segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quadrinhos


Folha de São Paulo

PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

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DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO
ADÃO
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVID

JIM DAVID

Cúpula do clima decide destino de Kyoto



Único tratado internacional contra a mudança climática em vigor, protocolo corre risco de ter extensão anêmica
Decisão tomada em negociações no Qatar poderá afetar futuro acordo mundial, ainda sem data para vigorar
Osama Faisal/ASSOCIATED PRESS
Manifestantes pedem ação de governantes contra a mudança climática em Doha, no Qatar
Manifestantes pedem ação de governantes contra a mudança climática em Doha, no Qatar
Folha de São Paulo GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A DOHAA COP-18, conferência do clima da ONU que acontece até o fim da semana em Doha, no Qatar, entra hoje em sua fase decisiva ainda cercada de incertezas quanto ao principal objetivo do encontro: estabelecer uma extensão do Protocolo de Kyoto.
O panorama geral das negociações foi resumido pela secretária-executiva do evento, Christiana Figueres. Apesar de iniciar seu balanço da primeira semana da convenção de maneira otimista, ela admitiu que muita coisa inevitavelmente ficará de fora.
'O que vier de Doha não será no nível de ambição que precisamos", resumiu Figueres sobre as negociações, que envolvem quase 200 países.
Diferentemente da COP-15, que aconteceu em Copenhague em 2009 e foi cercada de muita expectativa sobre um grande acordo global, a atual convenção já nasceu com um perfil mais morno.
No encontro do ano passado, os países "concordaram em concordar" com a criação de um pacto global de redução de emissões de gases do efeito estufa, que englobaria nações ricas e pobres. O acordo, porém, ficou para começar a ser definido em 2015, para entrar em vigor até 2020.
Para não deixar o mundo sem nenhum tratado de proteção climática, as partes optaram pelo prolongamento do Protocolo de Kyoto, que oficialmente deixa de valer no próximo dia 31.
Além da decisão sobre até quando esse "puxadinho" do acordo valerá -se até 2017 ou até 2020-, ficou para o encontro de agora a definição do quanto será reduzido em emissões na nova fase.
"KYOTINHO"
De qualquer maneira, o acordo já nasce com um alcance limitado. Só a União Europeia e a Austrália, responsáveis por cerca de 15% das emissões globais de carbono, concordaram em participar do que já está sendo chamado, nos bastidores da COP-18, de "Kyotinho".
Em sua criação, em 1997, o protocolo comprometeu as nações desenvolvidas a reduzir suas emissões em 5,2%, entre 2008 e 2012, em comparação com os níveis de 1990.
O acordo, porém, já foi criado com ausências importantes. Os EUA não ratificaram o pacto, e nações em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, que hoje respondem por boa parte das emissões mundiais, não tinham metas imediatas.
Hoje, o maior impasse para a extensão é puxado por Rússia, Polônia e Ucrânia. Esses países emitiram menos do que poderiam na primeira fase de Kyoto e agora querem levar essas sobras no potencial de emissões, o chamado "hot air", para a segunda fase do acordo, o que desagrada a muitos negociadores.
Canadá e Japão, que participaram da primeira etapa, já avisaram que não vão aderir ao novo período.
Embora vá ter um alcance imediato limitado, a extensão das metas de Kyoto é importante na construção do futuro pacto global para redução de emissões de gases-estufa.
Especialistas temem que, um eventual fracasso nessa negociação influencie negativamente o futuro acordo, que ainda nem foi rascunhado, mas é ameaçado pela prioridade dada à crise econômica mundial.
Mesmo nesse cenário, a delegação brasileira chegou em clima de otimismo a Doha.
O negociador-chefe do Brasil, o embaixador Luiz Figueiredo Machado, disse que não há risco de a reunião terminar esvaziada.
"Impasses são comuns em negociações longas, com mais de duas semanas, como esta", afirmou.
"COMPLEXA"
"Nós acreditamos que a conferência de Doha vai abrir uma nova etapa nas negociações do clima. Essa vai ser uma COP importante, complexa. Há muita coisa relevante sobre a mesa, inclusive as bases para o futuro protocolo que foi negociado em Durban", completou.
Na opinião de Carlos Klink, secretário de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil chegará à convenção com o "dever de casa" feito, apresentando "a menor taxa de desmatamento da história na Amazônia", divulgada na semana passada.

    Tamanho de delegações pode travar debates
    FRANCISCO ZAIDENCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAEnquanto negociadores quebram a cabeça para escapar de mais um fiasco em Doha, um novo estudo diz que esse esforço será em vão se um novo modelo de discussões não for implantado em breve.
    A conclusão é de pesquisadores da Universidade de East Anglia (Reino Unido), da Universidade do Colorado (EUA) e da empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers.
    O trabalho, liderado por Heike Schroeder e publicado na revista especializada "Nature Climate Change", questiona o modelo de votação e a quantidade desigual de membros nas delegações.
    O número de participantes atingiu seu ápice na COP de Copenhague, em 2009 -foram enviadas, ao todo, quase 11 mil pessoas, com resultados de negociação muito fracos.
    De acordo com o estudo, as pequenas delegações acabam não conseguindo acompanhar múltiplas reuniões que ocorrem ao mesmo tempo.
    Na COP do ano passado, realizada em Durban (África do Sul), o Brasil, por exemplo, levou cerca de 200 pessoas, enquanto Somália e Camboja tinham apenas um representante.
    Para evitar isso, os especialistas sugerem que a ONU limite o número de delegados, igualando o peso de cada nação.
    HORA DO VOTO
    Também muito questionado, o modelo de votação -hoje, por consenso- é considerado ultrapassado pelos pesquisadores, que sugerem que se implante a votação por maioria.
    "As atuais estruturas da ONU são altamente desiguais e obstruem o progresso em relação à política internacional de cooperação sobre mudanças climáticas", escrevem eles.
    Para Eduardo Viola, professor titular de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília), é preciso levar em conta que as conferências climáticas envolvem outro fator, ainda mais importante: "A ONU não é uma organização mundial, é um local de diálogo de Estados nacionais soberanos".
    Ou seja, a entidade promove debates e negociações, mas não é um parlamento em que as nações atuem juntas.
    Pelo contrário, segundo Viola, a realidade é que há apenas o sistema de soberania dos Estados e nações, não existindo de fato uma governança e organização globais.
    E é por isso que as coisas travam, diz. "A mudança climática é uma questão que mostra a interdependência do mundo. Não há solução individual, tem de ser feita pela maioria dos países."

      MEMÓRIA DEMOLIDA -LUIZ ANTONIO SIMAS


      O Globo - 03/12/2012

      O governo do Estado do Rio de Janeiro se mantém firme na decisão de demolir a Escola Municipal Arthur Friedenreich, com quase meio século de existência e uma das melhores instituições públicas de ensino da cidade, ao lado do estádio do Maracanã. A escola será destruída para a construção de quadras de aquecimento a serem utilizadas pelos jogadores que disputarão partidas no estádio reformado. Os poderosos donos da bola argumentam que a escola não sofrerá o impacto, já que será transferida para um prédio novinho em folha, no bairro de São Cristovão.

      Os engravatados tecnocratas do governo ignoram que um lugar não é composto apenas da matéria bruta de seus alicerces. A Escola Friedenreich, mais do que um prédio, é depositária das memórias, aspirações, anseios, sonhos, desilusões, conquistas, fracassos, alegrias e invenções da vida de inúmeras gerações que passaram por seus bancos. Uma escola é, portanto, também o resultado das experiências intangíveis, matéria da memória acumulada pelas gerações de alunos e professores que ali experimentaram a aventura do conhecimento.

      Os índios da praia sagrada de Morená, no Xingu, dizem que nos troncos de árvores moram, encantados e perpetuados, os espíritos de seus ancestrais. Quando um terreiro de candomblé é criado, planta-se no solo, em cerimônias que envolvem elementos da natureza, o axé (poder espiritual) da casa, que perpetuará naquele local o acúmulo de saberes que a ancestralidade proporciona à comunidade. Sabem, os índios e negros, que a experiência está fincada em certos locais, sacralizados pelo que foi vivido ali.

      Derrubar a escola é, portanto, matar o axé, derrubar os troncos das árvores sagradas e quebrar o elo de ancestralidade que faz a vida em comunidade ser possível. Existem inúmeros alunos cujos pais estudaram na Escola Municipal Arthur Friedenreich. Imaginem o que é para uma criança, na construção de suas referências, saber que a sala em que ela aprende foi a mesma em que seus pais aprenderam um dia. A escola em São Cristovão pode manter o nome, os professores e o padrão de ensino, mas jamais será a do Maracanã, com toda a memória dos afetos acumulados ao longo das décadas.

      Coisa similar está prestes a acontecer com os sobrados centenários da Rua da Carioca. Um banco de investimentos comprou os imóveis e, com a fria lógica do lucro fácil, coloca em risco toda a tradição que uma das mais tradicionais ruas da cidade tem acumulada. O axé da Rua da Carioca, com suas centenárias casas de instrumentos musicais e restaurantes, periga sucumbir aos ditames dos almofadinhas cheios de grana, que conhecem tanto da alma da velha rua quanto um esquimó entende da alma de Madureira.

      A cidade do Rio de Janeiro, encarada pelos homens do poder como um balneário de grandes eventos, Disneylândia tropical do século XXI, está sendo destruída em suas referências mais profundas. A sanha modernizadora, afeita aos grandes negócios, é aquela que esmaga o intangível e o que não é mensurado pelas regras do mercado financeiro: a cultura carioca e os seus lugares de memória; elos poderosos de ligação com o passado, lições vivas da ancestralidade de um povo que, contra o efêmero de escusas transações, sacralizou em rituais de celebração da vida as praias, esquinas, botequins, sobrados e escolas deste nosso terreiro; a Guanabara.

      O centauro e o abismo Por Alcione Araújo‏

      O centauro e o abismo 

      Por Alcione Araújo
      Estado de Minas: 05/01/2010

      "Insatisfeito, quis mais velocidade: resolveu voar, sendo mais pesado que o ar, sem ter asa nem pena" 


       




      Depois de aprender a fazer o fogo, o homem resolveu cozinhar o alimento – impossível saber por que a idéia ocorreu, se crescia e multiplicava comendo cru. Segundo os antropólogos, a passagem do cru ao cozido foi um grande salto civilizatório – se as cozinheiras soubessem que avançaram a civilização, exigiriam lugar na lista do Nobel. Mas, ao cozer pela primeira vez o alimento nas mãos, uivou de dor, pois elas coziam junto – como uiva quem põe a mão no fogo, principalmente pelos outros. E o homem mostrou sapiência ao inventar a panela – pedra côncava, cabaça, concha, sei lá –, ou o que viríamos a chamar de panela, que cozinha o cru sem fritar as mãos. 

      Mais que cozinhar na panela, o avanço foi criar um princípio, talvez maior que o próprio homem: quem não nasce capaz de realizar o que sonha, deseja e quer, em vez de se autocriticar como ambicioso, pretensioso ou visionário, que invente algo que realize o que sonha, deseja e quer. Esse algo sempre fora dele, extensão do seu corpo que, aliás, permanece o mesmo – exceto o rabo, que, relata Darwin, caiu logo que ficou erecto; e o crânio, que encolheu. 

      Antes da panela, o homem, sempre apressado – só na era pós-panela aprendeu que afobado come cru –, domou outro animal – camelo, boi, elefante, cavalo, burro, avestruz, homem, etc –, montou-o e fez as tarefas com mais rapidez e menos cansaço. Tenho dúvida de quem veio antes, a panela ou a montaria – noutro dilema, sobre o ovo e a galinha, acho que o ovo veio antes; a galinha é melhor para comer, depois da panela, bem entendido, do que para ter idéia de fazer um ovo. Para opinar entre ovo e galinha, é preciso haver algo anterior a ambos, e não consigo atinar o que foi – ovolinha, galovo, sei lá. 

      Sempre apressado, o homem achou que o animal não era rápido o bastante e inventou o motor, com potência de vários homens, fortes como quadrúpedes, que se mede em HP – horse power, cavalo de potência. Continua montado em cavalos, agora de quatro rodas. Com a nova extensão do corpo, virou algo como o centauro, imaginado pelos antigos que os contemporâneos realizaram: a cabeça – segundo Darwin, encolhida – o corpo de cavalo sobre quatro rodas. 

      Insatisfeito, quis mais velocidade: resolveu voar, sendo mais pesado que o ar, sem ter asa nem pena. No fundo, sempre quis ser pássaro – um tal Ícaro colou penas no corpo, saltou do penhasco e se estabacou no mar. Aprendeu a lição? Nada. Usou o princípio de não se autocriticar e inventar a extensão do corpo que realiza o sonho: construiu um pássaro de corpo e asas metálicos. Como as asas não batiam, usou cavalos de potência para girar a hélice e impulsá-lo. E o mais pesado que o ar voou – o homem foi dentro, como se fora ele o pássaro. Seus pássaros maiores voam mais ágeis que o som, a lugares inimagináveis. 

      Insatisfeito com o cérebro que o permitiu cozer, correr e voar, quis dispor do máximo de informação à velocidade da luz e inventou a extensão do cérebro: o computador e a internet. É agora um centauro alado de quatro rodas e um computador no crânio. Encolheu o cérebro e reduziu o uso. Cada homem sabe muito mais de muito menos – uma ilha só reconhece outra ilha do arquipélago. Mas sonha com o vôo incorpóreo, desintegrar-se aqui e reintegrar-se acolá. 

      Esgotada a extensão – o que ele pode – volta-se à compreensão: o que ele é. Não há como inventar extensões para o que sonha, deseja e quer a alma – o ser, a subjetividade, a psiquê, ou que nome tenha isso que o homem é, além do corpo – essa coisa é um abismo obscuro, não muda nem se mostra, por mais que ele cozinhe, corra, voe. Estender-se não é entender-se.

      Interação multimídia (Giramundo) - Sérgio Rodrigo Reis‏

      Bonecos e atores do Giramundo vão contracenar com as imagens em 3D no novo espetáculo do grupo, Alice no país das maravilhas. Fernanda Takai, do Pato Fu, fará a voz da protagonista 

      Sérgio Rodrigo Reis
      Estado de Minas: 03/12/2012 

      A rotina do Giramundo anda agitada. Para montar Alice no país das maravilhas, espetáculo inspirado no clássico do autor inglês Lewis Carroll (1832-1898), repleto de referências fantasiosas, surrealistas e efeitos mirabolantes, o grupo de teatro de bonecos se cercou de colaboradores. A banda Pato Fu, além de compor a trilha, emprestou o talento de Fernanda Takai para interpretar a voz de Alice. O Grupo Galpão dará a contribuição cênica, que ficará a cargo de Eduardo Moreira. Dos recursos de alta tecnologia virão as soluções plásticas capazes de encher os olhos da plateia com efeitos especiais. Por fim, o próprio autor do clássico entrará em cena para narrar a história. O espetáculo tem estreia prevista para abril.
      A escolha do ator que fará o escritor exigiu atenção especial. O mineiro Beto Militani passou por testes para conduzir a trama, contracenando com bonecos de variadas técnicas, desde as tradicionais marionetes aos que ganharão movimento graças aos recursos de robótica, e alguns que serão como roupas para serem vestidos por atores/marionetistas. A intenção é explorar os variados recursos desenvolvidos ao longo de quase 40 anos de atuação do Giramundo. Os dias têm sido de definições nos bastidores. No fim da semana passada, todos os envolvidos se reuniram para afinar os detalhes da montagem e conhecer os desenhos dos novos bonecos. 
       O desejo deles é impressionar. Personagens como o Dodô, o Conga e o Rato serão gigantes. “A ideia é fazê-los em proporções maiores que as usuais, para explorar palcos de grandes teatros”, avisa o diretor Marcos Malafaia. Para dar um tom enlouquecido à cozinheira, os olhos dela deverão se mexer aceleradamente. A intenção com as cartas do baralho, que têm função primordial na trama, é chamar a atenção. A Rainha de Copas deverá girar em torno do próprio eixo, exibindo imagens em frente e verso. O Rei terá movimento horizontal. Já o Valete ganhará movimento pendular. Alice será a personagem mais realista da história do Giramundo. “A proposta é deixar as pessoas em dúvida se ela é ou não real”, adianta Malafaia, que coordena a construção dos bonecos, que já começou.

      Animação Recursos de computação importados dos grandes estúdios de animação americanos estão sendo utilizados no processo. A partir de estudos serão criados modelos 3D, para só depois começarem a ser construídos. “Ajuda muito, porque o escultor e o executor poderão girar o desenho e entender melhor a forma antes de construí-los”, explica o diretor. Com o Gato, outro personagem importante que, na visão de Malafaia, anda meio distorcido nas versões atuais do texto, a proposta é retomar sua personalidade original. “Ele não é fisicamente coerente. Aparece, desaparece e, em alguns momentos, volta a aparecer, porém somente algumas partes do corpo.” Recursos de computação serão usados para dar veracidade ao felino. 
      Em seis semanas, os bonecos estarão prontos. É quando será realizada a sincronização dos elementos reais com os vídeos e os efeitos especiais. A música, outro eixo fundamental, entrará nesse momento. Coube a John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, ao lado da vocalista Fernanda Takai, a composição da trilha. “Tivemos que ter uma definição antes das cenas e dos textos para criar as músicas. Serão 90 minutos, que, mais adiante, lançaremos em disco.” Fernanda Takai anda feliz com o desafio. Tanto de cantar quanto interpretar a voz de Alice. “Estou concentrada na composição”, avisa. Mais adiante, ela se debruçará sobre a construção da personagem. As referências já existem. “Imagino que Emília, de Monteiro Lobato, me ajudará nessa tropicalização de Alice. Tenho em comum a ela o bom humor e a curiosidade.”
      O resultado da peça que encerra a trilogia de remontagem de grandes clássicos, iniciada com a versão de Pinocchio (2005), de Carlo Collodi, e Vinte mil léguas submarinas (2007), de Júlio Verne, ainda é uma incógnita. “Não sabemos como será tudo ao fim”, conta Marcos Malafaia, com satisfação estampada no rosto. Para ele, o espetáculo deverá fechar um ciclo. “Queríamos a presença maciça da música e que bonecos dialogassem com vídeos. Pinocchio foi mais simples, intensificamos os recursos em Vinte mil... e, agora, a proposta é de ampla interação”, avisa. O grande desejo é de que a sensação de quero mais provocada em shows musicais se repita em cena. “Meu sonho é que, ao fim, o público peça bis. E já vou avisando que, se pedirem, vai ter. Vamos preparar uma cena especial para esse momento.”

      Os escolhidos

      Ao ator Beto Militani caberá interpretar o autor inglês Lewis Carroll (1832-1898), que aparecerá em cena como espécie de mestre de cerimônias, contracenando com bonecos. Escolhido em testes, ele será dirigido pelo experiente ator e diretor do grupo Galpão, Eduardo Moreira: “Tive a felicidade de me chamarem e estou me sentindo honrado”. 
      O ator também anda satisfeito com o desafio. 
      “Tem sido um prazer, um presente e uma responsabilidade. Estar em cena representando um personagem complexo como Lewis Carroll atuando num grupo que, há 40 anos, lida com trabalho de bonecos é um desafio. Terei que encontrar uma conexão entre o mundo dos bonecos e a realidade e ainda por cima atuando.
      ” A tarefa não será simples, 
      pois o papel é complexo. 
      O autor, além de genial, era gago e professor da Universidade de Oxford, 
      na Inglaterra.

      CIÊNCIA » Compostos metálicos no combate ao câncer - Simone Lima‏


      Estado de Minas: 03/12/2012 

      Garantir qualidade de vida aos pacientes de câncer durante o tratamento de tumores. Essa é a proposta de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que há quase 20 anos trabalha na busca de um processo de cura que destrua as células doentes, afetando o mínimo possível as saudáveis. A expectativa é levar ao mercado um medicamento que combata a doença, sem efeitos colaterais, como náuseas, perda de apetite, queda de cabelo ou fraqueza. Na atual etapa, os pesquisadores avaliam se as moléculas sintetizadas em laboratório conseguem agir de forma segura e eficiente. A expectativa é iniciar os testes em camundongos ainda este ano.
      Um dos diferenciais do estudo desenvolvido na UFJF é que a equipe de pesquisadores tem trabalhado com compostos metálicos – em especial moléculas que têm átomos de platina, paládio ou ouro. A pretensão é criar um medicamento eficaz, que aumente a qualidade de vida dos doentes durante o processo de cura. “Essas moléculas são, geralmente, baseadas em outras moléculas já com atividade conhecida, como a cisplatina (usada no tratamento do câncer há mais de 40 anos), antibióticos, antiparasitários ou até mesmo um pequeno fragmento das próprias moléculas. Nosso trabalho visa ao desenvolvimento de novas moléculas (não disponíveis na natureza) que tenham atividade promissora contra o câncer”, diz Heveline Silva, orientadora do grupo e professora do Departamento de Química da universidade.
      O objetivo dos pesquisadores da UFJF é aumentar a qualidade de vida desses pacientes. Para isso, eles pretendem desenvolver novas moléculas, que, em vez de destruir as células, consigam inibir o crescimento daquelas que estão doentes. Heveline esclarece que atualmente os tratamentos utilizados contra o câncer destroem todas as células doentes. No entanto, eles agem também  nas células normais, o que provoca os efeitos colaterais.
      Oito alunos – entre graduação, mestrado e doutorado – fazem parte dessa pesquisa. Heveline conta que entrou no grupo em 2002 como aluna e hoje continua o estudo como orientadora. Ela explica que as etapas do trabalho são concluídas periodicamente. “No laboratório, trabalhamos a síntese dos compostos, realizando testes em células isoladas de tumor, retiradas de algum organismo. As etapas seguintes, sãos os testes em camundongos e, por último, nos seres humanos”, informa.
      A pesquisadora ressalta que o grande desafio do grupo é desenvolver um medicamento que seja melhor do que os que já existem no mercado, com menos efeitos colaterais e com custo reduzido. “O principal objetivo do trabalho é obter informações sobre os principais grupos moleculares e rotas sintéticas que possam favorecer a atividade antitumoral”, acrescenta.
      Desenvolver moléculas que reajam de forma eficiente e segura, sem colocar em risco a vida do paciente, é o maior desafio da equipe. “Nesse sentido, variamos pequenos grupos na molécula a fim de obter uma série de novos compostos semelhantes e identificar qual a contribuição obtida dessa modificação estrutural”, explica. 
      Ao longo dos anos, os pesquisadores já testaram uma série de compostos. Desses, um – que teve resposta mais positiva nos testes em laboratório – foi selecionado para os testes em animais. Ainda não há uma data específica para o início dessa nova fase do trabalho. “Trabalhamos a síntese do composto, realizando testes em células isoladas de tumor, retiradas de algum organismo. As etapas seguintes, que envolvem camundongos e, por último, seres humanos, são processos que precisam da liberação de comitê de ética e necessitam de profissionais de outras áreas. Queremos chegar a uma possível molécula que atue como medicamento. Porém sabemos que esse é um caminho longo de muitas etapas”, finaliza.


       ESTUDOS TÊM LONGO 
      CAMINHO A PERCORRER


      Coordenadora técnica e cientifica do Hospital do Câncer/ACCCOM, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, a médica oncologista Angélica Nogueira explica que a platina já é usada no tratamento da doença há algumas décadas. No entanto, destaca que ainda há no mercado a necessidade de estudos que visem ao aprimoramento dessas terapias, principalmente porque os tratamentos que existem hoje são muito tóxicos e acabam atingindo as células saudáveis dos pacientes. “Apesar dos inúmeros avanços da oncologia, ainda há muito espaço para melhorar o tratamento e também a toxicidade dos medicamentos.” 
      Segundo Angélica, o mais comum são os pacientes chegarem com a doença em estágio avançado, e por isso os resultados terapêuticos acabarem não sendo tão bons. Além disso, ela lembra a importância de cientistas se debruçarem sobre os estudos para conseguirem compostos quimicamente menos prejudiciais e que atuem em um alvo específico. “Sendo menos tóxicos para as células saudáveis, com certeza esses medicamentos são vistos com bons olhos, mas precisamos ficar com os pés no chão, já que ainda existem muitas fases a serem cumpridas nessa pesquisa”, acrescenta. 

      A oncologista mineira destaca que, para chegar ao mercado o tratamento tem que passar por muitas fases. Esses procedimentos, segundo ela, são extremamente importantes para que o medicamento tenha sua eficácia comprovada e não ofereça risco à vida dos pacientes. “Todo desenvolvimento de uma molécula, em todo o mundo, passa por uma longa série de etapas. Só depois o produto pode de fato ser comercializado. É uma questão de segurança. A pesquisa desenvolvida pela UFJF mostra que o Brasil está produzindo ciência da maneira certa, adotando todos os procedimentos necessários para que seja produzida uma medicação realmente eficaz e segura. Do ponto de vista do paciente, é preciso aguardar porque muita água pode ter que rolar até que esse estudo seja concluído”, finaliza.

      Os perigos da barriga negativa - Rebeca Ramos‏


      Moda entre famosos e sonho de consumo em academias, o abdômen extremamente enxuto pode provocar de hemorragias a enfraquecimento dos ossos 


      Rebeca Ramos
      Estado de Minas: 03/12/2012 

      Recentemente, a top model sul-africana Candice Swanepoel dividiu opiniões quando postou uma foto de seu abdômen nas redes sociais. A imagem mostrava uma barriga extremamente magra, parecida com a de pessoas desnutridas. Poucos segundos após a exibição, milhares de pessoas comentaram, ora elogiando, ora criticando, tal extremo. Ainda assim, a chamada barriga negativa não só desfilou em uma campanha de lingerie famosa como virou exemplo para outras mulheres. Não demorou muito para que uma atriz brasileira se adiantasse para exibir a magreza com foto de celular. A tendência, no entanto, pode ser muito perigosa, já que normalmente está vinculada à restrição de nutrientes na dieta.

      Segundo o endocrinologista do Hospital Maria Auxiliadora Gustavo Franklin, para chegar à barriga negativa, as mulheres precisam emagrecer muito, abrindo portas para várias doenças. “Isso pode causar alterações na tireoide, queda de cabelo e enfraquecimento dos ossos”, ressalta. A lista de prejuízos devido à deficiência nutricional é enorme. A falta de ferro, por exemplo, pode causar hemorragia gastrointestinal. Carência de niacina, de tiamina, de vitamina B1, B6 e B12 compromete o funcionamento do sistema nervoso. A ausência de zinco afeta o paladar e o olfato. 

      O sistema cardiovascular pode ter o funcionamento prejudicado quando falta ácido fólico. Já os lábios, a língua, a gengiva e as membranas mucosas são afetadas pela deficiência do ácido fólico e da vitamina C. A ausência de iodo pode aumentar a tireoide. Já a falta de vitaminas C, K e A pode aumentar as chances de sangramentos, inchaços, secura e retenção de líquido. Primordiais para a prática dos exercícios físicos, ossos e articulações são afetados quando a vitamina D não é suficiente no corpo. “Sem contar o aumento de infecções, a alteração de humor e a insônia”, relata o médico.

      Gerente de nutrição do Hospital Santa Lúcia, Mariana Gebrim ressalta que não existe uma dieta pontual para emagrecer apenas uma parte do corpo. “A perda é por um todo”, alerta. “Para chegar à barriga negativa, a pessoa se priva de nutrientes, podendo até causar uma amnorreia ou uma deficiência óssea.” Gebrim ressalta que a fórmula para manter a forma equilibradamente é a mesma: alimentação saudável e exercício físico. 

      Fórmula seguida pela professora de 34 anos Mohara Melo Guimarães. Para manter os pouco mais de 19% de gordura do corpo, a estratégia dela é ter disciplina. “Malho às 6h e depois ao meio-dia. Intercalo treinos de corrida, spinning, natação e musculação. Tento me exercitar seis vezes por semana, mas, no sábado, às vezes, eu falto”, conta. Tanto empenho, ela conta, é para poder “enfiar o pé na jaca” aos sábados e aos domingos. “Eu tomo cerveja nos fins de semana, como mandioca frita e não me privo de nada de que gosto”, conta. 

      Mohara mantém essa rotina há dois anos e ostenta um corpo sarado, digno de atletas. Aliás, vez ou outra ela compete em corridas, mas por hobby. “Fui a uma nutricionista e ela me passou uma dieta para manter meu corpo em forma para que meu treinamento renda, mas, no fim de semana, eu não me privo de nada. Eu que não vou ser infeliz para ter uma barriga negativa”, afirma.

      Mariana Gebrim destaca que o que se põe no prato pode contribuir para o movimento oposto da barriga, mais que temido por homens e mulheres. É o caso de refrigerantes e produtos diet. Como contém conservantes, estufam a barriga. Também entram na lista o repolho, a batata-doce, leite, queijos temperados, lentilha, agrião, alho, brócolis, couve, ovos, beterraba e peixe. 

      O outro cuidado é escolher alimentos que atuam ajudando o corpo a não reter líquido e evitar os obstipantes, que prendem o intestino. São eles: arroz, mandioca, goiaba, batata, amido de milho, banana-maçã, banana-prata, cará, entre outros. Quando consumir esses alimentos, a recomendação é aliá-los aos tipos laxantes, como almeirão, couve, figo, iogurte, espinafre, aveia, uva, abacate e repolho.

      De uma forma geral, os nutricionistas indicam a ingestão de alimentos com baixo índice glicêmico e fibras, além de bastante água ao longo do dia. “O importante é manter uma alimentação equilibrada. Caso contrário, a pessoa não vai emagrecer nem perder barriga”, diz. 

      Beleza em xeque 

       
      Candice Swanepoel 
      A top sul-africana de 24 anos postou, neste mês, no Twitter, uma foto de sua barriga negativa, conquistada, segundo ela, por intensas aulas de boxe, musculação, ioga e uma alimentação saudável. A maratona de exercícios era para estar sarada para o desfile do Victoria Secrets Show.

      Mariana Rios

       A atriz e cantora brasileira de 27 anos postou imagem de sua barriga dias depois de Candice e também foi criticada pela magreza. Em entrevistas anteriores, Mariana contou que tem sorte de ser magra e poder comer o que quiser, pois odeia malhar.

      TV PAGA

      ESTADO DE MINAS - 03/12/2012

      Pescaria radical
      Astro da luta livre, muito popular nos Estados Unidos, Eric Young quer mostrar que tem outras habilidades em Como peixe fora d’água (foto), que estreia hoje, às 22h, no Animal Planet. Mais conhecido como Showtime, ele vai aprender técnicas nada comuns que, afirmam os produtores da série, contrariam a associação da pesca a uma atividade tranquila. O que será que Showtime vai aprontar?!

      SescTV encerra seleção 
      de fitas de Isaac Julien


      O SescTV exibe hoje, às 23h, um programa sobre a obra Ten thousand waves, do britânico Isaac Julien, encerrando a série Videobrasil na TV. O documentário de Julien parte de um incidente trágico: a morte de 23 imigrantes chineses que trabalhavam como pescadores de moluscos, vítimas de uma tempestade que atingiu a Baía de Morecambe, no Noroeste da Inglaterra, em 2004.

      Depois da escalada, eles 
      vão saltar da montanha


      Outro documentário estreando na telinha é Holtanna, The antarctic adventure, às 23h, no canal Off. Três profissionais realizam uma expedição pela Antártida, praticando diferentes modalidades de esportes de inverno relacionados a montanhas. O maior desafio será subir o monte Holtanna e saltar de seu penhasco.

      Curtas provam a força 
      do cinema espanhol 


      No Eurochannel, a pedida de hoje é a série Eurocurtas, com quatro produções espanholas realizadas em 2010 e 2011. Em sequência, serão exibidos, a partir das 20h30, os curtas-metragens Brincando com a morte, Dançarinos, Pior impossível e Adeus papai, adeus mamãe.

      James Bond domina a
      programação do TCM


      No TCM, quem manda na área é James Bond, com a abertura da mostra que comemora os 50 anos do agente secreto britânico no cinema, começando com os clássicos 007 contra o satânico dr. No, às 22h; e Moscou contra 007, à 0h05. Na faixa das 22h, os destaques são: Se eu fosse você, no FX; Tá rindo do quê?, no Studio Universal; Brilho eterno de uma mente sem lembranças, no Cinemax; Premonições, na MGM; O amor acontece, no Megapix; Conflito das águas, no Max HD; Atraídos pelo crime, no Max Prime; Os imortais, no Telecine Premium; e Monty Python – O sentido da vida, no Telecine Cult. Outras atrações da programação: Hancock, às 20h, no Universal; e Lembranças de Hollywood, às 21h, no Comedy Central.

      Liquidus Ambiento faz 
      show hoje no SescTV


      No Canal Brasil, além do documentário Solidão e fé, às 22h, o destaque é o último episódio de Matador de passarinho, à meia-noite, com o cantor e compositor Rogério Skylab entrevista um convidado muito especial: ele mesmo. Mas cedo, às 18h45, a harpista Cristina Braga mostra sua arte no Estúdio 66 e, às 21h30, em Espelho, Lázaro Ramos recebe o cantor, compositor e escritor Jorge Mautner. No SescTV, às 22h, tem show do octeto Liquidus Ambiento, com um som que vai do jazz à música eletrônica.

      Entrevista da 2ª Fernando Henrique Cardoso


      ENTREVISTA DA 2ª FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
      'Aécio deve se lançar já ao Planalto', diz FHC
      Para ex-presidente, PSDB precisa de 'autocrítica' para afinar discurso de 2014
      Folha de São PauloFERNANDO RODRIGUESDE BRASÍLIAO ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acha que o pré-candidato tucano ao Planalto em 2014, o senador mineiro Aécio Neves, deve antecipar seu discurso e se assumir já como postulante ao cargo.
      Em entrevista à Folha e ao UOL na última sexta-feira, o tucano disse: "Eu acho que nossos políticos precisam voltar a tomar partido em bola dividida. A busca das coisas consensuais mata a política".
      Aécio deve dizer agora que é candidato? "A ideia de que você precisa esperar, porque vai ser desgastado, não adianta."
      Joaquim Barbosa, presidente do STF, "tem bom senso" e "não entra nessa" de se candidatar ao Planalto. "Porque é outro caminho, não é o dele." Seria um "erro".
      FHC reconhece que, no momento, é natural ganhar força a percepção geral de que o Estado precisa socorrer a economia. Só que, com crise externa, "os que estão no governo passaram a ter uma espécie de perdão para utilizar recursos públicos para reativar a economia".
      O crescimento do PIB não é algo que dependa só do presidente da República. "Mas como puseram na campanha que ela [Dilma Roussef] era a boa administradora, o mau desempenho da máquina, que não dependeu dela, vai cair na cabeça dela."
      Para o tucano, falta a Dilma um "brilho" na administração. "Não conseguiu ainda organizar. Não se sabe nem o nome dos ministros. Está uma coisa meio opaca."
      Sobre o mensalão, disse sentir por algumas condenações, como as de José Genoino e de José Dirceu. "Eles não foram condenados pelo que eles são. Mas pelo que fizeram (...) Acho um episódio triste. Essa gente ajudou muito o Brasil no passado."
      De Luiz Inácio Lula da Silva, que o sucedeu no Planalto, FHC condena a atitude complacente. "A leniência não quer dizer que participou, nem estou acusando. É que não reclamou."
      Aos 81 anos, o tucano faz musculação três vezes por semana. Bebe vinho e uísque. "Durmo bem. Eu gosto da vida, gosto das pessoas." Está namorando? "Eu estou. Mas não é meio ridículo? Namorar com 81 anos? Não pode."
      A seguir, trechos da entrevista.
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      Folha/UOL - A crise econômico-financeira internacional colocou na defensiva as ideias liberais. Essa onda muda a abordagem de partidos como o PSDB?
      Fernando Henrique Cardoso - Os que estão no governo passaram a ter uma espécie de perdão para utilizar recursos públicos para reativar a economia.
      O PSDB nunca foi um partido que tivesse muito amor pelo mercado. Como todos os partidos brasileiros, as pessoas gostam mesmo é de governo, é de Estado. Isso desde Portugal, da Península Ibérica. O grande ator, querido, é o governo.
      É natural haver essa percepção de que o Estado precisa voltar a socorrer todo mundo?
      Enquanto estivermos nessa conjuntura atual, sim. Mas isso muda.
      O PSDB nasceu de centro-esquerda. Em eleições recentes, abordou temas morais e religiosos. Deslocou-se para a centro-direita. Por quê?
      Por engano eleitoral. Esses temas são delicados. Acho que você tem que manter a convicção. Você pode ganhar, pode perder. Em termos de comportamento e de valores morais, o PSDB tem que se manter progressista. Quando não se mantém, não tem o meu apoio. Eu não vou nessa direção.
      O sr. tem dito que o PSDB tem que se aproximar mais "do povo". Como fará isso?
      Os partidos, por causa de uma mudança tão rápida no Brasil, ainda continuam com uma visão de sociedade anterior à atual. A atual é essa do UOL, da pessoa que fica aí navegando o tempo todo, que tem informação fragmentada. Minha tese é a seguinte: é preciso ouvir. Não é pregar. É ouvir. É reconectar com o que está acontecendo com o país.
      Por exemplo?
      Esse Brasil novo não quer dizer que ele seja igual ao que foi o do passado. Que vai ser todo mundo da classe média, um conceito que confunde.
      Veja essa última novela da Globo, "Avenida Brasil". Coloca uma temática do que se imaginava que eram os emergentes. Eles têm uma identidade forte com o lugar de origem. Olham até com suspeita a chamada Zona Sul. Como diria o Elio [Gaspari], o andar de cima. Mas o andar de baixo subiu. Está não se sabe bem onde.
      Como é a capacidade gerencial do atual governo?
      Alguém me perguntou a respeito de o PIB ter crescido pouco: 'Isso quer dizer que a presidente Dilma é má administradora?'. Não. O PIB cresceu pouco por mil razões. O erro, que eu acho que houve, é que o governo se colou ao PIB. Não precisava. Não acho que se deva colar na presidente Dilma [a queda do PIB]. Ela é que pode se colar nisso. Aí fica mal para ela.
      O PIB afeta a eleição?
      Se não houver desemprego, a população não sente. Na campanha, para viabilizar a candidatura da presidente Dilma, ela foi apresentada como grande gestora. Responsável pelo que acontece no país. Não há mais isso. Hoje a gestão depende da máquina. Mas como puseram na campanha, o mau desempenho da máquina, que não dependeu dela, mas de um sistema, vai cair na cabeça dela.
      Esse discurso é bom para a oposição?
      A governança está falha. Mas campanha é outra coisa. Isso [falar da governança] pega quem? Por enquanto, não pega o povo.
      Há um escândalo novo que envolve uma ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. Por que esse tipo de escândalo ocorre com tanta frequência?
      A cultura tradicional brasileira é patrimonialista. Nunca vou negar que Lula deu algumas contribuições importantes ao Brasil. Mas houve uma regressão patrimonialista. Aceitar como normal a transgressão. Na cabeça deles não é transgressão. Esse último episódio é uma consequência de uma coisa mais geral.
      O sr. conviveu com alguns dos réus que foram condenados no mensalão. José Genoino, José Dirceu. O que o sr. achou dessas condenações?
      Eles não foram condenados pelo que eles são. Mas pelo que eles fizeram. Uma coisa é você ser um bom homem. De repente, eu fico com raiva, dei um tiro e matei alguém. O que eu vou fazer? Vou para a cadeia.
      Nunca vi nada do Genoino. É uma pessoa bastante razoável. O José Dirceu é um quadro. Eu respeito as pessoas que têm qualidade de quadro. Acho um episódio triste. Porque essa gente ajudou muito o Brasil no passado.
      O PSDB está com o discurso afinado para 2014?
      Não. Falta o que na esquerda costuma-se dizer "fazer a autocrítica".
      Quem serão os candidatos em 2014?
      Hoje, você tem o Aécio [Neves], a presidente Dilma, eventualmente, Eduardo Campos [governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB] e Marina [Silva, que foi candidata em 2010, pelo PV].
      Joaquim Barbosa, do STF?
      Eu acho que ele tem bom senso. Não! [risos] Eu acho que ele tem juízo, não entra nessa, não. Porque é outro caminho, não é o dele. Aí é erro.
      No PSDB, Aécio é consenso?
      O PSDB tem que se habituar à prévia. Se não houver combatentes... Será.
      José Serra?
      Ele pode, de repente, ser candidato. Neste momento, eu diria que não é a tendência. Ele poderia preencher um papel grande, político e social. Escrevendo, pregando, fazendo conferência.
      Aécio deveria acelerar a busca do discurso? Está na hora?
      Acho. [Deve] assumir mais publicamente posições. Falar, fazer conferência, viajar. Nossos políticos precisam voltar a tomar partido em bola dividida. A busca das coisas consensuais mata a política. E mesmo se for o caso de ser candidato, que diga que é. Acho que ele deve assumir.
      Como está a saúde?
      Está boa.
      Algum cuidado especial?
      Gostar da vida. Das pessoas. Faço um pouco de exercício, musculação. Como bem e não muito. Bebo vinho. Não muito. E, às vezes, uísque, mas raramente. E durmo bem.
      Está namorando?
      Isso é o que dizem por aí. Mas dizem tanto, que eu acabo acreditando [risos].
      Mas está ou não?
      Eu estou. Mas não estou dizendo que acabo acreditando? Mas não é meio ridículo? Namorar com 81 anos? Não pode.
      Por quê?
      No meu caso, eu não penso que eu tenho 81 anos. Então vai [risos].

        Arranha-céus - Marcos Augusto Gonçalves


        Arranha-céus
        Construir "espigões" passou a ser politicamente incorreto. Igual plantar eucalipto
        Folha de São Paulo
        Faz um dia radioso e aqui estou eu, no alto do edifício Martinelli, esquina da rua Libero Badaró com a velha ladeira de São João, sobre a colina que se ergue entre os vales do Anhangabaú e Tamanduateí -o coração de São Paulo. São Bento, rua 15, rua Direita, sente-se neste belo pedaço de cidade a espessura histórica da vila dos jesuítas que se transformou em capital do café, metrópole industrial e centro financeiro.
        Foi ali que um imigrante italiano, Giuseppe Martinelli, deu início, em 1924, à construção do arranha-céu, idealizado para ser o primeiro do Brasil e o "maior da América do Sul" -como diziam os jornais à época.
        O prédio, projetado pelo arquiteto húngaro William Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena, foi concluído em 1929. Naquela época tocava-se no Rio um empreendimento semelhante, o edifício A Noite, na região portuária -obra do francês Joseph Gire e do brasileiro Elisiário da Cunha Bahiana. O arranha-céu carioca, que vai ser restaurado, apareceu recentemente na imprensa como "o primeiro da América Latina". Fiquei surpreso. O Martinelli, então, teria vindo depois?
        Eis que, coincidentemente, encontro em São Paulo, o artista plástico Robero Cabot, na galeria Nara Roesler, onde ele participa de uma mostra inspirada na "op art", com curadoria de Vik Muniz. Muito boa, por sinal. Meu caro Cabot é bisneto de Gire e coordena o projeto de um livro sobre a obra do arquiteto no contexto arquitetônico da época.
        Ele me diz que o arranha-céu carioca foi, na realidade, inaugurado depois do paulistano. "Tudo indica que foi em 1930. Pelo menos em 1929, não foi. Tenho cartas de meu avô, de 29, reclamando do andamento das obras".
        Consta que Martinelli e Gire competiram ao longo da construção e que o italiano teria mandado fazer sua casa na cobertura do prédio para torná-lo o mais alto do país, suplantando o rival do Rio.
        Ano a mais, ano a menos, andar a mais, andar a menos, o fato é que o Martinelli e o A Noite são marcos arquitetônicos do nascente processo de verticalização pelo qual passariam as duas grandes cidades nos anos seguintes, a exemplo do que já ocorria em outros lugares do mundo, a começar pelos Estados Unidos, os inventores do "skycraper".
        Curiosamente, de décadas para cá, foi-se consagrando a ideia de que a verticalização é um mal. Construir "espigões" passou a ser politicamente incorreto. Igual plantar eucalipto. Não há dúvida de que a anarquia e a truculência da especulação imobiliária estimularam essa reação, no fundo sentimental e nostálgica.
        Está claro, hoje, que é preciso verticalizar de maneira planejada. Como aproveitar a infraestrutura do centro expandido para ampliar oferta de moradia? O movimento de empurrar populações de baixa renda para as periferias tem que ser invertido, e isso não vai acontecer com a construção de casinhas. Avenidas como a Rio Branco, por exemplo, poderiam ser mais verticalizadas.
        São Paulo está mudando. A metrópole fabril dá lugar à de serviços e as ruínas da industrialização são a base para construção da nova cidade. Há boa oportunidade para propostas inteligentes e ambiciosas, que pensem no entorno, na oferta de comércio e na convivência de pessoas de renda e classes diferentes.
        A boa notícia é que esses projetos já existem e são grandes as chances de que venham a ser implantados nos próximos anos.