terça-feira, 6 de agosto de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      MANDRADE
MANDRADE

O meu Borges - Maria Esther Maciel

 - memaciel.em@gmail.com

Estado de Minas: 06/08/2013 


Conheci José Olympio na noite de 25 de maio de 1991, em Patos de Minas, durante o lançamento de um número especial do Suplemento Literário de Minas Gerais dedicado ao poeta Altino Caixeta de Castro. No evento, que incluía um jantar de comemoração, estavam presentes vários escritores que moravam em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. A homenagem principal ao poeta ficou por conta do crítico Fábio Lucas, que, amigo de José Olympio (patense, residente em São Paulo), convidou-o para ir junto. 

Fábio já havia me falado dele antes, comentando que era um dos homens mais cultos e inteligentes de seu círculo de amizades. Tinha ficado surpreso ao saber que eu ainda não conhecia meu conterrâneo. Assim como ficou Sonia Labouriau, também amiga de José Olympio, quando lhe falei que já tinha ouvido falar dele, mas nunca o tinha visto ao vivo. “Ele tem tudo a ver com você”, ela me disse na ocasião. Lembro-me do breve comentário que lhe fiz em seguida: “Pois é, ele é Borges e eu sou Maciel; temos mesmo muito a ver um com o outro”. Ela não entendeu a ironia, é claro. Aí, expliquei que Borges e Maciel eram famílias adversárias em Patos desde os anos 1920, devido a brigas políticas. E esclarecendo que não era conivente com essa briga, acrescentei: “Sempre gostei dos Borges, me dou muito bem com eles”. Por fim, ainda brinquei: “Não à toa o meu escritor favorito se chama Borges”.

Assim, José Olympio já fazia parte de meu imaginário quando o encontrei no jantar e me apresentei como amiga de Fábio Lucas e Sonia Labouriau. Para minha alegria, ele também já ouvira falar de mim e tinha, inclusive, lido um artigo meu sobre o poeta Augusto dos Anjos publicado no Estado de Minas. Foi desse modo que iniciamos nossa primeira conversa. Ele se sentou ao meu lado na mesa e passamos todo o jantar falando de mil coisas. O que mais me chamou a atenção nele foi a elegância. Era um homem de meia-idade, alto, esbelto e muito distinto. Usava um blazer cor de ferrugem e óculos de aros robustos. Com meus 28 anos, recém-contratada como professora na UFMG, fiquei encantada com aquele homem brilhante e maduro, que já via como um mestre da vida inteira. Mas me apaixonei mesmo quando ele falou, de cor e em francês, um poema inteiro de Baudelaire. Isso, ao saber que era um dos meus poetas favoritos. Até hoje ouço, em sua voz sóbria e sonora, o belo verso: “Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille”. 

Voltei a me encontrar com ele em Belo Horizonte, no lançamento de um livro de Fábio Lucas. Outros encontros vieram posteriormente, graças à nossa amiga Sonia. Meses depois, ele – que havia acabado de se aposentar em São Paulo – mudou-se para cá e, em pouco tempo, já estávamos juntos, vivendo um relacionamento de intensa cumplicidade amorosa e intelectual. A data de 25 de maio ficou sendo nossa, para sempre. E, de vez em quando, ao nos reportar àquele dia em Patos, repetíamos estes versos de Pessoa: “Quando te vi amei-te já muito antes./ Tornei a achar-te quando te encontrei./ Nasci pra ti antes de haver o mundo.”

José Olympio faleceu no mês passado, 22 anos depois do nosso primeiro encontro. Deixou-me aqui, com uma dor imensa. Tão grande, que em alguns momentos preciso repetir o verso de Baudelaire: “Sê sábia, ó minha Dor, e mantém-te calma”. Mas ela não sossega.

Novos carnívoros exigem tratamento digno dos animais e abate humanizado - Giuliana Miranda Alexandre Dall'ara

folha de são paulo
GIULIANA MIRANDA
ALEXANDRE DALL'ARA
DE SÃO PAULO
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Poucos problemas ambientais e de consciência são tão apetitosos quanto um bom bife. O consumo de carne está associado à alta do desmatamento na Amazônia, usa uma enorme quantidade de água e emite gases-estufa.
No entanto, tem ganhado força o movimento dos "carnívoros éticos": gente que não pensa em ser vegetariana, mas faz questão de uma postura mais sustentável e de respeito ao animal.
Segundo Leonardo Leite de Barros, presidente da ABPO (Associação Brasileira da Pecuária Orgânica), a quantidade de animais criados segundo os preceitos orgânicos (sem confinamento, com uso restrito de remédios, alimentação no pasto e abate humanizado) tem crescido.
"Hoje as fazendas da associação estão abatendo de 800 a mil animais por mês. Quando começamos, em 2007, eram cerca de 200", diz ele.
Theo Marques/Folhapress
Cláudio Ushiwata, dono de um café em Curitiba, é um consumidor de carne orgânica
Cláudio Ushiwata, dono de um café em Curitiba, é um consumidor de carne orgânica
O empresário curitibano Cláudio Ushiwata é um desses consumidores mais atentos e só leva para casa carnes cuja procedência e produção ele considere adequadas.
"Na minha casa temos o hábito de consumir carne orgânica. Não tenho dificuldade de encontrar, mas ela é restrita a poucos estabelecimentos e a poucos cortes."
O engajamento do consumidor tem potencial de transformar a indústria, diz Luís Fernando Guedes Pinto, gerente de certificação agrícola do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
"O consumidor não deve aceitar animais vivendo em condições ruins ou rebanhos vindos de áreas de desmatamento na Amazônia."
Nos últimos anos, as agências reguladoras também estão mais exigentes. A Europa passa, neste ano, a ter regras mais duras quanto às condições de criação, transporte e abate de animais. Quem quiser vender para o bloco --incluindo frigoríficos brasileiros-- precisa se adequar.
"Ser vegetariano não é a única opção para quem quer um tratamento ético dos animais", diz José Rodolfo Panim Ciocca, gerente do programa de abate humanitário da WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal).
William Mur/Ed. de arte/Folhapress
O abate humanitário faz o animal perder a consciência antes que o estímulo da dor chegue ao cérebro.
Nos bovinos, isso é feito com uma pistola especial. Em suínos e em aves, a insensibilização deve ser feita com uma descarga elétrica.
O presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles Salazar, afirma que há realidades distintas quanto a isso no Brasil. "Os frigoríficos sujeitos à inspeção federal têm controles rígidos. O problema está na esfera dos Estados e municípios. É lá que se encontram barbaridades como o abate de bois a marretadas."
A crueldade tem consequências na qualidade do produto. Muita tensão antes do abate deixa a carne pálida e mole, com liberação excessiva de água. Já nos bichos com estresse crônico, a carne costuma ser mais dura, escura e ressecada.
Quando eles são conduzidos com violência, usando bastões elétricos ou apanhando, são formados hematomas que devem ser descartados.
Em breve, o Ministério da Agricultura deve lançar novas normas mais rígidas para a criação e o abate. A consulta pública sobre o tema acaba de terminar e o texto sofre agora ajustes finais.
Colaborou Rafael Garcia

Tempo avança mais rápido com a idade [Oliver Sacks]

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Tempo avança mais rápido com a idade



DO "NEW YORK TIMES"
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The New York TimesA maioria das pessoas mais velhas sente que o tempo avança rapidamente, o que não é o caso dos jovens. Uma maneira de reverter essa sensação é aprender algo novo.
Quando completou 80 anos, no mês passado, o neurologista e escritor Oliver Sacks escreveu no "New York Times": "Oitenta anos! Mal consigo acreditar. Muitas vezes, sinto que a vida está apenas começando, mas então me dou conta de que ela quase acabou." Ele foi o caçula entre seus irmãos e também em sua sala na escola secundária, escreveu, "e conservei esta sensação de ser o mais jovem, apesar de eu hoje ser quase a pessoa mais velha que conheço".
Fica claro que há muitas pessoas que Sacks não conhece: apenas nos EUA, há mais de 10 milhões de pessoas com mais de 80 anos.
As estatísticas nos dizem que os humanos estão vivendo mais tempo graças a avanços na medicina, na saúde e na qualidade de vida em países como Japão, Estados Unidos e em quase toda a Europa. Nas oito décadas passadas, desde que Sacks nasceu, a expectativa média de vida dos homens britânicos ou americanos passou de cerca de 60 anos para quase 80.
Mas essas estatísticas andam sendo evidenciadas de outras maneiras, quando ícones da juventude eterna como Bob Dylan, Paul McCartney e Mick Jagger já chegaram ou passaram dos 70.
Numa coluna publicada na ocasião do aniversário de Mick Jagger, no mês passado, Gail Collins, do "NYT", notou com é estranho ver chegar à terceira idade os heróis culturais dos anos 1960 que criticavam os valores das gerações mais velhas. "É claro que, em 1965, ter 70 anos era ser velho, diferentemente de hoje, quando os 70 anos são os novos 50", escreveu. "Ou, no caso de Jagger, os 17 anos de idade reciclados."
Se você tem certa idade, pode sentir que os 50 anos passados desde que primeiro ouviu Jagger cantar "19th Nervous Breakdown" transcorreram num átimo. Isso é apenas ilusão, diz Richard A. Friedman, professor de psiquiatria clínica na Faculdade de Medicina Weill Cornell, em Nova York. "De modo geral, a maioria de nós tem percepção semelhante dos intervalos de tempo curtos, independentemente de nossa idade."
Mesmo assim, Friedman reconhece que a maioria das pessoas mais velhas sente o tempo passar mais rapidamente que os mais jovens. Isso é porque os idosos tendem a compreender o passado olhando "pelo telescópio do tempo perdido". Os jovens estão mais ocupados aprendendo sobre o mundo e o lugar que ocupam nele. Segundo Friedman, esses atos de aprendizagem e de concentração desaceleram a passagem do tempo.
Para os idosos que queiram acabar com a ilusão de que o tempo passa "voando", Friedman sugere "tornar-se estudantes outra vez. Aprender algo que exija esforço por algum tempo, fazer algo nunca antes feito."
Mas, se você não consegue furtar-se a pensar no passado, não se desespere. "Já foi demonstrado que a nostalgia combate a solidão, o tédio e a ansiedade", escreveu John Tierney, do "NYT". "Torna as pessoas mais abertas a estranhos e mais tolerantes a quem não faz parte de seu mundo."
Tierney cita estudos das universidades de Southampton, no Reino Unido, e de Tilburg, na Holanda, que fundamentam essas afirmações. "A nostalgia tem, sim, seu lado doloroso", escreveu, "mas seu efeito final é conferir mais sentido à vida e fazer a morte ser menos assustadora."
A reflexão de Oliver Sacks sobre sua vida até agora parece induzir esse efeito. "Não penso na velhice como um tempo cada vez mais sofrido que temos que suportar e de alguma maneira procurar encarar", escreveu, "mas como um tempo de lazer e liberdade, liberto das urgências falsas dos tempos anteriores, livre para explorar o que eu quiser e para reunir os pensamentos e sentimentos de uma vida inteira."

Clovis Rossi

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A economia e a cartomante
Está querendo saber quais são as perspectivas para a economia brasileira neste segundo semestre? A maneira mais confiável de saber é pedir a uma boa cartomante que leia as cartas.
É método seguramente mais científico do que as previsões dos economistas que o Banco Central utiliza em seu boletim Focus.
É a conclusão inescapável a tirar da tabelinha anexa, "roubada" de artigo de domingo do economista Samuel Pessôa. Nela se vê que, ano após ano, os "chutadores" da economia erraram crassamente os palpites que eles, pretensiosamente, chamam de previsões.
Não são errinhos de pequena monta. Variam de 1,8 ponto percentual (em 2011) a 2,8 pontos percentuais (2009). Estou excluindo 2013 porque o ano ainda não terminou e, portanto, não dá para saber qual será o volume do erro.
Se você considerar que cada ponto percentual do PIB corresponde, grosso modo, a aproximadamente R$ 44 bilhões, vê-se mais facilmente o brutal tamanho do desvio.
Imagine uma situação em que você projeta, no início do ano, faturar, digamos, uns R$ 150 bilhões adicionais em relação à riqueza que já possui (era a previsão dos economistas para o PIB brasileiro ao começar 2012). Aí, termina o ano é você verifica que o acréscimo não passou de uns R$ 44 bilhões.
Dá para perceber o tamanho do despropósito que são os chutes que o Banco Central incorpora ao seu boletim Focus?
Samuel Pessôa, no artigo do qual tirei a tabela, passa a impressão de que os "chutes" são inocentes. Afinal, errar é humano.
Mas quem entende mais que ninguém desse jogo de manipulação de dados, o megaespeculador George Soros, me ensinou, anos atrás, em Davos, que boa parte das análises econômicas são enviesadas para atender aos interesses de quem as faz ou da instituição para a qual trabalha.
Segundo Soros, se uma instituição financeira precisa que o dólar suba, para ganhar dinheiro, as análises de seus economistas serão necessariamente no sentido de que uma alta da moeda norte-americana é inexorável, na expectativa de convencer os agentes de mercado de forma a que a profecia se realize.
Mesmo que se adote o ponto de vista ingênuo de que os erros são inocentes, o tamanho deles e a sequência interminável com que são cometidos demandariam olhar para as previsões com muita desconfiança, em vez de tomá-las como palavra de oráculos infalíveis.
O jornalismo, aliás, deveria ser o primeiro a advertir o leitor, ao publicar previsões, que não há parentesco entre elas e a realidade.
Não fazê-lo equivale a publicar uma falsidade, antevendo que se trata de uma falsidade, já que os erros se repetem todos os anos.

Entrevista Antonio Patriota - Samy Adghirni

folha de são paulo
Sanções contra o Irã limitam comércio do país com Brasil
para chanceler, medidas são prejudiciais ao povo iraniano
SAMY ADGHIRNIDE TEERÃ
O Brasil considera ineficientes e nefastas contra a população as sanções unilaterais impostas ao Irã pelos EUA e por aliados, segundo o chanceler Antonio Patriota.
Em entrevista à Folha em Teerã, onde participou da posse do presidente Hasan Rowhani, o ministro disse que as sanções afetam interesses econômicos do Brasil.
Folha - Como foi a visita?
Antonio Patriota - A posse de Rowhani representa uma renovação. Fui recebido por Ali Akbar Salehi [chanceler que deixou o cargo] e conversei com o novo chanceler [Mohamad Javad Zarif]. E cumprimentei pessoalmente Rowhani. Foi uma demonstração de apreço.
Ficou para trás o estranhamento no início do governo Dilma Rousseff?
Sempre houve um relacionamento correto com o Irã.
Até no caso do diplomata iraniano em Brasília [acusado de molestar crianças numa piscina], Salehi foi receptivo e deu encaminhamento que nos pareceu adequado.
Há grande sensibilidade no Irã sobre os direitos humanos. No encontro com Salehi, suscitei a questão, encorajando o país a cooperar com o sistema multilateral [Teerã é acusado de não cooperar com investigações da ONU].
O Brasil votou a favor de criar o cargo de relator especial para o Irã. Isso serve para fortalecer o sistema multilateral e obter garantia contra politização indevida.
Também acho equivocada a atitude de Israel de não se ter submetido à revisão periódica universal no Conselho de Direitos Humanos [que visa a submeter todos os países à avaliação sobre a questão].
Há ainda progressos inegáveis em educação e mortalidade infantil.
A ênfase na relação Brasil-Irã hoje está no comércio?
Num momento em que o nosso superavit comercial com o mundo diminui, negócios com o Irã continuam num patamar elevado.
Mas o comércio está limitado pelas sanções unilaterais, um modo de proceder com o qual não concordamos. O Brasil defende que sanções só devam ser adotadas no âmbito da ONU. Sanções unilaterais criam entraves financeiros e de crédito, limitando a cooperação econômica.
Valeu a pena o acordo nuclear de 2010, costurado por Brasil e Turquia, que exigiu muito esforço, gerou atrito com os EUA e acabou dando em nada?
Foram as abordagens alternativas ao acordo que não deram em nada. Houve críticas contra um esforço dentro da legalidade internacional destinado a revisitar uma medida de fortalecimento de confiança [envio do urânio altamente enriquecido para fora do Irã] e obedecendo a parâmetros estabelecidos pelas próprias potências.
Críticos disseram que seria mais produtivo adotar mais sanções. Três anos depois, novas sanções não produziram nenhum resultado e a abordagem das potências hoje é semelhante àquela de Brasil e Turquia. Hoje não se consegue um acordo de compromisso do governo iraniano. O entendimento de 2010 foi um marco na busca de uma solução pacífica.
E a decisão do Congresso dos EUA de iniciar, dois dias antes da posse de Rowhani, trâmites para novas sanções?
Não vou me pronunciar sobre as medidas, sobretudo porque ainda não têm efeito.
Esperamos que o comportamento iraniano e as reações de outros países caminhem rumo à negociação. Essa questão está inscrita na agenda do Conselho de Segurança da ONU por conta das sanções multilaterais que, diga-se de passagem, se restringem a aspectos diretamente associados às alegações de fins não pacíficos do programa nuclear iraniano. Já sanções unilaterais geram efeito negativo sobre a vida da população iraniana.
Senado dos EUA pressiona Obama por punições ao Irã
DE TEERÃ
Na contramão dos acenos apaziguadores generalizados acerca do novo presidente iraniano, Hasan Rowhani, a maioria dos senadores americanos cobrou ontem de Barack Obama que imponha novas sanções e reitere a ameaça militar contra Teerã.
"Senhor presidente, pedimos que o senhor renove o sentido de urgência do processo", disseram 76 dos 100 membros do Senado em carta enviada à Casa Branca.
Tanto rivais republicanos quanto aliados democratas assinaram o documento.
A carta surge um dia após a Casa Branca aceitar dialogar com Rowhani, desde que ele cumpra com "obrigações internacionais."
EUA e aliados acusam o Irã de fabricar secretamente um arsenal nuclear, o que o país persa rejeita.
Um dia após propor ao Parlamento uma equipe ministerial dominada por tecnocratas e pragmáticos, Rowhani escolheu como primeiro vice-presidente o reformista Eshaq Jahangiri, num aceno aos reformistas pró-Rowhani.
AHMADINEJAD
O ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad integrará um dos principais órgãos consultivos do país, anunciou ontem o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.
"Considerando sua ampla experiência adquirida durante oito anos de dignos esforços, nomeio o senhor membro do Conselho de Discernimento", disse o líder.
O conselho reúne 38 personalidades encarregadas de assessorar Khamenei e arbitrar desacordos entre o Legislativo e o Conselho de Guardiães da Revolução, órgão que avalia a conformidade das leis aos ideais revolucionários de 1979. (SA)

Polícia diz que vereador do PSDB recebeu propina da Alstom em 98 PF indicia Matarazzo após investigar negócios de grupo francês - Flavcio Ferreira,Catia Seabra,Juliana Sofia

folha de são paulo
DE SÃO PAULO
PF indicia Matarazzo após investigar negócios de grupo francês
A Polícia Federal indiciou o vereador de São Paulo Andrea Matarazzo (PSDB) por considerar que ele recebeu propina do grupo francês Alstom quando foi secretário estadual de Energia, em 1998.
A PF investigou negócios da Alstom com o governo de São Paulo entre 1995 e 2003, período em que o Estado foi governado por sucessivas administrações do PSDB.
O trabalho da polícia se baseou em informações obtidas pelo Ministério Público da Suíça. O inquérito foi concluído em agosto de 2012 e está desde então sob análise do Ministério Público Federal.
No relatório final do inquérito, o delegado Milton Fornazari Junior cita como evidência para indiciar Matarazzo uma troca de mensagens de 1997 em que executivos da Alstom discutiriam o pagamento de vantagens para o PSDB, a Secretaria de Energia e o Tribunal de Contas.
Embora seu nome não seja citado como destinatário de pagamentos, a PF concluiu que Matarazzo foi um dos beneficiados porque ele foi secretário por oito meses em 1998, quando um dos contratos da Alstom foi assinado.
A PF indiciou Matarazzo por suspeita de corrupção passiva. O procurador Rodrigo de Grandis, que está com o inquérito há um ano, disse à Folha que não poderia se pronunciar sobre o processo porque ele corre sob sigilo.
Segundo Fornazari, a mensagem que incriminaria Matarazzo se refere a um contrato de R$ 72 milhões para fornecimento de equipamentos para a EPTE, empresa que era controlada pelo Estado e que mais tarde foi privatizada.
A PF também indiciou dois executivos da Alstom no Brasil e dois ex-dirigentes da EPTE que participaram das negociações, Eduardo José Bernini e Henrique Fingermann.
A Alstom é uma das empresas acusadas pela alemã Siemens de participar de um cartel criado por grupos interessados em licitações do metrô e da CPTM.

OUTRO LADO
Matarazzo afirma que não discutiu contrato
DE SÃO PAULOO vereador de São Paulo Andrea Matarazzo (PSDB) negou ter recebido propina do grupo Alstom e disse que não participou das negociações do contrato da empresa francesa com a EPTE, sob investigação da Polícia Federal.
Por meio de nota, Matarazzo afirmou que nunca teve "conhecimento nem houve qualquer discussão" sobre o contrato no período em que foi secretário de Energia, entre janeiro e agosto de 1998.
Ele disse também que o assunto não era da alçada do conselho de administração das estatais do setor, do qual ele participava, "mas dos diretores que lá já estavam quando tornei-me secretário".
O vereador disse que seus advogados já pediram o arquivamento da investigação.
A advogada Carla Domenico disse que os ex-dirigentes da EPTE Eduardo José Bernini e Henrique Fingermann não cometeram nenhuma irregularidade e foram acusados apenas em razão das funções que exerciam na época.
O advogado da Alstom do Brasil Roberto Lopes Telhada afirmou que os executivos da empresa no país não cometeram ilegalidades.
    Ministério Público reabre inquéritos sobre Metrô de SP
    Promotoria desengaveta 15 processos que envolvem suspeitas de fraudes; outros 30 estão em curso
    Segundo promotor, um dos objetivos do grupo é investigar casos de enriquecimento ilícito de servidores públicos
    FLÁVIO FERREIRADE SÃO PAULOO Ministério Público de São Paulo formou uma força-tarefa com dez promotores para analisar 45 inquéritos que envolvem empresas suspeitas de fraudes em licitações de trens da CPTM e do Metrô.
    Para isso, 15 apurações que estavam arquivadas por falta de provas serão reabertas.
    A medida é resultado da delação feita pela multinacional Siemens às autoridades antitruste brasileiras sobre a formação de cartel --do qual fazia parte-- em licitações de trens entre 1998 e 2008, em São Paulo e no Distrito Federal.
    De acordo com o promotor Valter Santin, um dos objetivos da criação da força-tarefa é a "verificação de enriquecimento ilícito de servidores".
    Ao todo, 19 empresas fazem parte das investigações desses 45 inquéritos. O número de companhias sob suspeita coincide com o da apuração do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) sobre a atuação do cartel.
    De acordo com o promotor Silvio Marques, a maioria dos inquéritos teve início em 2009 e alguns já estão em fase de perícias e depoimentos de testemunhas, mas poderão ter novos desdobramentos a partir das informações surgidas após a delação da Siemens.
    Segundo a Folha apurou, entre os procedimentos que serão desarquivados está uma investigação sobre supostas irregularidades no aumento de preços e prazos de contratos da linha 2-verde no valor de R$ 143 milhões.
    Nesse procedimento são apuradas condutas de representantes do Metrô, da Siemens e da empresa Alstom.
    Outro inquérito reaberto trata da suspeita de fraude em contrato de cerca de R$ 20 milhões. Ele é referente a serviços de revisão e fornecimento de materiais para 21 trens da CPTM. Nesse caso, a Alstom também é suspeita.
    Uma investigação sobre um contrato da CPTM no valor de R$ 15 milhões para prestação de serviços de recuperação de 28 trens também saiu da gaveta e indica a Alstom como investigada.
    Ontem os promotores se reuniram com advogados das empresas envolvidas em busca de informações sobre as operações sob apuração.
    Governo diz ser o maior interessado em esclarecer caso
    DE SÃO PAULOQuestionado pela Folha, o Governo do Estado afirmou, em nota, ser o "maior interessado em esclarecer" as denúncias de formação de cartel e fraudes em licitação de trens do Metrô e da CPTM.
    A administração paulista afirmou que é positivo o auxílio do Ministério Público nas investigações, "colaborando para a mais rápida elucidação dos fatos."
    De acordo com a nota, o Estado se coloca à disposição do órgão para esclarecer eventuais dúvidas e para auxiliar no que estiver ao seu alcance.
    Em relação ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que apura a formação de cartel, o governo afirmou que solicitou informações da investigação.
    O Estado informou que está apurando o caso e, se ficar comprovada a formação de cartel, exigirá ressarcimento aos cofres públicos.
    A nota diz que o eventual envolvimento de servidores públicos em irregularidades será punido com rigor.
      Justiça nega acesso do Estado à investigação
      DE BRASÍLIADE SÃO PAULO
      O juiz Gabriel Queiroz Neto, da 2ª Vara da Justiça Federal de Brasília, negou o pedido do governo de São Paulo de ter acesso a documentos da investigação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).O órgão apura suposta formação de cartel em licitações do metrô.
      Na decisão, o juiz afirma que o Cade não está necessariamente negando o acesso, mas sim avaliando os documentos para saber o que deve ou não ser mantido sob sigilo.
      Queiroz Neto destaca também que, como boa parte da documentação foi obtida mediante ordem judicial que determinava o sigilo dos dados, o Cade estaria agindo com uma cautela "justificada".
      O juiz afirma que, mesmo sem acesso aos documentos, o Estado de São Paulo poderia realizar investigações próprias. O governo de São Paulo informou que vai recorrer.
      Mais cedo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) criticou o Cade por não fornecer os documentos. "É um sigilo estranho porque as informações todas estão na imprensa", afirmou o governador.

      BAHIA
      Procuradoria pede explicação da Siemens
      O Ministério Público Federal na Bahia quer saber da Siemens se houve conluio para a construção do metrô de Salvador. A empresa fez parte do consórcio, responsável pela obra, denunciado em 2009 por fraude em licitação e formação de cartel.
        Ministro da Justiça critica 'nervos à flor da pele'
        Cardozo, da Justiça, defendeu punição de agentes públicos e privados envolvidos em cartel
        CATIA SEABRAJULIANNA SOFIADE BRASÍLIAAfirmando identificar "nervos à flor da pele" no governo paulista, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), defendeu ontem a punição de agentes públicos e privados envolvidos no cartel delatado pela Siemens para venda de equipamentos ferroviários ao Estado de São Paulo e ao Distrito Federal.
        "Quem cometeu crimes terá que ser responsabilizado."
        Cardozo disse que a investigação não se restringirá ao crime de formação de cartel caso sejam apontados outros delitos, como improbidade administrativa, em processos de licitação da CPTM e dos metrôs de São Paulo e DF.
        "Se houve cartel, o Estado é prejudicado. Se houve outros tipos de crimes, que terão de ser investigados, também. Resta saber quem vai responder por isso", disse.
        Embora frise que a apuração ainda está em curso, Cardozo diz que há "fortes indícios de cartelização" nas licitações investigadas pelo Cade.
        "Resta saber se será confirmado pela investigação e se há outros crimes de agentes públicos ou privados envolvidos."
        'LITÍGIO POLÍTICO'
        Cardozo acusou ainda a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) de tentar "transformar uma investigação técnica em litígio político". Um exemplo, diz, está na decisão de entrar com mandado de segurança contra o Cade, para obter documentos sob investigação, em vez de fazer uma "simples petição" à juíza responsável pelo caso.
        Na sexta-feira, ao anunciar o pedido à Justiça, Alckmin criticou o governo federal dizendo ser "inadmissível um vazamento de informações debaixo do pano" e sem que o Estado tivesse acesso aos dados.
        'PARENTESCO'
        Outro sintoma do que chama de "nervosimo acima do normal", diz o ministro, foi apresentado pelo ex-governador Alberto Goldman (PSDB) que, ontem, acusou o presidente do Cade, Vinicius Marques de Carvalho, de agir sob motivação de um parentesco com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
        "O que é mais surpreendente é que o superintendente do Cade, que é o órgão que deveria estar trabalhando com honestidade, é sobrinho do Gilberto Carvalho, ministro da Dilma, carregador de mala, carregador de pasta, desde o tempo de Santo André, do José Dirceu", acusou Goldman.
        Cardozo e Cade informaram que o parentesco não existe.
        Vinicius informou que foi indicado pela presidente Dilma em maio de 2012 para um mandato de quatro anos. "Anteriormente, ocupava o cargo de secretário de direito econômico do Ministério da Justiça."

          Rosely Sayão

          folha de são paulo
          Cala a boca já morreu?
          Adultos querem tranquilidade e filhos e crianças agitadas fazem os pais perderem a paciência; como conciliar?
          "Cala a boca, menino!" Essa frase já foi usada com regularidade por muitos pais há algum tempo. Quando a criança interrompia uma conversa de adultos com insistência, quando falava o que não deveria falar, quando o momento exigia silêncio, por exemplo, a frase era dita com tranquilidade pelos adultos.
          O mais interessante é que a expressão não era considerada agressiva, tampouco humilhante, nem pelos adultos nem pela própria criança. Era como dizer "Fica quieta, menina!" de modo mais incisivo, quando a situação assim o exigia.
          Com o passar do tempo, os conceitos de educação dos filhos mudaram, a maneira de tratar a criança mudou e os adultos passaram a buscar uma convivência com os filhos que fosse mais respeitosa. Deixamos, pouco a pouco, de tratar as crianças como se elas não tivessem sentimentos reativos à maneira como os adultos se relacionavam com ela.
          Essas mudanças provocaram transformações na formação da criança: ela passou a ser mais questionadora, a ter mais presença e a ser reconhecida como integrante do grupo familiar, com direitos, e não apenas com o dever de obedecer aos pais. Surgiu, então, uma frase: "Cala a boca já morreu".
          A transição de uma fase à outra não ocorreu sem percalços, é claro. Muitos pais se perderam, as crianças passaram a ser o centro da família e tornaram-se ruidosas, exigentes, autoritárias até. Foi então que passou a circular no mundo adulto a ideia de que as crianças não têm limites e esse conceito pegou.
          O mundo dos adultos mudou concomitantemente: a juventude deixou de ser uma etapa da vida e passou a ser um estilo de viver e isso levou o adulto a viver mais para si e a ter grandes dificuldades de renunciar ao que considera importante em sua vida. A busca da felicidade transformou-se em meta de vida e isso fez com que problemas e dificuldades que surgiam no trajeto da vida fossem ignorados ou contornados para que desaparecessem.
          Como consequência dessa nova forma de estar no mundo, tanto de crianças quanto de adultos, surgiram contradições. Os adultos querem tranquilidade e filhos ao mesmo tempo. As crianças querem ser atendidas e, hiperestimuladas, tornam-se agitadas e fazem os pais perderem a paciência em curto espaço de tempo. Como conciliar a convivência de expectativas tão distintas?
          O avanço tecnológico nos permitiu ressuscitar o "Cala a boca, menino!". Por onde andamos, vemos crianças entretidas com tablets, aparelhos celulares, reprodutores de vídeos portáteis. Em restaurantes, em carros, em hotéis, em praias, vemos crianças hipnotizadas com as traquitanas tecnológicas.
          A televisão já ocupou esse lugar, tanto que foi chamada de "babá eletrônica". Mas ela tem restrições: só pode ser usada em casa. Agora, esses outros recursos possibilitam que as crianças deixem de perturbar os pais em qualquer lugar.
          A tecnologia e a internet e suas amplas possibilidades fazem parte da vida de nossas crianças e são recursos que podem ser usados de modo rico e favorável a elas. Mas, dessa maneira que as temos usado, é apenas mais um estímulo que se junta a tantos outros.
          É ingenuidade pensar que a criança se acalma com seu uso. Ela se agita mais ainda sem ter alvo certo, sem aprender a dirigir sua energia para o que precisa, torna-se ainda mais dispersa.
          O "Cala a boca, menina!" de hoje é bem mais sofisticado e sedutor, mas continua a ser um "cala a boca".