segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A qualidade contra a miséria - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 25/02/2013


Combate à miséria precisa ter educação e cultura


Há poucos dias, o governo lançou mais uma etapa da luta contra a miséria, ou extrema pobreza. Nos anos Lula e Dilma, dezenas de milhões de brasileiros deixaram esse nível, subindo para o - ainda indesejado, mas mesmo assim melhor - da pobreza. Na pobreza, o ser humano repõe as energias, enquanto na sua versão extrema (ou miséria) são sensivelmente abreviadas a quantidade e qualidade de sua vida. Para usar a expressão do filósofo inglês Thomas Hobbes quando fala no estado de guerra, o miserável "não vive o tempo que a natureza normalmente lhe daria". É claro que essa distinção não torna a pobreza uma condição invejável. Aliás, a própria pobreza também abrevia a duração possível da existência, pelo menor acesso a cuidados bons de saúde, pela alimentação não tão boa, pelo desgaste a que se submete a pessoa num país que, na frase de Fernando Henrique Cardoso, é mais injusto do que pobre. E que, por isso, tem tanta gente na pobreza simples ou extrema.

A redução da miséria e da pobreza ocorreu em muitos países. Na América do Sul, deu-se com governos de esquerda, mas alguns de direita também reduziram a dívida social. No Peru, uma diminuição no porcentual de miseráveis data de governos anteriores ao atual - que não eram de esquerda. Parece que, assim como nos anos 1990 a inflação foi derrotada em quase todo o mundo, por governos de direita na maior parte, mas também de esquerda, desde o ano 2000 a injustiça social tem baixado em muitos lugares, pela ação da esquerda mas também de alguns governos liberais.

Isso basta? Preocupa-me que a maior parte dos comentários sobre a melhoria na vida das classes pobres, no Brasil, enfatize o aumento no poder de compra. O avanço na cultura e na educação, embora ocorra, não recebe a mesma atenção. Ora, aí está a diferença entre a necessidade e a liberdade, entre uma vida de carências e uma mais ativa.

A miséria é mais fácil de se perceber sob dois aspectos principais: a fome e a doença. Digamos que os gastos básicos das pessoas se dividam entre a alimentação, a vestimenta, o transporte, a saúde e a moradia. Todos esses gastos podem ser comprimidos, a um custo humano elevado - mas não dá para deixar de comer, de se vestir, de ir e voltar do trabalho e de cuidar da saúde. Penso que a mais sacrificada dessas necessidades básicas é a moradia. Assim entendo a pesquisa que o Valor divulgou na semana passada, revelando que 65% dos moradores de favelas pertencem à classe média. Eram 37% em 2002. Certamente hoje comem e se vestem melhor, parte tem carro, mas continuam morando muito mal. Resolver a questão da residência é mais difícil, porque mais caro, do que solucionar as outras necessidades que chamei de básicas, e que são evidentes, flagrantes, visíveis.

Mas para estas necessidades, justamente por sua visibilidade, foram definidas políticas públicas que funcionam. Nelas, há uma linha de corte entre a carência e a sua satisfação. Por exemplo, a saúde seria a não-doença. Se você tem um resfriado, a cura lhe devolve a saúde. Se está com fome, comendo, ela passa. E isso todos sabem na hora. Estou simplificando, até porque podemos melhorar cada vez mais a qualidade da roupa, da comida, da moradia e do bem-estar físico e mental - mas, em linhas gerais, vale esse recorte.

O que se enquadra mal nele são a educação e a cultura. Pode haver uma satisfação completa das necessidades de proteínas e carboidratos, de vitaminas e minerais - mas não há um equivalente em termos culturais ou educacionais. Não faz sentido dizer que, vendo cem filmes, lendo cinquenta livros, conhecendo mil canções, aprendendo uma língua e resolvendo equações, eu chegue ao patamar da pessoa "culta" ou "educada". Aqui, o céu é o limite. Ou seja, não há limite.

Tudo isso para dizer que, enquanto as carências físicas são fáceis de detectar e por isso constituem prioridades dos governos, e, em consequência, contam com políticas públicas testadas e que vêm funcionando, as deficiências em cultura e educação se mostram bem diferentes: quase intangíveis, são mais difíceis de perceber, impossíveis de saciar.

Mas o lado bom dessa diferença é que a ação pública pela educação e da cultura pode ir cada vez mais longe. Ela não tem um roteiro claro. Na verdade até tem algum, no caso da educação. Hoje dispomos de indicadores de sua qualidade. O Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) tem subido dez por cento, no Brasil, a cada edição - isto é, a cada dois anos. Esse progresso é notável. Mede certas capacidades básicas. Não pode medir tudo o que há na educação. É duvidoso que consiga aferir competências sofisticadas. Mas estas, por natureza, fogem à métrica. E, se a saúde é a cura da doença, a boa educação não termina quando acaba a ignorância. Ela pode melhorar cada vez mais.

E não será este o caso da cultura? Não será ela o glacê do bolo, o que há de mais precioso nele e, portanto, o que não pode ser medido?

Porque, no fundo, a questão é: o Brasil está superando as carências que limitam a duração da vida. A luta contra a fome, o aumento do poder aquisitivo, a construção de habitações populares - tudo isso está neste projeto que permitirá, em alguns anos, zerar nossa dívida social. Mas esse é o reino da necessidade, como dizem os filósofos. Outra coisa é a república da liberdade. Para chegar a ela, só com educação e cultura. E aí temos menos fios condutores. É da natureza delas serem mais livres, terem menos roteiros, serem mais abertas para a criação humana. É bom ter isso em mente sempre que discutirmos a luta contra a pobreza. Porque ela somente será vitoriosa quando também a cultura entrar em cena.

Arte com todas as letras-Sérgio Rodrigo Reis‏

Marcelo Yuka lança livro com músicas, poesias e frases, além do documentário No caminho das setas, de Daniela Broitman, e ainda prepara exposição com desenhos de grande porte


Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 25/02/2013 

O livro Astronautas daqui (Editora Leya), que o músico (ex-líder d’ O Rappa) e pensador Marcelo Yuka lança amanhã, em Belo Horizonte, faz parte de projeto mais amplo. Além da obra, que reúne poesias feitas nos últimos dois anos, será lançado o documentário No caminho das setas, dirigido pela cineasta Daniela Broitman. Até o meio do ano, duas outras novidades deverão surpreender os admiradores do artista: um novo disco, ainda sem nome, inspirado em ritmos afrobrasileiros e suas vertentes possíveis, e uma série de desenhos de grande porte, que marca a estreia de Yuka no universo das artes visuais.

São quatro grandes capítulos no livro. “Poesia anti completa” é a parte na qual ele reúne uma coleção de frases. “São criações mais antigas, recheios de gavetas, frases soltas que estavam guardadas nas quais eu não conseguia mexer mais. Se bastavam e tinham vida própria”, conta. “Canções pra depois do ódio” traz as poesias escritas nos últimos dois anos. Em “Ócio“ –  nome de uma banda imaginária e engraçada – , ele expõe toda a revolta roqueira. Para o capítulo “Por final” ficaram reservadas as letras de músicas, seu universo mais conhecido, em que a voz autoral reverbera com a do público.

A possibilidade de se lançar como poeta, para além do universo das canções, surgiu por acaso. Yuka foi convencido por Anna Dantes, responsável pelo projeto editorial e gráfico. No meio musical, já era conhecido como poeta. Mas, segundo ele, baixou certa estranheza um dias desses, quando ouviu alguém o chamando de escritor. Internamente, a busca pela poesia existia. “Era uma procura minha. Vários amigos me incentivaram, o Wally Salomão, o Paulo Lins, mas a música me defendia dessa exposição. Quando fui para o papel não teve jeito, ou se diz a verdade ou é melhor não fazer. A entrega tem que ser muito honesta”, frisa.

O impulso que o move a escrever é a necessidade de “colocar os bichos para fora”. “Se quiser realizar algo sincero, isso custa caro. É assim comigo. Tive que revirar várias coisas para escrever e doeu muito. São assuntos até hoje difíceis de voltar a folhear, como quando falo da solidão, de uma grande lesão ou de amores.” A opção por reunir as letras das músicas ao fim do livro foi por causa da repercussão delas nas escolas. “Fico feliz em saber que o trabalho artístico tem se desdobrado em algo educativo”, diz.

 Perfume barato


Marcelo Yuka aceitou protagonizar o documentário autobiográfico na tentativa de contribuir para a aprovação dos estudos de células-tronco no Brasil. No meio do processo, como o governo liberou as pesquisas, sua motivação acabou. Ele pensou em desistir. “Existe uma construção no senso comum do herói clássico envolto numa tragédia. Sou esse personagem, mas não me interessa divulgar o estereótipo.” A banalização de biografias no país também o incomodou. “Qualquer um hoje de 40 e poucos anos já se sente excitado a ser tema de biografia. Não tenho interesse nesse perfume de Big brother que está aí. Não fui eu quem motivou um filme sobre mim. Mas, se não fosse a Daniela, outra pessoa acabaria fazendo.” Só por isso ele aceitou.

O documentário Marcelo Yuka – No caminho das setas, propõe imersão na última década da vida do músico, compositor e ativista, desde que, aos 34 anos, no auge do sucesso como compositor, baterista e líder da banda O Rappa, foi atingido por nove tiros num assalto e ficou tetraplégico. O filme revela a sua transformação física e emocional. Mostra a versão correta do acidente indo além dos fatos narrados na imprensa, mas, a maior parte da produção se atém ao cotidiano de Yuka, sobretudo a condição de pensador social e político. Durante 95 minutos, são expostos seus medos e ideologias, além de cenas de bastidores da banda O Rappa, ensaios e gravações do grupo F.UR.T.O – formado pelo artista depois do acidente – e ainda imagens domésticas. Há também a participação dos músicos d’O Rappa (Marcelo Falcão, Xandão, Lauro Farias e Marcelo Lobato) e de BNegão.

Vida real


Yuka não viu o filme no cinema. Nem pretende. Assistiu a uma cópia em casa, cercado por amigos, e confessa que foi difícil. “Não é meu recorte. É o filme da Daniela e o recorte dela sobre mim. É como ela me vê.” No documentário, vencedor do prêmio de Melhor Montagem no Festival do Rio 2011, a cineasta quis mostrar o personagem como é na vida real “A intenção foi fazer um filme sobre o anti-herói. Um cara como qualquer outro, que tem chamamentos, dúvidas e relações complexas com a família, a namorada e o próprio corpo.” O aspecto múltiplo da atuação dele é espelhado no filme. “Hoje, dou mais entrevista sobre segurança pública do que sobre meu trabalho artístico”, conta ele, que se tornou espécie de cronista do assunto. Sua vivência política também chama a atenção.

A candidatura a vice-prefeito do Rio, pelo PSOL, na última eleição, na chapa do candidato Freixo, foi uma experiência marcante. “Só aceitei porque acreditava no Freixo como prefeito.” Mesmo afirmando que “valeu a pena”, ele não deseja repetir a dose. “Não quero ter que conviver num meio muito ruim ou permanecer rodeado por pessoas nas quais não confio. Prefiro contribuir para movimentos sociais, como venho fazendo desde os 16 anos.” Apesar de afirmar que não pretende ocupar nenhum cargo desse tipo, Yuka se sente feliz com a repercussão da campanha. “Tivemos 30% de votos numa eleição polarizada e com o candidato que nos derrotou com a máquina administrativa a favor dele.” Isso não foi suficiente para ofuscar seu discurso. Ele conta que, na reta final, num dia complicado, depois de um temporal no Rio, se emocionou quando subiu num palco improvisado na Lapa e falou, no escuro (houve queda de energia), para 15 mil pessoas.

Pensamento

A motivação atual de Yuka vai além da política. No processo de criação do novo CD, iniciado há cinco anos, ele se aproximou ainda mais das artes plásticas. O assunto o envolve há muito tempo, pois o pai dele, Djalma Viana, é pintor. Quando começou a procurar uma possível capa para o disco, ele encontrou na internet a obra dos grafiteiros argentinos do grupo Triângulo Dourado. “Fiquei apaixonado.” Isso o motivou a transformar seu pensamento em desenhos (que ilustram o livro) e também em quadros de grandes dimensões. “Faço à mão, influenciado pela xilogravura e quero imprimir enormes, de 4m x 2m, em preto e branco. Faço um desenho contínuo, sem parar. Se errar, errei, não paro.” Ficou curioso? Yuka avisa que no show de lançamento do disco as imagens devem fazer parte do cenário.

Vem aí

A motivação do novo disco foi o samba. Marcelo Yuka fez a primeira música, deu para Seu Jorge interpretar, mas achou que poderia ir por outros caminhos. “Depois, foi virando um disco de música eletrônica. Agora, minha maior influência tem sido o afrobrasileiro, o tambor, que misturo com sintetizadores. Fiz um disco afro e suas vertentes possíveis, com forte influência de Tim Maia, Jorge Ben e do Caetano, principalmente do disco Transa. Vou lançar no meio do ano”, anuncia.

Sempre Um Papo


Bate-papo com Marcelo Yuka no lançamento do livro Astronautas daqui (Editora Leya, 336 páginas, R$ 45,90). Participação da diretora Daniela Broitman. Amanhã, às 20h, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras. Na ocasião, haverá exibição de cenas do filme No caminho das setas. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br. O documentário terá pré-estreia na quarta-feira, às 19h15, no Cine 104, Praça Rui Barbosa, 104, Centro. Depois da sessão, haverá debate com a diretora. O filme entra em cartaz na sexta-feira. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Informações: www.centoequatro.org

TV PAGA



Estado de Minas: 25/02/2013 


Filme novo na programação



Segunda-feira também é dia de estreias no pacote de cinema. E a novidade de hoje é o drama de guerra Flores do Oriente (foto), com Christian Bale, Ni Ni e Xinyi Zhang, às 22h, no Telecine Premium. No Universal, dose dupla de comédia, com Entrando numa fria, às 18h; e Entrando numa fria maior ainda com a família, às 20h. Na faixa das 22h, os destaques são Cada um tem a alma gêmea que merece, na HBO2; Liz & Dick, na HBO HD; Cavalo de guerra, no Telecine Pipoca; Dogville, no Telecine Cult; Viagem ao centro da Terra, no Space; Guerra dos mundos (2005), na MGM; e Um dia de fúria, no TCM. Outras atrações: Meu amante é de outro mundo, às 21h, no Comedy Central; e Testemunhas de uma guerra, às 22h25, no Megapix.

+Globosat lança mais
uma série de suspense


Estreia hoje, às 22h, no +Globosat, a série Scarlet Shore. A trama: Lucia é uma jovem que tentou se matar depois de ver sua mãe pular pela janela ao receber um telefonema misterioso. Sem saber como, ela chega a Scarlet Shore, uma pequena cidade na costa, e logo começa a ter visões de meninas sendo atacadas. A polícia escava o local indicado por ela e acha restos humanos que parecem ser de duas adolescentes desaparecidas anos antes. Ao que tudo indica, Lucia tem poderes paranormais, mas a polícia não acredita nisso.

Pesquisa universitária
é destaque na PUC TV


A PUC TV, que está completando 15 anos, estreia hoje, às 22h45, o programa Hipótese, que vai tratar de temas relativos ao universo da pesquisa e da pós-graduação na PUC Minas. O piloto vai falar da pesquisa de iniciação científica “Órfãos por imposição do estado: danos psicossociais causados pela política de segregação da hanseníase”, realizada pelos alunos da PUC Minas em Betim Thiago Flores (direito) e Pautília Paula (psicologia).

Documentário traça o
perfil de João Saldanha


No Canal Brasil, a sessão É tudo verdade reservou para hoje, às 22h, o documentário João Saldanha, que reconstitui a trajetória do polêmico jornalista e comentarista esportivo que montou a Seleção Brasileira que viria a conquistar o tricampeonato mundial no México, em 1970, mas já sob o comando de Zagallo. No TLC, às 22h, estreia Inspeção secreta, em que um “detetive” visita restaurantes com problemas e define planos de ação para solucioná-los.

GNT fashion invade as
passarelas de Nova York


A produção do GNT fashion continua em Nova York, onde Lilian Pacce mostra os lançamentos de prêt-à-porter para o outono-inverno 2013/14 de Diane von Furstenberg, Tommy Hilfiger e Tory Burch. O programa vai ao ar às 22h, e logo na sequência, às 22h30, no Mulheres possíveis, Ingrid Guimarães conversa com a atriz Maria Paula.

Passe a noite curtindo a
bossa nova de Menescal


Um dos pioneiros da bossa nova, Roberto Menescal faz show hoje no ZsescTV, às 22h, acompanhado por Adriano Giffone (baixo), João Cortez (bateria), Adriano Souza (teclados) e Jessé Sadoc (trompete). No Canal Brasil, o pianista Gilson Peranzzetta é o convidado de Zé Nogueira no Estúdio 66, às 18h45; e à meia-noite tem a reprise de Matador de passarinho, com o grupo Yahoo.

Carona negociada nas redes sociais atrai cada vez mais gente-Tiago de Holanda‏

Carona negociada nas redes sociais atrai cada vez mais gente. Preço é bem menor que o dos ônibus regulares, mas DER alerta que prática é considerada transporte clandestino 


Tiago de Holanda

Publicação: 25/02/2013 04:00

Nas estradas brasileiras, é possível encontrar quem pegue carona à moda antiga, com a mochila nas costas e o polegar a prumo, à espera de um motorista generoso. Porém, um novo tipo de carona, possibilitado pelas redes sociais, ganha cada vez mais adeptos. No Facebook, site de relacionamentos mais popular no país, há centenas de grupos usados por gente que oferece ou busca um lugar no carro para ir de uma cidade a outra. A viagem não é gratuita, mas, pelo menos em Minas, o preço é inferior ao da passagem de ônibus. O que poucos sabem é que essa modalidade de transporte é considerada clandestina e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do estado tenta fechar o cerco contra os infratores.

Os grupos do Facebook costumam especificar as cidades às quais se destinam as caronas. Um deles, por exemplo, liga Belo Horizonte a Viçosa, na Zona da Mata, e tem mais de 7 mil participantes. A lista inclui municípios de pequeno porte, como Luz (17,4 mil), na Região Central. A maioria dos grupos, no entanto, são dedicados a BH ou a polos regionais, como Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e Juiz de Fora, na Zona da Mata. Os universitários são os principais usuários do serviço, o que explica a grande procura por cidades onde há instituições federais de ensino superior, como São João del-Rei e Lavras. “Procuro carona pra hoje (sábado) Ita>>>BH. Alguém?”, pergunta uma moça no grupo Carona BH-Itabira. “Ofereço carona de MOC pra BH, quarta, saída às 6h”, apregoa um rapaz no Carona Montes Claros-BH.

O preço da carona varia, a depender do trecho a ser percorrido, mas é sempre classificado como ajuda de custo. Para deter gananciosos, alguns grupos chegam a fixar o valor a ser cobrado. O Carona BH/Ipatinga/BH considera três “contribuições” aceitáveis: R$ 20, R$ 25 e R$ 30. E reforça: “Custo visado como forma de rateio. Comprovado qualquer custo como forma de comercialização, o integrante será imediatamente excluído do grupo”.

FISCALIZAÇÃO Mesmo sem fins lucrativos, esse tipo de carona é ilegal, segundo o diretor de Fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), João Afonso Baeta Costa. “É proibida a cobrança de qualquer preço para fazer transporte de pessoas, se não for licenciado. Ainda que o objetivo seja apenas cobrir os custos do carro”, ressalta.

O DER tem uma equipe de inteligência dedicada exclusivamente a monitorar a internet. “Esse trabalho começou há cerca de um ano. A equipe fica permanentemente navegando nas redes sociais”, destaca Baeta. É fácil encontrar gente não licenciada oferecendo carona remunerada, mas o desafio é surpreendê-las prestando o serviço. “Já identificamos algumas pessoas, mas ainda não conseguimos um flagrante, já que elas atuam em locais variáveis. Essa tem sido nossa maior dificuldade”.

Entre as pessoas que oferecem carona pelo Facebook, apenas uma das entrevistadas pelo Estado de Minas sabia que praticava uma ilegalidade. “Se formos parados na estrada, digo ao policial que estou levando amigos meus. Pra ninguém desconfiar, quase nunca vou com o carro cheio”, diz Rodolfo (nome fictício), de 22 anos, que participa do grupo Carona Diamantina BH. Ao menos três vezes por semana, ele oferece vagas para o percurso entre a capital e a cidade do Vale do Jequitinhonha, onde mora. Cobra R$ 40 para deixar o passageiro na rodoviária.

Rodolfo estima que transporte 30 pessoas por mês. Mecânico de refrigeração, costuma ir a BH a trabalho, às custas da empresa da qual é funcionário. “A empresa sabe que eu vou com meu carro, mas não pode saber que eu levo passageiro. Se eu sofro um acidente e alguém acaba morrendo, a empresa vai perguntar: ‘Por que essa pessoa estava com você?’”, diz. Já que não banca os próprios gastos na viagem, as caronas dão lucro. “Mas não sobra quase nada. Gosto de ajudar os estudantes que têm pouco dinheiro”.

Os preços das caronas são inferiores aos fixados pelas empresas de ônibus. Para Diamantina, a passagem custa R$ 75,70, valor 47% maior que os R$ 40 cobrados pelo pessoal do Facebook. A viagem anunciada pela rede social é mais barata também que os valores cobrados pelos “perueiros”, os motoristas clandestinos que buscam lucrar com as viagens. Sem saber que falava com um repórter, um deles disse que pede R$ 25 para levar alguém de BH para Ouro Preto, enquanto a turma de internet cobra R$ 15.

CÔMODA E RÁPIDA “De carona é mais barato, a viagem é muito mais rápida e cômoda”, diz Débora Ruffato, de 25 anos, que cursa direito na capital e passa os fins de semana em Pará de Minas, onde moram os pais. “Nunca vou com alguém totalmente desconhecido. O Facebook facilita para conseguir referências sobre a pessoa”, diz. A moça acha que esse tipo de transporte não deve ser regulado pelo governo. “A carona é mais uma coisa de amigos. Quem oferece busca manter o carro em bom estado, já que se preocupa com a própria segurança. Se o governo entrar no meio, vai ficar uma coisa burocrática. Ninguém mais vai querer dar carona”.

Lucrar pode não ser o objetivo, mas muitas vezes sobra dinheiro. Com a ajuda do economista Alfredo Meneghetti Neto, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e especialista em finanças pessoais, o EM mostra que a “ajuda de custo” paga por caroneiros pode exceder as despesas da viagem. O cálculo considera que um litro de gasolina custa R$ 2,90 e permite percorrer uma distância média de 14 quilômetros. O trecho entre Pará de Minas e BH, por exemplo, custaria R$ 32, incluindo despesas com óleo do motor, desgaste de pneus, seguro do veículo e IPVA. Ao ir com o carro lotado (quatro passageiros), o motorista recebe R$ 60 (R$ 15 por caroneiro). Excluídas as despesas, portanto, sobrariam R$ 28 por viagem. Por sua vez, o percurso entre a capital e Ipatinga resultaria em lucro de R$ 51; até Diamantina, o excedente chegaria a R$ 81.

CONSUMIDOR » Prevenção contra calote-Carolina Lenoir‏

Ferramenta de consulta sobre situação de empresas é lançada para que consumidores não caiam no conto do vigário ao contratar serviços ou comprar produtos. Pesquisa custa R$ 29,90 


Carolina Lenoir

Estado de Minas: 25/02/2013 

Para realizar uma compra consciente, é preciso conhecer a empresa que vai prestar algum serviço ou fornecer um produto. Muito se fala sobre a importância da pesquisa antes de escolher o estabelecimento, mas os caminhos para essa análise nem sempre são claros. Pensando nisso, um serviço inédito e pago foi lançado na última semana pela Serasa Experian, em parceria com o site Reclame Aqui, que permite ao consumidor consultar informações de empresas de diversos segmentos. São dados como a ocorrência de protestos, cheques sem fundo, ações judiciais, endereço, participação societária, falências e a existência legal da companhia. Quem não está disposto a pagar os R$ 29,90 cobrados por cada consulta nesse novo serviço pode fazer a pesquisa por conta própria. Não é simples, mas faz diferença no futuro.
Maria Zanforlin, superintendente de Serviços ao Consumidor da Serasa Experian, explica que essas informações são fundamentais principalmente quando há necessidade de desembolso antecipado, como nos casos de compra de pacotes de viagem e contratação de bufês e organizadoras de eventos. “O poder de compra dos brasileiros está maior e o volume de transações comerciais só aumenta. É preciso que o consumidor tenha acesso a informações mais detalhadas. As recomendações de outros consumidores são valiosas, mas não bastam.”
O serviço é disponibilizado por meio dos sites www.serasaconsumidor.com.br e www.consumidorblindado.com.br. Depois de fazer um cadastro e pagar pela consulta, o cliente fornece o CNPJ da empresa que ele quer pesquisar e recebe as informações, divididas em blocos. No primeiro estão contidos dados como endereço e telefone da empresa consultada e se o CNPJ está ativo. No segundo, informações sobre os sócios da companhia, se ela está associada a outras empresas e qual a situação delas. Por fim, as informações negativas são repassadas tanto de forma resumida, num primeiro momento, quanto detalhadas em cada item.
Ainda não há um serviço gratuito que reúna todos esses dados, mas é possível fazer as consultas por conta própria. Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembleia, explica que existem duas maneiras de fazer uma pesquisa sobre o fornecedor – que, pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), é tanto quem fabrica quanto quem vende um produto ou serviço. “Uma delas é a pesquisa de referência, com clientes que já compraram naquela empresa, para saber se o estabelecimento cumpre a oferta e a qualidade do serviço. As mídias sociais e os sites especializados em queixas também têm um potencial imenso de consulta.”
A outra forma é referente à pesquisa documental e de registros. Luciana Berlini, professora de direito do consumidor da Universidade Estácio de Sá, explica que as juntas comerciais dos estados são responsáveis por fazer o registro da empresa. “É lá que o consumidor pode ter informações sobre o CNPJ e localização da empresa. Não é uma consulta gratuita, mas não são serviços caros, além de ser seguro.” Os valores podem ser conferidos em www.jucemg.mg.gov.br/ibr/servicos.
Quanto à procura por algum tipo de protesto em nome da empresa, é possível consultar o cartório distribuidor de títulos para protesto. Em BH, o endereço do cartório distribuidor é Rua Guajajaras, 329, Centro. Além disso, o site da Receita Federal (www.receita.fazenda.gov.br)pode ser consultado para saber se a empresa está ativa, por meio do CNPJ. “Outra consulta que é fundamental é nos tribunais de Justiça dos estados de origem das empresas pesquisadas. Isso é muito importante no caso de quem está comprando um imóvel e quer saber mais sobre a construtora”, afirma Luciana.
Esses cuidados poderiam ter evitado toda a dor de cabeça enfrentada por Patrícia Moore, proprietária da Vinicci, especializada na venda de brindes. Ao confiar na reputação de uma transportadora no mercado, a empresária não cogitou avançar nas pesquisas. Sem conhecer a situação financeira complicada em que a empresa já se encontrava, com dívidas de R$ 115 milhões, ela destinou à transportadora a entrega de pedidos no valor de R$ 3 mil em Marabá, no Pará, em setembro do ano passado. A carga ficou retida quando a companhia entrou em processo de recuperação judicial, depois de demitir 1,6 mil funcionários e fechar filiais em vários estados.
Patricia conseguiu reaver os produtos depois de um mês de muita incerteza. “Foi uma surpresa muito grande o que aconteceu. A transportadora é muito conhecida e tradicional, era indicada pelos próprios fornecedores. Tive sorte de contar com a compreensão e paciência dos clientes, mas foi um mês caótico”, afirma a empresária.

Carros movidos a eucalipto-Felipe Canêdo‏

Estudantes da PUC Minas conseguiram produzir etanol a partir do processamento da biomassa e defendem o aproveitamento em larga escala no país


Felipe Canêdo

Estado de Minas: 25/02/2013 

Enquanto as reservas de petróleo do mundo se tornam mais escassas e de mais difícil acesso e os preços dos combustíveis fósseis sobem, a demanda por etanol cresce no país com a expansão da frota de veículos flex, mas não é acompanhada por um aumento proporcional na produção. Pensando em alternativas para ampliar e diversificar a matriz de obtenção de etanol, estudantes do 2º período do curso de engenharia de energia da PUC Minas, sob orientação do professor Otávio de Avelar Esteves, conseguiram obter a substância a partir do processamento de cascas de eucalipto, e defendem que o procedimento deva ser adotado em larga escala no país.
Dados da tese de doutorado do pesquisador Juliano Bragatto, desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em novembro de 2011, apontam que a casca do eucalipto tem 20% menos carboidratos do que a de cana, mas como ela tem mais hidratos de carbono que podem sofrer fermentação – 83%, contra 65% da cana –, em um balanço final a casca fresca de eucalipto teria uma vantagem de cerca de 6%. "Uma tonelada de cana produz cerca de 80 litros de etanol, enquanto uma tonelada de casca fresca de eucalipto produz 106, ou seja, no mínimo 20% a mais. É importante lembrar que a casca degrada mais rapidamente que a cana e perde açucares mais rapidamente", afirma.
Bragatto acredita que a tendência de aproveitar a biomassa deve crescer nos próximos anos em todo o mundo e defende que o Brasil deve aproveitar isso. "Nosso país é o que chamam de 'hotspot de biomassa', temos o bagaço da cana e o rejeito de eucalipto em abundância", explica. Ele lembra que as condições climáticas e de luminosidade são ideais no país para o crescimento das culturas de cana e de eucalipto. Bragatto afirma que a casca de eucalipto deve começar a ser aproveitada pela indústria de celulose nos próximos anos, para produzir bioplástico ou para etanol. Na comparação com a cana, o pesquisador destaca que o caldo ganha da casca de eucalipto por produtividade: "Um hectare de cana-de-açúcar produz cerca de 6 mil litros de etanol, enquanto um de casca de eucalipto produz 2,6 mil litros. Já o hectare de milho e de beterraba produz cerca de 3 mil litros, e é bom lembrar que eles são alimentos."
Os estudantes Pedro Henrique Alves da Silva, de 19 anos, Paulo Henrique Roversi, de 19, Carolina Maria de Oliveira, de 18, Gabriel Fabel, de 18, e Elena Velloso, de 20, são mais otimistas. "A produção da casca é mais barata e vantajosa e que pode ser muito mais barata se for feita em escala industrial", avalia Pedro Henrique. Ele ressalta que a casca de eucalipto não concorre com a indústria alimentícia, não passa por períodos de entressafra e não é usada para a produção de celulose. Os estudantes passaram quatro meses pesquisando e testando em laboratório o eucalipto e outras matérias-primas. Outros estudantes do mesmo período produziram etanol de beterraba e de outros alimentos. "Pensamos testar com bananas ou com mandioca, mas nos decidimos pelo eucalipto e ele foi o mais eficiente entre os insumos pesquisados", diz o estudante.

COMPETITIVIDADE O consultor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Alfred Szmarc, conta que existem várias iniciativas no país e no mundo para consolidar o processo de produção de etanol celulósico a partir do bagaço e da palha da cana, mas defende que a possibilidade de o insumo ser obtido em larga escala a partir de cascas de eucalipto ainda tem que ser demonstrada. Ele explica que o princípio utilizado na casca é de certa forma o mesmo utilizado no bagaço e na palha. "Acho ótimo ouvir sobre essas iniciativas e torço para que deem realmente certo. Mas, pelo que conheço do assunto, acredito que a competitividade do etanol de cana é maior. Nem sempre é possível reproduzir em escala industrial o que é feito em laboratório e projetos para se produzir álcool a partir de madeira existem no país desde a década de 1970", afirma.
Szmarc se diz otimista em relação à recuperação de competitividade do etanol, e espera que o governo anuncie medidas ainda neste semestre para beneficiar a indústria canavieira. "Por praticamente sete ou oito anos o preço da gasolina para o consumidor quase não alterou. Enquanto isso, o preço do etanol ao longo desse tempo variou livremente e os custos de terra e agrícolas aumentaram. O etanol foi se tornando cada vez menos competitivo em relação à gasolina. Some-se a isso a crise de 2008, que atingiu o setor", lembra. Ele desmente também a ideia de que a variação no preço do açúcar interfere fortemente na produção de etanol: "Isso é uma lenda urbana. O produtor não consegue reverter toda a sua produção para o açúcar ou para o etanol. A flexibilidade não ultrapassa os 10% ou 12%".

Infecção generalizada é causada por enzimas-Paloma Oliveto‏

Proteínas do intestino delgado podem cair na corrente sanguínea, atingir outros órgãos e digeri-los, provocando a septicemia 


Paloma Oliveto

Estado de Minas: 25/02/2013 

Uma situação paradoxal, mas muito comum: o doente é internado para tratar uma doença e acaba morrendo em decorrência de uma infecção generalizada adquirida no hospital. Por ano, são 220 mil óbitos no Brasil; no mundo, estima-se que aconteçam 50 mortes anuais a cada 100 mil pessoas. Até agora, a única forma de contornar a septicemia é o uso de antibióticos de amplo espectro, estratégia que não consegue minimizar o problema, detectado principalmente em unidades de terapia intensiva. Um estudo publicado na revista Science Translational Medicine mostrou, porém, que a solução pode estar muito próxima.

Em 2008, o bioengenheiro Geert W. Schmid-Schönbein ganhou o Landis Award, um dos mais importantes prêmios da área, por descobrir um mecanismo chamado autodigestão. O cientista constatou que por trás da infecção que leva à falência de órgãos há um processo que envolve enzimas digestivas. Bloquear a ação dessas proteínas é a chave para reverter o choque séptico, que acontece quando um patógeno entra na corrente sanguínea e começa a danificar os tecidos até que eles parem de funcionar. Agora, em um estudo com ratos, Schmid-Schönbein conseguiu mostrar que quando as enzimas são inibidas a chance de sobrevivência pode chegar a 100%.

No indivíduo saudável, as enzimas digestivas ficam dentro do intestino delgado, que é protegido por uma mucosa. Algumas podem escapar e ultrapassar essa barreira, mas a quantidade é tão pequena que não causa problemas. Contudo, por motivos tão diversos, como hemorragias, machucados profundos, cirurgia aberta ou toxinas provocadas por bactérias — situações comuns em um hospital —, a mucosa é totalmente rompida, abrindo o caminho da parede intestinal às enzimas. Chegando lá, elas começam o processo de autodigestão, ou seja, passam a digerir os tecidos. Do intestino, as enzimas entram na corrente sanguínea, alcançando outros órgãos, onde o mecanismo se repete.

De acordo com Schmid-Schönbein, que é chefe do Departamento de Microcirculação da Universidade da Califórnia, em San Diego, qualquer paciente está sujeito à autodigestão, ainda que não tenha sido internado por problemas no aparelho digestivo. “Uma infecção pulmonar, por exemplo, pode lançar mediadores inflamatórios, como endotoxinas, que chegam ao intestino pela corrente sanguínea. Como consequência, o intestino desenvolve sinais inflamatórios, um dos quais é o aumento da permeabilidade. Se isso acontece, as enzimas não ficam mais compartimentadas e escapam para a parede intestinal, onde começam a autodigestão”, explica.

Como os tratamentos usados para tentar frear a septicemia se baseiam em antibióticos, os remédios não conseguem conter a falência de órgãos. Mesmo que existam bactérias envolvidas, não são elas que desencadeiam o processo, e sim as enzimas digestivas. “Atualmente, pacientes em choque séptico que não morrem na hora não necessariamente vivem por muito tempo”, conta Erik Kistler, anestesista da Universidade da Califórnia que já trabalhou com Schmid-Schönbein em outras pesquisas sobre autodigestão. “Além da sobrevida baixa, elas são alvo constante de comorbidades”, diz

Recuperação rápida Em estudos anteriores, Schmid-Schönbein descreveu o mecanismo da autodigestão e mostrou que a inflamação poderia ser reduzida com a inibição das enzimas digestivas. “Agora, a diferença é que relatamos o aumento na taxa da sobrevivência”, diz o pesquisador. No laboratório, ele desenvolveu modelos de ratos com choque séptico provocado por três situações: hemorragia, peritonite e presença de endotoxinas. Foram aplicadas no intestino dos animais substâncias que bloquearam a ação das enzimas digestivas.

Depois de 12 semanas, apenas 25% dos ratos que não tiveram o tratamento sobreviveram. Em compensação, entre os que receberam os bloqueadores, a taxa de sobrevivência foi de 83%. Uma outra substância inibidora, o ácido tranexâmico, foi ainda mais promissora. Todos os ratos tratados se recuperaram, contra 20% do grupo de controle. “Pela primeira vez, um estudo indica especificamente que é possível parar a autodigestão ao bloquear as enzimas digestivas em animais com choque induzido. Vimos menos danos nos órgãos, recuperação mais rápida e uma redução substancial na mortalidade”, observa Frank DeLano, coautor do artigo publicado na Science Translational Medicine. “Isso aconteceu em diferentes modelos de choque e também com diferentes inibidores. Essa é uma evidência importante para se levar em conta quando forem avaliadas propostas de estudos clínicos”, completa Schmid-Schönbein.

Na realidade, já está em curso a fase 2 de um estudo feito com 200 pacientes internados na UTI do VA San Diego Healthcare System, um hospital para veteranos do Exército americano. O protocolo é baseado no conceito da autodigestão e pretende avaliar a eficácia de um equipamento que leva até o intestino um inibidor enzimático.

A ideia é reduzir a morbidade de pacientes que sofrem de septicemia, choque séptico, hemorragia gastrointestinal e complicações pós-operatórias. Quando a pesquisa terminar, os participantes serão acompanhados por seis meses. Nenhum resultado preliminar, contudo, foi divulgado. “Os cientistas ainda não têm informações porque esse estudo é duplo-cego: enquanto é feito, nem os pesquisadores nem os pacientes sabem quem está recebendo o tratamento e quem está apenas com o placebo”, conta Schmid-Schönbein.

Comprovada a eficácia do broto de feijão
Paloma Oliveto
Publicação: 25/02/2013 04:00
Um tradicional ingrediente da culinária e da medicina chinesa, o broto de feijão (Vigna radiata) também pode proteger contra a septicemia. Em um estudo publicado na revista Evidence-based Complementary and Alternative Medicine, cientistas do Instituto de Pesquisa Médica The Feinstein, de Nova York, constataram que a planta, usada na China desde 1050 d.C. para combater febre e desintoxicar o organismo, é capaz de inibir a produção de endotoxinas lançadas pela proteína HMGB1, que entra em ação durante processos inflamatórios. “Neutralizá-la protege contra a inflamação persistente e constante que resulta em danos aos tecidos e órgãos”, disse, em nota, Haichao Wang, principal autor do estudo.

De acordo com Wang, sabe-se que a HMBG1 media o processo inflamatório. “A inflamação é necessária para manter a boa saúde; sem inflamação, ferimentos e infecções nunca iriam sarar. Mas quando ela se torna constante, pode afetar tecidos e órgãos, levando a doenças como a septicemia. O resultado é que os órgãos, incluindo fígado, coração, pulmões, rins e cérebro, ficam danificados e, se esses danos forem excessivos, podem ser irreversíveis”, observa o médico. “Por isso, agentes terapêuticos capazes de inibir o lançamento da proteína podem ser um tratamento em potencial para doenças inflamatórias sistêmicas e letais.”

No estudo, os pesquisadores prepararam um extrato de broto de feijão e aplicaram oralmente em ratos nos quais o processo de choque séptico havia sido induzido. Exames mostraram que a planta reduziu os níveis das endotoxinas liberadas pela proteína HMGB1. A taxa de sobrevivência dos animais que beberam o composto foi de 70%, contra 20% registrados entre as cobaias do grupo de controle, que não receberam tratamento. Os cientistas também cultivaram células no disco Petri e testaram a capacidade inibitória do broto de feijão. Segundo eles, além da substâncias tóxicas resultantes da HMGB1, a planta conseguiu evitar o lançamento de diversas outras citocinas.

“Muitas ervas medicinais tradicionais têm sido transformadas em tratamentos efetivos para várias moléstias inflamatórias e, agora, validamos o potencial terapêutico de outro produto medicinal, o extrato de broto de feijão”, disse Wang. “Demonstrar que o extrato da planta tem um efeito positivo sobre ratos com septicemia indica que ele pode ser eficaz também no tratamento de humanos. Obviamente, estudos adicionais são necessários para provar a segurança e a eficácia do tratamento”, observou.  

Ruy Castro

folha de são paulo

Cena carioca
RIO DE JANEIRO - Era um casamento formal, de luxo, com padrinhos de fraque cinza e calças riscadas e madrinhas de cílios postiços e pérolas autênticas, como ainda sói acontecer. Foi num recente fim de tarde, pouco antes do Carnaval, tendo como palco uma capelinha da Gávea, de tradições solenes e aristocráticas.
Sabendo que a capela não se passava por modernidades profanas, como estacionamento ou "valet parking", os convidados tinham ido de táxi. E era também de táxi que pretendiam dirigir-se ao clube na Lagoa, onde os noivos ofereceriam um jantar à luz de velas e música de piano, contrabaixo acústico e bateria à base de escovinhas.
Os mais jovens saíram à calçada para laçar os táxis -precisariam de uns 20. Era bonito ver aqueles rapazes de fraque fazendo sinal para os amarelinhos. Mas esses só passavam ocupados, fosse a caminho da Barra ou da Zona Sul. Outros convidados se espalharam pelas ruas internas da Gávea, esperando ter mais sorte. Debalde. Numa cidade onde o que não falta é táxi, não havia nenhum àquela hora.
Alguém, certamente inconsciente do que dizia, arriscou uma solução: as vans que vinham da Rocinha, rumo a Copacabana. "Vans???", coaxaram alguns. "Vans???", ecoaram outros. Mas não havia alternativa. Era parar as vans e pedir a seus motoristas que fizessem um desvio pelo Corte de Cantagalo para acessar a Lagoa -ou nunca sairiam dali.
E assim se fez. Os choferes das vans foram magníficos. Aceitaram em seus veículos, não muito limpos, aquelas senhoras emperiquitadas e seus engomados maridos e filhos, fizeram os necessários desvios e depositaram todo mundo na porta do clube. Diz-se até que os passageiros que já estavam nas vans gostaram muito de seus novos colegas de viagem, gente como eles.
O colunista, que também é gente, estará fora até o próximo dia 6.

    Melchiades Filho

    folha de são paulo

    Os duelistas
    BRASÍLIA - Há propósito em Dilma romper o pacto de não-agressão com FHC e, no lançamento da campanha à reeleição, definir o PSDB como principal adversário. E em Aécio Neves, no mesmo dia, subir à tribuna do Senado para apontar erros da gestão petista e finalmente assumir sua candidatura.
    O cenário confuso, com tantos atores se mexendo, empurra os antigos rivais à zona de conforto. Batem um no outro porque precisam um do outro -e talvez já nem façam mais tanto sentido um sem o outro.
    Ao fustigar os tucanos, Dilma desfez o rumor de que Lula tentaria a sorte em 2014 e passou a liderar o noticiário da sucessão -do qual, curiosamente, estava quase excluída.
    Não convinha ao Planalto que Marina Silva (Rede) e Eduardo Campos (PSB) recebessem toda a atenção. Até porque, para decolar, eles terão forçosamente de questionar o PT e o governo que um dia apoiaram.
    Dilma mostra que está viva ao bater no PSDB. Delimita os campos e pressiona os demais partidos da base a escolher um lado -o dela.
    Além disso, os tucanos têm sido presa fácil. A militância petista já roda no automático os ataques a FHC. Para atingir Campos ou Marina, seria preciso um software novo.
    Que ninguém estranhe se a presidente tentar replicar tal polarização nos Estados, a fim de vitaminar a chance de seus preferidos a governador -sobretudo em São Paulo.
    A reforma ministerial, que ela começa a definir nesta semana, será um passo decisivo dessa estratégia.
    A Aécio não resta senão aceitar o convite para dançar. Sua candidatura só será competitiva se atrair defecções no grupo governista. Por enquanto, ele não pode atacar nenhum partido que não o PT.
    Daí o jogo duplo do mineiro na eleição de Renan Calheiros (PMDB) para o comando do Senado. Daí, também, seu esforço em manter aberta a porta para uma aliança de última hora com o PSB de Campos.

      Vinicius Mota

      folha de são paulo

      Homem novo, truque velho
      SÃO PAULO - Gilberto Kassab vai-se tornando o político dos sonhos de qualquer governo. Inclina-se a apoiar todos eles, e de todos participar com seu partido, sem importar-se com a cor da camisa.
      Agora o seu sucessor na prefeitura desta capital descobriu mais uma utilidade de Kassab. O líder do PSD aceita numa boa posar de bode expiatório para as mazelas da cidade sob a gestão do "homem novo", o petista Fernando Haddad.
      Alagou? Deu pane nos semáforos? Caíram centenas de árvores? Apagou a luz? Embolou o tráfego? Tudo culpa do Kassab. O ex-prefeito resmunga um pouco, mas assimila o golpe, como assimila as vaias de petistas nos encontros públicos do partido de Lula, seu dileto aliado.
      A velha tática de acusar a "herança maldita" de gestões passadas soa cômica nesse caso. Haddad franqueou ao kassabismo um pedaço generoso da sua administração -a estatal de eventos SPTuris, com seus gordos contratos e salários.
      Na habitação, o feudo ficou com o fotogênico Paulo Maluf, outro ex-prefeito antes amaldiçoado pelo petismo. Numa conta simples, o governo do homem novo carrega em seu DNA traços marcantes dos caciques que fizeram o que fizeram na cidade nos últimos 20 anos.
      Marcante foi também o primeiro teste para Haddad mostrar, na prática, a sua originalidade e o seu compromisso com as promessas. A montanha da ampla flexibilização alardeada no programa de inspeção veicular pariu um rato quando chegou à Câmara. Um vexame para quem acaba de sair das urnas com 3,4 milhões de votos.
      Mas a máquina de atribuir responsabilidade aos outros não deu trégua. A prefeitura pôs-se a "pressionar" o governador do Estado para que estabeleça inspeção obrigatória em veículos da Grande São Paulo.
      Quando vai começar a gestão nova de Fernando Haddad? A velha já começou.

        Editoriais FolhaSP

        folha de são paulo

        O cérebro de Obama
        Governo americano investirá US$ 3 bilhões num "projeto genoma" para desvendar os 100 trilhões de conexões que compõem a mente humana
        O governo dos EUA deve anunciar em março um plano para revolucionar o estudo do cérebro humano. Segundo cientistas familiarizados com a proposta, haveria investimentos de mais de US$ 3 bilhões nos próximos dez anos.
        A ideia é não apenas encontrar novas terapias para doenças psiquiátricas e neurológicas como também mergulhar mais fundo no conhecimento da mente humana. E, quem sabe, até desvendar alguns dos mistérios que cercam a consciência e o livre-arbítrio.
        Embora os detalhes ainda não sejam conhecidos, a proposta centrará esforços em mapear com minúcia rigorosa a atividade cerebral. Isso, em princípio, permitiria aos pesquisadores compreender melhor as complicadas interações entre os cerca de 100 bilhões de neurônios que, conectados entre si, formam os 100 trilhões de sinapses da mente humana.
        Esse projeto de mapeamento, que chegou a ser mencionado pelo presidente Barack Obama em seu discurso sobre o Estado da União, soma-se a outros que prometem revolucionar o entendimento da mente. Em especial, ao "Blue Brain Project", financiado principalmente pela Suíça, que pretende, por engenharia reversa, recriar as funções do cérebro "in silica" -ou seja, em circuitos de computadores.
        São cada vez mais frequentes as apostas de governos de países industrializados em projetos de "Big Science". Isto é, iniciativas de grande escala que envolvem a administração e o Tesouro públicos, as universidades e a comunidade científica para cumprir um objetivo específico.
        Esse modelo teve início na Segunda Guerra Mundial e resultou no desenvolvimento do radar e da bomba atômica, por exemplo. Depois, serviu para colocar o homem na Lua e, mais recentemente, produziu o sequenciamento do genoma humano e a confirmação da existência do bóson de Higgs.
        Houve também projetos menos exitosos, como o plano de descobrir a cura do câncer, lançado pelo presidente americano Richard Nixon nos anos 1970. O objetivo, como se sabe, não foi alcançado.
        Ainda assim, seria um equívoco classificar aquela iniciativa como fracasso. Parte do muito que se sabe hoje sobre a biologia do câncer saiu de estudos ali semeados. Mesmo quando a meta declarada não é atingida, o esforço gera subprodutos que não serão descartados.
        Esse potencial torna a "Big Science" especialmente atraente para políticos: ela permite prometer num só discurso o avanço do conhecimento e a geração de tecnologias e empregos. E definir os limites dentro dos quais o investimento público de bilhões vale a pena nunca foi uma ciência exata.


        EDITORIAIS
        editoriais@uol.com.br
        Ética sem desconto
        Ficou longe de ser, como pretende o corregedor nacional de Justiça, Francisco Falcão, um "marco para o Judiciário brasileiro". Ainda assim, há que reconhecer certo avanço na resolução aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça que disciplina o patrocínio para eventos de magistrados.
        A medida impede que juízes participem de encontros promovidos ou patrocinados por empresas, quando o transporte ou a hospedagem forem subsidiados por entidades privadas com fins lucrativos. Abre-se exceção para palestrante, presidente de mesa, moderador, debatedor ou organizador.
        Além disso, a resolução proíbe que magistrados recebam prêmios, auxílios ou contribuições de pessoas físicas ou jurídicas.
        As iniciativas vão na direção correta. Aliás, chega a ser constrangedor que o CNJ precise editar uma resolução para repetir interdições que, explícita ou implicitamente, já figuram na Constituição e no Código de Ética da Magistratura.
        No entanto, a medida era necessária. São frequentes as notícias de que magistrados são acomodados em hotéis de luxo para encontros patrocinados por entidades com processos nos tribunais.
        Em dezembro, a Associação Paulista de Magistrados distribuiu, durante uma festa para mais de mil pessoas, brindes oferecidos por empresas públicas e privadas. Entre os mimos havia automóveis, cruzeiros, viagens internacionais e hospedagem em resorts, com direito a acompanhante.
        Juízes não deveriam se permitir esse tipo de benesse. Dúvidas, ainda que remotas, sobre a imparcialidade de seus julgamentos apenas contribuem para macular a imagem da Justiça.
        Melhor andaria o CNJ se a decisão tivesse sido radical -como na proposta original da ministra Eliana Calmon. Mas, numa concessão classista, o órgão autorizou o patrocínio a eventos promovidos por tribunais, conselhos de Justiça e escolas oficiais da magistratura. Nesses casos, a subvenção não pode ultrapassar 30% dos gastos totais.
        A cota é indefensável. Primeiro, porque pode servir de brecha para que a resolução termine descumprida. Depois, por questão de princípio: como justificar que 30% de relação imprópria seja tolerável?
        Se, como assegura o ministro Joaquim Barbosa, presidente do CNJ, a proibição total virá no futuro, então por que a medida já não fixou prazo para a transição?
        Será lamentável se Barbosa, que granjeou respeito como relator do mensalão, não alavancar esse capital pessoal para pôr fim a maus costumes na sua classe.

          Seth MacFarlane faz apresentação desequilibrada no Oscar 2013

          folha de são paulo

          RODRIGO SALEMDE SÃO PAULOOs produtores do Oscar 2013 convocaram o comediante Seth MacFarlane, criador do desenho "Uma Família da Pesada", para ganhar um público mais jovem e ousar. Mas o efeito foi o oposto.
          Tudo bem que MacFarlane esticou o limite do bom gosto com seu número musical exaltando os seios das atrizes presentes em vários filmes. Mas o apresentador não soube equilibrar seus talentos.
          Ele chocou a plateia ao dizer que "o único ator a entrar na cabeça de Abraham Lincoln foi John Wilkes Booth", referindo-se ao assassino do 15º presidente americano, porém forçou no tédio em números de dança tradicionais.
          O Oscar não foi repaginado, foi "remusicado". A homenagem aos 50 anos de James Bond no cinema, que prometia marcar o encontro dos atores que vestiram o terno do personagem, foi uma montagem fraca dos filmes da série.
          A cantora Shirley Bassey ainda evitou a chegada do sono ao cantar o tema de "007 Contra Goldfinger".
          Depois, veio um desnecessário tributo a musicais recentes como "Chicago" (2002) e "Dreamgirls" (2006). Nada mais tedioso para uma geração que prefere "tuitar" piadas inteligentes e premiações controversas. E isso teve muito pouco no Oscar 2013.

            NA INTERNET
            Acompanhe a cobertura completa do Oscar
            folha.com.br/130176
            A repórter Fernanda Ezabella comenta as premiações
            folha.com/fernandaezabella

            "Argo" é o vencedor em Oscar dividido
            Filme baseado em história real de americanos resgatados durante revolução no Irã bate "Lincoln", maior derrotado
            Favorito, Spielberg perde prêmio de melhor diretor para Ang Lee, cujo "As Aventuras de Pi" levou 4 troféus
            FERNANDA EZABELLADE LOS ANGELESDuas aventuras de tirar o fôlego, uma num registro vintage no Irã dos anos 1970 e outra rodada em 3D em alto mar, foram os grandes vencedores da 85ª edição do Oscar, na noite de ontem, numa das disputas mais acirradas dos últimos anos.
            "Argo", sobre um agente da CIA em busca de americanos foragidos em Teerã, ficou com três estatuetas douradas, incluindo melhor filme.
            O principal prêmio da noite foi anunciado pela primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, ao vivo da Casa Branca.
            Em 80 anos de premiação, apenas outro trabalho ganhou o Oscar principal sem ter sido indicado a direção ("Conduzindo Miss Daisy", em 1990).
            Antes disto, o mesmo aconteceu apenas com "Asas", em 1929, e "Grande Hotel", em 1932.
            Ben Affleck, diretor, protagonista e um dos produtores, nunca foi indicado por atuação, mas já tinha um Oscar pelo roteiro de "Gênio Indomável"(1997).
            TIGRE
            Já o épico "As Aventuras de Pi", sobre um garoto dividindo um barco com um tigre após um naufrágio, levou melhor direção para Ang Lee, que já tinha uma estatueta da categoria pelo drama gay "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005) e outra indicação por "O Tigre e o Dragão" (2000).
            O longa de Lee, vencedor também de fotografia, efeitos visuais e trilha sonora, foi o que mais rendeu nas bilheterias do mundo entre os nove indicados ao principal Oscar, com o equivalente a mais de R$ 1 bilhão em ingressos vendidos.
            "Lincoln", que liderava a disputa com 12 indicações, acabou com apenas melhor ator para Daniel Day-Lewis e direção de arte.
            Outro perdedor foi "O Lado Bom da Vida", apenas com melhor atriz Jennifer Lawrence, que levou um tombo ao subir as escadas para receber o Oscar.
            "Os Miseráveis" rendeu Oscar a Anne Hathaway, além de mixagem de som e maquiagem.
            Algumas surpresas da noite foram os dois prêmios para "Django Livre", roteiro original para Quentin Tarantino e ator coadjuvante para Christoph Waltz. Esta foi a segunda estatueta dourada para o diretor americano e para ator austríaco, cuja primeira foi com outro longa de Tarantino, "Bastardos Inglórios" (2009). "Quentin escreve poesia e eu gosto de poesia", disse Waltz, 56.
            O Oscar de animação para "Valente" também surpreendeu. O longa da garotinha ruiva bateu o favorito "Detona Ralph".
            Como esperado, Adele ganhou melhor canção por "Skyfall", de "007 - Operação Skyfall", enquanto documentário venceu "Searching for Sugar Man", sobre a busca por um músico americano misterioso que muitos achavam estar morto.
            VELHICE
            Outro previsto era o franco-austríaco "Amor", um retrato duro da velhice dirigido por Michael Haneke, com Oscar de filme estrangeiro.
            Esta foi a primeira estatueta do diretor austríaco de 70 anos, após perder em 2010 com "A Fita Branca" para o argentino "O Segredo dos Seus Olhos".
            Ele agradeceu ao elenco, à equipe de filmagem e principalmente a sua mulher, com quem tem trabalhado pelos últimos 30 anos. "Ela é o centro da minha vida", disse.
            O apresentador da festa foi o comediante Seth McFarlane, criador do desenho "Uma Família da Pesada". Ele apareceu numa esquete vestido de freira voadora e dando em cima da atriz Sally Field.
            Programa de TV dos anos 60-70 "A Noviça Voadora" e indicada por "Lincoln". No final, os dois se beijaram na boca. Em outra esquete, em homenagem a "O Voo", personagens feitos de meias pilotavam um avião, enquanto um deles cheirava cocaína.

              Keila Jimenez

              folha de são paulo

              TELEVISÃO - OUTRO CANAL
              Aos 40, "Fantástico" passa por reformulação
              Perto de se tornar um quarentão, o "Fantástico" (Globo) passará por uma recauchutagem geral.
              Novo cenário, novos quadros e até uma nova direção estão sendo planejados para o dominical, que completa 40 anos no ar em agosto.
              Mas o verdadeiro "botox" da atração virá em uma reforma em seu formato. Segundo fontes do programa, a revista eletrônica pode virar um grande reality show.
              A redação, a produção e até a reunião de pauta da revista eletrônica serão acompanhadas por câmeras, que mostrarão os bastidores das reportagens e entrevistas.
              A ideia é aproximar o público dos apresentadores e repórteres, assim como aconteceu com o "Medida Certa", que mostrou o processo de emagrecimento de Renata Ceribelli e Zeca Camargo.
              O "Fantástico" também vai ganhar um cenário de última geração, com direito a utilização de tecnologias como holograma.
              Outra mudança em estudo é a saída do diretor da atração, Luiz Nascimento, o Luizinho, que há tempos ensaia ir morar na Europa.
              Procurada, a Globo diz que o "Fantástico" está em renovação constante e confirma que novidades estão sendo definidas para marcar os 40 anos do programa. A rede diz que a direção do dominical segue com Luizinho.
              -
              Troca Wolf Maya deixará a direção da próxima novela das 21h da Globo, de Walcyr Carrasco, assim que a trama engrenar. Vai tocar outros projetos. Mauro Mendonça Filho assumirá as rédeas da trama.
              Troca 2 No canal, há os que dizem que Wolf sairá antes que o clima entre ele e Carrasco, que não anda dos melhores, esquente mais.
              Troca 3 E o folhetim pode vir a veicular informações sobre câncer. A Globo e o Ministério da Saúde estão conversando sobre a inserção de uma campanha de esclarecimento sobre vários tipos da doença. Um dos principais personagens é um oncologista.
              Volta Além de Adriane Galisteu, outro nome que volta a circular no SBT é o de Sônia Abrão.
              Baianidade A Record vai homenagear Dorival Caymmi (1914-2008) com a microssérie "História de Pescadores", que irá ao no segundo semestre.
              Baianidade 2 O filho do músico, Danilo Caymmi, vai dirigir a trama, que é uma produção da Contém Conteúdo. No ano que vem, será comemorado o centenário de nascimento de Dorival Caymmi.
              Aliança A Gullane está produzindo em parceria com a francesa Gedeon Programmes a série "Costas do Brasil". O formato pretende mostrar, em dez episódios, as belezas de toda a costa litorânea brasileira.
              Aliança 2 A produção, que começa a ser gravada em maio, será comercializada no início de 2014 para canais da França e do Brasil.

                Melhor do dia

                folha de são paulo

                "Roda Viva" de hoje entrevista a blogueira cubana Yoani Sánchez

                Cultura, 22h, livre. A blogueira cubana Yoani Sánchez será a entrevistada desta semana do programa "Roda Viva", comandado por Mario Sergio Conti. Nascida em Havana, Sánchez ficou conhecida por seus artigos no blog Generación Y, criado em 2007, no qual faz críticas ao regime político de Fidel e Raúl Castro.
                No programa, ela conta como lidou com o assédio no Brasil e fala da censura e do panorama político de Cuba.
                A bancada de entrevistadores terá Laura Capriglione, da Folha, Jaime Pinsky, diretor da Contexto (que editou "De Cuba, com Carinho", livro de Sánchez), Sandro Vaia, escritor, Rodrigo Cavalheiro, do "Estado de S. Paulo", e Chantal Rayes, do jornal francês"Libération".

                Gaby Amarantos está em especial sobre Pará
                BIS, 19h, classificação não informada. A faixa "BIS Docs" apresenta o documentário "Ritmos do Pará", no qual a cantora Gaby Amarantos brinca com os apelidos que recebeu, como "Lady Gaga da Amazônia".

                Canal Sony volta a ter episódios novos de série
                Sony, 23h, 16 anos. No episódio "Life Support", da última temporada de "Private Practice", a vida dos trigêmeos dos médicos Charlotte (KaDee Strickland) e Cooper (Paul Adelstein) está em risco.

                  "Dogville" é um ataque bem humorado à boa vontade
                  INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHAQuando se fala em "brechtiano" no cinema talvez o melhor exemplo, ao menos na era moderna, seja mesmo "Dogville" (TC Cult, 22h), esse bem humorado ataque de Lars von Trier à duvidosa instituição da boa vontade (mais duvidosa depois que vemos o filme).
                  Lá está uma moça, em princípio meio fugindo de gângsteres. A cidade que ela encontra não é bem uma cidade, mas um esquema de casas, ruas, escolas, igrejas, desenhadas no chão. Nesse mundo sem paredes tudo nos distancia, é certo: não é o mundo real. No entanto, os personagens surgem em sua intimidade, direta, seca.
                  Não por acaso, a rua central de Dogville é Elm Street: a rua de Freddy Krueger.
                  "Dogville" é o terror que invade os sonhos inocentes da boa vontade.

                    Mauricio de Sousa revela 'segredos' de seus personagens

                    folha de são paulo

                    FOLHINHA 50 ANOS
                    'RODA DA FOLHINHA'
                    No cinquentenário da Mônica e da 'Folhinha', cartunista responde às mais improváveis perguntas das crianças
                    DE SÃO PAULOPara comemorar os 50 anos da Mônica, Mauricio de Sousa, "pai" da baixinha, gorducha e dentuça mais famosa dos gibis, participou anteontem à tarde da "Roda da Folhinha". O evento, que também celebrou o cinquentenário da "Folhinha", aconteceu no MAM, no parque Ibirapuera, em São Paulo.
                    Crianças lotaram o auditório de 200 lugares e ficaram com os braços cansados de tanto levantá-los para tentar conseguir um microfone e fazer as mais improváveis perguntas ao cartunista. Assim que a "Roda" foi aberta, veio da garota Estela esta dúvida: "Bidu é um schnauzer? Se não é, qual é a raça dele".
                    "É, sim. No começo, eu tinha dúvidas. Mas resolvi confessar: é um schnauzer mesmo", respondeu Mauricio.
                    Fernando, 6, quis saber por que a Mônica é tão forte. O desenhista tinha a resposta na ponta da língua. "Todas as mulheres são fortes. Sem elas, estaríamos vivendo em cavernas desarrumadas."
                    Arthur, 8, questionou a idade da Magali, que também faz 50, de acordo com Mauricio. E Felipe, 6, emendou: "Como ela não engorda se come tanto?" Mauricio revelou que é por que a comilona faz muita atividade física.
                    Para Fernando, 8, é muito estranho a Mônica e o Cebolinha brigarem tanto e se casarem depois. "É assim a vida. Todo casal, de vez em quando, briga", tentou explicar Mauricio.
                    Mas quando Rafael, 8, pegou o microfone, o cartunista derrapou. Ele queria saber por que, na Turma da Mônica Jovem, o Cebolinha assinou como Cebolácio Júnior Menezes da Silva. "Foi uma brincadeira, esse não é o nome dele." O menino não se convenceu. "É verdade, está na revista!", disparou Rafael. "Mato esse roteirista qualquer dia", disse Mauricio.
                    Verônica, 10, arrancou do cartunista uma revelação pessoal ao perguntar em quem a dinossaurinha Lucinda, das histórias do Horário, é inspirada. "Em uma namorada que tive... Mas me casei e minha mulher não gostava muito de vê-la nas histórias."
                    Teve até puxão de orelha de uma assinante dos gibis. Elisa, 9, filha dos jornalistas Sandra Annenberg e Ernesto Paglia, que a acompanhavam no evento, mandou esta: "Por que as revistas atrasam?"
                    "Eu mereço, né?", riu Mauricio. "Quando tiver qualquer problema, pode me avisar pelo Twitter [@mauriciodesousa] que eu envio a mensagem para o diretor da Panini [editora dos gibis]."
                    Nem na hora de dar autógrafos, Mauricio se safou da criançada. Lara, 4, queria saber se Mônica usava calcinhas e se, como seus vestidos vermelhos, elas eram todas iguais. Depois de pensar um pouco, ele confessou. "A Mônica tem um guarda-roupa com várias calcinhas iguais."
                    Mas não foram só as crianças que colocaram o desenhista "na parede". Lenita Miranda de Figueiredo, primeira editora da "Folhinha", que estava no palco como convidada, relembrou o tempo em que trabalhou com Mauricio no caderno e cobrou, brincando: "Por que você atrasava tanto para entregar as ilustrações?!".
                    Mauricio se divertiu: "Demorava para vir a inspiração", disse. E logo completou: "Eu tinha que ouvir essa 50 anos depois, né?".
                    Além de Tia Lenita, participaram do evento Laura Mattos, atual editora da "Folhinha", e Denise de Almeida, repórter do UOL Crianças. Leia trechos do bate-papo:
                    -
                    Turma da Mônica Adulta
                    Vamos criar a Turma da Mônica Adulta. Para isso, estou entrando em contato com autores de novelas da Globo para nos ajudar com os roteiros. Walcyr Carrasco já disse que vai colaborar. Vai ser revista para adultos. Porque o adolescente da Turma Jovem vai envelhecer e pensar: "Cresci e não quero mais a revistinha".
                    50 anos de Mônica
                    A personagem foi inspirada na minha filha. Mas ela demorou a ficar sabendo. Foi uma amiguinha da escola que contou. Lembro que ela chegou em casa e perguntou: "Pai, é verdade que sou a Mônica das historinhas? Eu não sou brava daquele jeito". Mas ela era. E até hoje é. Atualmente, a Mônica é diretora comercial da minha empresa. Aquela que vai brigar pelos contratos.
                    Cascão vai se casar
                    Neste ano, assim como aconteceu com o Cebolinha e a Mônica, o Cascão vai se casar com a Cascuda na Turma Jovem. Ele não gosta muito de água, mas, para a festa, deve tomar um banho de rosas.
                    Personagens e filhas
                    Assim como a Mônica, a Magali também é baseada em uma filha minha. Uma vez, o marido dela ligou reclamando que a Magali comia muito, pedia pizza de madrugada. Não tenho nada a ver com isso ele já lia os gibis antes de casar. Aconteceu a mesma coisa com a Mônica, o marido disse que ela era briguenta. Mas os dois já se casaram com elas sabendo de tudo [risos].
                    Início na Folha
                    Juntei desenhos e fui mostrá-los na Redação da Folha. Mas acho que peguei o rapaz em um mau dia. Ele falou: "Desista. Isso não dá futuro, faça outra coisa da vida." Meu mundo caiu. Não sabia se saía pelo elevador, pela porta ou pela janela do sexto andar.
                    Acabei pegando uma vaga de revisor. Depois, virei repórter policial. Quando o fotógrafo não conseguia fazer a imagem de um criminoso, ilustrava minhas próprias matérias.
                    Fiquei cinco anos assim, quase esqueci que era desenhista.
                    Foi quando fiz a primeira história do Bidu e ofereci para o jornal. Aí, passei a publicar tirinhas na "Ilustrada".
                    Começo na "Folhinha"
                    A "Folhinha" foi uma "escada". Tive a sorte de ter a companhia de uma jornalista criativa e exigente, como era a Lenita. Como não tínhamos uma grande equipe, fazia as ilustrações do caderno, desenhava as histórias do Horácio, as do Raposão. E quase não dava tempo. A Lenita brigava comigo porque sempre atrasava. A gente fazia mágica.
                    Cores dos personagens
                    Foi na "Folhinha" que meus personagens ganharam cores. Antes, eram todos em preto e branco. Tive de descobrir qual cor se encaixava melhor em cada um. Fui buscar cores primárias, e surgiram o vestido vermelho da Mônica, o amarelo da Magali, a cor verde para o Cebolinha. O Bidu saía nas tiras do jornal em cinza e ficou azul na "Folhinha".
                    Licenciamento de produtos
                    [Sobre o fato de a Mônica estampar embalagens de Miojo]Se alguém quer colocar personagens em algum produto, abrimos uma sindicância para descobrir como é a empresa. O problema é que, com o passar dos anos, descobriu-se que produtos que todo mundo aceitava não eram saudáveis. Procuramos acompanhar essa evolução. Mas são as empresas que precisam tirar ingredientes que fazem mal.


                      RAIO X - MAURICIO DE SOUSA
                      Nascimento
                      em 27/10/1935, em Santa Isabel (SP)
                      Carreira
                      Foi revisor e repórter policial da Folha. Estreou como cartunista com uma tirinha de Bidu e Franjinha na "Ilustrada", em 1959.
                      Em seguida, foi inventando o resto da turma. Mônica surgiu em março de 1963, em uma história do Cebolinha.
                      Em setembro, a turma cresceu e ganhou cor com o surgimento da "Folhinha"

                        Sérgio Rizzo e Thales de Menezes

                        folha de são paulo


                        FOLHATEEN
                        Não confunda
                        Quatro livros que vão virar filmes, um romance entre humanos e seres fantásticos; parece "Crepúsculo", mas é "Dezesseis Luas"
                        THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”A corrida em busca de um novo fenômeno literário e cinematográfico como a saga "Crepúsculo" segue forte. Agora chegou um concorrente de peso: "Dezesseis Luas", que estreia nos cinemas nesta sexta-feira.
                        A moçada mais afinada com o idioma inglês e com esse filão de livros chamado "young adult" ("jovens adultos", no fim da adolescência) já conhece a história como "Beautiful Creatures" (Belas Criaturas), de 2009.
                        As autoras Kami Garcia e Margaret Stohl receberam boas e más críticas, mas, diante de tanta aceitação, nem devem ter se preocupado muito com as negativas.
                        Com um best-seller nas mãos, prolongaram a história em mais três livros:
                        "Beautiful Darkness" (Bela Escuridão), "Beatiful Chaos" (Belo Caos) e "Beautiful Redemption" (Bela Redenção).
                        O título brasileiro do primeiro livro vem de um trecho que envolve Ethan, Lena e a canção "16 Moons".
                        Ah, sim, Lena e Ethan são a nova versão do casal Bella e Edward, de "Crepúsculo"
                        Nesta aventura, a criatura fantástica muda de gênero. O humano é o menino, alma rebelde sufocada em Gatlin, uma cidadezinha retrógrada. Ethan começa a ter sonhos recorrentes com uma garota.
                        Eis que esta aparece na escola, muito misteriosa. Lena integra o clã dos Ravenwood. A menina está próxima de completar 16 anos, quando, segundo a tradição familiar, se transformará em bruxa.
                        ENTRE O BEM E O MAL
                        O drama, além da evidente rejeição da família a um namorado humano, é que Lena pode se transformar tanto numa bruxa boa quanto numa que seja o mal encarnado.
                        E, por uma série de fatores fantásticos, ela será a mais poderosa de todas.
                        Assim como eram Kristin Stewart e Robert Pattinson no primeiro "Crepúsculo", os intérpretes principais ainda estão longe da fama: Alice Englert, 18, e Alden Ehrenreich, 23, vão virar estrelas agora.
                        Mais conhecida é Emmy Rossum. A atriz vive a prima mais velha de Lena, Ridley, que se tornou um ser das trevas aos chegar aos 16 anos. Ela já tem no currículo filmes como "O Fantasma da Ópera" e "Poseidon".
                        Quem não quiser esperar pelos próximos filmes pode acompanhar o desenrolar da trama nos livros. A editora Record já publicou as edições brasileiras dos três primeiros volumes da saga.


                          CRÍTICA FANTASIA
                          Longa foge do modelo tradicional destinado a plateias adolescentes
                          SÉRGIO RIZZOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAPersonagens que leem Kurt Vonnegut Jr. ("Matadouro 5") e Charles Bukowski ("O Amor é um Cão dos Diabos"), que conversam sobre livros e que reconhecem a importância da literatura nas suas vidas? Em um filme sobre adolescentes?
                          Alguém faria a gentileza de me beliscar? "Dezesseis Luas" não se parece com o tradicional combo de cinema "teen" que junta romance, fantasia, personagens sobrenaturais e atores bonitinhos.
                          É isso tudo também, de olho no imenso público que curte o gênero -como o êxito de "Crespúsculo" demonstra. Mas, quase subversivo, "Dezesseis Luas" vai além, ao sugerir que a arte alimenta mentes rebeldes.
                          E, se a arte faz isso, deve ser combatida. É o que pensa a ultraconservadora população da cidade onde vive Ethan (Alden Ehrenreich, de "Tetro", de Francis Coppola).
                          Nesse fim de mundo do qual só não escapam os medíocres ou covardes, a comunidade decide quais autores podem ser lidos.
                          ROMEU E JULIETA
                          Ethan não cabe nesse lugar atrasado, de gente aborrecida. Como ainda não tem idade para pular fora, a porta de fuga são livros. Até que uma aluna nova surge e... uau!
                          A moça é Lena (Alice Englert, atriz novata em ascensão), que pertence a uma família malvista na cidade, de supostos adoradores de Satã. Seria apenas um exagero reacionário contra qualquer um que pense por conta própria?
                          Na segunda parte da história, descobrimos quem é Lena e por que seu tio recluso (Jeremy Irons) tem tantos desafetos. O sobrenatural entra em cena e "Dezesseis Luas" se atrapalha com a necessidade de dar informações.
                          Essa dificuldade ajuda a entender por que o filme não estreou bem nos EUA, com uma arrecadação modesta para as expectativas.
                          O que pode ser injusto com os simpáticos Ethan e Lena, mas é castigo merecido para a cafonice de Irons e os exageros de Emma Thompson (como a líder religiosa local).

                            Chile aprova lei para abrir empresa em um único dia

                            folha de são paulo

                            INTERNETS
                            Ronaldo Lemos
                            @lemos_ronaldo
                            Quanto tempo é necessário para abrir uma empresa no Brasil? 119 dias. Se você acha muito, espere para ver quanto tempo leva para fechar uma empresa!
                            O custo de abertura também é salgado. Em média, R$ 2.038. Isso é uma ducha fria para qualquer empreendedor, especialmente aqueles interessados em internet.
                            Já nosso vizinho, o Chile, acaba de dar um olé no Brasil. Os hermanos aprovaram uma nova lei em que a abertura de empresas passa a ser feita em um único dia. Tudo pela internet, sem papelada.
                            E, para completar, a custo zero. O Chile percebeu que a melhor forma de promover o desenvolvimento é apostar na dobradinha empreendedorismo e inovação.
                            Outro exemplo de medida adotada por lá é o programa "Start-up Chile". Concede até R$ 80 mil para pessoas de qualquer lugar que queiram desenvolver uma boa ideia empresarial no país.
                            Até a obtenção de vistos é facilitada, tudo para atrair talentos globais. Os resultados são eloquentes: 600 start-ups criadas, originadas em 50 países diferentes.
                            Há alguns dias visitei a incubadora de empresas 21212 (o nome mistura o prefixo do Rio com o de Nova York), no Rio de Janeiro.
                            Fiquei surpreso com garotos e garotas, muito jovens, todos mandando ver em suas pequenas empresas de tecnologia.
                            Conversando com o fundador do projeto, Benjamin White, concordamos que os jovens brasileiros têm a ambição de empreender na internet.
                            O problema é que ficam desapontados assim que percebem o tamanho da encrenca da burocracia do país. Nesse quesito, o Chile está ganhando de goleada do Brasil.
                            READER
                            JÁ ERA "Guitar Hero" e "Rock Band" marcando época
                            JÁ É "Guitar Hero" descontinuado pela Activison
                            JÁ VEM "Rock Band" descontinuado pela Harmonix

                              Vanessa Barbara

                              folha de são paulo

                              Tem um bicho na sua nuca
                              Sabe-se que a televisão é boa companhia. Há quem more sozinho e ligue o aparelho todos os dias, ao voltar para casa, apenas para se sentir menos solitário. Outros, mesmo com amigos na sala, não conseguem deixar de prestar atenção na tela, interrompendo conversas só para ouvir melhor.
                              Em 2004, um psicólogo comportamental da Universidade da Califórnia descobriu que os depressivos podem se beneficiar com uma boa dieta de rostos televisivos pela manhã. Segundo Seth Roberts, os rostos precisam ter tamanhos reais e estarem à distância de uma conversação normal.
                              É como se a TV fosse uma substituta do contato com as pessoas e conferisse ao espectador benefícios para o humor similares aos da socialização tradicional.
                              Nesse sentido, há uma categoria de espectadores ainda pouco estudada, mas digna de nota: a do cara que conversa com a TV. Levando ao extremo sua cotidiana interação com os pixels, ele responde às angústias da figura na tela, censura duramente as piadas, discute, discorda, agride. Socializa, enfim, com sua Telefunken.
                              A relação que se tem com a telinha vai da personalidade de cada um.
                              Eu, de minha parte, costumo ceder a apartes jocosos. "Não diga!", é o comentário diante de uma afirmação óbvia da apresentadora do telejornal, que garante que houve muita tristeza num funeral ou que o melhor jeito de poupar é não gastando.
                              Gosto de adivinhar o gracejo final das reportagens (tenho grande talento nessa área) e inventar chamadas mais interessantes: "No próximo bloco: como saber se seu hamster está possuído? E mais: os gols da rodada".
                              Há quem responda às perguntas dos shows de prêmios, decifre charadas, dê boa noite ao âncora e não se contenha ao ser instigado por um programa infantil. (Noutro dia, o Agente Urso me perguntou onde estava a bola azul do nenê, e eu respondi: "Não sei! Não sei! É muita pressão.")
                              Também faço questão de avisar o mocinho de que o bandido está vindo por trás com uma foice. Em filmes, aliás, sou do tipo participativo: me espanto com as atitudes do protagonista, antecipo acontecimentos e ofendo o elenco inteiro pela péssima atuação.
                              Conheci uma vez alguém que, entediado, gostava de inserir dublagens e diálogos inventados por cima das novelas -não me lembro quem era, mas sei que a temática aludia a pastéis.
                              E que as versões ficavam melhores do que os originais.

                                Luiz Felipe Pondé

                                folha de são paulo

                                Uma nova ciência moral
                                Imagine um livro chamado "Tipologia do Canalha: Como Identificar o Seu". Puro best-seller!
                                Ouvi uma dessas mulheres livres, dona de seu nariz e de seu corpo, dizer: "Que falta que faz um canalha!".
                                Recentemente, um grande especialista e prático da alma humana, um terapeuta, me dizia se escandalizar com o fato de que mulheres inteligentes e emancipadas falam em consultórios de psicanalistas que querem que os homens as chamem de cachorras e as tratem como vagabundas na cama.
                                Como se escandalizar com o óbvio? Quem foi que disse que as mulheres não gostam de se sentirem vagabundas no sexo? Só quem, mui catolicamente, imaginou que querer ser tratada como vagabunda no sexo fosse fruto de opressão machista. Risadas?
                                O que é um canalha? Refiro-me ao conceito de canalha. Um kantiano diria "o canalha em si".
                                Claro, kantianos são pessoas que pensam que o mundo é o que eles pensam que é; no fundo, o kantiano é um puritano da razão aos olhos de qualquer cético. Sua "crítica da razão prática" nada mais é do que um canto monótono semelhante aos cantos das igrejas calvinistas.
                                Qualquer um sabe que canalhas evoluem historicamente, como tudo mais. O grande personagem Palhares, do Nelson Rodrigues, esse filósofo brasileiro, é um tipo de canalha que não existe mais: o canalha romântico e sincero (que faz falta), apesar de que ele já identificara a necessidade de o canalha evoluir. Diriam os especialistas que Palhares tinha um claro "senso histórico".
                                Palhares mordeu o pescoço da cunhada caçula no corredor. E cunhadas gostosas são o segredo de um bom casamento. Palhares dizia que um canalha em sua época, os anos 1960, deveria evoluir para continuar a ser um bom canalha.
                                No caso dele, isso significava assimilar os avanços da psicologia, levando suas vítimas para terapias de nudez e também para reuniões do Partido Comunista. Um canalha, afinal, deveria estar em dia com a sua época.
                                Importantíssimo, no entendimento de nosso querido Palhares, seria um canalha entender que ser católico não ajudava mais ninguém a pegar mulher porque assustaria a presa. A sinceridade do Palhares estava no fato de ele se reconhecer canalha por vontade própria.
                                Hoje em dia, o canalha "avançou" muito. Ele identifica "causas externas" para sua condição de canalha, ou, melhor ainda, não reconhece sua condição de canalha; julga-se apenas um homem cumprindo seu "papel social".
                                Imagine um livro chamado "Tipologia do Canalha: Como Identificar o Seu". Puro best-seller!
                                Por exemplo, o livro descreveria o canalha institucional, que é o canalha que faz suas baixarias dizendo que é em nome do coletivo. Normalmente, adora a hierarquia e a burocracia.
                                É o tipo que, segundo o psicólogo americano Philip Zimbardo, autor do excepcional livro "O Efeito Lúcifer" (Record), se adaptaria bem às condições de horror em sistemas totalitários com justificativa institucional. Sentiria que o horror que causa é simplesmente fruto de respeito à burocracia.
                                Existem também os canalhas sociais. Estes são aqueles que justificam seus atos via condições sociais em que vivem, dizendo coisas como "a escola em que estudei fez de mim um canalha, por mim seria diferente".
                                Conhecemos também os canalhas democráticos. Estes são aqueles que justificam seus atos porque combatem em defesa do povo. Este tipo é aquele que, por exemplo, sustenta a corrupção do Estado dizendo que está lutando pela justiça social.
                                Primo de primeiro grau deste último é o canalha militante, este tipo que agrediu a blogueira cubana Yoani Sánchez, acusando-a de ser paga pela CIA. A marca deste é jamais ouvir nada que discorde de sua religião.
                                Há também o canalha científico. Este afirma que as neurociências provaram que ser canalha é função de certa área do cérebro, resultado de herança evolucionária e genética.
                                Um tipo especialmente "fofo" é o canalha livre. Suspeito ser este o mais avançado de todos.
                                Quando indagados acerca de seu comportamento, afirmam que agem do modo que agem porque sempre foram uma minoria oprimida e agora podem exercer sua canalhice livremente. A frase lapidar deste tipo de canalha é: "Todos têm direito de ser o que são; eu tenho o direito de ser canalha".