domingo, 6 de abril de 2014

MARTHA MEDEIROS - Alguma coisa

Zero Hora 06/04/2014

Recebi o e-mail de uma mulher madura contando que ela e o marido estão praticamente vivendo um para o outro, pois estão decepcionados com os demais semelhantes - cuja semelhança ela não vê, aliás. Resumo aqui suas palavras: Somos instruídos e temos ótimo pique, porém estamos cada vez mais isolados, os filhos moram longe e as demais pessoas não nos dizem nada. Gostamos de coisas que ninguém gosta. Nosso nível de tolerância é mínimo diante da hipocrisia humana, do politicamente correto, do bairrismo, dos fanáticos, dos mal-educados, dos ridículos, dos sem noção, dos burros, dos ignorantes e da manipulação da massa através dos meios de comunicação.

Escapei não sei como. Ela diz que comigo até que gostaria de conversar, e me pediu opinião sobre sua ansiedade. “Se meu marido morrer, ficarei perdida”.

Bom, eis um caso de uma mulher que cruzou com sua alma gêmea, o que a coloca em vantagem. Porém, procura almas gêmeas também na vida social. Amiga, desista. Você já encontrou a sua e casou com ela, valorize a sua sorte, não seja fominha.

Brincadeiras à parte, dizer o quê? Afora os seres intragáveis, a maioria das pessoas possui alguma coisa que fecha com a gente. Alguma coisa. Não precisa fechar em tudo. Tem aquela amiga que é ótima para viajar, tem a santa que ouve nossos lamentos, aquela outra que é uma alegre parceira de indiadas, a que sempre tem uma bolsa de festa para emprestar, a que se oferece para dar carona, a que é companheira para assistir filmes iranianos, a que diz tanta bobagem que é impossível não rir. Alguma coisa, entende?

Minha leitora deveria diminuir o nível de exigência e extrair das pessoas o seu melhor, deixando o pior pra lá. A vizinha chata pode ser uma ótima professora de espanhol, a avarenta pode preparar um risoto caprichado, a cafona pode ser aquela que ficará na cabeceira da sua cama quando você estiver com um febrão. Todos têm seu lado A e B - nós, inclusive.

Compreendo que minha leitora tem um estilo de vida arrojado e uma cabeça cosmopolita que destoa da cidade onde vive, que não é nenhuma Nova York. Então por que não se muda para uma urbe mais vibrante? Se não der, que baixe a guarda e procure as agulhas no palheiro, elas existem. Tive uma amiga que igualmente acreditava ter nascido no planeta errado, para ela todos também eram bairristas, ignorantes e ridículos - e quanto mais ela discursava sobre seu inconformismo, mais ela própria parecia bairrista, ignorante e ridícula. A falta de condescendência nos bitola.

Querida leitora, torço para que consiga encontrar pessoas afins e interagir com as menos afins sem tanto rigor. Você faz bem em grudar no seu marido - um companheiro que é seu melhor amigo é uma benção - mas não julgue tão severamente os que estão em volta. Eles podem ser úteis, nem que seja para exercitar sua humildade.

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Onde está a felicidade?‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Onde está a felicidade?
Regina Teixeira da Costa

Estado de Minas: 06/04/2014




Aquilo que mais queremos está quase sempre à nossa frente, quase nunca em nossas mãos. Há momentos em que quase poderemos tocá-la, noutros, fica a quilômetros. Sempre além, por mais passos que caminhemos. Estará para nós como um oásis no deserto: alucinado por quem quase morre de sed

Quando pensamos que chegamos na beira d’água, ela aparece mais ali na frente, depois da próxima duna e, sucessivamente, só nos resta caminhar. Isso diz muito da impossibilidade de materializar um estado de felicidade.

A felicidade existe e é feita de momentos, espalhados no dia a dia, na confusão da vida. Fragmentos que permeiam nossos dias tantas vezes árduos.

Durante a breve vida, que em alguns momentos nos parece longa, são muitas as tarefas a cumprir para nos organizarmos minimamente. O tempo escoa, temos pressa e, no corre-corre do cotidiano, a lista de afazeres nunca se esgota.

Nem um dia dizemos que tudo está pronto, completo, agora é só desfrutar. Não. Enquanto viventes, seremos sujeitos a necessidades e forçados a consumir o tempo cuidando do lado prático.

Nunca poderemos abrir mão de trabalhar, ganhar e gastar o dinheiro, das necessidades do corpo, com o outro sempre presente para o bem ou para o mal. Buscar prazeres, dar sentido à vida por meio da leitura, do estudo, da família, do amor, de viajar, aprender, pensar... tudo isso ajuda, nos salva da melancolia.

Para ficarmos felizes, precisamos de muitas coisas, como ter o que fazer, a quem amar e ter objetivos. E de fato lutar para construir, a nosso modo, a vida que queremos ter. Não é fácil, mas não fazer nada é, com certeza, a opção menos interessante. Para os inertes, não há chance.

Estamos sempre ocupados com o cuidado da vida, e ela dá trabalho. Tudo dá trabalho. Até gozar de férias. Logo, só quando a terra nos for leve, como disse uma senhorinha antiga, é que o repouso e o descanso serão eternos.

Enquanto esse tempo não chega, estamos aqui nessa vida sujeitos ao bom e ao mau tempo, ao humor dos que nos cercam, aos ofícios mais diversos, aos tantos desejos que nos jogam de um lado para o outro, mudando sempre ao encontrarem a satisfação. Porque esta, quando tocada, já não nos satisfaz mais e é preciso ir mais adiante, atender novo convite.

E nestes tempos de consumo e altas ofertas, quase não temos o sossego de sentar para ver nuvens passando, cada uma com formato de algum bicho ou coisa. O tempo urge, se não ruge, e corremos aparvalhados para dar conta da vida. Cansativa, às vezes, mas perdê-la ainda é coisa pior, posto que ninguém de lá jamais retornou em carne viva para nos dizer o que há.

Só sei que o objeto de desejo é sempre metonímico, desliza numa linha do tempo e nela esse objeto que nunca está ali, está sempre situado em outro lugar, que é sempre outra coisa. E disso conversava com amigos quando um deles se lembrou do verso de Vicente de Carvalho:

“ Felicidade, árvore frondosa de dourados pomos. Existe, sim, mas nós nunca a encontramos porque ela está sempre apenas onde nós a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos.” 

ESTREIA » Hora da tormenta‏

ESTREIA » Hora da tormenta 
 
Quarta temporada de Game of thrones estreia hoje no Brasil, simultaneamente com os EUA. Sinal aberto, maratona de episódios, exposição e visita de atores ao país garantem o clima 
 
Mariana Peixoto
Estado de Minas: 06/04/2014


Kit Harington, como Jon Snow, terá muita ação na nova temporada da saga de George R. R. Martin (HBO/Divulgação    )
Kit Harington, como Jon Snow, terá muita ação na nova temporada da saga de George R. R. Martin

Exposição, vinda de atores ao Brasil, abertura do sinal da HBO para não assinantes. Tudo isso para a estreia da quarta temporada de Game of thrones, que chega hoje à noite à HBO Brasil simultaneamente com o canal nos Estados Unidos. Série mais comentada dos últimos anos (e também mais pirateada, foi a campeã de downloads ilegais em 2012 e 2013), terá novamente 10 episódios.

Agora com a maior parte da família Stark dizimada depois do massacre no Casamento Vermelho – cena que causou comoção mundo afora –, a narrativa traz de volta novas (e velhas) intrigas no universo dos Sete Reinos, o mundo fantástico criado por George R. R. Martin na interminável saga As crônicas de gelo e fogo. O quarto ano é inspirado na segunda metade do volume A tormenta das espadas.

Com os Lannister controlando o trono de ferro, eles serão ameaçados de um lado por Stannis Baratheon, que continua reconstruindo seu exército na Pedra do Dragão. Mas do Sul chega um novo personagem, Oberyn Martell, conhecido como Víbora Vermelha. Desafeto dos Lannister, ele chega a King’s Landing para o casamento de Joffrey e Margaery Tyrell sem revelar quais são seus reais objetivos.

No Norte, os Guardiões da Noite parecem ter sido superados pelos avanços do exército de selvagens de Mance Rayder, que por sua vez está sendo perseguido por um inimigo ainda mais temível: os White Walkers. Enquanto isso, Daenerys Taygaryen, acompanhada pelo seu trio de dragões (agora bem crescidos) e pelo exército de Imaculados, está pronta para libertar Meereen, a maior cidade da Baía dos Escravos no leste – o que pode lhe proporcionar navios suficientes para navegar até Westeros e reivindicar o Trono de Ferro.

Maratona Não entendeu nada? Pois ainda há tempo de tentar, ao menos, chegar ao universo proposto por Martin. Com a abertura dos canais HBO, hoje, a partir do meio-dia, haverá uma maratona da terceira temporada na HBO Plus. Já para assinantes, o Now, serviço on demand da Net, disponibilizou as três temporadas anteriores. Todas ainda estão sendo vendidas, juntas ou em separado, em DVD.

Nessa overdose de GoT, o Rio de Janeiro exibe, até quarta-feira, no Village Mall, na Barra da Tijuca, 100 peças originais utilizadas nas temporadas anteriores. Haverá também uma réplica do disputadíssimo trono de ferro. A exposição, que já rodou Nova York, Cidade do México e Austin, e tem paradas agendadas para Oslo, Toronto, Belfast e Vancouver, destaca também o figurino de Oberyn Martell.

O novo personagem da série deve ser um dos destaques da nova temporada. Seu intérprete, o ator Pedro Pascal, esteve no Rio de Janeiro há dois dias para maratona de divulgação de GoT. A seu lado, veio a atriz Gwendoline Christie, que interpreta a fiel e implacável Brienne of Tarth.


GAME OF THRONES
A quarta temporada estreia hoje, às 22h, na HBO.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 06/04/2014



 (BBC/Divulgação )

DIVA O Telecine Touch apresenta às 22h o drama Sete dias com Marilyn (foto). Colin Clark, empregado do ator Laurence Olivier, documenta a tensa relação entre seu patrão e Marilyn Monroe durante a produção de O príncipe encantado. No elenco, Michelle Williams, indicada ao Oscar por sua interpretação da diva platinada, Kenneth Branagh e Julia Ormond.

COMPULSÃO A série Acumuladores, que estreia às 20h40 no Discovery Home & Health, investiga o universo das pessoas que desenvolvem compulsão pela posse aleatória de objetos, justificada por apego emocional. As câmeras vão até as casas desses acumuladores, recolhem depoimentos deles e de seus familiares e registram o momento em que um psicólogo e uma equipe de limpeza intervêm na situação para tentar dar uma nova vida a essas pessoas.

Enlatados - Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br


Para além de Westeros
Ok, a grande estreia da semana é Game of thrones, nesta noite, na HBO. Mas há muita novidade na telinha para além das disputas nos Sete Reinos. O mesmo canal lança amanhã, às 22h, a terceira temporada de Veep, a comédia em que Julia Louis-Dreyfus encarna uma destemperada vice-presidente americana. Na sequência, às 22h30, entra no ar Silicon Valley, uma visão irreverente do mundinho do Vale do Silício, a meca da tecnologia do mundo. Em destaque estão quatro amigos que vivem numa incubadora de start-ups. Socialmente desajustados, os jovens estão sob a vigilância de um milionário da internet que os hospeda de graça na casa dele – em troca de uma participação de 10% em seus projetos.

Brasucas –A semana também terá a estreia de algumas produções nacionais. Amanhã, às 22h30, entra no ar no GNT o segundo ano de As canalhas, em que várias atrizes se dividem em histórias independentes que mudam a cada semana. Na quarta, no mesmo horário, Assunto de família é o destaque. Protagonizada por Eduardo Moscovis, a série gira em torno de um juiz da vara de família que tem um passado conturbado. Separado, ele tem duas filhas e foge de um novo compromisso. Com isso, ele se envolve com várias mulheres.

De época – E o GNT também traz nos próximos dias a quarta temporada da série de época mais comentada dos últimos tempos. Na quinta, 22h30, Downton Abbey retorna à telinha.
Comédia – Outra novidade, agora na Warner, é a comédia Surviving Jack, que estreia amanhã, às 20h. Christopher Meloni (a razão pela qual Law & Order: SVU era imperdível até dois anos atrás) é um oncologista militar do tipo objetivo, sem papas na língua e que sempre acompanhou a educação dos filhos à distância. Quando a mulher decide estudar direito, ele se vê obrigado a assumir a rédea da família. Para tal, usa de métodos nada gentis para tentar domar os filhos.

De olho na telinha - Simone Castro


Donas do pedaço

 (Paulo Belote/TV Globo)

Já está virando rotina em novelas. Um único personagem rouba a cena e passa a carregar a trama nas costas. O autor nem sempre consegue dar fôlego a todos os núcleos e centra fogo naquele que encontra resposta junto ao público. Com isso, o personagem que sobressai domina os capítulos. É o que está ocorrendo agora na trama de Em família (Globo). Hoje, pode-se dizer sem erro que a obcecada Juliana, de Vanessa Gerbelli, é quase a protagonista. Outra que toma conta da novela é Branca, vivida por Ângela Vieira. Mais: a Shirley de Viviane Pasmanter.

Mais uma vez, vale ressaltar que a ocupação do posto não tem nada a ver com a interpretação da real protagonista, Júlia Lemmertz, que vive Helena. A atriz é excelente, mas o texto dela vai devagar, quase parando. A impressão que se tem é que sua trama ainda não estreou. Simplesmente parou na segunda fase e, na atual, quem carrega o bastão é Luísa, de Bruna Marquezine. Até agora, tirando o encontro em Goiânia e o arranca-rabo entre os dois, Helena e Laerte (Gabriel Braga Nunes) estão mais distantes do que nunca.

O músico, atento à filha da leiloeira, nem sequer menciona seu antigo amor. A jovem está apaixonada por ele e, em breve, trocarão um primeiro beijo. A expectativa é de que aí Helena jogue tudo para o alto para lutar pelo ex-noivo e disputá-lo com a filha. Será que vai rolar? Uma coisa é certa: a trama que pode impulsionar a novela demora muito a ser disparada. O que, infelizmente, é característica do autor Manoel Carlos.

Enquanto isso, Juliana deita e rola. Ela sempre quis ter um filho. Não conseguiu realizar o sonho com o marido. Todo o seu amor foi para a filha da empregada. Com a morte dela, Juliana tentou ficar com a criança, mas esbarrou na resistência da avó da menina. Resumindo, para conseguir o que sempre quis, divorciou-se e marcou casamento com o pai de Bia (Bruna Faria). A história promete.

Já a cruzada de Branca é para acabar com o relacionamento do ex-marido Ricardo (Herson Capri) e Chica (Natália do Valle). Ela é uma típica personagem do autor, com seu texto ácido, mordaz, afiado e venenoso. Além disso, Branca tem uma relação bastante conflituosa com a filha, Gisele (Agatha Moreira), que já rende outra boa trama.

Shirley manteve o rumo desde quando era interpretada por Giovanna Rispolli e Alice Wegmann, respectivamente, na primeira e segunda fases. Com Viviane Pasmanter, a intensidade da personagem aumentou. Divertida, inconsequente e indiscreta, ela não anda enrolada numa cobra por acaso. E além de infernizar a vida dos outros, também tem uma relação difícil com a filha, Bárbara (Pollyana Aleixo). Enfim, Viviane, Juliana e Ângela formam uma trinca que se garante. Ainda que a novela não desenrole.

PLATEIA

VIVA
Para a novela Chiquititas, do SBT/Alterosa, que segue como ótimo programa infantojuvenil.

VAIA
Para o pouco aproveitamento de Marcella Valente no papel de Júlia, em Além do horizonte (Globo).


Túnel do tempo Viva tem estreias que fizeram história na TV brasileira: Dancin'days, nos anos 1970, e A viagem, dos anos 1990 

Publicação: 06/04/2014 04:00
Sônia Braga na pista de dança na novela da Globo que criou moda no Brasil (Reprodução/AE)
Sônia Braga na pista de dança na novela da Globo que criou moda no Brasil

O clima de discoteca dos anos 1970 está de volta à TV, a partir de amanhã, com a reapresentação da novela Dancin’ days, um verdadeiro clássico da teledramaturgia brasileira. A exibição do folhetim será de segunda a sábado, à meia-noite, e, em horário alternativo, também de segunda a sábado, às 12h.

A trama, exibida em 1978 pela Rede Globo, traz atuações memoráveis de Sônia Braga, Joana Fomm, Antonio Fagundes e Reginaldo Faria. Dancin’ days inaugurou ainda o estilo marcante do autor Gilberto Braga, que propõe uma discussão dos valores da classe média e das elites urbanas em suas novelas.

A história do folhetim é focada na rivalidade entre duas irmãs: a ex-presidiária Júlia Matos (Sônia Braga) e a socialite Yolanda Pratini (Joana Fomm). Acusada de atropelar e matar um segurança, Júlia é condenada a 22 anos de prisão. Depois de cumprir metade da sua pena, ela consegue liberdade condicional.

A partir daí, a protagonista vai tentar se livrar do estigma de ex-presidiária. Seu primeiro desafio é reconquistar o amor da filha, Marisa (Gloria Pires). A menina foi criada por Yolanda, que, com medo de perder a sobrinha, dificulta a aproximação entre mãe e filha.

Porém, Júlia consegue driblar as armações da irmã e se torna amiga da herdeira, usando outra identidade. Marisa nem desconfia que sua nova amiga é, na verdade, sua mãe. A jovem é influenciada pela tia a se casar por interesse com Beto (Lauro Corona), filho de "uma boa família". Ela acaba engravidando para dar o "golpe da barriga".

 No dia do casamento, Júlia revela que é mãe de Marisa e tenta impedir a união. Ela vai presa novamente e promete se vingar quando sair da cadeia.

 Quando fica de novo em liberdade, Júlia se casa com Ubirajara (Ary Fontoura), um homem rico e apaixonado por ela. Mas o grande amor de sua vida é Cacá (Antonio Fagundes), um diplomata insatisfeito com a profissão.

 A reviravolta na história ocorre quando a protagonista retorna ao Brasil, depois de uma viagem à Europa, totalmente mudada. Ela se transforma em uma mulher elegante e moderna, despertando a inveja da irmã, que estará falida.

horário nobre Em 1994, entrava no ar A viagem, remake da Globo para a novela homônima que havia sido sucesso na TV Tupi, em 1975. Exatos 20 anos depois, a reprise da trama retorna à telinha pelo canal pago Viva, a partir de amanhã. O folhetim – pioneiro por trazer o tema do espiritismo para o horário nobre global – substituirá Água viva na faixa da meia-noite – a exibição será de segunda a sábado.

Dirigida por Wolf Maia, A viagem aborda a vida após a morte a partir da doutrina de Allan Kardec (1804-1869), autor e educador francês que sistematizou o espiritismo. A novela ficou marcada pelo grande sucesso de audiência – com média de 52 pontos no Ibope – e por contar com elenco estelar: Antonio Fagundes, Christiane Torloni, Maurício Mattar, Andréa Beltrão, Miguel Falabella, Lucinha Lins, Laura Cardoso, Jonas Bloch e Guilherme Fontes.

Tereza Cruvinel - Ventilador eleitoral‏

Uma CPI de amplo espectro será como um ventilador na campanha eleitoral, voltado para os partidos dos três principais candidatos a presidente


Estado de Minas: 06/04/2014


Na quarta-feira passada, formou-se uma maioria de votos no STF a favor da supressão das doações de empresas a partidos e candidatos nas campanhas eleitorais, em votação interrompida pelo pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. Dificilmente ela será concluída antes do pleito de outubro, que mais uma vez ocorrerá sob forte influência do poder econômico. No mesmo dia, nos Estados Unidos, a Suprema Corte acabou com o limite individual das doações, o que significará o aumento da influência do dinheiro já nas próximas eleições legislativas americanas.

Enquanto isso, no Congresso brasileiro, governo e oposição se engalfinharam na guerra das CPIs que pode jogar lama sobre os partidos dos três principais candidatos as presidente. Se for instalada a CPI de foco ampliado – proposta pelos governistas para neutralizar a iniciativa da oposição, de investigar apenas a Petrobras mirando a imagem da presidente Dilma Rousseff –, não há dúvida de que sobrará para todo mundo. Nos maus negócios da estatal, no cartel ferroviário sob a dinastia tucana em São Paulo ou nas irregularidades pernambucanas no Porto de Suape, se houve dinheiro desviado, pelo menos uma parte financiou políticos, partidos ou candidatos. Por isso, os governistas resolveram ligar o ventilador, e a oposição chia tanto contra a tentativa de ampliar o foco da CPI, ameaçando ir ao STF.

A guerra das CPIs anuncia a adesão de todos à tática da campanha negativa, baseada na desmoralização do adversário para enfraquecê-lo. Os negócios estranhos da Petrobras estão para a reeleição de Dilma como o mensalão esteve para Lula em 2006. Neste fim de semana, o estrago deve ser anunciado por uma pesquisa Datafolha. Mas, ligado o ventilador da CPI ampliada, Aécio Neves e Eduardo Campos também podem ser alvejados, ou pelo menos seus partidos, chegando os três feridos e lanhados ao horário eleitoral.

Aqui e em qualquer país, está provado que, quanto mais o dinheiro domina a política, maior a frequência de escândalos e, por decorrência, a decepção dos eleitores. Na corte americana, os juízes conservadores que derrubaram o teto de doações expressaram o ponto de vista do Partido Republicano, segundo o qual o limite configura restrição à liberdade de expressão consagrada pela Emenda Número 1 da Constituição. Os liberais, em sintonia com o Partido Democrata, defenderam o teto como freio à influência dos mais ricos e à corrupção. A lei americana fixava em US$ 123,2 mil o limite para cada doador individual, agora derrubado. Em 2010, já havia sido suprimido o limite para doações de empresas e de sindicatos. No STF, os seis votos já proferidos indicam inclinação oposta, para a vedação das doações de empresas. Mas, como campanhas custam dinheiro, e ele não nasce em árvores, a contrapartida seria o financiamento público de campanhas, que não acabará com a corrupção, mas pode contê-la, proporcionando também mais igualdade aos candidatos na competição. Já o Congresso não tem a menor simpatia pela ideia, preferindo a mancebia com as empresas. Talvez porque, apesar dos escândalos, pelo menos para alguns, sempre sobra algum.

As boas intenções

Nove ministros, seis governadores e dezenas de secretários estaduais deixaram os cargos, observando o prazo legal expirado ontem, para concorrerem a cargos eletivos. A lei pode ser bem intencionada quando exige o afastamento dos candidatos seis meses antes do pleito para evitar o uso da máquina, mas tem pecados graves. É iníqua pois, ao contrário do que exige de ministros e de secretários, permite que um vice-governador assuma o posto e dispute novo mandato refestelado na cadeira (e nas vantagens). É hipócrita, pois um ministro ou secretário que vai ser candidato já fez o uso que bem quis do cargo ao deixá-lo em abril para concorrer em outubro. E é administrativramente inconsequente quando força a nomeação de gestores públicos para ficar no cargo apenas nove meses, tempo que mal dará para esquentarem a cadeira e tomarem pé da situação da pasta. Por essas e outras razões, se um dia houver por aqui uma reforma político-eleitoral digna do nome, o chamado prazo de desincompatibilização teria de ser ampliado para, no mínimo, um ano antes do pleito. E, dos candidatos a prefeito, a governador e a presidente, deveria ser exigido o licenciamento do cargo durante a campanha para a reeleição, como propõe emenda constitucional já aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Outra máfia, outra CPI

Foi longa a luta dos portadores de deficiência para que o SUS passasse a lhes fornecer órteses e próteses, o que ainda exige, frequentemente, um recurso judicial. Mas, como no Brasil tudo se desvirtua, acabou surgindo uma máfia reunindo médicos, fabricantes e fornecedores que cartelizam os preços de tais equipamentos. Os pedidos médicos e os gastos com eles cresceram em proporção geométrica nos últimos anos. Uma prótese que custa R$ 15 mil num estado sai por R$ 50 mil em outro. Os deputados Rogério Carvalho (PT-SE) e Ricardo Izar (PSD-SP) estão coletando assinaturas para uma CPI destinada a investigar essa máfia. Não tem o apelo da CPI da Petrobras, mas pode tapar um sugadouro de recursos da saúde.

Socorro seletivo

Os empresários se movem para obter no Senado as mudanças que não conseguiram na Câmara, no texto da MP 627. Querem estender a outros setores o refinanciamento das dívidas tributárias contraídas até 2013, concessão limitada a bancos, seguradoras e multinacionais. O relator, senador Francisco Dornelles (PP-RJ), analisa mais de 600 emendas.

Kiarostami não vai ao cinema‏ - Carolina Braga

Kiarostami não vai ao cinema 

O diretor iraniano de Gosto de cereja defende um cinema de liberdade, feito de planos contemplativos. Sem apego ao passado, ele diz que o formato digital supera a película 


Carolina Braga
Estado de Minas: 06/04/2014


Abbas Kiarostami defende o papel ativo do espectador e diz que repudia qualquer tentativa de manipulação pelas imagens (Joaquin Sarmiento/AFP)
Abbas Kiarostami defende o papel ativo do espectador e diz que repudia qualquer tentativa de manipulação pelas imagens


Abbas Kiarostami tem um olhar contemplativo. É daqueles que entram em casa alheia pé ante pé. Com sorrisos contidos e o ar desconfiado. Tímido. Não parece ser adepto a homenagens, tributos, ainda que a educação o faça respeitar o agrado. Dá sinais de que prefere ouvir do que falar. Eis o homem que há 44 anos resolveu contar histórias por meio das imagens, dando sempre liberdade de interpretação a quem recebe. E isso é tão caro a ele que confessa: “Vou poucas vezes ao cinema. Nem sei quando foi a última vez”.

A confidência diz muito sobre o diretor iraniano, criador de obras-primas como Gosto de cereja (1997), ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Dez (2002), Cópia fiel (2010), Um alguém apaixonado (2012) e muitos outros. “Como fazer um filme sem refletir?”, questiona em um recado direcionado aos adeptos do cinema ultraeditado, de imagens em close. Pois o ritmo frenético da produção contemporânea vai totalmente contra ao que Kiarostami pensa sobre – e para – o cinema.

Para ele, o poder de um filme reside nos planos abertos. É quando o diretor tem a chance de dar o direito ao espectador de ver na perspectiva que lhe convier. O foco pode estar no diálogo, na representação dos atores principais ou mesmo em quem passa lá no fundo. “Com os planos mais abertos o espectador tem papel mais ativo”, defende. Se é assim que o cinema tem sentido para ele, e se o que temos visto hoje vai em direção oposta aos planos contemplativos, Kiarostami lamenta. “O direito do espectador passou para o diretor”. Seja no Irã, no Brasil, na França, no Japão. É sintoma do presente.

A primeira aproximação artística de Abbas Kiarostami foi com as artes plásticas. O menino nascido em Teerã em 22 de junho de 1940 queria ser pintor. “Somente a imagem me completava”, lembra. Daí para o cinema foi um pulo, já que, como defende, “o papel de relatar uma história é responsabilidade da imagem”. A câmera, no caso, virou seu pincel.

“Nada acontece nos filmes de Kiarostami.” Eis um lugar-comum bastante difundido e que apenas revela insensibilidade de quem comunga com esse juízo apressado. Na verdade, nada é gratuito no cinema de Abbas. Inclusive os acontecimentos. Há uma escolha por ações que não são explícitas. Perspectiva corroborada pelo próprio cineasta.

Tomando por exemplo uma de suas obras mais recentes, Um alguém apaixonado (2012), a riqueza da trama está muito mais no que o espectador será capaz de imaginar sobre a relação de uma jovem (Rin Takanashi) e um senhor (Tadashi Okuno), do que propriamente o que encontrará na tela. O silêncio que diz muito, aliás, é marca de tantas outras características da ética das imagens do cineasta iraniano.

Gosto de cereja     (MK2 Productions/Divulgação)
Gosto de cereja
Cópia fiel (Laurent Thurin Nal/Divulgação)
Cópia fiel


Fim da película

São 43 filmes, entre longas, curtas e documentários, como diretor, sendo 45 como roteirista. Kiarostami começou a produzir em 1970. Era o tempo de ouro da película, curiosamente usada a contragosto pelo realizador. Sim, por incrível que possa parecer, Kiarostami deixa transparecer que sempre teve preguiça de filmar em celuloide. “Já não tenho ânimo para trabalhar com 35mm. Comprei minha primeira câmera digital no Japão, há 20 anos, e senti uma liberdade de mentalidade”, conta.

Além de muito mais barato, o digital apareceu na vida de Kiarostami como autorização para descobrir outras maneiras de contar histórias por meio da imagem. Não há como negar a importância da revolução que a tecnologia representou – e ainda representa – para o cinema. “A câmera digital te dá valentia. Tem um aspecto de descobrimento”, confessa, afastando qualquer saudosismo ligado ao fim do 35mm.

Independentemente do suporte utilizado, o que não vale para Kiarostami é o sequestro do espectador. “A única coisa que não gosto é da manipulação”, ressalta. É o cinema da liberdade. Embora viva em um país marcado por conflitos políticos e religiosos, os filmes do diretor são poemas visuais, por mais pesados que sejam os temas.

Apesar de avesso a grandes ações, da escolha por planos abertos e por fazer o espectador passear com a câmera, os personagens de Kiarostami estão sempre em transformação. Seja ela interior ou não. Com uma voz cadenciada, que o coloca em lugar do mestre, o cineasta iraniano explica que o que diferencia o homem de uma árvore é sua capacidade de se mover. Essas transformações são o que interessa ao cinema que faz. “Não se limite ao local onde está. Não se pode morrer no mesmo lugar do nascimento”, filosofa.

Abbas e Gabo
No mês passado, o cineasta Abbas Kiarostami recebeu um tributo do Festival internacional de Cinema de Cartagena de Índias, da Colômbia. O diretor chegou à cidade obcecado pela ideia de conhecer o escritor Gabriel García Márquez, personagem ilustre do local. Decepcionou-se ao saber que Gabo vive no México e há muito não retorna ao país natal.

O interesse do diretor iraniano em conhecer o escritor deve-se especialmente ao livro Memórias de minhas putas tristes. “Quando estava fazendo Like someone in love (2012), alguém me recomendou a leitura. Não gosto de fazer isso enquanto filmo, deixei para quando terminasse. Fiquei encantado”, conta.

Tela e livro

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1997, Gosto de cereja é apontada como uma das obras mais importantes da cinematografia de Abbas Kiarostami. Alçado ao posto de clássico, o longa está disponível na íntegra no YouTube, com legendas em português. Para quem quiser conhecer mais o trabalho do cineasta, o crítico e estudioso Jean-Claude Bernadet publicou, pela Editora Companhia das Letras, o livro Caminhos de Kiarostami (2004), análise completa do trabalho do cineasta.

Principais filmes


» Um alguém apaixonado (2012)
» Cópia fiel (2010)
» Dez (2002)
» O vento nos levará (2000)
» Gosto de cereja (1997)
» Através das oliveiras (1994)
» Onde fica a casa do meu amigo? (1987)

Herói sem rosto? [Tiradentes] - Ana Clara Brant

Herói sem rosto?
 
Tiradentes e sua história desafiam pesquisadores e jornalistas que trabalham em livros sobre sua vida e atuação política. Joaquim José da Silva Xavier também inspira filme e série de TV


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 06/04/2014



Imagem de Tiradentes produzida para o livro 1789, de Pedro Doria, feita a partir de depoimentos de época: longe do estereótipo   (Nova Fronteira/Reprodução  )
Imagem de Tiradentes produzida para o livro 1789, de Pedro Doria, feita a partir de depoimentos de época: longe do estereótipo



Quem de fato foi Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792)? Mesmo sendo um personagem mais famoso e estudado da Inconfidência Mineira, ele ainda é envolto em mistério e sombras. Não se sabe ao certo onde nasceu ou como era o seu rosto, mas dois livros escritos por jornalistas prometem revelar um pouco mais dessa emblemática figura histórica.

O primeiro deles é 1789 – História de Tiradentes – Contrabandistas, assassinos e poetas que sonharam a independência do Brasil (Editora Nova Fronteira), que está chegando às livrarias, do jornalista Pedro Doria. Na publicação, o autor mostra a luta dos inconfidentes por um Brasil independente e traz o rosto daquele que ficou conhecido como o grande herói do movimento. “Pelos relatos da época e de historiadores, Tiradentes era um homem alto, grisalho, a barba benfeita, bigodes bem-aparado. E sempre levava a tiracolo os inseparáveis ferrinhos de arrancar dentes, um espelho e não uma, mas duas navalhas. Aquela imagem com a barba grande, assemelhando-se a Jesus Cristo, é do início do século 20 e foi como a história oficial o registrou”, declara.

Doria, que passou um ano pesquisando, dedica um capítulo inteiro a Joaquim José intitulado “Um homem chamado liberdade” e tem a sua versão sobre ele. Tiradentes seria uma pessoa extremamente empolgada, muito popular na tropa e carismático. Para o jornalista, o alferes acabou sendo o mais lembrado entre os inconfidentes, porque foi o único enforcado e condenado à morte e, sobretudo, o único réu confesso. “Nenhum outro se declarou culpado, mas todos também tiveram destinos bem trágicos. As penas foram pesadas e ninguém teve vida fácil. Degredo na África, prisões. O fim de Cláudio Manoel da Costa até hoje é enigmático. Um suicídio que alguns defendem que foi assassinato. Provavelmente, ele foi o nosso primeiro Vladimir Herzog”, compara, referindo-se ao jornalista morto em 1975 nas dependências do DOI-Codi, no 2º Exército, em São Paulo.

Doria não tem dúvidas de que Tirantes foi uma peça fundamental na conspiração, mas lembra que ela não foi iniciativa de um homem só. Em seu livro, ele destaca a presença de três grupos importantes: o primeiro formado pelos poderosos e ricos das Gerais, que financiavam a revolta e tinham interesses econômicos caso ela fosse bem sucedida, já que suas dívidas com a Coroa seriam canceladas; o segundo constituído pelos intelectuais, do qual faziam parte padre Rolim, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manoel da Costa, que conheciam as ideias iluministas surgidas na Europa e eram os pensadores; e o terceiro grupo, os militares, sem o quais não se faria um golpe. Era neste último que estava incluído Tiradentes. “A Inconfidência Mineira é um momento-chave da história do nosso país. Por muito pouco ela não deu certo. Se tivesse se concretizado, o Brasil teria sido muito diferente e vivido uma revolução liberal. Teríamos conquistado uma independência por nós mesmos, e não algo concedido pela família real. Isso mudaria tudo”, defende.

Autor também de 1565 – Enquanto o Brasil nascia, dedicado às origens do país, Doria diz que seu novo livro traz a descrição dos protagonistas, mapas da região de Minas Gerais e um colorido caderno de fotos. Constam nele cartas, documentos, escrituras e imagens de figuras históricas, além do retrato de Tiradentes feito a partir de relatos de contemporâneos. Para o escritor, o mais surpreendente do trabalho é a quantidade de detalhes que a história proporciona, até porque o material de pesquisa, sejam os documentos e livros, como os Autos da devassa e A devassa da devassa, do historiador britânico Kenneth Maxwell, são extremamente ricos de informações. “Há tantos diálogos registrados que você consegue produzir uma narrativa que é ao mesmo tempo aventura e romance, com momentos de conspiração, prisões e dramas – tudo isso sem precisar de uma vírgula de ficção. Cada aspas que está em 1789 realmente foi dita por aqueles personagens. Acaba virando um livro muito gostoso de ler e sem inventar absolutamente nada. A gente aprende a história de uma maneira muito interessante”, garante Pedro Doria.



"É possível produzir uma narrativa que é ao mesmo tempo aventura e romance, com conspirações, prisões e dramas, sem precisar de uma vírgula de ficção" ( Pedro Doria, autor de 1789)



"Estará chutando quem disser como era Tiradentes, se branco ou mestiço, se tinha ou não barba. Há muita informação sobre sua vida, mas não sobre sua aparência" ( Lucas Figueiredo, jornalista, trabalha em biografia de Tiradentes)



Homem por trás do mito

O mártir da Conjuração Mineira também vai ganhar em breve uma biografia exclusiva, escrita pelo jornalista Lucas Figueiredo. Com previsão de lançamento para 2015, pela Companhia das Letras, o livro vai contar a vida de Tiradentes de seu nascimento até a morte, ou seja, muito além de sua participação no movimento político. “Contará, por exemplo, como ele foi chamado para comandar o combate aos temidos bandos criminosos que assolavam Minas no século 18. A própria rainha de Portugal, dona Maria I, escreveu a ele dando-lhe ordens nesse sentido. Uma missão perigosa que foi coberta de êxito, mas que nunca foi reconhecida pela Coroa portuguesa. Enfim, será uma biografia clássica: o homem e sua história”, adianta Lucas.

O interesse do jornalista pelo personagem se deu quando fazia a pesquisa de seu livro Boa Ventura!, que conta a saga da corrida do ouro no Brasil do século 18. Nessa época, acabou reunindo um vasto material do período vivido por Tiradentes, já que pesquisou em arquivos de Portugal e da França e passou alguns anos desenvolvendo o projeto. Este ano, vai se dedicar a garimpar mais documentos em Minas, Rio de Janeiro e talvez volte a Lisboa e Paris.

Apesar de Joaquim José da Silva Xavier ser personalidade presente na vida de todo brasileiro desde os tempos de colégio, há pontos obscuros em sua trajetória. “Nas escolas, salvo honrosas exceções, ensina-se a história de uma maneira mecânica. Dá-se muita importância para a decoreba de datas, mas pouca atenção para os personagens. Estudamos um pouco sobre Tiradentes, um pouco sobre Aleijadinho, mas sempre de forma estanque. Quase nunca associamos que Tiradentes e Aleijadinho viveram na mesma época e na mesma cidade, o que nos faz pensar que Ouro Preto era uma sociedade fascinante no século 18”, observa.

Ao contrário do colega Pedro Doria, que em seu novo livro apresenta um retrato do inconfidente mineiro feito a partir de relatos, Lucas Figueiredo acredita que não há evidências conclusivas que nos permitam dizer como era realmente o seu rosto. Outro aspecto impreciso da vida do mártir é o local exato de seu nascimento. “Estará chutando quem disser como era Tiradentes, se branco ou mestiço, se tinha ou não barba. Um fato curioso, aliás, pois há muita informação sobre praticamente toda a sua vida, mas não sobre sua aparência. Já com relação ao lugar onde nasceu, estou justamente trabalhando nesse assunto agora, mas prefiro não me adiantar no tema, pois ainda não fechei a pesquisa”, explica.

O autor de livros como Morcegos negros e O operador, sobre temas contemporâneos, Lucas é um entusiasta do seu biografado e, mais do que rotular Tiradentes, quer contar a vida de um personagem interessante, de carne e osso. “Vilão certamente ele não foi. Herói para muitos, mas não para todos, depende da visão de cada um. Sem dúvida, ele deu a vida por uma causa, o que o torna um mártir. Órfão de pai e mãe, que se fez mascate, minerador, proprietário de terras, dentista, empreendedor, militar, caçador de bandidos e militante político. E que, estando num prostíbulo, era capaz de inflamar-se quando discorria publicamente sobre as vantagens da República. Que foi pai, mas nunca se casou; que chamou para si a tarefa mais controversa da Inconfidência, mesmo entre os inconfidentes: o assassinato do governador”, conclui.

enquanto isso...

...Cinema e tv


Tiradentes não estará apenas nas páginas dos livros, mas também na telona e na telinha. A REC Produtores, de Pernambuco, responsável por Tatuagem, de Hilton Lacerda, vai levar para o cinema Um certo Joaquim, ficção sobre o herói da Inconfidência Mineira. O projeto foi aprovado pela Ancine e custará R$ 3 milhões.

O filme, que terá direção e roteiro de Marcelo Gomes e coprodução da produtora espanhola Wanda Films, deve começar a ser rodado no segundo semestre e terá locações em Minas.
Já o dramaturgo e poeta mineiro Geraldo Carneiro está trabalhando em projeto com o qual sonha há muitos anos, Inconfidência, para a TV Globo. A série deve ir ao ar em 2015. A direção será de Daniel Filho. 

Cesárea "forçada" e o direito à vida - Luciana Dadalto

Estado de MInas: 06/04/2014 



Nos últimos dias, a mídia brasileira tem repercutido a decisão judicial proferida pela juíza plantonista Liniane Maria Mog da Silva, que depois de acatar um pedido do Ministério Público de Torres (RS), determinou que Adelir Carmen de Goes, na 42ª semana de gestação, fosse submetida a uma cesariana contra sua vontade. O caso é polêmico, pois parece, à primeira vista, que o Poder Judiciário invadiu a vida privada da gestante para decidir, em nome dela, se o parto seria normal ou cesárea. Analisado dessa forma, isso seria absurdo e inconstitucional, uma vez que a Constituição garante o direito à liberdade, conhecido, no âmbito das relações privadas, como direito à autonomia privada.

Entretanto, é preciso conhecer as minúcias desse caso, sobre as quais o noticiário, infelizmente, não nos conta. O que se sabe, até agora, é que a gestante estava na 42ª semana de gestação, em sua terceira gravidez, que o feto pesava mais de três quilos e estava sentado. Assim, com base nessas informações, a médica entendeu que haveria risco de morte para a mãe e para o bebê, razão pela qual entendeu ser necessário fazer uma cesárea, o que foi recusado pela gestante. Diante de tal negativa, a médica acionou o Ministério Público, que ajuizou um pedido de medida protetiva para o feto.

Ora, se os fatos até agora conhecidos forem verdade, parece óbvio que a decisão judicial foi acertada, uma vez que a proteção ao menor é assegurada pela Constituição, que prevê expressamente, em seu artigo 227, que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida...”.
Por essa razão, soa despropositado o “barulho” feito por ativistas que estão se utilizando desse fato para levantar a bandeira da falta de autonomia da mulher na sociedade brasileira, da violência contra a mulher e, ainda, da necessidade de se dar prioridade ao parto normal. Todos esses fatos são verídicos. Vivemos em um país com altos índices de violência contra a mulher e um dos maiores índices de cesárea do mundo.

Todavia, antes de utilizarmos o caso para defender essas questões – que sem dúvida, merecem ser defendidas –, precisamos saber, em detalhes, o que realmente ocorreu. Para que fique claro: se os fatos que foram divulgados pela mídia são verdadeiros, não há espaço para discussão. A cesárea era imprescindível, pois era o único meio hábil de garantir a vida da gestante e da criança. A autonomia individual deve ser preservada desde que não coloque em risco a vida e a saúde de outras pessoas. Dessa forma, se estivéssemos diante de um caso de recusa de um procedimento, sem que a mulher fosse gestante, a coerção ao procedimento seria ilegal.

Entretanto, no episódio narrado, a paciente que negou o procedimento estava grávida e, portanto, a negativa colocava em risco a vida de um ser que deveria ser protegido por ela, pela sociedade e pelo Estado. A decisão da médica em chamar o Ministério Público foi para proteger o bebê, assim como a decisão do órgão público em ajuizar a ação também buscou assegurar a vida ao feto. A decisão da juíza foi para proteger a criança. Qualquer coisa que se fale diferente disso deve ser provada por fatos que ainda não foram veiculados e que, portanto, são argumentos ideológicos diante de um triste caso de irresponsabilidade materna.

Luciana Dadalto
Advogada coordenadora do departamento de direito médico da Ivan Mercêdo Moreira Sociedade de Advogados

Eduardo Almeida Reis-Mistério‏

Mistério 
 
Por que me lembrava do cantor, compositor e músico americano, que nunca ouvi? Ora, porque entre os seus pertences espalhados pelo chão havia uma caixa de charutos cubanos... 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/04/2014


Escrevo na tarde de quinta-feira, 27 de março, depois de tomar um susto. Sempre que posso assisto ao programa Estúdio i com Maria Beltrão e seus convidados. A bancada tinha como convidada a atriz Fernanda Machado e os jornalistas Arthur Xexéo, Flávia Oliveira e Diego Pose, especialista em futebol.

Não sei se já aconteceu com o leitor, mas de vez em quando tenho a impressão de estar ficando maluco. Hoje, tive a certeza. Explico: fiquei achando que já conhecia a entrevista com Fernanda Machado, lembrava-me de trechos inteiros, problemas com o autismo de sua cunhada, que chorou quando levada ao teatro numa peça em que Fernanda dialogava com uma falsa autista – e todos os atores choraram.

Mais adiante, Xexéo disse que já teve cabelos. Melhor que isso: rabo de cavalo que alcançava sua cintura. Também me lembrava dessa confissão feita ao crítico de arte Marioti, que falava de Paris sobre a exposição de fotos sobre Kurt Cobain (1697-1694). Por que me lembrava do cantor, compositor e músico americano, que nunca ouvi? Ora, porque entre os seus pertences espalhados pelo chão havia uma caixa de charutos cubanos, utilizada, segundo a reportagem, para guardar drogas.

Quinze minutos antes de terminar o programa vim para o computador certo de que assistira àquele Estúdio.

Já estou escrevendo na manhã do dia 28 de março, ainda sem explicação para o programa de ontem. Li os jornais e não vi notícia da repetição. Entendo e louvo que certos programas semanais sejam repetidos em outros dias e horários, mas um programa diário?

Especialista

Pintou num Manhattan Connection de março jovem brasileiro narigudo, que já teria trabalhado em diversos países e hoje é um dos colaboradores da revista Forbes, especializado em entrevistar bilionários. Disse coisas interessantíssimas, como por exemplo: os bilionários franceses não gostam de aparecer e moram quase todos na Suíça. Quanto aos norte-americanos, que são muitos, depois do governo Obama passaram a queixar-se de que têm sido malvistos pela sociedade.

Dos que entrevistou, disse que não há padrão comportamental: alguns têm um caminhão de namoradas enquanto outros estão casados com as colegas de escola e felizes para sempre. Bill Gates casou-se com uma funcionária de sua empresa Microsoft e aparentemente (a observação é minha) o casamento vai muito bem, obrigado.

Todos, sem exceção, dizem preocupar-se com a filantropia, sem que o repórter possa garantir que todos sejam filantropos. Mas ficou impressionado com o foco, com a atenção dos bilionários nele, entrevistador. Sentiu-se importantíssimo e disse que Bill Clinton também é assim: a pessoa que conversa com Clinton fica encantada e se sentindo muito importante.

Falou pouco dos bilionários brasileiros, que têm aumentado nos últimos anos. Se ouvi direito, a Forbes tem 400 funcionários pesquisando o palpitante assunto, estudando empresas, balanços, paraísos fiscais, testas de ferro, sinais exteriores de riqueza, essas coisas.

Nunca vi de perto um Gates, um Slim, um Buffett, mas tenho visto mineiros abonados, alguns já na faixa dos jatinhos de US$ 50 milhões, que fazem BH-Miami sem reabastecimento de combustível. Têm uma característica: nunca levam dinheiro nos bolsos.

Por via de consequência, como gostava de dizer o nosso muito saudoso Aureliano Chaves, as gorjetas nos restaurantes e as gratificações dos flanelinhas ficam por conta dos remediados que se metem a acompanhar os ricaços. Remediado nunca sai de casa sem uns cobrinhos nos bolsos.

O mundo é uma bola


Em 6 de abril de 648 a.C. ocorre o mais antigo eclipse solar registrado pelos gregos. Posso imaginar a sensação deles: até hoje, fico encantado nas noites de lua cheia. Em 1385, as Cortes de Coimbra aclamam João I rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis. João I era filho natural de el-rei Pedro I.

Hoje, como termo jurídico, filho natural é filho concebido fora do casamento, por pessoas que não possuem impedimento algum que as proíba de casar, ou filho concebido depois de se haver extinguido o vínculo conjugal. Onde se lê “hoje”, leia-se: no dia em que o Houaiss eletrônico foi editado, que as coisas estão mudando numa velocidade assombrosa.

Em 1830, organizada a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como igreja dos Mórmons, doutrina protestante, fundada nos EUA por Joseph Smith (1805-1844) e disseminada pela América do Sul e Central, Europa e algumas regiões do extremo Oriente. Entre outras coisas, admite a poligamia, o fim do mundo, o batismo etc.

Ruminanças

“O ruim de ser rico é viver com pessoas ricas” (Logan Pearsall Smith, 1865-1946).

JOSÉ WILKER » Coração mata o ator José Wilker

Com quase meio século de carreira, o artista encantou o Brasil como Vadinho, Roque Santeiro e o divertido Giovanni Improtta



Estado de Minas: 06/04/2014







"A melhor coisa que pode acontecer a um personagem é ver suas falas serem apropriadas pelo público"  José Wilker, ator e diretor

Rio de Janeiro – O Brasil perdeu um de seus artistas mais queridos: José Wilker, de 66 anos, teve um enfarte agudo do miocárdio ontem de manhã, no apartamento da namorada, a jornalista Claudia Montenegro, no Rio de Janeiro. O corpo será cremado hoje à tarde, no Memorial do Carmo, na zona portuária da capital fluminense. Wilker deixa duas filhas: Mariana, com a atriz Renée de Vielmond, e Isabel, fruto da relação com a atriz Mônica Torres.

Querido do público e respeitado pela crítica, o cearense José Wilker foi um artista completo, apaixonado por seu ofício. Ator e diretor, jogava em todas – cinema, teatro e televisão. Tornou-se popular com papéis como o de Vadinho, no filme Dona Flor e seus dois maridos (1976), de Bruno Barreto, fenômeno das telas nacionais. O bordão “felomenal” de seu impagável Giovanni Improtta, contraventor da novela Senhora do destino (2004), e Mundinho Falcão, o galã da novela Gabriela (1975), são apenas duas facetas de um homem que atravessou décadas no coração do público.

Rádio Cearense de Juazeiro do Norte, José Wilker descobriu o amor à arte por meio do rádio. Quando tinha 13 anos, seus pais se mudaram para Pernambuco, onde ele começou a trabalhar como radialista e ator. Interessado em política (dizia-se comunista ainda na infância), fazia peças para difundir as ideias revolucionárias do pedagogo Paulo Freire entre trabalhadores rurais e operários.

Chegou ao Rio de Janeiro aos 19, iniciando a carreira no cinema e no teatro. O primeiro filme foi A falecida (1965), em que fez apenas uma ponta. Nos palcos, integrava o elenco de Chão dos penitentes, com produção do Teatro Jovem, fez peças de vanguarda como A ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht, e O rei da vela, do Grupo Opinião. Ambas foram apresentadas no Teatro Ipanema – local de seu velório.

Estudante de sociologia na PUC Rio, José Wilker era ator engajado nos anos de chumbo, marcados pela ditadura militar. Fez peças-ícone da década de 1970, como Hoje é dia de rock e Hair, que discutiam as mudanças na sociedade. Ganhou prêmios respeitados na área de artes cênicas.

Wilker trabalhou também em quatro dezenas de filmes – entre eles, duas produções emblemáticas do diretor Cacá Diegues: Xica da Silva e Bye Bye Brasil. Ficou marcado por papéis como o político Tenório Cavalcanti, em O homem da capa preta, e Antonio Conselheiro, em A Guerra de Canudos.

Novelas Sua primeira novela foi Bandeira 2, em 1971. Em 1976, quando chamava a atenção como o carismático Vadinho no filme Dona Flor..., interpretou seu primeiro protagonista na telinha em Anjo mau, de Cassio Gabus Mendes. Em 1985, encarnou o inesquecível Roque Santeiro, protagonista da novela homônima exibida na TV Globo. E marcou presença nas duas versões de Gabriela, como o visionário Mundinho Falcão, em 1975, e o violento coronel Jesuíno no remake exibido em 2012.

Além do “felomelal”, outro bordão de Wilker ganhou as ruas. “Deite que vou lhe usar”, dizia o coronel à mulher Sinhazinha, papel de Maitê Proença. “Jesuíno é uma das melhores coisas que já fiz na minha carreira. A melhor coisa que pode acontecer a um personagem é ver suas falas serem apropriadas pelo público”, declarou ele.

Até janeiro, Wilker pôde ser visto na TV como o médico Herbert da novela Amor à vida. O ator fez vários personagens importantes em minisséries da Globo, como Anos rebeldes (1992), Agosto (1993), A muralha (2000) e JK (2006), no papel de Juscelino Kubitschek.

Ele dirigiu também sucessos da TV como o humorístico Sai de baixo (1996) e as novelas Louco amor (1983), de Gilberto Braga, e Transas e caretas (1984), de Lauro César Muniz. Na TV Manchete, dirigiu e atuou em Carmem (1987), de Gloria Perez, e Corpo santo (1987), de José Louzeiro.


JOSÉ WILKER » O cinéfilo de carteirinha 

Mariana Peixoto

José Wilker está no elenco de duas produções inéditas. A primeira a chegar aos cinemas será Isolados, thriller psicológico do cineasta Tomás Portella (assistente de direção do longa Giovanni Improtta), com previsão de estreia para 21 de agosto. Com roteiro de Mariana Vielmond, primogênita de Wilker, o filme é protagonizado por Bruno Gagliasso e Regiane Alves, que vivem o casal com distúrbios psicológicos que aluga casa em um lugar remoto para tentar reanimar a relação. Coisas estranhas começam a ocorrer por lá. Em pequena participação, Wilker interpreta o psiquiatra do personagem de Bruno.

Maior foi o papel do ator em outro inédito, este filmado na região de Diamantina. Inspirado no conto homônimo de João Guimarães Rosa, o longa-metragem A hora e a vez de Augusto Matraga, de Vinicius Coimbra, foi exibido em apenas uma sessão no Festival do Rio, em 2011, e ainda não tem previsão de estreia. O papel como o jagunço Joãozinho Bem-Bem deu a Wilker o prêmio de melhor ator coadjuvante na mostra Première Brasil. “Ele era um ator legítimo, que gostava de ser dirigido. No set do Matraga, ele dormia no sereno, brigava de faca e ficou por horas com o rosto colado no chão durante toda a sequência final”, conta Coimbra.

O ator tinha viagem marcada para o Recife no fim do mês, quando receberia homenagem pelo conjunto da obra (41 filmes) na 18ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual. Ano passado, Wilker foi ao evento para lançar Giovanni Improtta, o único longa que dirigiu. “Ele pôs a cara para bater naquele filme”, comenta o crítico Rubens Ewald Filho a respeito da adaptação cinematográfica do personagem da novela Senhora do destino. Fracasso de crítica e público – a renda não chegou nem à metade dos R$ 5 milhões investidos –, o filme foi defendido pelo ator e cineasta como uma crítica social “sem ser sisuda, carrancuda ou pagadora de regras”. Em entrevista ao EM, Wilker declarou: “Não quero dar lição para ninguém. Só quero que as pessoas percebam o que a gente faz. Estamos virando uma sociedade do excesso, temos coisas demais de que não precisamos”.

Oscar José Wilker dividia com Ewald Filho o posto de comentarista da transmissão do Oscar (o primeiro na Globo, o segundo na TNT). “Muitos achavam que éramos inimigos, mas não. Éramos amigos, com muito em comum. Ele tinha uma inteligência grande, humor muito forte e paixão genuína pelo cinema. Quando o DVD chegou ao mercado, Wilker doou todos os seus VHS para uma escola. Era um cinéfilo de verdade”, completa Ewald Filho, que em 2012 e 2013 dividiu a curadoria do Festival de Gramado com o ator – atuante também nos bastidores. Entre 2003 e 2008, Wilker dirigiu a Riofilme, a distribuidora de cinema do Rio de Janeiro.

Para o espectador de cinema, vão ficar os personagens das quatro dezenas de filmes em que Wilker atuou. Ele foi Vadinho em Dona Flor e seus dois maridos (1976), Lorde Cigano em Bye bye Brasil (1980), Tenório Cavalcanti em O homem da capa preta (1986), Tiradentes em Os inconfidentes (1987), Antônio Conselheiro em Guerra de Canudos (1997), e Zeca Diabo em O bem amado (2010).

“O Zé era o nosso primeiro nome, sempre. Sérgio pegava o roteiro e mandava para ele dizendo: ‘Zé, escolhe aí o que quer fazer’”, conta Mariza Leão, que produziu longas do marido, o cineasta Sérgio Rezende, que tinham Wilker no elenco (Canudos e O homem da capa preta entre eles). “Zé era apaixonado por cinema, um homem que nunca quis o lugar da celebridade, e sim o do ator”, conclui Mariza.

Repercussão

“Ator, crítico de cinema e exemplo de dedicação à arte, José Wilker nos presenteou com interpretações que se tornaram ícones do cinema e da TV.”
DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“Meu querido amigo, para sempre! Conheci o Wilker quando fui para o Rio com a peça Hair, em 1969, e me apaixonei loucamente por aquela pessoa linda. E por toda a minha vida continuei amando-o intensa e platonicamente.”
SÔNIA BRAGA, ATRIZ

“Wilker não foi só um grande ator, mas um bom amigo, fiel, solidário. Tinha um talento incomensurável – tudo o que fez vai ficar para sempre. Ele vai deixar muita saudade. Não era só ator, mas um ator-autor. Ele não só fazia o personagem, mas o construía.”
CACÁ DIEGUES, CINEASTA

“Não sei o que dizer. Eu o conheço desde os tempos do Movimento de Cultura Popular, em Pernambuco, em 1961! Fizemos dezenas de trabalhos juntos... Adeus, Zé. Desliguei os telefones. Não quero que me perguntem o que achei da morte dele. Estou triste. Morri um pouco.”
AGUINALDO SILVA, JORNALISTA E AUTOR DE NOVELAS

“Tive o privilégio, a alegria e a satisfação de ter sido dirigida por ele em Querida mamãe. Para ele, eu não diria adeus, mas até sempre. Foi um momento brilhante, afetivo e maravilhoso ter sido dirigida por José Wilker.”
EVA WILMA, ATRIZ

“Com Wilker em cena, se entendia o porquê de estar ali. Ele era uma inspiração para a minha carreira.”
MALU MADER, ATRIZ