quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cara a cara com o "Doutor Terror"

Várias vítimas de ex-médico capturado no Paraguai protestam e xingam condenado por 39 estupros ao desembarcar ontem à tarde em São Paulo

Renata Mariz
Estado de Minas: 21/08/2014


Forte aparato de segurança foi montado pela polícia para receber Roger Abdelmassih em Congonhas     (Evelson de Freitas/Estadão Conteúdo)
Forte aparato de segurança foi montado pela polícia para receber Roger Abdelmassih em Congonhas

Brasília – Sob gritos de maníaco, safado e monstro, o ex-médico Roger Abdelmassih, de 70 anos, foi recebido ontem no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pouco antes das 16h. Cinco vítimas do condenado a 278 anos de prisão, acusado de 56 estupros contra 39 mulheres, estavam no local. Foragido desde 2011, Abdelmassih acabou preso na terça-feira, em Assunção, capital do Paraguai. À noite, já havia ingressado na penitenciária Doutor José Augusto Salgado, a P2 de Tremembé, no interior de São Paulo. Em 2009, o ex-médico já havia ficado no local, chamado de “Presídio de Caras”, por abrigar detentos famosos, como Alexandre Nardoni e Suzane Von Richtofen. É a segunda vez dele em Tremembé. Ainda no aeroporto, antes de ser levado para a cadeia, chorou, segundo integrantes da Polícia Civil de São Paulo, ao falar dos filhos. Ele tem um casal de gêmeos com a mulher, a ex-procuradora da República Larissa Maria Sacco, 37 anos.

Abdelmassih teria dito também que a ideia de fugir para o Paraguai foi da mulher. Profissionais que acompanharam o procedimento de entrega dele pela Polícia Federal (PF) à Polícia Civil de São Paulo disseram que o ex-médico reconheceu algumas vítimas no aeroporto, mas afirmou haver “exagero” na manifestação delas, alegando inocência das acusações. Segundo a condenação, Abdelmassih violentava e assediava as mulheres quando elas estavam dopadas durante o procedimento de reprodução assistida.

À Polícia Civil, o ex-médico citou José Genoino, ex-deputado federal do PT condenado no processo do mensalão que conseguiu prisão domiciliar devido a problemas de saúde, para alegar ter direito à liberdade. Áudio divulgado por uma rádio paulista mostra a conversa: “Se o Genoino pode sair por causa do problema dele, eu posso também. Eu tenho uma prótese. Isso é muito pior. Passei um período difícil. É duro você ser condenado e não existir uma gravação contra você”.

FUGA O ex-médico foi condenado em outubro de 2010, a quase três séculos de prisão. Mas não foi detido devido a uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que dava a ele o direito de responder ao processo em liberdade. Em janeiro de 2011, porém, ao tentar renovar o passaporte, a Justiça determinou a prisão, por entender que havia risco de fuga. Em vez de se entregar, Abdelmassih fugiu. Circularam boatos de que ele estaria no Líbano, de onde veio para o Brasil ainda criança. Mas nunca se chegou ao paradeiro certo do médico, que figurava na lista de procurados da Interpol.

Até que uma investigação do Ministério Público de São Paulo sobre suposta lavagem de dinheiro levou à informação de que Abdelmassih estaria no Paraguai. Ele foi grampeado com autorização da Justiça. E, desde a segunda-feira da semana passada, era seguido por agentes da PF em parceria com homens da Secretaria Nacional Antidrogas paraguaia. Na última quarta-feira, foi surpreendido com a voz de prisão, enquanto deixava um estabelecimento comercial com a mulher.

As primeiras denúncias contra o ex-médico, considerado, à época, o papa da reprodução assistida, surgiram em 2008. Na ocasião, já havia pouco mais de 10 casos de abuso sexual contra ele no Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), mas que haviam sido arquivados por falta de provas. Com a divulgação das acusações, mulheres de várias partes do país, que tinham sido atendidas na clínica do “Doutor Vida”, procuraram a polícia. Sem se conhecerem, relataram histórias de abuso sexual muito parecidas, que embasaram a condenação. O Cremesp cassou o registro de Abdelmassih em maio de 2011.

Réu em outros crimes

Ana Pompeu

Brasília – A lista de crimes pelos quais Roger Abdelmassih é acusado não foi encerrada com a condenação em 2010. Ele responde a 26 estupros e é investigado por crimes de biossegurança. Depois que o primeiro inquérito, de julho de 2009, foi relatado à Justiça, outras 26 mulheres procuraram a 1ª Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher de São Paulo para registrar novas queixas. Um novo inquérito foi instaurado em agosto do mesmo ano.

De acordo com a titular da unidade, Celi Paulino Carlota, existem relatos de que o ex-médico manipulava óvulos de forma ilegal. “Uma testemunha que trabalhava em um prédio anexo ao da clínica dele alegou que ele manipulava os óvulos das mulheres em animais. Passei alguns anos procurando essa testemunha, que seria vital para o inquérito. Como não a encontrei, fiz o indiciamento dos casos de abusos sexuais”, detalhou a delegada. Como os dois crimes são correlatos, as denúncias podem ser encaminhadas em diferentes momentos. Nas avaliações dos casos isolados, ele pode ser acusado de crimes conexos, como de erro médico. Diante da prisão de Abdelmassih, Celi Paulino entrará com pedido para ouvi-lo. “No retorno do processo em que eu pedi prazo para fazer a segunda parte do indiciamento, ele foi preso. Creio que, em um mês, nós conseguiremos relatar a denúncia”, afirma a delegada. A partir do momento em que o paradeiro é conhecido, a titular pede autorização para colher o depoimento do acusado. De acordo com ela, o inquérito está praticamente fechado, o que significa que, depois de ouvir o ex-médico, o documento ficará pronto.

Celi conta que, a cada reportagem publicada sobre os abusos, mais mulheres procuram a unidade policial. Ela acredita que o movimento pode crescer ainda mais com a prisão dele. “Agora, elas ficam mais fortalecidas e os temores diminuem”, disse. Se isso acontecer, um terceiro inquérito deve ser aberto.


Cinco perguntas para... Vanuzia Lopes - Vítima de Roger Abdelmassih Vanuzia Lopes era uma das cinco vítimas que estavam no Aeroporto de Congonhas para comemorar a prisão. Abaixo, os principais trechos da entrevista





Como foi o trabalho do grupo de vítimas?
Nos reunimos, inclusive as vítimas anônimas, para ajudar a prendê-lo. Conversando com desafetos de Abdelmassih, que são muitos, fizemos uma página na internet, nas redes sociais. Dei dezenas de entrevistas a rádios pedindo a quem estivesse próximo e até lavando as cuecas de Roger Abdelmassih que nos avisasse, sob o mais absoluto sigilo. Oferecíamos recompensa de R$ 10 mil.

Quando veio a denúncia crucial?
Em 2012, recebemos a primeira denúncia consistente, sobre contratos sociais da clínica de Roger e de pessoas que manuseavam o dinheiro dele. Elaine Sacco, irmã da mulher dele, montou empresas de fachada para enviar quantias para eles. Só que não sabíamos quem procurar. Passamos por muitas pessoas no Ministério Público, na polícia. Até que um empresário, Beto Nogueira, que conhece uma vítima, soube da nossa luta, se sensibilizou, nos apresentou ao secretário de Segurança, Fernando Grella, e as coisas começaram a andar. O Ministério Público e a polícia fizeram um trabalho maravilhoso.

O que você sentiu ao vê-lo?
Fui com a força da minha alma. Pensei que ia ficar serena. Mas, na hora que vi aquele animal, tive ânsia de vômito, passei mal, caí no chão. Ele me fez muito mal, me violentou em 1993. Na minha terceira tentativa de engravidar, na hora de receber meu embrião, dopada. Preparei meu coração para um momento divino. Quando acordei, estava melada de esperma dele, com aquele cheiro horroroso. Fui para o IML (Instituto de Medicina Legal). Ele me passou, devido ao sexo anal e vaginal, uma bactéria. Depois, eu não estava com um filho na barriga, mas sim jorrando pus por causa da infecção que ele causou em mim. Perdi minhas trompas por causa disso.


Quais os próximos passos do grupo?
Vamos pressionar as autoridades para que ele e todos os envolvidos na fuga e na lavagem de dinheiro que ele praticava (para se manter no exterior foragido) sejam responsabilizados. Inclusive a procuradora (Larissa Sacco, mulher de Abdelmassih, é ex-procuradora da República) e toda a família dela. A segunda providência será ajudar outras vítimas. Hoje mesmo, no aeroporto, recebi uma denúncia de outro médico famoso que está violentando pessoas. Eu não posso dizer nada ainda, mas, como pegamos uma certa experiência em investigação, vamos ajudar.

Vocês temem que ele saia da prisão?
Depois do estupro, resolvi estudar direito. Agora eu litigo, não há ministro no mundo que vá soltar esse homem. Vamos fiscalizar, saber se está tendo privilégios. Ele não vai sair. (RM)

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 21/08/2014



 (Jim Henson/Divulgação)

Não é a mamãe!

Quem foi criança nos anos 1990 certamente não se esqueceu de Família Dinossauros,(foto) até porque a série andou sendo reprisada pela Band tempos atrás. Pois o infantil está de volta à telinha, agora no canal Viva, toda quinta-feira, às 22h. Tudo começa com Dino zapeando atrações na televisão, entre elas noticiário e luta livre de dinossauros, até Baby roubar o controle remoto do pai e começar a implicância. Para distrair o caçula, ele resolve contar como surgem as famílias e como ele veio ao mundo.

Canal Curta! diversifica temas de documentários


O documentário O bebê, de Ana Maria Magalhães, é uma comédia que retrata a situação vivida por Marta, uma jovem mãe que estranha o momento em que seu bebê começa a falar e ler. O filme vai ao ar às 20h15, no canal Curta!, que exibe ainda hoje, às 22h20, outro documentário interessante, Sonhando acordado, sobre o escritor norte-americano Henry Mille. Na mesma emissora, às 23h, a atração é Cientistas brasileiros, de José Mariani, destacando o trabalho dos físicos José Leite Lopes e César Lattes.

Nova série do ID reúne  relatos de sobreviventes


O canal ID reservou mais uma estreia para esta semana. Hoje, às 22h30, vai ao ar o primeiro episódio de Por um triz, que relata histórias de sobreviventes que conseguiram escapar de assassinos e que contam pessoalmente às câmeras como o fizeram. Além do depoimento das vítimas, reconstituições, entrevistas com especialistas e oficiais envolvidos nas investigações estruturam os 10 episódios da primeira temporada.

GNT promove mais um concurso de cozinheiros


No GNT, estreia hoje, às 20h30, mais uma edição do reality show Cozinheros em ação, uma competição culinária comandada por Olivier Anquier. Os concorrentes são avaliados pelo júri formado por Ivan Achcar, Mônica Rangel e Renata Vanzetto e o melhor leva o prêmio de R$ 10 mil para uma viagem gastronômica e eletrodomésticos para turbinar sua cozinha. Já às 21h30 estreia Que marravilha! Risotos e sobremesas, com o chef Claude Troisgros.

Telecine Action investe em pancadaria e tiroteio


No dia da estreia de Os mercenários 3 nos cinemas, o Telecine Action apresenta programa duplo com os primeiros filmes da franquia, exibidos a partir das 20h10. Outro destaque da programação é o policial Os impiedosos, com Richard Widmark e Henry Fonda, às 22h, na Cultura. No mesmo horário, o assinante tem oito opções: Killer Joe – Matador de aluguel, na HBO 2; Truque de mestre, no Telecine Pemium; Apollo 13 – Do deserto ao triunfo, no Telecine Touch; Finalmente 16, no Telecine Fun; Gabriela, no Telecine Cult; Dias incríveis, no Glitz; 88 minutos, no MGM; e Darkman – Vingança sem rosto, no TCM. Outras atrações do pacote de cinema: Vinho de rosas, às 19h, no Film&Arts; Oslo, 31 de agosto, às 22h10, no Max; Coração Valente, às 22h30, no FX; e Temporada de caça, às 23h45, no Telecine Pipoca.


CARAS & BOCAS » Outro compasso
Simone Castro
Publicação: 21/08/2014


Pamela (Cláudia Abreu) e Jonas (Murilo Benício) vão deixar a harmonia de lado em Geração Brasil (Paulo Belote/TV Globo)
Pamela (Cláudia Abreu) e Jonas (Murilo Benício) vão deixar a harmonia de lado em Geração Brasil

A casa vai cair. Nos próximos capítulos de Geração Brasil (Globo), Pamela, finalmente, vai descobrir que o marido, Jonas Marra (Murilo Benício), tem uma amante. Pior: ficará sabendo que a rival é nada menos do que Verônica (Taís Araújo). O clima vai esquentar um pouco mais quando a mãe de Megan (Isabelle Drummond) confirmar que o grande amigo Brian (Lázaro Ramos) estava por dentro de tudo. Ao descobrir a traição do marido, Pamela terá um surto e será amparada por Dorothy (Luís Miranda), que ouvirá a revelação, pouco antes, em uma conversa entre o filho e o empresário. Pamela não vai perdoar o fato de o guru ter escondido a situação dela. Ao confrontá-lo, pedirá a Brian que não use o fato de Jonas estar doente para justificar a infidelidade. “Vou matá-lo”, anuncia a dona da Parker. Ela pode até não cometer o ato insano, mas vai expulsá-lo de casa.

CONFIRA AS PRINCIPAIS NOTÍCIAS NA ALTEROSA


Fique por dentro das principais notícias do dia nas duas edições do Jornal da Alterosa. A primeira vai ao ar às 12h30, com apresentação de Laura Lima, logo depois do Alterosa esporte. Já a segunda edição é com Ana Cristina Pimenta, às 18h15.

ELIZÂNGELA DÁ O AR DA GRAÇA EM IMPÉRIO


Foram gravadas, na noite de segunda-feira, em Copacabana, no Rio de Janeiro, cenas entre os personagens dos atores Flávio Galvão e Elizângela na novela Império (Globo). Ela será Jurema, mulher de Reginaldo, papel de Galvão, que é casado com Tuane (Nanda Costa). Ao longo da trama de Aguinaldo Silva serão reveladas outras mulheres do insaciável.

ATRIZ PARTICIPA DE CSI ANTES DA ESTREIA SOLO


Prestes a protagonizar a série CSI: Cyber, Patrícia Arquette fará participação especial em CSI, de acordo com o Entertainment Weekly, reprisando Avery Ryan, agente especial, em um episódio da 15ª temporada que será exibido em 2 de novembro, nos Estados Unidos. A temporada anterior, em que a personagem apareceu pela primeira vez, foi uma introdução para a trama do spin-off. CSI volta à TV americana em 25 de setembro. Já CSI: Cyber, em que uma equipe de investigação criminal é especializada em crimes digitais, só vai estrear no início do ano que vem.

ARIANO SUASSUNA SERÁ HOMENAGEADO EM SÉRIE


O episódio de A grande família (Globo) desta quinta-feira homenageia o escritor Ariano Suassuna, que morreu recentemente. O roteiro, inspirado no Auto da compadecida, já estava finalizado, mas foi adaptado para se transformar em um tributo. Em ‘‘O automóvel da compadecida’’, Agostinho (Pedro Cardoso) fica entre a vida e a morte depois de sofrer um grave acidente. Assim como João Grilo na obra do paraibano, o marido de Bebel (Guta Stresser) vai parar em um julgamento divino, onde o destino de sua alma vai ser decidido. Os atores que interpretam os membros da família Silva ganharam papéis diferentes no plano celestial. Marco Nanini (Lineu), por exemplo, será o Diabo, enquanto Marieta Severo (Nenê) vai interceder por Agostinho como a Compadecida. O papel de Jesus caberá a Lúcio Mauro Filho (Tuco).

ROBIN WILLIAMS NO EMMY


O ator Billy Crystal vai homenagear Robin Williams no Emmy 2014, que será realizado na segunda-feira, nos Estados Unidos, segundo o site E! online. “Sentimos que precisávamos fazer algo poderoso e memorável. Billy pareceu a escolha perfeita”, afirmou o produtor da cerimônia, Don Mischer. Billy e Robin eram amigos de longa data e trabalharam juntos no filme Um dia dois pais, de 1997. Os atores também dividiram a cena em um episódio da série Friends. Billy Crystal ainda não se pronunciou sobre a homenagem e nem sobre a morte do colega. Na ocasião da notícia fatídica, apenas postou em seu Twitter: “Sem palavras”. Robin Williams foi encontrado morto em sua casa em 11 de agosto, aos 63 anos. A premiação do Emmy será transmitida pela Warner (TV paga), a partir das 20h30.

VIVA

Lorraine (Dani Barros) e seu “Dia de princesa”, com direito a banho de salão, em capítulo de anteontem de Império. A atriz é ótima!

VAIA

Fraca a personagem de Deborah Secco em Boogie oogie (Globo). A aeromoça Inês, já se viu, não tem sequer uma trama própria. 

Bravíssimo! - Eduardo Tristão Girão

Osesp comemora seus 60 anos com turnê nacional, trabalha duro para editar as 11 sinfonias de Heitor Villa-Lobos e atende cerca de 120 mil crianças por meio de projetos educativos


Eduardo Tristão Girão
Do Rio de Janeiro
Estado de Minas: 21/08/2014



A americana Marin Alsop rege a Osesp na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (Yuri Tavares/divulgação)
A americana Marin Alsop rege a Osesp na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro


“Está muito brilhante, preciso que fique mais escuro”, diz a regente norte-americana Marin Alsop a dezenas de instrumentistas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Assim, com essa instrução simples e abstrata durante a passagem de som, anteontem, no Rio de Janeiro, ela fez com que o mesmo trecho da música soasse completamente diferente. Esse é um dos ajustes finos, feitos minutos antes do concerto, que contribuíram para que, ao final, o público da Cidade das Artes aplaudisse a Osesp de pé, com direito a três tempos de bis. Hoje, Belo Horizonte vai conferir a performance, que integra a turnê comemorativa dos 60 anos da sinfônica por cinco capitais.

Apresentado em Salvador e no Rio de Janeiro, o programa será repetido na capital mineira, em Porto Alegre e em Curitiba, reunindo Carlos Gomes (Lo schiavo: Alvorada), Grieg (Concerto para piano em lá menor, op. 16) e Tchaikovsky (Sinfonia nº 5 em mi menor, op. 64). Marin, que responde pela direção musical da Osesp desde 2012, vai reger o grupo. O jovem pianista russo Dmitry Mayboroda, de apenas 20 anos, é o solista convidado.

O moscovita Mayboroda é considerado um prodígio ao piano. Foi premiado em diversas competições internacionais, como o 7º Dedication to Franz Liszt International Young Pianists e o 6º Tchaikovsky International Young Musicians Competition. Tocou em importantes festivais, como os de Rheingau (Alemanha), São Petersburgo (Rússia) e Campos do Jordão (SP), além de fazer turnês pela França, Áustria, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Estados Unidos. O rapaz já se apresentou com a sinfônica de Viena, a Filarmônica de Londres e a Orquestra Nacional da Bélgica.

A turnê consolida a posição de destaque da Osesp no cenário nacional, garantida por meio da malha de atividades não apenas da orquestra, mas dos grupos que dela derivam (como o quarteto e o coro) e de projetos de formação e educativos que beneficiam 120 mil crianças. As atividades incluem programas de rádio e TV, discos e encomendas a compositores. Anualmente, só os concertos dos corpos artísticos chegam a cerca de 300 – 140 apenas da orquestra, cuja próxima temporada será anunciada em outubro.

Dedicação

“Estar à frente de tudo isso é coordenar um grupo muito grande de pessoas. É um privilégio, trabalho que não acaba. É a dedicação de uma vida, penso nisso o dia todo. Esse emprego vale por três”, comenta Arthur Nestrovski, diretor artístico da Osesp. Um dos projetos que têm lhe dado mais satisfação é o selo digital da sinfônica, que gravou e disponibilizou para download gratuito obras de compositores brasileiros como Almeida Prado, Aylton Escobar e Henrique Oswald.

Nestrovski elogia o trabalho que Marin Alsop desenvolve à frente da orquestra. “É muito fácil trabalhar com ela. Ativa, responde aos e-mails imediatamente, uma pessoa muito eficiente nas decisões e resoluções. Musicalmente, Marin tem grande precisão e segurança rítmica, além de capacidade rara de organizar ensaios. Ela é capaz de ensaiar obras muito complexas em curto período de tempo”, comenta.

Esta noite, o russo Dmitry Mayboroda, de 20 anos, vai interpretar o Concerto para piano em lá menor, de Grieg
 (Yuri Tavares/divulgação)
Esta noite, o russo Dmitry Mayboroda, de 20 anos, vai interpretar o Concerto para piano em lá menor, de Grieg


Villa-Lobos
Em projeto iniciado em 2011, a Osesp pretende concluir em dois anos a revisão e a edição das 11 sinfonias de Villa-Lobos, bem como gravá-las pelo selo internacional Naxos. Segunda-feira, no Rio de Janeiro, solenidade na Academia Brasileira de Música (que detém os direitos autorais do compositor na América Latina) marcou a entrega das partituras finalizadas de seis delas. Nesse trabalho, a Osesp teve o maestro Isaac Karabtchevsky como parceiro.

“Durante esse trabalho, digo que encontramos ‘erros’, pois, na verdade, Villa-Lobos não revisava as partituras porque não tinha tempo e sempre sabia exatamente o que queria. São coisas como uma nota errada ou instrumentos faltando. Ele era um gênio. Ainda faltam quatro sinfonias, mas a 12ª, chamada A paz, perdeu-se e ninguém sabe onde está”, informa Antonio Carlos Neves Pinto, coordenador do centro de documentação musical da Osesp.

A cada ano, o grupo grava uma ou duas sinfonias de Villa. Até dezembro, concluirá o registro da 10ª, batizada de Ameríndia, encomendada pela Prefeitura de São Paulo, em 1952, para as comemorações dos 400 anos da capital paulista. Trata-se da maior obra do gênero escrita por ele, com 68 minutos e cinco movimentos interpretados por grande orquestra, coro e três solistas – fora os textos em português, tupi-guarani e latim.

Da terra

Dois violinos de luthiers de Minas Gerais acompanham o spalla da Osesp, Emmanuele Baldini, ao longo da temporada. Um foi construído por Carlos Jorge de Oliveira, de Belo Horizonte, e o outro por Gedson Bravim, de São João del-Rei. Baldini é dono de outros três instrumentos (apenas um não foi feito no país), que reveza nos concertos. “Gosto de estimular a luteria brasileira. Assim, contribuo com essa atividade no país que me adotou. Os artesãos daqui fazem um trabalho primoroso, os instrumentos são tão bons quanto os lá de fora”, diz o violinista, que mora no Brasil há 10 anos.

ORQUESTRA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Regência: Marin Alsop. Solista convidado: Dmitry Mayboroda. Hoje, às 20h. Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada).


Três perguntas para...

Marin Alsop
regente-titular da Osesp


Como você avalia esse período em que está à frente da Osesp?

Essas duas temporadas e meia têm sido maravilhosas. Trabalhamos bastante para melhorar aspectos técnicos da orquestra, como integridade rítmica, paleta de sonoridades, alcance dinâmico e questões de estilo. Também estimulo que nos expressemos artisticamente da maneira mais emocional possível. Estou impressionada com o comprometimento dos músicos e a dedicação deles em ser os melhores que puderem.

A Osesp é considerada a mais importante orquestra brasileira. Como ela está situada internacionalmente? Como tem sido sua aceitação fora do Brasil?

Ela está ganhando reconhecimento e admiração, resultado das gravações, turnês e transmissões pela internet que temos feito. No Brasil, temos ótimas plateias e muito apoio. Fora do país, a aceitação é maravilhosa. As pessoas se mostram interessadas e receptivas. A recepção lá fora tem sido impressionantemente positiva.

O trabalho no Brasil tem lhe permitido conhecer melhor os músicos e a música daqui? Foi possível acompanhar o trabalho de outras orquestras brasileiras?

Tenho muito pouco conhecimento sobre compositores clássicos brasileiros e música popular brasileira. Para mim, é como encontrar uma grande arca do tesouro: Guarnieri, Carlos Gomes, Mignone e, é claro, Villa-Lobos, além da incrível tradição na música popular. Tudo isso é inspirador. Conheço e admiro o trabalho de Fabio Mechetti (regente da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais). Nós dois tivemos o mesmo empresário no início de nossas carreiras. Tive o prazer de ouvir a Orquestra Sinfônica Brasileira com Roberto Minczuk e sei que há muitos outros regentes e orquestras excelentes no Brasil. Essa é uma época empolgante aqui.


. O repórter viajou a convite da Osesp

CULINÁRIA EM ALTA » Sabor de vitória‏

No cinema e na TV, aberta ou paga, gastronomia conquista cada vez mais espaço entre o público. GNT reestreia dois programas hoje e o filme Chef está em três salas de BH


Mariana Peixoto
Estado de Minas: 21/08/2014



Claude Troisgros está de volta hoje no GNT com o Que marravilha!. Com o ajudante Batista, vai preparar risotos e sobremesas
 (GNT/Divulgação)
Claude Troisgros está de volta hoje no GNT com o Que marravilha!. Com o ajudante Batista, vai preparar risotos e sobremesas

Contratado a peso de ouro pelo dono de um restaurante badalado de Los Angeles, o chef Carl Casper (Jon Favreau) já viveu dias melhores. Execrado por um prestigiado crítico gastronômico, Ramsey Michel (Oliver Platt), em seu blog após um jantar em que não fez mais do que repetir pratos consagrados, começa uma guerra virtual com ele. Sem saber como manejar as ferramentas, um tweet acaba precipitando uma briga pública que se torna um viral. Do virtual, a discussão chega ao mundo real e Casper se vê, de uma hora para outra, sem emprego, sem prestígio e sem saber o que fazer. Favreau, que faturou milhões com a franquia Homem de Ferro (dirigiu os dois primeiros filmes e encarnou Happy Hogan, fiel escudeiro do super-herói vivido por Robert Downey Jr.), fez em Chef, em cartaz em três cinemas de BH, um filme pessoal. A culinária é o ponto de partida para uma narrativa despretensiosa, com lances de road movie, que fala sobre relação pai e filho, a velocidade do mundo 2.0 e sobre como tornar a vida mais simples.

Não é muito diferente, nesse sentido, de outros filmes que tiveram a culinária como pano de fundo: a mocinha do romance Como água para chocolate (1992) faz dos próprios pratos um reflexo de seus sentimentos; a cozinha elaborada de A festa de Babette (1987) acaba se tornando contraponto da vida quase espartana vivida pela protagonista da produção dinamarquesa. No caso de Chef, Favreau, com leveza e alguma ingenuidade, alia os dotes gastronômicos de seu personagem à comédia (da qual é mestre), ajudado por coadjuvantes de peso: Downey Jr., Dustin Hoffman, Scarlett Johansson e Sofía Vergara. Ainda faz várias menções ao mundo real. Não à toa, o temido blogueiro vivido por Oliver Platt se chama Ramsey, óbvia referência a Gordon Ramsey, o chef escocês que sabe cozinhar tão bem quanto tratar mal os participantes dos reality shows da TV (Hell’s kitchen é o mais conhecido deles).

Espelho do interesse e valorização que a gastronomia ganhou neste século, a televisão vem explorando como nunca o filão. No Brasil, os tradicionais programas de variedades sempre apostam em um ou mais quadros: da campeã de audiência das manhãs, Ana Maria Braga, que criou até seu próprio reality, ao galã da meia-idade Ronnie Von (sem falar da figuraça Palmirinha), todos focam uma audiência ampla com receitas ao alcance de qualquer um. Mas foi na TV paga, com sua programação mais segmentada, que o programa de culinária se desdobrou em uma série de atrações que vão além da feitura de uma iguaria.

No filme Chef, Carl Casper (Jon Favreau) precisa recuperar o prestígio profissional e o amor do filho (Imagem Filmes/Divulgação)
No filme Chef, Carl Casper (Jon Favreau) precisa recuperar o prestígio profissional e o amor do filho


Reinvenção  Com um misto de culinária, comportamento, cultura e turismo, o GNT fez da gastronomia um dos seus pontos altos. Somente de produções nacionais, o canal, campeão de atrações no gênero, exibe atualmente seis atrações, que vão totalizar sete a partir do próximo mês com a estreia de Receitas da Carolina, protagonizado pela atriz Carolina Ferraz. Hoje, entram no ar as novas temporadas dos programas dos dois chefs franceses que há mais tempo estão no canal: Olivier Anquier (com o reality show Cozinheiros em ação) e Claude Troisgros (que nos novos episódios do Que marravilha! vai se dedicar a risotos e sobremesas).

“Os programas nacionais têm a vantagem de falar diretamente da nossa herança gastronômica, da nossa cultura, com ingredientes disponíveis no mercado e pratos que muitos reconhecem, mas nem sempre sabem como preparar”, afirma Mariana Novaes, gerente de marketing do canal. Isso porque ele também exibe programas das estrelas mundiais do gênero Jamie Oliver, Nigella e o já citado Gordon Ramsey.

De acordo com dados do Ibope, entre janeiro e julho, 21 milhões de pessoas assistiram aos programas de culinária do GNT. E todos os nacionais figuram entre os 15 mais vistos do canal pago. A repercussão acaba gerando outros produtos com os mesmos chefs. Claude Troisgros já lançou dois livros com receitas apresentadas no Que marravilha!. Caçulas entre os apresentadores-chefs, Rodrigo Hilbert e Bela Gil também já editaram em livro seus programas, Tempero de família e Bela cozinha, respectivamente. “A palavra-chave é reinventar-se. Existem várias formas de tornar o tema atrativo para quem gosta de cozinhar e até para quem não gosta. O Claude Troisgros, por exemplo, está completando 10 anos no canal e essa longevidade está relacionada às mudanças em seus programas que renovaram o interesse do telespectador”, finaliza Mariana Novaes.

Carolina Ferraz vai comandar, a partir do mês que vem, um programa de receitas na TV paga (Trícia Vieira/Divulgação)
Carolina Ferraz vai comandar, a partir do mês que vem, um programa de receitas na TV paga



Na telinha

Estreiam hoje, no GNT, as novas temporadas de Cozinheiros em ação (às 20h30), reality show com Olivier Anquier com chefs não profissionais que se enfrentam em provas que têm comida caseira como base; e Que marravilha! Risotos e sobremesas (às 21h30), em que Claude Troisgros e o assistente Batista vão ensinar o fazer um tipo de risoto e uma sobremesa a cada episódio.

Cinco filmes de dar água na boca

»  A festa de Babette (1987)
Vencedor do Oscar de filme estrangeiro, a produção dinamarquesa aposta numa culinária sofisticada ao contar a história de uma mulher simples que vive num vilarejo no final do século 19. Depois de trabalhar 14 anos na casa de duas solteironas, ela se descobre milionária graças a um bilhete de loteria. Para comemorar, decide fazer um banquete pelo centenário do pastor, pai de suas patroas.

»  Como água para chocolate (1992)
A culinária mexicana e sua explosão de sabores serve como metáfora da história da caçula de uma família que é proibida de se casar com o homem que ama, prometido, seguindo as tradições, para sua irmã mais velha.

»  Ratatouille (2007)
Vencedor do Oscar de animação, conta a história de um simpático ratinho, Rémy, que vive em
Paris e sonha em se tornar uma estrela da cozinha.

»  Julie & Julia (2009)
Autora de livros de culinária e apresentadora de TV que marcou época, Julia Child é revivida nesta comédia dramática que mostra a vida dela em contraste com a de Julie Powell, nova-iorquina que aspira a cozinhar, em um ano, as 524 receitas da bíblia gastronômica escrita por Child.

»  Soul Kitchen (2009)

Deliciosa comédia alemã sobre um dono de restaurante que enfrenta problemas: precisa de dinheiro e de clientes e ainda reconquistar a namorada. Resolve deixar o comando do restaurante nas mãos do irmão, que acaba de sair da cadeia. A trilha sonora é também de lamber os beiços.


Vem aí

Outra produção sobre culinária que chega aos cinemas em breve é A 100 passos de um sonho, com estreia prevista para o dia 28. No Sul da França, uma família indiana que abre seu próprio restaurante (Maison Mumbai) se estranha com a mulher à frente de um estrelado restaurante de culinária francesa (Le Saule Pleureur). O elenco é encabeçado pela britânica Helen Mirren e a direção é do sueco Lasse Halttström, que em 2000 fez todo mundo sair do cinema direto para a primeira casa de doces com o açucarado Chocolate. 

Eduardo Almeida Reis - Poder 2‏

Chifres não matam, o que mata é a chifrada, mas o poderoso nasceu numa região conhecida pelas mortes a tiros nos casos de adultério


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/08/2014






Na edição de ontem, falei do amigo que enricou e ficou poderoso, não tanto pela fortuna quando comparada com outras que existem por aí, mas pelo poder que teve neste país grande e bobo. Contei do assédio de políticos importantes e de celebridades realmente célebres à fazendola que comprou perto do Rio. O excelente amigo orçaria pelos 40 anos, pouco mais ou menos.

Aconteceu com ele, então, um fenômeno muito comum com aqueles que ficam poderosos: achou-se gostoso. Paparicado por moças lindíssimas já célebres, muitas delas casadas, outras solteiras e mães de filhos de cavalheiros célebres, o excelente patrício achou que seria o homem ideal para fazer a felicidade das brasileiras, ainda que ao custo de acabar com o seu próprio casamento, bagunçando os coretos adolescentes dos seus três filhos, meninos que tinham tudo para dar certo na vida, como acabaram provando e hoje se destacam nas profissões que escolheram.

Nesse período, com imenso trabalho para o meu fígado e os meus pulmões, creio ter exercido aquilo que se pede de um amigo. Entornando litros de uísques, fumando imensos charutos mandados pelo embaixador de Cuba, passei tardes inteiras convencendo o poderoso de que ele seria mesmo o companheiro ideal para as tais moças, mas havia que pensar nos problemas resultantes de sua separação e do seu novo casamento.

Primeiro: o rachuncho do patrimônio, considerando que era casado em comunhão de bens. Nesse rachuncho, havia que considerar o dinheiro depositado nos bancos lá fora em nome do casal, marido e mulher (vi muitos recibos de depósitos). Segundo problema: os ciúmes doentios que ele teria depois de se unir à nova companheira. Uma delas, lindíssima, namorada de um sujeito casado e muito conhecido, com quem teve uma filhinha, se casada com o meu poderoso amigo transformaria sua vida num inferno pelo medo de levar um par de chifres. Chifres não matam, o que mata é a chifrada, mas o poderoso nasceu numa região brasileira conhecida pelas mortes a tiros nos casos de adultério.

Se casado com a morena até hoje lindíssima, meu amigo sentiria ciúmes do Brasil inteiro, população que teria 30 milhões ou 40 milhões de homens adultos, entre os quais os governadores, os prefeitos e os políticos que o visitavam de helicóptero. Fico feliz de ter ganho a parada, quando sei que o amigo, com um montão de netos, vibra com o sucesso dos três filhos e continua com a boa e hoje velha companheira de lutas e conquistas.


Bobagens

Países que se dizem ofendidos porque foram espionados, soam como homens sérios que criticam seus semelhantes que soltam puns. Todo país espiona; todo homem emite ventosidades com estrépito. E não é de ontem ou anteontem, mas desde a formação dos primeiros grupos humanos, que a paleantropologia, sub-ramo da antropologia física que estuda os fósseis de hominídeos, estima fossem compostos de 100 pessoas. Por sinal, o número médio de contatos nas atuais agendas de criaturas comuns.

Muitos brasileiros que me honram com a sua leitura têm bons conhecimentos legais, o que me permite consultá-los sobre a existência, no mundo civilizado, de autorização da Justiça para que a escuta telefônica seja aceita como prova, isto é, a necessidade de autorização especial para que se faça a quebra dos sigilos telefônico, bancário e fiscal.

Como ex-produtor de leite, entendo, na esperança de que o leitor concorde comigo, que tais sigilos são injustificáveis. Sempre que digo algo pelo telefone, pouco me importa se estou sendo gravado. O mesmo se aplica aos meus “sigilos” fiscal e bancário. Ninguém que viva e trabalhe honestamente deve ter sigilos, ressalvados os mineiros que têm namoradas.

Cavalheiros conhecidos e respeitados podem, sim, ter os seus sigilos preservados nos telefonemas amorosos, nomes dos motéis e presentinhos que distribuem para ser amados – considerando que o amor sincero custa caro: merecem todo o respeito e todos os sigilos imagináveis.

O mundo é uma bola

21 de agosto de 230: eleição do papa Ponciano, que já foi o 18º da série pontifícia. Em 1359, Ismail II se torna o nono rei nasrida de Granada, destronando seu meio-irmão Maomé V. Muito feio esse negócio de destronar irmãos: Alá castiga. Ismail II reinou até morrer um ano depois.

Em 1522, assinado o Tratado de Sunda Kalapa entre Portugal e o Reino de Sunda. Presumo que ninguém saiba o que foi o Reino de Sunda, ou Sonda, um reino sundanês localizado na parte ocidental da Ilha de Java, hoje Indonésia, surgido depois do declínio do Reino Tarumanagara. Pois fiquem sabendo que o Reino de Sunda foi o reino unido de Sunda e Galuh.

Em 1770, o capitão James Cook, terminando sua viagem de descoberta da Austrália, reclama o continente em nome do Império Britânico, no que obrou muitíssimo bem. A Austrália, com 7,6 milhões de quilômetros quadrados, tem hoje menos que 24 milhões de habitantes, péssimo futebol, cangurus e meia dúzia de aborígenes para mostrar aos turistas: é o tipo do país civilizado. Em 1792, durante a Revolução Francesa, a guilhotina foi usada pela primeira vez para executar um nobre após rito sumário. Hoje é o Dia da Habitação.


Ruminanças

“Grande é a força do hábito” (Cícero, 104-43 a.C.).

O direito à gravidez‏

Só o médico deve limitar a idade da mulher que busca a fertilização


Selmo Geber
Professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG e especialista em fertilidade da Clínica Origen
Estado de Minas: 21/08/2014



Recentemente, duas orientações judiciais referentes às técnicas de reprodução assistida ganharam repercussão na imprensa brasileira. Em ambas, os grandes beneficiados foram os casais que precisam se submeter a tratamentos específicos para conseguir uma gestação. No primeiro caso, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou um pacote de orientações aos juízes, no qual avalia ser inconstitucional estabelecer um limite de idade para que uma mulher possa engravidar por fertilização in vitro. A posição contraria a última norma do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada em maio de 2013, que limita em 50 anos a idade para a mulher para se submeter ao tratamento. De acordo com o CNJ, fixar um teto de idade para a realização desse procedimento seria uma afronta ao direito à liberdade de planejar a família. A interpretação do CNJ favorece aquelas mulheres que não tiveram a oportunidade de ser mãe anteriormente, ou que passaram por mudanças em suas vidas que reacenderam nelas o desejo pela maternidade. Considerando-se essas e outras situações possíveis, seria, portanto, mais interessante que o CFM recomendasse ou orientasse uma limitação, sem fazer disso uma obrigação para a classe médica. É fato que, com o passar dos anos, algumas mulheres podem enfrentar riscos maiores durante a gestação. Mas uma avaliação médica antes do inicio do tratamento seria suficiente para determinar a melhor solução, de acordo com cada caso. Afinal, zelar e cuidar dos pacientes é função e obrigação de todos nós, médicos. Outra questão que ganhou repercussão está relacionada a decisões judiciais que facilitaram o registro de recém-nascidos gerados por técnicas de útero de substituição ou gravidez solidária, popularmente conhecida por “barriga de aluguel”. Esse tipo de tratamento é feito para mulheres que não têm útero, apresentam malformações que são incompatíveis com uma gravidez, abortos de repetição ou doenças maternas graves que apresentam morbidade e/ou mortalidade elevadas caso a mulher engravide. Nesses casos, os embriões que foram fertilizados in vitro são transferidos para o útero de outra mulher.

De acordo com o CFM, as doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros, num parentesco consanguíneo até o quarto grau, sendo os demais casos sujeitos a autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM). A doação temporária do útero não pode ter caráter lucrativo ou comercial. Atualmente, a lei prevê que a criança seja registrada no nome da mulher que cedeu a barriga e só depois de um tempo é que a certidão passará a conter o nome dos pais biológicos. Além de ocasionar um período de muita angústia para o casal – que tanto batalhou para ter um filho –, esse processo pode causar uma série de transtornos caso a gestante mude de ideia e decida ficar com a criança.

Assim sendo, facilitar a emissão dos documentos da criança já com os nomes dos pais biológicos é uma atitude que ilustra o dinamismo da Justiça e demonstra que muitos magistrados estão acompanhando os avanços da ciência e da medicina em prol da sociedade.

(In)segurança descabida - Olavo Machado

É preciso ajustar normas sobre equipamentos já existentes e em funcionamento para não prejudicar empresas e empregados brasileiros


Olavo Machado
Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Sistema Fiemg)
Estado de Minas: 21/08/2014



Em recente pronunciamento na tribuna da Câmara Federal, o deputado Welinton Prado chamou a atenção para uma questão preocupante e ameaçadora para a indústria brasileira: a NR-12 – a norma regulamentadora baixada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para disciplinar o funcionamento de máquinas e equipamentos em operação no país do ponto de vista da saúde e segurança no trabalho. Independentemente do porte – grandes, médias, pequenas ou microempresas –, ou de sua localização – capitais, cidades de porte médio e também nos menores municípios do país –, o funcionamento das empresas está submetido aos requisitos da NR-12, impactando até mesmo o parque fabril instalado anteriormente no país.

A NR-12 nasceu em 1978, por portaria do MTE, e, à época, compreendia não mais que 40 requisitos. Mais de três décadas depois, em 17 de dezembro de 2010, nova portaria do Ministério do Trabalho, publicada no Diário Oficial da União na véspera do Natal – 24 de dezembro –, ampliou para mais de 340 os requisitos da NR-12. Foi um presente de Natal amargo, que hoje ameaça a sobrevivência das empresas, corrói a competitividade do país e os empregos dos trabalhadores. Embora tenha havido discussão na comissão tripartite formada por representantes do governo, trabalhadores e empresários, na prática a NR-12 mostrou-se inviável.

A experiência e a prática do dia a dia mostram que a NR-12 exige ainda muita reflexão e discussão entre as partes envolvidas – governo, trabalhadores e empresas. Manter a norma tal como está hoje, com exigências que não existem sequer nos países mais desenvolvidos, significa privilegiar a subjetividade e, sem aumentar a segurança dos trabalhadores, impor custos asfixiantes para as empresas. É, de fato, uma quebra ostensiva de contratos, uma vez que máquinas aprovadas pelo governo até 16 de dezembro de 2010 – mesmo as importadas e em uso em seus países de origem – passam a não valer nada.

Melhor que interditar máquinas, ou reduzir sua eficiência com adaptações exóticas, seria treinar seus operadores. Afinal, se capacitamos pilotos de aviões e motocicletas, veículos que jamais passariam pelo crivo da NR-12, também devemos ser capazes de treinar e qualificar operadores de máquinas que produzem, geram riqueza para o país e emprego para os trabalhadores. O exemplo vem do próprio governo que patrocina a NR-12: a exigência de freios ABS e airbags em todos os carros em circulação no país desde 1º de janeiro deste ano não implicou na retirada das ruas dos veículos fabricados anteriormente sem esse equipamento. Eles sairão do mercado naturalmente, de acordo com o seu ciclo de vida – e o mesmo deveria ocorrer com as máquinas submetidas à NR-12.

A aplicação da NR-12 é subjetiva porque, na ponta, a decisão final, que pode resultar desde a interdição de uma máquina até o fechamento e mesmo a morte de empresas, cabe a profissionais com formações diferentes e que, portanto, avaliam de forma diferente o funcionamento de máquinas e equipamentos. Os números confirmam a tese: embora São Paulo seja muito mais industrializado que Minas Gerais, o resultado da ação fiscalizadora é muito mais intenso sobre as empresas mineiras: em 2013, foram realizados 13.163 fiscalizações em Minas, que resultaram em 3.954 interdições. Em São Paulo, foram realizadas 10.354 fiscalizações e 598 interdições.
A NR-12 também sufoca financeiramente as empresas. O desembolso necessário à troca de máquinas e equipamentos, em razão dos mais de 340 requisitos da norma, chega a R$ 100 bilhões, segundo estudos realizados por instituições representativas da indústria. É dinheiro que poderia ser utilizado na expansão de projetos e na implantação de novos, com segurança para os trabalhadores e gerando produção e empregos de qualidade.

É hora de buscar soluções, harmonizando o debate entre governo, trabalhadores e empresas. É o que a indústria propõe e já está fazendo ao apresentar propostas para ajustar a NR-12 à realidade. O primeiro passo é definir que a NR-12 deve respeitar a legislação vigente à época da fabricação da máquina ou equipamento, sem qualquer tipo de retroatividade. Os trabalhadores devem ser treinados e capacitados para usar com segurança as máquinas e equipamentos, como é feito – é importante repetir – com pilotos de motos e aviões. Essa é uma questão técnica e o trabalhador brasileiro não pode ser tratado como um incapaz. A NR-12 é importante para os anseios de um país que investe fortemente na formação de seus trabalhadores e na inovação que gera desenvolvimento tecnológico e soberania nacional. Não há mais espaço, felizmente, para práticas ideológicas que visam opor trabalhadores e empresários como se fossem inimigos e não parceiros.