Por Claudia Safatle e Raymundo Costa
Confirmada a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, o próximo passo da campanha será conversar com os empresários que estão lotando as plateias dos candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), para mostrar a eles o que vai significar a saída do PT do poder.
Emissários serão enviados para iniciar essas conversas e aos empresários será dito que se a oposição for vitoriosa nas eleições de outubro será o fim do crédito subsidiado do BNDES, o fim das desonerações da folha de salários, haverá um realinhamento instantâneo dos preços da gasolina e da energia e o programa Minha Casa Minha Vida, que alimenta a indústria da construção civil, também vai acabar.
"Ou seja, eles (Campos ou Aécio) vão dar um cavalo de pau na economia que será recessivo", disse um assessor de Dilma.
Quando usou a rede nacional de rádio e televisão para um pronunciamento em comemoração ao 1º de maio, a presidente Dilma Rousseff falou como candidata. Vestiu tailleur azul, dispensando o vermelho do Partido dos Trabalhadores; definiu de que lado está - "dos mais pobres e da classe média" -; e entrou na disputa com a segurança de que terá o apoio do PT.
O movimento "Volta Lula" já havia sido equacionado em uma conversa dela com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há exatamente um mês, no dia 4 de abril, em São Paulo. Ali, o martelo foi batido: a candidata é Dilma Rousseff. Espera-se, assim, que o crescente apelo para o retorno do ex-presidente esteja estancado.
No Palácio do Planalto o diagnóstico é de que Dilma perdeu um pedaço importante da base de eleitores do governo do PT, que desde Lula tem girado em torno de 42% dos votos, por causa da inflação. Foram os aumentos de preços, sobretudo dos alimentos, que a fez cair para a casa dos 36% a 37% das intenções de voto.
O pronunciamento do 1ºde maio foi destinado a reconquistar esses eleitores. A ideia que Dilma pretendeu deixar clara no discurso foi de que "eu tenho lado e o meu lado é o dos trabalhadores", explicou uma fonte oficial.
Com esse mesmo objetivo, ela anunciou as medidas de correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda, em 2015 (índice abaixo da inflação de mais de 6%); e o reajuste do Bolsa Família.
Assessores da presidente recomendam não buscar no texto do pronunciamento sinalizações para um eventual segundo mandato. Mesmo o compromisso com a valorização do salário mínimo, assumido no discurso, não deve ser lido necessariamente como a manutenção da atual fórmula de reajuste cuja vigência se encerra em dezembro de 2015.
A partir da certeza de que Dilma é a candidata do PT, seu governo começou a mudar de comportamento, disse uma fonte oficial. Por exemplo, reagiu de imediato à tentativa da Cemig, distribuidora de energia de Minas Gerais, Estado governado pelo PSDB de Aécio Neves, de responsabilizar o governo federal pelo aumento de 14,3% da tarifa de energia. Coube à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) responder que, ao contrário, a Cemig queria um reajuste bem mais salgado, de 29,74%, e que à agência reguladora cabe apenas estabelecer um teto para os aumentos de preços.
De agora até as eleições de outubro, a presidente estará voltada para a campanha. Não será encontrado nos seus discursos o que o PT tem chamado de "sincericídio" dos candidatos de oposição, ou seja, a antecipação de medidas duras que terão que ser tomadas na área econômica para recolocar o país na trilha do crescimento.
Não haverá, assim, clareza do que será um eventual segundo mandato de Dilma, embora se saiba que ela também terá que promover ajustes se quiser colher melhores resultados do que os do primeiro mandato. Nesse período o país conviveu com inflação alta e crescimento baixo como produto das escolhas do governo.
Campanha, como lembrou uma fonte próxima à presidente, é para ganhar a eleição. Governar é outra coisa.
"Imprensa é partido de oposição"
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O texto guia de tática eleitoral elaborado pelo presidente
nacional do PT, Rui Falcão, afirma que a disputa eleitoral de 2014 será
marcada "por um pesado ataque" ao projeto político do partido. Elaborado
em formato brochura e nominado "Caderno de Teses", o documento foi
distribuído durante o 14º Encontro Nacional do PT, que aconteceu em São
Paulo na sexta-feira e no sábado, e faz crítica à imprensa, a quem se
refere como "mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de
oposição", afirma o texto.
O documento também chama a atenção dos filiados sobre a consequência das manifestações populares de junho de 2013 e assinala haver "um sentimento de urgência por mudanças mais profundas e rápidas". A reeleição da presidente Dilma Rousseff é apontada como prioritária, "a ser conquistada com amplo apoio nos movimentos sociais", diz o texto. O primeiro desafio político elencado é a articulação da defesa das "grandes conquistas" obtidas durante os governos Lula e Dilma. A necessidade de "responder às novas demandas da sociedade" também é destacada. A continuidade do projeto de poder petista é vinculada à "capacidade de fortalecer um bloco de esquerda e progressista, amparado nos movimentos sociais", assinala um dos tópicos. O último parágrafo exorta à defesa do partido: " Por fim, relembramos à militância a necessidade de preservar e defender o PT ", afirma. "Os setores conservadores e o conjunto da classe dominante encara o PT como um pesadelo", diz o documento. E conclui: "Porque está destruindo o sonho acalentado por eles durante séculos: o sonho de uma 'democracia' sem povo", encerra o texto de autoria de Falcão. |