terça-feira, 18 de março de 2014

Maria Ester Maciel - Da amizade‏

Da amizade 
 
Maria Ester Maciel - memaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 18/03/2014


Hoje, ao começar a ler o romance Mr. Gwyn, do italiano Alessandro Barico – que trata de um escritor que elaborou uma lista das 52 coisas que não pretendia mais fazer na vida –, deparei-me com uma citação de Proust: “As resoluções definitivas são tomadas sempre e unicamente por um estado de espírito que não está destinado a durar”. Imediatamente, pensei em algumas de minhas decisões “definitivas” tomadas de repente e das quais me arrependi depois. Como se diz, com razão, “nada, senão a morte, é definitivo”. Assim, é sempre bom pensar que o “nunca mais”, fora do contexto da morte, é algo ilusório e provisório. Ele anda de mãos dadas com o “para sempre”, tão incerto quanto todas as certezas.

Mas não é de falsas certezas e de inevitáveis impermanências que quero falar. O tema aqui hoje é a amizade. A amizade verdadeira. Aquela que resiste aos temporais e a todas as catástrofes. A que se mantém intacta mesmo na distância e nos longos intervalos de tempo. A que não pede nada em troca. A que se sustenta sem interesses de outra ordem que não a da cumplicidade.

Na semana passada, tive a certeza do quão é bom estar na companhia de amigos verdadeiros depois de um dia cansativo. Eles nos ajudam a lidar com os momentos adversos. Amigos de verdade estão para o que der e vier. Não somem quando estamos infelizes, não se esquivam diante de nossas fraquezas. Aliás, a melhor maneira de conhecer os amigos é nas horas em que menos temos o que oferecer a eles. E, nesse sentido, concordo com uma frase de Confúcio, muito citada por aí: “Para conhecermos bem os nossos amigos nada como passar pelo sucesso e pela desventura. No sucesso, verificamos a quantidade; na desventura, a qualidade”. Por mais que isso soe clichê, tem sua pertinência.

Conversando, outro dia, com minha mestra Zenóbia, ela me lembrou de alguns filósofos que trataram da amizade, como Aristóteles, Sêneca e Montaigne. Praticamente todos eles reconheceram a preciosidade e a raridade de tal experiência (ou sentimento?) que não se confunde com o amor conjugal, nem com a relação entre irmãos ou entre pais e filhos, embora a amizade possa também atravessar esses vínculos. Tampouco tem ela a ver com pessoas com quem apenas compartilhamos algumas afinidades ou por quem temos simpatia, sem mais nada, além disso, que possa sustentar uma relação sólida com elas. O que não quer dizer que esses vínculos não sejam importantes para a nossa vida. São sim. E cada caso é um caso; dispensa generalizações. Em outras palavras, o que os filósofos dizem (e podemos atestar com nossas próprias experiências) é que a amizade verdadeira se sustenta de algo que ultrapassa a mera boa relação de uma pessoa com outra. É um vínculo forte, que não se perde nunca, e que sempre reencontramos na hora certa.

A humanidade, sabemos, não é de fácil convivência. E o mundo está cheio de perigos. Sem os amigos de verdade, viver pode se tornar ainda mais perigoso do que é. E nada como um dia após o outro para que nos inteiremos disso. Com os verdadeiros amigos, todo o peso da vida tende a ganhar mais leveza.

Com esta crônica homenageio todas as pessoas que têm me mostrado, nos últimos tempos, o valor da amizade. Não vou nomeá-las, pois todas, ao ler a coluna, saberão que estou falando delas. 

Tereza Cruvinel-Mudança de lua‏

Mudança de lua
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 18/03/2014

Depois de três meses de idas e vindas, a presidente Dilma encerrou ontem a reforma do ministério, com a qual teve mais perdas do que ganhos, colhendo mais desgaste do que apoios. A cerimônia foi morna, e notável a ausência dos deputados do PMDB, ainda com os brios feridos pela refrega da qual saíram com o espaço reduzido no governo. De um lado e de outro, entretanto, o ambiente, agora, é de busca da distensão, a começar pelo encontro de ontem entre o líder dos rebeldes, Eduardo Cunha, e os ministros Mercadante (Gabinete Civil) e Eduardo Cardoso (Justiça).

O instinto de preservação do poder parece ter falado alto a todos: nem Dilma está em condições de esnobar o PMDB nem o partido tem alternativas mais seguras nesta eleição em que a presidente, por ora, é favorita. Mas, na semana passada, no auge da crise, ameaças pesadas chegaram a ser feitas. Afora o desabafo de Dilma, que teria dito preferir a derrota eleitoral a ter que se submeter a chantagens, no Congresso, petistas e peemedebistas foram ao limite nos arroubos verbais. Alguns petistas fizeram chegar aos aliados que, se eles quisessem mesmo romper a aliança, não teria problema. O PT viria com uma bomba atômica, a chapa Dilma-Lula, com o ex-presidente no lugar de Michel Temer. A tão provocador recado, alguns peemedebistas reagido, insinuado que alguma denúncia, sobre mensalão e outros escândalos, poderia tornar Lula inelegível. Como se vê, petistas e peemedebistas chegaram a trocar socos abaixo da chamada linha da cintura. Agora, é esperar para ver aonde chega a distensão, que depende muito da arrumação final dos palanques nos estados.

No caso do marco civil da Internet, projeto que foi pretexto para a reunião de ontem entre ministros de Dilma e o líder do PMDB, o mais provável é uma nova derrota, a não ser que o governo aceite recuar no ponto que o PMDB considera inaceitável, a chamada neutralidade da rede (proibindo as teles de diferenciar os acessos oferecidos segundo a velocidade contratada). Mas, mesmo os termos dela podem ter sido negociados, agora que Dilma parece disposta a engolir em seco para se recompor com o PMDB e os demais aliados.

Em seu discurso, ela não falou em crise e foi pródiga em elogios aos que saíram, entre eles os pemedebista Antônio Andrade, que deixou a pasta da Agricultura, e Gastão Vieira, que deixou a de Turismo. Louvou o trabalho inovador de Marcelo Crivella, do PR, que implantou o ministério da Pesca, o do petista Pepe Vargas, no Desenvolvimento Agrário, e o de Marco Antônio Raupp em Ciência e Tecnologia. Parece ter caprichado nos elogios a Agnaldo Ribeiro, de Cidades, que tocou o Programa Minha Casa, Minha Vida. Se ela for pragmática, com o ministério recomposto e a crise amainada, agora pilotará o governo com um mínimo de marola no tempo que lhe resta, com ou sem reeleição. Mas a natureza de cada pessoa tem sua dose de inescapável. Difícil imaginar que ela mudará de estilo só porque isso é conveniente.

Nem tanto

Os novos ministros, ao serem anunciados na semana passada, foram muito criticados por serem pouco conhecidos no plano nacional. São, em sua maioria, técnicos ou especialistas, mas, pelas presenças políticas que atraíram, não são nomes irrelevantes em seus estados. Representando o governador tucano Antônio Anastasia (MG), o secretário do setor, deputado Narcio Rodrigues, foi ao Planalto prestigiar a posse do ex-reitor Clélio Campolina Diniz no ministério de Ciência e Tecnologia. “Um grande nome de Minas, acima dos partidos”, disse Narcio. Outro governador tucano, Teotônio Vilela Filho (AL), e seu vice, Thomas Nonô, do DEM, lá estiveram prestigiando dois novos ministros. O alagoano Vinicius Lage, de Turismo, e o novo ministro de Cidades, que é mineiro, mas viveu muito tempo em Alagoas. Não faltaram as fotografias com um e outro.

Há 50 anos: a marcha

Nas evocações do cinquentenário do golpe civil-militar de 1964, amanhã completam-se 50 anos da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, no clima de polarização aguda que se seguiu ao Comício da Central, no dia 13, em que o presidente João Goulart assinou o decreto da reforma agrária e anunciou a estatização de refinarias privadas, entre outras medidas. Elas estavam em debate havia meses. Novidade foi a multidão reunida a favor deles e de Jango. A do dia19 foi a primeira de um total de 49 marchas de católicos conservadores contra o presidente e o fantasma do comunismo, com o qual a direita, com apoio da CIA, amedrontrou a população e criou o clima para o golpe. A partir do dia 31, elas vão se chamar Marcha da vitória e só vão terminar em 8 de abril. A de São Paulo foi idealizada pelo deputado Cunha Bueno, inspirado pelo padre irlandês Patrick Peyton, que havia rezado uma missa contra a “ameaça vermelha” na televisão. O apoio logístico foi garantido pelo governador de São Paulo, Ademar de Barros, que conspirava pela derrubada de Jango. Sua mulher, Leonor, arregimentou mulheres para o ato. O Ipes - Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, entidade financiada pela CIA e pela Fiesp, deram suporte ao ato. Na marcha, não faltaram panfletos, faixas e cartazes, alguns pedindo “Jango no xadrez”. Outros, bem humorados, diziam: “Vermelho bom, só no batom”. Ou ainda, “verde e amarelo, sem foice e sem martelo”. No dia seguinte, o adido militar americano, general Vernon Walters, informou a superiores em Washington que a marcha “deu novo ânimo” aos militares que preparavam o golpe.

O clero progressista, favorável ao enfrentamento dos problemas sociais, já existia, tendo como ícone maior dom Helder Câmara, que o regime perseguiria. Mas só nos anos 1970, a corrente ganharia força na Igreja e a levaria a cumprir um importante papel na denúncia de torturas e abusos do regime e no esforço pela redemocratização. Nessa fase, a estrela foi dom Paulo Evaristo Arns, a quem devemos a mais importante documentação sobre o período, o projeto “Brasil, Nunca Mais”.

Mas eis que, no próximo sábado, grupos de jovens prometem reeditar a marcha de 1964 no Rio, em São Paulo e em mais 200 cidades, protestando contra a corrupção. Podiam ter feito isso sem tão infeliz inspiração. 

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 18/03/2014



 (João Miguel Junior/TV Globo)
TALK SHOW

Débora Bloch (foto) é a convidada de José Wilker no programa Palco e plateia, no ar às 21h30, no Canal Brasil. Com sua bagagem de mais de quatro décadas de carreira como ator, diretor e crítico, Wilker assume a figura de apresentador em um talk show sobre o teatro e os caminhos da dramaturgia contemporânea. Na conversa com Wilker, Débora fala sobre
o início da carreira, seus trabalhos no teatro, cinema e televisão.

RECONSTITUIÇÃO DE UM
CRIME OCORRIDO NO PAÍS


O canal A&E apresenta às 22h30 o último episódio da segunda temporada de Investigação criminal, que relembra o caso de Magda da Silva Roncati, encontrada morta na represa Paiva Castro, dentro de uma mala, em Mairiporã, na Grande São Paulo, em 21 de janeiro de 2011. Por meio de entrevistas com delegados, peritos criminais e legistas envolvidos nos casos, a produção monta com exatidão a ordem dos fatos e apresenta detalhes desconhecidos dos inquéritos dos crimes.

SERIAL KILLER AMEAÇA
NOS ESTADOS UNIDOS


Uma viúva é morta em sua casa em uma pequena cidade, e esse assassinato pode estar ligado a outros, com as mesmas características assustadoras. Crimes semelhantes ocorreram entre Nova Orleans e Baton Rouge. É o que presume a polícia, que chega à conclusão de estar diante de um assassino em série, conforme mostra episódio de Parapsicólogos forenses, às 21h30, no canal Bio. Enquanto os investigadores tentam juntar as peças, um parente, utilizando uma foto e um lenço da vítima, consulta a vidente Rose Kopp, que por meio de encontro xamânico, a milhares de quilômetros de distância, consegue pistas precisas de um homicida que não pensa em parar com seus crimes.

ALEMANHA OCUPA A
FRANÇA NA GUERRA


O TV5 Monde exibe a partir das 20h25 dois episódios da quinta temporada da série Um vilarejo francês. Em 12 capítulos, a produção fala sobre a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial, a partir do percurso de um grupo de aldeões da pequena comuna francesa de Villeneuve, no Leste do país.

INÉDITOS DE WALKING
DEAD E SLEEPY HOLLOW


A Fox exibe, a partir das 22h30, episódios inéditos de The walking dead e Sleepy Hollow. Em The grove, episódio da série sobre zumbis, depois de achar um lugar para ficar o grupo se questiona se é possível que as coisas voltem a ser como antes. Já às 23h15, Abbie e Ichabod devem encontrar pistas escondidas para acabar com o mal em Sleepy Hollow, e Abbie recebe uma visita inesperada do enigmático Andy Brooks.

QUATRO FILMES SOBRE
A VIDA SELVAGEM


No bloco Net Geo wild, a partir das 21h30, no canal de mesmo nome, serão exibidos quatro documentários. O primeiro deles é O resgate dos leopardos. Sandesh Kadur, fotógrafo da vida silvestre, e Bhaskar Choudhury, doutor em veterinária da Wild Life Trust da Índia, levam a cabo a reabilitação de dois filhotes de pantera-nebulosa, um trabalho único em seu tipo e em seu hábitat selvagem natural. Os dois filhotes são criados por humanos que lhes ensinam a viver de maneira independente antes de libertá-los na selva. No ano seguinte, a equipe se reúne novamente para encontrar os filhotes que soltaram há mais de um ano.


CARAS & BOCAS » Novos rumos
Simone Castro

Franz (Bruno Gagliasso) passará a comandar os negócios do pai em Joia rara (Raphael Dias/TV Globo)
Franz (Bruno Gagliasso) passará a comandar os negócios do pai em Joia rara

O mocinho assumirá as rédeas dos negócios da família em Joia rara (Globo). Com a prisão de Ernest (José de Abreu), Franz (Bruno Gagliasso), seu primogênito, aceitará tocar os negócios da família. Mas a decisão não será assim tão fácil. Afinal, o rapaz não esquece todo o sofrimento que passou e também sua amada Amelinha (Bianca Bin) por conta da truculência do pai. Antes de ser preso pelo crime de exploração infantil na carvoaria, Ernest terá uma longa conversa com Franz, envolvendo arrependimento, perdão e o desejo de realmente ter uma nova vida. Ainda assim, o jovem ficará na dúvida. Mas os irmãos Viktor (Rafael Cardoso) e Hilda (Luiza Valdetaro) o incentivarão a aceitar a proposta. O velho Hauser ficará feliz e aliviado. O mais importante é que ele dirá que o filho poderá tomar as decisões como achar melhor. E também dispor do patrimônio se quiser. E Franz não pensará duas vezes antes de doar a mansão da família para a sede da creche de Iolanda (Carolina Dieckmann). Para ele, é uma forma justa de compensar a mulher do seu cunhado por tudo que sofreu enquanto foi casada com seu pai.

JOSÉ MAYER DEVE FAZER
UM GAY NA TELINHA


O ator José Mayer, afastado da TV desde Saramandaia (Globo), deve voltar em papel de destaque na trama de Falso brilhante, próxima novela de Aguinaldo Silva, que substituirá Em família a partir de agosto. E o ator deverá surpreender o público ao interpretar um gay que ainda não saiu do armário.

DISCOVERY KIDS GARANTE
TRÊS ATRAÇÕES NACIONAIS


Já estão confirmadas na grade do canal Discovery Kids (TV paga) a nova temporada do desenho Meu amigãoZão, a série Peixonáuticos, além da animação Luna chamando. São todas produções nacionais. E diversões que, com certeza, garantem lugar cativo na preferência da meninada.

RENATO ARAGÃO PASSA BEM
DEPOIS DE SOFRER INFARTO


O próprio Renato Aragão deu a notícia, ao vivo, por telefone, a Ana Maria Braga ontem, durante o Mais você (Globo). O humorista, que sofreu infarto agudo no miocárdio, foi internado em um hospital no Rio de Janeiro e submetido a uma angioplastia. “Os anjos da guarda foram muito carinhosos comigo”, brincou. E completou: “Estou até melhor do que eu estava”, afirmou. No momento da entrevista, Renato ainda estava internado. Ele passou mal depois da festa de 15 anos
da filha, a atriz Lívian, na noite de sexta-feira.

FALABELLA AFIRMA QUE NÃO
ESCREVERÁ MAIS NOVELAS


Autor de Aquele beijo, exibida entre 2011 e 2012, Miguel Falabella afirma que não escreverá mais novelas. A revelação foi feita em entrevista à revista Época: “Acho que a novela com nove, 10 meses, uma hora por dia, em um futuro não muito distante vai acabar. Não dá mais tempo: é tudo muito rápido. Não pretendo nunca mais escrever novela, é muito massacrante e tenho coisas muito mais interessantes para fazer.” O autor e ator se dedica à nova série, Sexo e as nêga, uma paródia a Sex and the city, e ao prosseguimento da ótima Pé na cova (Globo).

MELHORES DA TV?

Faustão é equivocado. O seu Melhores da ano (Globo) deveria, no mínimo, chamar-se Melhores do Domingão ou, no máximo, Melhores da Globo. Fora isso, tirando os cantores que frequentam outras emissoras, as demais categorias só premiam atores e atrizes do canal. Assim, é evidente, tantos e tantos melhores artistas que concorreriam estão fora do “prêmio”. Então, vamos ao resultado: Anitta é, como dizem nas redes sociais, um clone da cantora Wanessa. E, disputando como cantora – que perdeu para (surpresa!) Ivete Sangalo – ainda faturou como dona da melhor música do ano. Ô mulher poderosa! Já Luan Santana ficou com o prêmio de cantor, mostrando que a produção do ano passado foi quase inexistente, né? Já Paolla Oliveira desbancou Vanessa Giácomo como atriz do ano pela sua insossa mocinha Paloma. E durmam com um barulho desses!

VIVA
Nicette Bruno no Fantástico (Globo): lição de serenidade e simpatia, como sempre.

VAIA
A festa de aniversário, o capítulo inteiro, de Em família (Globo) foi de dar sono. 

Gel do dia seguinte pode combater o HIV, testes apresentam 83% de eficácia

Gel do dia seguinte combate o HIV 
 
Cientistas dos Estados Unidos criam substância que poderá ser usada até três horas após a exposição ao vírus da Aids

Bruna Sensêve
Estado de Minas: 18/03/2014


Géis vaginais contendo medicamentos que combatem a infecção pelo HIV são estudados há alguns anos, mas a linha de pesquisa perdeu forças especialmente pela baixa adesão das mulheres que testaram a estratégia. O principal motivo é que precisam ser aplicados cerca de 30 minutos antes da relação sexual, o que, segundo elas, pode atrapalhar o sexo. Resultados encontrados por pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças em Atlanta, nos Estados Unidos, devem dar novo impulso a trabalhos nessa linha. De acordo com artigo publicado na revista científica Science Translational Medicine, cinco de seis macacas não foram infectadas pelo vírus da imunodeficiência símia (SIV), correspondente ao HIV para os primatas não humanos, usando uma espécie de gel do dia seguinte, aplicado três horas depois da exposição ao micro-organismo.

A grande diferença está no tipo de antirretroviral empregado. O HIV tem um ciclo próprio para infecção do organismo e entra na célula utilizando alguns mecanismos. O medicamento utilizado nos géis microbicidas que devem ser aplicados antes da relação atua no início do ciclo. Já as drogas testadas no novo produto agem no final, no momento em que o material genético do vírus se integra à célula do hospedeiro humano. Essas drogas pertencem à classe dos inibidores de integrase. Há três usados no tratamento contra o HIV em pessoas infectadas. Um deles é o raltegravir — presente no gel testado nas cobaias.

A hipótese dos pesquisadores é de que, como esses antirretrovirais agem em uma fase mais tardia do ciclo viral, eles seriam melhores para prevenir contra a infecção nas primeiras horas após a exposição ao vírus. A pesquisadora Valdileia Veloso, do Laboratório de Aids do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz, explica que o método se insere em um conjunto de estratégias para prevenir a aquisição e a infecção do HIV. Entre elas, a profilaxia pré-exposição e a profilaxia pós-exposição. No primeiro caso, uma pessoa que tem risco alto de adquirir o vírus por estar em situação de exposição, como profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis, podem se prevenir tomando antecipadamente antirretrovirais, diminuindo o risco de infecção.

Já a profilaxia pós-exposição é indicada para o indivíduo que não tomou remédios, não usou preservativo e se expôs ao HIV. A técnica é voltada principalmente aos agentes de saúde que foram expostos ao vírus de forma acidental, mas também atende casos de falha nas medidas de prevenção após relações sexuais. Nesse caso, doses do coquetel usado para combater a infecção em pessoas já diagnosticadas precisam ser ministradas até 72 horas após a exposição e por cerca de 28 dias. Dessa forma, o vírus é combatido no instante em que entra na corrente sanguínea do indivíduo, impedindo que ele se instale definitivamente. Esse é o mesmo princípio usado pelo novo gel norte-americano, segundo Veloso.

Ela lembra, porém, que toda droga ingerida tem implicações com relação à toxicidade e que a busca dos cientistas é justamente por esquemas de profilaxia mais curtos e com menos efeitos colaterais. Os inibidores de integrase são drogas com um perfil de segurança e tolerância melhores. “Nesse experimento, eles usam o gel vaginal buscando justamente alcançar proteção com uma quantidade menor de antirretrovirais, o que significa, além de uma questão de custo, uma exposição menor a medicamentos, minimizando a toxicidade”, avalia. Outra preocupação comum com métodos pós-exposição é se o vírus adquirido fica mais resistente em casos de falha. Nenhum desses fatores foram verificados no teste em Atlanta.

concentração Um fato curioso observado por Veloso é a escolha das cobaias, primatas do sexo feminino que têm um ciclo reprodutivo e hormonal muito parecido com o humano. Segundo ela, a absorção do medicamento varia durante o ciclo menstrual da mulher. “As alterações hormonais trazem mudanças para a mucosa vaginal até mesmo em espessura, o que altera a absorção do medicamento. Nesse modelo, eles consideraram isso.” Os pesquisadores mediram a concentração de medicamento absorvido em diferentes etapas do ciclo menstrual e comprovaram a variação — o que já havia sido verificado com outros medicamentos que atuam no início do ciclo do HIV, incluindo os inibidores de integrase. “É um fator que tem que ser considerado para ver se a concentração durante todo o ciclo confere proteção ou não. Elas vão ter relações em diferentes momentos do ciclo e é preciso garantir que (o procedimento) seja efetivo durante todo o período.”

Na opinião do infectologista Artur Timerman, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, a estratégia não deverá substituir nenhum outro tipo de método profilático. O método estaria voltado para circunstâncias mais específicas, em que a mulher teve uma relação desprotegida, sem camisinha ou outro tipo de proteção contra o vírus. “Ter a possibilidade de usar um gel que funciona de três a seis horas após o contato seria um avanço muito importante e muito bem-vindo. É o aspecto que considero mais relevante desse estudo.”

Timerman reforça que o surgimento de novas medidas profiláticas não quer dizer que elas substituirão as estratégias usadas, mas que os esforços devem se somar. Outro aspecto que ele acrescenta é a circuncisão masculina, que também seria capaz de reduzir as chances de transmissão em 60%. “Esses métodos podem ser implementados, mas nenhum deles substitui a prevenção.”

Ecos do big bang‏

Ecos do big bang
 
Pela primeira vez, cientistas detectam as ondas gravitacionais surgidas no momento de criação do Universo. Descoberta comprova a teoria de Albert Einstein e praticamente elimina as dúvidas de que o Cosmos surgiu de uma única partícula que se expandiu aceleradamente há bilhões de anos


Paloma Oliveto
Estado de Minas: 18/03/2014


Há 13,8 bilhões de anos, uma partícula subatômica começou a se inflar tão rapidamente que, no inimaginável intervalo de um quadrilionésimo de segundo, adquiriu a forma de uma bola de futebol. Era o despertar do Universo. Dentro dessa gota de energia condensada ocorria um turbilhão de atividades que dariam origem a galáxias, estrelas, planetas e, finalmente, ao homem. Esse movimento de expansão deixou sua marca, jamais apagada, mas só agora identificada: as ondas gravitacionais. A detecção do movimento ondulatório da energia foi anunciada ontem em uma coletiva de imprensa do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambrigde, nos Estados Unidos.

Em sua teoria da relatividade, Albert Einstein propôs a existência desses movimentos sinuosos pelo espaço-tempo, provocados pelo deslocamento de objetos. Tal como um barco imprime ondas no mar, a energia resultante do nascimento do Cosmos “amarrota” o tecido universal à medida que se desloca.

Segundo o físico, a gravidade é a forma como a massa deforma o espaço. Perto de qualquer corpo massivo, o espaço fica curvado. Mas a ondulação não se concentra junto ao objeto que a provocou. Einstein disse que, na realidade, ela pode se propagar pelo Universo da mesma forma que as ondas sísmicas se deslocam por toda a crosta terrestre. Diferentemente destas, porém, as gravitacionais são capazes de viajar no espaço vazio, à velociadade da luz. Detectar a existência dessas entidades era o que faltava para validar as ideias de Einstein e a teoria da inflação cósmica, proposta na década de 1980 e que tem como base a teoria da relatividade.

Há décadas os cientistas escaneiam o céu em busca dessas ondas invisíveis. “Ao detectá-las, você tem nas suas mãos muita informação sobre o processo inflacionário do nosso Universo”, justifica John Carlstrom, professor de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Chicago. “Existem muitas ideias diferentes sobre a origem do Universo, mas apenas uma delas diz ter havido o big bang, essa flutuação quântica incrível. Ela é única, também, que prevê a existência de ondas gravitacionais em níveis detectáveis”, diz ao Estado de Minas. Ao identificar a atividade das ondulações, o cientista acredita que pouco poderá ser argumentado, agora, contra a teoria de que o Universo nasceu de uma gotinha de energia que foi inflando e assim continuará infinitamente.

Espiral As ondas gravitacionais foram encontradas pelo telescópio Bicep (sigla em inglês para Imagem de Fundo de Polarização Cósmica Extragalática). Esse instrumento, localizado no Polo Sul, investiga a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, um sinal eletromagnético surgido quando o Universo era bastante jovem — com apenas 380 mil anos. Naquela época, as estrelas sequer haviam sido criadas e a matéria vagava pelo espaço em forma de plasma. “Esse tipo de radiação só poderia ter origem em uma fonte de calor condizente com a resultante da inflação do cosmos em suas primeiras frações de segundo de vida”, explica Carlstrom. Modelos de computador indicavam que a passagem das ondas gravitacionais primordiais pelo plasma seguiria um padrão de espiral. Foi exatamente isso que o Bicep detectou.

“Essa é uma evidência cosmológica totalmente nova de que a teoria inflacionária se sustenta”, disse ao site da revista Nature o físico teórico Alan Guth, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Foi ele que propôs a teoria da inflação do Universo, em 1980. Para Guth, a descoberta merece um prêmio Nobel. Em um comunicado de imprensa, Clem Pryke, pesquisador da Universidade de Minnesota que participou do estudo, disse que a força do sinal de propagação das ondas é mais forte do que o imaginado. “Foi como procurar uma agulha no palheiro, e, em vez disso, achar um pé de cabra”, comparou. “Detectar esse sinal era um dos objetivos mais importantes da cosmologia”, completou John Kovac, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, que liderou a pesquisa.