Zero Hora: 26/12/2012
Ontem faleceu, aos 105 anos (a mesma idade em que se foi o grande
Niemeyer), dona Canô, cuja trajetória acompanhávamos como se fosse a
avozinha do Brasil. De onde surgiu sua fama? Nem ela sabia explicar:
“Apenas fiquei conhecida por causa de meus dois filhos que nunca se
esqueceram de onde vieram nem da mãe que têm”. O curioso é que ninguém
nunca ouviu falar sobre a mãe de Gilberto Gil ou de Gal Costa, pra citar
os outros “doces bárbaros”. O que é que dona Canô tinha, afinal?
Sem possuir a exuberância dos filhos cantores, dona Canô era, ao
contrário, fisicamente minguada, discreta, pequena em estatura. Porém
exalava força moral, trabalhava por benfeitorias para sua Santo Amaro e
era uma mulher posicionada politicamente, gostassem ou não de suas
escolhas – foi íntima amiga do senador Antonio Carlos Magalhães e depois
se rendeu a Lula, defendendo-o publicamente, como no episódio em que
rebateu as críticas feitas por Caetano, quando esse declarou apoio a
Marina Silva dizendo que ela sabia falar, ao contrário do líder petista,
que era grosseiro. “Caetano é só um cantor, não precisa ofender nem
procurar confusão”, declarou ela na época. Arretada, a velhinha.
Dona Canô era uma mulher de personalidade forte, mas de hábitos
simples. Aliás, como Niemeyer. Lógico que o arquiteto está eternizado
pela importância incomparável à da baiana que ficou conhecida apenas por
ter dado à luz dois filhos talentosos, mas ele compartilhava com ela ao
menos uma afinidade: a visão de mundo extremamente humanista e sem
afetações.
Quem sabe não está aí o segredo da longevidade? Na surrada lista de
atitudes para atingirmos os cem anos (a saber: não fumar, não beber,
praticar exercícios, seguir uma dieta balanceada, manter um hobby,
conviver mais com os amigos e demais resoluções que, aposto, você pautou
para 2013), talvez esteja na hora de incluirmos os cuidados com nosso
estado de espírito a fim de envelhecermos com juventude na alma.
Morrer aos 80, que não faz muito tempo parecia pra lá de razoável,
está ganhando ares de infanticídio. Dona Canô, Niemeyer e mais uma penca
de centenários anônimos têm mostrado que é possível esticar essa corda e
seguir contribuindo para a sociedade. O segredo?
Nem tanto as regrinhas de manual, e sim a consciência de que gostar
do que se faz, posicionar-se frente às questões cotidianas, enxergar a
beleza das coisas prosaicas, se despreocupar diante do que não temos
controle, investir nos afetos verdadeiros, cercar-se de gente do bem,
amar sem restrições, deixar a vaidade de lado e valorizar aquilo que
traz substância à nossa existência formam um conjunto de medidas tão
eficaz quanto apagar o cigarro ou comer mais espinafre.
Em tempos de balanço e planos para o futuro, fica a dica da dona
Canô, em frase dita por ela em seu último aniversário: “Viver é muito
bom, mas saber viver é muito melhor”.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
As árvores e o canudinho - Fernando Reinach
ESTADO DE SÃO PAULO - CIÊNCIA
Tomar suco com canudinho tem mais a ver com o risco de desaparecimento das florestas do que eu imaginava. Com o aquecimento global, a distribuição e a quantidade de chuvas está mudando. Chove menos nas florestas e de maneira menos regular. Um estudo feito em florestas localizadas em 81 locais, distribuídos por todo o planeta, demonstrou que as árvores não estão preparadas para suportar essa mudança.
Quando tomamos suco com um canudinho, chupamos o líquido, que sobe pelo canudo e cai na nossa boca. O que as bochechas fazem é provocar uma pressão negativa (menor que a pressão atmosférica) no interior do canudo, o que faz o líquido subir.
As árvores usam um processo parecido para levar água do solo até a copa. Milhares de minúsculos canudos, chamados de dutos do xilema, transportam água e nutrientes tronco acima. Esses pequenos dutos podem ser observados em qualquer pedaço de madeira: são os veios que correm ao longo do comprimento do tronco. Nas plantas, o papel da bochecha, de criar a pressão negativa que faz a água subir, é exercido pelas folhas, onde os dutos do xilema se ramificam e terminam. No interior das folhas, a água evapora, e é o processo de evaporação que cria a pressão negativa que chupa a água das raízes até a copa das árvores. Se falta água, as folhas podem fechar pequenas aberturas que existem em sua superfície (os estômatos), diminuindo a evaporação e economizando água. Quando a água é abundante, os estômatos se abrem, chupando mais água e transportando mais nutrientes, o que permite que a fotossíntese funcione a toda velocidade.
O problema é quando entra ar no canudo. Se você ainda não viveu a experiência de tomar suco com um canudo furado, vale a pena tentar. O ar que entra pelo furo desfaz a coluna de líquido dentro do canudo, destruindo a pressão negativa. Você chupa muito e pouco suco chega na boca. Exatamente a mesma coisa ocorre com as árvores quando falta água por muito tempo. As folhas, com sede, criam uma pressão negativa enorme, o que faz com que se formem bolhas de ar nos dutos do xilema, paralisando o transporte de água - é a chamada embolia do xilema. Se esse processo ocorre em poucos dutos, a árvore se recupera, mas se mais da metade dos dutos sofre embolia a árvore seca e pode morrer.
Ao longo dos últimos anos, os cientistas vêm medindo, em centenas de tipos de árvores, a pressão negativa máxima no interior dos dutos do xilema. Como era de se esperar, em climas em que existe pouca água no solo, como nas plantações de oliveiras na Espanha, as árvores estão adaptadas para manter uma pressão negativa muito grande de modo a chupar a pouca água que existe no fundo da terra. Já nas florestas tropicais, as árvores funcionam bem com uma pressão muito mais baixa, pois a água é abundante. A pressão em que uma árvore opera é uma característica da espécie.
Mais recentemente, outro tipo de medida também tem sido feita. É a medida da pressão negativa em que 50% dos dutos do xilema de uma dada árvore se enche de ar. Esse é o ponto a partir do qual a possibilidade de recuperação da árvore é muito pequena. Para fazer isso é necessário deixar de molhar o solo e ir medindo a pressão no interior do xilema à medida que as folhas vão aumentando a pressão desesperadas por água. Se a pressão aumenta muito, começa a ocorrer o acúmulo de ar nos canudinhos do xilema. Quando 50% deles estão com ar, a pressão é registrada. Essa é a pressão em que ocorre a embolia irreversível dos dutos do xilema, também uma característica de cada espécie.
Agora os cientistas compilaram os dados para 226 espécies de árvores, localizadas em 81 regiões, espalhadas por todos os ecossistemas do planeta. Foi comparada a pressão negativa em que cada árvore opera no seu cotidiano e a pressão negativa máxima suportada pela espécie, aquela em que 50% do sistema colapsa (embolia irreversível).
Quando esses dados foram analisados, o resultado deixou os cientistas impressionados e assustados.
Os dados demonstram que em praticamente todas as espécies de árvores, qualquer que seja seu habitat - seja na floresta amazônica, seja nos semidesertos -, a diferença entre a pressão que as árvores usam para obter água nas condições normais é muito próxima da pressão em que elas sofrem embolia irreversível. Em outras palavras, todas as árvores, de todas as florestas, operam sempre muito perto do limite tolerado por cada espécie. Isso quer dizer que mesmo uma árvore localizada na Amazônia, onde chove muito e a terra está sempre úmida, vive no limite de sua capacidade de capturar água. Se a quantidade de água for um pouco reduzida, ela corre o risco de embolia irreversível. E o mesmo ocorre com uma árvore do Cerrado. Ela opera com uma pressão mais alta, mas também próxima ao limite em que ocorre a embolia irreversível.
Esse resultado inesperado assustou os cientistas, pois demonstra de maneira cabal que as florestas de todo o globo são extremamente suscetíveis a pequenas diminuições de água. Basta o aquecimento global diminuir um pouco a quantidade de água e as árvores de todos os ecossistemas podem colapsar vítimas de embolia em seu xilema. O resultado também explica porque em diferentes regiões do planeta, onde o aquecimento global já reduziu as chuvas, muitas florestas estão morrendo rapidamente.
A conclusão é que as árvores vivem perigosamente. Em todas as florestas, elas vivem próximo do limite de sobrevivência. Ao alterarmos o regime de chuvas estamos colocando em risco a sobrevivência de todas as florestas. E sem árvores não haverá suco para ser tomado com canudinho.
* BIÓLOGO
MAIS INFORMAÇÕES: GLOBAL CONVERGENCE IN THE VULNERABILITY OF FORESTS TO DROUGHT. NATURE VOL. 491 PAG. 752 2012
Marina Colasanti - O Esqueleto número 9
Sempre soube que os antigos romanos jogavam as crianças defeituosas do alto do Rupe Tarpea
Marina Colasanti
Estado de Minas: 27/12/2012
Consumida a ceia, abertos os embrulhos dos presentes, jogados fora papéis e fitas que já não servem, resta ainda no espírito um resíduo de festa, um sentimento, amoroso voltado para o próximo. Que idade tem esse sentimento, que antes chamávamos caridade, depois chamamos amor ao próximo, e agora gostamos de chamar compaixão?
Dez mil anos. Foi o que se estabeleceu em 1980, quando o achado arqueológico do esqueleto de um adolescente atacado de nanismo permitiu dizer que já nos primórdios da espécie humana uma criança deforme era aceita pela comunidade. E agora, pela imprensa, nos chega um repique. O Esqueleto nº 9, escavado em um sítio arqueológico no Norte do Vietnã, foi encontrado em posição fetal, e a posição, aliada aos evidentes sinais de uma doença debilitante, nos revela que aquela pessoa não poderia desempenhar-se sozinha, tendo vivido, ainda assim, até os 10 anos. Alguém cuidava dela. O nº 9 tem 4 mil anos.
Eu sempre soube que os antigos romanos jogavam as crianças defeituosas %u2013 a palavra utilizada era essa, ainda não havíamos chegado ao politicamente correto %u2013 do alto de um rochedo chamado Rupe Tarpea. Muitas vezes, na infância, me contaram essa tradição histórica apontando para a Rupe. Não pretendia ser uma ameaça, mas toda criança se acha cheia de defeitos e eu estremecia, considerando uma sorte não ter nascido em tempos tão antigos.
A compaixão, que talvez seja até anterior ao adolescente com nanismo, encontrou solo pouco fértil para se espalhar. Fincou raízes, mas não fez floresta. Dez mil anos depois, continua sendo um sentimento individual. As massas não são compassivas, jamais o foram.
Não é exatamente compaixão pelas 20 crianças mortas em Newtown que está levando a sociedade americana a se manifestar contra a livre venda de armas. É medo pelo que possa acontecer a suas próprias crianças se medidas não forem tomadas. É desconforto diante do retrato de si mesma que emerge depois de mais esse massacre. A compaixão inicial desembocou nos interesses pessoais.
Compassivo foi Francisco de Assis, mas não o seu entorno. Os jovens que o seguiram %u2013 nobres e populares %u2013 descobriram a compaixão por meio de suas palavras e de seu exemplo. E embora só fizessem o bem, embora nada tivessem de seu e vivessem pobremente, embora cuidassem dos doentes e dos leprosos de quem ninguém queria se aproximar, foram frequentemente escorraçados, surrados e tomados por loucos. Já fazia um bom tempo que Cristo havia dito para amar ao próximo como a si mesmo, e ainda tão poucos tinham ouvido.
Não há de ter sido compaixão social que manteve vivo até os 10 anos o menino paralítico do Vietnã. Num período de sobrevivência extremamente dura, dependente da força física, parece pouco provável que uma tribo inteira, se de tribo se tratava, zelasse pela vida de alguém que dava trabalho constante e nada podia produzir para a coletividade. Mais fácil é acreditar no amor da mãe ou de quem por ela, o amor de uma pessoa que tomou a si o encargo de cuidar daquela criança e mantê-la viva, e que a protegeu até onde pôde.
Lorna Tylley, a arqueóloga que escavou o Esqueleto nº 9, vê nele uma demonstração de tolerância e cooperação na sociedade. A mim, que nada sei daquela remota gente, parece apenas um sinal de que já existia o amor.
Dez mil anos. Foi o que se estabeleceu em 1980, quando o achado arqueológico do esqueleto de um adolescente atacado de nanismo permitiu dizer que já nos primórdios da espécie humana uma criança deforme era aceita pela comunidade. E agora, pela imprensa, nos chega um repique. O Esqueleto nº 9, escavado em um sítio arqueológico no Norte do Vietnã, foi encontrado em posição fetal, e a posição, aliada aos evidentes sinais de uma doença debilitante, nos revela que aquela pessoa não poderia desempenhar-se sozinha, tendo vivido, ainda assim, até os 10 anos. Alguém cuidava dela. O nº 9 tem 4 mil anos.
Eu sempre soube que os antigos romanos jogavam as crianças defeituosas %u2013 a palavra utilizada era essa, ainda não havíamos chegado ao politicamente correto %u2013 do alto de um rochedo chamado Rupe Tarpea. Muitas vezes, na infância, me contaram essa tradição histórica apontando para a Rupe. Não pretendia ser uma ameaça, mas toda criança se acha cheia de defeitos e eu estremecia, considerando uma sorte não ter nascido em tempos tão antigos.
A compaixão, que talvez seja até anterior ao adolescente com nanismo, encontrou solo pouco fértil para se espalhar. Fincou raízes, mas não fez floresta. Dez mil anos depois, continua sendo um sentimento individual. As massas não são compassivas, jamais o foram.
Não é exatamente compaixão pelas 20 crianças mortas em Newtown que está levando a sociedade americana a se manifestar contra a livre venda de armas. É medo pelo que possa acontecer a suas próprias crianças se medidas não forem tomadas. É desconforto diante do retrato de si mesma que emerge depois de mais esse massacre. A compaixão inicial desembocou nos interesses pessoais.
Compassivo foi Francisco de Assis, mas não o seu entorno. Os jovens que o seguiram %u2013 nobres e populares %u2013 descobriram a compaixão por meio de suas palavras e de seu exemplo. E embora só fizessem o bem, embora nada tivessem de seu e vivessem pobremente, embora cuidassem dos doentes e dos leprosos de quem ninguém queria se aproximar, foram frequentemente escorraçados, surrados e tomados por loucos. Já fazia um bom tempo que Cristo havia dito para amar ao próximo como a si mesmo, e ainda tão poucos tinham ouvido.
Não há de ter sido compaixão social que manteve vivo até os 10 anos o menino paralítico do Vietnã. Num período de sobrevivência extremamente dura, dependente da força física, parece pouco provável que uma tribo inteira, se de tribo se tratava, zelasse pela vida de alguém que dava trabalho constante e nada podia produzir para a coletividade. Mais fácil é acreditar no amor da mãe ou de quem por ela, o amor de uma pessoa que tomou a si o encargo de cuidar daquela criança e mantê-la viva, e que a protegeu até onde pôde.
Lorna Tylley, a arqueóloga que escavou o Esqueleto nº 9, vê nele uma demonstração de tolerância e cooperação na sociedade. A mim, que nada sei daquela remota gente, parece apenas um sinal de que já existia o amor.
Tereza Cruvinel - Custos do impasse
Não é a primeira vez que o ano acaba sem que o Orçamento tenha sido votado, mas isso nunca foi algo bom ou indiferente para o Executivo. Então, é preciso modificar o ritual de apreciação de vetos. O atual é impraticável
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 27/12/2012
Por mais que o governo e seus líderes no Congresso minimizem as consequências do adiamento da votação do Orçamento de 2013 para fevereiro, a administração pública, que tem como cliente a sociedade, enfrenta perdas e danos quando entra em um novo ano fiscal com limitações para gastar. Os custos do impasse recomendam aos dois poderes a busca de uma alternativa para a apreciação dos vetos, evitando tais situações. Ainda que seja preciso alterar a Constituição, pois o ritual nela previsto não condiz com a vida real do Congresso.
Não é a primeira vez que o ano acaba sem que o Orçamento tenha sido votado, mas isso nunca foi algo bom ou indiferente para o Executivo. O governo começa o ano fiscal autorizado a gastar apenas 1/12 do montante previsto, como informado, mas essa fração é do orçamento de custeio, que envolve gastos com a máquina, funcionalismo, aposentadorias e demais despesas correntes. Da rubrica de investimento, nada pode ser empenhado. E, com isso, nada pode ser licitado, comprado ou contratado. Quando a prioridade do governo (e de seu cliente, a sociedade) é a retomada do crescimento econômico, a perda de um ou dois meses na execução do orçamento de investimentos é nefasta. Com a burocracia que temos, a perda de tempo é ampliada, prejudicando processos e projetos, especialmente se forem de infraestrutura, como os do PAC 2. Um atenuante virá com a medida provisória anunciada pelo relator da lei orçamentária, senador Romero Jucá (PMDB-RR), liberando recursos dos restos a pagar de 2012. Mas esses restos também são consequência do atraso na execução orçamentária. Indicam que alguns órgãos não conseguiram gastar seu orçamento de investimentos dentro do ano fiscal.
E por que isso está acontecendo, apesar da vasta maioria parlamentar do governo? Por causa de um emaranhado de problemas, mas fiquemos na causa derradeira. O Orçamento não foi votado antes do Natal porque o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux concedeu liminar pedida por representantes dos estados produtores (Rio de Janeiro e Espírito Santo) de petróleo contra a apreciação dos vetos da presidente Dilma à Lei dos Royalties. Se mantidos, os demais estados não teriam participação nos ganhos decorrentes de contratos de exploração assinados. Ganhariam apenas sobre contratos derivados de campos a serem ainda licitados. Fux acolheu o argumento de que seria inconstitucional a votação em regime de urgência, passando por cima de outros 3 mil vetos acumulados. E de fato a manobra violaria o rito constitucional. Tentaram votá-los num pacote, mas perceberam que levariam outra mandiocada do Supremo, por não estarem cumprindo o rito, que prevê a formação de uma comissão especial e uma relatoria, afora o prazo de 30 dias após a aposição do veto. Isso é impraticável. Como Fux determinara que nada mais fosse votado antes da faxina dos vetos, o Orçamento sobrou. Quando ele percebeu o alcance de sua liminar, era tarde. Não havia mais tempo nem quórum.
Então, é preciso criar um novo rito. O Congresso acumula vetos porque a regra atual é impraticável. Há notícias de que o governo pensa em propor uma emenda constitucional, estabelecendo que, passado certo prazo (devia ser maior que 30 dias) e não tendo o Congresso apreciado os vetos, estarão eles automaticamente mantidos. É algo nessa linha que precisa ser pensado.
Mas outros problemas entraram nesse imbróglio. O último deles, a ameaça da oposição de contestar uma aprovação da peça orçamentária pela comissão representativa do Congresso no recesso. Como a moda é judicializar a política, pedindo arbitragem do STF nos impasses, a oposição acabaria fazendo isso e talvez ganhasse. Sensatamente, os governistas desistiram. Uma anulação da votação, em tempo de conflito entre os dois poderes, seria ainda pior.
Mas, na origem, está o conflito federativo, que tem nos royalties uma de suas faces. Os estados travam ainda a guerra fiscal do ICMS, brigam entre si pela partilha dos recursos do FPE e com a União por conta da rolagem das dívidas (questão parcialmente resolvida dias atrás, com a mudança do indexador) e das perdas com as desonerações federais, entre outras pendengas. Essa é uma questão que certamente merecerá atenção especial da presidente da República no ano que vem.
Outras virão
As críticas ao Judiciário feitas em artigo pelo advogado e ex- ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos devem destampar uma espécie de panela de pressão. Outros juristas têm dito reservadamente coisas parecidas, mas alegam que só vão falar quando estiver mais distante, na poeira do tempo, o julgamento do mensalão. Não querem que suas considerações, de ordem doutrinária, sejam confundidas com defesa de condenados tão estigmatizados perante a opinião pública.
Dona Canô
Raramente alguém sem um papel na vida pública nacional, embora atuante na sua comunidade, tornou-se tão conhecida e amada como dona Canô. Ela deu ao Brasil dois grandes artistas, Caetano e Bethânia, mas ensinou muito com frases simples como esta: “Viver é bom, mas saber viver é bem melhor”.
Não é a primeira vez que o ano acaba sem que o Orçamento tenha sido votado, mas isso nunca foi algo bom ou indiferente para o Executivo. O governo começa o ano fiscal autorizado a gastar apenas 1/12 do montante previsto, como informado, mas essa fração é do orçamento de custeio, que envolve gastos com a máquina, funcionalismo, aposentadorias e demais despesas correntes. Da rubrica de investimento, nada pode ser empenhado. E, com isso, nada pode ser licitado, comprado ou contratado. Quando a prioridade do governo (e de seu cliente, a sociedade) é a retomada do crescimento econômico, a perda de um ou dois meses na execução do orçamento de investimentos é nefasta. Com a burocracia que temos, a perda de tempo é ampliada, prejudicando processos e projetos, especialmente se forem de infraestrutura, como os do PAC 2. Um atenuante virá com a medida provisória anunciada pelo relator da lei orçamentária, senador Romero Jucá (PMDB-RR), liberando recursos dos restos a pagar de 2012. Mas esses restos também são consequência do atraso na execução orçamentária. Indicam que alguns órgãos não conseguiram gastar seu orçamento de investimentos dentro do ano fiscal.
E por que isso está acontecendo, apesar da vasta maioria parlamentar do governo? Por causa de um emaranhado de problemas, mas fiquemos na causa derradeira. O Orçamento não foi votado antes do Natal porque o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux concedeu liminar pedida por representantes dos estados produtores (Rio de Janeiro e Espírito Santo) de petróleo contra a apreciação dos vetos da presidente Dilma à Lei dos Royalties. Se mantidos, os demais estados não teriam participação nos ganhos decorrentes de contratos de exploração assinados. Ganhariam apenas sobre contratos derivados de campos a serem ainda licitados. Fux acolheu o argumento de que seria inconstitucional a votação em regime de urgência, passando por cima de outros 3 mil vetos acumulados. E de fato a manobra violaria o rito constitucional. Tentaram votá-los num pacote, mas perceberam que levariam outra mandiocada do Supremo, por não estarem cumprindo o rito, que prevê a formação de uma comissão especial e uma relatoria, afora o prazo de 30 dias após a aposição do veto. Isso é impraticável. Como Fux determinara que nada mais fosse votado antes da faxina dos vetos, o Orçamento sobrou. Quando ele percebeu o alcance de sua liminar, era tarde. Não havia mais tempo nem quórum.
Então, é preciso criar um novo rito. O Congresso acumula vetos porque a regra atual é impraticável. Há notícias de que o governo pensa em propor uma emenda constitucional, estabelecendo que, passado certo prazo (devia ser maior que 30 dias) e não tendo o Congresso apreciado os vetos, estarão eles automaticamente mantidos. É algo nessa linha que precisa ser pensado.
Mas outros problemas entraram nesse imbróglio. O último deles, a ameaça da oposição de contestar uma aprovação da peça orçamentária pela comissão representativa do Congresso no recesso. Como a moda é judicializar a política, pedindo arbitragem do STF nos impasses, a oposição acabaria fazendo isso e talvez ganhasse. Sensatamente, os governistas desistiram. Uma anulação da votação, em tempo de conflito entre os dois poderes, seria ainda pior.
Mas, na origem, está o conflito federativo, que tem nos royalties uma de suas faces. Os estados travam ainda a guerra fiscal do ICMS, brigam entre si pela partilha dos recursos do FPE e com a União por conta da rolagem das dívidas (questão parcialmente resolvida dias atrás, com a mudança do indexador) e das perdas com as desonerações federais, entre outras pendengas. Essa é uma questão que certamente merecerá atenção especial da presidente da República no ano que vem.
Outras virão
As críticas ao Judiciário feitas em artigo pelo advogado e ex- ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos devem destampar uma espécie de panela de pressão. Outros juristas têm dito reservadamente coisas parecidas, mas alegam que só vão falar quando estiver mais distante, na poeira do tempo, o julgamento do mensalão. Não querem que suas considerações, de ordem doutrinária, sejam confundidas com defesa de condenados tão estigmatizados perante a opinião pública.
Dona Canô
Raramente alguém sem um papel na vida pública nacional, embora atuante na sua comunidade, tornou-se tão conhecida e amada como dona Canô. Ela deu ao Brasil dois grandes artistas, Caetano e Bethânia, mas ensinou muito com frases simples como esta: “Viver é bom, mas saber viver é bem melhor”.
Esperança de um futuro mais igualitário - Max Milliano Melo
Aos poucos, a população afrodescendente conquista importantes espaços na sociedade brasileira e de outros países. Contudo, muitas distorções precisam ser superadas
Max Milliano Melo
Estado de Minas: 27/12/2012
Brasília – Se alguém, por um motivo qualquer, tivesse passado os últimos 10 anos dormindo e acordasse no fim de 2012, certamente teria uma surpresa com o destaque dado a personalidades negras no país e no mundo. Essa pessoa veria o rosto de Barack Obama estampado na capa da revista Time, e descobriria que o homem de raízes africanas, eleito personalidade do ano pela publicação, comanda a mais poderosa nação do mundo. No Brasil, ela testemunharia os elogios frequentes feitos nas ruas e nas redes sociais a Joaquim Barbosa, e saberia que um afrodescendente preside hoje a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal (STF).
Mesmo que Obama e Barbosa possam ainda ser considerados casos excepcionais, suas histórias estão conectadas a um movimento real – ainda que lento – de ascensão dos negros em vários países. Aos poucos, eles deixam de ser importantes apenas nas artes e nos esportes (áreas às quais pareciam limitados pelo preconceito social) e passam a influenciar os destinos da economia, da política e do pensamento mundial. Esse processo dá esperanças de que uma sociedade mais igualitária esteja se formando e, a curto prazo, tem um impacto direto na autoestima dessa população, que passa a não ter mais vergonha de assumir sua origem.
No Brasil, esse fenômeno é nítido. “Durante muito tempo, persistiu o absurdo de pessoas com a tez negra ou com os traços afros se declararem como brancas”, afirma Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade de Brasília. “À medida que a situação social melhora, mais pessoas assumem sua identidade”, completa. A fala de Inocêncio é amparada por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último censo, de 2010, pela primeira vez na história, o percentual de pessoas que se declararam de cor preta ou parda (50,7%) foi maior do que o de indivíduos que se consideravam brancos (47%).
O estudo Dinâmica demográfica da população negra brasileira, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que esse fenômeno pode ser em parte explicado pela maior fecundidade das mulheres negras em relação às brancas. Contudo, ressalta a pesquisa, é fato que houve um aumento do número de pessoas que agora se declaram pardas e que antes preferiam dizer que eram brancas.
Desafios Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Embora 75% das pessoas que ingressaram na classe média nos últimos anos sejam negras, segundo dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, essa parcela da população ainda ganha menos, enfrenta maior desemprego e tem menor escolaridade. Ainda segundo o Censo 2010, os rendimentos mensais médios de brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) são quase o dobro dos de pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) e indígenas (R$ 735).
A realidade ainda desigual, reproduzida em maior ou menor escala em diversas outras nações, justifica a decisão das Nações Unidas de declarar os próximos 10 anos a Década das Pessoas com Ascendência Africana. Com a iniciativa, a ONU espera acelerar o processo de construção de uma sociedade mais igualitária e ajudar no reconhecimento internacional da importância do continente africano na constituição do mundo contemporâneo.
Para o antropólogo Milton Guran, pesquisador do Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi) da Universidade Federal Fluminense (UFF), a África vem tendo, aos poucos, esse destaque. “A presença da África no mundo, em todos os campos, será cada vez maior. O mundo ocidental não existiria sem a incomensurável contribuição dos africanos, tanto no campo econômico como nos planos espirituais e culturais”, afirma. “O reconhecimento da África como protagonista maior da construção do mundo ocidental é um processo irreversível”, completa o professor.
História Assim, a visão eurocêntrica da história, ou seja, contada a partir do ponto de vista europeu, ganha contornos mais diversos, seja fora ou dentro do Brasil. “O país é tão negro quanto indígena e europeu. Como se diz à exaustão, é essa multiplicidade de raízes que faz a nossa força, a nossa singularidade como nação”, afirma Guran. Essa diversidade vem deixando de ser mero discurso para virar instrumento de transformação social do Brasil. “Nas últimas décadas, temos assistido a um aumento progressivo da consciência e da ação reivindicatória dos afrodescendentes e dos povos indígenas, com um apoio cada vez mais amplo do conjunto da sociedade, apesar da resistência de setores mais conservadores.”
Independentemente da cor da pele ou das origens de seus antepassados, reescrever a história do país e do mundo de maneira mais democrática é um processo que interessa a todos. “A reconstrução de uma memória coletiva – não só dos afrodescendentes diretos, mas de toda a nação – deve induzir toda a sociedade a reavaliar seus valores e preconceitos. Repensar a história da escravidão e das suas consequências é repensar toda a história do Brasil, nossa trajetória como nação”, afirma Guran, que é o representante brasileiro no Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “Hoje, temos uma memória nacional que não se sustenta completamente por subdimensionar ou mesmo deixar de lado a força positiva da contribuição dos africanos e de seus descendentes para a construção do país e da nossa identidade nacional”, completa.
Assim, não faz sentido valorizar tantos aspectos ricos da cultura brasileira, como a música, a dança, a culinária, a agricultura e a engenharia sem valorizar aqueles que contribuíram de maneira direta para o desenvolvimento dessas áreas. “Mesmo com toda a violência que foi a escravidão, é inegável que ela produziu uma troca sem precedentes entre os diversos povos envolvidos nesse processo”, afirma Irina Bokova, diretora-geral da Unesco. “Assim, é preciso dar um lugar mais positivo e respeitoso para o continente africano.”
Mesmo que Obama e Barbosa possam ainda ser considerados casos excepcionais, suas histórias estão conectadas a um movimento real – ainda que lento – de ascensão dos negros em vários países. Aos poucos, eles deixam de ser importantes apenas nas artes e nos esportes (áreas às quais pareciam limitados pelo preconceito social) e passam a influenciar os destinos da economia, da política e do pensamento mundial. Esse processo dá esperanças de que uma sociedade mais igualitária esteja se formando e, a curto prazo, tem um impacto direto na autoestima dessa população, que passa a não ter mais vergonha de assumir sua origem.
No Brasil, esse fenômeno é nítido. “Durante muito tempo, persistiu o absurdo de pessoas com a tez negra ou com os traços afros se declararem como brancas”, afirma Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade de Brasília. “À medida que a situação social melhora, mais pessoas assumem sua identidade”, completa. A fala de Inocêncio é amparada por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último censo, de 2010, pela primeira vez na história, o percentual de pessoas que se declararam de cor preta ou parda (50,7%) foi maior do que o de indivíduos que se consideravam brancos (47%).
O estudo Dinâmica demográfica da população negra brasileira, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que esse fenômeno pode ser em parte explicado pela maior fecundidade das mulheres negras em relação às brancas. Contudo, ressalta a pesquisa, é fato que houve um aumento do número de pessoas que agora se declaram pardas e que antes preferiam dizer que eram brancas.
Desafios Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Embora 75% das pessoas que ingressaram na classe média nos últimos anos sejam negras, segundo dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, essa parcela da população ainda ganha menos, enfrenta maior desemprego e tem menor escolaridade. Ainda segundo o Censo 2010, os rendimentos mensais médios de brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) são quase o dobro dos de pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) e indígenas (R$ 735).
A realidade ainda desigual, reproduzida em maior ou menor escala em diversas outras nações, justifica a decisão das Nações Unidas de declarar os próximos 10 anos a Década das Pessoas com Ascendência Africana. Com a iniciativa, a ONU espera acelerar o processo de construção de uma sociedade mais igualitária e ajudar no reconhecimento internacional da importância do continente africano na constituição do mundo contemporâneo.
Para o antropólogo Milton Guran, pesquisador do Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi) da Universidade Federal Fluminense (UFF), a África vem tendo, aos poucos, esse destaque. “A presença da África no mundo, em todos os campos, será cada vez maior. O mundo ocidental não existiria sem a incomensurável contribuição dos africanos, tanto no campo econômico como nos planos espirituais e culturais”, afirma. “O reconhecimento da África como protagonista maior da construção do mundo ocidental é um processo irreversível”, completa o professor.
História Assim, a visão eurocêntrica da história, ou seja, contada a partir do ponto de vista europeu, ganha contornos mais diversos, seja fora ou dentro do Brasil. “O país é tão negro quanto indígena e europeu. Como se diz à exaustão, é essa multiplicidade de raízes que faz a nossa força, a nossa singularidade como nação”, afirma Guran. Essa diversidade vem deixando de ser mero discurso para virar instrumento de transformação social do Brasil. “Nas últimas décadas, temos assistido a um aumento progressivo da consciência e da ação reivindicatória dos afrodescendentes e dos povos indígenas, com um apoio cada vez mais amplo do conjunto da sociedade, apesar da resistência de setores mais conservadores.”
Independentemente da cor da pele ou das origens de seus antepassados, reescrever a história do país e do mundo de maneira mais democrática é um processo que interessa a todos. “A reconstrução de uma memória coletiva – não só dos afrodescendentes diretos, mas de toda a nação – deve induzir toda a sociedade a reavaliar seus valores e preconceitos. Repensar a história da escravidão e das suas consequências é repensar toda a história do Brasil, nossa trajetória como nação”, afirma Guran, que é o representante brasileiro no Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “Hoje, temos uma memória nacional que não se sustenta completamente por subdimensionar ou mesmo deixar de lado a força positiva da contribuição dos africanos e de seus descendentes para a construção do país e da nossa identidade nacional”, completa.
Assim, não faz sentido valorizar tantos aspectos ricos da cultura brasileira, como a música, a dança, a culinária, a agricultura e a engenharia sem valorizar aqueles que contribuíram de maneira direta para o desenvolvimento dessas áreas. “Mesmo com toda a violência que foi a escravidão, é inegável que ela produziu uma troca sem precedentes entre os diversos povos envolvidos nesse processo”, afirma Irina Bokova, diretora-geral da Unesco. “Assim, é preciso dar um lugar mais positivo e respeitoso para o continente africano.”
O segundo
Barack Obama, que já havia sido escolhido a personalidade do ano pela Time quando foi eleito presidente dos Estados Unidos pela primeira vez, é a segunda pessoa negra a receber essa homenagem nos 86 anos da publicação.
A outra foi o ativista americano Martin Luther King Jr., assassinado em 1968.
Barack Obama, que já havia sido escolhido a personalidade do ano pela Time quando foi eleito presidente dos Estados Unidos pela primeira vez, é a segunda pessoa negra a receber essa homenagem nos 86 anos da publicação.
A outra foi o ativista americano Martin Luther King Jr., assassinado em 1968.
Quadrinhos
FOLHA DE SÃO PAULO
CHICLETE COM BANANA ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ LAERTE
DAIQUIRI CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA ALLAN SIEBER
MALVADOS ANDRÉ DAHMER
GARFIELD JIM DAVIS
HORA DO CAFÉ
Prazer saudável - Rebeca Ramos
Doenças sexualmente transmissíveis e até metabólicas, como o diabetes, comprometem a libido. Segundo especialista, o transtorno é minimizado com atitudes preventivas, como manter a rotina de exames ginecológicos
“A relação sexual é uma atividade que demanda muita energia. Quando o organismo encontra-se abatido, ele tende a concentrar toda a sua força no combate ao que lhe causa mal. Sendo assim, sobra pouca energia para a atividade sexual”, explica a psicóloga e sexóloga Lorena Torres Noronha. De acordo com o ginecologista Paulo Henrique Cordeiro, as patologias ginecológicas que mais comprometem a resposta sexual são as leucorreias, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a doença inflamatória pélvica (DIP) e a endometriose. “O câncer do aparelho reprodutor feminino pode evoluir com lesões ulceradas, vegetantes, sangrantes, que vão prejudicar a atividade sexual”, descreve.
O diabetes também interfere à medida que a patologia avança, causando queda das defesas imunológicas e abrindo as portas para um quadro de infecções vaginais recorrentes, como a candidíase e a vaginose bacteriana. “É recomendável que a mulher vá ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano, independentemente de ela ter uma vida sexual ativa. É importante lembrar que doenças sexualmente transmissíveis são muito mais agressivas no corpo da mulher”, alerta Lorena. Ela usa o papilomavírus humanos (HPV) como exemplo da complexidade dos efeitos das DSTs no organismo feminino. Embora não cause tanto transtorno no homem, na mulher o HPV pode gerar câncer do colo do útero. “Sendo assim, é indispensável fazer o controle anual para evitar que algo simples se transforme em uma doença grave”, ressalta.
Uma etapa natural do ciclo reprodutivo feminino, a menopausa também influencia no desempenho sexual. Nessa fase, explica Paulo Henrique, ocorre uma diminuição na produção ovariana dos hormônios esteroides, levando a uma perda da libido. Há também redução da produção estrogênica, que pode resultar em desconfortos que também comprometem a relação com o parceiro, como fogacho, sudorese, ressecamento vaginal e dispareunia (dor na relação). “Essas e outras consequências da menopausa podem ser tratadas com a reposição hormonal, que, devidamente instituída e acompanhada, levará a uma melhoria da qualidade de vida”, pondera o ginecologista.
Reação adversa A libido pode ser prejudicada ainda pela ingestão de remédios. De acordo com o ginecologista e sexólogo Gerson Lopes, a maioria dos antidepressivos é danosa à satisfação sexual. “Ele e os remédios para hipertensão, entre outras drogas, podem induzir à disfunção sexual, mas isso deve ser investigado”, observa. O efeito ocorre principalmente porque há uma diminuição do nível de testosterona no organismo da mulher. “A testosterona, que é um hormônio conhecidamente masculino, está altamente ligada à libido feminina. Quando ele está em baixa no organismo, a pessoa tende a apresentar um menor interesse sexual”, explica.
Os quimioterápicos também podem interferir negativamente no desempenho sexual, mas Gerson Lopes observa que os usuários desse tipo de medicamento geralmente estão em uma fase tão delicada da vida que dificilmente pensam em sexo. A hiperprolactina – aumento do hormônio prolactina, responsável, entre outras coisas, pela produção de leite – é outro problema comum que afeta a libido. Nesse caso, ela pode ser tratado com regulagem hormonal.
Para Gerson Lopes, quando o desejo sexual está insatisfatório, é preciso identificar onde está o foco do problema. “Se for doença, é preciso tratá-la, pois o sexo demanda um corpo saudável, mas às vezes não é uma enfermidade. É falta de interesse no parceiro e a mulher fica buscando culpados”, observa.
Estímulos por todo o corpo
Algumas peculiaridades fazem com que a mulher tenha poucas chances de ter orgasmos com a penetração. Isso porque a parte interna da vagina tem pouquíssimos pontos erógenos. Nessas regiões, há maior concentração de terminações nervosas. Sendo estimuladas, produzem maior excitação sexual. Segundo a psicóloga e sexóloga Lorena Torres Noronha, as zonas erógenas estão espalhadas por todo o corpo, sendo que o organismo feminino tem mais áreas que o masculino, principalmente na parte externa do órgão sexual.
“A nuca, o pescoço, os lóbulos da orelha, os mamilos, as coxas, as nádegas são alguns dos pontos”, pontua Lorena. Ela acrescenta que, de um modo geral, os órgãos sexuais são os pontos erógenos mais contundentes, ou seja, capazes de provocar maior excitação sexual. “Identificar quais são essas regiões nas mulheres é algo muito importante para uma relação sexual prazerosa. Contudo, é preciso lembrar que nem sempre o que excita uma mulher vai excitar outra”, pondera.
De acordo com o ginecologista e sexólogo Gerson Lopes, na entrada da vagina está posicionado um músculo chamado bulbo vestibular. Por ser muito sensível, ele promove prazer no início da penetração. “Quando manipulada a parede anterossuperior da vagina, que corresponde ao corpo interno do clitóris, a mulher sente muito prazer e acredita ter encontrado o ponto G, mas não é verdade. Ele não existe”, justifica. É comum, segundo Lopes, que mulheres percam tempo buscando formas de sentir orgasmo e, dessa forma, não aproveitem o prazer que o sexo pode proporcionar.
“O coito é uma das menores chances de a mulher sentir orgasmo. Entretanto, é possível ter muito prazer sem ter orgasmo. Acredito que a mulher tem o direito de buscar seus orgasmos, mas não é uma obrigação”, afirma Lopes. O foco, ele considera, deve estar na qualidade da vida e do sexo e não em uma única sensação. “A relação sexual pode ser muito prazerosa, mesmo não sendo orgástica”, garante. (RR)
Leia amanhã: Quando problemas psicológicos afetam a relação sexual
Rebeca Ramos
Estado de Minas: 27/12/2012
A qualidade de vida de um adulto está intimamente ligada ao prazer. No campo da sexualidade, isso significa que as relações precisam ser saudáveis e agradáveis, independentemente do gênero. Problemas físicos e fisiológicos, no entanto, comprometem essa equação entre as mulheres. E muitas delas, por constrangimento ou desconhecimento, passam anos ou até mesmo a vida toda sem conseguir resolvê-los. Para prevenir os transtornos, os especialistas são enfáticos: é preciso estar sempre em dia com as consultas médicas e cuidar do bem-estar físico.“A relação sexual é uma atividade que demanda muita energia. Quando o organismo encontra-se abatido, ele tende a concentrar toda a sua força no combate ao que lhe causa mal. Sendo assim, sobra pouca energia para a atividade sexual”, explica a psicóloga e sexóloga Lorena Torres Noronha. De acordo com o ginecologista Paulo Henrique Cordeiro, as patologias ginecológicas que mais comprometem a resposta sexual são as leucorreias, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a doença inflamatória pélvica (DIP) e a endometriose. “O câncer do aparelho reprodutor feminino pode evoluir com lesões ulceradas, vegetantes, sangrantes, que vão prejudicar a atividade sexual”, descreve.
O diabetes também interfere à medida que a patologia avança, causando queda das defesas imunológicas e abrindo as portas para um quadro de infecções vaginais recorrentes, como a candidíase e a vaginose bacteriana. “É recomendável que a mulher vá ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano, independentemente de ela ter uma vida sexual ativa. É importante lembrar que doenças sexualmente transmissíveis são muito mais agressivas no corpo da mulher”, alerta Lorena. Ela usa o papilomavírus humanos (HPV) como exemplo da complexidade dos efeitos das DSTs no organismo feminino. Embora não cause tanto transtorno no homem, na mulher o HPV pode gerar câncer do colo do útero. “Sendo assim, é indispensável fazer o controle anual para evitar que algo simples se transforme em uma doença grave”, ressalta.
Uma etapa natural do ciclo reprodutivo feminino, a menopausa também influencia no desempenho sexual. Nessa fase, explica Paulo Henrique, ocorre uma diminuição na produção ovariana dos hormônios esteroides, levando a uma perda da libido. Há também redução da produção estrogênica, que pode resultar em desconfortos que também comprometem a relação com o parceiro, como fogacho, sudorese, ressecamento vaginal e dispareunia (dor na relação). “Essas e outras consequências da menopausa podem ser tratadas com a reposição hormonal, que, devidamente instituída e acompanhada, levará a uma melhoria da qualidade de vida”, pondera o ginecologista.
Reação adversa A libido pode ser prejudicada ainda pela ingestão de remédios. De acordo com o ginecologista e sexólogo Gerson Lopes, a maioria dos antidepressivos é danosa à satisfação sexual. “Ele e os remédios para hipertensão, entre outras drogas, podem induzir à disfunção sexual, mas isso deve ser investigado”, observa. O efeito ocorre principalmente porque há uma diminuição do nível de testosterona no organismo da mulher. “A testosterona, que é um hormônio conhecidamente masculino, está altamente ligada à libido feminina. Quando ele está em baixa no organismo, a pessoa tende a apresentar um menor interesse sexual”, explica.
Os quimioterápicos também podem interferir negativamente no desempenho sexual, mas Gerson Lopes observa que os usuários desse tipo de medicamento geralmente estão em uma fase tão delicada da vida que dificilmente pensam em sexo. A hiperprolactina – aumento do hormônio prolactina, responsável, entre outras coisas, pela produção de leite – é outro problema comum que afeta a libido. Nesse caso, ela pode ser tratado com regulagem hormonal.
Para Gerson Lopes, quando o desejo sexual está insatisfatório, é preciso identificar onde está o foco do problema. “Se for doença, é preciso tratá-la, pois o sexo demanda um corpo saudável, mas às vezes não é uma enfermidade. É falta de interesse no parceiro e a mulher fica buscando culpados”, observa.
Estímulos por todo o corpo
“A nuca, o pescoço, os lóbulos da orelha, os mamilos, as coxas, as nádegas são alguns dos pontos”, pontua Lorena. Ela acrescenta que, de um modo geral, os órgãos sexuais são os pontos erógenos mais contundentes, ou seja, capazes de provocar maior excitação sexual. “Identificar quais são essas regiões nas mulheres é algo muito importante para uma relação sexual prazerosa. Contudo, é preciso lembrar que nem sempre o que excita uma mulher vai excitar outra”, pondera.
De acordo com o ginecologista e sexólogo Gerson Lopes, na entrada da vagina está posicionado um músculo chamado bulbo vestibular. Por ser muito sensível, ele promove prazer no início da penetração. “Quando manipulada a parede anterossuperior da vagina, que corresponde ao corpo interno do clitóris, a mulher sente muito prazer e acredita ter encontrado o ponto G, mas não é verdade. Ele não existe”, justifica. É comum, segundo Lopes, que mulheres percam tempo buscando formas de sentir orgasmo e, dessa forma, não aproveitem o prazer que o sexo pode proporcionar.
“O coito é uma das menores chances de a mulher sentir orgasmo. Entretanto, é possível ter muito prazer sem ter orgasmo. Acredito que a mulher tem o direito de buscar seus orgasmos, mas não é uma obrigação”, afirma Lopes. O foco, ele considera, deve estar na qualidade da vida e do sexo e não em uma única sensação. “A relação sexual pode ser muito prazerosa, mesmo não sendo orgástica”, garante. (RR)
Leia amanhã: Quando problemas psicológicos afetam a relação sexual
TV PAGA
Estado de Minas: 27/12/2012
Linda juventude
A beleza da inocência antes que as obrigações e responsabilidades comecem a tomar o centro do palco da vida. Esse é o ponto de partida do diretor belga Joost Wynant ao realizar O último verão, que o Eurochannel exibe hoje, às 20h30. O filme mostra o ponto de vista de quatro adolescentes para compor cenas em que predominam o desejo e o primeiro amor em uma história que vai do drama à comédia com naturalidade.
Cultura exibe musical clássico de Hollywood
Fred Staire, Bing Crosby e Joan Caulfield formam o triângulo amoroso de Romance inacabado, clássico musical de 1946 que a Cultura exibe hoje, às 22h, na sessão Clube do Filme. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Nome próprio, no Canal Brasil; Muita calma nessa hora, no Megapix; Entrando numa fria maior ainda com a família, no Telecine Fun; Menina dos olhos, no Sony; Encantada, na TNT; Esquadrão classe A, na Fox; Ritmo de um sonho, no FX; e Perfume de mulher, no TCM. Outras atrações da programação: Sim, senhor, às 22h50, na Warner; e Lenda urbana, às 23h, no AXN.
É sério? O homem veio mesmo de alienígenas?
“A criação do homem” é o episódio de hoje da série Alienígenas do passado, às 15h, no canal History. A produção investiga por que os humanos são tão diferentes dos demais seres terrestres e o que provocou o desenvolvimento de seu intelecto com tamanha rapidez. Claro que não faltam indícios de contatos extraterrestes para explicar essa questão. O dilema é acreditar ou não.
Veja a ponte estaiada mais alta do mundo
Outra série documental em destaque hoje é Obras incríveis, às 19h15, no NatGeo. Em “Ponte Baluarte”, o assinante vai até a região oeste do México, na Sierra Madre Ocidental, onde engenheiros trabalham entre constantes perigos meteorológicos na construção da ponte estaiada mais alta do mundo, a uma altura de 403 metros. A estrutura de concreto e aço se estenderá por 1.124 metros e será sustentada por 152 tirantes.
Salada de Lentinlhas da Fortuna dá sorte
Para celebrar a passagem de ano, Rita Lobo prepara uma salada de lentilhas da fortuna, que pode ser servida na ceia de réveillon. Elá dá a receita no Cozinha prática, às 20h45, no canal GNT. Na sequência vem a reprise de Diário do Olivier, às 21h, e às 21h30 episódio inédito de Que marravilha!, com o chef Claude Troigros ensinando a fazer um linguado especial, ao lado da atriz Cissa Guimarães.
Juca Kfouri
FOLHA DE SÃO PAULO
LOC de louco
Os comitês brasileiros da Copa do Mundo-14 e da Olímpiada-16 não são nada confiáveis
O COL, OU LOC, Comitê Organizador Local, ou, em inglês, Local Organising Committee, da Copa do Mundo no Brasil, e o CoRio-16, o comitê da Olimpíada, têm dado seguidas demonstrações de não estar à altura das empreitadas que têm pela frente.
À incompetência soma-se o constrangimento, a ponto de o alcaguete que preside o COL preferir ir ao sorteio da Libertadores, no Paraguai, a estar na inauguração do Mineirão, um dos palcos mais importantes da Copa, porque lá estava a presidenta da República.
Como tudo de importante que se faz em torno da Copa é feito com dinheiro público, o LOC virou apenas uma sinecura para cartolas como o presidente também da CBF, cujo vice é capaz de chamar o ministro do Esporte de "comunista alucinado" em conversa menos reservada do que gostaria, segundo revelou "O Estado de S. Paulo".
Pensar nesta dupla recepcionando o mundo em 2014 é algo que envergonha e que deveria preocupar as autoridades do país.
O CoRio não é diferente.
O simples exemplo do que se vê em torno do campo de golfe na área de preservação ambiental de Marapendi dá a medida da gravidade de como as PPPs olímpicas privilegiam o privado e açoitam o público.
Não importa se beneficiam grileiros ou grandes construtoras, como, no caso, a Cyrella, do amigo do presidente do CoRio e do COB, ou os espertos da vida pública, como o prefeito carioca. Que propôs um absurdo contra o ambiente e hoje finge espanto, em óbvia combinação com sua base na Câmara -que propôs piorar o absurdo. O próximo passo será tirar o bode da sala e aprovar só o absurdo, como vitória dos bons costumes.
Tudo devidamente denunciado pela imprensa e quase sem vozes que se ergam na oposição, temerosa do rótulo de antipatriotismo ou recebedora das migalhas que sobram do banquete.
Como já se disse mil vezes, o povo brasileiro receberá os turistas estrangeiros festivamente e o país estará aparelhado com o que haverá de mais moderno em matéria de praças esportivas, além dos elefantes brancos a preço de ouro.
Os entornos, no entanto, exatamente o mais importante como legado às 12 cidades envolvidas nos dois megaeventos, deixarão a desejar. Apenas os bolsos de poucos se darão bem, para horror dos Tribunais de Contas que denunciarão como nunca -e não serão eficazes como sempre.
RANKING NOVO
A Folha atualizou seu ranking e o tornou melhor, mais equilibrado na atribuição dos pontos às conquistas de cada clube. Divirjo, só, que se considere a velha Taça Brasil, equivalente à Copa do Brasil, como o Brasileirão, avalizando uma jogada da CBF.
Para a coluna, o Flu é, sim, tetra por ter um Robertão, o Palmeiras, por ter dois, é hexa, como Flamengo e São Paulo, e o Santos, com um, é tricampeão brasileiro.
25% das metas nem saíram do papel [gestão Kassab]
FOLHA DE SÃO PAULO
ANDRÉ MONTEIROVANESSA CORREADE SÃO PAULOA reforma do Theatro Municipal foi concluída. Das 260 mil lâmpadas que seriam trocadas, só a metade foi instalada. Já os três novos hospitais continuam no papel.
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) divulgou ontem o balanço das 223 metas que se comprometeu a concluir até o último ano de seu mandato: 55% delas (123) foram "plenamente concluídas".
Outros 20% (45) estão em andamento, mas um quarto dos compromissos assumidos (55) ficou no papel e ainda não traz nenhum benefício à população.
Com todo o secretariado reunido, num clima de despedida, Kassab avaliou sua administração como a "melhor possível".
O prefeito disse que, se considerar as metas concluídas e as em andamento, a gestão atingiu 81% de eficiência. "Avançamos até onde podíamos avançar", disse.
Kassab tentou justificar a não realização de duas de suas principais metas: a construção dos hospitais e de 66 km de corredores de ônibus. Disse que ampliou leitos e que licitações foram suspensas.
A concorrência dos corredores, porém, foi barrada pela Justiça só na semana passada.
Kassab afirmou que as metas servem para guiar a administração e que seria "muito difícil para qualquer gestão chegar a 100% de eficácia".
Sem citar nomes, criticou os idealizadores do plano de metas (ONGs) pela "má-fé" e pelo que chamou de "uso político" do programa, o que fará com que os prefeitos estabeleçam metas mais tímidas.
Ele disse ainda que seu sucessor, Fernando Haddad (PT), vai assumir uma "cidade melhor", com dívidas quitadas e cerca de R$ 4,5 bilhões em caixa. O Orçamento total da cidade para 2013 é de R$ 42,1 bilhões.
Questionado sobre qual nota dava à sua gestão -no balanço de 2011 atribuiu "dez com louvor"-, Kassab disse que esse papel será da cidade.
"Eu sempre avaliei, até porque era importante passar para a equipe o meu sentimento. A partir de agora, quando se encerra nossa missão, caberá, ao longo do tempo, à própria cidade se manifestar em relação ao trabalho realizado." Em seguida, recebeu aplausos e gritinhos da plateia de funcionários, que lotou o auditório da prefeitura, no centro.
ENGANAÇÃO
"Se ele tivesse cumprido as metas, ficaria radiante, não falaria isso. Mas, como não cumpriu, diz que é uso político", afirma Oded Grajew, um dos idealizadores do plano.
O coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo afirma ainda que o índice de eficácia usado por Kassab "é uma enganação" e que Haddad será cobrado caso não apresente metas ousadas.
Para Fabiano Angélico, mestre em administração pública pela FGV-SP, a prefeitura deveria apenas detalhar a execução das metas para que a população faça a avaliação.
A lei em vigor desde 2008 determina que o prefeito apresente um programa com suas prioridades, baseado na campanha. Não há punição para o descumprimento.
Primeiro porque a maioria da população vive nas capitais e regiões metropolitanas, lugares que são marcados por um paradoxo: concentram a maior parte da riqueza econômica e social do país e também contêm o conjunto mais complexo e relevante dos problemas brasileiros.
Além disso, a Constituição de 1988 levou à descentralização da provisão dos serviços públicos que mais interessam aos cidadãos. Esses dois fatores tornam urgente a melhoria da governança das metrópoles.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que os governos locais orientem-se pela busca de resultados previamente definidos. Foi isso que fez a cidade de São Paulo, quando uma lei aprovada em 2008 obrigou o prefeito a se guiar por um plano de metas.
A partir dos resultados divulgados, descobriu-se que o prefeito Kassab alcançou, de fato, algo em torno de 55% de sucesso. Trata-se da primeira implementação de um plano de metas. É importante descobrir as razões que dificultaram uma maior efetividade.
Três fatores são essenciais aqui. Em primeiro lugar, o governo paulistano tem de melhorar a qualidade da burocracia e criar condições para que ela exerça bem o seu papel.
Ademais, deve-se reforçar a capacidade de a sociedade acompanhar regularmente, e não só no final do mandato, o que está sendo feito.
E, por fim, é preciso que seja previsto o que fazer depois da divulgação dos resultados. Afinal, corrigir os erros é muito mais relevante do que
o próprio índice de sucesso governamental.
No balanço, Kassab reconheceu que um quarto dos compromissos ainda não traz benefícios à população
'Avançamos até onde podíamos avançar', disse prefeito; segundo ele, Haddad assumirá uma 'cidade melhor'
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) divulgou ontem o balanço das 223 metas que se comprometeu a concluir até o último ano de seu mandato: 55% delas (123) foram "plenamente concluídas".
Outros 20% (45) estão em andamento, mas um quarto dos compromissos assumidos (55) ficou no papel e ainda não traz nenhum benefício à população.
Com todo o secretariado reunido, num clima de despedida, Kassab avaliou sua administração como a "melhor possível".
O prefeito disse que, se considerar as metas concluídas e as em andamento, a gestão atingiu 81% de eficiência. "Avançamos até onde podíamos avançar", disse.
Kassab tentou justificar a não realização de duas de suas principais metas: a construção dos hospitais e de 66 km de corredores de ônibus. Disse que ampliou leitos e que licitações foram suspensas.
A concorrência dos corredores, porém, foi barrada pela Justiça só na semana passada.
Kassab afirmou que as metas servem para guiar a administração e que seria "muito difícil para qualquer gestão chegar a 100% de eficácia".
Sem citar nomes, criticou os idealizadores do plano de metas (ONGs) pela "má-fé" e pelo que chamou de "uso político" do programa, o que fará com que os prefeitos estabeleçam metas mais tímidas.
Ele disse ainda que seu sucessor, Fernando Haddad (PT), vai assumir uma "cidade melhor", com dívidas quitadas e cerca de R$ 4,5 bilhões em caixa. O Orçamento total da cidade para 2013 é de R$ 42,1 bilhões.
Questionado sobre qual nota dava à sua gestão -no balanço de 2011 atribuiu "dez com louvor"-, Kassab disse que esse papel será da cidade.
"Eu sempre avaliei, até porque era importante passar para a equipe o meu sentimento. A partir de agora, quando se encerra nossa missão, caberá, ao longo do tempo, à própria cidade se manifestar em relação ao trabalho realizado." Em seguida, recebeu aplausos e gritinhos da plateia de funcionários, que lotou o auditório da prefeitura, no centro.
ENGANAÇÃO
"Se ele tivesse cumprido as metas, ficaria radiante, não falaria isso. Mas, como não cumpriu, diz que é uso político", afirma Oded Grajew, um dos idealizadores do plano.
O coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo afirma ainda que o índice de eficácia usado por Kassab "é uma enganação" e que Haddad será cobrado caso não apresente metas ousadas.
Para Fabiano Angélico, mestre em administração pública pela FGV-SP, a prefeitura deveria apenas detalhar a execução das metas para que a população faça a avaliação.
A lei em vigor desde 2008 determina que o prefeito apresente um programa com suas prioridades, baseado na campanha. Não há punição para o descumprimento.
PRÓXIMO
Haddad terá que divulgar plano em abril
O prefeito eleito terá 90 dias para apresentar suas metas, incluindo as promessas de campanha -como a construção de 150 km de corredores de ônibus na cidade. A lei determina ainda a realização de audiências públicas por mais um mês, antes de ser concluída a versão final do documento. Os balanços são semestrais.
Promessa para creche foi alterada após campanha
DE SÃO PAULO
Na campanha eleitoral de 2008, o então candidato Gilberto Kassab prometeu acabar com o deficit de vagas em creches. Eleito, apresentou meta menos ambiciosa para a área.
A gestão passou a dizer que buscava criar um número de postos equivalente à fila cadastrada em dezembro de 2008 (63 mil).
Com isso, o objetivo ficou mais tímido do que seria se fosse mantida a promessa inicial de zerar o deficit, hoje de 171 mil.
Mas, mesmo não batendo a meta, as matrículas subiram de 110 mil (março de 2009) para 211 mil.
ANÁLISE
Gestão de grandes cidades precisa de plano de metas
FERNANDO LUIZ ABRUCIOESPECIAL PARA A FOLHAA gestão pública das grandes cidades precisa estar no centro da agenda política.Primeiro porque a maioria da população vive nas capitais e regiões metropolitanas, lugares que são marcados por um paradoxo: concentram a maior parte da riqueza econômica e social do país e também contêm o conjunto mais complexo e relevante dos problemas brasileiros.
Além disso, a Constituição de 1988 levou à descentralização da provisão dos serviços públicos que mais interessam aos cidadãos. Esses dois fatores tornam urgente a melhoria da governança das metrópoles.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que os governos locais orientem-se pela busca de resultados previamente definidos. Foi isso que fez a cidade de São Paulo, quando uma lei aprovada em 2008 obrigou o prefeito a se guiar por um plano de metas.
A partir dos resultados divulgados, descobriu-se que o prefeito Kassab alcançou, de fato, algo em torno de 55% de sucesso. Trata-se da primeira implementação de um plano de metas. É importante descobrir as razões que dificultaram uma maior efetividade.
Três fatores são essenciais aqui. Em primeiro lugar, o governo paulistano tem de melhorar a qualidade da burocracia e criar condições para que ela exerça bem o seu papel.
Ademais, deve-se reforçar a capacidade de a sociedade acompanhar regularmente, e não só no final do mandato, o que está sendo feito.
E, por fim, é preciso que seja previsto o que fazer depois da divulgação dos resultados. Afinal, corrigir os erros é muito mais relevante do que
o próprio índice de sucesso governamental.
FERNANDO LUIZ ABRUCIO é doutor em ciência política pela USP e coordenador da graduação em administração pública da Fundação Getulio Vargas (SP)
Pasquale Cipro Neto
FOLHA DE SÃO PAULO
Experimente jogar no Google as formas que acabo de citar. Os resultados são interessantes. Tomemos como exemplo a incorreta grafia "conclue". O Google dá a dica: "Exibindo resultados para conclui". Como se vê, o Google diz a quem faz a consulta que a forma é errônea, mas, como site de busca que é, oferece a opção pela busca da própria forma errônea ("Em vez disso, pesquisar por conclue"). Quando se clica na forma errônea, ou seja, em "conclue", vem um mar de textos em que se empregou essa forma.
Muitos desses textos, por sinal, são de jornais, sites, blogs de jornalistas etc. A mesma situação se verifica com as outras formas que citei no primeiro parágrafo.
Posto isso, vamos ao xis do problema. Comecemos pela norma ortográfica, simples e clara: a terceira pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos que terminam em "uir" se faz com "i" (ele/a possui, influi, retribui, atribui, substitui, contribui, conclui, constitui, prostitui etc.).
Agora vamos ver as possíveis razões desse desvio, que, salvo engano, podem ser duas. A primeira é a associação que o usuário da língua faz com formas como "permite", "assiste", "dirige", "emite", "insiste", que, como se sabe, também são da terceira pessoa do singular do presente do indicativo, de verbos que terminam em "ir" (cuidado: terminam em "ir", mas sem vogal antes do "i"). Qual é a associação que esses usuários fazem? Se de "permitir" se faz "permite" (com "e"), de "substituir" se faz "substitue", também com "e".
Não se faz, caro leitor. De "substituir" se faz "substitui", com "i", o que vale para TODOS os verbos terminados em "uir" (e em "air" também, como "trai", "atrai", "cai" etc.). É claro que o caro leitor não vai confundir "substitui" com "substituí", que é outra história. Trata-se da primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo ("Ontem eu substituí a imagem de fundo da tela do meu computador").
E a segunda razão? Lá vai: as formas "conclue", "substitue", "possue" e afins já foram corretas... Uma das tantas reformas ortográficas do século passado as dizimou, mas, como sempre digo, reforma ortográfica é como garrafa pet (leva cem anos para ser "absorvida"). Não é por acaso que ainda se veem em placas públicas ou em rótulos de produtos industriais formas como "chineza", "irlandez", "holandeza", "baroneza", "zêlo", que já foram corretas e um belo dia foram dizimadas por reformas ortográficas que lhe deram nova "roupagem".
É claro que um dos assuntos deste texto (reformas ortográficas) me fez e faz pensar no que (espera-se) parece iminente: um decreto da presidente Dilma que adiará a entrada em vigor do "(Des)Acordo Ortográfico" e determinará a realização de estudos e debates para a eliminação dos inúmeros problemas do atual texto do "(Des)Acordo". Não é o ideal (que, para mim, seria o puro e simples cancelamento dessa bobagem), mas, por ora, ao que parece, é o possível.
Peço licença, pois, aos que criaram o bordão "Veta, Dilma!" para adaptá-lo: "Assina logo, Dilma!", "Adia logo, Dilma!". É isso.
'Brasil possui mais de 1 mi de casas...'
Experimente jogar no Google as formas que acabo de citar. Os resultados são muito interessantes
Estava na "capa" do UOL, ontem à tarde. O título inteiro era assim: "Brasil possui mais de 1 milhão de casas sem luz, diz levantamento". De imediato, ao ver a forma verbal "possui" (com "i", como é na grafia atual), lembrei que muita gente não escreve "possui", mas "possue", com "e", assim como escreve "substitue", "conclue", "contribue", "atribue" etc.Experimente jogar no Google as formas que acabo de citar. Os resultados são interessantes. Tomemos como exemplo a incorreta grafia "conclue". O Google dá a dica: "Exibindo resultados para conclui". Como se vê, o Google diz a quem faz a consulta que a forma é errônea, mas, como site de busca que é, oferece a opção pela busca da própria forma errônea ("Em vez disso, pesquisar por conclue"). Quando se clica na forma errônea, ou seja, em "conclue", vem um mar de textos em que se empregou essa forma.
Muitos desses textos, por sinal, são de jornais, sites, blogs de jornalistas etc. A mesma situação se verifica com as outras formas que citei no primeiro parágrafo.
Posto isso, vamos ao xis do problema. Comecemos pela norma ortográfica, simples e clara: a terceira pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos que terminam em "uir" se faz com "i" (ele/a possui, influi, retribui, atribui, substitui, contribui, conclui, constitui, prostitui etc.).
Agora vamos ver as possíveis razões desse desvio, que, salvo engano, podem ser duas. A primeira é a associação que o usuário da língua faz com formas como "permite", "assiste", "dirige", "emite", "insiste", que, como se sabe, também são da terceira pessoa do singular do presente do indicativo, de verbos que terminam em "ir" (cuidado: terminam em "ir", mas sem vogal antes do "i"). Qual é a associação que esses usuários fazem? Se de "permitir" se faz "permite" (com "e"), de "substituir" se faz "substitue", também com "e".
Não se faz, caro leitor. De "substituir" se faz "substitui", com "i", o que vale para TODOS os verbos terminados em "uir" (e em "air" também, como "trai", "atrai", "cai" etc.). É claro que o caro leitor não vai confundir "substitui" com "substituí", que é outra história. Trata-se da primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo ("Ontem eu substituí a imagem de fundo da tela do meu computador").
E a segunda razão? Lá vai: as formas "conclue", "substitue", "possue" e afins já foram corretas... Uma das tantas reformas ortográficas do século passado as dizimou, mas, como sempre digo, reforma ortográfica é como garrafa pet (leva cem anos para ser "absorvida"). Não é por acaso que ainda se veem em placas públicas ou em rótulos de produtos industriais formas como "chineza", "irlandez", "holandeza", "baroneza", "zêlo", que já foram corretas e um belo dia foram dizimadas por reformas ortográficas que lhe deram nova "roupagem".
É claro que um dos assuntos deste texto (reformas ortográficas) me fez e faz pensar no que (espera-se) parece iminente: um decreto da presidente Dilma que adiará a entrada em vigor do "(Des)Acordo Ortográfico" e determinará a realização de estudos e debates para a eliminação dos inúmeros problemas do atual texto do "(Des)Acordo". Não é o ideal (que, para mim, seria o puro e simples cancelamento dessa bobagem), mas, por ora, ao que parece, é o possível.
Peço licença, pois, aos que criaram o bordão "Veta, Dilma!" para adaptá-lo: "Assina logo, Dilma!", "Adia logo, Dilma!". É isso.
"Financial Times" chama Dilma de rena do nariz vermelho do Natal
FOLHA DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULOO desempenho da economia brasileira foi satirizado no conto de Natal do blog beyondbrics, do jornal britânico "Financial Times", sobre os países emergentes.
Estrelando o bate-boca com o próprio Papai Noel, apareciam a presidente Dilma Rousseff, caracterizada como a rena do nariz vermelho, e o ministro Guido Mantega (Fazenda), como "Guido, o elfo vidente".
No conto, o Papai Noel afirma que os personagens deste Natal são os mesmos de 2011, exceto pela mudança do representante da América Latina -sai Dilma e entra Enrique Peña Nieto, novo presidente do México- e pelo novo líder chinês Xi Jinping.
"Você não pode me rebaixar!", protestou Dilma. "O que me diz sobre meu maravilhoso nariz vermelho?"
"É o seu nariz vermelho o problema. As crianças pensam que você é socialista. Quem confia em um socialista para trazer brinquedos?", responde o Papai Noel.
Indignada, Dilma lembra que o líder chinês é ainda pior por ser comunista.
"Mas ele diz as coisas certas", retrucou Papai Noel, ao lado do chinês que clamava a "luta contra a corrupção".
Dilma retruca dizendo que seus "chifres" são os "sextos maiores" do mundo, quando é interrompida pelo premiê britânico David Cameron reivindicando a posição -o Brasil perderá o posto de sexta economia para a Inglaterra.
Então, a presidente brasileira explode: "Por que motivo meus chifres não crescem mais rapidamente?"
Nesse momento, entra o ministro Guido Mantega, caracterizado como o "elfo vidente", garantindo que os chifres da presidente crescerão um metro em 2013.
Dilma cobra explicação sobre como chegou à previsão.
"Tive um estalo. Perguntei as previsões de todos os outros elfos e multipliquei por dois", respondeu Mantega.
"Oh, Guido, por que será que eu não te demito?"
"Não seria porque a revista 'Economist' pediu isso?", responde o ministro.
Blog satiriza as previsões sempre otimistas do ministro Mantega
Reprodução | ||
Brasil estrela conto de Natal do blog beyondbrics, do "Financial Times", sobre emergentes |
Estrelando o bate-boca com o próprio Papai Noel, apareciam a presidente Dilma Rousseff, caracterizada como a rena do nariz vermelho, e o ministro Guido Mantega (Fazenda), como "Guido, o elfo vidente".
No conto, o Papai Noel afirma que os personagens deste Natal são os mesmos de 2011, exceto pela mudança do representante da América Latina -sai Dilma e entra Enrique Peña Nieto, novo presidente do México- e pelo novo líder chinês Xi Jinping.
"Você não pode me rebaixar!", protestou Dilma. "O que me diz sobre meu maravilhoso nariz vermelho?"
"É o seu nariz vermelho o problema. As crianças pensam que você é socialista. Quem confia em um socialista para trazer brinquedos?", responde o Papai Noel.
Indignada, Dilma lembra que o líder chinês é ainda pior por ser comunista.
"Mas ele diz as coisas certas", retrucou Papai Noel, ao lado do chinês que clamava a "luta contra a corrupção".
Dilma retruca dizendo que seus "chifres" são os "sextos maiores" do mundo, quando é interrompida pelo premiê britânico David Cameron reivindicando a posição -o Brasil perderá o posto de sexta economia para a Inglaterra.
Então, a presidente brasileira explode: "Por que motivo meus chifres não crescem mais rapidamente?"
Nesse momento, entra o ministro Guido Mantega, caracterizado como o "elfo vidente", garantindo que os chifres da presidente crescerão um metro em 2013.
Dilma cobra explicação sobre como chegou à previsão.
"Tive um estalo. Perguntei as previsões de todos os outros elfos e multipliquei por dois", respondeu Mantega.
"Oh, Guido, por que será que eu não te demito?"
"Não seria porque a revista 'Economist' pediu isso?", responde o ministro.
Prontuário inteligente
FOLHA DE SÃO PAULO
DÉBORA MISMETTIEDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”A troca dos prontuários hospitalares de papel para os arquivos digitais vai mudar mais do que o suporte no qual estão anotadas as informações dos pacientes.
Ferramentas desenvolvidas para analisar os dados contidos nesses arquivos podem ajudar os médicos a controlar a prescrição de remédios, a equacionar filas de pacientes para procedimentos em hospitais públicos e até a saber qual dos internados pode tem maior risco de piorar nas horas seguintes.
O Hospital Santa Catarina de Blumenau (SC) vai começar a testar, a partir de fevereiro de 2013, um algoritmo usado em nove hospitais americanos para prever o prognóstico do paciente, saber quais têm mais chance de voltar a ser internados caso recebam alta e quais devem ser priorizados nas rondas dos médicos e enfermeiros.
INDICADORES
De acordo com o cardiologista Luiz Haertel, diretor médico de um programa de prontuários eletrônicos usado no hospital, o algoritmo leva em conta resultados de exames como pressão, frequência cardíaca, hemogramas e testes de função renal, além de observações da enfermagem, como a aceitação do paciente à comida e o seu risco de queda.
"O algoritmo dá um peso a cada uma dessas variáveis. Se uma piorou, a curva vai começar a cair, ainda que o paciente não sinta nada."
A ferramenta, chamada de Índice Rothman, vai ser avaliada por um ano no hospital de Blumenau. O objetivo é saber se vai haver mudança na conduta dos médicos e se o atendimento vai melhorar.
"A junção de informações que estão separadas no prontuário pode virar um novo conhecimento e dar pistas de diagnóstico e tratamento."
DOMÍNIO DO PAPEL
O alcance da digitalização ainda é baixo no Brasil. Segundo Marco Antonio Gutierrez, presidente da Sbis (Sociedade Brasileira de Informática em Saúde), menos de 10% dos hospitais no país têm algum tipo de prontuário eletrônico, somando cerca de 600 instituições.
Na atenção básica, como em postos de saúde e ambulatórios, os sistemas se limitam a controlar agendamento de consultas. O paciente só vai ter seus dados registrados em um prontuário se chegar a um dos hospitais que já aderiram ao sistema.
O Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo) é um deles. O instituto tem um departamento de informática, dirigido por Gutierrez, que desenvolveu o programa usado ali há cerca de dez anos.
"O sistema nunca termina. Estamos aumentando o número de ferramentas de apoio ao diagnóstico, saindo de uma fase de registro de dados e entrando num sistema mais ativo", diz o engenheiro.
A fila de cirurgia, por exemplo, é formada de acordo com um indicador de risco gerado pelo prontuário eletrônico, usando dados como idade, sexo e resultados de exames. "É um método objetivo."
O sistema também gera alertas caso o médico receite remédios que possam ter uma interação perigosa.
ECONOMIA
O Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) também tem um sistema de prontuário, que tem sido útil, entre outras coisas, para acelerar a fila de cirurgias.
Kaio Jia Bin, diretor de operações e tecnologia de informação do instituto, afirma que hoje, se um paciente desmarcar sua operação por qualquer motivo, é possível aproveitar a mesma equipe de cirurgia para outro doente, evitando que equipamentos e profissionais fiquem ociosos -isso se a desistência for avisada em um prazo de 24 horas.
"Consigo substituir o paciente em 94% dos casos. Só com essa gestão, economizamos R$ 3 milhões entre 2010 e setembro de 2012 e agilizamos a fila."
Mas o médico faz ressalvas ao uso de cálculos matemáticos para estabelecer quais doentes devem ter prioridade.
"Quanto mais automatizado é o atendimento, menos médicos você vai ter. Um algoritmo pode baratear o custo e piorar o atendimento."
Para Haertel, o uso dessas ferramentas vai ajudar a tornar mais justa a escolha dos que precisam de mais atenção. "Ninguém quer ser um número num hospital, mas todo mundo é. A vocação do prontuário eletrônico é corrigir os erros assistenciais."
Hospital brasileiro vai testar sistema que prevê piora de paciente por meio de dados do prontuário digital
Ferramentas desenvolvidas para analisar os dados contidos nesses arquivos podem ajudar os médicos a controlar a prescrição de remédios, a equacionar filas de pacientes para procedimentos em hospitais públicos e até a saber qual dos internados pode tem maior risco de piorar nas horas seguintes.
O Hospital Santa Catarina de Blumenau (SC) vai começar a testar, a partir de fevereiro de 2013, um algoritmo usado em nove hospitais americanos para prever o prognóstico do paciente, saber quais têm mais chance de voltar a ser internados caso recebam alta e quais devem ser priorizados nas rondas dos médicos e enfermeiros.
INDICADORES
De acordo com o cardiologista Luiz Haertel, diretor médico de um programa de prontuários eletrônicos usado no hospital, o algoritmo leva em conta resultados de exames como pressão, frequência cardíaca, hemogramas e testes de função renal, além de observações da enfermagem, como a aceitação do paciente à comida e o seu risco de queda.
"O algoritmo dá um peso a cada uma dessas variáveis. Se uma piorou, a curva vai começar a cair, ainda que o paciente não sinta nada."
A ferramenta, chamada de Índice Rothman, vai ser avaliada por um ano no hospital de Blumenau. O objetivo é saber se vai haver mudança na conduta dos médicos e se o atendimento vai melhorar.
"A junção de informações que estão separadas no prontuário pode virar um novo conhecimento e dar pistas de diagnóstico e tratamento."
DOMÍNIO DO PAPEL
O alcance da digitalização ainda é baixo no Brasil. Segundo Marco Antonio Gutierrez, presidente da Sbis (Sociedade Brasileira de Informática em Saúde), menos de 10% dos hospitais no país têm algum tipo de prontuário eletrônico, somando cerca de 600 instituições.
Na atenção básica, como em postos de saúde e ambulatórios, os sistemas se limitam a controlar agendamento de consultas. O paciente só vai ter seus dados registrados em um prontuário se chegar a um dos hospitais que já aderiram ao sistema.
O Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo) é um deles. O instituto tem um departamento de informática, dirigido por Gutierrez, que desenvolveu o programa usado ali há cerca de dez anos.
"O sistema nunca termina. Estamos aumentando o número de ferramentas de apoio ao diagnóstico, saindo de uma fase de registro de dados e entrando num sistema mais ativo", diz o engenheiro.
A fila de cirurgia, por exemplo, é formada de acordo com um indicador de risco gerado pelo prontuário eletrônico, usando dados como idade, sexo e resultados de exames. "É um método objetivo."
O sistema também gera alertas caso o médico receite remédios que possam ter uma interação perigosa.
ECONOMIA
O Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) também tem um sistema de prontuário, que tem sido útil, entre outras coisas, para acelerar a fila de cirurgias.
Kaio Jia Bin, diretor de operações e tecnologia de informação do instituto, afirma que hoje, se um paciente desmarcar sua operação por qualquer motivo, é possível aproveitar a mesma equipe de cirurgia para outro doente, evitando que equipamentos e profissionais fiquem ociosos -isso se a desistência for avisada em um prazo de 24 horas.
"Consigo substituir o paciente em 94% dos casos. Só com essa gestão, economizamos R$ 3 milhões entre 2010 e setembro de 2012 e agilizamos a fila."
Mas o médico faz ressalvas ao uso de cálculos matemáticos para estabelecer quais doentes devem ter prioridade.
"Quanto mais automatizado é o atendimento, menos médicos você vai ter. Um algoritmo pode baratear o custo e piorar o atendimento."
Para Haertel, o uso dessas ferramentas vai ajudar a tornar mais justa a escolha dos que precisam de mais atenção. "Ninguém quer ser um número num hospital, mas todo mundo é. A vocação do prontuário eletrônico é corrigir os erros assistenciais."
Casos de HIV positivo passarão a ser notificados ao governo
FOLHA DE SÃO PAULO
DE BRASÍLIA
Sistema sigiloso terá nome e dados do paciente com diagnóstico
O Ministério da Saúde vai tornar obrigatória a notificação de dados sobre pacientes com HIV assim que tiverem a confirmação do diagnóstico.
Hoje, o ministério registra os casos de Aids, ou seja, quando o paciente desenvolveu a doença e está em tratamento. Isso ocorre quando a contagem das células CD4 (que indicam o funcionamento do sistema imune) está abaixo de 350 células/mm3 ou em caso de doença típica associada.
A mudança vem depois de o ministério alterar o critério para o início do tratamento contra a Aids e, assim, ampliar o número de pessoas recebendo antirretrovirais.
Com as novas regras, conforme antecipado pela coluna da jornalista Mônica Bergamo, a notificação passa a ser independente da contagem de células de defesa.
A medida segue recomendação da Opas (braço da OMS para as Américas), que debateu sistemas de vigilância do HIV em encontro com 24 países no início de novembro.
Segundo Dirceu Greco, diretor do departamento de DST, Aids e hepatites virais do ministério, a ideia é que o governo possa monitorar melhor a epidemia, preparar a rede de hospitais e oferecer o medicamento ao novo grupo incluído recentemente.
Greco garantiu o total sigilo dos dados, que vão incluir nome do paciente e de sua mãe (para evitar dupla contagem), sexo e idade.
Para Mário Scheffer, professor do departamento de medicina preventiva da USP, a medida permitirá a identificação mais rápida e precisa da população vulnerável.
"Hoje, o Brasil olha a epidemia pelo retrovisor. Vamos ter um retrato mais atual do seu andamento." Scheffer, no entanto, pondera que essa é uma decisão tardia. EUA e Canadá já adotaram o sistema.
Ainda não há data para o início da nova notificação.
(FLÁVIA FOREQUE E JOHANNA NUBLAT)
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