segunda-feira, 28 de julho de 2014

Um sistema sofisticado - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 28/06/2014

Nosso sistema político é sofisticado: ninguém se elege presidente sem antes garantir a governabilidade



Vinte anos atrás, em 7 de junho de 1994, o Congresso promulgou cinco emendas constitucionais "de revisão", encerrando o processo previsto na Constituição de 1988, que mandava revisar a Carta cinco anos após sua promulgação. Para a revisão, o quórum era baixo - somente a maioria absoluta - enquanto as emendas constitucionais de praxe exigem maioria de três quintos. A inspiração veio da Constituição Portuguesa de 1976, a fim de verificar a cada cinco anos o que funcionava e o que não na lei suprema, de modo que ela fosse alterada de uma vez só e não aos pedaços. Mas nosso Congresso revisou apenas pontos secundários e aboliu a revisão periódica. Talvez por isso, talvez não, já emendamos a Carta 87 vezes.

A mais importante das emendas de revisão foi a de número 5, reduzindo o mandato presidencial de cinco para quatro anos. Faltavam quatro meses para a eleição e é provável que tenha sido aprovada para subtrair um ano de um eventual governo Lula, já que o líder petista era favorito absoluto para a Presidência da República. Três semanas após a emenda, porém, a implantação do Plano Real mudaria o panorama político, levando Fernando Henrique Cardoso à vitória. Preocupados com a inflação e com as eleições, os brasileiros não deram muita importância à EMC 5.

Mas ela introduziu uma mudança decisiva e radical nas eleições presidenciais. Pela primeira vez num século de República, a Constituição decretava a coincidência entre a eleição do Executivo e Legislativo federais. Na República Velha, os presidentes eram escolhidos por quatro anos, os deputados por três e os senadores por nove. Sob a Constituição de 1946, o mandato dos deputados subiu para quatro, o do presidente para cinco e o dos senadores baixou para oito. Assim, entre 1894 e 1930, quando ocorreram as eleições, ainda que fraudadas, da República Velha, e de novo entre 1945 e 1960, quando se realizaram os pleitos para presidente sob nossa então tímida democracia, só ocasionalmente coincidiram os mandatos.


Governabilidade é condição para se eleger


Assim ainda se deu a eleição de Fernando Collor, em 1989. O Legislativo tinha sido renovado em 1986 e o seria de novo, com os governadores estaduais, no ano seguinte. Collor foi eleito sozinho. Este fato se somou a outros para eleger um cavaleiro solitário, um salvador sebastianista, um desconhecido. Uma novela do ano ("Que rei sou eu?") promovia a ideia do jovem príncipe que dava cabo de corte e cortesãos, que pela juventude e energia varria de cena o antigo regime. Só que o governo Collor deu no que deu.

Se FHC manteve alguns fins propostos por Collor - a estabilidade monetária, à época prioridade zero, e às privatizações - ele o fez recusando os meios: nada de surpresa ou de choque; tudo votado, anunciado. Substituiu, como já afirmei aqui, a épica (desastrada) pela prosa, até prosaica, mas bem sucedida, dialógica, democrática.



Ora, a EMC 5 acabou com surpresas nas eleições presidenciais. A coincidência das eleições federais, e delas com as estaduais, ancorou a escolha do presidente da República numa rede sólida de compromissos políticos no país inteiro. O sucesso no susto ficou impossível. Collor e alguns amigos seus, "outsiders" como ele, decidiram lutar pelo Planalto num jantar em Pequim, aproveitando um vácuo de opções políticas. Cenas primitivas como essa não são mais possíveis. Hoje, a Presidência é para "insiders". Não basta o candidato ter uma relação direta com os eleitores, pela mídia eletrônica: precisa de inúmeras mediações, acordos, compromissos, para concorrer com alguma chance.


Essa mudança nos marcou. Talvez o governo FHC fosse mais ou menos o mesmo, se sua eleição tivesse ocorrido à parte da escolha de legisladores e governadores. Mas os governos do PT, não. Lula poderia até ter conquistado mais cedo a Presidência, se não precisasse dessa capilarização de apoios. Talvez, dirigindo-se sem intermediários aos cidadãos, conseguisse vencer. Não creio muito. A força do PT, na oposição, estava nos movimentos organizados. Eles fazem uma importante intermediação entre o líder e a sociedade. Mas digamos que ele se elegesse, num pleito solteiro, talvez em 1989. Teria um Legislativo eleito em 1988. Viveria uma situação de total minoria. Precisaria fazer mais acordos, piores para o PT e para o país, do que de fato precisou.

Com eleições simultâneas, Lula percebeu que precisava dos acordos antes, não depois, da eleição. Essa decisão mudou o PT e o país. Acordos prévios à campanha podem ser mais baratos para a candidatura e a sociedade. Ele entendeu a necessidade de compromissos, inclusive um que tranquilizasse os mercados. A Carta aos Brasileiros, a histórica promessa de Lula respeitar os contratos, vem disso. Mudanças maiores ficam mais difíceis, desse jeito, que descontenta os radicais. Mas tem a vantagem de que mudanças, assim introduzidas, ficam. O governo eleito terá maior apoio.

Durante a campanha, descartam-se os candidatos que não passam numa complexa prova dos nove. Talvez eu, professor universitário, goste deste modelo porque lembra um pouco um concurso acadêmico - não por ser acadêmico, claro, mas por serem sucessivas provas, que tiram de cena quem não é apto: no caso, quem não terá apoio depois da eleição. Só consegue apoio para se eleger quem já o tem para governar. O Dia-D, da eleição, é marcado já pelos 1.440 days after que o presidente vai viver.

Por isso nosso modelo político, tão criticado, tem elementos sofisticados. É possível e preciso reformá-lo, mas para isso é necessário entendê-lo. Porque, não sendo assim, se corre o risco de piorá-lo, em vez de melhorá-lo.


Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.
E-mail: rjanine@usp.br




Eduardo Almeida Reis - Chalaça‏

Tiro e queda 
 
Na Espanha, o juiz José Castro tem chalaça nas acusações que faz à princesa Cristina, irmã do rei Felipe VI%u201D
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 28/07/2014


Chalaça

Entre os ciganos, chalaça é elegância no andamento da cavalgadura, o que se explica: são mestres em “remoçar” os equídeos que revendem por aí. Se conseguem remoçar, devem saber como tornar elegante o andamento. Chalaça é feito zombeteiro, gracejo, escárnio, motejo.
Na Espanha, o juiz José Castro, 67 anos, tem chalaça nas acusações que faz à princesa Cristina, irmã do rei Felipe VI, casada com Iñaki Urdangarín, medalhista olímpico, atual duque de Palma. Cristina é a primeira mulher da família real espanhola a ter curso superior. Ela e o marido têm a Aizóon, uma empresa acusada de uma porção de tolices pelo juiz Castro, como por exemplo: despesa semanal de 864 reais no salão de beleza. Ora, bolas: no Rio e em São Paulo, cada visita a um bom salão custa mais que isso.

E tem mais: num país grande e bobo, que vocês conhecem muito bem, o Senado pagou 14 mil reais de telefonemas internacionais de uma jovem turista, do México para Brasília, usando o celular oficial de seu pai, senador pelo PT do Acre. Quatro semanas de salão para embelezamento de uma princesa custam 3.456 reais, a quarta parte dos gastos em duas semanas de telefonemas da mocinha que passeava pelo México. 

Os gastos mensais dos duques de Palma são ridículos, como por exemplo: 30 mil reais com os colégios para os quatro filhos, clubes de tênis, contas e luz e as despesas no salão de beleza. Qualquer empresário mineiro de quinta categoria gasta mais que isso. E a notícia num jornal carioca é de página inteira, pura implicância com as famílias reais europeias. 

O relatório financeiro da família real britânica, publicado em junho, mostra que ela custou ao contribuinte 37,5 milhões de libras (R$ 133 milhões) no ano fiscal 2013-2014 terminado em abril. Por pessoa, as despesas foram de 56 pence (R$ 2,10). Quanto custará ao contribuinte gaúcho a família de Tarso Fernando Herz Genro? É família de valor inestimável por ter dado à luz Luciana Krebs Genro, candidata do PSol à presidência da República. Se o leitor não sabia, fique sabendo o significado de Krebs cycle: metabolic energy cycle – a sequence of biochemical reactions occurring in cells that is part of the metabolism of carbohydrates to produce energy. É mole ou quer mais?

Smart
Influenciada pelo dono, a idosa lavadora Bosch começou a ter problemas de funcionamento e já não tinha peças de reposição. Comprei uma LG à vista. Em 12 meses, na mesma loja, o preço aumentou 20%, prova de que há diversas “metas” para a inflação sob controle. Em cima da máquina leio o seguinte: Meu jeito SMART de lavar.


Por mais que os puristas se irritem, smart tomou conta do pedaço idiomático. Deve ter começado com o smartphone. Curioso, vou ao Michaelis comprado há 50 anos e tomo um susto: Smart – substantivo, dor aguda, violenta, aborrecimento, sofrer, doer, causar dor forte, estar irritado, estar aborrecido, arder, pungir. Como adjetivo é agudo, severo, forte, ardente, pungente.

A partir daí temos: esperto, inteligente, vivo, talentoso, espirituoso, elegante, moderno. E mais uma porção de significados. No dicionário do Dr. Bill Gates procuro a etimologia: “Old English smeortan ‘be painful’ origin?”. Volto ao Michaelis para aprender que painful, adjetivo, é doloroso, penoso, difícil, trabalhoso, árduo. Se advérbio é dolorosamente, penosamente, arduamente. 

Donde se conclui que smart, no sentido de talentoso, espirituoso, moderno, tem cabimento no smartwriter que inventei para ajudar o philosopho na louvável tarefa de substituir o abjeto pronome sujeito “eu”, em que chafurda a esmagadora maioria dos cronistas deste país grande e bobo. Quando escrevi durante 15 anos pequenos textos diários, de até 500 palavras, fui texticulista, sempre fugindo do pronome sujeito geralmente dispensável em português, como ensinou o filólogo Celso Cunha, tio de Andrea e Aécio Neves da Cunha.
Realmente, se digo que amanhã vou tomar um pileque, está claro que o porre não será tomado pela bisavó do smartwriter, mas os cronistas brasileiros não dispensam o pronome sujeito “eu”. Cronistas sofrem de onfalocentrismo. Aí é que está: a crônica é um gênero essencialmente umbilical. Todo cronista tem seu umbigo como centro do mundo e faz disso profissão.

O resto da humanidade também curte os respectivos umbiguinhos, mas disfarça a curtição e não se acanha de falar em nome de Deus, como se Ele, existindo, coonestasse o estelionato verbalizado em Seu nome para enriquecer o pilantra.

O mundo é uma bola

28 de julho de 1540: casamento de Henrique VIII com Catarina Howard, que fora aia da rainha Ana de Cleves. O malucão do rei era apaixonado por Catarina, jovem da pá-virada, e a cobria de presentes, mas ela tinha favoritos na hora de ir para a cama, como o cortesão Thomas Culpepper. Além de Thomas, a rainha chamou para a corte alguns dos seus antigos namorados, como Francisco Dereham, seu amante em Norfolk, que transformou em secretário particular. O rei não acreditava nas traições até ver as cartas de Culpepper para Catarina. Mandou executar Dereham e Culpepper; prendeu Catarina, que foi executada na Torre de Londres em fevereiro de 1542, quando tinha 25 aninhos. Hoje é o Dia do Agricultor.

Ruminanças
 “C’est toujours l’année prochaine que le paysan deviendra riche” (Menandro, 342-291 a.C.).

CONSUMIDOR » Proposta tenta enquadrar os programas de milhagem‏

CONSUMIDOR » Proposta tenta enquadrar os programas de milhagem
Em discussão na Câmara dos Deputados, projeto de lei para regular contratos traz ganhos, mas abre polêmicas, a exemplo da falta de prazo definido para a troca dos pontos por passagens



Francelle Marzano
Estado de Minas: 28/07/2014


Ao tentar resgatar pontuação na forma de produtos, a economista Gláucia Barbosa teve todos os pedidos rejeitados (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Ao tentar resgatar pontuação na forma de produtos, a economista Gláucia Barbosa teve todos os pedidos rejeitados

A troca de milhas oferecidas num programa de fidelidade de uma companhia aérea por produtos trouxe surpresas para a economista Gláucia Marques Barbosa. Depois de acumular mais de 200 mil pontos, ela resolveu utilizá-los para comprar alguns itens disponíveis no site da empresa; no entanto, todas as escolhas foram canceladas. A pontuação que poderia ser utilizada não foi devolvida. Gláucia conta que entrou em contato com a companhia para resgatar os pontos ou efetivar a troca, mas nenhum dos seus pedidos foi atendido. “A resposta foi que eram necessárias 72 horas para resolver o problema, mas o tempo se esgotava e não houve solução. A empresa queria a minha pontuação sem fazer a troca por produtos”, reclama.

A frustração da economista é comum entre os brasileiros, já que os programas de fidelidade das companhias aéreas não são regulamentados. Para tentar solucionar a distorção, o deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA) apresentou o Projeto de Lei 6.484/13, para regulamentar a oferta e o funcionamento das milhas aéreas. O objetivo, segundo o deputado, é amparar o consumidor nas situações que permitem ao cliente viajar pela companhia aérea ou uma empresa parceira utilizando os pontos acumulados para trocar por passagens ou para mudança de classe de voo ou, até mesmo, adquirir produtos dos parceiros. De acordo com a proposta, as pontuações passariam a ter tempo de validade, enquanto os valores de milhas seriam estabelecidos por trecho.

A venda para terceiros seria proibida, entre outras mudanças. Para Arnaldo Jordy, as empresas não podem regular essas relações da concessão de milhagens e deixar o consumidor apenas com o direito de reclamar posteriormente. “Diante da alta demanda no mercado de fidelização de clientes é necessário que uma política se fixe com parâmetros que deixem o consumidor amparado”, afirmou.

O professor do curso de direito do Ibmec- MG Flávio Quinaud Pedron diz que, na maioria das vezes, o consumidor é prejudicado por práticas abusivas das empresas, que comandam o negócio e fazem mudanças sem qualquer comunicação aos usuários. “Todas as vezes que o consumidor tenta resgatar os pontos e trocá-los por serviços ou produtos há alguma mudança”, afirma. Pedron avalia que o projeto traz ganhos ao consumidor.

A proposta define prazo mínimo de validade dos programas de três anos e determina que o consumidor seja avisado do fim da validade dos pontos com, no mínimo, seis meses de antecedência. A companhia aérea passaria a informar todo mês, por e-mail, a pontuação de milhagem do cliente. Ainda de acordo com o PL 6.484/13, a pontuação para resgate de passagem aérea deve estar visível, tanto nas agências de viagem quanto nos sites das companhias aéreas. O projeto estabelece prazo para troca da pontuação por passagem nos períodos de alta demanda de, no máximo, o dobro da dos meses de menor movimento e proíbe a cobrança de taxa de transferência de pontos de bancos para os programas de milhagem das empresas aéreas.

DEBATE NECESSÁRIO A advogada Cláudia Almeida, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), considera a iniciativa positiva, mas avalia que o projeto ainda demanda algumas discussões, como a relativa à forma de comunicação definida por e-mail ao cliente em caso do vencimento das milhas. “Um projeto que regulamenta os direitos do consumidor não pode partir do pressuposto de que todos os usuários têm acesso à internet. Eles têm que ser comunicados da forma que considerarem melhor, seja por e-mail, carta ou outro mecanismo”, afirma.

O projeto, segundo a advogada, tem pontos que contradizem o Código de Defesa do Consumidor (CDC), o que pode facilitar práticas equivocadas das empresas, como as alterações unilaterais no contrato de adesão. Outro ponto criticado por Claudia Almeida é que o projeto não aborda o prazo para troca da pontuação por passagens aéreas, que hoje, na maioria das companhias, começa em 180 dias. “O consumidor nem sempre consegue programar uma viagem com três meses de antecedência. Esse prazo exigido pelas empresas deve ser revisto para baixo”, completa.

A proposta tramita em caráter conclusivo e ainda será analisada pelas comissões de Viação e Transportes; de Defesa do Consumidor; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, o que significa que pode sofrer alterações. Caso sejam aprovadas, as regras para resgate de passagem só podem entrar em vigor um ano depois do seu anúncio.


Cliente não é ouvido

Publicação: 28/07/2014 04:00
A reportagem do Estado de Minas procurou as quatro principais companhias aéreas brasileiras – Azul, TAM, Gol e Avianca – para avaliar as diferenças entre as regras propostas pelo projeto em análise na Câmara dos Deputados e os programas das empresas. A Avianca não se manifestou. As informações encaminhadas ao EM indicam que os benefícios atuais estão aquém do teor da proposta em discussão no Legislativo e que mudanças no programas têm sido feitas sem a participação dos clientes.

A Azul informou, por meio de nota, que a troca dos pontos por passagens aéreas é possível a partir de 5 mil pontos para trechos nacionais, sem restrições de uso, ou seja, todas as passagens disponíveis no website da companhia podem ser adquiridas com a pontuação. Ainda de acordo com a nota, a validade dos pontos acumulados é de 24 meses. “Mensalmente, os clientes recebem um e-mail com informações sobre a quantidade de pontos que têm. Além disso, é possível conferir a pontuação por meio do site. O regulamento do programa está disponível no site para que todos possam se informar.”

A TAM informou que o programa de fidelidade da empresa tem validade de dois anos a contar da data de inserção no extrato e o consumidor tem acesso ao seu extrato de pontuação, assim como às datas de validade. A pontuação, segundo a companhia, pode ser verificada no informativo eletrônico mensal fornecido pela empresa, que detalha as modificações do programa. “As passagens são disponibilizadas em perfis fixos de resgate com uma pontuação e disponibilidade que podem variar de acordo com a quantidade de assentos disponíveis, período, data e horário do voo, antecedência de resgate, entre outras variáveis. Lembramos ainda que há promoções pontuais que facilitam ainda mais a emissão com menos pontos”, diz a nota.

A Gol informou que as milhas do programa Smiles têm validade de quatro anos e a cada transação de acúmulo de milhas é informado ao consumidor o prazo de validade e o saldo. Ainda de acordo com o vice-presidente financeiro e de relações com investidores do pograma de milhagem Smiles, Flávio Vargas, o valor das milhas na troca da passagem é estabelecido com base na demanda de consumo.

Sem tempo para a saudade

Castelo Rá-Tim-Bum completa 20 anos como um dos maiores sucessos da TV brasileira.Diretor Cao Hamburger fala de seu novo projeto, também voltado para o público jovem


Carolina Braga
Estado de Minas: 28/07/2014



Cao Hamburger, cineasta (Trama Comunicação/Divulgação)
Cao Hamburger, cineasta


Influência de algum feitiço da Morgana? Comunhão astral? O diretor e roteirista Cao Hamburger brinca, mas não arrisca palpites sobre as coincidências que rondam a vida dele neste momento. Também não dá espaço para saudosismo. A comemoração dos 20 anos da estreia de Castelo Rá-Tim-Bum, um dos projetos infantis mais bem-sucedidos da história da TV brasileira, logicamente traz boas memórias. Somente. “Tenho muito orgulho de ter criado e dirigido, mas não me vem sensação de saudade”, confessa.

Curiosamente, em meio à festa do seriado, com direito a exposição badalada que vem atraindo muito público ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo, a cabeça de Cao parece estar mais ocupada por certos monstros e o que eles ainda prometem fazer. “Não tinha me dado conta de que estava voltando para esse universo infantil”, diz sobre Que monstro te mordeu?, a nova série com estreia prevista para 10 de novembro, também na TV Cultura, em parceria com o Sesi-SP. Pode ser cedo para sinalizar o que o novo projeto poderá trazer de inovador, mas Cao assegura que não será mais do mesmo.

“A televisão já não é a única plataforma que as crianças acessam para se divertir. A web também não. Tem os smartphones, os vídeos on-demand. Cada dia aparecem aplicativos que nos fazem pensar em um projeto multiplataforma”, adianta. A temporada inaugural de Que monstro te mordeu? tem planejados 50 episódios de 22 minutos para a TV, além de outros 50, com três minutos de duração, elaborados exclusivamente para a internet.

“Como é uma experimentação, há dois anos, quando comecei a desenvolver o projeto, o cenário era diferente. Estamos correndo atrás para ocupar todas as telas”, conta. Isso significa dizer que os monstros estarão também em aplicativos para tablets e celulares. O desafio, segundo Cao, tem sido pensar uma narrativa que possa se expandir para os diversos suportes que compõem o mix do projeto. “É preciso ter cuidado para não se angustiar por ter tanta novidade. É desafiador e estimulante estar vivendo essa revolução”.

É inevitável traçar comparações com Castelo Rá-Tim-Bum. Na internet, muitos fãs da série têm atribuído o sucesso do passado a vários elementos: riqueza dos cenários e bonecos; personagens; roteiro e a direção; além do caráter educativo do programa. Com ressalvas, Cao Hamburger confirma que essas características também estão na receita do novo seriado.

“Não gosto desta palavra ‘educativo’. Prefiro dizer que o Castelo... e também o Monstro... são programas de entretenimento com conteúdo. Entretenimento é, antes de tudo, a coisa mais importante em qualquer produto audiovisual. A preocupação com o conteúdo pode ser um diferencial”, explica. É aí que Cao manda bem: o conteúdo acaba trazendo inquietações, do próprio criador, traduzidas de uma maneira especial para a criançada.

Foco na emoção
Se hoje vivemos a fase da multiplicação de plataformas, Cao Hamburger acredita que em breve retornaremos à tela única, mas com funções diferentes. A estrutura de Que monstro te mordeu? contempla o exercício da interatividade. “Nos episódios, a criança vai de fato participar e influenciar no programa. Ela tem essa tentativa de entender o que está acontecendo, a cada momento.”

Castelo Rá-Tim-Bum também foi lançado em meio a uma mudança tecnológica. Há 20 anos, o assunto da hora era a popularização do sistema operacional Windows, que transformou a interface do computador e a relação dos usuários com a tecnologia. Cao conta que a invenção de Bill Gates serviu de inspiração para a estrutura do programa. “O Castelo é um lugar físico que tem muitas janelas e portas. Como vivíamos aquele momento tão misterioso sobre o futuro do computador, inconscientemente criamos personagens que abarcam toda a história da humanidade.” Ou seja, havia uma preocupação, naquele momento, em falar sobre o ser humano e a cultura.

Com os monstros da vez, as inquietações dos personagens se transformaram, assim como a sociedade, já dependente não apenas do computador, mas também dos telefones, tablets e afins. Cao Hamburguer define os protagonistas como figuras singulares, interessantes e engraçadas. “Estão mais ligados em entender o lado emocional e o psiquismo humano. Talvez porque estejamos no olho do furacão da revolução digital, com muitos recursos e acesso a conteúdo, a rapidez com que as coisas são acessadas, os monstros vão buscar um pouco daquilo de que estamos nos distraindo um pouco: as questões interiores”, analisa.

Assim como no Castelo Rá-Tim-Bum, a nova série terá bonecos, atores e animação. A O2, produtora de Fernando Meirelles, da qual Hamburger é parceiro frequente em seriados e no cinema, foi contratada para fazer a finalização dos episódios. Para atender ao projeto foi criado um núcleo especializado em serviços de 3D, 2D, correção de cor e supervisão de efeitos. “Não é uma superprodução do tamanho do Castelo..., mas sim nos parâmetros de qualidade”, finaliza o diretor.


Castelo Rá-Tim-Bum em...

SÉRIE

História do aprendiz de feiticeiro Nino (Cássio Scapin), que vive com o tio, dr. Victor (Sérgio Mamberti), e a tia-avó Morgana (Rosi Campos) em um castelo no meio de São Paulo.  (TV Cultura/Divulgação)
História do aprendiz de feiticeiro Nino (Cássio Scapin), que vive com o tio, dr. Victor (Sérgio Mamberti), e a tia-avó Morgana (Rosi Campos) em um castelo no meio de São Paulo.


Criação do dramaturgo Flávio de Souza e do diretor Cao Hamburger, a série foi exibida entre maio de 1994 até 1997. Foram quatro temporadas e 90 episódios com 30 minutos de duração. É a história do aprendiz de feiticeiro Nino (Cássio Scapin – foto), que vive com o tio, dr. Victor (Sérgio Mamberti), e a tia-avó Morgana (Rosi Campos) em um castelo no meio de São Paulo.

FILME
 (Caos Produções/Divulgação  )
Também dirigido por Cao Hamburger, o filme com os personagens da série foi lançado em 1999. O roteiro foi assinado por Anna Muylaert. Na trama, o livro de magia de Morgana (Rosi Campos) é roubado por Losângela (Marieta Severo – foto), às vésperas do alinhamento dos planetas, evento que fortalece o poder dos magos. No longa, o personagem Nino é interpretado pelo jovem ator Diegho Kozievitch. Na época, a produção nacional foi a segunda mais vista no país, com público de 725 mil espectadores.

PEÇA
Criada em 1997, Castelo Rá-Tim-Bum – Onde está o Nino? passou quatro anos em excursão por todo o país e volta aos palcos para apresentar o castelo às novas gerações. Em formato de musical, a produção era fiel à série. Contava a história de Nino, o aprendiz de feiticeiro de 300 anos e morador do castelo que, ao fazer uma mágica errada, altera a dinâmica da vida na floresta.

GAME
As aventuras de Nino chegaram aos games no final da década de 1990. No jogo lançado pela TecToy, Pedro, Biba e Zequinha chegam ao castelo e vão até o porteiro decifrar a senha do dia. Lá dentro divertem-se com as invenções de dr. Vitor, cheias de desafios. Em versão disponível para Master System, atualmente o jogo é vendido no mercado retrô de games.


A exposição


Marieta Severo participou na versão que foi para os cinemas (Letícia Godoy/Divulgação  )
Marieta Severo participou na versão que foi para os cinemas


A mostra comemorativa sobre os 20 anos do seriado surpreendeu todas as melhores expectativas do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP). Diariamente, passam pela exposição cerca de 1,6 mil pessoas, a capacidade máxima do espaço. Além de visitar peças do acervo especialmente restauradas, há objetos de cena, fotografias, figurinos dos personagens, bonecos originais e trechos do programa. Dez ambientes do castelo foram recriados para oferecer uma experiência lúdica aos visitantes. Castelo Rá-Tim-Bum – a exposição (foto) vai até 12 de outubro, no MIS (Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo, (11) 2117-4777 ou www.mis-sp.org.br). 

TeVê

TV PAGA » Memória

Estado de Minas: 28/07/2014



 (Canal History/Divulgação  )


No marco do centenário do início da 1ª Guerra Mundial, o canal History estreia hoje, às 22h, a minissérie Guerras mundiais (foto).Com um total de seis horas de duração, a produção será exibida durante três noites consecutivas, até quarta-feira. Ainda esta semana, a emissora exibe os especiais O caminho dos heróis, quinta-feira, às 23h, e Continente nazi, sexta-feira, às 22h. Também hoje, às 22h, o canal Bio apresenta o especial Filmes perdidos – A guerra no ar, sobre batalhas aéreas durante a 2ª Guerra Mundial.

Veja como ilusionistas
fazem para nos enganar

No Discovery, a grande novidade é Controladores da mente, que estreia às 22h20. A série pretende surpreender os assinantes ao unir ciência e ilusionismo com a ajuda dos especialistas Alexis Conran, Liv Boeree, Lewis Le Val e Pete Wardell, que usam habilidades manuais, hipnose, pressão social e noções de conformidade e obediência para enganar os sentidos e distorcer a realidade de participantes voluntários em frente às câmeras.

GNT fashion vai levar
o assinante hoje a Paris

Lilian Pacce e Caio Braz foram a Paris e voltaram de lá com dicas curiosas para o GNT fashion. Caio conheceu Le Comptoir General, que une brechó, bar, salão de beleza e galeria de arte que virou referência de cultura marginal na capital francesa. Da cultura à gastronomia, Lilian levou Caio ao Chez Janou para provar uma sobremesa especial: um panelão de musse de chocolate. Na Semana de Moda Masculina, a editora acompanha os desfiles de Kenzo, Issey Miyake e Givenchy. No ar às 21h30, no canal GNT.

Curta! destaca a música
em seus documentários

Segunda-feira é dia de música no canal Curta!. Às 20h, a série Música libre focaliza o merengue da República Dominicana. Já às 22h30, vai ao ar o documentário Filhos de Gandhy, de Lula Buarque de Hollanda, contando a história do grupo de afoxé que desde 1949 desfila nas ruas de Salvador durante o carnaval. E às 22h45 é a vez de um curta-metragem dirigido por Antônio Carlos da Fontoura que resgata as memórias do sambista popular e pintor Naif Heitor dos Prazeres.

Muitas alternativas na
programação de filmes

No pacotão de filmes, o destaque é a Mostra Internacional de Cinema da Cultura, à 0h30, com o longa A onda, produção alemã que reproduz um exercício pedagógico para explicar, na prática, como se dá a manipulação ideológica de um conjunto de jovens que sente necessidade de uma liderança forte e a experiência acaba saindo de controle. No Universal Channel, uma sessão dupla emenda Jurassic Park: Parque dos Dinossauros (17h30) e O mundo perdido: Jurassic Park (19h45). Na faixa das 22h, o assinante tem oito boas opções: Recém-chegada, no Glitz; As mil palavras, no Studio Universal; Perfume – A história de um assassino, no MGM; Sequestro no espaço, na HBO; Terapia de risco, na HBO 2; Anjo da guarda, no Max Prime; Indomável sonhadora, no Telecine Cult; e Meu passado me condena, no Telecine Premium. E mais: Cabra marcado para morrer, às 20h40, no Arte 1; Hitman – Assassino 47, às 20h50, no FX; O que é o amor, às 21h, no Cinemax; e Chamas da vingança, às 22h30, na Fox.


CARAS & BOCAS » Juntos e felizes



Zelão (Irandhir Santos) e Juliana (Bruna Linzmeyer), finalmente, se entendem  (Renato Rocha Miranda/TV Globo)
Zelão (Irandhir Santos) e Juliana (Bruna Linzmeyer), finalmente, se entendem


Na última semana de Meu pedacinho de chão (Globo), que se despede do público na sexta-feira, o capanga Zelão (Irandhir Santos) tenta uma reaproximação com a amada professorinha Juliana (Bruna Linzmeyer). Há algum tempo afastado, esperançoso de que ela sentisse sua falta, Zelão resolve não dar ouvidos à Mãe Benta (Teuda Bara), que não vê com bons olhos o sentimento do filho pela moça da cidade, e decide procurá-la. Quando se encontram, afoito, ele vai logo roubando um beijo. Mas, ao contrário do que podia esperar, a professora adora o gesto. O que Zelão não sabia é que, em conversa com a amiga Gina (Paula Barbosa), Juliana já havia confessado seu amor por ele e também estava decidida a procurá-lo. Atraída pela sua pureza de sentimentos e a alma sensível, a jovem se declara e os dois selam o amor que os une. E, claro, nesse conto de fadas, serão felizes para sempre!

PRINCIPAIS NOTÍCIAS E A
RODADA DO BRASILEIRÃO

O Jornal da Alterosa – 1ª edição desta segunda-feira às 12h40, traz as principais notícias do final de semana e as matérias do dia. Confira logo depois do Alterosa esporte, que atualiza tudo o que rolou na rodada do Campeonato Brasileiro.

FRANCISCO CUOCO FALA
EM SE APOSENTAR DA TV

Aos 80 anos, Francisco Cuoco acenou com o desejo de se aposentar, em entrevista, na sexta-feira, ao Video show (Globo). Só na Globo, ele tem 43 anos de trabalho. Na semana passada, o ator voltou a dar o ar da graça, como já havia ocorrido em 2002, como Oduvaldo, pai de Agostinho (Pedro Cardoso), em A grande família. Na segunda-feira, Cuoco, com a estreia de Boogie oogie, viverá o aposentado rabugento Vicente. “Acho que, este ano, eu estou encerrando”, declarou. Ao longo da carreira, Francisco Cuoco interpretou personagens memoráveis, como o Cristiano, de Selva de pedra, e o Carlão, de Pecado capital, ambas tramas nas primeiras versões exibidas na Globo, respectivamente, em 1972 e 1975.

SÉRIE JÁ TEM LISTA DE
NOVOS PARTICIPANTES

Os produtores da série Game of thrones anunciaram, durante painel da atração na San Diego Comic-Con 2014, os nomes dos novos participantes que estarão na quinta temporada prevista para estrear na TV em março ou abril de 2015, como os integrantes da família de Oberyn Martell (Pedro Pascal), morto na temporada anterior. São eles: Alexander Siddigg (Doran Martell, o Príncipe de Dorne) e Tobias Sebastião (Trystane, filho mais novo de Doran). Mais: Jonathan Pryce, como o novo Alto Septão, líder da igreja em Porto Real, Nell Tiger Free, como Myrcella, filha de Cercei Lannister (Lena Headey), e DeObia Oparai, no papel de Areo Hotah, capitão da guarda do príncipe Doran. A série é exibida no Brasil no canal HBO (TV paga).

LUCIANA GIMENEZ TENTA
TIRAR REVELAÇÕES DA MÃE

A atriz Vera Gimenez é a entrevistada do Luciana by night, amanhã, na RedeTV! Mãe e filha engatam um bate-papo animado, em que Luciana Gimenez não economiza nas perguntas, tentando arrancar algumas revelações da mãe. Mas, a atriz não se deixa levar e até dispara que a filha já sabe muitas das respostas.


CONVIDADO DA BANCADA

Fábio Porchat estará no CQC desta segunda-feira, às 23h, na Band. O humorista vai compor a bancada com Marcelo Tas, Marco Luque e Dani Calabresa. Da Faixa de Gaza, o repórter Ronald Dios fala sobre o desenrolar do conflito entre israelenses e palestinos. Nas ruas, Luque encarna o taxista Silas Simplesmente e explica para o povo o significado da expressão “recesso branco”. Já Naty Graciano, novata da turma, acompanha a inauguração de um teatro em São Paulo, com direito a show de Gilberto Gil, além de entrevistas com Gaby Amarantos, Marisa Orth, Caco Barcellos e Maitê Proença.


VIVA
Antônio Fagundes como o italiano Giácomo, de Meu pedacinho de chão, no casamento e na despedida da filha, Milita (Cíntia Dicker). Perfeito!

VAIA
O casal Manu (Chandelly Braz) e Davi (Humberto Carrão), que até já funcionou, está apático e sem pegada, em Geração Brasil (Globo).

Probióticos ajudam a conter a hipertensão‏

Probióticos ajudam a conter a hipertensão Cientistas australianos constatam que ingerir estes micro-organismos por mais de nove semanas reduz pressão arterial, com a melhora nos níveis de colesterol e açúcar no sangue 

 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 28/07/2014


Os probióticos  ( micro-organismos vivos que auxiliam no funcionamento da flora intestinal) também contribuem para o bom funcionamento do coração. É o que mostra estudo feito por cientistas da Austrália. Eles analisaram a pressão arterial de pessoas que consumiram suplemento com essas bactérias benéficas e constataram melhora na pressão sanguínea, principalmente nas hipertensas. Segundo o grupo, os probióticos agem no controle do colesterol e do açúcar no organismo e assim auxiliam na regularização do fluxo sanguíneo. A descoberta, publicada na revista Hypertension, pode ajudar indivíduos saudáveis a se proteger desses males e melhorar a dieta de quem sofre com problemas no coração.

Nove estudos científicos serviram de objeto de análise. “A pequena coleção de trabalhos que analisamos sugere que o consumo regular desses micro-organismos pode ser parte de um estilo de vida saudável. Isso inclui as bactérias presentes no iogurte, no leite, em queijo fermentado e azedo e nos suplementos de probióticos”, destacou, em um comunicado, Jing Sun, autora principal da pesquisa e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Griffith.
Foram analisadas 543 pessoas, entre saudáveis, hipertensas e cardíacas. Uma parte ingeriu suplementos de probióticos e outra não (veja infográfico). Os cientistas notaram uma estabilidade na pressão de todos os que ingeriram as bactérias. Além disso, constataram melhoras mais significativas nas pessoas que os consumiram por um tempo mais longo. “Dois estudos tiveram uma curta duração de ingestão, de três a quatro semanas, o que pode ter afetado os resultados globais da análise. Porém, foi observada uma estabilidade maior em pessoas que consumiram os probióticos por nove semanas”, destacou Sun.

Os efeitos positivos foram mais significativos também nos participantes hipertensos. Segundo a cientista, essa influência benéfica sobre a pressão arterial é consequência de outros efeitos sobre a saúde humana, incluindo a melhoria do colesterol total e a redução da glicose no sangue. “Os probióticos ajudam a regular o sistema hormonal, que, por sua vez, regula a pressão sanguínea”, explica. Sun pondera, porém, que estudos adicionais ainda são necessários.

“Já sabemos que algumas bactérias que vivem no nosso corpo estão lá para o nosso bem, como na boca, onde evitam infecções. As probióticas auxiliam o intestino a entrar em equilíbrio e funcionar melhor”, ressalta  Rafael Munerato, cardiologista do Laboratório Exame, e não participante do estudo. De acordo com Munerato, esses micro-organismos presentes em iogurte e coalhada auxiliam a liberação de hormônios que regulam a quantidade de gordura, açúcar e outros nutrientes, o que auxilia na circulação de sangue, regularizando a pressão.

Alta concentração Os cientistas  australianos ressaltam que somente os produtos com unidades formadoras de colônias (UFC) acima de 10, o equivalente a 100 milhões de bactérias, trouxeram benefícios à pressão sanguínea. Isso se explica pela “força” do suplemento, com  quantidade maior do que a presente em alguns alimentos vendidos em mercados, segundo Rosália Torres, cardiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Não é qualquer tipo de produto com probióticos que traz esses benefícios. Em alguns, a quantidade não é suficiente. Deveria haver um controle maior para que a compra fosse realmente algo consciente”, destaca a especialista, informando, em seguida, que há soluções farmacêuticas com a quantidade de UFC recomendada.
Torres também explica que a melhora obtida na pressão sanguínea dos participantes do estudo australiano é pequena e pode ser comparada com os benefícios obtidos com o controle do consumo de sal. “É uma melhora suave, mas, ainda assim, pode auxiliar as pessoas que precisam controlar a dieta e as que querem evitar problemas de pressão arterial. Ao ser incorporados em reeducações alimentares adequadamente por um médico, os probióticos podem servir como um auxiliar, um bom coadjuvante na luta para conter a pressão alta”, destaca.

Gorduras do  fígado são  eliminadas

Os probióticos também podem ajudar na redução do acúmulo de gordura no fígado. Pesquisadores espanhóis realizaram experimento que comprovou esse efeito da suplementação dessas bactérias em ratos obesos. A descoberta, detalhada na revista Plos One, pode auxiliar futuramente em tratamentos mais eficazes contra a obesidade e o diabetes.

No estudo foram utilizados três tipos de micro-organismos vivos, com concentrações distintas de bactérias. Os ratos, que se tornaram obesos em decorrência de uma mutação genética induzida, receberam essas soluções durante 30 dias. Depois desse período, os ratos tiveram redução da gordura acumulada no fígado, o que, em excesso, pode causar a esteatose hepática.

“As estirpes probióticas reduziram a esteatose hepática agindo com um efeito anti-inflamatório”, explica, no artigo divulgado, Julio Plaza-Diaz, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade de Granada e um dos autores do estudo. De acordo com os cientistas, a doença hepática não seria curada com probióticos, mas os micro-organismos podem ser utilizados como terapia de apoio em utilização conjunta com outros tratamentos.

 Outro ponto positivo do trabalho foi a prova de que nenhum malefício foi diagnosticado nas cobaias após o uso de probióticos durante tratamento, o que elimina possíveis agressões ao organismo causadas pelo suplemento. “As camadas intestinais parecem normais em todos os grupos experimentais. Esses resultados sugerem que os probióticos não alteram a morfologia desses órgãos, reforçando a segurança em seu uso para terapias”, destaca Plaza-Diaz.

Prova de fogo para médicos‏

Profissionais de 27 nacionalidades fazem teste de revalidação de diploma na UFMG para ter direito a trabalhar no país. Em 2013, menos de 8% dos candidatos foram aprovados



Pedro Rocha Franco
Estado de Minas: 28/07/2014



Candidatos fizeram fila para entrar no local das provas, a maior parte deles com diplomas de universidades latino-americanas (     rodrigo clemente/em/d.a press)
Candidatos fizeram fila para entrar no local das provas, a maior parte deles com diplomas de universidades latino-americanas

Angola, Rússia, Egito, Iêmen, Croácia, Espanha, Portugal, Congo, entre outros. Em busca de um emprego no Brasil, médicos de 27 nacionalidades participaram do teste de revalidação de diploma aplicado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A prova de revalidação é porta para os que desejam exercer a atividade no país. Mas o percentual de aprovados pela instituição mineira é baixo, inferior a 8% no ano passado.
Ao todo, 867 médicos fizeram o exame neste ano, sendo 55% deles brasileiros formados em instituições estrangeiras e um quarto bolivianos. A maior parte dos diplomas é originária de universidades latinoamericanas. Bolívia, Cuba e Paraguai juntos somam 75% da origem. A gaúcha Riana Vargas formou-se em Cuba há seis anos. Atualmente, trabalha no programa Mais Médicos no interior do Rio Grande do Sul. Como o tempo máximo de permanência no programa é de três anos, ela tem mais dois anos para conseguir revalidar o diploma. “A prova estava acessível, mais prática do que teórica”, afirma.

Os bolivianos são quase unânimes em afirmar que a prova de saúde pública foi a mais difícil entre as cinco temáticas aplicadas. Segundo eles, as diferenças entre o funcionamento do setor no Brasil e na Bolívia é essencial para pontuar na prova. “Tem muita diferença em relação à nossa realidade”, afirma o boliviano Jose Luis Valverde, que tenta revalidar o diploma em busca de melhores oportunidades econômicas. Ele também vai tentar no Chile. Apesar da dificuldade, a aprovação no programa depende necessariamente do acerto de pelo menos 60% em cada prova (clínica médica, cirurgia, saúde pública, pediatria e ginecologia obstetrícia), diferente do que é cobrado no Revalida, aplicado pelo governo federal, que exige 60% de média global.

Nas três últimas edições do programa, o percentual de aprovados caiu. Em 2011, um quinto dos candidatos conseguia revalidar o diploma. Em 2012, caiu para 17,4%. E no ano passado o índice caiu bastante para 7,7%. O exame de 2013 foi o primeiro desde o lançamento do programa Mais Médicos, o que fez mais que triplicar o número de candidatos do teste de revalidação da UFMG.

perfil Sobre a dificuldade da prova, o presidente da Comissão Permanente de Diploma Médico Obtido no Estrangeiro (CPRDM) da UFMG, André Luiz dos Santos Cabral, afirma que 80 alunos do 12º período da instituição de ensino também farão o teste para que seja possível medir o que é cobrado. “A nossa prova é balizada com o perfil do estudante da medicina da UFMG”, afirma.
Casado com uma brasileira, o alemão Michael Thomae, formado em medicina há três anos e especialista em trauma ortopédico, tenta revalidar seu diploma para morar com a mulher e a filha no Rio de Janeiro. Mas considerou difícil o teste. “Não acho que um estudante consegue ser aprovado”, diz ele.

MATEMÁTICA » Ansiedade prejudica aprendizado‏

MATEMáTICA » Ansiedade prejudica aprendizado 

 
Junia Oliveira
Estado de Minas: 28/07/2014


Habilidades ligadas à emoção estão diretamente relacionadas ao desempenho escolar. E nessa equação a matemática é o principal determinante. Estudo feito este ano por uma instituição internacional mostra como a ansiedade interfere no aprendizado da disciplina, assim como a percepção do estudante sobre seu potencial e a motivação para o sucesso na vida acadêmica e no mercado de trabalho. O levantamento envolveu 3 mil jovens do 5º ano do ensino fundamental e das três séries do nível médio de escolas particulares. No fim deste mês, começa uma nova etapa incluindo alunos da rede pública. Minas Gerais é um dos estados participantes. 

No estudo promovido pela Comunidade Internacional de Cooperação na Educação – Mind Group, os alunos foram submetidos a questionários de habilidades socioemocionais, resolução de problemas em conjunto e matemática, com raciocínio lógico e quantitativo. O cruzamento de dados revelou que quanto maiores os níveis de ansiedade em relação a avaliações e o uso de estratégias para resolver problemas, piores foram os desempenhos em matemática.
A ansiedade também indicou uma relação negativa com a prioridade de resolução de problemas. Por sua vez, estudantes que demonstraram alta prioridade de resolução conjunta de problemas tiveram, além de bom desempenho em matemática, maiores níveis de engajamento em uma tarefa, autorregulação (consciência para administrar tempo e recursos pessoais) e execução (atuação de maneira organizada, sistemática e eficiente). 

De acordo com a mestre em psicologia do desenvolvimento e uma das autoras do estudo, Sandra Regina Resende Garcia, havia evidências de que promover o desenvolvimento do aluno nas habilidades sociomocionais tem impacto na sua evolução na parte cognitiva (português e matemática). A novidade da pesquisa é a identificação da maneira como essas habilidades se relacionam. “É importante que isso seja parte do desenvolvimento da criança. Não é só pesquisar diagnósticos, mas melhorar aspectos importantes para o desempenho escolar.”

Entre os alunos do 5º ano, os que concordam com a afirmação “O mais gratificante para mim é entender o conteúdo o melhor possível” têm desempenho em matemática 20% maior do que aqueles que discordam dela. Entre quem acredita não ir bem durante as provas, o desempenho é 10% menor na disciplina. Por outro lado, os alunos que melhor desenvolveram suas estratégias de estudo (compreender a importância dos conteúdos estudados e o objetivo da tarefa) tiveram resultado 32% maior na resolução conjunta de problemas.
Já para os estudantes do ensino médio, acreditar no próprio potencial é sinônimo de motivação. Entre os que concordaram com a frase “Se eu estudar de forma adequada serei capaz de aprender os conteúdos ensinados” o desempenho foi 25% maior do que aqueles que discordaram dela. Quem se declarou ansioso, presa do nervosismo responsável pelo famoso “branco”, tem resultado 13% abaixo.

CONTROLE De acordo com a consultora da Mind Group, há evidências de que o desenvolvimento dessas habilidades socioemocionais – controle da ansiedade e a importância àquilo que se faz – passa pela emoção. Além disso, o controle delas vai implicar o sucesso do aluno, seja no desempenho escolar ou na vida adulta no ambiente de trabalho. “Se você vai ansioso para uma tarefa, não consegue extrair e não acerta a resolução dos problemas de matemática, não consegue se concentrar e fazer leitura de dados interessantes.”

A dificuldade dos brasileiros e dos mineiros foi apontada também pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) avaliou a capacidade de 85 mil estudantes do mundo inteiro, na faixa etária de 15 anos, para resolver problemas de matemática. E pela primeira vez testou as habilidades não cognitivas, ligadas a características como autonomia, raciocínio crítico, liderança, facilidade de relacionamento e tolerância. O Brasil ficou na 38ª posição no ranking, que classificou 44 países. O Pisa revelou também que só 2% dos alunos brasileiros conseguiram resolver problemas de matemática mais complexos. Entre os estrangeiros, esse índice estava na casa dos 11%.

História de amor e dor

Localizada pelo Estado de Minas num asilo em Buenos Aires, Hilda Maia se recorda dos momentos de glória e decadência vividos ao lado do marido, o jogador Paulo Valentim



Ivan Drummond
Enviado especial
Estado de Minas: 28/07/2014



Hilda e Paulo Valentim nos bons tempos do sucesso do jogador   (Fotos e reprodução Ivan Drummond/EM/D.A Press  )
Hilda e Paulo Valentim nos bons tempos do sucesso do jogador


Buenos Aires – Na Belo Horizonte dos anos 1950 havia poucas opções de diversão noturna no universo masculino. Era dançar, frequentar bar ou a zona boêmia. Esta última era uma das prediletas de jogadores de futebol. Foi assim que os caminhos de Hilda Furacão e de Paulo Valentim se cruzaram. Ele jogava no Atlético, na companhia de Kafunga, Mão de Onça, Murilo e Haroldo. Depois dos treinos ou dos jogos, Paulinho, como era chamado no Galo o então ponta-direita, tomava o rumo dos bares da zona boêmia.

Um dia, foi ao quarto de Hilda Furacão. Encantou-se e passou a procurá-la sempre. Não demonstrava ciúme dela, tanto que passou a frequentar mesas de baralho para esperar até que ela estivesse disponível para ele. Jogava e bebia, esperando o tempo correr, até encontrar a mulher que o deixou de cabeça virada.

Paulo Valentim passou a ser um problema para a diretoria atleticana. As bebedeiras sempre acabavam em brigas. Além de bater naqueles que via como opositores, causava quebradeiras nos botecos. Isso acelerou a venda do jogador para o Botafogo, em 1957. Lá se foi o craque defender um time que tinha como treinador João Saldanha e talentos como Didi, Garrincha, Amarildo, Nilton Santos e Zagallo.

Ele foi para o Rio, mas a cabeça continuou em Belo Horizonte, na zona boêmia, em Hilda Furacão. E não foram poucas as vezes em que escapava de um lugar para o outro. Acabava um jogo, Paulo pegava um ônibus para se encontrar com a amada. Não raramente, atrasava o retorno ao Botafogo. Vária vezes um dirigente do time carioca viajava a Belo Horizonte para buscá-lo e o levar de volta, quase à força.

Ele não aguentava ficar longe de Hilda. Naquele mesmo ano decidiu se casar e a levou para a cidade natal dele, Barra do Piraí (RJ). Casaram-se e, entre os presentes, João Saldanha, um dos padrinhos. Em determinado momento da cerimônia, o padre, sabedor do passado de Hilda, resolveu passar uma descompostura na mulher. Fez um sermão, aconselhando-a a largar a chamada “vida fácil”.

Paulo Valentim perdeu a paciência. Avançou sobre o padre. Não admitiu a compostura e não gostava que se tocasse na vida anterior de Hilda. Foi contido por ninguém menos que seu amigo e padrinho João Saldanha. A cerimônia terminou e todos foram para a recepção. Logo depois, o casal seguiu para o Rio.

Seleção


Como jogador do Botafogo, Paulo Valentim chegou à Seleção Brasileira. Em um jogo contra o Uruguai, na Argentina, pelo Sul-Americano de 1959, uma briga generalizada, ainda no primeiro tempo. Um moreno alto se destacava na luta. Segundo a lenda, ele sozinho, bateu em todo o time uruguaio.

O Brasil venceu por 3 a 1, de virada. Mas a briga é que se tornou o assunto dos jornais, não o resultado. Os argentinos exaltavam Paulo Valentim. Isso despertou a atenção do Boca Juniors, que o comprou na época por uma fortuna. E com a camisa portenha virou herói. Era um dos principais artilheiros e levou o time à conquista de dois títulos nacionais, em 1962 e 1964.

Estrela em bronze em homenagem a Valentim, no Estádio La Bombonera, em Buenos Aires
Estrela em bronze em homenagem a Valentim, no Estádio La Bombonera, em Buenos Aires


Craque vencido pelo vício

A vida de Hilda e Paulo Valentim, em Buenos Aires, era cercada de luxo. Moravam em um apartamento alugado pelo Boca Juniors. Como ela mesmo diz: “Nossa casa tinha paredes de veludo”. O casal tinha ainda um carro (um Impala), presente do clube. Frequentavam os melhores restaurantes. Chegou o primeiro filho, Ulisses, que foi alfabetizado em espanhol. A fama do jogador aumentava com o decorrer dos jogos. Ele tinha o respeito dos companheiros, que faziam questão de sair com o casal.

O tempo passou e Valentim voltou a jogar e a beber. O futebol decaiu. A torcida reclamava. O Boca não o queria mais. Desiludido, o jogador conseguiu se transferir para o São Paulo. Viajou sem Hilda. Ela ficou em Buenos Aires cuidando da casa e do filho, Ulisses. A passagem pelo tricolor paulista foi curta. Menos de um ano.

Mas Paulo tinha fama, em especial na América Latina. Incentivado por Hilda, aceitou uma proposta do Atlante, da Cidade do México. Foram juntos. Renasceu em Hilda a esperança da volta dos velhos tempos do carro luxuoso, da casa boa, da comida farta. Mas Valentim estava velho. Em dois anos, não conseguiu jogar como antes. Começaram as reclamações dos torcedores. O futebol parecia tê-lo abandonado. Valentim parou de jogar pelo Atlante. Depois de passagem sem brilho por Acapulco, com Valentim tomado pelo vício da bebida, retornaram a Buenos Aires.

De novo, moradia paga pelo Boca, só que pequena, e um emprego como técnico das divisões de base. A vida não era mais a mesma. Hilda dava muita atenção ao filho, Ulisses. Valentim não conseguia resultados em campo. Tentava fazer do filho um jogador. Ele estava no time infantil. Mas não tinha o futebol que se esperava de um Valentim.

Fora de La Bombonera, a vida não era boa. Os vícios do jogo e da bebida continuavam. Valentim perdeu o emprego. Ulisses já trabalhava. Passou a ajudar a família, que morava em casas emprestadas, geralmente por pessoas ligadas ao Boca, que nunca abandonaram o ídolo. Em 9 de julho de 1984, Valentim morreu em consequência da bebida. Foi também o Boca que bancou o sepultamento no Cemitério de Chacaritas. A torcida compareceu em peso a um dos maiores funerais da história de Buenos Aires, dizem.

Hilda passou a depender do filho, Ulissses, que declarava amor eterno à mãe. Há dois anos ele descobriu que estava com diabetes. Sentiu-se arrasado e tentou o suicídio tomando fungicidas. Escreveu uma carta à companheira, Teresa Ignes Rodríguez, a quem pediu desculpas pelas traições, e outra à mãe, a quem reiterava a paixão, o amor. Mas ele sobreviveu.

No ano passado, no entanto, Ulisses morreu em consequência da doença. Novamente, o Boca Juniors ajudou Hilda. O nome de Valentim estava e ainda está vivo. Afinal de contas, foi um ídolo.

Atualmente, Hilda Maia Valentim vive amparada pela municipalidade de Buenos Aires, interna no Hogar Dr. Guillermo Rowson, onde foi localizada pelo Estado de Minas. É a sombra do mito que atravessou décadas no imaginário do leitor e do telespectador brasileiro, que sonhou com a Hilda Furacão criada por Roberto Drummond.

No asilo onde vive, Hilda alterna estados de lucidez e esquecimento
No asilo onde vive, Hilda alterna estados de lucidez e esquecimento

INFÂNCIA » No limite da dor

Ao custo de R$ 30 mil cada, 100 salas de depoimento especial para crianças vítimas de violência sexual foram criadas no país


Renata Mariz
Estado de Minas: 28/07/2014



Salas como esta, instalada no Distrito Federal, são ambientadas para facilitar o contato com as vítimas (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 4/2/10)
Salas como esta, instalada no Distrito Federal, são ambientadas para facilitar o contato com as vítimas

Brasília – O desabafo de uma garota de 8 anos, na Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente em Goiânia, é revelador. "Por favor, me deixa. Não me pergunta mais nada sobre isso. Eu queria esquecer." Entremeadas por raiva, medo, dor e dúvida, as palavras denotam o calvário de milhares de meninos e meninas levados à polícia e à Justiça para denunciar abusos sexuais sofridos. Repetir várias vezes o próprio drama, além de transitar por ambientes pouco amigáveis, como salas de audiência, é uma rotina para a infância no Brasil. Iniciativas como o depoimento especial, implantado em algumas comarcas de 21 unidades da Federação, tenta mudar essa realidade. Nem todos os especialistas, porém, apoiam a prática.

Ao custo unitário médio de R$ 30 mil para implantação, salas de depoimento especial de crianças e adolescentes já somam 100 em varas especializadas e criminais do país, segundo estimativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Nesses locais ambientados para facilitar o contato com as vítimas, psicólogos, assistentes sociais ou pedagogos conduzem a entrevista, usando técnicas específicas, além de outros instrumentos, como desenhos e jogos. O juiz e os demais envolvidos no processo – como promotor e defesa do acusado – acompanham o depoimento em uma sala contígua por meio do circuito interno de televisão.

“No Brasil, a criança chega a ser ouvida sete vezes em média, desde a primeira revelação, no conselho tutelar ou na escola, até o desfecho do caso na Justiça. Com o depoimento especial, espera-se que aquela gravação sirva como depoimento durante todo o processo", explica Itamar Gonçalvez, gerente de projetos da Childhood no Brasil, entidade internacional de apoio à infância. Além disso, ele assinala que o mecanismo diminui o estresse inerente à experiência.

Primeiro juiz no Brasil a trabalhar com o depoimento especial em Porto Alegre, o desembargador José Antônio Daltoé Cezar afirma que a prática evita revitimizar quem passou pela violência. Ele reconhece, entretanto, que até chegar ao Judiciário, onde estão instaladas as salas de escuta especial, a vítima já teve de repetir diversas vezes a sua história. Por isso, defende uma mudança na legislação para que todas as denúncias, assim que surgirem, sejam encaminhadas ao Ministério Público, que faria a produção de provas com o depoimento especial em juízo uma única vez.

Procuradora do Ministério Público do Rio Grande do Sul com experiência na área da criança, Maria Regina Fay de Azambuja contesta a metodologia. “Por que não buscar esse relato com base em sessões com psicólogos ou psiquiatras que façam um laudo?" Marta Beatriz Tedesco Zanchi, defensora pública gaúcha, também faz críticas. "A criança não sofrerá menos numa sala cheia de brinquedos. Além disso, é papel do juiz, não do psicólogo, inquirir a vítima para colher provas, até para garantir o devido processo legal”, afirma. Ela defende que muitos magistrados e promotores sabem lidar com a situação. 

Comer pode ser assustador

Usando imagens de impacto e técnica de memorização, pesquisadoras da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto conseguiram, em apenas 60 dias, mudar alimentação das mulheres que participaram do estudo



Carolina Braga
Estado de Minas: 28/07/2014



Comer um pouco de doce por dia, tipo um brigadeiro e três biscoitos doces recheados, poderá significar 20 quilos a mais ao fim de um ano (Janey Costa)
Comer um pouco de doce por dia, tipo um brigadeiro e três biscoitos doces recheados, poderá significar 20 quilos a mais ao fim de um ano

A máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” pode até ser muito batida. Mas experimente transformar em imagens tudo aquilo que você come no dia a dia, para mensurar a quantidade de açúcar que ingere sem saber. Pode se assustar. Foi justamente com o objetivo de surpreender a população e alertá-la, sem muito blá-blá-blá, para a importância da atenção no que se come que a nutricionista de Ribeirão Preto Flávia Gonçalves Micali elaborou um instrumento capaz até de qualificar o apetite, usando imagens de impacto e técnica de memorização.

Foram 60 dias de experimento feito com um grupo de mulheres. O trabalho foi desenvolvido como dissertação de mestrado do curso de nutrição da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. “A ideia era tentar construir um instrumento para orientação alimentar e nutricional. Nosso critério foi produzir imagens que trouxessem informações sobre aspectos positivos e negativos, mas que também impactassem e facilitassem a memorização para quando a pessoa fosse comer tivesse a lembrança”, explica Flávia Micali.

Ao longo dos quatro anos de pesquisa, 12 meses foram exclusivos para a produção e validação das fotos que poderiam causar o efeito esperado. Composições com montanhas de banha ou sacos e mais sacos de açúcar empilhados realmente fazem pensar. Flávia trabalhou com quatro temas: “Vida doce, cuidando do açúcar”; “Comer bem fazendo as melhores escolhas”; “Comida gostosa com pouca gordura”, e “Cuido de mim com comida saudável”. Para cada um deles foram produzidas fotos específicas.

Como o objetivo do primeiro tema era mostrar a quantidade de açúcar de alguns doces e bebidas, principalmente industrializados, a ideia foi colocar lado a lado, por exemplo, duas latinhas de refrigerante e uma montanha de banha de porco. A mensagem é a seguinte: se a ingestão diária daquela quantidade exceder a necessidade energética do sujeito, ao fim de um ano ele poderá ganhar 11 quilos somente por causa da bebida. O mesmo foi feito com o suco industrializado. Segundo Flávia Micali, se uma pessoa tomar duas caixinhas de 250ml todos os dias, ao longo de um ano isso equivale ao consumo de 22 quilos de açúcar.

EMAGRECIMENTO “Existem estudos que demonstram o quanto imagens impactantes se convertem em fator de inibição. Tendo em vista o contexto da alimentação da população brasileira, decidimos fazer esse guia alimentar para tentar estimular um maior consumo de produtos in natura”, diz a autora. É por isso que no álbum de fotografias planejadas para impactar também há comparações sobre refeições completas e alimentos de consumo usual, como chips, por exemplo, além de orientações sobre a quantidade de óleo que deve ser utilizada para a preparação das refeições.

Para testar a técnica, Flávia Micali decidiu trabalhar com um grupo reduzido de voluntárias. Inicialmente, o instrumento foi validado por 15 mulheres, sendo seis eutróficas (com Índice de Massa Corporal considerado normal), quatro obesas e cinco nutricionistas. Elas participaram de grupos focais para testar a eficácia das imagens. Em sequência, o instrumento foi usado em oficinas de orientação nutricional, das quais participaram 33 mulheres, sendo 18 eutróficas e 15 obesas.

Depois de 30 e 60 dias do primeiro encontro com as participantes, elas foram submetidas a questionários para avaliar a memorização das imagens, assim como a efetiva mudança de peso ou de comportamento. De acordo com os resultados obtidos, as mulheres obesas memorizaram mais as mensagens. “Elas relataram que mudaram a alimentação. Não houve uma mudança significativa no peso, mas observamos que, depois de 30 dias, 60% das obseas e 44% das eutróficas perderam peso. Na segunda avaliação, 44,4% das obesas mantiveram a perda de peso e 25% das eutróficas”, detalha a pesquisadora.

Para a orientadora Rosa Wanda Diez Garcia, a pesquisa representa ganhos científicos e também para políticas públicas do setor. No caso da academia, como a professora ressalta, é inovador por avaliar o tempo de duração da memória da imagem. “É até comum vermos esse tipo de imagem em programas de TV, mas nunca havia sido avaliada científicamente a eficácia na orientação alimentar”, comenta. Outro aspecto importante é o fato de a investigação ter se erguido a partir dos problemas da população brasileira e ser de fácil aplicação.

Também sob orientação de Rosa Garcia, o instrumento imagético agora é detalhado na tese de doutorado de Flávia. O novo objetivo é investigar a fundo o quanto as mudanças na alimentação influem diretamente na perda de peso e qual o poder da memória nesse processo. “Queremos trazer um benefício para a sociedade. Percebemos que tem mesmo o potencial de orientação alimentar e nutricional”, conclui Flávia.

FAÇA AS CONTAS


 ( Flávia Micali/Divulgação)

Caso o consumo ultrapasse a necessidade diária de energia…

» Duas caixinhas de suco (250 ml) todos os dias, ao longo de um ano, equivalem ao consumo de 22 quilos de açúcar ao fim de um ano.
» A ingestão diária de duas latas de refrigerante pode representar um ganho de 11 quilos ao fim de um ano.
» Comer um pouco de doce por dia, tipo um brigadeiro e três biscoitos doces recheados ou um pedaço de torta doce e um chocolate, poderá significar 20 quilos a mais ao fim de um ano.
» Um pacote grande (170g) de salgadinho tipo chips equivale, em calorias, a um prato de comida saudável acompanhado de um copo de suco natural de laranja e uma taça de salada de frutas.
» Um pacote de pipoca industrializada (microondas) equivale, em calorias, ao consumo de dois pães francês e meio.
» Um pedaço pequeno de bolo de chocolate com recheio e cobertura equivale, em calorias, a cinco porções de frutas.
» Uma coxinha (tamanho grande) equivale, em calorias, a um sanduíche natural de pão integral (que contém queijo branco, peito de peru, cenoura, beterraba, alface e rúcula) acompanhado de um copo de suco natural de laranja.
» O pão de queijo tem 10 vezes mais gordura (10g), e a coxinha tem 13 vezes mais gordura (13g) que o pão francês.
» Um prato de comida com feijão, verduras, legumes e uma carne grelhada tem a mesma quantidade de gordura que uma fatia grande de pizza de muçarela, ou seja, 12g de gordura.
» O ideal é que se utilize pouco óleo para preparar os alimentos, pois, ao refogar uma cebola em uma panela contendo grande quantidade de óleo ou refogar a mesma quantidade de cebola em uma panela contendo pouco óleo, será possível perceber que ambas as cebolas ficam refogadas e têm a mesma aparência. Porém, a cebola que foi refogada em muito óleo vai agregar muito mais gordura aos alimentos que forem preparados ali.

» Uma taça de sundae (sorvete) tem 26g de gordura, ou seja, tem mais gordura que um prato de comida saudável. 

Hepatite C: uma bomba relógio‏

Hepatite C: uma bomba relógio

Carlos Norberto Varaldo - Economista, presidente do Grupo Otimismo de Apoio a Portadores de Hepatite C, autor do livro Convivendo com a hepatite C, experiências e informações de um portador do vírus
Estado de MInas: 28/07/2014

Descoberta em 1989, a hepatite C mata, hoje, em alguns países, mais do que a Aids, segundo pesquisa publicada no periódico médico Annals of Internal Medicine, em 2012.  De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que sejam afetadas 170 milhões de pessoas no mundo. Segundo a OMS, no Brasil a doença infecta cinco vezes mais brasileiros do que o vírus HIV e a doença pode atingir 3 milhões de pessoas no país, sendo a maioria ainda desconhecida.

No Brasil, ainda temos uma baixa taxa de diagnóstico em função do preconceito reinante em nossa sociedade em relação à doença, que ficou popularmente conhecida por ser transmitida principalmente pelo contágio via seringas contaminadas. Uma realidade distante, mas que até hoje estigmatiza milhares de pessoas, especialmente a geração infectada entre as décadas de 70 e 80, época em que o controle de materiais usados nos consultórios odontológicos, estúdios de tatuagem e piercing, ou mesmo em manicures, era muito precário se comparado aos padrões atuais.

Além disso, até 1992 não havia testes para verificar a existência do vírus HCV em sangue de doadores. Por esse motivo, qualquer pessoa que recebeu transfusão de hemoderivados antes de 1993 deve ser testada para avaliar se foi contaminada, assim como quem ficou exposto a uma situação de risco no período. É preciso vencer a barreira do preconceito e investir no alerta à sociedade sobre a gravidade dessa epidemia.

A hepatite C é uma doença silenciosa que pode demorar até 20 anos para se manifestar. Se não diagnosticada precocemente, ela pode “aparecer” em estágio avançado, evoluindo para uma fibrose, cirrose ou até câncer no fígado. Neste ano, em que a doença completa 25 anos desde sua descoberta, a OMS lançou o primeiro guia para manuseio da hepatite C . O documento tem como objetivo ajudar todos os países a melhorar o tratamento e os cuidados com a hepatite e, dessa forma, reduzir as mortes por câncer de fígado e cirrose.

Portanto há muito que trabalhar para erradicar essa epidemia, ainda mais se considerarmos o potencial de pacientes não diagnosticados. Embora atualmente os tratamentos disponíveis elevem a hepatite C ao status de uma das poucas doenças crônicas que podem ser curadas, o Brasil ainda não disponibiliza os tratamentos mais modernos, resultado do excesso de burocracia no registro de novos medicamentos.

No Brasil, o excessivo rigor e a demora para aprovação dessas terapias estão diretamente relacionados ao custo dos novos medicamentos, considerados caros. Mas, afinal, quanto vale a cura da hepatite C? O custo do tratamento da doença não deve ser medido pelo preço do medicamento, mas sim pelo gasto elevado com o tratamento de um paciente que fica mais tempo nos hospitais e consultórios médicos para tratar comorbidades decorrentes da doença. Em geral, quando se opta por soluções medicamentosas priorizando o preço em detrimento da eficiência, o valor acaba saindo mais alto para a sociedade, pois, no médio prazo, o gasto com pacientes que sofrem com os efeitos colaterais agressivos de muitas dessas drogas, que já poderiam ser substituídas, ultrapassa o valor do investimento de substâncias mais modernas.

É importante lembrar que o tratamento da hepatite C é finito, curando a grande maioria dos casos. Por isso a importância de, além de investir na modernização e diversificação de drogas que combatam a doença, viabilizar o diagnóstico precoce.

O futuro do tratamento da hepatite C no mundo caminha para uma forma muito simples, via medicamento oral, mas essa realidade ainda vai demorar mais alguns anos para chegar ao Brasil. Isso não significa ficar parado. Temos a obrigação de investir no diagnóstico e tratamento precoce da enfermidade, ao mesmo tempo em que se desburocratiza o registro para diversificação de medicamentos no país. Neste 28 de julho, data em que é comemorado o Dia Mundial do Combate às Hepatites Virais, instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), temos a obrigação de debater o tema e nos conscientizarmos do potencial que temos para sermos, no combate à hepatite C, o modelo que fomos para o mundo na luta contra a AIDS.