sexta-feira, 12 de abril de 2013

Alckmin convida sigla de Feliciano para seu governo

folha de são paulo
Daniela Lima

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) vai abrir espaço no governo de São Paulo para o PSC, partido do deputado federal Marco Feliciano, personagem central de uma crise na Câmara desde fevereiro, quando assumiu a Comissão de Direitos Humanos.
Du Amorim - 14.mar.2013/Divulgação/Governo SP
Alckmin durante evento com prefeitos de São Paulo
Alckmin durante evento com prefeitos de São Paulo
Para Alckmin, os quase 40 segundos a que o PSC tem direito na propaganda eleitoral falaram mais alto do que a recente associação do partido com Feliciano. O ingresso da sigla no governo sela acordo para as eleições de 2014, quando o tucano tentará a reeleição.
Segundo o presidente do PSC em São Paulo, Gilberto Nascimento, apesar de paulista, Feliciano não se envolve nas articulações da sigla no Estado, que seriam feitas apenas por ele.
"Eu é que converso. Estivemos com o Alckmin em 2010 e voltamos a falar com ele agora", afirma.
O presidente do PSC não tem mandato. Ele será convidado a assumir o cargo de secretário-adjunto de Desenvolvimento Metropolitano. É evangélico, mas não é pastor.
O PSC elegeu quatro deputados estaduais em 2010. Perdeu três para o PSB e hoje tem apenas um.

O app da periferia e a revolução do celular

folha de são paulo

A partir de hoje já é possível saber pelo celular o que de mais relevante ocorre em cultura e educação na periferia da cidade de São Paulo, estendendo-se às regiões metropolitanas.
É batizado de Cultura de Ponta (baixe aqui). O app foi desenvolvido pela Fábrica de Aplicativos.
A ideia é mostrar que há uma produção cultural interessante nas pontas da cidade de São Paulo -e, na maioria das vezes, fica invisível até mesmo na periferia. Invisível até para quem mora na periferia.
É mais um exemplo de como a tecnologia consegue diminuir as barreiras.
A Fábrica de Aplicativos vem ensinando jovens de comunidades mais pobres a desenvolver, sem custo, seu próprio aplicativo.
O conteúdo é produzido com a participação de jovens da periferia, treinados em comunicação.
O que vai, de fato, democratizar a cultura e a educação não é o computador, que ainda não chegou às periferias, muito menos a banda larga, mas o celular - e a aí que está a nova onda da inovação da disseminação no conhecimento.
Cada pessoa, em qualquer parte do planeta, poderá aprender e influenciar a sociedade apenas com um celular na mão.
*
Se quiser acessar o conteúdo do Cultura de Ponta, um projeto do AfroReggae em São Paulo, clique aqui.
Gilberto Dimenstein
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

Slogan publicitário turbina lucro de vendedor de bala em semáforo

folha de são paulo

SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO
Marcelo Justo/Folhapress
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O ambulante Thiago Martins da Silva, 29, vendedor de balas em um semáforo no Butantã (zona oeste de SP), resolveu participar de um experimento de dois publicitários.
Eles colocaram frases engraçadinhas nos 250 pacotes de balas que Silva vende diariamente para ver o que aconteceria com as vendas.
Silva, que levava seis horas para vender as balinhas, gastou metade do tempo após usar nas embalagens frases como "Vendo essas balas porque não posso vender a minha sogra" ou "Balas mágicas: você compra e a minha vida fica mais doce".
"Queríamos testar o poder das palavras para mudar a vida de uma pessoa", conta um dos publicitários autores do "Candy Project" (Projeto Doce), Will Ferrari Júnior, 27.
A vida de Silva não mudou. Ele continua saindo de madrugada do Itaim Paulista, zona leste, onde mora, para trabalhar em um semáforo no Butantã, zona oeste.
Mas o vendedor gostou da ideia e pretende fazer cópias das frases divertidas.
O experimento está no YouTube, com mais de 50 mil acessos em uma semana.
O humor, segredo dos publicitários, é um velho conhecido de Thiago nas vendas.
"Já chego sorrindo e dando bom dia, dou algumas balinhas de cortesia", conta.
No mesmo ponto há sete anos, Silva conhece os clientes por nome e diz que "já fez até amizades". De tão comunicativo, já recebeu propostas de trabalho de clientes.
Voltar a estudar está nos seus planos. Silva deixou a escola no 8º ano. Mas o que ele quer agora são novas frases para aumentar as vendas.
"Vamos continuar alimentando o Silva com as frases [são 13] e queremos testar frases novas", conta Alexandre Freire, 24, que também participou do projeto.

    'Condenamos o Ecad, não o artista'

    O Globo - 12/04/2013

    Presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) lamenta o uso de "argumentos de cunho terrorista" contra o órgão

    Cristina Tardáguila

    Desde que o Cade multou o Ecad, os dois estão em pé de guerra

    A multa de R$ 38 milhões anunciada há quase um mês não foi publicada ainda. O está acontecendo?

    A decisão contra o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) está próxima de ser publicada. O voto do conselheiro-relator é bem longo. Depois de publicada a decisão, o Ecad terá um período de dez dias para apresentar seus pedidos de embargo. Se o fizer, o material será devidamente avaliado, mas a decisão final do Cade sai ainda neste semestre.

    Os embargos podem mudar a decisão de março?

    Os embargos servem para sanar alguma dúvida ou contradição que tenha surgido ao longo do processo. Dificilmente muda uma decisão.

    Há manifestações do Ecad e de artistas contra a multa.

    Ouvi falar disso e vi alguns manifestos nas redes sociais, mas não enxergo nesse material nenhum argumento novo que possa mudar nossa decisão. Ao contrário, só reforça nossa decisão. O Ecad usa argumentos de cunho terrorista, como se nós tivéssemos a favor de um cartel de empresas de comunicação e contra os artistas. Isso não é verdade. Nós não condenamos os artistas. Nós condenamos o Ecad .

    Como o Cade chegou a essa conclusão?

    O Ecad foi condenado por abuso de poder econômico. Nada justifica a taxa administrativa extorsiva de 25% que eles cobram dos músicos brasileiros. Essa margem de retorno está acima de qualquer outra obtida em qualquer outro negócio que conhecemos. É preciso ressaltar que o Cade está do lado dos artistas, não contra.

    Qual o problema com as associações de músicos?

    Elas têm regras muito nocivas de representação. Regras que criam grandes barreiras à entrada de novas associações. Isso inviabiliza a livre associação. É uma barreira enorme.

    O argumento de que a multa aplicada ao Ecad será paga com o dinheiro dos músicos tem ganho espaço...

    A decisão sobre a multa de R$ 38 milhões é explícita ao dizer que esse valor sai das taxas de administração, que não pode sair do bolso dos músicos. E mais: se o Ecad aumentar a taxa de administração para tentar pagar essa multa, o Cade tem como agir.

    Alguns artistas afirmam que o Ecad corre o risco de deixar de existir...

    Ouvi falar por aí que o Ecad deixaria de recolher o direito autoral, que deixaria de pagar os músicos. Isso é uma falácia. Depois dos embargos no Cade, o Ecad pode recorrer judicialmente da decisão. Além disso, demos seis meses para que eles se adaptassem ao que exigimos. A multa não tem impacto material nenhum ainda.

    Para o Cade, de quanto deveria ser a taxa?

    Não somos contra a taxa, mas a do Ecad está muito acima do razoável, quando comparado com outros órgãos. Ela poderia ser pelo menos 20% menor

    O Cade sugere outras mudanças?

    Alguns manifestos acusam o Cade de ser um grupo de burocratas do estado tentando tirar dinheiro dos músicos. Quero rechaçar com todas as forças essa declaração. O sistema do Ecad é arcaico quando comparado com outros sistemas. No exterior, ou há livre concorrência entre as associações de músicos ou há um único órgão, recolhendo o direito autoral, mas sendo regulado. Só no Brasil é monopólio.Os artistas e usuários ficam à mercê do Ecad.

    RESPOSTA DO ECAD

    No início deste mês, o Ecad enviou aos músicos afiliados um comunicado de duas páginas sobre a multa do Cade. A entidade que recolhe e paga o direito autoral deles no país lembra que a decisão do conselho de defesa econômica é uma resposta a um processo movido pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), que contestava a cobrança de uma taxa fixa de 2,55% da receita bruta das empresas para uso do repertório musical. No comunicado, o Ecad também afirma que as penalidades impostas em março “podem aniquilar o atual sistema de gestão coletiva musical, reduzindo a mero produto de consumo os direitos autorais dos criadores”, e avisa que vai recorrer da decisão por considerá-la um “retrocesso”. O texto do Ecad e das associações que o integram gerou grande repercussão na internet e alavancou uma série de manifestação de artistas, entre eles a cantora Beth Carvalho, uma das últimas a sair em defesa da entidade.

    Candidato a antepassado do gênero humano ganha análise completa

    folha de são paulo

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    Uma controvertida espécie de hominídeo (membro do grupo de primatas que desemboca no homem moderno) acaba de ganhar um "check-up" completo, dos pés à cabeça.
    Segundo os cientistas responsáveis pelo trabalho, trata-se da análise mais detalhada já feita de um membro extinto da linhagem humana, e os dados podem fortalecer a ideia de que a criatura era mesmo ancestral do nosso gênero, o Homo.
    Esse ponto ainda promete provocar muita polêmica entre os estudiosos da evolução humana, mas a riqueza de dados na nova "ficha médica" da criatura, o Australopithecus sediba, é inegável.
    Os resultados mais importantes vêm da passagem do australopiteco pelo "ortopedista" e pelo "dentista", digamos, que ajuda a reconstruir o esquisitíssimo andar do primata de 2 milhões de anos e traz mais pistas sobre sua posição na árvore genealógica do homem.
    Os achados estão numa série de seis artigos científicos, publicados em formato eletrônico pela revista americana "Science" e coordenados pelo paleoantropólogo Lee Berger, da Universidade do Witwatersrand, na África do Sul.
    Berger foi o responsável por identificar os primeiros fósseis do A. sediba na região de Malapa, perto de Johannesburgo, quando prospectava a área acompanhado de seu cão e seu filho pequeno, Matthew.
    Na nova batelada de artigos, ele e uma equipe internacional de colaboradores examinam em detalhe os restos mortais de três indivíduos da espécie (veja abaixo).
    Editoria de Arte/Folhapress
    PÉ CHATO
    Uma das principais conclusões do estudo é que o A. sediba tem uma anatomia que é um curioso mosaico de características típicas dos grandes macacos e do gênero Homo. E nada mostra melhor isso do que o estudo das pernas e dos pés do bicho, conduzida por Jeremy DeSilva, da Universidade de Boston (EUA).
    DeSilva, que herdou seu sobrenome de um trisavô do arquipélago português dos Açores, diz que, do ponto de vista dos humanos modernos, é como se a criatura tivesse pé chato.
    "Se você o visse de longe, seria como uma pessoa andando, porque a perna e os quadris estariam totalmente estendidos, e não curvados, como os de um chimpanzé", explicou ele à Folha.
    Quem chegasse mais perto, no entanto, veria que seus passos eram miudinhos e rápidos, em parte por causa do osso do calcanhar extremamente pequeno. Além disso, o pé chato levaria a uma reação em cadeia que torceria os joelhos e o quadril para dentro conforme o primata caminhasse.
    "Ao observar isso, você provavelmente notaria quanta rotação e torção estavam acontecendo nas juntas dos pés, do joelho e dos quadris", diz DeSilva. Coisas parecidas acontecem com algumas pessoas que sofrem de problemas ortopédicos. Mas, no caso doA. sediba, esse andar esquisito é apenas a solução biomecânica que a espécie adotou para manter-se em duas pernas, afirma ele.
    Coisas igualmente curiosas aparecem quando se olha a anatomia dos braços e do tronco do animal. No primeiro caso, ele provavelmente conseguia ficar suspenso nos galhos de árvores com facilidade parecida com a de um chimpanzé, embora suas mãos parecessem mais humanas. E seu tórax, com ombros aparentemente encolhidos, devia impedir que ele caminhasse balançando os braços ao lado do corpo, como fazemos hoje.
    O quadro é completado pela análise das mandíbulas e dos dentes da criatura. Com base nesses indícios, a equipe propõe que ele tinha parentesco relativamente próximo com uma espécie sul-africana mais antiga, o Australopithecus africanus, por um lado, e com os primeiros Homo, por outro.
    É nesse ponto que a coisa entorta um pouco, porém. Muitos paleoantropólogos defendem que os primeiros membros do gênero Homo são pelo menos meio milhão de anos mais antigos que o A. sediba --é o caso do célebre Homo habilis.
    "O A. sediba é único e muito interessante, mas chegou tarde demais à festa", disse à "Science" o paleoantropólogo Brian Richmond, da Universidade George Washington (EUA). Com a publicação dos novos dados, espera-se que mais cientistas levem a espécie em consideração em seus modelos sobre a origem do gênero humano.

    Revista policial em negros e latinos gera protestos em NY

    folha de são paulo

    Grupos de direitos civis dizem que 'baculejo' é aplicado de forma racista; 85% têm minorias como alvos
    LUCAS FERRAZEM NOVA YORKO americano Sharbeek Terry, 39, diz não se lembrar mais de quantas vezes foi revistado pela polícia de Nova York.
    "Calculo umas sete vezes", disse. Na última delas, conta, foi parar na delegacia. "Me algemaram, me sacudiram e bateram nas minhas pernas. Fui detido com um outro homem, que ficou preso", afirmou à Folha.
    Terry, negro, é uma das 533 mil vítimas no ano passado do chamado "stop and frisk", as revistas indiscriminadas feitas pela polícia de Nova York.
    A prática do "baculejo" tem gerado controvérsia pela contabilidade dos alvos: 85% são negros e latinos, segundo a polícia. As estatísticas mostram que 90% dos revistados são inocentes.
    Grupos de defesa dos direitos civis e humanos dizem que a prática é aplicada de forma preconceituosa e racista, desrespeitando os princípios expostos na Constituição dos EUA --que prevê a revista somente se houver suspeitas concretas.
    A Prefeitura de Nova York defende a estratégia, que considera eficaz no enfrentamento ao crime.
    As revistas começaram a ser adotadas nos anos 1970, quando a maior cidade do país vivia forte onda de violência, com as ruas tomadas por gangues e drogas.
    A ação da polícia endureceu nos anos 1990, com a aplicação da política conhecida como "tolerância zero", que foi essencial para reduzir a criminalidade.
    Desde a década passada, após o atentado terrorista do 11 de Setembro, as revistas se intensificaram.
    Conforme números do NYPD (sigla em inglês para Departamento de Polícia de Nova York), a prática saltou de uma média de 100 mil em 2002 para 700 mil em 2011.
    Folha visitou a região do Brooklyn de East New York. Lá, um dos bairros, Cypress Hill, tem o maior número de batidas na cidade.
    Área pobre com pouco comércio e escolas, tem predominância de negros americanos e imigrantes latinos.
    "É muito comum ver esse tipo de coisa aqui", conta o vendedor de churros Antonio Castro, 39.
    Equatoriano que vive nos EUA há 15 anos, ele não sabe falar inglês. "Parece racismo da polícia, mas pelo menos a situação melhorou. Há cinco ou seis anos, a violência era muito pior."
    O jovem Danny Webb, 25, tem o perfil do americano que costuma ser parado nas batidas: negro, boné, roupas largas e medalhões.
    Nascido em Cypress Hill e atualmente trabalhando na construção civil, ele afirma que nunca foi revistado, mas se diz revoltado com o que costuma ver. "É um desrespeito muito grande, aqui não se respeita nenhum direito."
    Muitos casos envolvendo vítimas do "stop and frisk" chegaram aos tribunais americanos. Diferentemente do Brasil, Estados e municípios americanos têm mais autonomia para criar legislações próprias. Mas desde 1968 a Suprema Corte americana vem reiterando que a polícia só pode realizar revistas em pessoas se há uma suspeita evidente, baseada em fatos, e não em um palpite.
    "Sim, os meus direitos foram violados. Mas e aí, o que vou fazer?", questionou Terry, que vive de bicos em Cypress Hill.
    Até em áreas de Manhattan onde são minoria, negros e latinos ocupam as primeiras posições nas estatísticas.
    Em bairros como Soho e Village, onde eles são apenas 8% da população, 77% dos "baculejos" são contra pessoas que se enquadram em algum dos dois grupos.
    Procurado pela Folha, o Departamento de Polícia de Nova York não quis comentar o "stop and frisk".
    Leia sobre aplicativo que orienta cidadãos
    folha.com/no1261200

      Isto é MADURO - Flávia Marreiro

      folha de são paulo

      Presidente interino da Venezuela colecionou deslizes e não raro constrangeu seguidores ao tentar emular o carismático Chávez
      FLÁVIA MARREIROENVIADA ESPECIAL A CARACASNicolás Maduro prometeu aos eleitores: não iria mais imitar passarinho em comícios, já que seus assessores o advertiram de que não pegava bem entre os chavistas.
      Apesar de declarar, anteontem, que abandonaria referências a sua mais famosa frase como candidato presidencial --a de que Hugo Chávez lhe apareceu em forma de passarinho--, Maduro saltou pássaros em seu último comício. O comportamento errático é revelador da campanha-relâmpago que levará a Venezuela às urnas no domingo.
      O mandatário interino, escolhido pelo antecessor como herdeiro, colecionou deslizes em horas a fio diante das câmeras e não raro constrangeu seguidores ao tentar emular o carismático Chávez com canto, dança e piadas.
      "Em campanha, ele é mais ou menos", diz a manicure Arnelis González, 23, que foi ao último ato de Maduro ontem em Caracas, contundente manifestação de força do chavismo que reuniu milhares em sete largas avenidas.
      Para Arnelis, o ex-chanceler quer ser Chávez, mas se perde ao falar. "Não o conhecemos ainda. Vamos ver como vai governar." Nas mãos dela, um ônibus de papelão com um desenho de Maduro, mimo distribuído pela campanha para reforçar a identidade popular do candidato, ex-motorista de ônibus.
      "Chávez traçou a rota, Maduro leva o volante", diz outro panfleto, um dos poucos trunfos da estratégia eleitoral governista para além da exploração da imagem e do luto de Chávez --o outro foi transformar o bigode do candidato em uma marca pop.
      "É importante que ele tenha sido motorista. Mostra que, não importa de onde a gente venha, podemos chegar longe", segue Arnelis, que mora na Grande Caracas e há um ano ganhou uma das 300 mil casas distribuídas pelo governo desde 2011 num megaprograma habitacional.
      Maduro é favorito nas pesquisas, mas analistas e institutos dizem que os dias de campanha intensa prejudicaram os números do governista.
      Segundo Oscar Schemel, do instituto Hinterlaces, a diferença entre ele e o opositor Henrique Capriles caiu de 18 para 10 pontos, mesma diferença que mostra levantamento do Datanálisis.
      "Maduro cometeu alguns erros, mas não muda significativamente a correlação de forças", afirma Schemel. "Não é só fervor quase religioso que liga a população à Chávez, há uma identificação com o modelo de inclusão. A oposição promete eficiência, mas não mudança de modelo. O chavismo ganhou o debate ideológico."

        OPOSITOR
        Capriles fala em reajuste do mínimo
        O candidato da oposição à Presidência da Venezuela, Henrique Capriles, escolheu o Estado de Lara, governado por seu mais forte aliado, para encerrar a campanha ontem ante milhares de seguidores.
        Mais cedo, Capriles pediu "uma oportunidade" ao eleitorado e distribuiu promessas: aumento de 40% do salário mínimo de uma só vez (seu oponente oferece até 45% escalonados) e dobrar o vale-alimentação.
        No Estado de Mérida, pelo menos nove pessoas ficaram feridas em uma série de distúrbios após um ato de campanha de Capriles.

        TV PAGA

        Estado de Minas - 12/04/2013

        Clássico do cinema

        Cristãos fervorosos, os pais de uma menina de 15 anos a encarregam de levar velas à igreja do vilarejo. No caminho, abordada por dois pastores, a menina é estuprada e morta. Por ironia, ao cair da noite, seus assassinos vão buscar abrigo na casa de seus pais, que, ao descobrir o triste destino da filha, só pensam em vingança. Este é o enredo de A fonte da donzela , de Ingmar Bergman, em cartaz no Cine conhecimento, às 22h, no Canal Futura. É o melhor filme da noite.

        Muitas alternativas na  programação de filmes


        Outro destaque da programação é a reprise de C.R.A.Z.Y. – Loucos de amor, exibido quarta-feira e que volta em versão dublada, às 22h, na Cultura. No Telecine Touch hoje tem a sessão Black power, com os filmes O verão de 76 (18h), O destino de uma vida (20h), Coach Carter – Treino para a vida (22h) e Bopha! À flor da pele (0h30). Na faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Guerra é guerra, no Telecine Pipoca; O bom filho à casa torna, no Telecine Fun; Carros usados, vendedores pirados, na TNT; American pie 2 – A segunda vez é ainda melhor, no Universal; O discurso do rei, no Max; O livro de Eli, no Max Prime; Extermínio 2, no FX; e De volta para o futuro III, no TCM. Outras atrações da programação: Dois é bom, três é demais, às 22h20, no Megapix; e Quebrando a banca, às 22h30, na Fox.

        Documentário mostra  o drama dos palestinos


        Além da Mostra Internacional de Cinema, a TV Cultura reservou para hoje, à 0h30, o documentário Hotel 9 estrelas. O filme narra a luta de Muhammad e Ahmad, dois palestinos que vivem escondidos na floresta de Modi in, perto da fronteira de Israel. Eles compartilham comida, pertences, histórias e o medo de ser presos, já que fazem parte do grande contingente de palestinos que trabalham ilegalmente nos territórios ocupados por Israel, atravessando a fronteira e arriscando tudo para
        poder sustentar suas famílias na Palestina.

        É preciso coragem para  encarar a escalada livre


        No Nat Geo, hoje é dia de Sextas de histórias extraordinárias, a partir das 22h15, com três documentários sobre o corpo humano: Pele, Músculos e Ossos. Outra produção que merece a atenção do assinante é Western gold, às 22h, no canal Off, acompanhando uma equipe de escalada livre, modalidade que evita o uso de pontos e apoios artificiais, em aventuras pelo interior dos Estados Unidos, de Washington a Idaho, Nevada, Wyoming e Columbia Britânica.
         
        Você já saboreou um  sanduíche de abacate?


        Depois de tanta coisa, bateu uma fominha? Então confira o episódio de Eat Street, às 20h15, na Fox Life. O programa começa em Los Angeles, com um cardápio à base de lagosta fresca e sanduíche de caranguejo com queijo brie grelhado. Numa segunda parte da viagem, já em Nova York, serão servidos pratos marroquinos, como o cuscuz de frango com limão. Depois é vez do taco em Atlanta, na Georgia. A parada final é em San Diego, e entre outras delícias está um sanduíche de abacate.

        INTOLERÂNCIA » Ministra se opõe a trotes-Felipe Canêdo‏

        Em palestra na Faculdade de Direito da UFMG, Maria do Rosário condena atitudes tidas como homofóbicas e racistas em ritos de passagem, e pede indignação contra esses atos 


        Felipe Canêdo

        Estado de Minas: 12/04/2013 

        Ainda no rescaldo das discussões sobre o trote controverso da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), centenas de estudantes, professores e pessoas interessadas no tema assistiram ontem a uma palestra da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário. O evento fez parte da campanha promovida pela reitoria, “Trote não é legal”. A ministra reiterou sua posição de repúdio a atitudes homofóbicas e racistas e destacou que o debate sobre esse trote pode orientar o sistema educacional de todo o país no enfrentamento a essas questões. “O principal é que a universidade está fazendo essa reflexão, ela está repercutindo em todo o Brasil, e o Brasil mostrou que também não aceita isso”, afirmou.

        A ministra Maria do Rosário pediu celeridade e seriedade na apuração do episódio ocorrido em 12 de março. A comissão de sindicância formada pela UFMG deve divulgar pelo menos um parecer sobre o trote na semana que vem, mas pode adiar por um mês a conclusão de seus trabalhos. Muito aplaudida, ela disse que é necessário repensar os valores que os trotes propagam no Brasil e disse ser preciso dar outro significado a esses ritos de passagem, para que atitudes como a dos estudantes presentes nesse caso não sejam encaradas com normalidade.

        O deputado federal e ex-ministro dos Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT-MG) lembrou a história de um skinhead que divulgou foto na internet tentando enforcar um morador de rua. Ele disse que atitudes como essa atentam contra os direitos humanos na cidade. Matéria publicada no EM ontem apontou ligação entre o acusado e um dos estudantes que aparecem em uma foto do trote da UFMG fazendo o gesto de saudação nazista, enquanto um aluno está amarrado a uma pilastra. “Isso é crime, e essas pessoas têm que ser punidas”, disse Nilmário. A ministra Maria do Rosário defendeu que o conceito de direitos humanos vem sendo distorcido e argumentou que ele não representa somente o direito do cidadão não ser violentado, verbal e fisicamente, mas  congrega uma série de direitos que devem garantir uma vida digna a todos.

        A vice-reitora Rocksane de Carvalho Norton explicou que os trotes já são proibidos e que a universidade lançou a campanha contra eles antes do episódio da Faculdade de Direito, que ocorreu poucos dias depois. “Esse trote foi muito emblemático porque tocou em assuntos muito caros na sociedade brasileira”, disse ela. O coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Jorge Mairink, de 21 anos, afirmou que a entidade repudia todas as atitudes racistas e homofóbicas ocorridas no trote e está atenta para que todos os envolvidos sejam punidos de forma justa.

        Eduardo Almeida Reis-Canetas e isqueiros‏

        Camisas polo e de botões, pouco ou nada usadas, andaram em local incerto e não sabido durante anos 


        Eduardo Almeida Reis

        Estado de Minas: 12/04/2013 

        Programa interessante na tevê sobre Marcel Bich (1914–1994), nascido um Torino, filho de um engenheiro francês, inventor da Bic, que tirou o agá da marca porque soa mal nos países de língua inglesa. Sou do tempo em que as aeromoças davam “tubinhos” aos passageiros para evitar que o vazamento, inevitável nas canetas-tinteiros, manchasse as nossas roupas. Antes de consultar o Houaiss acertei o plural de caneta-tinteiro, que também pode ser canetas-tinteiro. Mas vou falar dos isqueiros a gás. Fiquei viciado nos chineses nem sei bem por quê. Talvez tenha sido pelos preços pagos no atacado, graças aos bons ofícios do excelente João Dias, o Rei da Feijoada e do Mercado Central de BH. Dia desses, numa emergência, lembrei-me do patrão italiano, bilionário, que fumava e distribuía uma caixa de charutos cubanos por dia, e só usava isqueiros Bic, dos grandes. Lembrei-me, também, de que o seu operoso funcionário comprava dos mesmos isqueiros para acender os charutos dados pelo patrão. Na falta dos chineses, que vêm aí pelo Sedex, mandei comprar um Bic grande: uma fortuna! Mais que US$ 2 pelo câmbio do dia, o que é um furto. Mas funciona e, com jeito, não queima o polegar da mão direita. Palmas para o sr. Bic, ou Bich, como queiram.


        Consumista?
        Nunca fui consumista, até porque nunca nadei em ouro. Tive pouquíssimos carros zero, nenhum que configurasse exibicionismo ou estivesse acima das minhas posses. Quando vendi a roça fluminense sobrou dinheiro para comprar uma BMW, que evidentemente continuou na revendedora. Já no EM tive oportunidade de comprar um Mercedes, seminovo, por R$ 21 mil. Havia caixa, mas os meninos do Vrum me avisaram que os amortecedores, os faróis e o para-brisa continuavam custando os preços “praticados” pela Mercedes.

        Com a mudança mais recente aconteceu fenômeno até hoje sem explicação. Seguinte: surgiram do nada dezenas de camisas ótimas, de cuja existência juro que não desconfiava, e coisas como seis pares virgens de mocassins da Motex. Comprei-os, nunca os usei e não sabia deles. As camisas polo e de botões, pouco ou nada usadas, andaram em local incerto e não sabido durante anos. Incerto, não sabido e inexistente, porque um dos apês era mínimo e não havia lugar para ficarem escondidas. Em valores atuais, o conjunto de sapatos e camisas não chega a R$ 7 mil. Ainda assim, o fenômeno me encuca.


        Compromisso
        Não se pode pretender que um nativo deste país grande e bobo seja compromissado com o que promete fazer, com os horários que marca, com nada de coisa alguma. O descompromisso do brasileiro com o dia, a hora e os serviços agendados atingiu o nível do absurdo. Escrevo depois de 48 horas aguardando o instalador da Sky, contratada e paga, segundo recibo em meu poder. Pode? Tem cabimento uma coisa dessas? Sky em inglês é céu. No Brasil soa como inferno, apesar de nos prometer que o Galvão ficará longe do novo televisor LED de 47 polegadas. Por falar em televisor, não sei se já lhes contei que a velha Sony de 40” foi transformada em monitor de computador, e me pergunto: como pode um profissional da pena viver sem monitor de 40”? Enquanto isso, a Remington portátil que ganhei no meu aniversário de 12 aninhos foi transformada em enfeite na sala de visitas para alegria dos netos, que também se amarraram no monitor de 40”. Resta a IBM de esferas, imensa, pesadíssima, guardada em lugar seguro.

        Durante séculos ajudou-me no escritório a compor milhões de bem traçadas linhas, mas era tão cara que nunca pude comprar uma outra para escrever em casa. Não dou, não vendo, não empresto. Serviu-me bem, apesar dos problemas com uma linda secretária, que apanhava do marido surras de quebrar o braço. Sempre que me via trocando a lauda da IBM, a linda mineira achava que o philosopho tinha parado de pensar e dava o ar de sua graça com uma pergunta tola, uma observação descabida. Obrigou-me a comprar um pacote com aqueles rolos usados nas impressoras matriciais, que rodavam na IBM sem interrupção para trocar as laudas. Bons tempos...

        Técnica elimina vírus adormecido -Bruna Sensêve‏

        Pesquisadores conseguem pela primeira vez erradicar o citomegalovírus latente de células humanas infectadas. O micro-organismo está presente em 80% da população 


        Bruna Sensêve

        Estado de Minas: 12/04/2013 

        O citomegalovírus humano (HCMV) pertence à família dos herpesvírus, e, como seus similares, está de forma latente na grande maioria da população mundial adulta. Estima-se que esse percentual atinja entre 60% e 90%. Mais perigosa que doenças como a catapora e o herpes, a citomegalovirose pode levar à morte em pouco tempo quando se manifesta em indivíduos que estão com o sistema imunológico comprometido, como recém-transplantados, pacientes com Aids ou submetidos a sessões de quimioterapia. A letalidade não é a única preocupação. Os vírus dessa família, uma vez hospedados no organismo, não são mais removidos. Essa latência foi o objeto de pesquisadores liderados por Michael Weekes, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ao investigarem como o HCMV se mantinha presente, mesmo sem manifestação, nas células humanas, eles acreditam ter descoberto uma maneira de erradicá-lo do corpo.
        Os experimentos foram detalhados na edição de hoje da revista científica Science. Inicialmente, Weekes e sua equipe usaram células humanas cultivadas em laboratório para compreender quais seriam as diferenças moleculares entre as estruturas infectadas pelo HCMV e as que não tiveram contato com o micro-organismo. Por meio de técnicas modernas que permitem estudar quantitativamente as proteínas expressas nas células, os pesquisadores perceberam nas estruturas infectadas uma baixa quantidade da proteína MRP1.

        “Essa proteína fica normalmente na membrana da célula, é o que chamamos de transportadora. Ou seja, ela é uma das responsáveis por retirar substâncias tóxicas invasoras, levando-as para fora do ambiente celular”, esclarece a chefe do Departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia Paulo Goes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciana Jesus da Costa.

        Nas células infectadas, os cientistas perceberam também a presença abundante de uma proteína originária de informações do código genético viral. Aos ser infectada por um vírus, a célula passa a armazenar informações genéticas do micro-organismo, que começam a evidenciar as proteínas, mesmo enquanto em estado de latência do vírus. O papel dessas proteínas produzidas continuamente pelas células infectadas não é muito bem conhecido pela comunidade científica, mas imaginava-se que elas participem do processo de manutenção da latência do vírus.

        A grande surpresa dos cientistas foi descobrir que os dois processos se relacionavam. “Eles viram que a presença da proteína usada pelo vírus para ficar latente é o que faz com que a proteína da própria célula (MRP1) não seja mais produzida. A proteína do vírus leva à destruição de uma proteína da célula do hospedeiro, mesmo que em latência”, explica Luciana.

        Weekes e sua equipe partiram, então, para uma hipótese. Se a célula que tem o vírus em latência não tem a proteína transportadora que a defende do “ataque” de substâncias tóxicas, é possível que, ao injetar essas substâncias, a célula infectada não consiga se defender e morra. Para comprovar essa teoria, eles depositaram uma droga tóxica na células infectadas, que, como imaginado, morreram. “O grande significado disso é que se você quiser eliminar do organismo as células que têm esse vírus em latência, é possível fazer um tratamento com uma droga com esse efeito”, diz Luciana.

        Testes clínicos Mesmo que a pesquisa tenha sido realizada em nível molecular, a professora da UFRJ acredita que os testes clínicos para esse procedimento podem estar próximos. “Ainda é um pouco cedo e preliminar, mas, de repente, o custo/benefício justifica levar isso para um ensaio clínico. Uma porcentagem até razoável de pacientes morre em consequência da reativação desse vírus”, diz. Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcelo Simão destaca que a busca por técnicas de remoção do vírus latente é importante justamente devido às complicações sofridas por pacientes imunossuprimidos – com o sistema imunológico comprometido. “No caso de doenças graves que necessitem de quimioterapia ou de um transplante, ele (o vírus latente) reativa, causa a doença e pode matar o hospedeiro. Na Aids, é devastador, causando lesões no tubo digestivo, nervoso, nas glândulas suprarrenais, no fígado, no pulmão.”
        Simão alerta que não são só os indivíduos com o sistema imunológico comprometido que sofrem com a manifestação da doença. Pessoas que não têm esse problema podem apresentar os sintomas da forma benigna da citomegalovirose: dor de garganta, aumento do gânglios linfáticos e do baço, além de uma leve hepatite. “Isso dura cerca de quatro semanas ou um pouco mais. Para esse caso, não fazemos tratamento porque é uma doença autolimitada, que vai desaparecer naturalmente sem precisar tratar.”

        O tratamento com drogas específicas para combater a multiplicação do vírus é indicado apenas para pacientes imunossuprimidos. A droga é capaz de frear a reativação viral, mas não chega a erradicar o microorganismo do corpo do indivíduo. “A maioria dos pacientes responde bem à medicação, pelo menos temporariamente. Claro que, se a deficiência imunológica do paciente persiste, ele pode voltar a reativar a doença mais uma vez”, diz o infectologista.

        Contágio
        A maior parte da transmissão do citomegalovírus humano (CMV) ocorre por via sexual. A estimativa é de que 80% da população chegue aos 30 anos de idade já infectada. O micro-organismo também pode ser transmitido de forma congênita, isso é, a mãe portadora contamina o filho durante o parto ou pela placenta. “Quando ele entra no organismo, alguns podem ter a doença aguda com febre, mas, na maior parte das vezes, não acontece nada. A pessoa se contamina e nem sabe”, explica Marcelo Simão, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.



        Sintomas inexistentes




        Segundo a professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marise Oliveira Fonseca, o citomegalovírus humano (HCMV) não é o único conhecido por sua latência dentro do organismo hospedeiro. Existem outros micro-organismos que são latentes, como a bactéria Mycobacterium tuberculosis e o protozoário Toxoplasma gondii, que causam, respectivamente, a tuberculose e a toxoplasmose.

        Esse período de latência significa que eles estão dentro das células, mas não causam sintomas ou manifestam a patologia, porque entram em equilíbrio com o corpo do hospedeiro. “Eles conseguem entrar em contato com o vírus, o protozoário ou a bactéria e impedir o desenvolvimento de doenças. Ou então, às vezes, as pessoas até manifestam a doença, mas o sistema imunológico consegue combater a infecção”, explica Marise.

        O mesmo não ocorre quando o indivíduo tem alguma deficiência no sistema imune. Nessa situação, o vírus pode reativar. “É o que ocorre em pessoas portadoras do HIV. Ela teve contato na infância com o citomegalovírus humano, mas quando a Aids se manifesta, a defesa diminui e a pessoa perde a força do sistema imunológico. O vírus, então, reativa a doença.” Durante a latência, agente infeccioso e hospedeiro estão em um certo equilíbrio. A imunossupressão faz com que o vírus tenha mais força e espaço que o sistema imunológico do hospedeiro. O HCMV pertence à família do herpesvírus, assim como a catapora, o herpes simples, genital e zoster. Uma característica desse grupo é que uma vez no organismo ele nunca é removido. (BS)

        Efeito Dirceu - Painel - Vera Magalhães

        folha de são paulo

        Prestes a definir o novo ministro do STF, o Planalto já trabalha com a perspectiva de que o substituto de Ayres Britto enfrentará dura sabatina do Senado. Auxiliares de Dilma entendem que, após a entrevista de José Dirceu, parlamentares cobrarão detalhes da triagem para o posto. A ordem é disseminar entre congressistas que Rosa Weber e Teori Zavascki foram escolhas "acima de qualquer suspeita" e Luiz Fux, nas palavras de um interlocutor, "uma herança do governo Lula".
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        Menos um Cotado para o STF, Luiz Roberto Barroso vai passar uma temporada no Instituto de Estudos Avançados, de Berlim. Ele era lembrado pela vaga por interlocutores com trânsito no Judiciário desde o governo Lula.
        Sem chance 1 Advogados do mensalão não abraçarão iniciativa do setorial jurídico do PT de alegar impedimento de Fux no julgamento.
        Sem chance 2 Para os criminalistas, a acusação de que o ministro prometera absolver Dirceu antes de ser indicado ao Supremo poderia ensejar pedido de impeachment definitivo, mas eles não vão topar a empreitada.
        DNA Tucanos festejavam ontem os 13 anos de criação do Bolsa Escola, programa que consideram ter sido a gênese do Bolsa Família, vitrine de Lula. Coube a Fernando Henrique Cardoso exaltar nas redes sociais o ato inaugural, em abril de 2001, com o então ministro Paulo Renato Souza (Educação).
        Tricô Depois de cumprir agenda em São Paulo, Fernando Pimentel (Desenvolvimento) encontrou FHC no aeroporto. Engataram animada conversa. Têm em comum duas paixões: os vinhos e a literatura ibero-americana.
        Cinturão Prefeitos petistas da Região Metropolitana de São Paulo se reúnem hoje em Guarulhos. Tratarão da disputa interna em curso no partido e da eleição para o governo estadual em 2014.
        Fla-Flu O presidente do PT-SP, Edinho Silva, vem sendo cobrado a selar o mais rápido possível o acordo para sua sucessão. Nas caravanas pelo interior, claques de Emídio Souza e Vicente Cândido têm trocado insultos. O ex-prefeito de Osasco é o favorito para assumir o cargo.
        Avexado Chamou a atenção de senadores o empenho de Aécio Neves pela aprovação do substitutivo que muda a partilha do FPE. O tucano articulou apoio da bancada mineira ao texto, que beneficia Estados do Nordeste.
        Copyright Kátia Abreu (PSD-TO) pediu o cancelamento de seu exemplar do clipping de jornais enviado diariamente pelo Senado. A senadora afirma que é "controversa" a elaboração de resumos noticiosos sem autorização e remuneração ao titular dos direitos autorais.
        Colheita Após aceno ao MST, a corrente Esquerda Popular Socialista apoiará a reeleição de Rui Falcão no PT.
        Visitas à Folha Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, visitou ontem aFolha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Weiller Diniz, assessor de comunicação da Presidência do Senado.
        Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), visitou ontem a Folha. Estava com Carlos Anibal Almeida, diretor executivo da Unidade de Negócio Papel P&D e Inovação da Suzano Papel e Celulose e Ives Gandra da Silva Martins, advogado e presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP.
        João Capiberibe (PSB-AP), senador, visitou ontem a Folha. Estava com Julio Moreira, assessor de imprensa.
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        TIROTEIO
        "O Congresso se mostra incapaz de cumprir o seu papel, ficando estático ante a demanda popular pela mudança do sistema eleitoral."
        DO JUIZ MÁRLON REIS, integrante do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, sobre a Câmara ter sepultado novo projeto de reforma política.
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        CONTRAPONTO
        Diversão noturna
        Em sessão, anteontem, deputados discutiam projeto que restringe acesso de novas siglas a fundo partidário e tempo de TV. Esperidião Amin (PP-SC) defendeu:
        --Ficamos mais ou menos na situação da prostituta que, tendo se aposentado com o dinheiro que ganhou, acha que a virtude pública exige o fechamento da zona. Fechemos o mercado ou a zona!
        Chico Alencar (PSOL-RJ), crítico da tese, reagiu:
        --Compararia com uma gafieira, como as do Rio, que fecharia a entrada antes do horário habitual. Quem entrou, dançou, quem não entrou, não dançará mais...

          Mosaico da evolução-Vilhena Soares‏

          Segundo novos estudos, o Australopithecus sediba, espécie que viveu há 2 milhões de anos, reunia mistura de características humanas e de macacos


          Vilhena Soares

          Estado de Minas: 12/04/2013 

          Brasília – Mais novidades sobre o Australopithecus sediba, espécie que viveu há aproximadamente 2 milhões de anos e que desde sua descoberta intriga especialistas em evolução. Uma série de artigos publicados na edição de hoje da revista Science traz uma visão geral sobre o que se sabe sobre a anatomia desse hominídeo, com base em fósseis localizados na África do Sul. Os seis estudos ainda não dão certeza sobre em que parte da árvore genealógica dos hominídeos essa espécie se encaixa, mas mostram que ela é um exemplo notável da evolução humana, reunindo traços anatômicos encontrados em humanos e em macacos.

          Esse mosaico de características – a pélvis, as mãos e os dentes têm características humanas, por exemplo, enquanto os pés se parecem com os de chimpanzés – é o que torna difícil a classificação do A. sediba. Ele seria mais australopiteco ou mais humano? Ou uma ligação entre os dois gêneros? Hipóteses o colocam como uma espécie intermediária entre o Australopithecus africanus e o Homo habilis, enquanto outros especialistas arriscam dizer que se trata de um ancestral direto do Homo erectus. De qualquer forma, os restos achados na África do Sul são a prova de que a evolução está longe de ser algo linear e simples.

          Depois de analisar os estudos, o paleontólogo Jorge Ferigolo, do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, afirma que os novos dados trazem grandes avanços para tentar elucidar a história da evolução. “Com todas essas análises feitas, em membros superiores, mandíbulas, tórax e pés, podemos ver muitas semelhanças tanto com o A. africanus quanto com o Homo erectus, cartacterísticas que preenchem espaços em branco das pesquisas na área”, explica. “Na evolução, sempre trabalhamos com essas descobertas diferentes. O próprio Homo erectus tem elementos variados.”

          Dentes e mandíbula Uma das pesquisas divulgadas destaca as características dentárias de dois esqueletos (um masculino, chamado MH1, e um feminino, denominado MH2). Os dentes, afirmam os especialistas, são uma colagem de características primitivas, mas, como nos humanos, a espécie tinha cinco cúspides (a ponta ou extremidade aguda) em seu dente molar. Um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, Joel Irish, destaca a importância da descoberta, já que esse é um grande diferencial usado na classificação dos mamíferos. “A parte mais significativa foram os molares, porque, com esses indícios, pudemos distinguir o esqueleto de outros tipos, mostrando que o A. sediba está mais perto de australopitecos da África do Sul, mas com traços humanos”, explica Irish.

          Em outro artigo, o pesquisador Darryl de Ruiter e colegas examinaram a mandíbula de MH2, revelando uma queixada que difere da de outros australopitecos, tanto no tamanho quanto na forma. “Fizemos uma análise morfométrica, uma técnica matemática que nos permite examinar várias medidas diferentes de uma só vez. O que descobrimos foi que a mandíbula dela difere da de outros hominídeos, o que significa que estamos olhando para uma diferença biológica significativa”, diz.
          Ruiter define como importante a descoberta para estabelecer um padrão de crescimento do esqueleto. “Vimos que a forma de crescimento foi única, o que garante que o A. Sediba era mesmo uma espécie particular. E talvez o mais importante: descobrimos que essa característica apoia a hipótese de que a espécie compartilha uma ascendência estreita com o gênero Homo”, complementa o pesquisador.

          Membros superiores A pesquisa referente aos membros superiores também aponta a mistura de elementos. Segundo o antropólogo Steve Churchill e seus colegas, os braços e os antebraços do A. sediba eram longos, sugerindo a conservação da capacidade de escalada e suspensão. Essas são características de australopitecos, mas as mãos lembram muito as humanas. O paleontólogo destaca que essa miscelânea é uma das partes mais surpreendentes do estudo. “Os esqueletos são primitivos em muitos aspectos, como o cérebro e o corpo pequeno, mas apresentam também traços humanos, por exemplo a organização do cérebro, o tamanho reduzido dos dentes e os músculos da mastigação”, define Churchill.

          Os cientistas comemoram ainda a conservação dos ossos encontrados, o que permitiu chegar a essa conclusão. “Temos o membro superior mais bem reservado de todos os australopitecos já descobertos. Para o esqueleto MH2, temos ossos completos ou quase completos, a partir do ombro para baixo do pulso (e têm um esqueleto de mão quase completo também). Isso nos permite determinar proporções dos membros sem ter que estimar o comprimento de todos os ossos”, explica Churchill.
          Os indícios encontrados nos membros superiores apontam um jeito totalmente original de andar, apoiando-se apenas parcialmente nos braços. Ao analisar os esqueletos, o pesquisador Jeremy DeSilva chegou à conclusão de que a espécie realizava um salto pequeno, já que seu calcanhar se assemelhava ao de um chimpanzé.

          O A. sediba provavelmente andava com uma rotação interna do joelho e do quadril, com os pés ligeiramente torcidos. Os resultados sugerem que as espécies de australopitecos com traços tanto de macacos quanto de humanos utilizavam sua anatomia de maneiras diferentes – alguns subiam em árvores, alguns caminhavam no chão.

          O tórax e a coluna também foram pesquisados e renderam resultados interessantes. A equipe de Scott Williams analisou duas colunas vertebrais parciais, observando que o tórax superior era muito estreito, como o dos australopitecos, mas a coluna vertebral tinha o mesmo número de vértebras do Homo erectus. A espinha da espécie ostentava uma volta mais longa e mais flexível, também mais semelhante à do H. erectus.

          O Australopithecus sediba ainda deve render muitos estudos de antropólogos e paleontólgos, que têm esperança de descobrir mais peças. “Desenterrar mais fósseis nos próximos anos pode trazer mais surpresas. Na paleontologia, sempre esperamos que, com mais achados, possamos preencher os espaços entre as espécies”, diz o paleontólogo Jorge Ferigolo.

          Em Malapa
          A descrição do Australopithecus sediba foi baseada em dois esqueletos parciais encontrados em Malapa, na África do Sul, em 2008. No local, foram achados restos de um macho de aproximadamente 13 anos e de uma fêmea adulta, com cerca de 30 anos. Os A. sediba podem ter vivido em savanas e se alimentado de frutas e outros alimentos encontrados em florestas – comportamento semelhante  ao de chimpanzés das savanas atuais. As condições pelas quais os indivíduos foram preservados são consideradas extraordinárias pelos cientistas. 

          Rosiska Darcy de Oliveira é eleita para Academia Brasileira de Letras

          folha de são paulo

          ILUSTRADA - EM CIMA DA HORA
          DO RIO - Confirmando seu favoritismo, a escritora e jornalista Rosiska Darcy de Oliveira foi eleita na tarde de ontem para a cadeira nº 10 da Academia Brasileira de Letras. Ela venceu com 23 dos 38 votos possíveis e derrotou outros 14 candidatos, entre eles o poeta Antonio Cícero, que teve seis votos.
          "A Academia era uma aspiração minha como escritora, que é algo que fui a vida inteira", disse a nova imortal.
          Rosiska é bacharel em direito, já trabalhou como jornalista na TV Globo e no "Jornal do Brasil" e é conhecida pela sua atuação na área de direitos da mulher. Exilada durante a ditadura militar, viveu na Suíça, onde se tornou doutora na Universidade de Genebra.
          Entre seus livros estão "Elogio da Diferença", "Reengenharia do Tempo" (ambos de não ficção), "A Dama e o Unicórnio" e "Chão de Terra" (crônicas), todos editados pela Rocco.
          A nova imortal sucede ao poeta Lêdo Ivo (1924-2012) e será a quinta mulher entre os agora 39 acadêmicos. A posse será marcada em até 60 dias.

            Barbara Gancia

            folha de são paulo

            Margaret Thatcher: é complicado...
            O movimento punk não surgiu com Thatcher; ambos são fruto da penúria generalizada dos anos 70
            Só não existe uma estátua de Margaret Thatcher para competir em magnitude com a monstruosidade erguida em homenagem a Winston Churchill na frente do Parlamento, porque o Establishment britânico jamais en­golirá o que considera ser a vulgari­dade das origens pequeno-burgue­sas da ex-primeira-ministra morta nesta semana.
            Para se ter uma ideia da animosi­dade que a aristocracia nutre por Maggie, basta dizer que a rainha Elizabeth nunca manteve segredo de que os 11 anos de convivência com ela representaram um verda­deiro martírio para a soberana, obrigada a receber Thatcher todas as terças-feiras nas audiências de prestações de contas entre ambas.
            Bem, qualquer ser minimamente sociável dificilmente escolheria a ex-primeira-ministra para passar o fim de semana no Guarujá, ou, qui­çá, a chamaria para flanar diante das vitrines do shopping JK. Além de ser a personificação mais refina­da da antipatia, a mulher represen­ta a imagem da crueldade para uma inteira geração. Mas não passa de maniqueísmo típico da turma que precisa apaziguar suas emoções in­fantis tratar Margaret Thatcher co­mo aquela governanta má de conto de fadas, que só causa fogo e caos.
            Cheguei à Inglaterra para morar em 1976 e encontrei uma pocilga em que a juventude não tinha perspectiva de carreira. Todo o mundo e seu vizinho pareciam estar desempregados; imigrantes eram xingados nas ruas, quando não ata­cados fisicamente e culpados aber­tamente pelo desemprego recorde.
            Os serviços públicos davam vergo­nha e/ou nojo. As filas eram enor­mes e as brigas com funcionários públicos, corriqueiras. O país vivia refém dos sindicatos --a cada dia pa­rava um serviço essencial.
            A Inglaterra já estava moribunda, seja pela inércia de império acomo­dado, seja pela crise do petróleo. Não foi Thatcher que trouxe o problema. Até enten­do a lamúria do manifesto que Morrissey, ex-The Smiths, emitiu nesta semana, alegando que a "dama de ferro" "não tinha um pingo da hu­manidade".
            Note que o movimento punk não surgiu por conta do governo That­cher. Ambos são fruto da mesma árvore de penúria generalizada.
            Goste-se ou não dela, estamos fa­lando de uma mulher --repito, de uma mulher-- que conseguiu liderar o Partido Conservador contra a vontade da elite que conduz o país desde 1066 e que teve coragem de dobrar os sindicatos, coisa que os trabalhistas nunca tinham feito.
            Além disso, mandou o maridão superbem-sucedido, Dennis, para casa vestir chinelos enquanto ela dava conta do recado.
            Que eu saiba, quem sugere que se faça isso é o best-seller "Faça Acon­tecer", de Sheryl Sandberg, a superexecutiva do Facebook, considera­da a porta-voz do novo feminismo.
            Maggie destruiu as pesquisas mé­dicas nas universidades, as artes, a cultura e a educação? Sim. Mas já estava tudo indo pro brejo mesmo.
            A política de austeridade, de corte de gastos e a prestação de contas no receituário keynesia­no que ajudou a impor, taxando o consumo, não os ganhos, privati­zando serviços já sucateados e dan­do autonomia ao Bank of England, o Banco Central da Inglaterra, são medidas que reergueram o país.
            É claro que sua figura dickensiana de vilã intragável com aquela ex­pressão de harabishueba (merda no bigode) não será esquecida tão cedo. Mas julgá-la por ser ami­ga de Pinochet ou por massacrar os pobres garotos argen­tinos indefesos sem pensar duas vezes é tentação à qual não podemos ceder tão facilmente diante do imenso novelo da histó­ria.

            Infelicianeidade - Frei Betto - Tendências/Debates

            folha de são paulo

            FREI BETTO
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            Infelicianeidade
            Nada contra o pastor Feliciano abominar negros e odiar homossexuais. Desde que não transforme seu mandato em retrocesso
            Vocábulos nascem de expressões populares. Assim como nomes próprios trazem significados que deitam raízes em suas respectivas etimologias. Feliciano é nome de origem latina, derivado de felix, feliz. Nem sempre, contudo, uma pessoa chamada Modesto deixa de ser arrogante, e conheço uma Anabela que é de uma feiura de fazer dó.
            Estamos todos nós, defensores dos direitos humanos, às voltas com um pepino federal. Nossos servidores na Câmara dos Deputados, aqueles cujos altos salários são pagos pelo nosso bolso, cometeram o equívoco de eleger o deputado e pastor Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
            O pastor deputado, filiado ao PSC-SP, escreveu em seu Twitter: "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato". Em outra mensagem, postou: "Entre meus inimigos na net (sic) estão satanistas, homoafetivos, macumbeiros...".
            Em processo aberto no Supremo Tribunal Federal, Feliciano é acusado de induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião --crime sujeito à prisão de um a três anos, além de multa. Em sua defesa, Feliciano afirma: "Citando a Bíblia (...) africanos descendem de Cão (sic) (ou Cam), filho de Noé. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos ignorar as maldições".
            Que deus é esse que amaldiçoa seus próprios filhos? Essa suposta teologia vigorou no Brasil colonial para justificar a escravidão. O Deus de Jesus ama incondicionalmente a todos. Ainda que O rejeitemos, Ele não deixa de nos amar, conforme atestam a relação do profeta Oseias e sua mulher, Gomer, e a parábola do Filho Pródigo.
            Todo fundamentalismo cristão é ancorado na interpretação literal da Bíblia, que deriva da ignorância exegética e teológica. Os criacionistas, por exemplo, acreditam que existiram um senhor chamado Adão e uma senhora chamada Eva, dos quais somos descendentes (embora não expliquem como, pois tiveram dois filhos homens, Caim e Abel...). Ora, Adão em hebraico é terra, e Eva, vida. O autor bíblico quis acentuar que a vida, dom maior de Deus, brota da terra.
            Ter Feliciano como presidente de uma comissão tão importante --por culpa de legendas como PMDB, PSDB e PT-- é uma infelicidade. Não condiz com o nome do deputado que, na roda do samba que está obrigado a dançar, insiste no refrão: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira".
            O deputado é um pastor evangélico. Sua conduta deveria, no mínimo, coincidir com os valores pregados por Jesus, que jamais discriminou alguém.
            Jesus condenou o preconceito dos discípulos à mulher sírio-fenícia; atendeu solícito o apelo do centurião romano (um pagão!) interessado na cura de seu servo; deixou que uma mulher de má reputação lhe lavasse os pés com os próprios cabelos e ainda recriminou os que se escandalizaram ao presenciar a cena; e não emitiu uma única frase moralista à samaritana adepta da rotatividade conjugal, pois estava no sexto homem! Ao contrário, a ela Jesus se revelou como o Messias.
            É direito intrínseco de todo ser humano, e também da democracia, cada um pensar pela própria cabeça. Nada contra o pastor Feliciano, na contramão do Evangelho, abominar negros e odiar homossexuais e adeptos da macumba. Desde que não transforme seu preconceito em atitude discriminatória e seu mandato em retrocesso às conquistas que a sociedade brasileira alcança na área dos direitos humanos.
            Estamos todos nós indignados frente ao impasse armado pelo jogo político rasteiro da Câmara dos Deputados. Eis uma verdadeira situação de infelicianeidade, com a qual não podemos nos conformar.


            MARCOS TROYJO
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            China: improvável líder global
            É improvável que Pequim deseje financiar sua condição de líder global. Tal status é incompatível com o modelo de crescimento que adotou
            Com a recente elevação de Xi Jinping ao status de premiê chinês, pergunta-se cada vez mais como se dará o desdobramento da ascensão da China no cenário global. Será que, além de ser motor do crescimento mundial, a China também deseja exercer maior liderança? Ser vista como única potência de dimensão semelhante à dos EUA?
            Muitos analistas rapidamente decretam que o impressionante crescimento econômico chinês delineia uma nova ordem global, em que a China será a potência preponderante. Existem, no entanto, graves falhas nessa maneira de ver o desenrolar das relações internacionais nos próximos 50 anos.
            Historicamente, como bem exemplifica Henry Kissinger em seu "Sobre a China", líderes chineses sempre enxergaram sua cultura como intrinsecamente superior. O modelo chinês de império se caracterizou ao longo do tempo não pela expansão de sua cultura, mas pela absorção de outras culturas. Diferentes civilizações, localizadas em seu entorno geopolítico, foram incorporadas à visão de mundo chinesa.
            O fechamento a outras culturas incutiu na alma e na arquitetura chinesas marcas perceptíveis. Vem à mente o hermetismo da Cidade Proibida ou o da Grande Muralha, monumentos ao isolacionismo chinês.
            É curioso constatar que a recente ascensão da China se dá como notável exceção a seu paradigma histórico de insularidade. Por causa de uma "externalidade geopolítica" dos anos 1970 --a necessidade dos EUA de rachar a viga mestra do comunismo mediante a promoção do cisma sino-soviético--, os benefícios econômicos estendidos à China a reconfiguraram como potência exportadora. Seu êxito resulta portanto de uma "mudança de DNA"; de ter seu crescimento voltado para fora.
            A ideia de "liderança global" é um experimento a que as autoridades chinesas ainda não decidiram se lançar. A extroversão da China em outros campos que não o da economia é obra difícil. Na arena política global, a visão chinesa tem sido de "crítica parcial", não necessariamente de oposição a um sistema protagonizado pelos EUA.
            A razão é simples. A geopolítica dos últimos 30 anos, em que a China é menos um ator e mais um espectador, criou ambiente propício à continuada prosperidade chinesa.
            A China talvez seja o país que menos contribuiu para as operações de paz da ONU entre os países-membros do Conselho de Segurança. É ainda o que mais oferece resistência a movimentos de reforma do conselho, particularmente ao aumento do número de membros permanentes.
            Liderança global, hipótese em que a China teria de assumir mais responsabilidades no campo da paz e segurança, é um luxo bastante caro. Ao passo que, em 2012, cada cidadão norte-americano despendeu US$ 1.700 com defesa, cada chinês gastou apenas US$ 65.
            É improvável que a China deseje financiar sua condição de líder global. Tal status é incompatível com o modelo de crescimento adotado até o presente por Pequim. Ademais, embora muitas nações flertem com a experiência chinesa de crescimento econômico, é impossível reproduzi-la como modelo "adaptável" a diferentes realidades socioeconômicas.
            E há também limitações em termos de "soft power". Se liderança tem que ver com o plano dos valores, que projeto a China tem a oferecer ao mundo? Assim, dificilmente pode-se pensar a China como "role model", um exemplo a ser seguido, ou mesmo imaginar um "sonho chinês" a inspirar indivíduos ou países das mais variadas culturas.

            Marina Silva

            folha de são paulo

            Forma e conteúdo
            Na noite desta quarta, o Brasil assistiu, envergonhado, a um debate indigno do Legislativo e sua tradição democrática. Na forma e no conteúdo, houve o que o deputado Roberto Freire com acerto classificou como tentativa de golpe.
            Todos já esperávamos que a reforma política fosse adiada outra vez, por falta de interesse dos que estão no poder e não querem mudar o sistema que lhes favorece. Mas há um fantasma que querem afastar: que novos partidos políticos (especialmente a Rede Sustentabilidade, que recolhe assinaturas para seu registro e ousa antecipar em seu estatuto avanços como o teto de contribuição financeira, limitação de dois mandatos para parlamentares etc.) venham renovar a política brasileira e mudar, na prática, regras que permanecem no papel.
            A imprensa noticiou uma reunião no Planalto em que o governo instruiu seus operadores a votarem, em regime de urgência, um projeto que retira dos novos partidos o acesso ao tempo de TV e ao fundo partidário. Os direitos que foram garantidos a um partido aliado, recém-criado, seriam negados aos que não seguem a cartilha governista. Esse é o conteúdo do debate, baseado numa ética de ocasião expressa pela máxima "Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei".
            Mas a forma conseguiu ser pior. Basta ver as metáforas de mau gosto, com termos impróprios à publicação, usadas para debater as regras políticas da República. O regime de urgência não passou por falta de dez votos. A bancada governista diz que aprovará o projeto na próxima semana. Talvez o tempo sirva para que os deputados repensem a forma e o conteúdo do debate.
            Os movimentos que defendem o patrimônio socioambiental exigem ética na política, protestam contra o loteamento dos cargos públicos, além de outras justas causas do povo brasileiro. Buscam ampliar a visão encurtada pelo poder a qualquer preço, democratizar os processos políticos monopolizados pelos partidos e criar novas estruturas para reconectar a política com a ideia de bem público. Justamente o contrário dos privilégios e deleites particulares sugeridos pelas metáforas vulgares. Esse é o novo conteúdo que trazem a um debate que precisa chegar ao século 21, que bate à nossa porta de forma dramática.
            Renovar a linguagem é urgente. Em vez do ódio, expresso em ofensas, estimulado numa polarização em que o outro é visto como inimigo, deve ter espaço a fraternidade, capaz de construir consensos sobre o que é urgente para o futuro. É por isso que o novo ativismo, que está na base das novas propostas políticas, é bem-humorado, criativo, irreverente sem ser desrespeitoso.
            Uma nova política tem como uma causa central a qualidade da educação. É o que parece faltar à velha política.

              Ruy Castro

              folha de são paulo

              A falsa boa ideia
              RIO DE JANEIRO - Sempre achei que a origem de uma expressão deveria ser estudada pelos linguistas com o amor com que os astrônomos se debruçam sobre o nascimento de uma estrela. Lembrei-me disso outro dia ao saber da morte de Roy Brown Jr., um designer americano cuja grande criação --um carro que ele bolou para a Ford nos anos 50-- tornou-se sinônimo nos EUA de "a bold bad idea", uma ousada má ideia. E que no Brasil se traduziu para, melhor ainda, "a falsa boa ideia".
              O carro criado por Brown em 1957 foi o Edsel, um rabo de peixe cheio de bossas para a época, como ar-condicionado, alerta automático para gasolina no limite e outro para velocidade acima da predeterminada pelo motorista. A campanha de lançamento foi maciça: "Nunca houve um carro como o Edsel". Foram postas no mercado 200 mil unidades em 18 modelos e outras tantas cores. Mas, dois anos depois, menos da metade tinha sido vendida. Humilhado, o Edsel saiu de linha e surgiu a expressão "falsa boa ideia".
              Por que o Edsel fracassou? Talvez porque os rabos de peixe estivessem ficando fora de moda. Ou porque o Edsel bebesse muito. Ou pela chegada dos carros europeus. Como se não bastasse o prejuízo, a Ford detestou que o nome do filho único do fundador Henry Ford --Edsel-- ficasse associado a um fiasco.
              Quando o Edsel foi lançado, Roy Brown tinha 40 anos. De certa forma, sua carreira acabou ali. Mas ele nunca aceitou que o carro fosse ruim. Tanto que, pelo resto da vida, nunca dirigiu outro --conservou vários. E olhe que, ao morrer, outro dia, tinha 96 anos.
              Em vez de defender seu carro até o fim, Brown deveria ter ficado orgulhoso de sua contribuição linguística. "Falsa boa ideia" é um achado. E indispensável para definir quase tudo que --como ele-- eu, você, o governo, a oposição, enfim, todos nós vivemos cometendo.

                Tudo de tudo - Eliane Cantanhêde

                folha de são paulo

                BRASÍLIA - De um analista de poder: "Um problema da Dilma é que ela acha que sabe tudo de tudo, mas o pior é que a Dilma acha que só ela sabe tudo de tudo".
                O autor do diagnóstico é do setor elétrico, área que alavancou a carreira política de Dilma: o seu cargo no governo gaúcho, o ministério no governo Lula e, enfim, a candidatura à Presidência. Mas o diagnóstico não é só para o setor elétrico, vale para "tudo de tudo", como ele frisou. E tem sido um complicador, particularmente, na gestão da economia.
                O Brasil vive a curiosa situação de crescimento raquítico, com investimentos e indústria em baixa, ao lado de níveis pujantes de emprego e inflação preocupante. Com a palavra, o Banco Central, certo? Não, errado.
                Da mesma forma com que Dilma jura dar prioridade ao combate à inflação, mas os seus quatro anos de governo registrarão índices sempre acima do centro da meta, ela jura dar autonomia ao BC, mas há controvérsia. Ao se reunir com três grandes economistas a uma semana do Copom (que define a taxa Selic no BC), ela sinaliza que quem decide é ela. Se vai seguir o que os convidados disseram, são outros quinhentos.
                Dilma investe em pronunciamentos impecáveis pela TV para guerrear contra os juros altos e anunciar ora a redução da conta de luz, ora preços menores para a cesta básica. Não é fácil agora, politicamente, justificar aumento de juros, explicar quem afinal financia a luz mais barata e admitir que os produtos da cesta básica não caíram tanto assim.
                Como presidente, Dilma capitaneou ao máximo as quedas de juros. Como candidata, vai engolir um recuo. E agora, José? Ou e agora, João Santana? Camila Pitanga, que comemorava a queda dos juros na CEF, sumiu. Mas ninguém esqueceu.
                O BC, o mercado, os economistas e os acadêmicos sabem que não há alternativa: é subir os juros ou subir os juros, maior rigor fiscal ou maior rigor fiscal. Mas... é a Dilma que sabe tudo de tudo, certo?

                  Maioridade penal - Helio Schwartsman

                  folha de são paulo

                  SÃO PAULO - Como sempre ocorre quando um menor comete um homicídio bárbaro, cerca de dois terços da população erguem a voz para pedir a redução da maioridade penal. Compreendo a revolta, mas não me incluo nessa robusta maioria.
                  É claro que os 18 anos encerram algo de arbitrário. Se quiséssemos fugir aos caprichos do legislador e adotar uma regra informada pela ciência, teríamos, na verdade, de empurrar o limite para além dos 20 anos, que é quando amadurece o córtex pré-frontal, área do cérebro responsável por tomar decisões complexas e controlar a impulsividade.
                  Uma medida dessa natureza, porém, não contribuiria para manter a coesão social, o que a torna impraticável. Já que a arbitrariedade é inescapável, por que não ouvir o apelo da população e reduzir a maioridade? Se o jovem de 16 anos já pode votar e fazer sexo, por que não haveria de responder criminalmente por seus atos?
                  Se estivéssemos criando um corpo jurídico a partir do nada, eu não me oporia muito a estabelecer o limite mais baixo ou mesmo permitir que o tribunal determinasse a capacidade penal de cada acusado, independentemente de sua idade cronológica. A questão é que não estamos partindo do zero. Ao contrário, estamos discutindo modificações num sistema já estabelecido e, se há uma receita para piorá-lo, é ceder à tentação de legislar sob forte impacto emocional.
                  Já fizemos isso com a chamada Lei dos Crimes Hediondos (nº 8.072/90) e o resultado foi uma peça que se choca com os princípios mais básicos do direito penal e com a própria Constituição. O STF teve até de anular um de seus dispositivos.
                  Supondo que a maioridade baixe para 16, o que faremos quando um garoto de 15 matar alguém? Reduziremos o limite para 14, ou 10?
                  O direito moderno começa a se distinguir melhor da velha vingança quando considerações racionais passam a preponderar sobre as emoções, por mais justas que sejam.