium. Os inquilinos, às 23h, no AXN; e Meu amante é de outro mundo, também às 23h, no Comedy Central.
Canal Bio aposta em
histórias de fantasmas
Por falar em Dia das Bruxas, o canal Bio envereda pelo mundo do desconhecido com Famosos e fantasmas, às 22h, apresentando o relato do ator Elya Baskin (o Mr. Ditkovich de Homem-Aranha 2 e sua sequência), revelando que enfrentou a ira de um fantasma que queria vingança em sua terra natal, a Rússia comunista. Na sequência, às 23h. estreia a segunda temporada de Assombrações de famosos, e entre os depoentes está a atriz Elisabeth Rohm (das séries Law and order e Angel), que visita sua antiga casa acompanhada da médium Kim Russo, para identificar a energia negativa que a perturbava quando morou lá, gerada por espíritos pouco evoluídos e mal-humorados.
Nat Geo emenda logo
dois episódios de Tabu
Esquisitice também é com o Nat Geo, que vem com a série Tabu, às 22h30. E com dois episódios: “Lar, estranho lar”, que mostra gente que mora em locais muito bizarros; e “Modificação corporal”, que analisa a prática de mudanças do corpo orientadas pela religião, ciência e artes nas culturas em todo o mundo desde os tempos antigos.
Mestre do samba
Um dos mestres do ritmo, autor de dezenas de clássicos do gênero, Wilson Moreira (foto) é o artista da vez na série Enciclopédia do samba, hoje, às 18h45, no Canal Brasil. Em entrevista ao cineasta Luiz Carlos Lacerda, que dirige o documentário ao lado do fotógrafo Alisson Prodlik, Wilson Moreira fala de seus parceiros e do processo de criação de pérolas como Meu apelo, Quintal do céu e Coisa da antiga.
Rosamaria Murtinho
diz o que viu da vida
Na véspera de completar 78 anos, Rosamaria Murtinho fala sobre vida e carreira no programa Damas da TV, hoje, às 21h, no canal Viva. Com mais de 50 anos dedicados à TV e ao teatro, a atriz afirma que não tem vocação artística: “Tenho talento, isso é outra coisa. Quando vejo uma pessoa dizendo: ‘Sempre, desde criança, quis ser atriz’, babo de inveja”, brinca ela. Rosamaria foi a primeira contratada da TV Excelsior logo que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, assumiu a emissora,
em São Paulo. Casada há 54 anos, a atriz conheceu seu marido, Mauro Mendonça, trabalhando no Teatro Brasileiro de Comédia.
Comédia e terror em
evidência na telinha
O Telecine Cult continua a série de homenagens a Woody Allen na sessão Drive-in, reservando para hoje os filmes Hannah e suas irmãs, às 20h, e Interiores, às 22h. No Universal Channel, quem está podendo é Adam Sandler, nas comédias Tratamento de choque (20h) e Zohan – O agente bom de corte (22h). Na sessão Retrô do Megapix pintou um clima terror com a proximidade do Dia das Bruxas, o que justifica a escolha de Sexta-feira 13 parte VI: Jason vive, à 0h05. Outros destaques da programação: Lemon tree, às 21h30, no Arte 1; Burlesque, às 22h, no Max HD; Intocáveis, às 22h, no Telecine Premium. Os inquilinos, às 23h, no AXN; e Meu amante é de outro mundo, também às 23h, no Comedy Central.
Canal Bio aposta em
histórias de fantasmas
Por falar em Dia das Bruxas, o canal Bio envereda pelo mundo do desconhecido com Famosos e fantasmas, às 22h, apresentando o relato do ator Elya Baskin (o Mr. Ditkovich de Homem-Aranha 2 e sua sequência), revelando que enfrentou a ira de um fantasma que queria vingança em sua terra natal, a Rússia comunista. Na sequência, às 23h. estreia a segunda temporada de Assombrações de famosos, e entre os depoentes está a atriz Elisabeth Rohm (das séries Law and order e Angel), que visita sua antiga casa acompanhada da médium Kim Russo, para identificar a energia negativa que a perturbava quando morou lá, gerada por espíritos pouco evoluídos e mal-humorados.
Nat Geo emenda logo
dois episódios de Tabu
Esquisitice também é com o Nat Geo, que vem com a série Tabu, às 22h30. E com dois episódios: “Lar, estranho lar”, que mostra gente que mora em locais muito bizarros; e “Modificação corporal”, que analisa a prática de mudanças do corpo orientadas pela religião, ciência e artes nas culturas em todo o mundo desde os tempos antigos.
FERNANDO BRANT » Invento o cais
Estado de Minas: 23/10/2013
Quando a vida lá fora se faz quase insuportável, quando o mundo pesa nos ombros, a primeira coisa que faço é abrir a tela do computador e me envolver na imagem da Clara e do Lucas no colo do avô. É um oásis, uma vereda no grande sertão de minha vida. Faço como Ronaldo Bastos e Milton: invento o cais.
Procuro aqui e ali histórias, livros e canções que me aliviem. Fico aberto para as belezas, mesmo pequenas, que o cotidiano me traz. Assistindo a uma entrevista do Toquinho e do grande Zuza Homem de Melo falando sobre Vinicius de Moraes, pude dormir tranquilo no primeiro dia de horário de verão, esse incômodo que nos impõem durante quatro meses, todos os anos, desde os tempos do marechal Castelo Branco.
Toquinho falou da letra de Tarde em Itapuã, letra que Vinicius fizera para entregar a Dorival Caymmi. Na hora de embarcar para uma viagem a São Paulo, vendo a letra presa na pequena máquina de escrever do poeta, o violonista surrupiou-a com a intenção de musicá-la. Quando se encontrou novamente com Vinicius, percebeu que ele tentava refazer o que escrevera. Quando soube da travessura do jovem parceiro, mesmo zangado, o poeta se dignou a ouvir o que ele aprontara com seu texto. E acabou aceitando e incorporando ao seu repertório.
Ouvindo a canção, enquanto o sono da noite não vinha, imaginei que o acontecido fora benfeito, pois Caymmi dificilmente iria musicar uma letra em que a praça em sua homenagem era citada.
E o Zuza, um dos maiores conhecedores de música popular, um homem musical e generoso, lembrou fatos e feitos do poeta centenário. E ressaltou que foi com Vinicius, a partir dele, que jovens talentos se envolveram na arte de escrever letras de canções, elevando a qualidade poética do cancioneiro brasileiro. Claro que já existiam exemplos marcantes, como a obra de Noel Rosa, a cada dia que passa mais reconhecida, e as incursões bissextas de Manuel Bandeira em parcerias com Villa-Lobos e Jaime Ovalle.
Mas foi com Vinicius de Moraes que, de repente, não mais que de repente, uma geração de rapazes e moças de nível universitário, bons na escrita e bons de ouvido, se lançou na aventura de compor um repertório de qualidade e quantidade que embalou e embala até hoje os corações brasileiros.
Para melhorar de vez o dia, assisti, aconselhado por meu amigo e parceiro Geraldo Vianna, à Lenda do santo beberrão, belo filme do italiano Ermanno Olmi. Foi aí que me lembrei: na criação da obra-prima Cais, há uma história semelhante à de Tarde em Itapuã. E foi para o bem de todos nós.
>> www.fernandobrant@hotmail.com
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Quando a vida lá fora se faz quase insuportável, quando o mundo pesa nos ombros, a primeira coisa que faço é abrir a tela do computador e me envolver na imagem da Clara e do Lucas no colo do avô. É um oásis, uma vereda no grande sertão de minha vida. Faço como Ronaldo Bastos e Milton: invento o cais.
Procuro aqui e ali histórias, livros e canções que me aliviem. Fico aberto para as belezas, mesmo pequenas, que o cotidiano me traz. Assistindo a uma entrevista do Toquinho e do grande Zuza Homem de Melo falando sobre Vinicius de Moraes, pude dormir tranquilo no primeiro dia de horário de verão, esse incômodo que nos impõem durante quatro meses, todos os anos, desde os tempos do marechal Castelo Branco.
Toquinho falou da letra de Tarde em Itapuã, letra que Vinicius fizera para entregar a Dorival Caymmi. Na hora de embarcar para uma viagem a São Paulo, vendo a letra presa na pequena máquina de escrever do poeta, o violonista surrupiou-a com a intenção de musicá-la. Quando se encontrou novamente com Vinicius, percebeu que ele tentava refazer o que escrevera. Quando soube da travessura do jovem parceiro, mesmo zangado, o poeta se dignou a ouvir o que ele aprontara com seu texto. E acabou aceitando e incorporando ao seu repertório.
Ouvindo a canção, enquanto o sono da noite não vinha, imaginei que o acontecido fora benfeito, pois Caymmi dificilmente iria musicar uma letra em que a praça em sua homenagem era citada.
E o Zuza, um dos maiores conhecedores de música popular, um homem musical e generoso, lembrou fatos e feitos do poeta centenário. E ressaltou que foi com Vinicius, a partir dele, que jovens talentos se envolveram na arte de escrever letras de canções, elevando a qualidade poética do cancioneiro brasileiro. Claro que já existiam exemplos marcantes, como a obra de Noel Rosa, a cada dia que passa mais reconhecida, e as incursões bissextas de Manuel Bandeira em parcerias com Villa-Lobos e Jaime Ovalle.
Mas foi com Vinicius de Moraes que, de repente, não mais que de repente, uma geração de rapazes e moças de nível universitário, bons na escrita e bons de ouvido, se lançou na aventura de compor um repertório de qualidade e quantidade que embalou e embala até hoje os corações brasileiros.
Para melhorar de vez o dia, assisti, aconselhado por meu amigo e parceiro Geraldo Vianna, à Lenda do santo beberrão, belo filme do italiano Ermanno Olmi. Foi aí que me lembrei: na criação da obra-prima Cais, há uma história semelhante à de Tarde em Itapuã. E foi para o bem de todos nós.
>> www.fernandobrant@hotmail.com
Eleição e religião - Frei Betto
No Brasil, há um óbvio ressurgimento da apropriação do espaço público por instituições religiosas
Frei Betto
Estado de Minas: 23/10/2013
Na campanha presidencial de 2014, veremos
reprisar o que tanto afetou a de 2010: o fator religioso. O debate em
torno da questão do aborto assumiu muito mais importância do que
demandas urgentes como melhoria da saúde e da educação, ou projetos de
emancipação nacional, como a reforma agrária e a preservação da
Amazônia.
O aborto e outros temas ligados aos direitos reprodutivos e à sexualidade são apenas o biombo que encobre algo muito mais ameaçador: o fundamentalismo religioso como força política.
A globocolonização neoliberal, ao se impor ao planeta hegemonizada pelo capitalismo como sistema ideal de sociedade, se chocou com princípios religiosos de Estados e sociedades islâmicas que não distinguem laicidade e religiosidade.
No Brasil, embora a “questão religiosa” esteja formalmente equacionada desde o século 19, quando houve a separação oficial entre Igreja e Estado, há um óbvio ressurgimento da apropriação do espaço público por instituições religiosas.
Não cabe aqui a distinção dicotômica entre esfera pública reservada ao Estado e a esfera privada à religião. Público e privado são duas faces de uma mesma moeda e, embora diferenciadas, não podem ser separadas.
A religião goza, sim, do direito de expressão pública e de recusar ao Estado o monopólio do controle da sociedade. Porém, assim como o Estado, à luz da laicidade moderna, não tem o direito de “professar” uma religião e atuar contra o pluralismo religioso, não se pode admitir que a religião se aproprie do Estado para universalizar, via legislação civil e mecanismos de controle, seus princípios e normas doutrinários.
O fundamentalismo religioso nasceu nos EUA, no início do século 20, com o objetivo de evitar a erosão, pelo secularismo, das crenças fundamentais da tradição protestante, como a expiação substitutiva realizada pela morte de Jesus e o seu iminente regresso para julgar e governar o mundo, e a infalibilidade da Bíblia, tomada em sua literalidade, como a criação direta do mundo e da humanidade por Deus, em oposição ao evolucionismo e ao darwinismo.
Em meados do século passado, os fundamentalistas cristãos se convenceram de que não bastava pregar no interior dos templos e converter corações e mentes. Era preciso impor à sociedade tudo isso que concorre para o “bem dela”, como a criminalização do aborto e da homossexualidade, do uso do álcool e do fumo, do entretenimento pornográfico, e até mesmo de projetos que visam a reduzir a desigualdade social, considerada reflexo da vontade divina.
Tal empreitada só é possível pelo controle das instituições políticas, que, de fato e de direito, decidem o que é legal (bem) e o que é ilegal (mal) ao conjunto da sociedade. Um pastor ou padre podem convencer seus fiéis de que ingerir bebidas alcoólicas é contrário ao mandamento divino. Um governante pode muito mais: decretar a lei seca e entregar às garras da Justiça todos que produzirem e comercializarem produtos etílicos.
Nos nichos religiosos fundamentalistas do Brasil, se choca o ovo da serpente, à semelhança do que ocorre em países em que princípios derivados de tradições religiosas dispensam a formalidade de um texto constitucional e nos quais não se concebe uma laicidade independente da religiosidade.
Até agora os possíveis candidatos à Presidência da República em 2014 ensaiam seus discursos na defesa do governo petista, na crítica a esse governo ou na promessa de aprimorar o que já se fez, como as políticas sociais. Por enquanto, trata-se de obter meios, como coligações partidárias que assegurem mais tempo de campanha eleitoral na TV e posterior condições de
governabilidade.
Ano que vem, definidas as candidaturas, elas terão de tratar também dos fins, ou seja, dizer a que vieram e para que vieram. Aí é que a porca torce o rabo. Na caça aos votos, os candidatos serão pressionados pelos lobbies religiosos, que se julgam os únicos intérpretes da vontade divina, a darem mais importância à temática do moralismo farisaico, que insiste na pureza das mãos sem que se abram os braços aos pobres e excluídos caídos à margem da sociedade, na contramão do que ensina a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37).
Frei Betto
Estado de Minas: 23/10/2013
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O aborto e outros temas ligados aos direitos reprodutivos e à sexualidade são apenas o biombo que encobre algo muito mais ameaçador: o fundamentalismo religioso como força política.
A globocolonização neoliberal, ao se impor ao planeta hegemonizada pelo capitalismo como sistema ideal de sociedade, se chocou com princípios religiosos de Estados e sociedades islâmicas que não distinguem laicidade e religiosidade.
No Brasil, embora a “questão religiosa” esteja formalmente equacionada desde o século 19, quando houve a separação oficial entre Igreja e Estado, há um óbvio ressurgimento da apropriação do espaço público por instituições religiosas.
Não cabe aqui a distinção dicotômica entre esfera pública reservada ao Estado e a esfera privada à religião. Público e privado são duas faces de uma mesma moeda e, embora diferenciadas, não podem ser separadas.
A religião goza, sim, do direito de expressão pública e de recusar ao Estado o monopólio do controle da sociedade. Porém, assim como o Estado, à luz da laicidade moderna, não tem o direito de “professar” uma religião e atuar contra o pluralismo religioso, não se pode admitir que a religião se aproprie do Estado para universalizar, via legislação civil e mecanismos de controle, seus princípios e normas doutrinários.
O fundamentalismo religioso nasceu nos EUA, no início do século 20, com o objetivo de evitar a erosão, pelo secularismo, das crenças fundamentais da tradição protestante, como a expiação substitutiva realizada pela morte de Jesus e o seu iminente regresso para julgar e governar o mundo, e a infalibilidade da Bíblia, tomada em sua literalidade, como a criação direta do mundo e da humanidade por Deus, em oposição ao evolucionismo e ao darwinismo.
Em meados do século passado, os fundamentalistas cristãos se convenceram de que não bastava pregar no interior dos templos e converter corações e mentes. Era preciso impor à sociedade tudo isso que concorre para o “bem dela”, como a criminalização do aborto e da homossexualidade, do uso do álcool e do fumo, do entretenimento pornográfico, e até mesmo de projetos que visam a reduzir a desigualdade social, considerada reflexo da vontade divina.
Tal empreitada só é possível pelo controle das instituições políticas, que, de fato e de direito, decidem o que é legal (bem) e o que é ilegal (mal) ao conjunto da sociedade. Um pastor ou padre podem convencer seus fiéis de que ingerir bebidas alcoólicas é contrário ao mandamento divino. Um governante pode muito mais: decretar a lei seca e entregar às garras da Justiça todos que produzirem e comercializarem produtos etílicos.
Nos nichos religiosos fundamentalistas do Brasil, se choca o ovo da serpente, à semelhança do que ocorre em países em que princípios derivados de tradições religiosas dispensam a formalidade de um texto constitucional e nos quais não se concebe uma laicidade independente da religiosidade.
Até agora os possíveis candidatos à Presidência da República em 2014 ensaiam seus discursos na defesa do governo petista, na crítica a esse governo ou na promessa de aprimorar o que já se fez, como as políticas sociais. Por enquanto, trata-se de obter meios, como coligações partidárias que assegurem mais tempo de campanha eleitoral na TV e posterior condições de
governabilidade.
Ano que vem, definidas as candidaturas, elas terão de tratar também dos fins, ou seja, dizer a que vieram e para que vieram. Aí é que a porca torce o rabo. Na caça aos votos, os candidatos serão pressionados pelos lobbies religiosos, que se julgam os únicos intérpretes da vontade divina, a darem mais importância à temática do moralismo farisaico, que insiste na pureza das mãos sem que se abram os braços aos pobres e excluídos caídos à margem da sociedade, na contramão do que ensina a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37).
Ingestão de adoçantes artificiais pode aumentar apetite por alimentos doces
Açúcar de mentira
Em testes com cobaias, pesquisadores mostram que a ingestão de adoçantes artificiais pode aumentar o apetite por alimentos doces
Vilhena Soares
Estado de Minas: 23/10/2013
Brasília – Um intrigante contrassenso. Ao ingerir produtos light ou diet, a pessoa pode estar, na verdade, provocando no corpo mais vontade de comer açúcar. A hipótese foi levantada por pesquisadores brasileiros e americanos depois de experimentos com ratos e pode otimizar a dieta de humanos.
Segundo Ivan de Araújo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale (EUA) e líder do estudo, a pesquisa buscou identificar como o adoçante e o açúcar funcionam no cérebro. “Descobrimos que quando um animal experimenta adoçantes artificiais durante um estado de privação – com bastante fome ou sob efeito de baixo metabolismo celular, por exemplo –, ele prefere o açúcar mesmo bastante tempo depois de aliviada a fome”, relata.
Araújo explica que, de acordo com os resultados do experimento, o controle fisiológico da escolha entre adoçante e açúcar é regulado pela dopamina. Ele e os demais pesquisadores participantes do estudo acreditam que o uso da glicose pelas células cerebrais estimula a liberação desse neurotransmissor. “É uma substância que regula sensações de prazer e a formação de hábitos associados a comida como uma recompensa. Os adoçantes não parecem ter essa propriedade e, por isso, são mais suscetíveis, por produzirem uma diminuição de interesse se consumidos em um momento de fome ou de exaustão”, exemplifica o pesquisador.
Professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB), Joaquim Pereira Neto explica que a necessidade do cérebro de conseguir dopamina faz parte de um sistema complexo do corpo humano que busca a estabilidade das funções. “Existem vários mecanismos que tendem a manter o organismo equilibrado. É por isso que, quando realizamos um exame de sangue, geralmente os níveis ficam bem próximos do que precisamos, porque temos essa tendência à homeostase”, detalha. Segundo o especialista, sistemas neurais estão envolvidos nesse processo. “O sistema nervoso controla a quantidade de glicose, o seu comportamento. Quando você tenta enganá-lo com outra substância, você consegue driblar somente o paladar, não o cérebro’, destaca.
Para Pereira Neto, que não participou do estudo, os resultados trazem dados interessantes sobre como funciona o adoçante artificial no organismo humano. “Já tinha me interrogado como o sistema nervoso recebe as diferenças entre essa substância e o açúcar natural. Essas variações existem e não têm nada a ver com o sabor, mas com os efeitos que provocam no corpo”, destaca. O especialista explica que a dopamina age em uma região do cérebro chamada estriado, provocando mudanças de comportamento “A dopamina só foi ativada no cérebro dos ratos quando eles ingeriram açúcar, o que prova que os alimentos agem de formas distintas”, detalha.
Novas dietas O endocrinologista Fabriano Sandrini explica que o efeito de saciedade provocado pela dopamina, não ativado pelos adoçantes artificiais, pode provocar a necessidade de comer mais doces ou alimentos que produzam glicose, como massas e pães. “Se transferirmos esse resultado para homens, pode ser que tenhamos dados diferentes, mas, em termos práticos, isso significa que ao ingerir alimentos como adoçante e refrigerantes diet, não teremos a sensação de satisfação provocada por um refrigerante normal”, destaca.
Sandrini acredita que, se confirmado o mecanismo em humanos, será possível explicar por que muitas pessoas que seguem uma dieta baseada em refeições com produtos diet e light comem muito mais do que se tivessem se alimentado com açúcar normal. O endocrinologista reforça que o açúcar natural pode ser encontrado em produtos mais saudáveis, sendo, assim, uma das melhores alternativas para as dietas.
“É claro que o açúcar não deve ser comido em excesso, mas, se formos pensar bem, as opções podem ser adaptadas. Optar por um suco natural ou uma fruta que contém açúcar já pode ajudar a satisfazer essa necessidade por doce”, destaca. “ Vemos também que longos jejuns podem resultar em um apetite maior, o que reforça, mais uma vez, a necessidade de refeições balanceadas durante o dia.”
Ivan de Araújo adianta que a pesquisa terá continuidade e vai tratar da reação do açúcar no corpo com mais atenção. “Gostaríamos de entender melhor esse sistema em humanos, acreditando que seja equivalente aos roedores. Além disso, estamos interessados em entender os efeitos da longa exposição ao açúcar ao longo da vida no sistema dopaminérgico (que envolve a produção de dopamina)”, adianta.
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