terça-feira, 30 de setembro de 2014

O primeiro crime no Rio - Ana Clara Brant

O primeiro crime no Rio Escritor carioca Alberto Mussa lança seu novo romance policial hoje, em Belo Horizonte, e conversa com o público. Ficção tem inspiração em um crime misterioso ocorrido em 1567


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 30/09/2014



Vencedor de vários prêmios literários, Alberto Mussa dá sequência à série de romances policiais iniciada em 1999 (Tomas Rangel/Divulgação
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Vencedor de vários prêmios literários, Alberto Mussa dá sequência à série de romances policiais iniciada em 1999

O Rio de Janeiro tinha apenas dois anos de fundação e o serralheiro Francisco da Costa foi encontrado morto nas imediações do núcleo urbano. No corpo, oito flechas. Era 1567 e não fazia muito tempo que as últimas aldeias dos tamoios haviam sido destruídas. À primeira vista, aquele cadáver deveria sugerir um ataque furtivo do inimigo indígena. Era o primeiro registro formal de um assassinato na cidade, um crime passional, história de adultério que enredou, entre acusados e testemunhas, espantosos 15% da população carioca (que não passava de 400 habitantes). É essa a inspiração de A primeira história do mundo, mais recente livro de Alberto Mussa, convidado de hoje do projeto Sempre um papo. Ele participa de debate e lança a publicação na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes.

A obra integra série de cinco romances policiais ambientados em diferentes períodos da história do Rio. O trono da rainha Jinga, aclamada novela publicada em 1999 (com reedição em 2007), é o primeiro volume e se passa no século 17. O senhor do lado esquerdo, de 2011, é o segundo volume, ambientado no século 20. “Não sigo ordem cronológica porque pode parecer que um é continuação do outro, não é. Além do mais, acho que fica mais elegante”, comenta Mussa.

O autor, que ganhou os prêmios Casa de Las Américas, Machado de Assis e, por duas vezes, o APCA, conta que apesar de muitos críticos ainda tacharem o gênero policial de inferior, sempre se interessou pelo estilo, apesar de não se classificar como um escritor policial. Em 1998, decidiu criar esse projeto, espécie de compêndio mítico do Rio. “Percebia que a literatura brasileira regional era forte em estados como Rio Grande do Sul, com Veríssimo; Minas, com Autran Dourado; o Nordeste, com José de Alencar. E o Rio sempre foi muito machadiano, com ficção centrada no contemporâneo. Por ser carioca e gostar muito da história da cidade, decidi fazer vários romances; cada um focado em um século”, revela.

O livro que marcou a estreia da série, O trono da rainha Jinga, é passado no século 17, época em que uma onda de inexplicável violência aterrorizou a cidade – sequestros, mutilações, assassinatos. A irmandade secreta de escravos africanos levou pânico ao Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, na África, eventos surpreendentes que parecem evocar os crimes no Brasil estão ocorrendo em torno da enigmática rainha reinante Jinga.

Amores clandestinos O senhor do lado esquerdo tem como cenário o Rio de Janeiro de 1913. O secretário da presidência da República do governo Hermes da Fonseca é encontrado morto num dos quartos da antiga casa da Marquesa de Santos, então conhecida como Casa das Trocas – luxuoso bordel e também esconderijo de amores clandestinos, que funcionava sob a fachada de uma clínica ginecológica, cujo proprietário era um médico polonês, obcecado pelas fantasias sexuais femininas.

Durante as investigações, um perito da polícia científica, frequentador da casa, depara-se com um malandro do cais do porto, possivelmente envolvido no crime, com quem começa longo embate para saber qual dos dois é o maior sedutor. “Todos os livros têm temas de que gosto, unem romances históricos, policiais e de aventura, todos de alto nível. E ainda trago muito da mitologia indígena, africana e popular, assuntos pelos quais me interesso demais”, destaca o escritor.

Alberto Mussa não costuma se concentrar muito em documentos históricos; diz que quanto mais consulta, mais complicado fica, já que é, antes de tudo, um ficcionista. “Acabo me confundido. Não sou historiador. Meus livros são ficção, apesar de serem baseados em fatos reais. Em A primeira história do mundo, encontrei poucos dados sobre o crime. Sei do básico, que um homem foi morto a flechadas.; que o crime foi motivado pela esposa dele; que na cidade havia muito mais homens do que mulheres e que existiu um condenado. Mas a construção da maioria dos personagens, dos suspeitos, foi criação minha. Busquei elementos da história, mas não segui à risca”, frisa.
Apesar de ainda estar divulgando A primeira história do mundo, o escritor já pensa no próximo livro, que deve se passar no século 19. “Ainda não tenho muito claro o será, mas estou pensando em retratar as camadas inferiores da sociedade, os escravos, a capoeira, o submundo mesmo, porque sempre que a gente pensa em século 19, pensamos logo nas sinhazinhas”, diz.

Lançamento
 A primeira história do mundo
(Editora Record, 240 páginas,
R$ 35).Bate-papo com Alberto Mussa, hoje, às 19h30. Sala Juvenal Dias, Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Informações:
(31) 3261-1501.

A vida não para - Carolina Braga

Guilherme Leme muda o sobrenome, enfrenta o câncer e celebra 30 anos de carreira. Ator de sucesso na TV, ele se destaca no teatro e dirige a 18ª peça, que chega a BH na sexta-feira


Carolina Braga
Estado de Minas: 30/09/2014



Guilherme Leme Garcia ensaia com Miwa Yanagizawa, atriz de Trágica.3

 (Victor Hugo Ceccato/divulgação)
Guilherme Leme Garcia ensaia com Miwa Yanagizawa, atriz de Trágica.3


Guilherme Leme Garcia tem motivos de sobra para celebrar seus 30 anos de carreira – e não só pela data redonda. A inquietação que marca a trajetória desse paulista, principalmente nos palcos, merece ser comemorada. No Rio de Janeiro, o ator acaba de estrear Uma relação pornográfica, sua 16ª peça, ao lado da atriz Ana Beatriz Nogueira. No fim de semana, chega a BH Trágica.3, a 18ª montagem dirigida por ele. Guilherme nunca parou, mas este momento é especial: a volta à ativa se dá depois de muitos desafios.

É curioso que a essa altura, aos 52 anos e com carreira consolidada, o sobrenome Garcia passe a fazer parte do nome artístico dele. “Meu pai tem uma doença degenerativa e, em curto espaço de tempo, não vai mais saber quem eu sou. Quis fazer a homenagem em vida”, explica Guilherme. O artista nem sabe se o pai se deu conta disso, mas o gesto é importante. Marca uma retomada.

Em 2013, o ator descobriu um câncer na garganta. Houve complicações durante o tratamento e ele chegou a passar 40 dias no hospital – 20 na UTI. “Você fica à mercê da vida”, resume. “Sempre fui muito reflexivo sobre a minha profissão, discuto os rumos dela, o que quero falar da arte, como quero lidar com ela. Sou muito exigente, então não houve nada especial naquele momento”, conta.

A Guilherme interessa lidar com o ofício como uma pessoa de seu tempo. Suas preocupações relacionadas estão muito mais ligadas ao entendimento do papel da arte no processo civilizatório do que a qualquer outra coisa. É isso que ele procura passar ao público; foi isso que o fez se descobrir.

“Chega uma hora em que você tem a necessidade de fazer os seus projetos, ser dono da sua carreira, de seus sonhos e desejos. Só se produzindo isso é possível”, explica. Foram 20 anos só como intérprete – Guilherme integrou o elenco de 27 novelas, entre elas tramas marcantes nas décadas de 1980 e 1990 como Bebê a bordo, Que rei sou eu? e Vamp. Há 10 anos, ele se deu conta de que era preciso avançar. Experimentou as artes plásticas. Pintou, desenhou e hoje incorpora tudo isso às escolhas como diretor.

Trágica.3, que chega sexta-feira ao Centro Cultural Banco do Brasil, é a 18ª montagem dirigida por ele. Trata-se de uma leitura contemporânea de três potentes heroínas gregas: Antígona e Electra, de Sófocles, e Medeia, de Eurípedes, papéis de Letícia Sabatella, Miwa Yanagizawa e Denise Del Vecchio, respectivamente. Fernando Alves Pinto e Marcello H também integram o elenco.

Tragédia

Mergulhos no universo dos clássicos gregos foram recorrentes na carreira de Guilherme Leme Garcia. Com Vera Holtz ele fez Medeia material, na década de 1990. Como diretor, há cerca de quatro anos encenou RockAntygona, com Luis Melo, Miwa Yanagizawa e Armando Babaioff. “Sempre fui apaixonado por tragédia. Fiz como ator, depois dirigi uma leitura contemporânea e fiquei muito instigado com a pesquisa. Pensei: quero voltar”, conta.

Naquela época, Guilherme viva uma experiência totalmente diferente no palco: atuava em Rock in Rio – o musical. Ao fim da temporada, foi diagnosticado o câncer e ele parou tudo para se tratar em São Paulo. Como o projeto de Trágica.3 acabara de ser aprovado pelo CCBB, pensar soluções para a peça se transformou em válvula de escape. Porém, o que o diretor pensou no hospital não está na peça. “Foi bom, porque ela passou por um processo. O resultado foi uma coisa nova”, constata.

Artes visuais

O processo criativo de Guilherme Leme Garcia está diretamente ligado à paixão pelas artes plásticas. Antes de começar uma peça, ele busca conexões entre as duas linguagens. O norte-americano James Turrell, papa de light art, é a inspiração para Trágica.3, enquanto Rockantígona bebeu na fonte do movimento neoconcreto. “Reúno a equipe e falo: gente. a nossa pesquisa é essa. E a peça vai acontecendo a partir daquele rumo”, explica.

No caso de Turrell, as referências estão claras na iluminação e na cenografia: “Ele foi o norte da concepção estética, assim como a eletrônica foi o norte para a trilha”. Composta por Letícia Sabatella, Fernando Alves Pinto e Marcelo H, a música carrega lamentos em vários idiomas. O espetáculo reúne fragmentos das três obras gregas. As adaptações ficaram a cargo de Heiner Müller (Medeia), Caio de Andrade (Antígona) e Francisco Carlos (Electra).

O espetáculo foi indicado a cinco categorias do 27º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo: direção (Guilherme Leme), atriz (Denise Del Vecchio), figurino (Glória Coelho), iluminação (Tomás Ribas) e música (Fernando Alves Pinto, Letícia Sabatella e Marcello H).

NA DIREÇÃO

Os adoráveis sem-vergonhas
Felizes da vida
A idade da ameixa
A forma das coisas
Produtor
Eduardo II
Sem-vergonhas
Decadência
Trindade
Quarttet
RockAntygona
Laranja azul
O matador de santas
Shirley Valentine
Filha, mãe, avó e p...
Billdog
O nó do coração
Trágica.3

EM MINAS

Guilherme Leme dirigiu peças em Minas Gerais. Ele comandou A idade da ameixa – incursão de Ilvio Amaral e Maurício Canguçu no drama, espetáculo sensível e marcante na carreira da dupla, conhecida por comédias de sucesso. A parceria deu tão certo que Leme repetiu a dose em Sem-vergonhas.

TRÁGICA.3
CCBB Belo Horizonte, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Estreia sexta-feira, às 20h. Sessões até 26 de outubro, de sexta-feira a domingo, às 20h. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). 

Superconectados nas redes sociais

Pesquisa mostra que mais de 80% de brasileiros que têm smartphone usam plataformas como Facebook, Instagram, Twitter e Reddit


Zulmira Furbino
Estado de Minas: 30/09/2014



A designer Samanta Jozana passa a maior parte do tempo em que está acordada usando redes sociais como Twitter, Instagram, Facebook e Reddit. Só no Twitter tem mais de 2,5 mil seguidores. Ela usa o Reddit, uma rede norte-americana que divulga conteúdos que podem ser votados na internet, para se inteirar sobre o que está sendo discutido no mundo. Além de usar as redes para se informar, mostrar suas ideias e se relacionar com amigos, Samanta aproveita para divulgar os trabalhos que mais gostou de fazer e isso traz resultados positivos para sua vida profissional.

O uso das redes sociais no Brasil está crescendo na velocidade da chegada dos computadores nas casas do interior do país e também em lares mais pobres, mas principalmente pelo aumento do uso dos smartphones. Dados da Nielsen Ibope de agosto mostraram que 82% dos brasileiros que têm smartphones navegam em redes como Facebook, Twitter, WhatsApp, entre outras. Segundo a consultoria IDC, no primeiro semestre deste ano, 4,2 milhões de tablets foram comercializados no Brasil, contra 3,4 milhões em igual período de 2013.

Já a venda de smartphones bateu recorde no segundo trimestre deste ano em comparação com abril, maio e junho de 2013, avançando para 13,3 milhões de unidades um avanço de 22% no período. “O resultado do segundo trimestre para smartphones representa recorde de vendas não só no Brasil, mas no mundo inteiro. É a primeira vez que o país entra nesse patamar de 13 milhões e o mundo ultrapassa a marca de 300 milhões de smartphones vendidos”, afirma Leonardo Munin, analista de mercado da IDC Brasil.

Para o diretor de Criação da agência de comunicação Plan B, Daniel Negreiros, o crescimento do uso da internet móvel é o principal responsável pela expansão da presença dos brasileiros nas redes porque esses aparelhos funcionam como se fossem um computador à mão em qualquer hora e em quase todo lugar. “Os brasileiros são muito sociáveis e isso faz com que abracem as redes sociais. Aqui as pessoas contam para os amigos pelo Facebook o que viram no próprio Facebook ou no YouTube e isso começa a pautar o assunto das pessoas.”

“Pessoalmente, uso as redes para tudo, principalmente o YouTube e o Facebook. Como trabalho com isso preciso acompanhar o que está acontecendo”, diz Negreiros. O passeio pelas redes inclui o Spotfy, site que dá acesso a músicas e que permite que uma pessoa que está registrada saiba o que os amigos estão ouvindo. José Calazans, analista de mercado da Nielsen Ibope, explica que o acesso às redes sociais via internet móvel pode ser considerado uma grande novidade no Brasil. “As pessoas estão passando a trocar mensagens e a postar nas redes e no celular dá para fazer as duas coisas”, explica. De acordo com levantamento da empresa, 74% das pessoas que navegam na internet o fazem em casa e no trabalho.

Pesquisa feita pela Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes (Deep) em 2014 aponta que, em média, as pessoas gastam até uma hora e 16 minutos por dia no acesso às plataformas quando estão trabalhando. Levando em conta uma carga de trabalho de oito horas por dia, seria como se o funcionário deixasse de trabalhar três dias a cada mês. Segundo o relatório da Pew Research, entre os brasileiros que têm acesso à internet, 73% usam redes sociais como Facebook e Twitter. O maior número de usuários é jovem, entre 18 e 29 anos, como a designer Samanta Jozana.

“O Reddit é a pagina mais relevante da internet. Tudo que vai ser assunto nos outros lugares aparece lá primeiro. As pessoas categorizam se gostaram ou não das publicações, que em seguida são publicadas nas páginas mais populares. De repente, o assunto vai para o Facebook e todos estão discutindo.” Ela também explica por que gosta do Twitter. “No Twitter você pode conversar sozinho sem estar conversando sozinho. Tenho um pensamento muito fragmentado e quando vejo já construí um raciocínio no Twitter. Enquanto isso, outras pessoas dão opinião sobre o que estou falando. É bacana”, justifica.

Contra ponto
Andréia Salvador de Castro, dentista
Usuária seletiva
A dentista Andréia Salvador de Castro está nas redes sociais, mas raramente faz uso delas. Prefere o WhatsApp ao Facebook, porque as mensagens são curtas. “Todo mundo reclama que não entro no Facebook. Só faço isso quando tenho tempo nos fins de semana. No WhatsApp, seleciono os grupos dos quais quero participar. Abro sempre no final do dia e geralmente só respondo quando se trata de assunto profissional. Já ouvi falar do Instagram, mas para mim, Facebook e WhatsApp já são coisas demais.”