terça-feira, 9 de abril de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

AyresBritto: 'Controle externo é antessala da censura'

O Globo - 09/04/2013

Ex-presidente do STF recebe o prêmio Liberdade de Imprensa

Flávio Ilha

PORTO ALEGRE Ayres Britto, expresidente do Supremo Tribunal Federal, criticou ontem em Porto Alegre as iniciativas de criação de um conselho externo para monitorar as atividades da imprensa. Segundo Ayres, que recebeu o prêmio Liberdade de Imprensa concedido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), a criação de um organismo externo de regulação configuraria a "antessala da censura prévia".

O prêmio foi entregue na sessão de abertura do 26º Fórum da Liberdade, promovido pelo IEE. Ayres explicou que qualquer proposta nesse sentido teria de ser considerada inconstitucional, porque a imprensa livre é um "elemento conceitual" da democracia.

- A imprensa só pode ser controlada por ela mesma, só pode ser avaliada criticamente por ela, assim como ocorreu com o Judiciário a partir da criação do CNJ, ou por meio de controle difuso do consumidor da informação. Estou convencido de que caminharemos naturalmente para a criação de um mecanismo de controle e regulação internos - disse o ex-ministro.

João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, também foi homenageado com o prêmio Libertas - Empresário de Comunicação, concedido a empreendedores que se destacam no mercado pela valorização dos princípios da livre iniciativa e do estado democrático. O prêmio foi entregue pelo empresário Jorge Gerdau.

Marinho destacou que o discurso da regulação externa da imprensa tem por trás não uma intenção de censura, mas uma tentativa de enfraquecimento dos grupos empresariais de mídia, como forma de torná-las "dependentes economicamente" do Estado.

- Relutei em aceitar a homenagem porque acho que nós, jornalistas, é que devemos saudar quem defende a liberdade de imprensa. Mas achei que esta poderia ser uma noite didática para falar do tema, na medida em que há determinadas minorias tentando nos desestabilizar. Tenho plena confiança em nossas instituições na defesa desse princípio constitucional - afirmou João Roberto Marinho.

Ele saudou Ayres Britto por ter sido o relator do processo no STF que determinou, em 2009, o fim da Lei de Imprensa criada no regime militar.

O presidente do Instituto de Estudos Empresariais, Michel Gralha, destacou que é difícil lutar pela liberdade no país devido à cultura paternalista de que o Estado pode e deve interferir na vida dos cidadãos.

Faca de dois gumes - Michael Kepp

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Testemunhas que registraram um crime nos seus celulares podem ser acusadas de cúmplices
MUITAS pessoas usam smartphones para documentar o cotidiano, mas algumas dão um passo além: criam diários públicos explícitos postando fotos, vídeos e tuítes na rede. Mas essa superexposição pode acabar sendo um tiro no pé.
Um caso recente de tal efeito colateral: as provas usadas para condenar dois estudantes americanos pelo estupro de uma garota de 16 anos -bêbada e inconsciente, numa festa- foram fotos e vídeos do crime que eles e testemunhas, usando smartphones, postaram na internet, além de tuítes como "a canção da noite é 'Rape Me', do Nirvana".
Antes que os tuítes, as fotos e os vídeos pudessem ser deletados, uma blogueira que escreve sobre crimes os postou em seu site, forçando a polícia a investigar mais a fundo uma acusação para a qual até então faltavam provas.
Quando os estupradores, astros do time de futebol americano do colégio, foram condenados, duas colegas deles mandaram ameaças de morte à vítima pelo Twitter, evidência que foi usada para prendê-las. E 16 testemunhas que registraram o crime também podem ser acusadas como cúmplices. Cada uma delas usou celular e redes sociais para dar um tiro no próprio pé.
Brasileiros estão fazendo a mesma coisa. Um traficante carioca de 18 anos foi preso em outubro depois de postar no Facebook fotos em que posa com armas pesadas e revela ser membro da facção Comando Vermelho.
No mesmo mês, um jovem preso no Rio usou a rede social para publicar imagens de sua rotina na cadeia. Resultado: seu smartphone foi apreendido.
Em 2012, um carioca roubou um celular e o usou para tirar fotos dele mesmo. As fotos foram enviadas automaticamente ao e-mail da vítima do roubo, que reconheceu o ladrão e chamou a polícia.
O smartphone é o canivete suíço da nova geração: um aparelho de múltiplas utilidades, compacto e atraente. Mas é uma faca de dois gumes. Seu perigo sedutor me lembra do que aconteceu em 1987, quando catadores de um ferro-velho em Goiânia encontraram um aparelho de radioterapia numa clínica abandonada.
Depois de abrirem uma cápsula contendo cloreto de césio 137, um sal radiativo, os catadores e seus familiares brincaram com o pó da cápsula, que emitia um brilho azulado. Dos 49 contaminados e hospitalizados, quatro morreram.
Moral da tragédia (e dos crimes difundidos por smartphones): "Nem tudo que reluz é ouro".
MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 30 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos - Crônicas de um Gringo Brasileiro" (Record)

Sob o domínio do inconsciente

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O modo 'piloto automático' rege nosso comportamento e quase todas as áreas da vida, reforça novo livro sobre os últimos estudos da neurociência
LILIANE ORAGGIOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHASubliminar é o termo para qualificar ações, informações e sentimentos que ocorrem abaixo do limite da consciência e é também o título do novo livro do físico americano Leonard Mlodinow.
Nesse novo best-seller, o autor de "O Andar do Bêbado" reúne pesquisas para atestar que até as escolhas e decisões que nos parecem mais objetivas são forjadas no inconsciente. Mais que isso, ele incita o leitor a dar mais crédito aos pressentimentos que surgem do "lado escuro da mente".
"Ex" lado escuro, melhor dizer. Na visão do físico, as tecnologias que permitem o mapeamento do cérebro -vivo e em funcionamento- estão mudando a compreensão sobre a atividade que ocorre abaixo da consciência.
A existência de uma vida inconsciente paralela e poderosa não é novidade há mais de um século. A novidade é que agora ela pode ser medida "com algum grau de precisão", como diz Mlodinow, que vê aí uma nova "ciência do inconsciente".
Para a maioria dos mortais, é difícil admitir que o inconsciente está no comando. "Somos tão frágeis que precisamos inventar justificativas lógicas para as escolhas", afirma o analista junguiano Roberto Gambini, de São Paulo.
"O melhor é aceitar que o consciente é permeado pelo inconsciente. E haverá sempre uma parte que vai permanecer misteriosa. Nem toda a tecnologia é capaz de mudar isso. Mas é possível diluir essas fronteiras e colocar essa capacidade de perceber o subliminar a nosso favor, quando prestamos atenção aos sonhos ou dedicamos um tempo para meditar."
PALPITES
Cientistas que dirigem as pesquisas de ponta consideram que o "novo inconsciente" é totalmente enraizado em funções orgânicas e essa seria a chave para compreender as emoções humanas.
Não há consenso sobre isso, naturalmente: "É absurdo pensar que entender as funções cerebrais é suficiente para lidar com os sentimentos", diz Lídia Aratangy, psicanalista formada em biologia médica.
Em um ponto os "psis" e o físico concordam: "O inconsciente é otimista", diz Mlodinow. "Ele nos torna mais completos e aptos para seguir na evolução da consciência", acredita Gambini. Aratangy completa: "Reconhecer os palpites do inconsciente pode nos ajudar a fazer escolhas melhores".

    'Todos os nossos julgamentos são afetados por motivações subliminares'
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHADoutor em física e matemática, o americano Leonard Mlodinow se interessa pela mente humana e pelo acaso. Além de ensinar teoria da aleatoriedade no Instituto de Tecnologia da Califórnia, ele já escreveu roteiros para séries de TV como "MacGyver" e "Jornada nas Estrelas" e livros de divulgação científica que viraram best-sellers.
    Foi assim nos casos de "O Andar do Bêbado" e "Uma Nova História do Tempo" -esse em parceria com Stephen Hawking. Em "Subliminar" (Ed. Zahar), lançado neste mês no Brasil, Mlodinow, 59, reúne dezenas de experimentos para dizer que somos comandados por dois cérebros: o consciente, que responde por 5% da capacidade cognitiva, e o inconsciente, que dá conta dos outros 95%. Os dois cérebros atuam juntos para garantir desde a mais básica sobrevivência até a escolha de um bom vinho. Nesta entrevista por e-mail, o autor tenta explicar como aquilo que não percebemos afeta as nossas escolhas.
    Folha - Como o inconsciente comanda nossa vida?
    Leonard Mlodinow - O inconsciente governa o nosso coração, os movimentos, a visão e a audição e nos permite andar, falar e reagir sem parar para pensar a cada palavra ou movimento. Só os humanos têm essa capacidade bem desenvolvida, e os cientistas não sabem por que é assim. Todos os julgamentos são afetados por sentimentos que não percebemos.
    O senhor diz no livro que processos como percepção ou julgamento são comandados por estruturas cerebrais separadas da consciência. Como sabemos isso?
    Por meio dos recentes avanços da neurociência nós sabemos que essas estruturas são inerentes à mente inconsciente e inacessíveis à mente consciente. Estão conectadas e todo o trabalho é feito em conjunto para criar uma experiência da realidade em termos físicos e em termos das relações sociais.
    Pode dar um exemplo de como a razão sai de campo na hora das decisões?
    Em um estudo feito em um supermercado da Inglaterra, dispuseram nas prateleiras vinhos franceses e vinhos alemães. Música francesa e alemã eram alternadas no alto-falante. Nos dias com trilha sonora francesa, 77% dos vinhos escolhidos eram franceses; nos dias de hits germânicos, 73% das garrafas vendidas eram da Alemanha. Mas só um em cada sete consumidores declarou ter sido influenciado pelo som.
    E na hora de escolher parceiro, o inconsciente comanda?
    Isso é um pouco mais complicado. Existem elementos sutis. Por exemplo, o rosto ou a voz da pessoa nos parecem familiares. Pode ser um sorriso ou músculos bem torneados. Experimentos mostram que o nome de uma pessoa pode influenciar o coração, caso ele combine com o nosso. Em questões financeiras também acontece: em Wall Street, ações com nomes fáceis de pronunciar são mais procuradas por investidores.
    Assumir que somos guiados pelo subliminar nos torna mais ou menos lúcidos?
    Quanto mais compreendermos as motivações subliminares, melhor nossa mente consciente poderá fazer julgamentos acertados.
    De que maneira a compreensão da fisiologia do cérebro ajuda a lidar com medo, raiva?
    Quando encontro algo perigoso no ambiente -um animal feroz, uma pessoa agressiva- imediatamente isso é registrado pelo inconsciente e o corpo responde com mudanças no nível de adrenalina ou na pulsação.
    Essa resposta acontece em grande parte na região do cérebro chamada amígdala. A mente consciente percebe a resposta corporal um ou dois segundos depois e leva isso em conta para interpretar o que está acontecendo. Depois disso percebemos que estamos sentindo é medo. Com a raiva é semelhante. Outras emoções menos primárias como angústia ou embaraço funcionam de um modo um pouco mais complicado -mas, basicamente, é o mesmo mecanismo.
    Essa maneira de sentir é útil para tomar a atitude necessária rapidamente, deixando para pensar sobre o ocorrido depois.
    O senhor diz que não choramos porque nos sentimos tristes, mas, ao contrário: tomamos ciência de que estamos tristes porque choramos. Fingir um sorriso pode, de fato, despertar um estado feliz?
    Há muito tempo os professores de ioga dizem: "Acalme seu corpo, acalme sua mente". A neurociência social, agora, dá evidências disso. De fato, estudos sugerem que assumir o estado físico de alguém feliz pode fazer você se sentir mais feliz.
    Nessa era do 'novo inconsciente', o divã nada pode?
    Tanta gente faz anos de psicanálise e não chega a lugar algum. Claro, Freud teve o mérito de ter descoberto o inconsciente usando métodos imprecisos, o que produziu um conhecimento difuso, mas, mesmo assim, a origem das emoções permaneceu obscura. Hoje, o intercâmbio entre neurociência e psicologia experimental e os avanços da tecnologia nos permitem, pela primeira vez, construir uma ciência do inconsciente.

      TRECHOS
      Se você quer entender o mundo social, se quer mesmo entender a si e aos outros e deseja ser capaz de superar muitos obstáculos que o impedem de viver uma vida plena e mais rica, precisa entender a influência do mundo subliminar que se esconde em cada um de nós.
      A noção de que não estamos cientes da causa de parte do nosso comportamento é difícil de aceitar. Embora Freud e seguidores acreditassem nisso, entre os cientistas, até há pouco, a ideia de que o inconsciente é importante para o comportamento era descartada como psicologia popular.
      O inconsciente divisado por Freud, nas palavras de um grupo de neurocientistas, era "quente e úmido: fervilhava de ira e luxúria; era alucinatório, primitivo e irracional", enquanto o novo inconsciente é "mais delicado e gentil que isso e está mais ligado à realidade". Nessa nova visão, os processos mentais são considerados inconscientes porque há parcelas da mente inacessíveis ao consciente por causa da arquitetura do cérebro, não por estarem sujeitas a formas motivacionais, como a repressão. A inacessibilidade do novo inconsciente não é vista como um mecanismo de defesa ou como algo não saudável. É considerada normal.
      A mosca-das-frutas e a tartaruga estão no nível mais baixo na escala de potência cerebral, mas o papel do processamento automático não se limita a essas criaturas primitivas. Os seres humanos também desempenham inúmeros comportamentos automáticos, mas tendem a não perceber isso porque a interação entre nossa mente inconsciente e a consciente é muito complexa.

        OPINIÃO
        Escreveu, não leu...
        O conceito freudiano de inconsciente é alvo especial de 'achismo'
        FRANCISCO DAUDTCOLUNISTA DA FOLHATodas as grandes figuras do pensamento geram uma mitologia em torno do que escreveram e são citadas de maneira impressionista por aqueles que não as leram.
        Freud parece ter um lugar de destaque nessa galeria. Desperta ódio entre feministas e preconceitos variados.Mas há conceitos seus que são alvos especiais do "achismo" baseado no ouvir falar, entre eles o do inconsciente. Enquanto a coisa se dá como palpite de botequim, a liberdade de expressão a protege. Mas, quando a distorção sai escrita por "sábios", aí é preciso dizer umas coisas em nome do velho professor.
        Eu sei como termina a frase do título, mas ouvi um final mais engraçado para ela: "Escreveu, não leu... é analfabeto funcional". Tal condição poderia se aplicar a quem escreve que o inconsciente descrito por Freud é lúgubre e doentio. Ou a quem escreve, como se fosse novidade, que 90% do que fazemos não se origina na consciência.
        Ora, Freud nos descreveu como alguém montado a cavalo (o cavalo seria o inconsciente). O cavaleiro pode ter a impressão de que está no comando, mas é frequente que o cavalo tenha ideias próprias e a direção mude. Ele descreveu três instâncias para além do que percebemos de forma consciente:
        1. O grande oceano inconsciente do "id" (a boa tradução do alemão "das es" seria "algo em nós", como na frase "algo em mim me diz que..."), onde mora o motor de nossos atos chamado "desejo", emaranhado de memórias com instintos animais primitivos cuja maior ordem é procriar (daí dizerem que Freud só pensava "naquilo").
        2. O inconsciente reprimido pelo superego (programa que nos critica e censura, além de estabelecer ideais inalcançáveis se alimentado por nossa criação nesse sentido), onde moram impulsos considerados proibidos. Exemplo: o desejo exibicionista, que faz parte do sexual, pode ser visto como errado e virar timidez. Esse inconsciente, sim, é causador de doenças, pois a timidez pode se tornar fobia social.
        3. O pré-consciente. Esse guarda memórias e percepções que não estão na tela consciente no momento, mas podem entrar nela. Exemplo: o que você comeu no jantar? Agora que perguntei, a memória saiu do pré-consciente e se tornou consciente. Mulheres costumam levá-lo a sério, são capazes de dizer "ele está me traindo" porque perceberam que o marido saiu com um nó duplo na gravata e voltou com um nó simples ("em algum momento ele tirou a roupa"). É o mesmo que nos diz para não comprar carro usado de certos ministros de Minas e Energia, só de olhar para a cara deles.
        Portanto, se vai publicar algo sério sobre alguém, é melhor ler antes.
        FRANCISCO DAUDT é psicanalista e médico

          Cada um com seu inconsciente
          Pesquisadores do mundo subliminar
          WILLIAM CARPENTER (1813-1885)
          Fisiologista britânico, ele percebeu que "dois trens" distintos de ação mental operam ao mesmo tempo, um de forma consciente, outro de forma inconsciente. Escreveu que ações automáticas e inconscientes desempenham papel fundamental em todos os processos mentais, princípio seguido até hoje por pesquisadores
          CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914)
          Matemático e filósofo americano, foi responsável pela 1ª demonstração científica de que a parte inconsciente da mente desenvolve conhecimentos que a consciência ignora. Fundou o pragmatismo
          SIGMUND FREUD (1856-1939)
          Neurologista austríaco, o pai da psicanálise popularizou o conceito de inconsciente. Segundo ele, o comportamento é regido por pulsões e formações do inconsciente, região que guarda memórias, necessidades e desejos reprimidos
          CARL GUSTAV JUNG (1875-1961)
          Médico psiquiatra suíço, foi discípulo de Freud, mas rompeu com o mestre e fundou a chamada "psicologia analítica". Considerou a existência de um "inconsciente coletivo" formado por sonhos, símbolos e mitos que transcenderiam o tempo e as culturas e seriam expressões da alma humana. Formulou o conceito de sincronicidade, isto é, um tipo de coincidência que ganha um significado especial para a pessoa a ponto de mudar suas escolhas conscientes

            Em todos os sentidos

            folha de são paulo

            Em Campinas, jardim sensorial aberto ao público a partir de hoje usa sons, cheiros, texturas e cores para criar experiências que vão do desconforto ao prazer
            IARA BIDERMANDE SÃO PAULOUm jardim feito para provocar não só os sentidos, mas também as emoções -das quase desagradáveis às mais prazerosas- foi aberto hoje no interior de São Paulo.
            O projeto, que faz parte das celebrações dos 38 anos da Ceasa Campinas, é do paisagista Raul Cânovas. Seu criador pretende ir mais fundo na ideia de jardim sensorial.
            "Normalmente o que você encontra é aquela história dos cheiros: colocam manjericão, tomilho e orégano. Mas isso é pouco, é quase uma horta. Eu quis colocar, além dos aromas, texturas, sons, sensações espaciais. E significado. Um jardim para quê?", pergunta Cânovas.
            A resposta, segundo o paisagista, é criar um espaço para o visitante descobrir como encontrar alívio físico e espiritual na natureza. E abrir o leque de opções para as pessoas apreciarem um jardim: quem não vê toca, cheira, escuta; quem não ouve olha, mexe, experimenta.
            Mas quem está esperando um jardim "bonitinho e arrumadinho" vai se decepcionar. Um ambiente com todos os componentes relaxantes de praxe (luz, música e aromas sempre suaves, objetos macios e confortáveis) também não está no programa.
            PRETO, PEDRA E LIXA
            A entrada do jardim dos sentidos é provocativa: a cor predominante é o preto, o piso é de pedra britada e carvão e há biombos revestidos com papel de lixa.
            Ali foram colocadas plantas com folhagem escura, puxando para o tom de vinho, e berinjelas (pretas, um pouco amargas). O aroma é algo parecido com arruda, "um cheiro que não é dos mais simpáticos", segundo o paisagista.
            A escolha de estímulos desagradáveis é proposital. "O começo é quase lúgubre, é para a pessoa passar e não se sentir bem, para depois ir entrando em espaços gradativamente mais agradáveis", diz Cânovas.
            Esse trecho do jardim, com cerca de três metros de comprimento, tem caminhos amplos (para facilitar a passagem de cadeirantes), mas todos são retos e com ângulos acentuados. "A linha reta fere como uma faca", na opinião do paisagista.
            O passeio então começa a se tornar mais suave. Surgem algumas curvas e um pouco mais de luz. É o espaço de transição.
            Os pilares e os vasos, que na entrada eram pretos, ganham um tom amarelo-esverdeado. O ambiente é composto por uvas e hera. O aroma faz a pessoa se sentir melhor, sem ser doce. É um cheiro como o do limão, que dá a sensação de limpeza e frescor.
            CURVAS E LUZ
            A sequência serve para aumentar o impacto sensorial do terceiro e último trecho do jardim. Nessa parte, o deslocamento dos visitantes é feito por caminhos curvos, fluidos como água e vento. A luminosidade é total: as colunas são brancas, e os biombos, revestidos com cascas claras e macias de árvore, agradáveis ao toque.
            Em meio à folhagem de um verde bem claro estão alguns nabos brancos e muitas margaridas. O aroma é doce, floral, e a trilha sonora é de música barroca.
            Fecha-se o ciclo do jardim sensorial. "O espaço desperta emoções, no início contraditórias, e então as equilibra. Isso tem um efeito terapêutico: acalma a pessoa muito agitada, anima aquela mais deprimida", afirma Cânovas.
            SERVIÇO
            ONDE: Ceasa Campinas rodovia D. Pedro I, km 140,5, Campinas, SP
            QUANDO: 9/4 a 13/4
            HORÁRIOS: 13h às 16h (terça e quinta); 8h às 16h (quarta e sábado); 8h às 12h30 (domingo)
            VISITAS MONITORADAS: agendamento pelo telefone 0/xx/19/3746-1047

              Maria Esther Maciel - Uma tarde no parque‏


              Estado de Minas: 09/04/2013 


              Ainda fora do Brasil, mas já nos últimos dias da temporada de pesquisa em Paris, entro num dos parques da cidade, para pensar na vida e observar o que se passa ao redor. É uma tarde de sol ralo, mas luminoso. O frio está menos intenso que nos dias anteriores e, graças a esse clima favorável, parece que todo mundo saiu para aproveitar o domingo. O parque está lotado. E a primeira coisa que me chama a atenção é a quantidade de gente sentada em cadeiras enfileiradas diante de um lago, tomando sol. Nas ruas e avenidas que dão acesso aos jardins do parque, os cafés fervilham, as filas diante das sorveterias se alongam, as bicicletas circulam de forma mais explícita por todo lado.

              Sento-me num dos bancos de madeira do parque, perto da estátua branca de uma rainha francesa. Logo aparece um pombo de pescoço esverdeado, que cata alguma coisa no chão e sai. Meus olhos se voltam, então, para uma menina que passa ao lado, ligeira, num patinete. Ela usa uma boina vermelha e tem as faces coradas. Parece uma Chapeuzinho Vermelho dos nossos tempos. Fico imaginando o nome que ela teria: Pauline, Michelle, Anne, Julie? Ou seria Isabelle? Gosto desse exercício de tentar adivinhar os nomes das pessoas que passam. Cada rosto pede um nome diferente. O senhor de cabelos brancos e desgrenhados que atravessa uma das vias do parque à esquerda, por exemplo, tem cara de Jean-François. A mulher morena que vem imediatamente atrás dele poderia se chamar Albertine ou Justine. E o atleta de camisa alaranjada, calção preto e meias da mesma cor até as coxas, que corre com fones de ouvido? Talvez se chame Jean Pierre.

              Olho para a direita e vejo um homem tirando fotos de uma menininha, presumivelmente sua filha, diante de uma outra estátua branca de mulher. Assim que eles se afastam, vou até lá conferir o nome da escultura. É de Santa Genoveva, padroeira de Paris. Perto da estátua, sentado num banco, um moço magro, de cabelos pretos e capa longa, lê um livro. Parece um poeta romântico, desses bem atormentados por causa de um amor não correspondido ou perdido. Lembro-me, então, do nome curioso de um chá que encontrei há poucos dias numa loja: Chá dos poetas solitários. Comprei-o pelo nome, mas só pretendo experimentá-lo no momento propício. Deve ser bom para a inspiração.

              E por falar em nomes interessantes, há vários pela cidade designando estabelecimentos comerciais. Quem gosta de cães, por exemplo, pode ir ao bistrô O cachorro que fuma. Os afeitos ao vinho podem jantar em O Vinho que dança ou O Vinho que canta. Os homens com muita autoconfiança (ou não) devem frequentar o restaurante O homem decidido. E às pessoas meio perdidas, é recomendável almoçar no Ao sul de coisa alguma. Para quem quer comprar coisas bem baratas, basta procurar o bazar chamado Três vezes nada. A sapataria certa para os malucos e alternativos é, sem dúvida, a que se chama O antissapato. Já para quem gosta de livros, uma livraria interessante é O olho escuta. E assim por diante.

              De devaneio em devaneio, nem vejo o tempo passar. Um vento frio começa a incomodar o rosto. Olho para o relógio: são quase 18h. Um pombo pousa no meu banco, em silêncio. Não consigo imaginar um nome para ele.

              TV PAGA


              Estado de Minas - 09/04/2013

              Entrando numa fria

              A Coquihalla, chamada por muitos de “o Triângulo das Bermudas de caminhões”, é uma das estradas mais perigosas do mundo. Com uma extensão de mais de 100 quilômetros ao longo do coração das montanhas de Cascade, no Canadá, a Coquihalla é uma combinação letal de condições climáticas impossíveis, encostas íngremes e falésias, e os veículos que a cruzam em alta velocidade. É o que vai mostrar a série Estrada da morte (foto), que estreia hoje, às 22h15, no NatGeo.


              Melhor tatuador vai
              ganhar US$ 100 mil

              Na truTV, a grande novidade de hoje é a estreia da nova temporada de Ink master, às 22h20. Apresentado pelo roqueiro Dave Navarro, com a participação dos jurados Chris Nuñez (ex-integrante de Miami ink) e Oliver Peck, a competição vai premiar o tatuador mais criativo com U$ 100 mil. Dezesseis candidatos estão na disputa.

              Millán busca novo lar
              para cão abandonado

              Especialista em comportamento animal, conhecido como o “encantador de cães”, César Millán volta ao NatGeo na nova temporada de O melhor amigo do cão, que estreia hoje, às 18h. A proposta é pesquisar os candidatos perfeitos para adotar cães resgatados que têm problemas de comportamento que os impedem de encontrar novos lares.

              Série do Bio investiga
              terras amaldiçoadas

              Mesmo sem ter explicação plausível, muitos lugares dão prova de que são repletos de mau agouro. No episódio inédito de Amaldiçoados, que o canal Bio apresenta hoje, às 22h, o assinante vai conhecer alguns desses locais malditos. Em um dos relatos, Alfonso e sua família se mudam para uma casa e logo a vida de todos se transforma em um inferno de ataques agressivos e possessão demoníaca. O que dizem é que uma bruxa, revoltada ao ver pessoas como ela arderem na fogueira, teria
              lançado uma maldição em todas as terras da redondeza.
              Paulo Gustavo curte
              o paraíso de Búzios

              Mudando para algo mais leve e engraçado, o Multishow estreia hoje, às 22h30, a nova temporada de 220 volts, com o comediante Paulo Gustavo. Logo no primeiro episódio, o humorista mostra o que seus personagens pensam de Búzios, a famosa cidade da Região dos Lagos fluminense, e como se comportam no balneário paradisíaco, conhecido por sempre atrair gente bonita. O que será que dona Hermínia e a Senhora dos Absurdos pensam? Em tempo: também hoje, às 21h30, o Multishow estreia a nova temporada de Nalu pelo mundo.

              Muitas alternativas
              no pacote de filmes

              O Canal Brasil dá sequência à Mostra África hoje, exibindo, à 0h15, o longa-metragem Dança aos espíritos, em que o cineasta espanhol Ricardo Íscar acompanha o trabalho do antropólogo catalão Luís Mallart sobre a cultura e vuzok, povo que habita a região Sul da República dos Camarões. Mas antes disso, às 22h, a emissora reprisa o ótimo Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes. Ainda na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Gente grande, no Max Prime; Encontro de casais, na TNT; O abrigo, na HBO2; A cor de um crime, no AXN; Quando um estranho chama, no FX; Zona verde, no Space; Bastardos inglórios, no Studio Universal; e Cavalo de guerra, no Telecine Premium. Outras atrações da programação: Marley e eu, às 22h25, no Megapix;
              Hancock, às 22h30, na Fox; e À beira do abismo, às 23h40, no Telecine Pipoca. 

              Patrulha - Benjamin Steinbrunch

              folha de são paulo

              A patrulha da ortodoxia chega a tal ponto que até as desonerações têm sido contestadas
              "Patrulhamentos" são corriqueiros no país. Infelizmente, porque denotam quase sempre preconceitos. Mas surgiu uma nova modalidade nessa atitude "fiscalizatória", a patrulha da ortodoxia contra a presidente da República.
              O fato se deu há quase duas semanas, depois que Dilma Rousseff fez declarações em Durban, na África do Sul, que não agradaram ao mercado financeiro.
              Em resumo, a presidente disse o seguinte: "Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico, até porque nós temos uma contraprova dada pela realidade. Tivemos um baixo crescimento no ano passado e houve um aumento da inflação porque teve um choque de oferta devido à crise".
              Em seguida, a presidente falou do choque inflacionário do ano passado, vindo da alta das commodities no exterior, do programa de formação profissional com vistas ao aumento da produtividade, das desonerações de folha de pagamento e da cesta básica, da redução do custo de energia etc.
              Só então Dilma disse as frases que mais irritaram os patrulheiros: "Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende? Eu vou acabar com o crescimento do país? Isso daí está datado, isso eu acho que é uma política superada. Agora, isso não significa que o governo não está atento e, não só atento, acompanha diuturnamente essa questão da inflação".
              Tão logo a fala da presidente foi divulgada pelas agências de notícias e pela televisão, o mercado ficou nervoso. Os juros futuros caíram, numa imediata frustração das expectativas sobre um provável aumento da Selic neste mês.
              O mercado logo concluiu que as declarações da presidente representavam um sinal claro de que ela é contra a elevação dos juros. E isso foi tachado pelos patrulheiros de interferência indevida da presidente na área da política monetária, atentando contra a autonomia e a credibilidade do Banco Central.
              Embora o BC brasileiro não tenha independência, ele goza de autonomia outorgada para conduzir a política monetária. Isso, porém, não quer dizer que a presidente da República não possa dar a sua opinião a respeito da inflação, do crescimento econômico e até da política monetária. Por que não? Diariamente, dezenas de analistas, identificados ou não, opinam sobre essas questões. Por que não a presidente?
              Em nenhum momento ela se referiu à questão conjuntural dos juros. Fez apenas uma defesa -e feliz- da adoção de políticas que cuidem ao mesmo tempo da inflação e do crescimento, algo nada diferente do que estão fazendo lá fora inúmeros países durante a atual crise, principalmente os EUA.
              A patrulha da ortodoxia chega a tal ponto que até as desonerações têm sido contestadas, sob o argumento de que "são apenas um alívio temporário para os preços e não representam um instrumento de combate à inflação". Talvez estejam certos os patrulheiros, mas as desonerações precisam ser saudadas até por uma questão de coerência.
              Quando se reduz o preço da energia, há um impacto anti-inflacionário apenas momentâneo, mas, além disso, há um efeito muito importante na redução do "custo Brasil" e no aumento da competitividade do produto brasileiro.
              A desoneração das folhas de pagamento, por exemplo, era uma antiquíssima reivindicação não só dos empresários mas de toda a sociedade. Na legislação anterior, inflexível, quanto mais pessoas as empresas empregassem, mais taxadas elas eram. Essa injustiça está sendo corrigida e já há mais de 40 setores desonerados. Outros 14 passarão a receber o benefício a partir de 2014.
              O que há por trás da patrulha ortodoxa é um imenso mau humor do mercado com a queda do rendimento financeiro no país. Com a redução da Selic para 7,25%, taxa ainda elevada em relação às de outros países, não se ganha mais dinheiro fácil como antes. É preciso arregaçar as mangas e produzir.
              O que a presidente disse em Durban é de uma correção exemplar. Ela simplesmente observou que não aprova políticas que sacrifiquem o crescimento em nome da redução de uma inflação que não é produzida por excesso de demanda. Isso é o que qualquer político responsável diria.
              BENJAMIN STEINBRUCH, 59, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.
              bvictoria@psi.com.br

                Trajetória de respeito( Grupo instrumental Pau Brasil)-Eduardo Tristão Girão‏

                Grupo instrumental Pau Brasil, que lançou primeiro disco há 30 anos, reúne oito álbuns produzidos até 2005. Músicos planejam turnê 


                Eduardo Tristão Girão

                Estado de Minas: 09/04/2013 

                Ao lado de Cama de Gato, Banda Black Rio e Azymuth, o grupo Pau Brasil é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes formações instrumentais brasileiras. Criado em 1979, em São Paulo, colocou na praça seu primeiro disco em 1983, marca que é comemorada agora com o lançamento de Caixote (Pau Brasil Music), caixa especial que reúne (com faixas bônus) seus oito discos lançados até 2005 (há mais dois inéditos, do ano passado), além de DVD que registra performance ao vivo em 1996 e bem cuidado livro sobre a história do grupo escrito por Carlos Calado.

                “Desde que o grupo se remontou, em 2004, a gente vem falando do problema que era não ter nossa discografia disponível nem para vender nos shows. Falamos muitas vezes de relançar os primeiros três LPs em CD, mas os entraves legais com as respectivas gravadoras sempre inviabilizavam. O mesmo para os nossos CDs lançados apenas fora do Brasil, muitos anos tentando por várias formas fazer esses trabalhos saírem aqui, sempre sem sucesso”, diz o violonista e guitarrista Paulo Bellinati.

                Ele deixou de participar de apenas dois discos do Pau Brasil, grupo que tem sua história marcada pela entrada e saída de vários músicos. A primeira formação teve Paulo, Roberto Sion (saxofone e flauta), Nelson Ayres (pianos acústico e elétrico), Rodolfo Stroeter (o único que nunca deixou o grupo; baixos acústico e elétrico) e Azael Rodrigues (bateria). Depois, vieram Nenê (bateria), Lelo Nazário (piano e teclado), Zé Eduardo Nazário (bateria e percussão) e Marlui Miranda (voz, violão e flauta).

                Desde 2005 com Rodolfo, Paulo, Nelson, Teco Cardoso (saxofone e flauta) e Ricardo Mosca (baterista), o grupo prova ter desenvolvido mais que uma carreira consistente (inclusive no exterior), mas também linguagem que ajudou a moldar nas últimas décadas o que hoje se conhece como música instrumental brasileira. O trabalho dos bons jovens instrumentistas de hoje reflete algo da estética pensada pelas formações do grupo ao longo das últimas três décadas. Assimilaram regionalismos, influências estrangeiras e propuseram novo som.

                RELEVÂNCIA “Em relação a outros grupos instrumentais brasileiros, o Pau Brasil segue por uma trilha mais compromissada com um Brasil utópico, aquele imaginado por Villa-Lobos e os modernistas. Seguimos pela mesma via percorrida brilhantemente por Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. O Brasil maravilhoso que sonhamos vale a pena e a música que a gente faz é o melhor exemplo disso. Por isso, Villa-Lobos é tão importante na nossa discografia”, analisa Bellinati.

                E essa influência, continua o artista, extrapolou o universo da música instrumental, já que o Pau Brasil chegou a gravar disco com Chico Buarque e Edu Lobo (Dança da meia lua) e Mônica Salmaso (Noites de gala, samba na rua) – ambos os trabalhos arranjados e executados pelo grupo. Ano passado, lançou outros dois disco seguindo esse conceito: Villa-Lobos superstar (repertório do compositor; com o Ensemble SP) e Concerto antropofágico (autores diversos; com Mônica Salmaso, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e o regente John Neschling).

                VEM AÍ

                Já tendo feito série de shows de lançamento de Caixote no ano passado, em São Paulo (capital e interior), o Pau Brasil está preparando turnê brasileira para divulgá-lo, o que inclui BH. Além disso, o público pode esperar por discos de inéditas, pois o violonista Paulo Bellinati garante que há material para, pelo menos, mais dois.

                Três perguntas para...
                Paulo Bellinati, violonista e guitarrista


                A nova geração de músicos brasileiros conhece o trabalho do Pau Brasil? O grupo dialoga, de alguma forma, com esses jovens músicos?
                Temos encontrado alguns jovens músicos interessados na nossa trajetória, alguns já fazendo suas teses de mestrado ou doutorado baseados na obra que a gente vem criando. Mas tenho observado que o nosso público “envelheceu” com a gente. Com certeza, posso afirmar que a faixa etária da grande maioria da plateia não é de jovens. Isso assusta, no sentido do futuro da música instrumental: quem vai substituir todos nós? Será que teremos uma geração futura de brilhantes e dedicados músicos que vão manter a música brasileira nas alturas?

                O que era fazer música instrumental na época em que o Pau Brasil começou e como é fazer isso agora? O que mudou?
                Não mudou muita coisa. A gente faz porque gosta. Sempre foi e sempre será uma opção artística idealista, porém hoje temos uma noção mais precisa da importância da nossa contribuição para a música brasileira. Isso nos motiva e nos dá a sensação de que valeu e vai continuar valendo a pena se dedicar.

                O Pau Brasil já teve várias formações. Como você observa essas mudanças tendo em vista a construção da identidade do grupo ao longo desses 30 anos? É possível identificar uma espinha dorsal no som do grupo?
                As mudanças de formações nunca foram radicais e sempre vieram devagar. Acho que a espinha dorsal do grupo é e sempre foi a ideia de fazer música instrumental brasileira de qualidade, deixando cada componente do grupo interferir com sua bagagem pessoal e artística. O Pau Brasil é o resultado dessa maneira de funcionar: todo mundo dá ideias e soma para o grupo ficar cada vez melhor e mais interessante.

                Energia do futuro - Marcela Ulhoa‏

                Uso de microalgas na fabricação de biocombustíveis em escala industrial é tema de estudo nos EUA. Entre as diversas vantagens está a de não ocupar terras que possam produzir alimentos 


                Marcela Ulhoa


                Estado de Minas - 09/04/2013


                Brasília – Com aproximadamente 3 mil espécies sob estudo, as algas são promessas de uma energia cada vez mais sustentável. Além de não precisar de terras férteis para serem cultivadas e, portanto, não brigar por espaço com a produção de alimentos, elas crescem em tanques cuja água nem precisa ser potável. Isso sem contar que os organismos fotossintéticos utilizam o dióxido de carbono como fonte de alimento, podendo ser acoplados a um sistema poluente para diminuir os gases de efeito estufa. Com tantas vantagens, a utilização de microalgas para a produção de biocombustíveis é um dos temas de destaque do 245º Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química, que começou domingo nos Estados Unidos.

                Apesar dos conhecidos benefícios, a matéria-prima ainda não é usada em escala industrial na matriz energética devido à dificuldade de extrair os lipídios, a celulose e os demais produtos de suas células. A complicação vem principalmente de seu tamanho, que pode se limitar a poucas centenas de micrômetros. Para contornar essas barreiras, pesquisadores da Universidade do Texas investigaram um tipo específico de microalgas já usadas na fabricação de vinagre. Ao isolar os genes da Acetobacter xylinum, eles conseguiram criar uma alga transgênica capaz de produzir e excretar naturalmente a nanocelulose, um nobre biomaterial com uma série de importantes aplicações.
                “Se conseguirmos concluir as etapas finais do estudo, teremos cumprido um dos mais importantes potenciais de transformações agrícolas até o momento”, afirma R. Malcolm Brown, um dos autores da pesquisa, apresentada no encontro da Sociedade Americana de Química. Segundo ele, a descoberta inaugura a segurança da existência de espécies que produzem nanocelulose de forma abundante e barata. “A A. xylinum pode se tornar matéria-prima para a produção sustentável de biocombustíveis e de muitos outros produtos. Além de produzir nanocelulose, as algas absorvem o dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa associado ao aquecimento global”, pondera Brown.
                A nanocelulose é como se fosse um polissacarídeo, uma celulose, mas de cadeia pequena. De acordo com Bruno Brasil, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) –  Agroenergia, hoje ela pode ser obtida a partir da celulose de plantas. Bastam alguns processos químicos para quebrar os açúcares maiores em estruturas menores. “Se você quebrá-la totalmente, ela vai acabar virando glicose. A nanocelulose seria um intermediário entre a glicose, a unidade menor, e a celulose, que é o açúcar completo”, explica. Brasil ressalta que, atualmente, o processo mais caro na produção de etanol de segunda geração é justamente converter a celulose em açúcares que podem ser fermentados para a produção de álcool, que normalmente são a glicose ou a sacarose.

                “A cana-de-açúcar já produz sacarose direto. A levedura transforma o caldo em etanol. Na segunda geração, você tem que pegar a celulose e quebrá-la em um açúcar de cadeia pequena para fazer o etanol”, detalha. Para o especialista, o ponto forte do estudo norte-americano foi combinar as vantagens da alga, que seria considerada uma terceira geração de produção de biocombustível, para produzir etanol em um processo parecido ao de segunda geração, mas usando, em vez da celulose, a nanocelulose, que é rapidamente fermentada por uma levedura para produzir etanol.

                Rapidez Donato Aranda, professor da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do GreenTec, Laboratório de Tecnologias Verdes da UFRJ, pondera que extrair produtos como lipídios e celulose da célula da alga não é tarefa trivial. “Quando você trabalha com soja ou dendê, existem prensas que ajudam a extrair o óleo. No caso das algas, como elas são unicelulares e muito pequenas, essa técnica não é efetiva”, explica. O avanço que o estudo norte-americano traz, portanto, é encontrar uma alga que, além de sintetizar a celulose de cadeia curta, também a secreta naturalmente. “Isso facilita muito, porque você não precisa tirar de dentro da célula a nanocelulose, a própria alga a coloca para fora”, acrescenta Aranda.

                O pesquisador da UFRJ ressalta que a grande vantagem do uso da microalga para produzir biocombustível é a rapidez dos resultados. “Se você planta soja hoje, você consegue colher depois de 100 dias. No dendê é bem pior, demora três anos para começar a frutificar o dendenzal. No caso das microalgas, eu tenho como começar uma produção e colher em poucas semanas”, salienta. O crescimento das algas é muito rápido, sendo possível triplicar a biomassa da planta a cada 24 horas.

                Bruno Brasil, da Embrapa Agroenergia, reforça ainda que a área para cultivo de microalga é infinitamente menor do que as culturas tradicionais de soja ou cana-de-açúcar. “Segundo um dado de 2008, para atender a demanda dos Estados Unidos por energia à base de soja você precisaria de um território três vezes maior do que o tamanho do país. Agora, se você fizer isso com alga, gastaria somente 4% do território”, exemplifica. Apesar de o Brasil ter uma vocação para ser produtor de microalgas, pois tem luz solar em abundância, Aranda reclama dos ainda escassos investimentos na área, que ficam muito atrás dos recursos das pesquisas norte-americanas.

                Seminário
                Itajubá, no Sul de Minas, recebe a partir de segunda-feira, 15, o seminário internacional Ceurer – Avanços em conversão de energia, uso de resíudos e energias de resíduos. O evento será realizado na Universidade Federal de Itajubá e terá a participação de especialistas brasileiros e estrangeiros, que compartilharão suas experiências e pesquisas sobre o desenvolvimento de tecnologias para a conversão de energias.



                Gastronomia tem espaço em encontro sobre química



                Vai até quinta-feira a 245ª edição do Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química, a maior sociedade científica do mundo. Este ano, o evento ocorre na cidade de Nova Orleans, famosa por sua gastronomia e por ser um centro global da industria energética. Os pontos fortes da cidade marcam, inclusive, as duas principais linhas de temas abordados na conferência, que acabou sendo chamada de Chef. A palavra, além de remeter aos profissionais da cozinha, serve de sigla em inglês para Química da energia e dos alimentos.
                O esperado é que mais de 14 mil pessoas participem do evento. Pelo menos nove prêmios Nobel apresentarão seus trabalhos durante a semana. Entre eles estão Robert Grubbs e Richard Schrock, conhecidos por desenvolver uma nova forma de fazer plásticos e medicamentos que revolucionou a chamada “química verde”. A programação envolve ainda trabalhos que vão da astronomia à zoologia, passando por medicina, aquecimento global, eletrônica, mundo dos negócios e, claro, pela busca de novas fontes de energia sustentáveis e formas mais saudáveis de alimentos. São mais de 12 mil apresentações, que incluem títulos como A química do bar e Biocombustíveis e energia sustentável.

                SABOR DOS ALIMENTOS Um dos destaques é a pesquisa sobre a química nos sabores dos alimentos, que busca entender se é tudo uma questão de prazer ou algo muito além das sensações. Ainda na área gastronômica, o ambiente da cozinha é descrito como um verdadeiro laboratório. O futuro do sistema de produção de comida também será debatido.
                Com mais de 163 mil membros, a Sociedade Americana de Química é uma organização sem fins lucrativos e líder global no fornecimento de acesso a pesquisas relacionadas à química por meio de revistas, jornais e
                conferências científicas.

                Mudança climática intensifica turbulência em voos

                folha de são paulo


                Aumento das temperaturas deve dobrar ocorrência do tipo mais imprevisível de tremor aéreo nos próximos 40 anos
                GIULIANA MIRANDASABINE RIGHETTIDE SÃO PAULOApertem os cintos: o aquecimento global deve dobrar a ocorrência de turbulência de céu claro nas viagens aéreas.
                Além de mais frequentes, esses sacolejos causados por variação de velocidade de correntes de ar -menos comuns do que a turbulência ligada a tempestades- devem ficar mais intensos até a metade deste século.
                Um trabalho, publicado na revista "Nature Climate Change", usou um supercomputador para simular a ocorrência de eventos atmosféricos em diferentes cenários climáticos e, assim, estimar o impacto das temperaturas elevadas sobre as turbulências.
                O grupo identificou que o incremento na frequência das turbulências de céu claro pode ficar entre 40% e 170%. Mas o cenário mais provável é que a quantidade de tremores aéreos dobre até a metade deste século -quando, segundo projeções, a temperatura terá subido até 2º C.
                "As mudanças climáticas estão acelerando as correntes de ar e levando a mais instabilidade nos voos", diz o climatologista Paul Williams, principal autor do estudo.
                O trabalho se concentrou na região do Atlântico Norte, mas seus resultados podem valer para outras partes do globo, apesar de haver ainda muitas incertezas.
                "O trabalho tem o mérito de chamar a atenção para os efeitos das mudanças climáticas nas turbulências, que não têm sido muito estudados", diz José Marengo, climatologista do Inpe membro do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU).
                O tipo de instabilidade no qual o trabalho se concentrou -as turbulências de céu claro- é o mais problemático para as empresas aéreas.
                "Elas são invisíveis para pilotos e satélites, e é no inverno que elas se intensificam", explica Manoj Joshi, da Universidade de East Anglia e também autor do trabalho.
                O sacolejo danifica aviões, atrasa voos, aumenta custos de manutenção e pode ferir a tripulação e os viajantes. A pesquisa estima o custo anual disso em US$ 150 milhões (cerca de R$ 300 milhões).
                A boa notícia é que, nas próximas décadas, a tecnologia aeroespacial deve evoluir muito. "Até a metade do século, já será possível detectar essa turbulência", diz Ronaldo Jenkins, coordenador da comissão de segurança de voo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias.


                FRASE
                "As variações de temperatura causadas pelo CO2 estão aumentando a velocidade das correntes de ar atmosférico; essa aceleração das correntes de ar está levando a mais instabilidade nos voos"
                PAUL WILLIAMS, climatologista da Universidade de Reading