quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DE GALDINO A EDVAN, A BARBÁRIE SE REPETE - RENATO ALVES

Correio Braziliense - 21/08/2013


Imagens gravadas por uma câmera de um posto de combustível ajudaram investigadores a desvendar o caso. No filme, aparecem Wesley Lima da Silva, 18 anos, um rapaz de 15 e uma garota de 17 comprando um litro de gasolina. O trio confessou que havia consumido bebida, drogas e estava à procura de “diversão" quando decidiu tocar fogo em moradores de rua que dormiam em praça da QE18. Edvan Lima da Silva teve 65% do corpo queimado e morreu. A ideia do crime teria sido da menina, filha de um policial federal. Ela disse ter sido vítima de uma tentativa de assalto perpetrada pelos sem-teto e, por isso, “queria se vingar”. Os adolescentes que incendiaram Galdino numa parada de ônibus da 703 Sul, em abril de 1997, também eram de classe média e, ao serem presos, alegaram que se tratava apenas de uma “brincadeira”.

Assim como há 16 anos, jovens de classe média compram combustível e incendeiam um homem que dormia ao relento. Desta vez, três adolescentes são suspeitos, entre eles uma menina de 17 anos filha de policial federal


Madrugada no Distrito Federal. Após uma noite de diversão, adolescentes de classe média passam em um posto e compram combustível. Por volta das 5h, seguem até uma praça e decidem atear fogo ao pé de um homem que dorme ao relento. Perdem o controle. As chamas tomam conta do cobertor e do corpo do desconhecido. O grupo foge. A vítima é levada ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Menos de 48 horas depois, morre por insuficiência respiratória e falência dos órgãos. Logo, a polícia prende os suspeitos. Os investigadores apontam para um crime planejado. Os acusados falam em “brincadeira”. O enredo se repete 16 anos depois.

Um dos líderes da tribo Pataxó Hã-Hã-Hãe, Galdino Jesus dos Santos estava em Brasília, em 19 de abril de 1997, Dia do Índio, para lutar pela demarcação das terras do seu povo no sul da Bahia. À noite, ao retornar à pensão onde estava hospedado, ele se perdeu no início da Asa Sul. Decidiu dormir no ponto de ônibus da 703. Acordou por volta das 5h, com fogo no corpo. Socorrido por bombeiros, acabou no Hran com 95% do corpo queimado. Um chaveiro e a amiga, que passavam pela W3, perseguiram o carro dos agressores e anotaram a placa do veículo. A atitude levaria a polícia aos acusados (leia Memória).

Guará, 1º de agosto de 2013. O morador de rua Edvan Lima da Silva, 49 anos, dormia na praça da QE 18, na companhia de três mendigos e encostado em um quiosque para se proteger do frio. Por volta das 4h50, levantou correndo, com o corpo em chamas. Edvan foi levado ao Hran com 63% do corpo queimado. A princípio, não havia testemunhas do crime. A polícia tratou como uma possível vingança, motivada por uma briga entre moradores de rua. Mas o caso viria a sofrer uma reviravolta com a prisão dos suspeitos. E, assim, apareceriam as semelhanças com o assassinato de Galdino.

Susto

Entre outros detalhes, os assassinos do índio Galdino contaram que compraram álcool num posto perto do local do crime. Alegaram que queriam só dar um susto no índio, que acreditavam ser um mendigo. Chamaram o ato de “brincadeira”, mas a tentativa de homicídio virou assassinato triplamente qualificado. Galdino morreu às 2h de 21 de abril de 1997, no Hran. O corpo dele seguiu poucos dias depois para a reserva indígena da família, onde foi enterrado.

Para prender os suspeitos de matar Edvan da Silva, os agentes da 4ªDP (Guará) trabalharam em silêncio. Levaram seis dias para apreender o primeiro envolvido, de 15 anos. Menos de 24 horas depois, detiveram uma menina de 17, filha de um agente da Polícia Federal. Ambos são moradores do Guará. Ontem, 20 dias após o crime, veio o desfecho, segundo o delegado Jeferson Lisboa, chefe da unidade. Ele anunciou a prisão do terceiro acusado, Wesley da Silva Lima. Também morador do Guará, o rapaz de 18 anos acabou detido na praça da QI 6 da cidade, próximo de onde Edvan foi queimado vivo.

Agentes e delegados afirmaram que o trio agiu premeditadamente e confessou o assassinato. Os três teriam passado em um posto de combustíveis, comprado 1 litro de gasolina e, na sequência, se dirigiram para o local onde Edvan e outros três mendigos dormiam. A menina assumiu jogar a gasolina na vítima, mas ninguém admitiu ter iniciado o fogo. Os três fumaram maconha e beberam vinho antes do crime, segundo Jeferson Lisboa.

Pacto de silêncio

No caso do índio Galdino, da 1ªDP, os acusados maiores de 18 anos seguiram para o Núcleo de Custódia de Brasília, no Complexo Penitenciário da Papuda, onde permaneceram quatro anos e sete meses presos até o início do julgamento, em 6 de novembro de 2001. Cinco dias depois, quatro réus foram condenados a 14 anos em regime fechado por homicídio triplamente qualificado.

Ninguém nunca disse quem teve a ideia de queimar um suposto mendigo nem riscado o fósforo que incendiou Galdino. Logo, começaram a receber benefícios. O irmão de Tomás passou dois anos internado no antigo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje). Todos estão em liberdade e trabalhando.

Já dos acusados de matar o mendigo no Guará, apenas Wesley deve enfrentar o júri popular. Na data do crime, havia seis dias que completara a maioridade. Ontem, foi indiciado por homicídio qualificado e três tentativas de homicídio. Passaria a noite em uma cela da 4ªDP. Hoje, deve seguir para o Departamento de Polícia Especializada (DPE) e, de lá, para a Papuda. A menina foi para um centro de internação de menores infratores, no Recanto das Emas. O menino, ao antigo Caje.

Matias Spektor

folha de são paulo
Russas
Legislação russa esvazia argumento brasileiro de que Brics seriam renovação nas relações internacionais
A Rússia acaba de criminalizar a homossexualidade. Com isso, seus diplomatas trabalham para legitimar as chamadas leis antigay em foros internacionais.
O tema afeta o Brasil, onde está em pauta um projeto de lei que pretende fazer o oposto, criminalizando a homofobia.
O embate pela futura legislação brasileira não é trivial. Em 2012, notificaram-se 10 mil casos de homofobia no país, um terço dos quais envolveu lesão corporal, maus-tratos ou tentativa de homicídio.
Como essa questão divide a sociedade, as políticas públicas são contraditórias. Enquanto o STF e os seguros de saúde reconhecem a união civil entre pessoas do mesmo sexo, os ministros da Educação e da Saúde suspendem campanhas de conscientização.
Com uma mão, o Planalto recebe as demandas dos movimentos sociais; com a outra, pactua no Parlamento com quem faz da homofobia uma bandeira.
Ciente de que esse é um campo minado, a política externa brasileira tem inserido a orientação sexual e a identidade de gênero nos foros multilaterais.
Nesse quesito, o talho do Itamaraty é progressista. Nos últimos meses, houve vitórias significativas na ONU e na OEA.
Mas a batalha é árdua. Países do norte queixam-se de que Brasília não reforma as suas próprias leis, além de ser leniente com africanos e também com asiáticos.
Países árabes, por sua vez, resistem às pressões brasileiras e já chegaram a condicionar a realização de cúpulas com a América do Sul à retirada, nas Nações Unidas, de propostas do Brasil.
Por isso, as notícias vindas da Rússia não ajudam. Ao acirrar a divisão entre os países, elas dificultam o trabalho da diplomacia brasileira, cujo êxito depende da possibilidade de estabelecer pontes entre gregos e troianos.
Para piorar as coisas, a legislação russa esvazia ainda mais o argumento brasileiro segundo o qual os Brics seriam uma força renovadora nas relações internacionais.
O que fazer?
Algumas vozes no estrangeiro sugerem um boicote à Olimpíada de Inverno de fevereiro próximo, que será sediada pela Rússia.
Fazê-lo, contudo, seria contraproducente. O governo russo empunharia a bandeira nacionalista, ganhando boa dose de apoio popular.
Melhor é o Brasil participar com sua mensagem contundente.
Afinal, a homofobia brasileira tem raízes profundas. Na televisão, bicha é malvada ou espalhafatosa. No Congresso, Feliciano preside. No futebol, torcedor promete "fazer a vida impossível" do jogador que lascou um selinho em outro homem.
E, no entanto, o Brasil não é a Rússia. Pode ser conservador, mas não criminalizará gente que ama gente do mesmo sexo. Porque a tese, aqui, não sobrevive nas tribunas, nos tribunais ou nas urnas.
"Não aceitamos que o homossexualismo seja tratado como doença. E muito menos como assunto de polícia", disse Lula na convenção petista de 1981.
Imagine se Dilma quebrasse o silêncio que tem mantido sobre a homofobia repetindo essas palavras no inverno russo que se aproxima.

    Banksy e os black blocs - MARTHA MEDEIROS

    ZERO HORA - 21/08/2013


    Por mais justas que sejam as reivindicações por melhoras no país, fica difícil apoiar black blocs, que se manifestam através da violência e da depredação, sem estimular nenhuma ideia original, nenhuma consciência – apenas promovem pânico e prejuízos à cidade.

    Para encerrar a série de crônicas inspiradas em Londres, me parece oportuno lembrar de Banksy, grafiteiro inglês que há uns 10 anos preenche muros, paredes, pontes e estações de metrô com grafites ora engraçados, ora chocantes. Agindo de madrugada, disfarçando-se com nariz postiço e óculos escuros, ele faz suas interferências urbanas de uma forma extremamente audaciosa – introduz objetos em monumentos públicos, instala avisos surpreendentes em meio aos lagos dos parques e até já conseguiu colar obras suas nas paredes dos museus mais respeitados da Inglaterra.

    Às vezes, leva uma ou duas horas para que descubram e apaguem seus grafites ou retirem das paredes suas marcas de protesto, mas já conseguiu que levasse dias e até meses antes de ter sua arte recolhida. E detalhe: até hoje, ninguém sabe quem ele é.

    Se a polícia não gosta nada do moço, a população rendeu-se a esse transgressor misterioso, e o inusitado aconteceu: hoje suas obras valem milhares de libras e estabelecimentos comerciais rezam para ter suas paredes pichadas por Banksy.

    Ele defende o grafite como uma arte honesta e popular. Diz que é uma resposta aos milhares de anúncios publicitários estampados em painéis gigantescos por toda a cidade, inclusive nas laterais dos ônibus: por que todos aceitam que a cidade se desfigure com publicidade e não com o grafite artístico? Ele mesmo responde: as pessoas acham que só o que gera lucro tem o direito de existir.

    Banksy apronta e faz pensar. Esconde-se porque o grafite ainda é considerado subversivo, e também para denunciar essa sociedade que valoriza mais o artista do que sua arte: hoje estão todos mais interessados em saber que rosto têm, como se vestem, com quem namoram as grandes estrelas, em vez de focarem apenas no trabalho que fazem.

    Pois através do mistério, Banksy conseguiu total visibilidade para o que faz e ficou famoso sem aparecer. Há quem diga que ele não existe, que as obras são criações coletivas de um grupo, que o Dalai Lama é seu fã, que ele foi expulso da escola por causa de uma briga em que não teve culpa, por isso sua obsessão por justiça social. Rumores que só reforçam o mito.

    Dilapidar patrimônio público e placas de sinalização é crime, bandidagem. Já Banksy não depreda nem picha imundícies: ele tem um propósito e uma estética, por isso se diferencia. Inverte nosso senso de ordem, denuncia hipocrisias e surpreende com seu espírito rebelde e um talento gráfico inquestionável. Diz que gostaria de ter permissão para fazer o que faz, mas, não tendo, vai em frente contando com o perdão da cidade. Tem conseguido. Demonstrou que é possível protestar com inteligência e pacificamente. 

    FERNANDO BRANT » Responsabilidade e caráter‏


    Estado de Minas: 21/08/2013 


    Quanto pesam o senso de responsabilidade e o caráter na existência, no dia a dia de cada um de nós? Teriam a dimensão de um mundo que carregamos nas costas, como disse Drummond, e não pesam mais que a mão de uma criança? Diria que quando assumimos uma obrigação que envolve outras pessoas, seja a família ou a sociedade, precisamos procurar na alma o vigor e na mente a sabedoria possível para fazer o melhor. Sou, tenho de confessar, um escritor de canções que, além de me dedicar ao trabalho poético e musical, busca não se calar diante da injustiça e dos poderosos, e eles não estão apenas nos gabinetes governamentais. Mas certamente eles lá estão.

    Estou disposto a sacrificar meu tempo de prazer, com os que me cercam e com a música, a poesia e a cultura que me fazem bem, e até descuidar perigosamente de minha saúde, para cuidar das ideias coletivas generosas. Mas reconheço que esses poderes privados e públicos, que não têm nenhum interesse pela coisa pública, a res publica, manipulam as cidades e os países por se sentirem imperiais, donos da nossa vontade. Para enfrentá-los, Davis que somos contra os Golias, não basta apenas coragem e persistência.

    Sensibilidade, sentimento, inteligência e percepção do conjunto são as armas de quem não tem a grana, mas tem o direito. Quem não tem a ‘‘politicasacanagem’’, mas é um cidadão que sabe o que lhe pertence.
    Sendo possuidor de caráter e responsabilidade, no meio de uma luta desleal que envolve os direitos de meus colegas de profissão, sei que não posso vacilar. Tenho que cumprir o dever que assumi e não posso ser radical. Faço o que sempre fiz, verificando os vários caminhos, todos os desdobramentos possíveis, apostando na razão e também na intuição, na crença de que é possível contornar o verdadeiro paredão que a grande mídia brasileira construiu em torno de nós. Ela desinforma para proteger alguns de seus pares.

    Sinto, queridos leitores, vocês que estão acostumados com meu lado lírico e de bem com a vida, com as singelezas que busco perceber no cotidiano de nossa realidade comum de moradores de uma cidade e um país que adoramos, sinto mesmo ter de fazer, em público, este desabafo.

    Por ser otimista e acreditar nas pessoas, ter uma boa-fé do tamanho de um bonde e acreditar que no fim prevalece a justiça, me conforto e me abraço a meus amigos, recolho minhas energias para colher não tudo que merecemos, mas o que nos é possível no momento. De tanto ver triunfar as nulidades, hei de vencer.


    >>  fernandobrant@hotmail.com

    Frei Betto - Brasil e Nero‏

    O rei está nu, e a base aliada não sabe agora com que roupa comparecerá nas eleições de 2014 



    Estado de Minas: 21/08/2013 

    Ando às tontas com a conjuntura brasileira. Na economia, os índices lembram uma gangorra. Os investidores trafegam em areia movediça. O Banco Central, frente ao dólar, lembra meu avô com seu cão Nero. Preso no quintal, este se inquietava quando à casa se aproximava uma visita. Os latidos prenunciavam a abertura do portão. Tão logo meu avô dava as boas-vindas ao visitante, Nero, assanhado, livrava-se da coleira que o prendia ao canil e avançava sobre o estranho. Meu avô cobria o animal de safanões, desdobrado em desculpas. A trégua era pouca. De novo, vinha Nero acelerado, rosnando, avançando sobre o estranho que lhe despertava o ciúme.

    O dólar sobe, o BC se empenha em abatê-lo, os investidores estrangeiros dão sinais de abandonar o barco Brasil, o governo acena com benesses e discursos otimistas. Como denunciou o papa Francisco, se a bolsa cai, acende-se nas elites o alarme da inquietação. O ouro transformado em pó de mico. Se, em consequência, a miséria aumenta, quem se importa, exceto os que não têm ações e sofrem a fome? Dois pontos a menos na bolsa causam mais preocupação na mídia que 2 mil pessoas levadas à morte por dia por falta de nutrientes básicos. Enquanto a economia navega ao sabor de ventos imprevistos, o governo se arma de medidas contracíclicas a fim de manter acorrentado o dragão da inflação. Como meu avô se esforçava com Nero. “Qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota d’água”, alerta Chico Buarque. Tudo de olho nas eleições de 2014, o norte que imanta a bússola Brasil.

    Até maio tudo parecia sob controle, com altos índices de aprovação bafejando o ego do governo. Até que as ruas transbordaram de manifestantes. A nação, deitada em berço esplêndido, acordou. Houve melhorias em 10 anos de governo do PT? Sem dúvida. Aí estão os índices de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHMs) divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); a queda significativa do valor da cesta básica; o aumento da renda e da longevidade dos brasileiros. Vejam nossas ruas: entupidas de carros facilitados por créditos abundantes e prestações que quase se estendem ao Juízo Final.

    Tudo parecia o país de Alice, uma maravilha! A desoneração da linha branca permitiu a grande número de famílias brasileiras de baixa renda adquirir geladeira, fogão, máquina de lavar e outros eletrodomésticos. No interior do Nordeste, o jegue deu lugar à moto e, na Amazônia, o remo ao motor de popa. Qual fênix livre das cinzas da pobreza, o brasileiro criou asas e alcançou melhores condições de vida. Os aeroportos, repletos, perderam o glamour de espaço reservado à elite. Chinelos de dedos são vistos nas salas de espera e, fora do país, o comércio aprende meia dúzia de palavras em português para bem receber esses turistas que, por semestre, despejam bilhões de dólares nos balcões das lojas.

    Alice se transformou em bruxa? O que sucedeu? Se tudo ia bem, por que tantos protestos? O governo subestimou o senso crítico do povo. Não criou canais de diálogo com os movimentos sociais (tolerados, mas não valorizados), nem com a base aliada. Súbito, viu Nero insatisfeito soltar-se da corrente. O que deseja essa gente? Simples, caro Watson. Em países desenvolvidos, como Inglaterra, Holanda e Suécia, primeiro o governo assegurou à população bens coletivos, como transporte, educação e saúde. A “linha pública” precedeu a linha branca. No Brasil, enveredou-se pela via contrária. Temos geladeiras, mas há que tomar cuidado para não beber muita água gelada. Pode irritar a garganta e causar rouquidão.

    O Sistema Único de Saúde (SUS), nosso sistema público de saúde, tem a (des)qualidade de nossos ônibus urbanos, e os planos privados de saúde se equivalem a uma matrícula mensal em escola particular. O governo alegava falta de recursos para atender às demandas dos bens coletivos. O povo, paciente, acreditou. Até que o Brasil se transformou num imenso parque desportivo: Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas e Paraolimpíadas. Como na história infantil de João e o pé de feijão, estádios fabulosos brotaram como por encanto do chão. Até o Maracanã mereceu nova reforma, para gáudio das empreiteiras. Ora, como não há dinheiro para ampliar o metrô, qualificar a educação e tornar acessível aos pobres o bom atendimento de saúde?

    O rei está nu, e a base aliada não sabe agora com que roupa comparecerá nas eleições de 2014. O governo federal vacila, ou melhor, oscila entre permanecer refém da promíscua aliança consagrada pelo toma lá dá cá e as reformas de estruturas – política, tributária, agrária etc. – pelas quais a nação clama há um século e, em resposta, escuta apenas promessas que jamais se tornam realidade. Pior que um bando de vândalos sair pelas ruas quebrando o patrimônio público e privado é usar recursos públicos para alimentar a ganância insaciável da especulação financeira e dos que mamam nas tetas do Estado graças a licitações fajutas e a obras faraônicas nas quais a corrupção grassa sem que os olhos da fiscalização enxerguem e o braço da punição alcance.

    Mario Cesar Carvalho

    folha de são paulo
    Suspeita de cartel faz TCE reavaliar contratos
    Ministério Público de Contas pedirá ao tribunal nova análise de procedimentos julgados regulares de 19 empresas
    Órgão diz que denúncia da Siemens ao Cade traz 'fatos novos'; conselheiro aponta falha em vários aditivos
    DE SÃO PAULOO Ministério Público de Contas em São Paulo, que atua no Tribunal de Contas do Estado, quer que o órgão julgue novamente contratos que haviam sido considerados regulares das 19 empresas que aparecem na denúncia de cartel feita pela Siemens. A empresa fez a acusação ao Cade, o órgão federal encarregado de evitar práticas contra a concorrência.
    Implantado neste ano em São Paulo, o Ministério Público de Contas fiscaliza os julgamentos do tribunal.
    A denúncia da Siemens mudou tudo, segundo o procurador José Mendes.
    "Os contratos das empresas que fazem parte, em tese, do cartel precisam ser analisados de novo porque surgiu uma informação nova", diz.
    A informação nova foi a revelação pela Siemens de que ela e outras 18 empresas combinavam preços e dividiam lotes de concorrências do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para que o ganho delas com os contratos fosse mais elevado.
    A própria Siemens disse na confissão que o preço seria menor se não houvesse o conluio entre as empresas.
    A Siemens fez a denúncia ao Cade em troca de uma punição mais branda para o grupo e seus executivos, como prevê a lei concorrencial.
    A lei orgânica do TCE prevê um novo julgamento sempre que surja um fato novo, segundo o conselheiro Roque Citadini, presidente do órgão.
    No acordo feito com o Cade, a Siemens cita que houve conluio em 16 contratos com o Metrô e a CPTM, assinados de 1999 a 2008.
    Levantamento feito pela Folha no TCE mostra, que desses 16 contratos, quatro foram considerados irregulares e dois ainda não foram julgados (são justamente os de valores mais elevados, duas compras de trens por R$ 1,39 bilhão). O Ministério Público de Contas quer rejulgar os dez casos que haviam sido considerados regulares.
    Entre eles, estão dois contratos para modernização de trens da CPTM. Um desses contratos é citado pela Siemens no documento do Cade. "(...) Caso as empresas não firmassem um acordo anticompetitivo, a Siemens apresentaria uma proposta comercial de valor bem mais baixo [...]. Em uma situação de competição efetiva, a Siemens apresentaria uma proposta de valor até 30% mais baixo".
    Nos dois casos, a licitação, o contrato e os aditivos foram considerados irregulares pelo TCE. O órgão considerou que a CPTM restringiu a competição e direcionou a disputa ao exigir certos atestados técnicos das empresas.
    Citadini afirma que o baixo número de contratos julgados irregulares pode ser um equívoco.
    "A licitação podia estar correta do ponto de vista formal, mas os aditivos foram considerados irregulares pelo tribunal. Isso ocorreu na maior parte dos casos das empresas que supostamente faziam parte do cartel."
    O eventual "rejulgamento" pode ter quatro consequências para as empresas: elas podem advertidas, multadas, suspensas de negócios públicos por dois anos e declaradas inidôneas.
    A declaração de inidoneidade é raríssima e só ocorreu recentemente com a empreiteira Delta. Ela recebeu esse rótulo da Controladoria-Geral da União (CGU) em 2012.

    Tv Paga

    Estado de Minas: 21/08/2013 

    Pura bizarrice


     (Discovery/Divulgação)


    Estreia hoje, às 21h30, no Discovery Channel, a série Proibido (foto), que promete mostrar um mundo nada convencional, que inclui um restaurante em Tóquio no qual a especialidade é a sujeira. Serão 12 episódios, investigando a vida daqueles que testam os limites das normas sociais em culturas as mais diversas. Aqui, o diferente é que merece destaque. Como um campo de batalha de zumbis no Reino Unido; um vendedor norte-americano que também é uma múmia, e um acadêmico australiano que fala com seu coelhinho marxista.

    Muitas esquisitices no
    tal ‘livro dos recordes’


    Outra novidade de hoje é Recordes do Guinness, que estreia às 20h40, na truTV. Como indica o título do programa, o assinante será levado aos bastidores das tentativas de proezas e superação de feitos dos mais absurdos e inimagináveis, sempre registrados no chamado “livro dos recordes”. De salto sobre três carros em movimento até o mergulho mais alto em apenas 30cm de água. E sabe-se lá quantas esquisitices mais.

    Rogéria vai bater um
    papo reto com MV Bill

    Uma das mais talentosas intérpretes da MPB, a cantora paulista Mônica Salmaso é a entrevistada de hoje de Eric Nepomuceno na série Sangue latino, às 21h30, no Canal Brasil. Vencedora do Prêmio da Música Brasileira de melhor cantora MPB em 2012, Mônica vai falar de amor, destino, arte e tempo. À meia-noite, em Com frescura, Rogéria recebe o rapper MV Bill, lembrando sua infância difícil na Cidade de Deus, o encontro com a música, os relacionamentos amorosos, a experiência como ator e seus novos projetos.

    Passe esta noite com o
    popstar Stevie Wonder


    Música também é destaque na Globo News, que vem apresentando este mês a série Reis do pop toda quarta-feira, às 23h. A fera da vez é Stevie Wonder. Prestes a completar 50 anos de carreira, o cantor, compositor e ativista de causas humanitárias e sociais ficou cego por causa de complicações decorrentes de um tratamento médico-hospitalar realizado logo após seu nascimento prematuro. O artista recebeu nada menos que 25 Grammy Awards, além do prestigiado Lifetime Achievement Award.

    Canal GNT dá sequência
    à série Mulheres de aço


    O canal GNT abre hoje a segunda temporada da série Mulheres de aço, às 21h. A produção acompanha o cotidiano profissional de quatro agentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro em operações reais, além de descobrir como é a vida delas fora do ambiente de trabalho. Às 22h30 vai ao ar o terceiro episódio de Beleza S/A.

    Telecine Touch reprisa o
    filme Paraísos artificiais


    No pacotão de filmes, o destaque é a produção brasileira Paraísos artificiais, de Marcos Prado, com Nathalia Dill, Luca Bianchi e Lívia De Bueno, em reprise às 22h, no Telecine Touch. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: As três Marias, no Canal Brasil; Responda isto!, na HBO; Rápida vingança, na HBO HD; Anjos da lei, no Telecine Premium; O hobbit – Uma jornada inesperada, no Telecine Pipoca; Como agarrar um marido, no Glitz; Na linha de fogo, no ID; e El cantante, na MGM. Outras atrações da programação: O morto-vivo, às 19h50, no Max Prime; Zohan – O agente bom de corte, às 21h20, no Universal; A flor do meu segredo, às 21h30, no Arte 1; e Mal posso esperar, às 23h, no Comedy Central.

    Dolorosa descoberta - Simone Castro


    Estado de Minas: 21/08/2013 



    Atriz Bianca Comparato já não carrega os longos cabelos, raspados por causa de uma personagem       (João Cotta/TV Globo-19/6/12)
    Atriz Bianca Comparato já não carrega os longos cabelos, raspados por causa de uma personagem



    A segunda temporada da série Sessão de terapia, no GNT (TV paga), que estreia em 7 de outubro, às 22h30, terá uma personagem que descobre estar com câncer. Na trama, Carol, que será vivida pela atriz Bianca Comparato, entrará em um processo psicológico de negação à doença, relutando para iniciar o tratamento. Para enfrentar o doloroso momento, a jovem, uma estudante universitária de 25 anos, procurará o psicoterapeuta Theo (Zecarlos Machado). Por causa do tratamento, Carol perderá os cabelos e decidirá raspá-los. A atriz já raspou as madeixas para encarnar a personagem. O site oficial da série dá conta de que o roteiro não previa que Bianca passasse por isso. “Foi uma iniciativa conjunta entre eu, o Selton (Mello, diretor) e o Roberto D’Ávila (produtor). Como os episódios estavam ficando tão bonitos e fortes, nós estávamos orgulhosos do trabalho e queríamos concluir bem o projeto. Realmente, não existia final melhor”, disse Bianca. Ela revela que o processo não foi traumático, pois o novo visual fez sentido na história da série, e contou com o apoio da equipe: “Foi um dia especial para mim. Como um renascimento. Quando crescer um pouquinho, quero aproveitar e fazer uns cortes loucos”, afirmou. E completou: “Para quem passa pela quimioterapia, raspar a cabeça significa a cura. É o primeiro passo de volta à vida, um ritual lindo. Vejo como algo bom e não ruim.”

    MARCOS PALMEIRA DIVIDE
    MÃE E FILHA EM NOVELA


    A trama é de Manoel Carlos e o personagem será disputado por mãe e filha. Não, não será feito pelo ator José Mayer, presença constante nas novelas de Maneco e no tipo de papel. Na trama de Em família, que vai substituir Amor à vida (Globo), o personagem estará nas mãos de Marcos Palmeira. Laerte, que se envolverá com Helena, ainda jovem, vivida por Bruna Marquezine, é primo da protagonista. Anos depois, ele conhece Luiza, papel de Bruna, então filha de Helena, já assumida por Júlia Lemmertz. O triângulo amoroso promete pegar fogo. Em tempo: Bruna Marquezine também vai contracenar com Vanessa Gerbelli, de quem foi filha em outra novela de Manoel Carlos, Mulheres apaixonadas. Vanessa, desta vez, será tia da personagem de Bruna.

    CARRASCO RETOMA O TEMA
    DO CÂNCER EM AMOR À VIDA

    Walcyr Carrasco vai retomar o tema câncer em Amor à vida. O assunto parecia esgotado com a morte de Nicole (Marina Ruy Barbosa). No entanto, nos próximos capítulos, a advogada Sílvia, vivida por Carol Castro, vai contar ao marido, o médico Michel (Caio Castro), que descobriu um nódulo no seio e que suspeita que está com câncer. Ele se preocupa e pergunta se ela já foi ao médico, mas Sílvia diz que tem medo e, por isso, adia a consulta. Michel apalpa o seio da mulher e constata o nódulo. Ele promete apoio e pede que ela procure um médico o quanto antes.

    AUTOR INDICA ATORES PARA
    O ELENCO DE NOVA NOVELA


    Meu pedacinho de chão, remake de Benedito Ruy Barbosa que vai suceder a Joia rara, substituta de Flor do Caribe (Globo), já tem capítulos adiantados e elenco começa a ser formado. O autor quer a atriz Ísis Valverde como protagonista. Vale lembrar que ela iniciou sua carreira na TV como a Ana do Véu do remake de Sinhá Moça, de Benedito, em 2006. Os atores Marcelo Serrado e Eriberto Leão também são cotados para a próxima novela do autor. A versão original de Meu pedacinho de chão é de 1971.

    A VOLTA DE J.LO

    Jennifer Lopez está confirmada na bancada de jurados do reality show American Idol. Ela, que já ocupou o posto em 2011 e 2012, deve assinar contrato em breve. O retorno, segundo a agência Associated Press, revela que o nome da cantora deve ser anunciado ainda nesta semana. Jennifer teria topado participar do reality mais uma vez porque o cronograma da produção permite que ela passe mais tempo com os filhos, os gêmeos Max e Emme, de 5 anos. A cantora vai se juntar a Keith Urban e a um terceiro jurado que ainda não foi escolhido. O American Idol é exibido no Brasil pelo canal Fox
     (TV paga).

    viva

    Antônio Fagundes ocupa seu posto por direito em Amor à vida: o duas-caras César está demais!

    vaia


    Na mesma novela, as cenas de Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casadevall), já cansaram. 

    FESTIVAL DE CURTAS » Olhar jovem nas telas‏


    Estado de Minas: 21/08/2013 


    Com 400 filmes selecionados, começa amanhã o 24.º Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, oferecendo diversificado painel da produção de jovens criadores de vários países. O Brasil comparece com 58 trabalhos – a maioria voltada para as relações humanas. Não deu tempo de os protestos de junho chegarem às telas do evento, mas a ação do coletivo Mídia Ninja será tema de debate na sexta-feira, com a proposta de discutir temas como a pós-TV e a comunicação direta.

    A grade nacional terá O pacote, de Rafael Aidar (participante da mostra Panorama do último Festival de Berlim). O curta fala do amor de dois adolescentes – um deles obrigado a conviver com o vírus HIV. A mostra Tomada única resgata o Super-8, com fitas de três minutos realizadas em película por diretores brasileiros.

    “O Super-8 representou, nos anos 1970, o que o digital é hoje. Democratizou a produção, mas ainda era preciso ser artista para fazer um filme. Hoje, qualquer um pode filmar. Então, que ideias e expressões são necessárias para se fazer cinema?”, provoca Zita Carvalhosa, diretora do festival.

    Entre as produções estrangeiras, a mostra traz ao Brasil os filmes Yellow fever (Quênia/Reino Unido), sobre a autoimagem das africanas, e Onde fica meu pudor, sobre uma garota árabe que se muda para a França para estudar arte. O festival de curtas será encerrado no dia 30.

    FORUMDOC.BH

    Acaba segunda-feira o prazo de inscrições para as mostras competitivas da 17ª edição do forumdoc.bh.2013. O festival do filme documentário e etnográfico será realizado de 21 de novembro a 1º de dezembro, na capital mineira. Informações: www.forumdoc.org.br.


     (Forum.doc/divulgação)

    Um lugar para ser feliz [Casa Mariana] - Mariana Peixoto


    Um lugar para ser feliz 

    Casa Mariana, em Ouro Preto, comprada e reformada pela escritora Elizabeth Bishop, mantém viva a memória da passagem da poeta norte-americana por Minas Gerais 

    Mariana Peixoto

    Estado de Minas: 21/08/2013 



    Linda Nemer com livro de Elizabeth Bishop: amiga de todas as horas


    Ouro Preto –
    “Um caminhão Mercedes-Benz, enorme e novo, chega e domina a cena. Na carroceria, botões de rosa brilham, enquanto o para-choque anuncia: CHEGOU QUEM VOCÊ ESPERAVA. O motorista e o ajudante lavam o rosto, o peito, o pescoço. Lavam os pés, os sapatos, depois se recompõem.” Em duas das 16 estrofes de Pela janela: Ouro Preto, a poeta norte-americana Elizabeth Bishop expõe observações cotidianas e banais que tinha de uma certa janela da Rua Conselheiro Quintiliano. Pois foi do alto do casarão da amiga Lili Correia de Araújo, a quem o poema é dedicado, que ela observou uma residência logo abaixo. O que lhe chamou a atenção da casa, então em péssimo estado, foi o telhado, “como uma lagosta emborcada.”

    Quarenta e oito anos depois dessa observação, é outra senhora de cabelos brancos quem relembra a história. Bishop comprou em 1965 a casa, datada do final do século 17, início do 18. Durante três anos, empreendeu uma extensa reforma no imóvel de 500 metros quadrados, situado numa área de 7 mil metros. Ficou com a casa até sua morte, em 1979, mesmo que nos anos finais pouco a tenha frequentado. Linda Nemer, economista e socióloga aposentada, a comprou da herdeira da poeta, Alice Methfessel, em 1982. Desde então, pouca coisa mudou. À exceção das estantes abarrotadas de livros, que ocupavam a residência, que Bishop levou para os EUA quando retornou ao país natal, em meados dos anos 1970, boa parte dos móveis continua como na época de sua moradora ilustre.

    A passagem da poeta pelo país é retratada no filme Flores raras, de Bruno Barreto, recém-chegado aos cinemas. Mas o que está em foco na tela é a relação de Bishop com Lota de Macedo Soares, arquiteta autodidata que planejou o Parque do Flamengo. A maior parte da narrativa, baseada no livro Flores raras e banalíssimas, de Carmen L. Oliveira, é centrada no período em que as duas viveram, entre os anos 1950 e 1960, em Petrópolis e no Rio de Janeiro. Ouro Preto é relegada a alguns momentos na parte final, quando o casal visita amigos na cidade histórica. A vivência de Bishop em Minas Gerais se intensifica depois da morte de Lota, em 1967. E é essa a mulher com quem Linda Nemer e sua família conviveram muito proximamente.

    Foi o irmão caçula de Linda, o artista plástico José Alberto Nemer, quem primeiramente ficou amigo dela – ele chegou a ter, na Casa Mariana (o nome é homenagem à poeta Marianne Moore, mentora de Bishop), um quarto reservado. Linda logo se tornaria também amiga. Como a família Nemer é de Ouro Preto, os laços se estreitaram. Tanto que a poeta deixou de herança para Linda cinco salas comerciais no Rio de Janeiro. Para ela, Elizabeth, como a chama, sempre foi a senhora um tanto solitária, que bebia muito, mas era de uma delicadeza a toda prova. Capaz de providenciar um tecido que vinha do Norte da Europa somente para presenteá-la (isso depois que Linda elogiou o vestido) e de ir para a cozinha para preparar algo para os amigos.

    O quarto que pertenceu a Bishop é o menor dos cinco da Casa Mariana (a cama, com cabeceira do chamado “pescoço de cisne”, é utilizada por Linda hoje em outro quarto). No vidro da janela está inscrita a data de nascimento do chef Jesse Dunfod Wood (22 de outubro de 1977), que teria nascido no quarto de Bishop a pedido do pai, o pintor Hugh Diarmid Dunford Wood, fã da poeta. Mas a porta desse ambiente cai num outro muito maior, o antigo escritório da poeta, hoje transformado em quarto de hóspedes. 



    Elizabeth Bishop na varanda da Casa Mariana, em Ouro Preto, em 1970


    Histórias

    Detalhista, Bishop mandou vir dos EUA a grande banheira branca, que havia pertencido a um hotel. Da Inglaterra são a lareira da sala e o aquecedor do banheiro. Na sala principal, um detalhe, emoldurado, mostra a construção original da casa (pau a pique, com amarração em couro). Bem próximo está a escrivaninha que pertenceu a José Eduardo de Macedo Soares, fundador do jornal O Imparcial, precursor do Diário Carioca. Por sua antiguidade, a casa guarda histórias que não têm nada a ver com a passagem de Bishop por Ouro Preto. Há inclusive uma lenda que diz que a cabeça de Tiradentes teria sido enterrada ali – um importante maçom foi dono da casa em seus primeiros tempos e teria roubado a cabeça de Joaquim José da Silva Xavier.

    Entretanto, é a passagem de Bishop que leva pesquisadores, turistas e curiosos a visitarem a Casa Mariana. Há alguns anos, Linda, que vive em Belo Horizonte, pensou em vendê-la, quem sabe para uma instituição “que fizesse dessa casa um museu da Elizabeth, que a mantivesse, a deixasse a salvo.” Como não apareceu ninguém, ela parou de pensar no assunto. “E meus sobrinhos vêm muito para cá, então fica para eles. Tenho 82 anos. O que vou fazer com o dinheiro nessa idade?” Mas se atualmente houvesse algum interesse que fizesse do memorial o lugar que ela imagina – e que Bishop, certamente, merece – Linda voltaria a pensar no caso.

    Elizabeth por Linda

    » Sem tradução

    “Ela bebia muito. Às vezes chegava lá em casa carregada pelo motorista. Nessa época, em Belo Horizonte, morávamos na Rua Herval (na Serra). A gente cuidava dela. Eu saía para trabalhar o dia todo e a mamãe (uma libanesa que nunca foi fluente em português) cuidava dela. Um dia, quando cheguei, ela me falou: ‘Passei a tarde conversando com a sua mãe. Foi muito agradável’. ‘Sobre o que vocês conversaram?’, perguntei. ‘Não sei, porque ela não entendia a minha língua e eu também não entendia a dela’.”

    » Amiga famosa

    “Um dia, cheguei aqui e ela estava com uma caixinha de sapato amarrada com uma fita. Me disse: ‘Linda, você não faz confiança em mim, mas sou uma pessoa famosa. Se na velhice você precisar de dinheiro, venda esses papéis que vai ter um apoio’. Peguei a caixa e levei para casa. Como viajava muito, falei para mamãe, que de vez em quando dava uma limpeza e jogava papel velho fora: ‘Mamãe, esses aqui não pode jogar fora’.”

    » Papéis velhos

    “Uma professora veio me perguntar coisas sobre a Elizabeth. Mostrei para ela a caixa. Pois ela foi para Vassar (a faculdade norte-americana em que Bishop estudou e que hoje guarda grande parte de seu acervo) e contou dos papéis. Ligaram-me insistentemente até que concordamos que eu iria até lá levá-los. Quando cheguei a Vassar, tinha um professor de português me esperando, me hospedaram num quarto enorme na universidade. Era tão bem montado que tinha 14 lâmpadas, eu contei. Eu ficava assim porque para mim a Elizabeth era uma pessoa comum, uma amiga mais idosa, uma senhora estrangeira que tinha poucos amigos em Ouro Preto, que bebia e que a gente ajudava quando precisava. Pois a diretora da biblioteca de Vassar só deixou eu abrir a caixa numa sala que era à prova de fogo. Uns experts de Nova York viram que eram autênticos. Nós negociamos e eu os vendi por US$ 25 mil. Era uma caixa de papel velho, com ótimos manuscritos, rascunhos de poemas e reflexões.”

    » Coisa de escritoras

    “Antes de vir ao Brasil, uma vez ela perguntou a Marianne Moore (mentora de Bishop) o que ela queria do país. Disse para levar uma coisa vermelha. Elizabeth foi a um antiquário e achou rubis. Quando a Marianne já estava muito doente, foi visitá-la e a família falou para que escolhesse uma lembrança. Ela escolheu a abotoadura de rubi. E me deu depois. Então, fui a uma solenidade em Petrópolis com o Affonso Romano e a Marina Colasanti, muito meus amigos. Durante o jantar, bati no copo, todo mundo fez silêncio. Contei essa história e dei as abotoaduras para a Marina. ‘Coisa de escritoras, fica para vocês’.”

    Campos invade seara tucana do empresariado - Vandson Lima

    Valor Econômico - 21/08/2013

    Vandson Lima


    "Não há decisões firmes na área econômica. Temos que pensar o tempo todo se investimos ou não"

    Tucano declarado, José Honório de Tofoli, presidente da Moinhos Anaconda, melhor empresa do setor de alimentos de acordo com o anuário "Valor 1000", não leva fé na candidatura do senador Aécio Neves (MG). "Não acho que tenha chances nem que esteja preparado para o cargo". José Serra então, nem pensar. "Ah, não. Serra morreu e esqueceram de enterrar".

    Assim como Tofoli, empresários que dirigem algumas das maiores empresas do país - e que estiveram presentes à premiação - se dizem pouco satisfeitos com o governo Dilma Rousseff. A elevação da taxa de câmbio, dizem, é apenas o problema do dia, e apontam a falta de um rol de ações norteadoras como o verdadeiro entrave ao crescimento. Em sua maioria, desdenham da candidatura da ex-senadora Marina Silva (AC), bem como da postulação senador mineiro. Enxergam no governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o homem certo para ocupar o Planalto nos próximos anos, em que pese seus 8% no Datafolha.

    Uma das empresas que lidera a produção de farinha de trigo no país, a Anaconda doou R$ 100 mil ao PSDB nas eleições de 2010, ano em que suas receitas subiram 8% e os custos caíram 3,6%, angariando margem de 16% de lucro, considerada alta no setor. Mas a demanda esfriou em 2011, as receitas ficaram estáveis e os custos subiram 1,6%. Como consequência, o lucro caiu 5,2%. A recuperação de receita em 2012, com alta de 7,1%, foi superada pelos custos, que subiram 11,1%. A margem de lucro caiu de 16% em 2010 para 15,2% no ano passado, o que leva Tofoli a culpar o governo pelo cenário pouco propício a investimentos: "Não há decisões firmes na área econômica. Temos que pensar o tempo todo se investimos ou não".

    Tofoli admite que programas de distribuição de renda aumentaram o consumo geral, mas não vê nas ações do governo fator decisivo para o bom desempenho de sua empresa. Na seara política, diz, sobre a segunda colocada nas pesquisas: "Não tenho a menor boa vontade com a Marina. Não a vejo como administradora, não vai conseguir lidar com o Congresso". Já Campos lhe arranca um sorriso. "Tenho enorme simpatia pelo Eduardo. Companheiros de setor falam muito bem dele. É alguém que quer ajudar o empresariado, trabalhar junto, dialogar. Mas estou aguardando para ver sua plataforma de governo", diz.

    Diretor-superintendente do grupo sucroalcooleiro Santa Terezinha, Ágide Meneguete é outro que se encantou com a conversa de Campos. "Fui para uma audiência de 15 minutos e acabamos conversando por quase duas horas", conta, sobre um encontro recente no Recife. "A visão econômica dele me impressionou. Precisamos de facilitadores e ele está disposto a ser essa pessoa", atesta.

    Campos já agendou uma visita à sede da empresa, no Paraná, para a última semana de novembro, a fim de retomar a conversa e travar contato com outros empresários da região. O balanço da holding explica a insatisfação de Meneguete, já que os lucros da Santa Terezinha, de R$ 269,1 milhões em 2011, desabaram pela metade no ano passado.

    Conterrâneo do presidenciável, Edson Viana Moura, presidente da Baterias Moura, não esconde a preferência. "Eduardo dá de 10 a zero em Aécio e todos os outros. É político de mão cheia, trabalha 24 horas por dia, cumpre o que promete e tem equipe. Seu secretariado tem nível de empresa privada". A empresa doou R$ 200 mil à vitoriosa campanha de Campos em 2010.
    Sob a condição do anonimato, outros empresários que estiveram com Campos nos últimos meses se disseram impressionados com sua desenvoltura em se mostrar um candidato pronto para atender as demandas do empresariado.

    Para Cícero Dalla Vecchia, diretor das Lojas Cem, "depois do Plano Real, não houve um projeto integrado para pensar o desenvolvimento do país", alega. "Não dá mais para dar isenção para carro sem ter estrada para rodar. O PT está no governo há 10 anos, teve tempo para pensar em ações articuladas". Na contramão de seus pares, Dalla Vecchia acredita que, por não estar amarrada a estruturas partidárias tradicionais, Marina pode "simbolizar o novo e ter facilidade para promover as mudanças necessárias", avalia. "Aécio e Campos serão algo parecido com o que temos hoje".

    Membro do Conselho de Administração da Votorantim, Claudio Ermírio de Moraes diz que "falta à oposição apresentar uma proposta ao país". O combate à inflação, avalia, deve estar no centro das preocupações do governo. "É melhor trabalhar em um ambiente com juro alto do que com inflação", diz.
    Segurança jurídica para além do calendário eleitoral é o que cobra Tadeu Carneiro, presidente da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). "É preciso que exista um plano diretor robusto para o país, que seja de longo prazo e que possa ser implementado independentemente dos mandatos dos dirigentes políticos".

    Presidente de uma das maiores empresas de construção de shopping centers do país, José Isaac Peres, da Multiplan, avalia que o cenário é difícil, mas não inibe investimentos. "O momento é de turbulência e ajuste, mas nossas instituições são sólidas". Ele demonstra, na mesma medida, simpatia por Aécio e Eduardo Campos, "pois foram bons governadores". Assim como Peres, Antônio Carlos Marinho, presidente da mineradora Kinross, não vê problemas em uma eventual eleição de Marina Silva, que em tese aumentaria a rigidez de medidas de proteção ambiental. "Somos uma empresa sustentável, fizemos a lição de casa".
    Os presidentes da Whirlpool (eletrodomésticos), João Carlos Brega, da Atlas Schindler (elevadores), Andre Inserra e da regional Latina da Level 3 (telecomunicações), Hector Alonso, concordaram que o país possui um ambiente democrático e institucional consolidado, não sendo a hora de recuar no plano de investimentos de longo prazo. (Colaboraram Natalia Viri, Felipe Marques, Olivia Alonso, Letícia Arcoverde e João José Oliveira)

    Quilombola envolvido em disputa de terras é assassinado em Belém

    folha de são paulo
    QUESTÃO AGRÁRIA
    DE SÃO PAULO - Um líder quilombola envolvido em disputas de terras com fazendeiros na ilha do Marajó (PA) foi morto anteontem.
    Segundo informações do Ministério Público Federal, Teodoro Lalor de Lima, conhecido como "seu Lalor", foi assassinado com uma facada nas costas, na periferia de Belém, capital do Pará.
    A Polícia Civil do Estado apura o homicídio. Lalor vivia na cidade de Cachoeira do Arari e lutava pela titulação de terras para quilombolas.
    Nos últimos anos, fez denúncias à Procuradoria sobre ameaças e violências contra essa população.
    O Ministério Público Federal informou que vai enviar à polícia documentos com relatos de ameaças, expulsões e até prisões ilegais contra os quilombolas da comunidade de Gurupá, onde vivia Lalor.

    Procura-se a política - ROSÂNGELA BITTAR


    VALOR ECONÔMICO - 21/08/2013

    "Estou cansado de falar com ela, ela não faz" (Lula)

    Integrantes da cúpula do PT que privam dos gabinetes em que circula a presidente Dilma Rousseff têm uma opinião a respeito de quem é, na verdade, seu real adversário na disputa presidencial: o governador pernambucano Eduardo Campos, por tudo - postura política, comportamento, pensamento, palavras e obras -, é quem incomoda mais. Apesar do discurso de que a candidata que ameaça Dilma é Marina Silva, pelo óbvio segundo lugar nas pesquisas de opinião e o potencial de transformar-se na opção de quem não quer o PT nem o PSDB, acham difícil que se torne provável.

    Há a questão da criação do partido, pois a Rede está com sua tramitação muito mais atrasada do que estava o PSD, sua referência, à mesma época. Uma vez registrado o partido, considera-se que muito há ainda que acontecer. Não basta esta espécie de carta aos brasileiros dos economistas que apoiam a candidata para dar segurança de que o governo Marina não será prejudicado pelos dois fundamentalismos que se atribui aos seus alicerces, o religioso e o ambientalista.

    Se atravessar a tormenta da criação do partido, ou à última hora filiar-se a uma legenda ainda sem candidato, Marina Silva terá uma campanha dura pela frente para convencer a todos que não será pautada por princípios radicais, até porque faz questão, bem como seu staff, de expor seus compromissos inabaláveis.

    A candidatura Eduardo Campos é outra história, avaliam os articuladores da candidatura Dilma. Têm tratado o governador de Pernambuco com tanta cautela que seu interlocutor é somente o próprio ex-presidente Lula, chefe político maior da campanha da reeleição. Foi a situação do governador que, apesar de lanterninha nas pesquisas de intenção de voto, acionou os mecanismos de defesa do PT.

    Primeiro, notaram que perdiam terreno quando confrontaram-se depoimentos de empresários que com ele estiveram e já havia se reunido com Dilma nos últimos tempos. Um deles, sob condição de anonimato, pois a presidente enfrenta mal a discordância, conta que são convidados a ir ao Palácio para serem ouvidos. Lá chegando a presidente fala por quarenta minutos, discurso que encerra com uma pergunta: "você não acha?". Para ficar livre da pecha de avessa ao diálogo, a presidente faz longos monólogos, o que levou um desses empresários a concluir: "desde Fernando Collor não tínhamos um interlocutor tão opressivo".

    Eduardo Campos aparece pouco, faz o discurso de que não é hora de campanha, recolhe-se mas faz política o tempo todo.

    A Dilma falta, sobretudo, a política, é o que avalia o PT. Rui Falcão, o presidente do partido, fala com ela sobre as opiniões dos petistas, mas não está na operação diária. Ela escolheu Aluizio Mercadante, Ideli Salvati e João Santana para fazerem política. "O governo virou um governo gerencial, vai bem com ela quem melhor gerencia sua pasta, não é a política que aproxima", diz um dos participantes das avaliações do momento político.

    No seu último encontro, a cúpula do PT chegou a uma síntese das providências necessárias para criar uma aura de segurança à candidatura: "Achamos que vamos ganhar, mas se não colocar política no governo, não vai dar".

    Nessa avaliação, a presidente estaria agindo por soluços. Quando se vê em apuros, recebe empresários, trabalhadores, sem-terra, líderes políticos, deputados e senadores e, aparentemente, negocia. Mas nada cede. Passada a tormenta, esquece.

    O presidente Lula teve uma conversa dura com a presidente no sentido de tentar mudar seu comportamento e colocar política no governo, como define a síntese do partido. Tinha que sair da clausura palaciana, retomar a campanha eleitoral nos Estados, negociar com o Congresso, sentir-se liberada a reorganizar o governo. Lula garantiu-lhe que não é candidato como a pressão de petistas pode fazer crer. Nesta intervenção, Lula fez outros aconselhamentos. Por exemplo, determinou a alguns integrantes do primeiro e segundo escalões do governo que não se candidatem, para não haver um esvaziamento e tudo começar do zero com os novos ministros e secretários executivos que vierem a assumir com a desincompatibilização. Alguns não gostaram, mas todos devem atender ao ex-presidente.

    Parte das recomendações de Lula a presidente seguiu. Está, por exemplo, em campanha aberta pelos Estados. No entanto, a outras não deu atenção. Por exemplo, reitera o PT, não impregnou seu governo de política.

    Dilma não acatou também a recomendação, feita por instância do PT, de não participar de agenda com o governo de São Paulo. "Com Alckmin é briga", diz um dos integrantes da cúpula. O investimento eleitoral em São Paulo é integralmente no ministro Alexandre Padilha. Outro erro apontado a ela, que persiste, é que não adianta liberar dinheiro vivo, na veia, se a verba não é acompanhada da política. Prova disso teria sido a vaia que levou na reunião de prefeitos aos quais acabara de anunciar a liberação de R$ 3 bilhões.

    "É para enfrentar Eduardo Campos que Dilma tem que mudar. Quem mais nos assusta é ele, que tem estrutura partidária, é da política e não está errando. Já conseguiu deslocar para seu lado, apenas por simpatia, por enquanto, setores insatisfeitos da base do governo e do PSDB", avaliam líderes petistas.

    Por volta de fim de abril e início de maio, o ex-presidente Lula falou com a presidente Dilma sobre tudo isso. Não deu certo, constatou a análise feita no mês seguinte quando já explodiam os protestos populares. Na ocasião a abordagem foi entendida como um sinal de que o ex-presidente poderia voltar já em 2014 se as coisas continuassem a dar errado. O PT inteiro foi ao QG lulista para apelar ao ex-presidente, que foi taxativo: "Estou cansado de falar com ela, ela não faz".

    Voltou a falar em fim de julho e início de agosto, quando, ao voltar de viagem ao exterior, ela o procurou para finalmente pedir sua opinião sobre as manifestações e apelou a Lula a ajudá-la a recuperar o governo e a ser reeleita. A partir daí o ex-presidente não só traçou a estratégia que ela procura agora cumprir, como tomou a iniciativa de enviar ao comitê da reeleição cabeças mais políticas. Lula anunciou-se, ao PT inclusive, absolutamente comprometido com a reeleição dela.

    Um balanço parcial do PT, neste momento: Dilma está reagindo, investiu no programa de importação de médicos como marca do seu governo, tem recebido políticos. Mas até onde a vista alcança o PT ainda não viu a chegada da política ao terceiro governo do partido.

    Drogas certeiras - Paula Takahashi

    Personalização da medicina é o caminho perseguido pela indústria e pela comunidade científica para tratar as variações de tumores, que se comportam de maneira distinta em cada pessoa 


    Paula Takahashi - De Santiago*

    Estado de Minas: 21/08/2013 


    O tratamento do câncer de mama ganha novos aliados. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou recentemente a comercialização do perjeta, anticorpo monoclonal que figura entre os medicamentos mais modernos e eficientes para controle da doença em fase metastática – quando já atingiu outros órgãos. A droga, que já era comercializada na Europa e nos Estados Unidos, traz esperança para as pacientes brasileiras diagnosticadas com uma das formas mais agressivas da doença, o câncer de mama conhecido como HER2 positivo (HER2+), que atinge cerca de 20% do total de mulheres com a enfermidade.


    “Hoje, sabemos que há três grandes grupos de câncer de mama. Aquele com alteração na proteína HER2, outro com receptores hormonais de estrogênio e progesterona e o grupo triplo negativo”, enumera Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da PUC do Rio Grande do Sul. O que caracteriza essa variação é o fato de ter a proteína HER2 na membrana da célula em número aumentado, o que contribui para a evolução da doença. “Quando chego a essa situação clínica, estou diagnosticando uma doença muito particular, que tem aquela alteração molecular como o motor que faz com que a célula se divida e evolua”, acrescenta Barrios, enfatizando as particularidades dessa versão da doença.


    Apesar de uma só nomenclatura, o câncer de mama não é uma doença única, assim como o de pulmão, colo do útero, de pele e os demais também não são. “É como se fossem várias doenças em uma”, observa Barrios. As variações podem chegar ao nível individual, em que o tumor se comporta de maneira distinta, de acordo com o paciente.


    Com o avanço das tecnologias de sequenciamento genético na última década, foi possível caracterizar o tumor e buscar atuar de forma cada mais precisa no tratamento, um esforço que mobiliza a comunidade científica e a indústria farmacêutica em prol da personalização cada vez maior da medicina. O sequenciamento do genoma é a ferramenta por meio da qual são identificados os biomarcadores responsáveis pela caracterização do tumor. Identificados, esses marcadores se tornam alvos do ataque de medicamentos desenvolvidos exclusivamente com esse fim.

    COQUETEL IDEAL Diante da precisão do diagnóstico, é possível direcionar o tratamento ideal para cada situação. Para o membro da Clínica Oncologistas Associados do Rio de Janeiro, Gilberto Amorim, esse é um caminho sem volta. “É preciso reaprender as doenças, já que são várias formas, mesmo que tenham a mesma nomenclatura”, afirma. Os avanços se estendem para o câncer de pulmão, colo do útero e melanomas. “A intenção é conhecer não só a doença, como também o indivíduo. Pessoas têm reações diferentes aos medicamentos e é preciso conhecer melhor os mecanismos de cada organismo”, avalia.


    Nessa direção, a personalização permite, inclusive, a definição do melhor coquetel de medicamentos para cada indivíduo. “O tumor passa por testes e, a partir daí, podem ser definidas as drogas com maior chance de resposta”, observa Amorim. Isso já é feito no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, há um ano. “Fazemos esse sequenciamento do tumor com análise de cerca de 100 genes em casos em que o paciente não responde mais aos tratamentos convencionais”, explica o coordenador de Ensino e Pesquisa do Centro de Oncologia do hospital, Bernardo Garicochea.


    Quando se esgotam as alternativas habituais, o sequenciamento genético pode ser uma alternativa para possibilidades que dificilmente seriam consideradas. “Com o teste no tumor, um remédio para leucemia pode agir em um determinado gene, que pode ser benéfico no tratamento de câncer de pulmão, por exemplo”, explica Garicochea. Tomando as decisões terapêuticas mais corretas, evita-se a prescrição de remédios caros e sem efeito, além de reduzir os riscos de reações adversas ao medicamento.

    Cura para a metástase


    Testes estão sendo realizados para o desenvolvimento de drogas que visam à redução de sintomas provocados pelo tratamento quimioterápico, entre eles, a perda de cabelo. “Foi criada a molécula TDM1, um conjugado entre anticorpo e um agente tóxico para atacar a célula cancerosa”, explica Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da PUC do Rio Grande do Sul. 


    A ideia é que o anticorpo funcione como um verdadeiro “míssil teleguiado” que chegará exatamente à área para a qual foi destinado. “O anticorpo vai levar consigo a molécula tóxica. Quando chegar à célula que se quer atacar, ela penetra e, a partir daí, tem-se uma verdadeira bomba”, explica Barrios. Com a destinação bem definida, os índices de toxicidade são bastante reduzidos.


    “A molécula criada não se solta no organismo. Somente na célula que se quer combater”, observa. Sendo menos tóxico, o TDM-1 pode significar o fim da queda de cabelo. “Estamos na fase de testes para saber qual seria a melhor combinação. Se, por exemplo, o Perjeta poderia ser associado”, explica Barrios.

    EVOLUÇÃO O Herceptin foi o primeiro passo rumo ao controle do câncer do tipo HER2+. Associado com a quimioterapia, mostrou resultados importantes no aumento da expectativa de vida das pacientes. “Depois, foram tentadas alternativas para que esse efeito fosse ainda melhor. Isso ocorreu quando, além do Herceptin, associou-se outro anticorpo, o Pertuzumab ou Perjeta”, lembra Barrios. Agora, com o desenvolvimento do TDM-1, uma nova fase se anuncia para o tratamento dessas pacientes. “Câncer metastático ainda é sinônimo de morte. Mas a chance de cura está mais próxima para o subgrupo HER 2+”, garante o especialista da PUC-RS. (PT)


    * a repórter viajou a convite da Roche

    ARQUEOLOGIA » Joias do Antigo Egito feitas de meteoritos‏


    ARQUEOLOGIA » Joias do Antigo Egito feitas de meteoritos 


    Estado de Minas: 21/08/2013 

    Foi o espaço que forneceu material para a confecção dos mais antigos artefatos de ferro já escavados. Trata-se de um conjunto de bijuterias fabricadas no Egito há mais de 5 mil anos, exibidas no Museu Petrie, da Universidade da Califórnia. Pesquisadores da instituição descobriram que, em vez de a matéria-prima ter sido extraída do minério de ferro, como se imaginava, ela caiu do céu: a análise química das joias mostrou traços que só existem na composição de meteoros. 

    Como se não bastasse, os arqueólogos constataram que os artefatos foram feitos com a técnica de fundição do ferro, método que teria sido desenvolvido apenas 2 mil anos depois, segundo se acreditava. As peças foram escavadas em 1911 em um cemitério pré-dinástico perto da vila de El-Gerzeh, no Baixo Egito, e estavam completamente enferrujadas quando descobertas. Por isso, foi necessário usar raios X para determinar sua composição — ferro meteórico e aquele extraído da magnetita são constantemente confundidos quando o segundo encontra-se corroído, porque as propriedades químicas tornam-se bem similares. 

    As peças feitas de ouro e pedras preciosas, além da liga de ferro, formavam originalmente uma gargantilha exótica e extremamente valiosa. Principal autor de um artigo que descreve as joias, publicado no Journal of Archaeological Science, Thilo Rehren disse que o ourives forjou os metais e depois os enrolou para dar o formato de círculos em um processo que provavelmente envolveu múltiplas etapas. “Ele não usou técnicas tradicionais de trabalho com pedra, como esculpir e perfurar, usadas em outras contas encontradas na mesma tumba”, disse.

    O resultado da análise mostrou que os trabalhadores já eram mestres na arte de fundir o ferro meteórico, um tipo de material muito mais duro e quebradiço que o minério comum. Para trabalhar com a matéria-prima, eles aplicaram, de acordo com os arqueólogos, tecnologias que seriam amplamente difundidas na Idade do Ferro. “Os fundidores de metal tinham quase 2 mil anos de experiência de trabalho com ferro meteórico quando a fundição desse material foi introduzida, na metade do segundo milênio antes de Cristo. Esse conhecimento foi essencial para o desenvolvimento da fundição e para a produção de minério”, disseram os autores do artigo. 

    Ao escanear as contas com raios gama e nêutron, os pesquisadores conseguiram revelar a textura única e também a alta concentração de níquel, cobalto, fósforo e germânio na peça — todas essas, características encontradas em meteoros. Para isso, não precisaram fazer análises invasivas, que poderiam danificar esses raros objetos. “O que é realmente empolgante sobre esse trabalho é que demonstramos de forma conclusiva que há traços típicos de elementos como cobalto e germânio em níveis que só ocorrem em meteoritos”, afirmou Rehren.

    Painel Vera Magalhães

    folha de são paulo

    PMDB diz que Dilma não vencerá com folga em Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pernambuco

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    Valorizando o passe Peemedebistas apresentaram ao presidente do PT, Rui Falcão, anteontem, no Palácio do Jaburu, um mapa comparando a votação em cada unidade da federação na vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra por 12 milhões de votos em 2010. Pelos cálculos do partido de Michel Temer, a petista não contará agora com a mesma folga em Estados como Minas Gerais, Bahia, Ceará e Pernambuco. "Fizemos o cálculo para mostrar que a coisa não será tão fácil assim'', relata um presente.
    Obstáculo 1 A maior diferença de Dilma para Serra foi na Bahia, onde a petista teve 2,8 milhões de votos a mais. O argumento do PMDB: Geddel Vieira Lima, rompido com o PT, vai levar o partido a apoiar outro candidato.
    Obstáculo 2 Minas e Pernambuco devem dar boas votações a Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), respectivamente, caso sejam candidatos. E no Ceará há outro peemedebista insatisfeito, o senador Eunício Oliveira.
    No bule Eduardo Campos (PSB) grava na próxima terça-feira participação no quadro "Dois dedos de prosa", do Programa do Ratinho, do SBT, cuja audiência se concentra nas classes C e D. Este ano, já passaram por lá Aécio Neves e Marina Silva (Rede).
    No cofre O governador de Pernambuco receberá hoje para uma conversa sobre conjuntura, no Recife, André Esteves, CEO do BTG Pactual, juntamente com a diretoria do banco de investimentos.
    Timing Diante do mal-estar manifestado por aliados de José Serra, o almoço dos deputados estaduais do PSDB de São Paulo com Aécio foi adiado para o dia 29. O partido decidiu ainda estender o convite do encontro aos representantes paulistas da direção nacional da sigla.
    Pendência A Procuradoria-Geral Eleitoral concluiu que o Solidariedade, partido que Paulinho da Força tenta criar, não cumpriu a exigência mínima de assinaturas em Rondônia e precisará pedir nova certidão de apoio antes de ter seu registro nacional.
    Coincidência Paulinho nega que esteja por trás da nova legenda, mas cinco advogados que representam o Solidariedade já atuaram a favor da Força Sindical.
    Chicana 1 Mesmo com pedido de Luís Roberto Barrroso na semana passada, Joaquim Barbosa não liberou para a defesa a pauta de análise dos agravos do mensalão. Advogados se queixavam ontem de ter de pedir informações à assessoria do tribunal.
    Chicana 2 "É uma falta de urbanidade e respeito. Vindo dele, nada mais me surpreende", diz Luiz Fernando Pacheco, que defende o deputado José Genoino.
    Vaquinha A mulher de Natan Donadon (PMDB-RO), deputado preso após determinação do STF, tem pedido ajuda financeira a parlamentares para custear as despesas de advogado do marido.
    Batata... Integrantes do governo discutem relatório aprovado em comissão do Senado que determina a universalização do atendimento a estudantes com deficiência na rede regular de ensino.
    ... quente Gleisi Hoffmann esteve com José Pimentel (PT-CE), relator do projeto, e reafirmou compromisso de Dilma em manter decreto que diz que a oferta de educação especial se dará "preferencialmente" na rede regular. Já o Ministério da Educação acredita que o atendimento deve ser integrado.
    Onde pega A medida retiraria de entidades como a Apae a possibilidade de oferecer atendimento especial substitutivo à educação na rede regular, além de reduzir o repasse de recursos a essas entidades. As Apaes defendem a redação do texto com a palavra "preferencialmente".
    Visita à Folha Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Alessandra Cardoso, chefe de gabinete.
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    TIROTEIO
    A desvalorização do real indica que, em três meses, a inépcia da política econômica do governo empobreceu os brasileiros em 20%.
    DO EX-DEPUTADO LUIZ PAULO VELLOZO LUCAS (PSDB-ES), sobre a alta do
    dólar e seus possíveis efeitos sobre o poder de compra da população do país.
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    CONTRAPONTO
    Toque outra vez, Zé
    José Eduardo Cardozo (Justiça) jantava no fim de semana com correligionários em uma tradicional cantina paulistana. Na saída, seu grupo foi abordado por um rapaz na mesa ao lado, que, avistando um piano no restaurante, disse para um amigo do ministro:
    -Já que ele carrega o piano em Brasília, sugira que ele toque para acalmar a presidente.
    Os frequentadores da cantina caíram na gargalhada e o ministro tocou duas breves canções.
    Com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
    painel
    Vera Magalhães é editora do Painel. Na Folha desde 1997, já foi repórter do Painel em Brasília, editora do caderno 'Poder' e repórter especial.

    Eduardo Almeida Reis - Maiôs‏

    José Bento Teixeira de Salles honrou a terra em que nasceu e cada um dos dias que viveu até nos deixar aos 91 anos 


    Eduardo Almeida Reis


    Estado de Minas: 21/08/2013 

    Escrevi sobre o lançamento na França, numa piscina de Paris dia 5 de julho de 1946, de um maiô de duas peças de tamanho reduzido, cobrindo os seios e a zona do agrião, inventado pelo estilista Louis Reard. Maiô que passou a ser chamado de biquíni pelo barulho que deve ter feito na praça, parecido com o provocado no mesmo mês do mesmo ano no Atol de Bikini, Oceano Pacífico, com a explosão de uma bomba atômica experimental.

    Amável leitor do Estado de Minas contou-me do lançamento do biquíni em Belo Horizonte no ano de 1965 e na piscina do Minas Tênis Clube, por uma amiga dele, senhorita que tinha as iniciais V. L. de Almeida S.. Diz o leitor que foi um escândalo em caixa-alta.

    Naquele tempo, o clube tinha uma funcionária, dona Nida, que trabalhava no vestiário feminino e, entre outras funções, fiscalizava os maiôs das moças. Se o maiô fosse de cor clara ou um pouco mais ousado, a funcionária tirava a sócia da área da piscina, enrolando-a à força numa toalha e arrastando-a para o vestiário “com a aprovação de todos os frequentadores do clube”, completa o leitor.

    Junto com o seu e-mail, enviou texto escrito por V. L. de Almeida S. narrando a proeza de ser a primeira moça a usar biquíni no Minas Tênis Clube, texto que não consegui abrir porque estou atingindo a perfeição em matéria de informática: entendo cada vez menos.

    Amigo

    Os aumentativos irregulares amigaço e amigalhaço, bem como os coletivos turma, patota e tertúlia não dizem da importância do amigo e da amiga nas vidas de todos nós. Tertúlia... Você, caro e preclaro leitor, diria que os seus amigos são a sua tertúlia ou a sua patota? E tem mais uma coisa: podem ser colegas de turma, sem que sejam amigos.


    Sou do tempo em que havia cavalheiros registrados com o nome Tertuliano, ao que parece significando “terceiro”. A Paraíba teve um Tertuliano falecido em 1957. Santa Catarina também teve Tertuliano famoso, nome de rua e de rodovia estadual.

    Fiquemos nos amigos e amigas tão importantes na vida de um sujeito quanto as paixões, com a só diferença de que as paixões acabam e as amizades são (ou deveriam ser) eternas. Desconfio dos cidadãos que rompem amizades de muitos anos por motivos fúteis ou até sem motivo algum, providência que me parece indicativa de caduquice.

    Não se diga que as amizades não sejam perigosas. Amigos há que, de tão barbeiros, expõem nossas vidas a acidentes. Tive um amigo assim: muito respeitado em seu estado, professor doutor de universidade federal, pequeno de corpo e grande de coração e intelecto, vivia dizendo que o brasileiro não estava suficientemente aculturado para dirigir. E dirigia, tinha carteira, era barbeiro habilitado. Certa feita, meteu-se com seu Fiat 147 embaixo de uma carreta graneleira. Não teve um arranhão e o 147 sumiu do mapa. Dizíamos que ele, pequenino, deve ter sido salvo por se esconder no porta-luvas.

    As circunstâncias da vida e as distâncias geográficas são responsáveis por certos episódios, como por exemplo: José Bento enterrado em Belo Horizonte e a coluna Tiro & Queda falando de um podólogo de onças-pintadas. Em Juiz de Fora só tive a notícia de que o Amigo, com A em caixa-alta, nos deixou, quando recebi o Estado de Minas edição de sábado 17 de agosto. As colunas do final de semana estavam prontas, revistas e ilustradas.

    Foi um amigo que fiz quando me candidatei à Academia Mineira de Letras e desde então, nos últimos 18 anos, tivemos relações as mais cordiais no sentido de “relativo ao coração”. Sempre admirei e louvei sua carreira de homem público brilhante e incorruptível, não fosse amigo e colaborador de Milton Campos, de jornalista e escritor, de causeur com o mais fino humour britânico.

    Quando publicou o seu Passageiro do tempo, deu-nos extraordinário livro de memórias em 446 páginas, sem exagero algum livro dos mais notáveis que já li. Marido amantíssimo, exemplar chefe de família, amigo de todas as horas, José Bento Teixeira de Salles honrou a terra em que nasceu e cada um dos dias que viveu até nos deixar aos 91 anos.

    O mundo é uma bola

    21 de agosto de 1359: Ismail II se torna o nono rei nasrida de Granada, ao destronar seu meio-irmão Muhammed V al-Ghani. Alá achou feio aquele negócio de destronar o meio-irmão e levou Ismail II para o céu no ano seguinte. Em 1770, ao fim de sua viagem de descoberta da Austrália, o capitão James Cook reclama o continente em nome do Império Britânico. Sorte dos cangurus e dos aborígenes, que falam inglês e podem estudar a ciência da computação. Em 1792, a guilhotina é usada pela primeira vez na Revolução Francesa para cortar a cabeça de um nobre, depois de julgamento sumário. Em 1950, o Havaí se transforma no 50º estado norte-americano.


    Ruminanças
    “Tudo é bom quando é excessivo” (Marquês de Sade, 1740-1814).