sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Jo Nesbo e a fixação dos escandinavos por romances policiais
JOHN CRACE
DO "GUARDIAN"
Não é divertido ser Harry Hole --"a pronúncia norueguesa é Hula, mas se você o chamar Hole, não tem problema"--, o policial de espírito independente que protagoniza nove dos romances policiais de Jo Nesbo, do gênero "Scanda-noir" (noir escandinavo). Nos últimos 15 anos Hole já foi baleado, esfaqueado e espancado inúmeras vezes; ele ostenta as cicatrizes que o comprovam, entre elas um dedo de titânio e um corte que vai de sua boca à sua orelha.
Torsten Silz/France Presse | ||
Jo Nesbo é um dos escritores noruegueses mais bem-sucedidos em vendas de livro |
Ele é alcoólatra e tem recaídas a toda hora. Seus dois melhores amigos na polícia --praticamente seus únicos amigos-- foram mortos, e ele não pode casar-se com Rakel, sua sofrida namorada de longa data, senão ela quase certamente teria o mesmo fim. E, no final de "Phantom" (fantasma), sua aventura mais recente, Hole foi abandonado numa vala de esgoto, dado por morto, com dois ferimentos de bala e ratos roendo seu corpo.
Existe algo de divertido em ser o criador de Harry Hole? Visto pessoalmente, Nesbo é descontraído, conversador e sorri muito, porém... Buscar identificar semelhanças entre autores e seus personagens pode ser um beco sem saída, e normalmente eu não me daria ao trabalho, só que Nesbo frequentemente chama a atenção a elas.
"Quando escrevi meu primeiro livro ('The Bat', que acaba de ser lançado em inglês), pensei que estava começando do zero. Me recordo de ter pensado se deveria fazer de Harry um daqueles protagonistas que é um pouco diferente de alguma maneira --gay, padre, deficiente físico ou qualquer outra coisa-- ou se deveria ficar com o estereótipo do policial independente, durão e cheio de problemas. E, depois de refletir, escolhi a segunda opção."
"Mas, quando cheguei ao terceiro livro sobre Harry Hole, percebi que havia áreas autobiográficas importantes no personagem. Não era algo pensado --simplesmente acontecia, sem que eu tivesse consciência disso. E ainda acontece. Escrevo alguma coisa que penso ter inventado, e é apenas quando, mais tarde, um amigo chama a atenção para o fato que eu percebo que escrevi sobre mim mesmo outra vez."
Tendo já passado tanto tempo juntos, seria de se imaginar que Harry e Nesbo já teriam ficado mais íntimos ao longo dos anos. Se sim, o que isso revela sobre a vida de Nesbo, agora que a vida de Harry ficou mais infeliz? Torturar seu alter ego é parte do processo que mantém sua sanidade?
Nem todas as sobreposições são não intencionais. Nesbo é torcedor do time de futebol londrino Tottenham Hotspur desde os dez anos. "Eu pensei em torcer pelo Arsenal, porque gostava das camisetas do time", ele conta. "Mas então meu irmão de 15 anos me falou com firmeza que eu não podia fazer isso e me deu dois dias para decorar os nomes de todos os jogadores do Tottenham. Meu irmão não era alguém que você quisesse desobedecer."
Harry também é torcedor do time, e, em "The Phantom", Nesbo provoca (ou brinca --a interpretação depende do time para o qual você torce), vestindo os traficantes de drogas em réplicas de camisetas do Arsenal. "Tenho vários amigos que torcem para o Arsenal e que me criticaram muito por isso", Nesbo conta. "Disseram: 'Apenas um covarde usaria seu poder de escritor para fazer algo assim.'" E o que ele respondeu? "Eu os mandei tomar banho."
É na psique que as divisões ficam menos bem definidas. Autor e personagem têm aproximadamente a mesma idade --Nesbo tem 52, e Harry, 49--, e Nesbo não hesita em descrever-se como uma pessoa solitária, como Harry. "Há pessoas que se cercam de outras pessoas quando estão com problemas", ele comenta. "Eu prefiro me isolar." Se Nesbo tem uma companheira, não se dispõe a revelar o fato. O único relacionamento estreito que ele admite ter é com sua filha de 13 anos.
Independentemente de até que ponto sua vida particular pode infiltrar-se em seus escritos, ele passa a impressão de um homem que encontrou uma maneira de viver inteiramente em seus próprios termos. Não é que ele se proponha a manter as pessoas à distância --é apenas que sua posição "padrão" é em retirada.
Seu sonho era ser jogador de futebol profissional, e ele quase o realizou, tendo jogado várias vezes para a equipe Molde, da primeira liga norueguesa, até uma lesão encerrar sua carreira de jogador quando ele ainda era adolescente. Nesse momento ele conseguiu uma vaga na Escola Norueguesa de Economia e, depois de se formar, um emprego como corretor de ações, especializado em opções e ações a futuro. "Fui um bom analista, mas péssimo vendedor", ele conta. "A ideia era que levássemos os clientes para sair e conquistássemos a simpatia deles, mas eu não tinha paciência para fazer isso e nunca gastava nada do meu orçamento de despesas com clientes. Apenas falava com as pessoas ao telefone de vez em quando."
"As pessoas me perguntavam o que eu achava que o mercado ia fazer, e eu dizia: 'Se você quiser saber isso, pergunte ao meu cachorro. Mas, se quiser saber por que uma ação específica pode estar com preço desvalorizado, vou lhe dar minhas razões'. Só sobrevivi nesse emprego porque tinha o mínimo de clientes que apreciavam meu tratamento pesado."
ROQUEIRO
A corretagem de ações era apenas seu ganha-pão. À noite, Nesbo era vocalista e compositor de uma banda de rock da qual fazia parte seu irmão mais jovem --uma atividade que quase certamente teria sido mais adequada para sua personalidade, se ele tivesse conseguido ganhar a vida decentemente com ela. "Quando fundamos a banda, não éramos muito bons. Mudávamos o nome da banda todas as semanas, para que a plateia não percebesse que éramos nós mesmos tocando outra vez. Então a banda nunca teve um nome para valer. Com o tempo, melhoramos um pouco, e os fãs começaram a perguntar quando 'di derre' ('aqueles caras', em norueguês) iam voltar. Então adotamos o nome Di Derre."
A banda ainda tem uma base fiel de fãs, apesar de não ter composto canções novas há mais de 12 anos, mas o momento decisivo aconteceu em meados da década de 1990. Nesbo era o único na banda a ter um emprego regular durante o dia, e a pressão de fazer shows à noite tornou-se demais para ele. "Falei à banda que eu não ia mais escrever canções nem viajar em turnê. Abandonei meu emprego e fui para a Austrália por seis meses para ver se conseguiria escrever um livro." Ele voltou com "The Bat", que recebeu o Prêmio Glass Key de ficção policial nórdica.
Nesbo não esperava ter sucesso instantâneo, mas ele se deixou levar. "Todos meus amigos que queriam escrever não tinham dado em nada, tentando escrever o grande romance europeu", ele conta. "Então eu propositalmente afastei essa possibilidade e me propus a escrever algo que fosse norteado pela história. Não foi tanto uma decisão comercial quanto literária. Graças ao sucesso de Henning Mankell e Peter Hoeg, o fato de escrever thrillers policiais não carregava na Escandinávia o mesmo estigma quanto é o caso em muitas outras culturas. Pelo contrário, na realidade. Muitos escritores escandinavos que tinham ficado conhecidos com ficção literária sentiam que queriam se aventurar com um policial, para mostrar que eram capazes de competir com os melhores. Se Salman Rushdie fosse norueguês, com certeza teria escrito pelo menos um policial."
Tendo feito sucesso praticamente da noite para o dia, Nesbo não teve dificuldade em adaptar-se à vida de escritor. Cada livro novo dele segue mais ou menos o mesmo processo: primeiro ele escreve uma sinopse de cinco páginas, depois uma sinopse de 20 páginas, que é seguida por um resumo extenso de 80 a cem páginas que inclui fragmentos chaves de diálogos, para ele se assegurar de ter captado os padrões de fala de seus personagens.
Em seguida, Nesbo escreve um primeiro rascunho completo do livro, e depois um segundo. Apenas então ele deixa que algumas poucas pessoas em quem confia leiam o livro e sugiram pequenas revisões. Depois disso, o livro está pronto e é esquecido. O único que ele releu foi "The Bat". "É porque foi meu primeiro", ele explica. "Parece bastante cru e fora de controle em algumas partes, e eu gosto disso."
Heiko Junge /Associated Press |
Anders Breivik, o protagonista do "dia em que a Noruega perdeu a inocência", para escritor Jo Nesbo |
É um indício raro de sentimento em alguém que, com essa exceção, parece dedicar-se apenas à vida e ao trabalho. As coisas acontecem, e você as supera. Como o massacre cometido por Anders Breivik. "Foi o dia em que a Noruega perdeu a inocência", diz Nesbo. "O dia em que nos tornamos como outros países que já passaram por tragédias semelhantes, o dia que vai nos assombrar por anos ainda. Mas ele precisa ser visto como o que foi. Foi um desastre isolado, perpetrado por um indivíduo que não poderia ter sido previsto; não foi um acontecimento político importante que tenha origens nos fundamentos de nossa sociedade."
Para os fãs de Nesbo, a preocupação mais imediata é se Harry Hole vai conseguir sair do fundo do esgoto. Nesbo tenta se esquivar por um instante, mas então cede. "Posso revelar que tenho mais planos para Harry, sim", ele revela.
"Você poderia dizer algo sobre eles? As coisas não poderiam piorar muito para Harry, certo?"
"Há uma lógica no universo de Harry. Seu futuro próximo parece sombrio. Depois as coisas vão piorar. Finalmente, ele vai diretamente para o inferno."
Nesbo não tem um pouco de pena de Harry?
"Gosto muito dele. Tenho alguns momentos felizes previstos para ele."
Quantos? Uma ou outra página esparsa?
"Hmmmm. Mas a vida é assim mesmo, não é? Não existem finais felizes."
Acho que Harry se contentaria com isso. É o que seus fãs certamente farão.
Acho que Harry se contentaria com isso. É o que seus fãs certamente farão.
Tradução de CLARA ALLAIN.
Jornalismo que muda o mundo
MOISÉS NAÍM
O artigo do "New York Times" sobre corrupção na China não poderia ser escrito por um blogueiro
David Barboza, do "New York Times", publicou um artigo importante sobre a corrupção dos familiares do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. A princípio, nada de novo.
Diariamente em algum país há escândalos que envolvem políticos, governantes e empresários. E dizer que há corrupção na China é revelar o óbvio. Mas este artigo e este escândalo são diferentes.
Como falar de corrupção? Os escândalos sobre corrupção fazem muito barulho, mas com frequência não são bem documentados e não dão em nada. As denúncias sem consequências geram grande ceticismo no público e corrompem a luta contra a corrupção.
Não é o caso do artigo de Barboza, que fez um dos trabalhos jornalísticos mais bem documentados e mais rigorosos que conheço sobre o tema da corrupção nas elites.
Ele se baseia em dados confirmados por múltiplas fontes, evidências irrefutáveis, complexas análises financeiras auditadas por contadores contratados para garantir a precisão do artigo, e um longo, árduo e evidentemente custoso trabalho de investigação jornalística.
É óbvio que um só artigo não terá efeito definitivo na China. Mas é igualmente óbvio que os dirigentes, que até agora pensavam estar protegidos pelo sistema político, já sabem que agora não há garantia de invisibilidade da corrupção.
O bom jornalismo vale muito... e custa muito. O grande artigo de Barboza não poderia ter sido escrito por um blogueiro, por ativistas nas redes sociais ou por uma organização de jornalismo que se limita a "agregar" -ou seja, reproduzir na rede- o conteúdo original de outros.
O artigo precisou da independência, organização, recursos financeiros e elevados padrões profissionais do "New York Times". Tudo isso tem um custo alto. Mas é o que produz jornalismo com valor social.
A internet e as tendências que hoje solapam a viabilidade dos grandes meios de comunicação têm muito de incontrolável. Mas artigos como o do "New York Times" ilustram de forma contundente quanto nos empobreceríamos se desaparecessem as organizações capazes de produzir informação objetiva.
A Grande Muralha chinesa não protege mais. Na antiguidade, a Grande Muralha não impediu invasões mongóis ocasionais da China. Hoje, tampouco. A grande cibermuralha que o governo de Pequim erigiu para censurar os conteúdos que viajam pela internet não garante que os chineses não tomem conhecimento das revelações do artigo.
O governo bloqueou os sites em inglês e em mandarim do jornal, assim como o acesso ao artigo através de redes sociais. Milhares de censores monitoram e bloqueiam a difusão dessa informação.
Mas essa história já está em todos os meios de comunicação do mundo, na internet, em redes sociais e, eventualmente, na boca de muitos na China. Com certeza a censura fará com que centenas de milhões de chineses nunca saibam que a família de seu primeiro-ministro acumulou uma fortuna de US$ 2,7 bilhões. Mas vários milhões já o sabem. E, antes, isso não acontecia.
Quadrinhos
CHICLETE COM BANANA ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ LAERTE
DAIQUIRI CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO ADÃO
PRETO NO BRANCO ALLAN SIEBER
MALVADOS ANDRÉ DAHMER
GARFIELD JIM DAVIS
Quadrinhos
CHICLETE COM BANANA ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ LAERTE
DAIQUIRI CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO ADÃO
BIFALAND, A CIDADE MALDITA ALLAN SIEBER
MALVADOS ANDRÉ DAHMER
GARFIELD JIM DAVIS
HORA DO CAFÉ MANDRADE
Análise Logística Ferroviária
ANÁLISE LOGÍSTICA FERROVIÁRIA
País precisa aproveitar este momento para definir técnicas e equipamentos
GUILHERME SEGALLA DE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Pátio para carregamento de areia próximo a Mogi das Cruzes na linha ferroviária que liga São Paulo ao Rio de Janeiro
- Folha de S.PaulEstima-se que o volume de carga transportada pelas ferrovias brasileiras, atualmente em cerca de 20%, possa dobrar na próxima década.São hoje 475,1 milhões de toneladas de carga por ano a circular por estradas de ferro que, diante da tendência de crescimento, serão incrementadas de forma a comportarem um volume muito maior no futuro próximo.Estima-se que o volume de carga transportada pelas ferrovias brasileiras, atualmente em cerca de 20%, possa dobrar na próxima década.
Esse potencial, contudo, só se tornará realidade se governo e iniciativa privada intensificarem a atuação para eliminar os gargalos logísticos que, em última instância, podem impor barreiras ao crescimento da economia e à rentabilidade de mercados estratégicos, como mineração, siderurgia e metalurgia.
Um passo para ampliar a malha ferroviária foi dado em agosto, quando o governo anunciou o Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI) -um pacote de R$ 133 bilhões na reforma e na construção de rodovias e ferrovias.
Com esse investimento, o governo busca interligar toda a malha ferroviária, bem como ampliar a conexão com portos e aeroportos.
O modelo de concessões adotado há 15 anos para a operação das ferrovias possivelmente se somará às parcerias público-privadas. Isso também permitirá que fabricantes e prestadores de serviço compartilhem com o governo experiência e capacidade técnica no segmento.
Será importante, por exemplo, definir quais são as locomotivas e os equipamentos mais indicados para cada tipo de ferrovia ou carga.
Independentemente do PNLI, em 2011, foram produzidas 110 locomotivas no país. Tradicionalmente exportadas para a América do Sul e África, agora também concentram parte significativa de oferta no mercado interno.
O momento do mercado logístico ferroviário é de investimento, trabalho e expansão, o que abrange todos os atores da cadeia produtiva. É preciso aproveitar a oportunidade para oferecer ao país locomotivas modernas e robustas, que consigam transportar cargas cada vez maiores com eficiência e produzidas localmente. Esse percentual torna viável a aquisição de locomotivas por linhas de financiamento do BNDES.
O trabalho será intenso para que, nas próximas décadas, todos colhamos os frutos do investimento.
GUILHERME SEGALLA DE MELLO é presidente e CEO da GE Transportation para a América Latina
Enem dá acesso a 91% das vagas em federais
Mais da metade das 59 instituições federais usará exclusivamente o exame em sua seleção no início de 2013
Diante do peso no acesso ao ensino superior, total de inscritos na prova já cresceu quase 37 vezes desde a 1ª edição
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
ANDRESSA TAFFAREL
DE SÃO PAULO
LILO BARROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em sua 15ª edição, que ocorre neste fim de semana, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) se tornou a principal porta de acesso às universidades federais do país.
Segundo levantamento feito pela Folha, das 165.854 vagas que devem ser oferecidas pelas federais no fim do ano, 150.774 poderão ser disputadas com auxílio do Enem, o que corresponde a 90,9% do total.
Os números ainda podem sofrer alterações porque algumas universidades ainda não publicaram o edital de seleção -nesses casos, a Folha tomou como referência as vagas ofertadas na edição do vestibular do final de 2011.
Pelo levantamento, 34 das 59 instituições federais usarão exclusivamente a nota da prova no processo de seleção para ingresso no início de 2013.
Outras 23 universidades utilizam o desempenho do candidato no Enem de três formas na seleção: para substituir o vestibular de parte dos cursos ofertados, para substituir a primeira etapa de seleção ou como bônus na composição da nota final.
Apenas duas instituições usam o Enem somente para as vagas remanescentes no processo seletivo.
Diante do peso do Enem para o acesso ao ensino superior, o número de inscritos na prova tem sido crescente. Entre 1998, data da primeira edição, e 2012, o número de candidatos aumentou quase 37 vezes -saltou de 157,2 mil para 5,79 milhões.
VESTIBULAR NACIONAL
"O Enem está se transformando crescentemente num vestibular nacional", conclui Ocimar Alavarse, professor de Educação da USP. Essa foi a intenção do MEC (Ministério da Educação) ao reformular a prova, em 2009.
Na ocasião, a pasta encaminhou uma carta à Andifes (associação de reitores) defendendo a nova política. Entre os argumentos estavam a indução a um currículo do ensino médio mais homogêneo e maior democratização do acesso às vagas.
"Exames descentralizados favorecem aqueles estudantes com mais condições de se deslocar pelo país", alegou o MEC.
NÍVEL SOCIOECONÔMICO
Para alguns especialistas em educação, o Enem não atendeu esse objetivo.
"O fato de eu poder disputar em mais universidades não necessariamente aumenta minha chance de ingresso. O desempenho está fortemente associado ao nível socioeconômico do candidato", afirma Alavarse.
Ele pondera, entretanto, que a lei de cotas deve provocar uma mudança no perfil do aluno das federais.
A nova regra, já em vigor neste processo de seleção, destina 50% das vagas em instituições federais para alunos que cursaram o ensino médio integralmente na escola pública.
Transição estuda como acabar com taxa da inspeção
Transição estuda como acabar com taxa da inspeção
DE SÃO PAULO
A equipe de transição indicada pelo prefeito eleito Fernando Haddad (PT) ainda vai estudar qual procedimento o novo governo vai adotar para acabar com a taxa da inspeção veicular.
O fim da taxa foi a primeira promessa do prefeito eleito Fernando Haddad (PT) que causou discussão durante a campanha eleitoral.
Ele afirmou que os motoristas não terão mais de pagar os R$ 44,36 (valor de 2012), mas que o serviço continuará obrigatório, embora possa haver isenção para carros com garantia de fábrica.
O problema é que já no início de janeiro começa o agendamento do serviço. Para agendar, o motorista precisa pagar a taxa da Controlar.
Haddad disse que nos cem primeiros dias de governo enviará à Câmara um projeto de lei para acabar com a taxa. Mas até lá parte dos veículos já terá pago a tarifa.
Ele não disse como fará para não prejudicar quem pagar a taxa antes da extinção.
Há duas hipóteses para o fim da taxa já para o início do ano: aprovar um dos projetos já apresentados pela oposição a Haddad -um da bancada do PSDB, outro de Gilberto Natalini (PV)- ou Kassab enviar um projeto a pedido de Haddad.
Outra hipótese é Haddad, já no primeiro dia de governo, baixar um decreto prevendo a devolução da taxa a quem fizer o pagamento.
O fim da taxa foi a primeira promessa do prefeito eleito Fernando Haddad (PT) que causou discussão durante a campanha eleitoral.
Ele afirmou que os motoristas não terão mais de pagar os R$ 44,36 (valor de 2012), mas que o serviço continuará obrigatório, embora possa haver isenção para carros com garantia de fábrica.
O problema é que já no início de janeiro começa o agendamento do serviço. Para agendar, o motorista precisa pagar a taxa da Controlar.
Haddad disse que nos cem primeiros dias de governo enviará à Câmara um projeto de lei para acabar com a taxa. Mas até lá parte dos veículos já terá pago a tarifa.
Ele não disse como fará para não prejudicar quem pagar a taxa antes da extinção.
Há duas hipóteses para o fim da taxa já para o início do ano: aprovar um dos projetos já apresentados pela oposição a Haddad -um da bancada do PSDB, outro de Gilberto Natalini (PV)- ou Kassab enviar um projeto a pedido de Haddad.
Outra hipótese é Haddad, já no primeiro dia de governo, baixar um decreto prevendo a devolução da taxa a quem fizer o pagamento.
- Secretário do Verde reage ao fim da cobrança
Após a bancada do PSDB e o vereador Gilberto Natalini (PV) apresentarem projetos na Câmara para pôr fim à taxa da inspeção, o secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, reagiu ontem.
"Não devemos mudar a nossa opinião frente a uma política pública simplesmente porque somos governo ou oposição. O que é correto é correto", criticou.
Ele diz que é adequado "que o proprietário do veículo que causa o efeito poluidor e de aquecimento global arque com a responsabilidade de atenuar o problema".
Haddad quer promessas já no Orçamento de 2013
Mudanças previstas indicam pressa em cumprir compromissos de campanha
Novo governo quer reservar recursos para creches, fim da taxa da inspeção veicular e bilhete único mensal
EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO
O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), vai negociar com a Câmara Municipal a reserva, já no Orçamento da prefeitura para 2013, dos recursos para bancar suas principais promessas de campanha.
Haddad prometeu acabar com a taxa cobrada para a inspeção veicular, criar o bilhete único mensal e construir 172 creches com verbas do governo federal.
Nenhum desses programas está previsto na proposta de Orçamento enviada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) à Câmara no fim de setembro.
Para a inspeção devem ser reservados R$ 180 milhões. Para o bilhete único mensal, até R$ 400 milhões -depender do percentual de aumento da tarifa para 2013 e dos cálculos de quanto o setor de transporte urbano vai ser desonerado com as medidas recentes do governo federal.
A equipe do prefeito eleito também fará a revisão dos valores previstos para a construção de casas populares. A promessa de campanha é fazer 55 mil unidades em quatro anos, o dobro do construído nos últimos sete anos.
A decisão de incluir os recursos no Orçamento indica que Haddad tem pressa em implementar as promessas, ao contrário do que deu a entender na entrevista coletiva de segunda-feira, a primeira após vencer a eleição.
Na ocasião, ele afirmou que esperava que tanto a inspeção veicular quanto o bilhete único mensal estivessem equacionados até 2014.
Depois, Haddad disse que foi mal interpretado.
O vereador Antonio Donato (PT), coordenador do grupo de transição do prefeito eleito, afirmou que não há dívida de que os programas serão implementados em 2013 e que a prioridade é garantir os recursos no Orçamento.
Ainda não está definido de qual área os recursos serão remanejados. Isso começará a ser estudado na semana que vem pela equipe de transição.
O bilhete único mensal, que terá versões semanal e diária, não depende de aprovação da Câmara Municipal. Sua criação pode ser definida por decreto do prefeito.
Antonio Donato, coordenador da transição de governo por parte de Fernando Haddad (PT), disse que a previsão é que ele seja implantado até meados de 2013, porque isso depende de questões técnicas -mudança de sistemas e atualização das catracas dos ônibus, por exemplo.
Já as creches estão as primeiras medidas da gestão Haddad. Ele pretende definir a desapropriação dos terrenos ainda nos primeiros dias do governo e, em seguida, solicitar os recursos para as obras do governo federal.
Durante a campanha, o petista criticou o prefeito Gilberto Kassab (PSD) por não ter apresentado o pedido.
Haddad prometeu acabar com a taxa cobrada para a inspeção veicular, criar o bilhete único mensal e construir 172 creches com verbas do governo federal.
Nenhum desses programas está previsto na proposta de Orçamento enviada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) à Câmara no fim de setembro.
Para a inspeção devem ser reservados R$ 180 milhões. Para o bilhete único mensal, até R$ 400 milhões -depender do percentual de aumento da tarifa para 2013 e dos cálculos de quanto o setor de transporte urbano vai ser desonerado com as medidas recentes do governo federal.
A equipe do prefeito eleito também fará a revisão dos valores previstos para a construção de casas populares. A promessa de campanha é fazer 55 mil unidades em quatro anos, o dobro do construído nos últimos sete anos.
A decisão de incluir os recursos no Orçamento indica que Haddad tem pressa em implementar as promessas, ao contrário do que deu a entender na entrevista coletiva de segunda-feira, a primeira após vencer a eleição.
Na ocasião, ele afirmou que esperava que tanto a inspeção veicular quanto o bilhete único mensal estivessem equacionados até 2014.
Depois, Haddad disse que foi mal interpretado.
O vereador Antonio Donato (PT), coordenador do grupo de transição do prefeito eleito, afirmou que não há dívida de que os programas serão implementados em 2013 e que a prioridade é garantir os recursos no Orçamento.
Ainda não está definido de qual área os recursos serão remanejados. Isso começará a ser estudado na semana que vem pela equipe de transição.
O bilhete único mensal, que terá versões semanal e diária, não depende de aprovação da Câmara Municipal. Sua criação pode ser definida por decreto do prefeito.
Antonio Donato, coordenador da transição de governo por parte de Fernando Haddad (PT), disse que a previsão é que ele seja implantado até meados de 2013, porque isso depende de questões técnicas -mudança de sistemas e atualização das catracas dos ônibus, por exemplo.
Já as creches estão as primeiras medidas da gestão Haddad. Ele pretende definir a desapropriação dos terrenos ainda nos primeiros dias do governo e, em seguida, solicitar os recursos para as obras do governo federal.
Durante a campanha, o petista criticou o prefeito Gilberto Kassab (PSD) por não ter apresentado o pedido.
Fogo na Chapada Diamantina faz Bahia pedir ajuda federal
FOCO
Incêndio causa prejuízos ambientais, à saúde pública e à economia (Foto: Divulgação/Inema)
VALMAR HUPSEL FILHO
DE SÃO PAULO
A Bahia pediu ajuda do governo federal para tentar controlar os focos de incêndio que atingem a Chapada Diamantina e o oeste do Estado.
Comuns nesta época, sobretudo pelas queimadas ilegais, os incêndios têm castigado a área há mais de dois meses, mas as chamas atingiram grande proporção há 15 dias.
Segundo o governo do Estado, o combate é feito por 700 brigadistas voluntários, 90 bombeiros, cinco aeronaves e três helicópteros.
"Ainda não temos como mensurar os estragos, mas os prejuízos ambiental e econômico são enormes", disse Eugênio Spengler, secretário estadual de Meio Ambiente.
Além de pedir equipamentos, aeronaves e pessoal ao Ministério de Integração Nacional, a pasta cogita solicitar ajuda a brigadas de incêndio do Rio e do Distrito Federal. Procurado, o ministério não informou se irá cooperar.
O fogo ocorre em ao menos dez municípios no oeste do Estado, produtor de grãos, e outros 15 na Chapada Diamantina, entre eles Lençóis, principal polo turístico da região.
Locais turísticos, como a Cacheira do Mosquito e a Serra da Bacia -onde ficam os morros do Pai Inácio e dos Três Irmãos -registram focos. Estragos são visíveis em proximidades de nascentes de rios.
O chefe do Parque Nacional da Chapada Diamantina, Bruno Lintomen, estima que, somados, os focos correspondam a mais de 40 mil hectares. "Dentro da área do parque há quatro focos de incêndio, um deles de grande proporção."
A reserva sofre ameaça de outro foco, com área estimada em 6.500 hectares. Entre Abaíra e Mucugê, moradores tiveram de deixar suas casas.
O combate é dificultado pelos ventos fortes, secos e quentes, e pela estiagem. A expectativa é que a chuva, prevista para os próximos dias, minimize a gravidade da situação.
PM estende ação a Campo Limpo e Capão
PM estende ação a Campo Limpo e Capão
Um suspeito morreu no hospital depois de um tiroteio com policiais; operação na região deve chegar ao fim hoje
Depois de ocupar a favela Paraisópolis, Estado desencadeia operação especial em outras áreas da zona sul
DO “AGORA”
DE SÃO PAULO
O governo paulista estendeu ontem a presença ostensiva da Polícia Militar, chamada Operação Saturação, para outras duas regiões, Campo Limpo e Capão Redondo, ambas na zona sul paulistana.
Foi na mesma zona sul, na favela Paraisópolis, que a operação foi desencadeada pela primeira vez, no início da semana, com o objetivo de combater o crime organizado.
As novas operações começaram ontem com os policiais militares sendo recebidos a tiros, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública.
Até a noite, um suspeito foi morto -ele estaria em um ponto de venda de drogas e trocou tiros com a PM- e outras nove foram presas.
O tenente-coronel Deufrânio Barbosa de Carvalho, responsável pela operação, afirmou que parte das prisões ocorreu em uma refinaria de drogas na divisa com Embu das Artes (Grande São Paulo).
No local, foram apreendidos 5.000 pinos e 2 kg de pasta de cocaína, 0,5 kg de maconha e balança de precisão.
O objetivo da operação no Campo Limpo e no Capão Redondo é desarticular, principalmente, a venda de drogas. Essa ação, segundo a PM, deve acabar hoje -diferentemente de Paraisópolis, onde a Operação Saturação não tem previsão para ser encerrada.
Capão Redondo e Campo Limpo estão entre os bairros com mais homicídios dolosos (intencionais) na cidade neste ano -74 de um total de 919.
Anteontem, a PM fez operação na favela São Remo (zona oeste) para prender suspeitos de matar um policial da Rota. A ação resultou na descoberta de um túnel usado para levar drogas à USP.
Foi na mesma zona sul, na favela Paraisópolis, que a operação foi desencadeada pela primeira vez, no início da semana, com o objetivo de combater o crime organizado.
As novas operações começaram ontem com os policiais militares sendo recebidos a tiros, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública.
Até a noite, um suspeito foi morto -ele estaria em um ponto de venda de drogas e trocou tiros com a PM- e outras nove foram presas.
O tenente-coronel Deufrânio Barbosa de Carvalho, responsável pela operação, afirmou que parte das prisões ocorreu em uma refinaria de drogas na divisa com Embu das Artes (Grande São Paulo).
No local, foram apreendidos 5.000 pinos e 2 kg de pasta de cocaína, 0,5 kg de maconha e balança de precisão.
O objetivo da operação no Campo Limpo e no Capão Redondo é desarticular, principalmente, a venda de drogas. Essa ação, segundo a PM, deve acabar hoje -diferentemente de Paraisópolis, onde a Operação Saturação não tem previsão para ser encerrada.
Capão Redondo e Campo Limpo estão entre os bairros com mais homicídios dolosos (intencionais) na cidade neste ano -74 de um total de 919.
Anteontem, a PM fez operação na favela São Remo (zona oeste) para prender suspeitos de matar um policial da Rota. A ação resultou na descoberta de um túnel usado para levar drogas à USP.
'Ideia é absurda', diz ex-comandante da Políca Militar
ENTREVISTA
'Ideia é absurda', diz ex-comandante da Políca Militar
DE SÃO PAULO
Para Rui César Melo, ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo entre 1999 e 2002, a proposta do governo federal de levar UPPs para favelas paulistas, como Paraisópolis, é um "absurdo". (TB)
Folha - O que o senhor acha da ideia de trazer as UPPs para Paraisópolis?
Rui César Melo - É uma coisa política, não verdadeira. A polícia já está lá em Paraisópolis. Quem ela tinha que prender já está preso. É um absurdo [essa proposta].
Há pessoas que afirmam que a PM tem uma visão mais de enfrentamento e a UPP tem um caráter comunitário. O que o senhor acha disso?
Esse modelo que eles chamam de unidade pacificadora nós fazemos aqui em São Paulo há 12 anos. É chamada de polícia comunitária.
Nas primeiras intervenções nas favelas, que eu fiz quando estava no comando [da Polícia Militar], coloquei bases comunitárias de segurança.
Eles estão querendo fazer um negócio que já existe e o que precisa ser feito, eles não fazem.
Hoje não existe um sistema nacional de informações [de criminosos]. É preciso patrulhar melhor as fronteiras do país, para não entrar arma, droga.
Rui César Melo - É uma coisa política, não verdadeira. A polícia já está lá em Paraisópolis. Quem ela tinha que prender já está preso. É um absurdo [essa proposta].
Há pessoas que afirmam que a PM tem uma visão mais de enfrentamento e a UPP tem um caráter comunitário. O que o senhor acha disso?
Esse modelo que eles chamam de unidade pacificadora nós fazemos aqui em São Paulo há 12 anos. É chamada de polícia comunitária.
Nas primeiras intervenções nas favelas, que eu fiz quando estava no comando [da Polícia Militar], coloquei bases comunitárias de segurança.
Eles estão querendo fazer um negócio que já existe e o que precisa ser feito, eles não fazem.
Hoje não existe um sistema nacional de informações [de criminosos]. É preciso patrulhar melhor as fronteiras do país, para não entrar arma, droga.
[Wálter Maierovitch]Para jurista, UPP é melhor do que ocupação da PM
ENTREVISTA
Para jurista, UPP é melhor do que ocupação da PM
DE SÃO PAULO
Para o jurista Wálter Maierovitch, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone (de ciências criminais) e ex-secretário Nacional Antidrogas no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora em favelas de São Paulo pode ser positiva.
Folha - O que o senhor acha da proposta?
Wálter Maierovitch - É preciso fazer a pacificação, a retomada do controle dos territórios. O sucesso das UPPs do Rio de Janeiro parte da retomada dos controles territorial e social.
Para se ter esse controle, há necessidade de se ter uma polícia comunitária, que retome a confiança do cidadão, que faça com que se encerre esse medo difuso do crime organizado e que volte a implantar a cidadania.
E não adianta manter a Polícia Militar?
O que o governo federal propõe com a instalação de uma unidade pacificadora é o contrário da política de São Paulo, que tem uma polícia que vai para o confronto.
Deixar a PM é fazer uma UPP capenga, militarizada. Essa política de enfrentamento vem colhendo maus resultados.
(TALITA BEDINELLI)
Wálter Maierovitch - É preciso fazer a pacificação, a retomada do controle dos territórios. O sucesso das UPPs do Rio de Janeiro parte da retomada dos controles territorial e social.
Para se ter esse controle, há necessidade de se ter uma polícia comunitária, que retome a confiança do cidadão, que faça com que se encerre esse medo difuso do crime organizado e que volte a implantar a cidadania.
E não adianta manter a Polícia Militar?
O que o governo federal propõe com a instalação de uma unidade pacificadora é o contrário da política de São Paulo, que tem uma polícia que vai para o confronto.
Deixar a PM é fazer uma UPP capenga, militarizada. Essa política de enfrentamento vem colhendo maus resultados.
Para Alckmin, Exército é desnecessário em São Paulo
Em conversa com Dilma ontem, tucano disse que não quer, mas irá avaliar oferta
Para governador, a situação do Estado é diferente daquela que motivou a ocupação do Complexo do Alemão
DE SÃO PAULO
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) deve rejeitar a oferta do governo federal de deslocar tropas do Exército para ocupar áreas críticas de São Paulo, como a favela Paraisópolis, na zona sul.
Na conversa com a presidente Dilma Rousseff ontem, o governador disse que não quer o Exército e que acha que a situação de São Paulo é bem diferente da que motivou a ocupação militar do Complexo do Alemão, no Rio.
Mas ele não descartou de imediato. Ficou de analisar a proposta e tratá-la dentro da discussão para elaborar uma estratégia conjunta.
Em um primeiro momento, o governo federal cogita oferecer tropas federais, tanto do Exército quanto da Força Nacional de Segurança.
A última vez que os governos federal e estadual fizeram um acordo para empreender estratégia conjunta na segurança pública em São Paulo foi em agosto de 2006.
Na época, a facção criminosa PCC impunha havia três meses uma onda de ataques contra a polícia paulista.
O acordo, firmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Cláudio Lembo (então no PFL), não incluía, porém, o uso de tropas federais -apenas inteligência, apoio de helicópteros e a colaboração mais estreita da Polícia Federal.
Desta vez, as tropas seriam usadas para ajudar o governo paulista a implantar estratégia recente de ocupar ostensivamente áreas consideradas redutos do PCC.
A primeira reação ostensiva do governo à escalada da violência desde setembro -com aumento dos assassinatos, inclusive de PMs- foi a ocupação por 600 policiais militares de Paraisópolis.
Depois, passou a fazer incursões e ocupações pontuais, como as da favela São Remo, no Butantã (zona oeste), anteontem, e em regiões do Campo Limpo e Capão Redondo, no extremo sul, ontem.
Na conversa com a presidente Dilma Rousseff ontem, o governador disse que não quer o Exército e que acha que a situação de São Paulo é bem diferente da que motivou a ocupação militar do Complexo do Alemão, no Rio.
Mas ele não descartou de imediato. Ficou de analisar a proposta e tratá-la dentro da discussão para elaborar uma estratégia conjunta.
Em um primeiro momento, o governo federal cogita oferecer tropas federais, tanto do Exército quanto da Força Nacional de Segurança.
A última vez que os governos federal e estadual fizeram um acordo para empreender estratégia conjunta na segurança pública em São Paulo foi em agosto de 2006.
Na época, a facção criminosa PCC impunha havia três meses uma onda de ataques contra a polícia paulista.
O acordo, firmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Cláudio Lembo (então no PFL), não incluía, porém, o uso de tropas federais -apenas inteligência, apoio de helicópteros e a colaboração mais estreita da Polícia Federal.
Desta vez, as tropas seriam usadas para ajudar o governo paulista a implantar estratégia recente de ocupar ostensivamente áreas consideradas redutos do PCC.
A primeira reação ostensiva do governo à escalada da violência desde setembro -com aumento dos assassinatos, inclusive de PMs- foi a ocupação por 600 policiais militares de Paraisópolis.
Depois, passou a fazer incursões e ocupações pontuais, como as da favela São Remo, no Butantã (zona oeste), anteontem, e em regiões do Campo Limpo e Capão Redondo, no extremo sul, ontem.
(CÁTIA SEABRA E JOSÉ BENEDITO DA SILVA)
Claudia Collucci
Saúde e envelhecimento
Estreio hoje este espaço com o tema envelhecimento, totalmente oposto ao que me dediquei durante mais de uma década no meu blog no UOL (fertilidade, reprodução, nascimentos).
É proposital. O Brasil está envelhecendo numa velocidade jamais vista na história das sociedades mais desenvolvidas. A França, por exemplo, demorou mais de um século para ver sua população idosa saltar de 7% para 14%.
Aqui, essa mesma variação demográfica ocorrerá já nas próximas duas décadas (2011-2031). Em números absolutos, a população idosa vai mais do que triplicar, passando dos atuais 20 e poucos milhões para 65 milhões em 2050.
O curioso é que entra governo e sai governo e não se vê nenhuma política pública consistente no sentido de preparar o país para a mudança drástica na estrutura etária, que resultará em maiores pressões e desafios fiscais sobre o sistema público de saúde (e a Previdência, é claro).
Os idosos vão viver mais, terão múltiplas doenças crônicas, que vão demandar uma maior utilização dos serviços de saúde, cujos custos são insustentáveis.
Analistas do setor, como o professor Renato Veras (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), dizem que o tamanho desse aumento dos gastos com a população idosa dependerá essencialmente da qualidade desse processo de envelhecimento. Seremos idosos saudáveis ou enfermos dependentes?
Se a meta for a primeira opção, será necessário reajustar a organização dos sistemas de saúde (público e privado) para esse novo cenário, levando em conta (e a sério) a promoção da saúde e a manutenção da capacidade funcional dos idosos pelo maior tempo possível.
O conceito atual de envelhecimento saudável não é uma vida livre de doenças (dificilmente estaremos livres delas), mas sim a capacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente. Sabe aquela avozinha que aos 90 e poucos anos anda, toma banho e se alimenta sozinha? Esse é o objetivo.
ENVELHECIMENTO ATIVO
Um primeiro passo (ainda tímido, mas bem vindo) foi dado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) no ano passado, com uma resolução que incentiva a participação de usuários de planos de saúde em programas de envelhecimento ativo, com a possibilidade de descontos nas mensalidades.
A ideia é que as operadoras se pautem mais pela prevenção em vez do foco exclusivo no tratamento das doenças.
Vários países vêm adotando programas de saúde focados na prevenção, visando um envelhecimento mais saudável. Um do mais conceituados é o da seguradora PruHealth, no Reino Unido. Lá, os segurados recebem benefícios financeiros para deixarem seus carros parados e caminharem, usando o pedômetro com monitor cardíaco.
Os segurados também conseguem descontos na compra de frutas e legumes em uma rede de supermercados e recebem incentivo financeiro para a prática de exercícios físicos em academias. Por fim, adotando um estilo de vida mais saudável, podem ainda ter desconto no valor da apólice do seguro.
Apesar dos questionamentos sobre a real eficácia dos estímulos financeiros para cuidar da saúde (os resultados serão duradouros?), algo precisa ser feito no Brasil. E logo.
A começar pela forma com que alguns planos de saúde ainda tratam os idosos, dificultando a adesão deles em suas carteiras, impondo preços exorbitantes ou vetando procedimentos e tratamentos.
*
E por falar em envelhecimento ativo, está em cartaz o filme francês "E se Vivêssemos Todos Juntos?", de Stéphane Robelin, que trata sobre o tema com muita delicadeza e propriedade. Eu e minha mãe, dona Regina, 76, uma idosa pra lá de ativa, recomendamos!
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.
Preço de drogas para rinite varia 230%
Tratamento mensal com remédio contra alergia vai de R$ 40 a R$ 130, segundo levantamento feito pela Anvisa
Gasto deve ser levado em conta ao escolher o medicamento, diz a Vigilância Sanitária, já que eficácia é similar
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
Um remédio para contornar os sintomas da rinite alérgica pode custar mais de três vezes o preço do concorrente, segundo um estudo feito pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Assim, o custo do tratamento mensal da rinite pode variar de R$ 40 a R$ 130.
Entre medicamentos com o mesmo princípio ativo, as diferenças chegam a 140%.
O boletim "Saúde & Economia" compara os preços de 13 anti-histamínicos orais para adultos e nove infantis -genéricos, similares e medicamentos de referência.
Foram considerados os preços máximos autorizados no mercado para os produtos de segunda geração, os mais modernos contra a doença.
Apesar da disparidade, aponta a Anvisa, não há evidências científicas que indiquem uma superioridade terapêutica entre os produtos.
"A principal conclusão é que, para rinite alérgica, há várias opções terapêuticas, princípios ativos e preços diferenciados. E, como não há evidência de superioridade, é relevante levar o custo em consideração", diz Gabrielle Troncoso, gerente de avaliação econômica de novas tecnologias da Anvisa.
A rinite é uma inflamação da mucosa nasal, que se estende até os seios da face. Tem como sintomas comuns o entupimento nasal, a secreção, os espirros e a coceira.
A forma alérgica da doença é desencadeada pela reação exagerada da pessoa a uma substância, diz a médica Fátima Fernandes, presidente da regional São Paulo da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia.
Os anti-histamínicos estudados pela Anvisa, explica a médica, minimizam os sintomas da rinite alérgica -mas não atuam na origem dela.
DIFERENÇAS
Segundo Fernandes, os remédios listados pela Anvisa apresentam eficácia semelhante quando se analisam grupos de pacientes. "Qualquer um deles está perfeitamente indicado para o tratamento inicial de uma rinite."
Individualmente, porém, continua a médica, as respostas dos pacientes podem variar com cada substância.
Assim, médicos acabam indicando produtos ou marcas nas quais mais confiam e trocam a medicação se o paciente não se deu bem com ela.
Um efeito a ser considerado, por exemplo, é a potencial sonolência provocada pelo uso desse tipo de produto.
Evitar problemas como sonolência e interação com outros medicamentos é, justamente, um dos pontos promovidos pela empresa que lançou no país, neste ano, a substância mais nova entre as analisadas -a bilastina.
OUTRO LADO
A MSD, responsável pelo Desalex (remédio de referência na categoria, listado como mais caro para adultos), afirma ter um programa de descontos para alguns remédios por meio de cadastro no site -o anti-histamínico citado tem desconto de 35%.
A Sanofi, que comercializa o medicamento de referência Allegra (54% mais caro que a sua versão genérica para adultos), afirmou que o preço do remédio segue as regras do setor. A empresa informou não ser possível fazer comparações com genéricos, que por lei devem ser pelo menos 35% mais baratos.
Assim, o custo do tratamento mensal da rinite pode variar de R$ 40 a R$ 130.
Entre medicamentos com o mesmo princípio ativo, as diferenças chegam a 140%.
O boletim "Saúde & Economia" compara os preços de 13 anti-histamínicos orais para adultos e nove infantis -genéricos, similares e medicamentos de referência.
Foram considerados os preços máximos autorizados no mercado para os produtos de segunda geração, os mais modernos contra a doença.
Apesar da disparidade, aponta a Anvisa, não há evidências científicas que indiquem uma superioridade terapêutica entre os produtos.
"A principal conclusão é que, para rinite alérgica, há várias opções terapêuticas, princípios ativos e preços diferenciados. E, como não há evidência de superioridade, é relevante levar o custo em consideração", diz Gabrielle Troncoso, gerente de avaliação econômica de novas tecnologias da Anvisa.
A rinite é uma inflamação da mucosa nasal, que se estende até os seios da face. Tem como sintomas comuns o entupimento nasal, a secreção, os espirros e a coceira.
A forma alérgica da doença é desencadeada pela reação exagerada da pessoa a uma substância, diz a médica Fátima Fernandes, presidente da regional São Paulo da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia.
Os anti-histamínicos estudados pela Anvisa, explica a médica, minimizam os sintomas da rinite alérgica -mas não atuam na origem dela.
DIFERENÇAS
Segundo Fernandes, os remédios listados pela Anvisa apresentam eficácia semelhante quando se analisam grupos de pacientes. "Qualquer um deles está perfeitamente indicado para o tratamento inicial de uma rinite."
Individualmente, porém, continua a médica, as respostas dos pacientes podem variar com cada substância.
Assim, médicos acabam indicando produtos ou marcas nas quais mais confiam e trocam a medicação se o paciente não se deu bem com ela.
Um efeito a ser considerado, por exemplo, é a potencial sonolência provocada pelo uso desse tipo de produto.
Evitar problemas como sonolência e interação com outros medicamentos é, justamente, um dos pontos promovidos pela empresa que lançou no país, neste ano, a substância mais nova entre as analisadas -a bilastina.
OUTRO LADO
A MSD, responsável pelo Desalex (remédio de referência na categoria, listado como mais caro para adultos), afirma ter um programa de descontos para alguns remédios por meio de cadastro no site -o anti-histamínico citado tem desconto de 35%.
A Sanofi, que comercializa o medicamento de referência Allegra (54% mais caro que a sua versão genérica para adultos), afirmou que o preço do remédio segue as regras do setor. A empresa informou não ser possível fazer comparações com genéricos, que por lei devem ser pelo menos 35% mais baratos.
Após troca de farpas, gestões Dilma e Alckmin acertam ação antiviolência
Governos decidiram ontem elaborar uma estratégia conjunta para conter criminalidade em SP
União deverá propor a ocupação de áreas críticas como a favela Paraisópolis e oferecer vagas em presídios
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO
Após intensa troca de farpas, iniciada com a escalada dos assassinatos em São Paulo neste mês, os governos Dilma Rousseff (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) começaram a negociar ontem estratégia conjunta para conter o avanço da violência no Estado.
Por telefone, Dilma sugeriu a Alckmin que fosse traçado um plano integrado de segurança pública. Segundo a ministra Helena Chagas (Comunicação Social), o governador aceitou a oferta.
Detalhes da ação conjunta serão definidos na próxima semana, quando o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) vai se reunir com representantes do governo de SP.
Entre as ações que serão tratadas está a ocupação de áreas críticas como a favela Paraisópolis pelo Exército e Força Nacional de Segurança. Ontem, ao jornal "O Estado de S. Paulo" a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, defendeu a ideia de que forças federais ocupem a maior favela de SP da mesma forma que fez no Complexo do Alemão, no Rio.
Inicialmente, o governo está disposto a oferecer vagas em quatro presídios federais e a formar força-tarefa com as polícias federais e estaduais.
Um dos primeiros bandidos que devem ser transferidos é Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, chefe da facção PCC em Paraisópolis e acusado de mandar matar ao menos seis policiais.
A preocupação do governo Dilma é desmobilizar a organização criminosa PCC, que tem ramificações fora de SP.
BATE-BOCA
A elaboração de um plano integrado já havia sido anunciada pelo ministro da Justiça, que disse, porém, que o governo paulista estava interessado só em verba para financiar projetos pontuais.
O tema virou motivo de bate-boca entre os dois governos. Ferreira Pinto disse que a União não sabia nada de facção criminosa e que o Estado não precisava dos presídios nem de tropas federais.
Ele acusou, ainda, Cardozo de "faltar com a verdade" ao dizer que havia oferecido ajuda ao governo de SP.
Em nota, o Ministério da Justiça disse que ofereceu apoio "em diversas oportunidades" e rebateu a tese defendida por Ferreira Pinto e Alckmin de que a violência em São Paulo decorria da entrada de armas e drogas no Estado por falta de fiscalização nas fronteiras. "É inaceitável, além de inverídica", disse.
Ontem, Alckmin disse a Dilma que desaprovou a atitude de Cardozo, mas que reconheceu também "excesso" por parte de Ferreira Pinto.
Por telefone, Dilma sugeriu a Alckmin que fosse traçado um plano integrado de segurança pública. Segundo a ministra Helena Chagas (Comunicação Social), o governador aceitou a oferta.
Detalhes da ação conjunta serão definidos na próxima semana, quando o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) vai se reunir com representantes do governo de SP.
Entre as ações que serão tratadas está a ocupação de áreas críticas como a favela Paraisópolis pelo Exército e Força Nacional de Segurança. Ontem, ao jornal "O Estado de S. Paulo" a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, defendeu a ideia de que forças federais ocupem a maior favela de SP da mesma forma que fez no Complexo do Alemão, no Rio.
Inicialmente, o governo está disposto a oferecer vagas em quatro presídios federais e a formar força-tarefa com as polícias federais e estaduais.
Um dos primeiros bandidos que devem ser transferidos é Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, chefe da facção PCC em Paraisópolis e acusado de mandar matar ao menos seis policiais.
A preocupação do governo Dilma é desmobilizar a organização criminosa PCC, que tem ramificações fora de SP.
BATE-BOCA
A elaboração de um plano integrado já havia sido anunciada pelo ministro da Justiça, que disse, porém, que o governo paulista estava interessado só em verba para financiar projetos pontuais.
O tema virou motivo de bate-boca entre os dois governos. Ferreira Pinto disse que a União não sabia nada de facção criminosa e que o Estado não precisava dos presídios nem de tropas federais.
Ele acusou, ainda, Cardozo de "faltar com a verdade" ao dizer que havia oferecido ajuda ao governo de SP.
Em nota, o Ministério da Justiça disse que ofereceu apoio "em diversas oportunidades" e rebateu a tese defendida por Ferreira Pinto e Alckmin de que a violência em São Paulo decorria da entrada de armas e drogas no Estado por falta de fiscalização nas fronteiras. "É inaceitável, além de inverídica", disse.
Ontem, Alckmin disse a Dilma que desaprovou a atitude de Cardozo, mas que reconheceu também "excesso" por parte de Ferreira Pinto.
Colaborou NATUZA NERY, de Brasília
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