sexta-feira, 29 de março de 2013

Ativista rebate campanha de neozelandês contra gatos

folha de são paulo

DÉBORA MISMETTI
EDITORA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"

A SPCA (Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra Animais) em Auckland, na Nova Zelândia, tem travado uma batalha contra a campanha Cats to Go, que responsabiliza gatos domésticos por reduzir o número de aves nativas no país.
Divulgação
Bob Kerridge, diretor da sociedade protetora dos animais em Auckland, Nova Zelândia
Bob Kerridge, diretor da sociedade protetora dos animais em Auckland, Nova Zelândia
O líder dessa campanha, o empresário neozelandês Gareth Morgan, afirmou, em entrevista à Folha, que os gatos são uma ameaça importante aos pássaros locais porque, enquanto há controle de pestes direcionado a roedores, nada se faz contra os bichanos. Morgan disse ainda que, se um neozelandês tem um gato, que seja o último.
"Como ele se atreve a sugerir isso?", pergunta Bob Kerridge, 75, diretor-executivo da SPCA. Kerridge, que trabalha há mais de 30 anos na proteção de animais, criticou a campanha de Morgan em entrevista por telefone.
*
Folha - O que o empresário Gareth Morgan tem dito de errado sobre a matança de aves por gatos?
Bob Kerridge - Nossas pesquisas mostram que só 50% dos gatos domésticos caçam e, entre esses, as presas preferidas são roedores; os pássaros nativos são menos de 1% das presas.
Ele também critica as ações da sua organização, dizendo que vocês alimentam colônias de gatos de rua que são uma ameaça à vida selvagem.
Temos três escolhas para lidar com gatos abandonados. Podemos ignorá-los, o que não é condizente com nossa organização; matá-los, o que não faz parte da nossa atuação, ou castrá-los. É isso o que escolhemos fazer. Isso comprovadamente controla o número de gatos. Os voluntários os coletam, trazem para serem castrados e, depois, os retornam para as colônias de origem.
Segundo a campanha Cats to Go, os gatos devem ficar presos em casa o tempo todo para evitar a predação. Você defende essa conduta?
Aqui, é comum que as pessoas tenham "portinhas de gato": eles entram e saem quando querem. Muito da caça acontece à noite, quando os gatos pegam roedores, e não pássaros. Se as pessoas quiserem prender seus gatos e eles estiverem felizes, tudo bem, mas não insistimos. Reconhecemos que os gatos são predadores. Outros animais também, o problema é que as pessoas implicam com os gatos. A sugestão feita por Gareth Morgan de que se você tem um gato ele deve ser o último é uma invasão na vida das pessoas. Como ele se atreve a sugerir isso?
A proporção de donos de gatos no país é grande, não?
Cerca de 48% dos domicílios têm gatos. Para a maioria, os gatos são parte da família. Nossa organização funciona há 130 anos e é mantida por doações. Morgan disse publicamente que as pessoas não deveriam mais doar. Mas, agora, as pessoas estão dando até mais dinheiro!
Vocês têm muitos problemas com abandono de gatos?
Gatos são os animais mais "descartáveis", isto é, é fácil abandoná-los. Alguns os deixam para trás quando se mudam ou os abandonam na estrada. Não é muito frequente aqui, mas acontece.
Sua organização tem algum programa de proteção às aves?
Vamos fazer um estudo estatístico sério sobre o tema. Não vamos nos tornar draconianos e recomendar que os gatos fiquem trancados noite e dia, mas vamos ver o tamanho do problema que eles causam e o que dá para fazer.

Clovis Rossi

folha de são paulo

ANÁLISE
Dilma só disse na África o que sempre pensou e até já disse
CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHAO que a presidente Dilma Rousseff disse na África do Sul sobre inflação e crescimento é rigorosamente o que ela pensa -e faz tempo, pelo menos desde que assumiu, há dois anos e três meses.
Não há, portanto, nenhuma razão nem para polêmica, nem para surpresa, nem para "manipulação", a não ser que a presidente tenha usado essa última palavra para se referir à especulação nos mercados. O lado cassino dos mercados, aliás, é suficientemente forte, para dispensar frases da presidente -felizes ou infelizes- nas apostas.
A primeira mais firme manifestação de Dilma em favor do crescimento se deu, curiosamente, às margens de outra cúpula dos Brics, a de abril de 2011 na China.
O governo mal completara cem dias, mas já estava em dúvida o empenho do Banco Central em trazer a inflação para o centro da meta, 4,5% então como agora.
No Fórum de Boao, considerado "Davos" da Ásia, Dilma reafirmou que são fundamentais "o controle da inflação e a estabilidade fiscal", para depois deixar claro que ambos não são um fim em si mesmo nem valor absoluto.
"Tem quer ter como objetivo criar condições para o crescimento e a inclusão social", disse. Nesse ponto, a presidente afirmou, com outras palavras, o que repetiria em Durban, ao criticar "políticas restritivas tanto nos países emergentes para conter a inflação como nos países avançados para promover a consolidação fiscal".
A presidente fez questão de se dizer favorável "ao controle da inflação e à estabilidade fiscal", desde que o objetivo seja crescimento com inclusão social, que é "questão-chave para todos nós".
Também na China Dilma deu por sepultados "os consensos que se criaram na história recente. Sob a égide do mercado ou do Estado, mostraram-se frágeis como castelos de cartas".
Não receitou, no entanto, um novo consenso, até porque afirmou não buscar "modelos únicos nem tampouco unanimidades". A única receita é fácil de dizer, difícil de descobrir: "O mundo do século 21 requer criatividade".
Vê-se agora que nem Dilma nem o mundo tiveram criatividade suficiente para pôr de pé outro modelo, se está superada, como ela crê, a política de "matar o doente [com juros altos] em vez de curar a doença [a inflação]".
Na vida real, a queda dos juros, praticada por seu governo, foi incapaz até agora de acelerar o crescimento. Pior: a "doença" da inflação parece mais viva e forte.
Mas é injusto dizer que a presidente é leniente com a inflação. Nenhum governante o é, desde que se tornaram famosos dois gráficos que Getúlio Bittencourt, então assessor de imprensa do presidente José Sarney, exibia a todos: a popularidade do presidente apontava para baixo sempre que a inflação embicava para cima e vice-versa.
Como não há político que não adore a popularidade, todos querem a inflação domesticada. Dilma também quer, desde que o crescimento não seja afetado no percurso. Como perpetrar a mágica é a matéria em que o governo está ficando em segunda época.

    Obama usa expertise de advogado para defender união gay

    folha de são paulo

    Presidente diz que Constituição oferece "base sólida" para aprovação pela Corte
    DE SÃO PAULOO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que há uma "base sólida" na Constituição do país para que a Suprema Corte decida que casais homossexuais tenham os mesmos direitos que os heterossexuais.
    As declarações foram feitas à emissora Univisión e divulgadas ontem pelo jornal "Wall Street Journal".
    "Eu costumava lecionar direito constitucional e acho que há certamente uma sólida base para determinar que, de fato, nesta época, dado o que sabemos, dadas as mudanças que foram implementadas nos Estados deste país, casais do mesmo sexo deveriam ser tratados justamente e ter os mesmos benefícios de homens e mulheres casados", afirmou o presidente.
    Essa é uma das poucas vezes que o mandatário americano, que os republicanos têm acusado de ser um antigo professor de direito desatualizado, dá uma declaração envolvendo a época em que era professor de direito na Universidade de Chicago.
    Os comentários de Obama acontecem após dois dias de discussões na Suprema Corte sobre o casamento gay.
    Parte da Suprema Corte se mostrou relutante sobre fazer mudanças nos direitos dos homossexuais e, inclusive, apresentou questionamentos sobre se o caso pertencia ao tribunal.
    Obama afirmou que considera"apropriado que a Corte pese esta questão". Ele disse ver mudança na opinião pública sobre o tema.

      Inovar é preciso - Moisés Naím

      folha de são paulo

      Precisamos de mudanças revolucionárias que tragam os partidos políticos para dentro do século 21
      Quando converso com universitários, frequentemente pergunto quantos deles se juntariam a mim se eu formasse uma organização para salvar uma espécie de borboleta ameaçada de extinção no Haiti.
      Algumas mãos sempre se levantam. Então pergunto quantos se juntariam a mim em um dos partidos políticos existentes. Nesse momento, todos correm para a porta.
      Pode soar como uma anedota trivial, mas acredito que, na realidade, ela representa uma tendência global com consequências sérias.
      Em todo o mundo, as duas últimas décadas vêm sendo desastrosas para os partidos políticos, especialmente em comparação com as ONGs. Hoje, quando se trata de atrair pessoas idealistas e engajadas, os partidos mal têm chance.
      Muitos ainda conservam poder substancial, e em alguns países é impossível para novos rivais os desafiarem. Mas, na maioria das democracias, a estrutura partidária tradicional foi posta do avesso e substituída por coalizões rudimentares compostas de partidos velhos e desgastados e organizações políticas mais novas, mas fugazes.
      Por que isso tem importância? As democracias baseadas em ONGs que lutam por causas isoladas e em máquinas eleitorais oportunistas são democracias frágeis. E estão proliferando. Para corrigir isso, precisamos de uma onda de inovação política que se compare a outras inovações que transformaram nossas vidas. Inovações recentes mudaram os modos como comemos, lemos, escrevemos, fazemos compras, namoramos, viajamos e nos comunicamos. Tudo o que fazemos foi transformado por novas tecnologias e novas organizações. Tudo, isto é, menos o modo como nos governamos.
      Precisamos de inovações igualmente revolucionárias, que rompam padrões e tragam os partidos políticos para o século 21.
      Do jeito como as coisas estão, a paralisia política é crescente, e os governos estão cada vez mais incapazes de tomar as decisões necessárias para fazer frente aos problemas de seus países.
      Quando o poder se torna tão restrito assim, a estabilidade, a previsibilidade, a segurança e a prosperidade material são prejudicadas.
      As "vetocracias" (termo cunhado por Francis Fukuyama) se multiplicam em todo o mundo. São sistemas em que atores em grande número têm poder suficiente para vetar, diluir e adiar decisões, mas nenhum ator isolado possui poder suficiente para fazer uma agenda ser implementada.
      Tome-se, por exemplo, a débacle dos cortes obrigatórios no orçamento dos EUA que entraram em vigor em 1º de março. A recusa de uma facção em ceder num pacto orçamentário levou a cortes abrangentes e irracionais que só poderão prejudicar o país.
      Ou tome-se a Itália, onde eleições recentes levaram a um impasse parlamentar, fazendo com que seja impossível formar um governo viável. Ou Israel. Ou o Reino Unido.
      Para melhorar a eficácia dos governos democráticos, os partidos políticos precisam recuperar a capacidade de inspirar, energizar e mobilizar pessoas
      @moisesnaim
      Tradução de CLARA ALLAIN

        Militares da reserva criticam Comissão da Verdade em nota

        folha de são paulo

        DITADURA
        DE SÃO PAULO - Grupos que representam militares da reserva criticaram em nota os membros da Comissão da Verdade.
        Criada pelo governo, a comissão apura violações de direitos humanos ocorridas de 1946 a 1988, em especial na ditadura militar (1964-1985).
        "Que não venham, agora, os democratas arrivistas, arautos da mentira, pretender dar lições de democracia", diz o texto, assinado pelos presidentes do Clube Militar, Clube Naval e Clube da Aeronáutica. A assessoria da Comissão da Verdade não quis se manifestar.

          Painel - Vera Magalhães

          folha de são paulo

          Se colar, colou
          Pesquisas qualitativas em mãos do PT mostram que, quando questionadas sobre a eventual candidatura à Presidência do governador Eduardo Campos (PSB), muitas pessoas associam a ele variações das palavras "traição" e "ingratidão". Por isso, a ordem entre os petistas é bater na tecla de que Lula e Dilma Rousseff ajudaram o aliado com investimentos generosos em oito anos. Em tom light, a própria presidente citou vasta lista de realizações em sua visita a Pernambuco.
          Leite... Em recente jantar com empresários, no Rio, José Dirceu disse que o PT deveria ter se empenhado para abater a candidatura de Campos antes que ela levantasse voo, e que agora seria tarde.
          ... derramado O ex-ministro, condenado no mensalão, também previu que nenhum partido, nem mesmo o PMDB, vá apoiar "100%" a reeleição de Dilma. Todos devem ir ao palanque rachados.
          Dedicatória No encontro reservado que tiveram na terça-feira em Brasília, o senador Pedro Simon (RS) presenteou Campos com um livro. O pessebista ficou muito satisfeito com o teor da conversa com o dissidente do PMDB.
          Pernoite Cid Gomes (CE) convocou os demais governadores do Nordeste para chegarem a Fortaleza na véspera do encontro com Dilma para discutir medidas antisseca. Em café da manhã na terça eles vão fechar as propostas que levarão à presidente.
          Laranja 1 O Planalto incentiva a circulação de versão segundo a qual Dilma ficou irritada com a pré-candidatura de Clésio Andrade (PMDB) ao governo de Minas, logo após conceder o Ministério da Agricultura ao partido.
          Laranja 2 Aliados da presidente, no entanto, dizem que a aliança PT-PMDB já está selada. Andrade terá a função de ocupar espaço político e fustigar o PSDB. Mais adiante, o partido apoiará o candidato petista, provavelmente o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento).
          Nem sinal O presidente do PTB, Benito Gama, diz que a ação da bancada do Senado para emplacar um ministro não passa pelo comando da sigla. Ele aguarda desde novembro resposta a um pedido de audiência com Dilma.
          Dividida Após manifestar publicamente desconforto com a escolha de Marco Feliciano (PSC-SP) para o comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) se recolheu. Pré-candidata ao Senado em 2014, quer evitar embate com o PT, que cedeu suas vagas no colegiado ao partido do pastor-deputado.
          Até tu? O PSB indicou para a agora célebre comissão comandada por Feliciano o também pastor Eurico Silva (PE), líder da Assembleia de Deus e aliado de Eduardo Campos. O deputado é crítico severo da decisão do STF que permite união homoafetiva.
          Bem... Renan Calheiros (PMDB-AL) aproveita a confusão na Câmara, que tira o sono de seu correligionário Henrique Eduardo Alves (RN), para tentar refazer sua imagem no Senado. O presidente da Casa manda boletins diários para a imprensa,
          ressaltando a agenda positiva.
          ... na fita Depois de posar sorridente para fotos ao lado das relatoras da PEC das domésticas e capitalizar a medida, de grande alcance social, o peemedebista fará uma festa na terça-feira para a assinatura da nova lei.
          Media training Geraldo Alckmin passou a cumprir roteiro de candidato durante visitas ao interior. Além de inspecionar obras, o tucano programou extensa agenda de entrevistas a TVs, rádios e jornais regionais.
          TIROTEIO
          Quando sai do script de João Santana, Dilma se perde. Disse que inflação é secundária e, após a reação, perdeu a ensaiada simpatia.
          DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre a ação do governo e da presidente para negar que tenha dito que combate à inflação não é prioridade.
          CONTRAPONTO
          Vigilante do peso
          O presidenciável tucano Aécio Neves e o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), conversavam no cafezinho do Senado quando chegou um grupo de governistas, cantando "Parabéns para você" para Ideli Salvatti.
          A ministra cortou uma generosa fatia de bolo para Aécio, mas ofereceu uma pequena ao deputado.
          -Para você, Carlão, um pedaço pequeno, porque você me deu muito trabalho nas CPIs.
          -Estou de dieta. Aceito minha parte em emendas -respondeu o tucano, em tom de brincadeira.
          -Nada de emenda no meu aniversário! -replicou ela.

          DAVID COIMBRA - Meu câncer

          Zero Hora - 29/03/2013

          Numa sexta-feira como hoje, os competentes médicos da Santa Casa descobriram que havia um tumor devorando um dos meus rins.

          Um câncer.

          É estranho você dizer que está com câncer. É como se dissesse: estou morrendo. Foi o que pensei naquela sexta-feira. Naquela sexta-feira, eu morri um pouco.

          No sábado, meu rim foi removido. A cirurgia, comandada pelo doutor Ernani Rhoden, do Hospital São Francisco, foi um sucesso, mas, para mim, eu que nunca havia sido internado em hospital, nunca quebrara nada, nunca ficara doente, para mim foi uma dor inédita, um sofrimento que nem sabia ser capaz de suportar.

          Agora estou sendo bem cuidado pelo oncologista Jefferson Vinholes e tudo envereda pelo bom caminho, mas ainda não processei totalmente o que aconteceu. O que posso concluir desse episódio? Alguns dizem que essas experiências radicais nos levam a iluminações.

          Você compreende a vida de outra forma, vê as coisas de outro ângulo. Talvez no futuro, mas, até agora, o sofrimento não me abriu as portas da percepção. Até agora o sofrimento só foi isso mesmo, sofrimento. Que desperdício de dor.

          Mas houve algo, um sentimento que se consolidou na minha mente, com essa experiência. O que posso dizer é que, se não houve sofisticação da minha, digamos, vida espiritual, houve aumento da minha fé nas pessoas.

          A preocupação sincera e a ajuda incondicional dos meus amigos e dos meus familiares; as orações e promessas de pessoas que nem conheço, de todas as religiões; o apoio tranquilizador da minha empresa, a RBS, e o carinho dos meus colegas, desde a atendente do bar até o mais alto diretor; a competência dos médicos e o requinte da ciência; tudo isso me ergueu e me ergue, e tudo isso é humano. Não há nada transcendental aí; o que há são as pessoas.

          Os homens. O homem que inventa a bomba atômica, mas que também desenvolve a medicina nuclear, o homem é, sim, o lobo do homem, mas também o seu consolo e a sua salvação. Depois de olhar na cara da morte, vi que a vida está na relação com as outras pessoas. As pessoas, as pessoas. Os outros seres humanos é que nos tornam humanos.

          Foco é barrar conservadores, diz ex-ministro Nilmário Miranda

          folha de são paulo

          DE BRASÍLIAEx-ministro de Lula e primeiro presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Nilmário Miranda (PT-MG) afirma que o funcionamento do grupo é "com estratégia de guerrilha".
          "Trabalhamos mais para que os conservadores não avancem sobre direitos já conquistados do que para produzir efetivamente políticas públicas", diz ele.
          O deputado ainda integra a comissão e diz que o Legislativo "é mais atrasado que o Judiciário e o Executivo" na questão de homofobia.
          Nilmário foi o primeiro presidente da comissão, num momento em que ela ainda não tinha o destaque que ganhou a partir deste ano, quando se tentou pela primeira vez acomodar no mesmo ambiente representantes de ideologias opostas.
          Desde quando a comissão foi criada, em 1995, o PT ocupou por 13 vezes a presidência. O PDT a exerceu por três vezes. PC do B e PPB, uma.
          O Partido Social Cristão só assumiu a comissão porque, desta vez, o PT, que a presidia e tinha direito a escolher três comissões, deu prioridade para outras áreas: Seguridade Social e Família, Relações Exteriores e Comércio e Constituição e Justiça, a mais importante da Casa.
          O PSC, que não tinha direito a ocupar nenhuma vaga no colegiado, agora tem cinco deputados na comissão. Cederam vagas para a legenda o PMDB e o PTB. PSDB e PR também perderam espaço para parlamentares da bancada evangélica.
          No ano passado, passou pelo crivo da comissão a PEC das Domésticas. O colegiado atuou, no fim do ano, pela inclusão na pauta da Câmara.
          O deputado Domingos Dutra (PT-MA), ex-presidente da comissão, elegeu também a aprovação da PEC do Trabalho Escravo, travada há mais de uma década na Casa, como resultado da influência da comissão.

            Marco Feliciano diz que daria 'muito amor' a filho gay

            folha de são paulo

            Deputado diz que daria 'muito amor' a filho gay
            DE SÃO PAULONo programa "Agora é Tarde", da Band, Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, negou que tenha algo contra os homossexuais.
            "Se eu tivesse um filho gay, daria muito amor a ele. Afinal, filho é filho", afirmou Feliciano, que também é pastor e tem sido acusado de homofobia, em entrevista que seria exibida na madrugada de hoje.
            Feliciano também negou que seja racista, outra acusação feita sobre ele por manifestantes que se opõem à sua permanência na presidência da comissão. "Não sou racista. Apenas escrevi uma afirmação bíblica que os negros foram amaldiçoados por Noé", disse.
            Em 2011, o deputado disse no Twitter que africanos são descendentes de um ancestral "amaldiçoado por Noé". Depois, afirmou que foi mal interpretado.
            No domingo, Feliciano apareceu em outro programa da Band, o "Pânico". Ele disse a Sabrina Sato que só deixa o cargo em caso de morte. "Estou aqui por um propósito, fui eleito por um colegiado. É um acordo partidário, acordo partidário não se quebra. Só se eu morrer", afirmou.
            No dia anterior, Feliciano foi estrela de outro programa na TV -o game show "Mega Senha", da RedeTV!.

              Opositores não são democráticos, diz apoiador de Marco Feliciano
              Vice-presidente do PSC afirma que 'intolerante' é quem 'agride' e 'quer ganhar no grito'
              Pastor que preside a Comissão de Direitos Humanos vai trocar 4 dos 5 servidores de confiança do órgão
              MÁRCIO FALCÃODE BRASÍLIAPrincipal "fiador" do deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) no comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o vice-presidente do PSC, pastor Everaldo Pereira, criticou ontem o tom das manifestações contra seu correligionário e mandou recados a aliados que cobram a saída dele do posto.
              Feliciano é alvo de protestos de movimentos sociais que o acusam de ser homofóbico e racista. Ele nega.
              Anteontem, duas pessoas foram detidas na Câmara após Feliciano mandar prender um manifestante acusado de o chamar de "racista".
              "Essas pessoas é que não são democráticas", disse Pereira sobre os manifestantes, em entrevista à Folha.
              "O que a gente vê é que intolerante é quem agride, invade o gabinete, quer ganhar no grito. Se deixar o deputado trabalhar normalmente, vão verificar que não tem intolerância da nossa parte."
              Pereira disse que não há chances de Feliciano deixar o cargo, nem com um apelo dos líderes da Câmara, porque "foi eleito pela maioria da comissão e dentro da legalidade".
              O pastor tenta manter uma agenda normal de trabalho e já anunciou que vai trocar 4 dos 5 servidores de confiança da comissão. Dos 12 servidores concursados, dois pediram para sair com a chegada do pastor.
              Feliciano foi denunciado pelo Ministério Público ao STF (Supremo Tribunal Federal) por ter dito no Twitter que "a podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição".
              Mas Pereira reforçou o discurso de que as falas de Feliciano consideradas preconceituosas foram distorcidas e representam apenas uma tese teológica. Everaldo diz que seu colega tem raízes negras. "O cara é crioulo, tem cabelo ruim, tem que passar negócio na cabeça. O cara é filho de negro. Foi uma declaração teológica no passado."
              O vice-presidente do PSC atacou "pessoas e partidos que jogaram a comissão fora, sem interesse pelos direitos humanos". A comissão é historicamente ligada ao PT, que presidiu o colegiado 13 vezes nos últimos anos, mas abriu mão dela para optar por outras três comissões.
              Questionado sobre a indicação dos deputados José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP), condenados no caso do mensalão, para a Comissão de Justiça, ele disse que preferia não avaliar a situação de outros partidos, mas alfinetou. "Se Feliciano fosse condenado pelo Supremo, nem seria indicado [para comissão] e possivelmente teria sido convidado a sair do partido."
              Diante da blindagem dos evangélicos a Feliciano, o PPS sugeriu a renúncia geral da comissão de Direitos Humanos. Se 10 dos 18 integrantes do colegiado renunciassem, teria que ser realizada uma nova eleição para a presidência. A ideia já teria sido analisada pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
              A avaliação de líderes é que isso não teria sucesso porque Feliciano teria apoio da maioria dos integrantes -outros quatro colegas são do PSC.

                Tendências/Debates

                folha de são paulo

                ALEXANDRE SCHNEIDER
                Sobre parcerias e lealdades
                Não há inconsistência de dados sobre vagas de creches na cidade de São Paulo. Temos hoje o cadastro mais completo do país
                Ter sempre as informações corretas, confirmar suspeitas e eliminar dúvidas: todo executivo maduro e consequente sabe que tem de seguir essas regras básicas para preservar sua empresa. Na administração pública, tais cuidados são vitais. Evitam injustiças e impropriedades.
                Embora entendendo que em início de gestão tal comportamento possa refletir apenas insegurança, vejo-me obrigado a esclarecer críticas equivocadas do secretário municipal de Educação, Cesar Callegari.
                São incorretas suas conclusões expostas na mídia sobre vagas em creches. Não há fragilidades, ou inconsistência de dados. Temos hoje o cadastro mais completo do país. Quando chegamos, tudo era anotado em cadernos e papeizinhos. Hoje, a fila para creches está na internet, transparente.
                Mesmo tendo recebido há cinco meses todas as informações sobre o plano de obras e estar no terceiro mês de gestão, Callegari culpa a administração anterior por alunos estarem em escolas que ainda não foram entregues. E chega ao paroxismo de reclamar por ter recebido contratos de obras já assinados e terrenos com desapropriação iniciada para 92 novas escolas!
                Ao prometer "reformas profundas", Callegari pode acabar atingindo não os antigos ocupantes dos cargos, mas os profissionais da educação e os alunos.
                A gestão Serra/Kassab criou novos programas educacionais, como é o da inclusão de alunos com deficiência (Inclui), inédito no país, e a Prova São Paulo, avaliação anual voltada ao trabalho em sala de aula. Construiu um currículo para todas as áreas de conhecimento.
                Melhorou políticas de governos anteriores, ao duplicar e dinamizar as atividades dos CEUs, ao tornar obrigatórias as atividades de leitura e informática implantadas por Covas e Erundina, ao transformar o projeto de rádios escolares de Marta na criação de agências de notícias, dentre outros.
                Os novos programas pedagógicos (Currículo, Ler e Escrever, Cadernos de Apoio, Inclui) foram desenvolvidos e implantados respeitando a história da rede pública. O Ler e Escrever, programa de alfabetização utilizado também na rede estadual e em centenas de redes municipais de ensino, a custo zero, que Callegari promete extinguir, foi implantado em 2006, com metodologia desenvolvida por especialistas renomados e profissionais da rede pública.
                Políticas públicas são incrementais, podem e devem ser avaliadas e melhoradas, como aconteceu nas três últimas décadas na educação em São Paulo. Quando Paulo Freire implantou a primeira sala de informática no início da década de 90, talvez não imaginasse que não se restringiria apenas a uma sala, mas viesse a ser ferramenta, tecnologia de uso intensivo na aprendizagem.
                É triste que, à revelia do posicionamento do prefeito Haddad, alguns auxiliares politizem o enfrentamento de problemas, buscando culpados onde encontraram muito trabalho e boa vontade na transição.
                Os problemas de São Paulo eram, são e continuarão grandes. Em todas as frentes. Seu enfrentamento corajoso não comporta pequenezas. Nossa cidade tem papel fundamental a desempenhar no cenário político, econômico e social que se avizinha, para ajudar o Brasil. Para isso, parcerias e lealdades são indispensáveis. Assim como alianças maduras e responsáveis.

                ROBERTO RODRIGUES
                Meu porto, minha vida
                A medida provisória dos portos tem boa chance de obter avanços. Espera-se que logo as filas de caminhões sejam coisa do passado
                Chega a ser espantosa a reação geral quanto ao recorrente fenômeno do congestionamento de caminhões no porto de Santos. Afinal, todo ano isso acontece, e não só em Santos, mas também em Paranaguá.
                Há anos, os mais diversos especialistas comentam que o principal gargalo do agronegócio brasileiro é infraestrutura e logística. E vêm pedindo rapidez na implementação das obras do PAC ligadas ao tema.
                E neste ano, com uma safra recorde de grãos (especialmente da soja, uma vez que colheremos 85 milhões de toneladas, superando pela primeira vez a safra americana), era superevidente que teríamos esse triste espetáculo das filas quilométricas para descarregar nos portos.
                Além disso, ao largo do porto, dezenas de navios ancorados esperam para carregar os grãos oriundos das competitivas zonas produtoras, ou para descarregar os fertilizantes que os mesmos caminhões levarão de volta àquelas regiões, para que seus agricultores já se preparem para a safra do ano que vem.
                Com isso, os produtores perdem duas vezes: como os caminhões demoram para descarregar a soja -ou o milho-, acabam servindo de armazém. Mas um armazém caríssimo, evidentemente, sem falar na irritação que toma os motoristas que perdem tempo, dinheiro e ficam mais dias longe de casa.
                Mas também perdem pela demora do descarregamento de fertilizantes dos navios, pois cada dia parado ao largo tem um custo, chamado "demurrage", que vai a dezenas de milhares de reais por dia. Ora, quem paga isso? O produtor, é lógico, uma vez que esse custo adicional lhe é repassado no preço do fertilizante.
                É claríssima, então, a perda dos agricultores em geral, representada pelos custos inflados e em função de um problema sobre o qual eles não têm nenhuma responsabilidade. Os mais prejudicados são os produtores de regiões distantes, uma vez que as cargas vêm por caminhão, muito mais caro do que trem, que também não há suficientemente.
                Pelo menos parte do custo também é repassada aos consumidores, de modo que todo mundo perde.
                Mas há algo ainda mais grave. No ano passado, o agronegócio brasileiro teve um saldo de US$ 79 bilhões em sua balança comercial externa: essa é a diferença positiva entre o que o setor exportou e importou. E o saldo comercial total do Brasil foi de US$ 19 bilhões, incluído o agronegócio. Ou seja, o desempenho do agro salvou o saldo do país e, de quebra, garantiu as reservas cambiais.
                Portanto, quanto mais o agronegócio exportar, melhor será para o país. Não apenas para o agricultor, mas para todos os brasileiros, que se beneficiam do fato.
                Outro dado: há dez anos, em 2002, o agronegócio exportou US$ 24,8 bilhões. No ano passado, US$ 95,8 bilhões, quase quatro vezes mais. Ora, de novo todo o país e seus cidadãos ganham com esse crescimento, que cria riquezas, renda e empregos diretos e indiretos.
                E, se deixarmos de exportar, sofrem todos os brasileiros.
                As dificuldades de logística já fizeram a China cancelar dez navios de soja encomendadas ao Brasil, ameaçando fazer o mesmo com outros tantos ou mais. E se a moda pega?
                Bem, depois de anos de incisivas reclamações de técnicos e exportadores, o governo finalmente tomou decisões importantes quanto às concessões na área de rodovias e ferrovias, abrindo ao setor privado uma oportunidade de investir com lucro. Isso vai acontecer, mas demora, não só pelo fato em si (projeto e execução), mas também pela burocracia, especialmente das licenças ambientais.
                E, por último, o governo e o Congresso estão trabalhando vigorosamente em uma medida provisória que busca equacionar o problema dos portos, com boa chance de obter avanços notáveis. Aliás, nos últimos dias as filas até melhoraram com essa perspectiva.
                Esperamos que, em três ou quatro anos, as filas intermináveis sejam coisa do passado. E todos os brasileiros possam se beneficiar do aumento das exportações e, com orgulho, dizer: "Meu porto, minha vida"...

                  Passagem - Marina Silva

                  folha de são paulo

                  É difícil parar para refletir em meio à agitação da vida urbana. A memória recente é de catástrofes, tragédias, conflitos, o incêndio do qual todos tentam fugir. Mas o feriado alonga o incômodo, transformando o ócio em frenesi de transporte, bagagem, filas e mais pressa. A vida paga pedágio. Mas a civilização, mesmo saturada de seus excessos, não nos deixa totalmente isolados das fontes originais em que brotam os sentidos da vida. Elas estão ao nosso alcance, ocultas sob o tempo histórico aparentemente linear do Ocidente. Os ciclos da cultura e suas datas cartesianamente chamadas de "simbólicas" são vias de acesso.
                  Agora vamos à Páscoa e nos preparamos para um grande esforço. Da trajetória dos judeus herdamos aqueles 40 anos de marcha, atravessando o mar e o deserto para sair do cativeiro e do exílio e chegar à Terra Prometida onde, além da novidade da terra, haveria a alegria de viver em novidade de vida. Ressignificada pela tradição cristã, a passagem é íntima e radical: atravessamos o vale da morte, deixando os tesouros efêmeros sujeitos às traças e à ferrugem pelo tesouro da verdade que jorra na vida eterna.
                  E mesmo os que não professam uma crença estão profundamente mergulhados nessas densas camadas da subjetividade inerente à condição humana. O acesso às fontes, portanto, é possível a todos.
                  Talvez seja por isso que, em meio à variedade de crenças e descrenças, a humanidade sente aproximar-se sua Páscoa, seu grande esforço, seu supremo sacrifício para alcançar o que está além do tempo previsível. Sob a camada das repetições que criam couraças para nos encerrar em velhas certezas, há um incontornável medo da travessia do deserto, das tempestades, do sofrimento, da morte pela estagnação.
                  A crise mal começou, sabemos. Ultrapassou a miséria crônica das periferias e já penetrou nas fortalezas centrais do império. Adiamos as decisões mais urgentes para depois de todos os prazos, na mudança da economia, na prevenção das mudanças climáticas, na readequação das cidades, na proteção das comunidades, na educação das gerações. Atrasamo-nos, especialmente, na política, transformada num jogo de vitrines e estilingues do ego. Desprezamos os avisos da ciência, deixamos a sabedoria clamando no deserto. Comprometemos as safras dos tempos vindouros pela colheita de apenas algumas décadas.
                  Há, entretanto, uma força silenciosa e sem nome. Chamam-na esperança, utopia, sonho, fé e até destino. É um grão de certeza, uma pequeníssima semente. Uma promessa de que a vida será restaurada em seu sentido mais profundo. Chegaremos ao Reino e nele não teremos armas, mas simplesmente leite e mel. Serenidade na passagem da dor à alegria. Feliz Páscoa para todos.

                    Ruy Castro

                    folha de são paulo

                    Rumo ao brejo
                    RIO DE JANEIRO - A princesa beijou o sapo para fazê-lo reverter à condição de príncipe -e foi ela, ao contrário, quem se transformou em sapa. Uma variante dessa antifábula é a do homem de terno e gravata que chegou à farmácia com um enorme sapo verde e de olhos esbugalhados como um prolongamento de sua cabeça. O farmacêutico perguntou, atônito: "Mas o que foi isso, meu amigo???". E o sapo, com voz grave: "Não sei. Acordei com dor de barriga e esse sujeito apareceu debaixo de mim".
                    Foi o que aconteceu ao futebol brasileiro quando ele deixou de se bastar como mercado e se especializou em produzir matéria-prima -jogadores- para vender à Europa.
                    Com a multidão de brasileiros em gramados europeus, era inevitável que os gringos absorvessem nossas virtudes -o domínio de bola, a capacidade de driblar, as tabelinhas em alta velocidade. Em contrapartida, em vez de acrescentarmos às nossas as virtudes deles -a disciplina tática, a marcação rígida, o preparo físico-, incorporamos o que eles tinham de pior e estavam abandonando: o jogo "viril", os chuveirinhos sobre a área e a falta de criatividade individual. É o que temos hoje por aqui.
                    A cronologia mostra bem. Na esteira da Copa de 1970, nenhum dos tricampeões mundiais foi vendido para a Europa -e olhe que, entre eles, estavam Pelé, Carlos Alberto, Gerson, Tostão, Jairzinho, Rivelino e Clodoaldo (somente os dois primeiros saíram, mas em fim de carreira, e para os EUA). Já a realidade pós-Copa de 1982 foi outra: os italianos nos bateram às portas e levaram metade daquele time -Zico, Junior, Sócrates e Cerezo (Falcão já estava lá). A partir daí, não houve jogador brasileiro que não tivesse como objetivo exclusivo atuar na Europa.
                    Se a princesa virou sapa, nada mais natural que só lhe restasse o brejo -que é para onde o nosso futebol caminha.

                      Eliana Cantanhêde

                      folha de são paulo

                      Vão partir para a ignorância?
                      BRASÍLIA - O deputado e pastor Feliciano não é mole. Além da cara de pau de assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ele resiste a todas as pressões e ponderações para sair de onde nunca deveria ter entrado e, agora, parte para o ataque.
                      Autor de frases racistas e homofóbicas, alvo de processos no Supremo Tribunal Federal (um deles por estelionato) e flagrado dando uma bronca numa ovelha do seu rebanho que lhe passou o cartão de crédito, mas não a senha, Feliciano se coloca como vítima e joga a polícia parlamentar em cima de manifestantes.
                      Um foi detido por chamá-lo de "racista" e o outro (até devidamente, cá entre nós), por tentar invadir o seu gabinete. Pior: enquanto chama a polícia, Feliciano aciona os militantes do outro lado: os irmãos de fé.
                      Aliás, a convocação é do seu partido, o PSC. Ao comunicar, desassombradamente, que o pastor seria mantido na presidência da comissão, o vice-presidente nacional do partido, o também pastor Everaldo Pereira, disse que o camarada é "ficha limpa" e ameaçou: "Não fazemos ameaças, mas, se for preciso convocar centenas de militantes que pensam como nós, também vamos convocar". Que medo!
                      O risco é o Congresso virar um palco de guerra entre manifestantes anti-Feliciano e pró-Feliciano, com tudo o que isso significa em termos de direitos humanos, de minorias, de avanços, de atraso. Se ficasse só nas ideias, ótimo. Continuando no grito, já é preocupante. E se partirem para a ignorância, para as vias de fato?
                      No meio da desordem, pergunta-se: cadê o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, que é o parlamentar mais experiente e tem a política no sangue? Ele não só disse que a situação era "insustentável" como se comprometeu a resolvê-la rapidamente. Daí? Daí, nada.
                      Políticos resolvem as coisas parlamentando, negociando, ajustando contrários. Mas é a velha história: "Em casa de ferreiro, espeto de pau".

                        Helio Schwartsman

                        folha de são paulo

                        Reforma franciscana
                        SÃO PAULO - Existem bons argumentos para defender o financiamento público de campanhas políticas. O atual sistema, em que grandes empresas dão dinheiro a candidatos, gera duas distorções graves. Em primeiro lugar, ele favorece, senão a corrupção deslavada, ao menos o tráfico de influência, já que os doadores tendem a cobrar a fatura dos eleitos na forma de favores.
                        O outro problema é que, num contexto de campanhas caras, políticos amigos do capital ficam numa situação de enorme vantagem diante de competidores sem as mesmas relações, o que faz com que a democracia ganhe temerários tons plutocráticos.
                        Mesmo assim, reluto em comprar a ideia do financiamento público exclusivo. Do jeito que é hoje, campanhas já consomem uma boa verba do Tesouro. No último pleito municipal, o TSE desembolsou R$ 395,3 milhões em despesas operacionais, aos quais se somaram R$ 606,1 milhões em renúncias fiscais com o horário eleitoral gratuito e R$ 286,3 milhões do Fundo Partidário. No total, foi R$ 1,3 bilhão, ou R$ 9,38 por eleitor.
                        Se acrescentarmos a isso os gastos privados, que chegaram a R$ 2,8 bilhões no ano passado, a conta vai a R$ 4,1 bilhões, ou R$ 29,44 por eleitor. Vale lembrar que a disputa municipal tende a ser mais barata que as eleições gerais para presidente, governadores, senadores e deputados.
                        E é complicado defender que se multiplique por três o investimento público na política quando existem tantas carências no país. Prefiro continuar com o modelo que admite dinheiro privado, tomando o cuidado de evitar os desvirtuamentos mais gritantes. Acho que isso é possível, se proibirmos as contribuições de empresas e admitirmos apenas doações de cidadãos até um limite razoavelmente baixo de, digamos, R$ 1.000.
                        O que de pior aconteceria é as campanhas ficarem um pouco mais franciscanas, o que não é um problema e ainda ajudaria a identificar quem pode estar recebendo doações ilegais.

                          Tv Paga

                          Estado de Minas - 29/03/2013

                          O martírio de Jesus

                          Se a intenção é chocar, chamar a atenção, então está justificada a exibição de A paixão de Cristo, hoje, às 22h30, na Fox. Certo, o filme tem tudo a ver com o momento, mas quem ainda não viu precisa preparar o espírito – ou o estômago. É que o diretor Mel Gibson caprichou nas cenas de espancamento e tortura de Jesus, interpretado por Jim Caviezel (foto). É violento demais, na mesma medida da polêmica que acabou gerando.

                          Boas opções para quem
                          prefere algo mais ameno


                          O pacote de filmes tem muitas alternativas ao tema religião. A diversidade pode ser exemplificada com Mil anos de orações, em versão dublada, às 22h, na Cultura. No mesmo horário, o Telecine Premium estreia a comédia O babá(ca). Na concorrida faixa, o assinante tem outras 10 opções: Rosa Morena, no Canal Brasil; Dois filhos de Francisco, no FX; Lanterna Verde, na HBO; J. Edgar, na HBO2; Lena, no Max; Cavalo de guerra, no Telecine Pipoca; Sob o domínio do medo, no Max Prime; Jogando com prazer, na TNT; Nazistas no centro da Terra, no Space; e Medo e delírio, no TCM. E ainda: Olha quem está falando agora, às 21h, no Comedy Central; e As coisas impossíveis do amor, também às 21h, no Cinemax.

                          Documentários também
                          exploram temas religiosos


                          Voltando a falar de Páscoa, os canais de documentários também colaboram com alguma diversidade. O NatGeo exibe, às 19h, o especial Sinais do fim dos tempos. O canal History começa com Jesus: os 40 dias perdidos, às 20h, e em seguida, às 22h, vem o especial Crucificação, ficando para amanhã mais três programas.

                          Canal Brasil fecha série do
                          inquieto Michel Melamed


                          O que é verdadeiro e o que não é? O que é realidade e o que é ficção? Essas são as questões derradeiras levantadas pelo criador Michel Melamed no episódio final de Seewatchlook – O que você vê quando olha o que enxerga?, às 23h30, no Canal Brasil. Na pauta, uma série de entrevistas com os atores da peça que ele montou em Nova York, quem atuou e quem não atuou.

                          Vh1 vai escolher o melhor
                          barman dos Estados Unidos


                          Se uma atração se despede, outra está chegando. O Vh1 estreia, às 22h30, o reality show On the rocks, que busca os melhores e mais brilhantes bartenders que mostram seu estilo, personalidade e habilidades atrás do balcão do bar. Cada episódio destaca diferentes desafios específicos em que os oito concorrentes escolhidos demonstram seu talento, conhecimento, precisão, velocidade e agilidade. O vencedor leva a bolada de US$ 100 mil.

                          Não perca nada do que
                          vai rolar no Lollapalooza


                          Hoje só vai dar Lollapalooza no Multishow. A transmissão começa às 15h15, simultaneamente com o site multishow.com.br, e continua amanhã e depois. No total, serão oito horas por dia no ar. A emissora deslocou mais de 200 profissionais, com quatro unidades móveis de vídeo em HD, sete gruas, quatro satélites para sinais simultâneos e 30 câmeras nos quatro palcos por onde vão passar bandas e artistas como The Killers, Pearl Jam, Franz Ferdinand, The Black Keys, Agridoce, Criolo e Planet Hemp. O agito já está rolando nas redes sociais…

                          Editoriais FolhaSP

                          folha de são paulo

                          Casamento sem dogma
                          Enquanto se discute, na Suprema Corte dos Estados Unidos, a constitucionalidade de uma emenda proibindo o casamento gay no Estado da Califórnia, vem do Líbano uma notícia surpreendente.
                          Ao menos para quem julgava ser totalmente laico o regime jurídico naquele país árabe, surge como inesperada -e auspiciosa- a informação de que, pela primeira vez, foi possível realizar-se lá um casamento civil. Heterossexual, bem entendido.
                          Foi graças a uma burla, na verdade, que a sunita Nidal Darwish logrou celebrar seu matrimônio com o xiita Kholoud Sukkarieh. Ainda que o credo religioso não fundamente a ordem legal no Líbano, no direito de família prevalecem as orientações vigentes para cada uma das 18 crenças oficialmente reconhecidas. Retirando de seus documentos a filiação religiosa, Nidal e Kholoud conseguiram validar sua união apenas à luz da legislação civil.
                          O caso dos dois ativistas em prol da plena separação entre igreja e Estado atraiu, como não podia deixar de ser, o anátema de autoridades religiosas muçulmanas.
                          Nada pareceria mais distante das polêmicas em curso em vários países ocidentais, nos quais se acelera a aceitação dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Neste lado do mundo, lideranças religiosas condenam, mesmo na esfera laica e civil do Estado moderno, a união homossexual.
                          Nos anos pós-1968, as bandeiras do "amor livre" e a crítica acerba à instituição familiar faziam prever que os laboriosos rituais do matrimônio, com seu lastro de compromissos mútuos e expectativas de durabilidade, figurariam em breve nas prateleiras de um museu.
                          Nessa perspectiva, a ideia do casamento gay parece ser mais um sinal da vitalidade da ideia tradicional do casamento do que uma intensificação da voga libertária. Procura-se, com efeito, fortalecer uma situação de estabilidade familiar, compromisso pessoal e construção de vida em comum, para além do que muitos condenam como encontro fugaz entre pessoas entregues a uma atração pecaminosa.
                          É como se, num paradoxo, a religião servisse de pretexto para desunir aquilo que o desejo e o amor buscam constituir de modo estável, se não permanente.
                          Avessos às limitações impostas a xiitas e sunitas, Nidal Darwish e Kholoud Sukkarieh não se insurgiram contra a instituição do casamento. Ao contrário, celebram-na -assim como procuram fazer casais homossexuais em várias paragens, a despeito de tantas forças militando por sua separação.

                            EDITORIAIS
                            editoriais@uol.com.br
                            Atropelos de Dilma
                            Presidente constrange BC com declaração desajeitada sobre combate à inflação, que segue em alta, e depois ainda diz que foi mal interpretada
                            Foram lesivas à credibilidade da política econômica da presidente Dilma Rousseff suas declarações sobre inflação na cúpula dos Brics em Durban, na África do Sul. Reforçaram a percepção de que o governo federal não tem estratégia definida para lidar com os desafios da economia e do regime de metas inflacionárias.
                            Ontem, um dia depois das declarações de Dilma, o BC publicou seu relatório do primeiro trimestre com novas projeções de inflação, sensivelmente piores que as do final do ano passado. O BC espera que o IPCA suba 5,7% neste ano, bem acima dos 4,9% prognosticados em dezembro. Para 2014, a expectativa subiu de 4,8% para 5,3%.
                            O tropeço retórico presidencial começou por atribuir ao Ministério da Fazenda, e não ao Banco Central, o papel de discorrer sobre inflação. Parece uma questão semântica, mas não é.
                            O mandato de controlar a inflação pertence ao BC. Desde que o presidente do banco passou a ter status de ministro, até mesmo sua subordinação formal à pasta da Fazenda deixou de existir.
                            A presidente também declarou não concordar com um combate à inflação que implique redução do crescimento econômico. Para ela, o receituário "que quer matar o doente em vez de curar a doença" estaria datado.
                            Por fim, Dilma atribuiu o problema a flutuações de preços no curto prazo, visão contestada por grande número de especialistas. O segmento de serviços, por exemplo, mantém alta persistente, à taxa de 8% ao ano.
                            A fala de Dilma foi considerada incompatível com manifestações do BC, que vem sinalizando em seus comunicados o desconforto com a inflação e a possibilidade de ter de elevar os juros para contê-la. Alertada sobre a reação negativa do mercado financeiro, a presidente voltou à carga para dizer que suas afirmações haviam sido manipuladas e mal interpretadas.
                            O ponto nevrálgico não está em uma ou outra má palavra da presidente, mas no atropelo do BC. Ainda assim, chama a atenção a imperícia na comunicação do governo, que deixa a sensação de improviso. Não há um estado-maior para definir um rumo claro e alinhar as percepções do setor privado. Aos trancos e barrancos, o governo parece enfrentar apenas o desafio -ou o deslize- de cada dia.
                            A inflação sobe. O crescimento permanece deprimido. As contas externas pioram. E o investimento, que seria a marca do governo Dilma Rousseff, não dá sinais de sair da letargia.
                            Qual é a estratégia? A colcha de retalhos formada pelas declarações das autoridades sugere resposta sombria: não há nenhuma à vista.

                              Outro circuito - Walter Sebastião

                              Artistas plásticos ultrapassam a fronteira das galerias e se aproximam do público nas salas de cinema. Longas filmados no Brasil divulgam a obra de nomes de ponta das artes visuais 


                              Walter Sebastião

                              Estado de Minas: 29/03/2013 

                              Sucesso de público, o documentário sobre o fotógrafo Vik Muniz foi indicado ao Oscar em 2011. Cildo Meireles, autor de uma das obras mais admiradas da coleção Inhotim – Desvio para o vermelho –, já mereceu dois filmes. Até o fim do ano, chegará ao circuito comercial o documentário sobre o carioca Hélio Oiticica (1937-1980), criador mundialmente admirado e considerado um dos fundadores da arte contemporânea.

                              Não apenas os artistas experimentais vêm sendo tema de longas-metragens. O mineiro Sebastião Salgado, de 65 anos, radicado há décadas em Paris, é um dos fotógrafos mais famosos do mundo. Depois de protagonizar The spectre of hope (2002), de Paul Carlin, estará em outros dois filmes: um, dirigido por Betse de Paula, encontra-se em fase de finalização. O outro está sendo rodado pelo cineasta alemão Wim Wenders.

                              Tem mais. O retrato das coisas que sonhei, com direção de Fábio Belotte, apresenta personagem ilustre da arte feita em Minas Gerais: o escultor Geraldo Telles de Oliveira, conhecido como GTO. Também foram anunciados um filme sobre a pintora Beatriz Milhazes e animação inspirada na trajetória de Tarsila do Amaral. A maioria dessas produções vem sendo exibida no circuito alternativo e na TV. Várias ganharam prêmios de júri e do público em festivais. Mas pelo menos dois cineastas – Mariana Brennand e César Oiticica Filho – prometem brigar para chegar ao circuito comercial de todo o Brasil.

                              “Filmes contribuem para divulgar os artistas. Mas é sempre bom lembrar: esses longas se devem à repercussão da obra realizada por eles”, observa Morgana Rissinger, coordenadora de programação artística de Inhotim.

                              A filmografia sobre artes visuais ainda é modesta, pondera Morgana, que não se surpreende com o fato de o longa sobre Hélio Oiticica, outrora um ilustre anônimo, fazer sucesso atualmente. Em fevereiro, o documentário recebeu dois prêmios no Festival de Cinema de Berlim. “Hélio é personagem fantástico, um dos artistas mais importantes de todos os tempos. Então, um filme sobre ele era necessidade”, diz a coordenadora do centro de arte mineiro.

                              Inhotim está produzindo curtas documentais sobre artistas que lá expõem. A série Retratos focaliza Chris Burden, Matthew Barney, Adriana Varejão e Doris Salcedo. O quinto filme, em fase de produção, é sobre Tunga. O projeto surgiu da constatação de que o processo de criação das obras destinadas à coleção do instituto é muito rico. “O público sempre pergunta como elas são feitas, o que o artista pensa. Então, decidimos fazer os documentários”, explica Morgana.

                              Ficção


                              O senhor do labirinto, dirigido por Geraldo Motta, é raridade na filmografia nacional: trata-se de um longa de ficção sobre um artista plástico brasileiro. Flávio Bauraqui interpreta Arthur Bispo do Rosário. Lançado em 2010, tem circulado em festivais e mostras. O elenco reúne Irandhir Santos, Maria Flor, Eriberto Leão e Odilon Esteves, entre outros.

                              Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) passou a maior parte de sua vida em instituições psiquiátricas cariocas. Acreditava ter missão determinada por Deus. Para cumpri-la, construiu objetos com sucata e objetos de seu dia a dia, como linhas e botões. Descoberto na década de 1980, vem se tornando nome internacionalmente aclamado. Seus trabalhos serão expostos na Bienal de Veneza, em junho.

                              “A riqueza de vida desses artistas dá rica matéria-prima para longas-metragens”, diz Geraldo Motta. “Na hora de filmar, estamos sempre buscando refletir sobre a condição humana. Esses artistas que ganharam filmes talvez façam isso de modo extremo”, conclui.

                              A jornada de Brennand

                              No Rio de Janeiro e São Paulo, o circuito comercial exibe documentário de 75 minutos dedicado ao pernambucano Francisco Brennand, de 85 anos. “É a jornada sobre o mundo fantástico construído por um artista plástico cuja obra, ao investigar a condição humana, procura decifrar o mistério que é a vida”, explica Mariana Brennand Fortes, diretora do longa e sobrinha-neta do homenageado.

                              “Levo o espectador para a toca do lobo”, brinca a cineasta, referindo-se à Oficina Brennand. Instalado dentro de um parque no Bairro Várzea, no Recife, o espaço reúne esculturas monumentais ao ar livre e galpões onde se pode conhecer a obra de Francisco Brennand e técnicas da cerâmica que o fizeram famoso.

                              “No futuro, esse pernambucano será conhecido como um dos grandes artistas do mundo. Por enquanto, espero que o filme contribua para que mais pessoas o descubram”, explica Mariana. A diretora diz que o crescimento da filmografia sobre artistas plásticos é natural neste momento em que o Brasil tem feito mais cinema, com destaque para documentários. “É a oportunidade de contar grandes histórias. Os artistas plásticos têm belas histórias”, observa.

                              Francisco Brennand, o segundo filme de Mariana, inspirou outro projeto: a edição dos diários do artista, usados como condutores da narrativa.

                              A lenda

                              Inventor da instalação, Hélio Oiticica, em vida, já era uma lenda. Ainda jovem, criou obras inovadoras – caminho radicalizado depois de sua morte, aos 43 anos, em 1980. Esse carioca circulava entre os morros do Rio de Janeiro, a cena underground nova-iorquina e círculos vanguardistas.

                              Depois de o polêmico criador se tornar nome respeitado, ele chega à telona no longa Hélio Oiticica – O filme. Ainda não há data de lançamento no circuito comercial, mas o público poderá conferi-lo ainda este ano.

                              “A função do documentário é apresentar Hélio ao Brasil e ao mundo”, resume o diretor César Oiticica Filho, sobrinho do artista plástico. O homenageado chegará ao público na primeira pessoa, por meio de fitas que deixou gravadas, reunidas em seu espólio.

                              “Hélio era um criador que tinha compromisso com a invenção. Isso o colocou no caminho de um salto mortal após o outro, fazendo surgir novas categorias artísticas”, observa César. “Todo bom artista merece um filme. Produções assim ajudam o Brasil a conhecer o Brasil. O país é grande, faltam museus adequados para receber mostras, viajar com exposições é caro. O cinema chega onde a exposição não vai”, observa.

                              Longas como Hélio Oiticica – O filme têm ainda outro papel. “Construir a memória que estava perdida”, conclui o diretor.

                              Os longas

                              . Francisco Brennand (2013), de Mariana Brennand Fortes
                              . Hélio Oiticica – O filme (2013), de César Oiticica Filho
                              . O senhor do labirinto (2012), de Geraldo Motta. Sobre Arthur Bispo do Rosário.
                              . O retrato das coisas que sonhei (2012), de Fábio Belotte. Sobre Geraldo Teles de Oliveira, o GTO
                              . Lixo extraordinário (2011). De Karen Harley, João Jardim e Lucy Walker. Sobre Vik Muniz. Disponível em DVD
                              . A obra de arte (2010), de Marcos Ribeiro. Sobre os artistas Eduardo Sued, Carlos Vergara, Beatriz Milhazes, Tunga, Ernesto Neto, Carlos Vergara e Waltércio Caldas
                              . Cildo (2008), de Gustavo Rosa de Moura. Sobre Cildo Meireles. Disponível em DVD
                              . Moacir arte bruta (2006), de Walter Carvalho. Sobre o artista plástico goiano Moacir
                              . O risco – Lúcio Costa e a utopia moderna (2003), de Geraldo Motta Filho
                              . Imagens do inconsciente (1984), de Leon Hirszman. Três longas dedicados, respectivamente, aos artistas Fernando Diniz, Adelina Gomes e Carlos Pertius. Disponível em DVD

                              Em busca da fantasia perdida

                              folha de são paulo

                              Hollywood vive crise no setor de efeitos especiais; produtora que levou o Oscar pediu falência
                              RODRIGO SALEMDE SÃO PAULOUm filme com um jovem indiano atacando o vazio com um remo dificilmente ganharia o Oscar de melhor direção em 2013. Um terço de um transatlântico afundando em um tanque d'água não se transformaria em um dos maiores fenômenos de bilheteria da história -caso de "Titanic".
                              E "Jack - O Caçador de Gigantes", blockbuster que estreia hoje nos cinemas do Brasil, teria cenas de ação com seu herói (Nicholas Hoult) lutando contra bolas de tênis.
                              As situações descritas são extremas, mas o alerta vermelho está aceso em Hollywood, que enfrenta uma grave crise no setor de efeitos visuais. Apesar da demanda crescente por parte dos estúdios, a concorrência se acirrou a ponto de derrubar cachês e margens de lucro dessas empresas, que têm alto custo.
                              Em setembro passado, a Digital Domain, fundada por James Cameron e responsável pelos efeitos de "Titanic", fechou as portas. Em janeiro, a Dreamworks Animation demitiu 350 pessoas.
                              Já a Rhythm and Hues, que venceu o Oscar de efeitos visuais neste ano por "As Aventuras de Pi", entrou com pedido de falência na mesma semana em que foi premiada.
                              Bill Westenhofer, supervisor de efeitos da empresa (uma das maiores do setor), até tentou alertar o mundo sobre a crise no segmento na cerimônia do Oscar, mas foi cortado abruptamente pela produção da festa com a música tema de "Tubarão".
                              Pior: ao receber o Oscar de melhor diretor por "As Aventuras de Pi", Ang Lee agradeceu até aos "construtores do tanque" do filme, mas deixou de lado os técnicos que desenharam 80% de seu longa.
                              O filme retrata um garoto (Suraj Sharma) aprendendo a conviver com um tigre -reproduzido digitalmente em quase todas as cenas- em um bote no meio de um oceano (ampliado por computador).
                              PROTESTO
                              Do lado de fora do Dolby Theatre, no qual ocorreu a festa do Oscar, 450 artistas visuais protestaram contra o sistema de trabalho dos grandes estúdios. Entre as reivindicações estão a criação de um sindicato e a participação nos lucros das produções.
                              Lee conseguiu enfurecer ainda mais os artistas quando, nas entrevistas pós-Oscar, disse que os "efeitos especiais poderiam ser mais baratos".
                              A declaração do cineasta deu origem a uma carta aberta de Phillip Broste, da Rhythm and Hues: "Foram precisos centenas de horas de artistas habilidosos e coordenadores para moldar os cenários e as performances de 'As Aventuras de Pi'. Seu dinheiro foi gasto nisso e, julgando pela noite que teve, foi uma barganha dos diabos".
                              Dias depois, o diretor respondeu tentando colocar panos quentes. "Quando a economia está bem, as empresas de efeitos visuais vão bem, porque existe dinheiro. Quando os tempos ficam ruins, é provável que elas peçam falência", afirmou Lee à Folha.
                              "Sei que é difícil fazer um trabalho artístico, mas espero que esse negócio custe menos e seja mais artístico e respeitado. Seria um sonho."
                              Para Tim Squyre, montador de "As Aventuras de Pi", o setor de efeitos especiais precisa encontrar um modelo de negócio que funcione. Hoje, uma empresa fecha um contrato com valor fixo -mesmo que filme renda US$ 600 milhões (R$ 1,2 bilhão), como "As Aventuras de Pi".
                              A competitividade acirrada entre as produtoras leva a um leilão às avessas nos bastidores: leva o projeto quem oferecer o menor orçamento.
                              "As companhias precisam operar como negociantes de verdade e parar de passar a perna umas nas outras", diz Scott Squires, um dos organizadores do protesto no Oscar.
                              PROTECIONISMO
                              Outro ponto que incomoda o segmento nos EUA é a estratégia de países como Nova Zelândia (sede da empresa que fez "O Senhor dos Anéis") e Canadá, que oferecem incentivos fiscais para atrair produções hollywoodianas.
                              "Nenhum trabalho que deixe os EUA, principalmente nesta época, será bem visto, a não ser que o outro país esteja financiando o longa", afirma o designer de produção Neville Page ("X-Men").
                              Page veio ao Brasil para a inauguração da Axis, escola de efeitos visuais que surge da parceria entre a brasileira Saga e a americana Gnomon.
                              Para ele, a internacionalização não resolve problemas do setor. "O Brasil está com uma economia diferente dos EUA e custa menos fazer efeitos aqui. Mas os estúdios sempre buscarão lugares mais baratos. É um ciclo vicioso."
                              Colaborou FRANCISCO QUINTEIRO PIRES, de Nova York
                              Atores admitem que trabalhar em filmes hi-tech é frustrante
                              FERNANDA MENAENVIADA ESPECIAL A LONDRESSe, nas telas, as novas tecnologias aplicadas ao cinema encantam os olhos por trás de óculos 3D, nos estúdios e sets de filmagem elas parecem arruinar a magia do trabalho dos atores.
                              É essa a avaliação de atores como Ewan McGregor e Stanley Tucci, que integram o elenco da superprodução hi-tech "Jack - O Caçador de Gigantes", dirigido por Bryan Singer, de "X-Men".
                              O filme utiliza quase toda a tecnologia de ponta disponível hoje para criar uma versão do conto de fadas "João e o Pé de Feijão".
                              Há 3D, imagens geradas por computador e filmagens com a tecnologia "motion capture" (captação de movimentos com atores cobertos por sensores dos pés à cabeça, que posteriormente determinam as ações das animações digitais).
                              "O trabalho do ator se torna outra coisa quando você tem de contracenar com nada, em um ambiente todo verde ou azul. É frustrante", admite o escocês McGregor.
                              "Frustrante? É humilhante", diz Tucci. "Eram horas e horas no set, vestido com uma armadura e empunhando uma espada e, na hora da ação, parávamos tudo porque uma câmera sei lá o quê não funcionou."
                              "Nas telas, os efeitos são incríveis. Mas, no set, esse tipo de tecnologia simplesmente acaba com a imaginação do ator", resume ele.
                              Os atores tiveram de gravar muitas cenas em estúdios totalmente verdes em que as imagens geradas por computador (gigantes e mais gigantes) seriam posteriormente inseridas.
                              "Você tem de contracenar com bolas de tênis, conversar com elas como se fossem os gigantes. O set de filmagem fica cheio de técnicos, que são criativos, mas de uma maneira diferente de um ator", explica McGregor.
                              O longa custou cerca de US$ 150 milhões (cerca de R$ 300 milhões) e consumiu quase um ano de pós-produção -fase restrita aos computadores, em que a mágica vista nas telas, quase incompreensível nas filmagens, de fato acontece.
                              "O problema é a expectativa da audiência", diz Singer. "Quando algo feito nos computadores não parecia real, refizemos até que ficasse a contento. Fui muito exigente com o pessoal da computação gráfica."
                              Atores e diretor avaliam o resultado de todo esse aparato tecnológico, além de caro, como surpreendente.
                              "O mais engraçado é que, em geral, quando faço parte de um filme e vou assisti-lo no cinema, fico me lembrando dos locais de filmagem", afirma McGregor. "Neste caso, no entanto, é surpresa pura porque o ator não tem memória de nada do que está ali. É como ver outra pessoa fazendo aquilo que você fez."

                                CRÍTICA AVENTURA
                                Longa tem bons personagens e cara de game
                                Diretor soube valorizar ator principal e teve habilidade para trabalhar com arquétipos típicos dos contos de fada
                                SÉRGIO ALPENDRECOLABORAÇÃO PARA A FOLHAAtualmente, quase todos os filmes de ação contam com um determinado artifício de estilo: a câmera-pássaro. Se for fantasia, para exibição em 3D, é quase certa a presença de tal expediente.
                                Trata-se de uma câmera que voa alucinadamente por paisagens artificiais e faz com que os longas se pareçam com videogames.
                                Temos um pouco disso em "Jack - O Caçador de Gigantes", adaptação de um antigo conto de fadas inglês cuja variação mais famosa é "João e o Pé de Feijão".
                                Jack, jovem plebeu, recebe a visita de uma princesa que foge de um casamento forçado. Por acidente, um gigantesco pé de feijão cresce no meio de sua casa, levando-os a um mundo desconhecido, em uma montanha e habitado por gigantes. Os voos rasantes aparecem aqui e ali, para aproveitar ao máximo o efeito da terceira dimensão.
                                Por outro lado, há na aventura um senso dramatúrgico interessante. Temos arquétipos que representam um panorama histórico da narrativa fantástica.
                                Há o vilão ganancioso, seu ajudante abobalhado, a princesa meiga e justa, o pai atencioso e durão, o rapaz pobre de caráter rico, o guerreiro das causas nobres etc. Até mesmo os gigantes reproduzem tal esquema.
                                Esse tipo de esquematização, quando trabalhado conscientemente, rende nas mãos de um diretor hábil como Bryan Singer. Porque se apoia na construção arquetípica dos personagens para conseguir momentos de emoção genuína (algo raro atualmente em filmes para a família).
                                Singer sabe, por exemplo, como valorizar o trabalho de um jovem ator como Nicholas Hoult (que, aliás, se parece com Christopher Reeve).
                                Sabe também encontrar o tom ideal para a atuação de Stanley Tucci, pois seu vilão pode ser caricatural de tão maldoso, mas funciona dentro da proposta.
                                "Jack - O Caçador de Gigantes" não é primoroso como, por exemplo, "As Crônicas de Spiderwick", de Mark Waters. Tampouco tem o charme de algumas fábulas de Tim Burton. Mas é digno, um bom divertimento para uma tarde de domingo.

                                  Do adultério - Eduardo Almeida Reis‏


                                  Estado de Minas: 29/03/2013 


                                  “Mulher de amigo meu é homem”, repetem os bocós esquecidos de que, insistindo na tolice, só fazem destacar o seu lado bi. Alfim e ao cabo, é da essência do bissexualismo o amor amplo, geral e irrestrito. Nada mais claro, lógico e evidente do que o entusiasmo do homem sério pelas mulheres dos melhores amigos, desde que apetecíveis. Sim, porque todos temos amigos casados com verdadeiros breves contra a luxúria, por motivos que não nos dizem respeito.

                                  Admirando o amigo por suas inúmeras virtudes, sem as quais não seria seu amigo, você o prestigia admirando (e desejando) a mulher dele. Difícil é cobiçar a mulher de um inimigo. Sendo inimigo, você não tem acesso à casa dele, nem ele ao seu lar, doce lar. Portanto, o caro e preclaro amigo só pode conhecer de foto ou de longe a idiota que se casou com o seu inimigo.

                                  Vou mais longe: desejar a mulher do próximo, sendo mesmo próximo e muito seu amigo, é uma forma de homenageá-lo e de homenagear a mulher dele. Compete somente a ela decidir se você vale a pena e o risco. Na maioria dos casos, esmagadora maioria, ela se convence de que é tudo a mesma coisa. Maridão e Ricardão se equivalem nos defeitos e na falta de virtudes, mas há casos em que um complementa o outro e o ménage à trois, desde sempre, tem funcionado.

                                  Ménage à trois, minha gente: locução substantiva que significa arranjo segundo o qual três pessoas (por exemplo, um casal mais um ou uma amante) compartilham relações sexuais e/ou amorosas, especialmente morando juntas (num só ménage). Se o paciente leitor de Tiro&Queda anda afinzão de um susto, não deve deixar de ler as biografias de Gala e Salvador Dalí, dois malucos para ninguém botar defeito.

                                  Melhor idade?
                                  Senhor de 85 anos foi preso em flagrante fazendo arte com dois menores, um menino e uma menina de 14 anos, em Salto (SP), a 70 quilômetros da capital. Como sempre e apesar da prisão em flagrante, a imprensa disse que ele é suspeito. Consta que é pai de um ex-prefeito daquele município de 105 mil habitantes e IDH elevado. Os meninos disseram à polícia que recebiam R$ 30 per capita pelo programa e foram encaminhados aos seus responsáveis, enquanto o idoso foi para a cadeia de Pilar do Sul, onde ficam os acusados de crimes sexuais.

                                  Salvo melhor juízo, é cidadão inimputável. Inflacionou o mercado, que costuma pagar R$ 10 em atividades do gênero, mas, em vez de ser preso, deve ser examinado por equipe de geriatras e psiquiatras, a ver se descobrem o segredo de tamanho entusiasmo cívico.
                                  Em Sampa, tive notícia de um pedreiro de origem italiana, pai de um amigo nosso, que aos 76 anos atropelava diariamente a santa mãe dos seus filhos, motivo pelo qual ela vivia se queixando à família e à vizinhança. Nas horas vagas, ainda aos 76 aninhos, o pedreiro se dedicava a construir casas para alugar e já era dono de meio bairro periférico.

                                  Se aos 76 o entusiasmo já é um fenômeno, aos 85 é algo digno do Livro dos Recordes e não da cadeia de Pilar do Sul. Contudo, a última palavra cabe, como sempre, ao caro e preclaro leitor de Tiro&Queda.

                                  Leitores
                                  Tive e tenho amigos e amigas que, depois de certa idade e com problemas de visão, contratam leitores em voz alta para deixá-los a par do noticiário dos jornais, das revistas e do conteúdo de livros que precisam ler ou reler. Venho pensando seriamente numa contratação do gênero, com a só condição de que o contratado leia em sua casa e me faça um resumo resumidíssimo dos livros que recebo. Em rigor, não posso deixar de ler nenhum deles, mas me falta tempo. E a pilha cresce numa velocidade espantosa.

                                  Seria serviço ideal para os que gostam de ler e têm tempo de sobra. Além do livro de graça, receberiam uns cobres que não fazem mal a ninguém. Indispensável, também, que tivessem certa afinidade de gostos com o philosopho e bela dose de tolerância para não viver esculhambando os textos recebidos para leitura, resumo e análise.

                                  Precisa-se de padres-Gustavo Werneck‏

                                  CNBB calcula serem necessários 10 mil novos sacerdotes para atender à demanda no país e trabalha para estimular vocação. Em BH, número teria de dobrar 


                                  Gustavo Werneck

                                  Estado de Minas:
                                  29/03/2013 


                                  Faltam padres no Brasil, a maior nação católica do mundo. Há cerca de 20 mil deles atuando nas paróquias, mas para suprir a demanda dos fiéis são necessários mais 50% desse total – o ideal, na avaliação da Igreja, é um sacerdote para cada 10 mil pessoas em todas as regiões do país. “Mas acredito que cinco mil religiosos já ajudariam a resolver a questão”, diz o padre Domingos Barbosa Filho, presidente nacional da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (Osib), entidade vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “O problema não é só a falta de padres, mas a má distribuição do clero no país. A maior parte está concentrada nas regiões Sul (25%) e Sudeste (45%), enquanto o Norte (3%) sofre com a falta”, completa ele, também diretor do Instituto Católico de Ensino Superior do Piauí.

                                  Ex-presidente da Osib, padre Paulo Batista Borges, titular da Paróquia de São Sebastião, em Uruaçu, município do Norte de Goiás, reconhece que houve grande queda nas vocações, nas décadas de 1960 e 1970, depois da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), que trouxe uma série de mudanças na Igreja e, na avaliação dele, má compreensão de uma nova teologia. “Muitos deixaram o ministério, mas, nos anos 1990, houve uma retomada e crescimento no número de candidatos”, afirma. Uma das alternativas para aumentar os candidatos está na pastoral das vocações e no trabalho missionário. No Brasil, há 700 casas de formação de padres (seminários diocesanos, regionais e estaduais). Na capital mineira, o pioneiro é o Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, da Arquidiocese de Belo Horizonte, que comemora 90 anos e conta com 42 alunos. Há também outros pertencentes a ordens, congregações e dioceses do interior.

                                  “A região amazônica é carente em padres, havendo localidades sem celebração de missas nos fins de semana. Mas mesmo em áreas rurais da Arquidiocese de BH temos problemas, pois as pessoas têm dificuldades para fretar um ônibus e viajar 40 quilômetros até a igreja mais próxima”, conta o padre Marcelo do Carmo Ferreira, responsável pela secretaria do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus e coordenador do processo de admissão de candidatos. Além da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), os futuros sacerdotes contam com a estrutura da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje). “Em outras localidades, as missas dominicais ocorrem nas quartas ou quintas-feiras, devido à indisponibilidade do celebrante no fim de semana”, completa o padre Marcelo. A situação leva os sacerdotes a uma sobrecarga: chegam a rezar até cinco missas, quando o aceitável são três a cada domingo.

                                  Ciente do problema, padre Marcelo vai além das estatísticas. “Em Belo Horizonte, precisamos do dobro de padres e, no país, o triplo.” No Brasil, a Igreja tem estimulado as vocações e um dos atrativos é oferecer gratuitamente o curso de teologia, situação bem diferente da Espanha, que chegou ao extremo de lançar uma campanha na mídia destacando que o padre é um profissional que tem salário e nunca fica desempregado. Nas celebrações, o arcebispo dom Walmor Oliveira de Azevedo sempre diz, numa referência às vocações: “A messe é grande, mas são poucos os operários”, lembra o padre. Conforme a arquidiocese, BH tem 675 padres e diáconos.

                                  VIDA RELIGIOSA O seminário da Arquidiocese de BH acompanha a média nacional de ordenação de seis padres por ano. O número foi maior em 2010 (veja quadro). São necessários oito anos de estudos – um preparatório, três de filosofia e quatro de teologia. Para ingressar, é preciso ter acima de 17 anos e ensino médio completo e quem já tem curso superior fica apenas cinco anos. As estatísticas em BH mostram que não basta querer para chegar ao altar da igreja. No ano passado, de 52 pessoas que pediram informações, apenas 10 ingressaram no seminário. A entrada na vida da comunidade requer frequência nas missas, experiência na catequese, presença em grupo de jovens e círculos bíblicos, conhecimento da Igreja por dentro e compromisso com o celibato.

                                  Eduardo Pereira de Araújo, de 31 anos, se interessou pelo seminário. Com porte de atleta, serviu o exército, ficou noivo e hoje está no primeiro período de teologia. De mãe protestante, só na adolescência ele foi estudar numa escola católica e sentiu o despertar da vocação. Há quatro anos e três meses, Eduardo resolveu ser padre. “Me atraem o trabalho pastoral, o convívio com o povo e a vida em comunidade”, diz Eduardo. Na capela do seminário, Ronaldo Brito, de 42, primeiro ano de teologia, diz que começou a falar em ser padre por volta dos sete, oito anos. Já adulto e de casamento marcado, Ronaldo foi à Igreja de São Judas Tadeu para fazer a crisma e mudou o pensamento.

                                  “Foi nesse período, em 2003, que o desejo renasceu e eu terminei o noivado. Para ser padre, é preciso esvaziar tudo de si para doar ao outro”, conta Ronaldo. Filho único e de pai kardecista, Eduardo Parreiras Silva, de 32, teve trajetória diferente. Em 2000, ele entrou para o seminário e ficou três anos e meio. Decidiu sair e só retornou ao seminário 10 anos depois, período em que namorou por seis anos. “O chamado de Deus foi mais forte”, afirma. O padre Marcelo Ferreira ressalta que a coordenação do seminário verifica se o candidato está apto. “Não é que ele pode ou não ser padre. A questão é se está pronto. Tudo deve ser do jeito certo”, diz.


                                  MEMÓRIA » Seminário de 90 anos




                                  Na foto datada de 1929, os meninos com suas batinas fazem um passeio pelo Parque Municipal, no Centro. Eram os primeiros tempos do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, inaugurado em 15 de março de 1923 pelo primeiro bispo de Belo Horizonte, dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967). Nesses 90 anos de formação de padres, a instituição vinculada à Arquidiocese de BH mudou de endereço e formou centenas de sacerdotes, alguns dos quais chegaram a arcebispo, entre eles dom Alberto Taveira Corrêa, hoje em Belém (PA), o ex-presidente da CNBB dom Geraldo Lyrio Rocha, em Mariana, e dom Aloísio Jorge Pena Vitral, em Teófilo Otoni. O seminário nasceu na Rua Rio Grande do Norte, onde então estava anexa a residência episcopal. Mas em 1930 houve transferência para a Gameleira (hoje Bairro Coração Eucarístico). Em 1969, ocupou sede provisória no Bairro Prado, na Região Oeste. Na década de 1970, se fixou no Bairro Dom Cabral. Na década de 1980 foram incluídas mais duas casas, no Bairro Dom Bosco.