quinta-feira, 16 de maio de 2013

Tv Paga


Estado de Minas: 16/05/2013 


Show de calouros


Muito provavelmente, hoje será a última vez que Randy Jackson, Mariah Carey, Keith Urban, Nicki Minaj e Ryan Seacrest (foto) estarão juntos em estúdio, para a produção do American idol, que encerra hoje sua 12ª temporada, ao vivo, a partir das 22h, no canal Sony. Na próxima temporada, o corpo de jurados deve ser reformulado completamente. Para hoje, tudo começa às 15h, com uma maratona reunindo seis episódios, até a grande final. Em tempo: anda falando de música, o forró é o ritmo da vez na série Coleções, às 21h30, no SescTV.

Compradores de leilões
fazem um jogo arriscado


Estreia hoje, às 22h, no canal A&E, a quarta temporada de Quem dá mais?, que acompanha um grupo de comerciantes que vivem participando de leilões, adquirindo lotes de galpões de armazenamento, na Califórnia, sem a chance de avaliar o seu conteúdo detalhadamente. Eles contam com sua experiência e uma pitada de sorte para levar a melhor.

Sem destino chega ao
fim no canal Multishow


No Mutishow, às 21h30, será exibido o 14º e último episódio da atual temporada da série Sem destino. O quarteto formado por Julia Ericson, Raquel Iendrick, Roberta Codeceira e Charlotte Bucher visita as paisagens de Bonito, no Mato Grosso do Sul, que é referência em ecoturismo e que é composta por rios de águas transparentes, cachoeiras, grutas e outros atrativos.

Jornalista procura pelo
túmulo de Jesus Cristo


Há alguns anos, um documentário canadense produzido por Simcha Jacobovici anunciou a descoberta do túmulo de Cristo. Desde então, esse achado arqueológico – considerado um dos mais importantes de toda a história – foi literalmente esquecido. No episódio “O túmulo de Cristo”, da série Em busca do tesouro sagrado, hoje, às 18h15, no canaL History, o jornalista Cristian Page volta a Jerusalém para investigar o caso mais uma vez.

Ótimos documentários
no NatGeo e no SescTV


Outra atração de hoje no segmento dos documentários está na tela do Nat Geo, às 22h15, quando o canal emenda três programas sobre a 2ª Guerra Mundial: os episódios “De Adolf Hitler” e “Ascensão de Hitler”, da série O apocalipse nazista; e Prisioneiros do Holocausto. Mais cedo, às 21h, o SescTV exibe os curtas Lovely, sobre uma jovem sul-africana que vai para São Paulo na esperança de viver uma história de amor com o pai de sua filha recém-nascida; e Ckost, que conta a história de um jovem traumatizado por ter sido abusado sexualmente pelo pai na infância.

Ação, drama e humor na
programação de cinema


Clive Owen é o astro do mês no Megapix, que abre a seleção de filmes do artista com Elizabeth: a era de ouro, hoje, às 22h20. No Canal Brasil, às 22h, a atração é Quanto vale ou é por quilo?, de Sergio Bianchi. Também às 22h, o faroeste A vingança de Ulzana é o cartaz do Clube do filme da Cultura. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: The avengers – Os vingadores, no Telecine Premium; A melhor festa do ano, no Telecine Fun; Os esquenta banco, no FX; Tratamento de choque, no Studio Universal; O vingador do futuro, na HBO2; Across the universe, no Sony Spin; De olhos bem fechados, no Glitz; O massacre da serra elétrica, na MGM; Os irmãos cara de pau, no TCM; e Taxi driver, no Max. Outros destaques da programação: Maridos e mulheres, às 22h30, no Comedy Central; e Paranoia, às 23h20, na Fox.

Marina Colasanti-As onças estão soltas‏


Estado de Minas: 16/05/2013 

Sentada no aeroporto à espera da saída do meu voo, observo as pessoas que passam, ou melhor, observo a roupa das pessoas que passam.

Não é curiosidade, é fascínio. Encanta-me acompanhar a minúcia das escolhas, o bote certeiro com que cada um pescou no labirinto das escolhas a peça que, entre tantas, lhe pareceu perfeita para si. Por que essa, e não outra, me pergunto.

Calças justas de falso couro vermelho, jaqueta de couro igualmente falso de um vermelho mais claro e ainda mais vibrante, bolsa grande amarelo-limão, sapatos de plataforma. O que terá induzido essa senhora magra, mas entrada em anos, de longas madeixas louras, mas oxigenadas, a coroar o conjunto chamejante do traje com o berro estridente da bolsa? Certamente, hesitou diante do espelho, empunhou outra mais discreta, pareceu-lhe pouco, tentou mais uma, e sorriu enfim satisfeita visualizando-se com a que agora carrega.

Uma após a outra, desfilam à minha frente as mais enlouquecidas bermudas. Em algum momento, decretou-se que bermuda era vestimenta masculina válida para qualquer ocasião. Em outro, ficou convencionado que melhor se fossem estampadas. E num vago e malfadado ponto entre um e outro, abriu-se a porteira admitindo-se qualquer corpo e qualquer idade. Senhores que há poucos anos estariam usando discreta calça cinza ou bege, agora passam por mim rumo ao portão de embarque com o traseiro florido de hibiscos, ou verdejante de palmeiras. Barrigas enormes se debruçam sobre as meias-pernas largas e cheias de bolsos. O xadrez só é bem- vindo se for grandessíssimo. Estampas geométricas rivalizam com listas, a imaginação mais delirante faz das bermudas sua vitrine.

Quem disse que onça é animal em extinção?! Na selva, talvez, mas não no aeroporto. Aqui, os felinos imperam. A jovem formosa, embora abundante, vai de onça da cintura para baixo, equilibrando sobre saltos altíssimos o legging acetinado – rio internamente, pensando que ficaria bem mais divertido se acrescentasse uma cauda. A senhorinha prefere onça na blusa, com fios dourados. Para a mocinha, ficou na jaqueta. O jovem de dreadlocks carrega a fera na mochila. Há onça nas bolsas, nos cintos, nas sandálias. E para meu deleite, eis que passa uma plurionça, mulher de vestido rodado composto por grandes quadrados de estampa oncídea, cada um de uma cor.

Perdido ficaria o zagaieiro, antigo caçador de onças do Pantanal, que com o auxilio de cães perseguia a fera até vê-la buscar refúgio no galho de uma árvore, empunhando então a zagaia – espécie de longa lança – e atiçando o bicho para que lhe saltasse em cima, e encontrasse a morte. Desnorteado em meio à invasão de pintas pretas em campo amarelo – e roxo e verde e azul – , acabaria sentado num banco com a zagaia no colo, olhando as suas antigas inimigas que arrastam malinhas.

Meus olhos sentem falta de alguma serenidade em que pousar, da possibilidade de percorrer levemente a multidão, sem incorrer em susto ou sobressalto. Nada mais delicioso do que exercer a criatividade e a livre escolha diante do armário, mas é delícia individual, que pode conduzir o conjunto à beira do caos. E pergunto a vocês se essa livre escolha é mesmo livre como acreditamos, ou se estamos apenas embaralhando as cartas que moda e mercado nos põem na mão. 

TEREZA CRUVINEL » Ecos da batalha‏

Num Parlamento mais racional, apesar de complexa e polêmica, uma medida como a dos portos seria aprovada em tempo bem menor, com menos ruído e índices de civilidade mais elevados 


Tereza Cruvinel

Estado de Minas: 16/05/2013 

A insana votação da MP dos Portos pela Câmara entrou de novo noite adentro ontem, aumentando as evidências reveladas ao longo da batalha sobre o estado da coalizão governista. Quando todos os destaques tiverem sido votados, será possível mapear mais detalhadamente o que se passou mas, de antemão, ficou evidente que, sem o PMDB, a chamada base não garante maioria ao governo. Os números falam. O Planalto conseguiu transpor o cipoal de obstruções armado pela oposição e aprovar o texto básico mas quando o líder peemedebista Eduardo Cunha arrastou sua bancada para o voto contrário, o governo recolheu apenas 210 votos. A maioria dos presentes garante vitórias pontuais, mas o que assegura a estabilidade a um governo é a maioria absoluta de 257 votos.

Se o objetivo de Eduardo Cunha e seus liderados era fazer valer aos olhos do governo a importância do PMDB, o objetivo foi alcançado. Mas a principal sequela dessa batalha será no relacionamento entre o PMDB e o Planalto. Os sinais foram contraditórios: Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, contentou a presidente Dilma com seu indiscutível empenho em garantir e concluir a votação. Renan Calheiros manteve o Senado de plantão por duas noites seguidas, tentando assegurar a leitura da medida, que perde a validade hoje se não for votada, tão logo terminasse a votação na Câmara. O vice-presidente Michel Temer fez uso intensivo de sua capacidade de negociação. O ministro da Agricultura, Antônio Andrade, foi ao plenário cabalar votos e ouvir deputados. Tudo isso o Planalto registrou. Já Eduardo Cunha deve sair do processo como a ovelha negra do partido.

Cordato ele não é, mas passou a obstruir a votação, o lado dos partidos de oposição, quando o governo derrotou emendas que ele havia aglutinado em uma só proposta. Concordou com o desmembramento sob a promessa de que algumas seriam aprovadas mas depois o vagalhão governista o derrotou. Quando esse processo terminar, veremos como o governo e o partido vão se comportar. Ele mesmo recomendava ontem o esfriamento dos ânimos: “Não se cura fratura com a perna inchada”.

Vale registrar ainda o comportamento do PSD de Gilberto Kassab, que parece ter sido o mais leal da base, depois do PT. Ou melhor, empataram. Já o PSB do governador Eduardo Campos não fugiu à cultura da dissimulação que acompanha neste momento os socialistas. O líder quase sempre acompanhou a orientação do governo mas a bancada fez o que quis, nas diferentes votações: obstruções, votos contra, abstenções. O PP também já foi mais leal em outras horas difíceis.

A batalha está em curso e o governo ainda não pode cantar vitória. O mapa desta que está sendo a mais dura disputa parlamentar de Dilma será de grande utilidade. Com ele nas mãos, o Planalto poderá saber exatamente com quem conta e com quem não conta. Dilma terá que se recordar de recentes palavras do ex-presidente Lula: “Não podemos trincar nossa relação com o PMDB”. Trincada está, não com o partido mas com o líder na Câmara e seus seguidores, pelo menos.

Ninguém merece
Definitivamente o regimento da Câmara está obsoleto e precisa ser mudado. Em um Parlamento mais racional, mesmo sendo complexa e polêmica, uma matéria como a MP dos Portos seria votada em muito menos tempo (18 horas anteontem e sabe-se lá quantas de ontem para hoje), com taxa de ruído menor e índices de civilidade mais elevados. O representado não merece as baixarias de seus representantes. Há que haver no regimento alguma exigência de concentração no assunto em pauta. Os deputados, de um lado e outro, fizeram dezenas de pequenos discursos sobre os mais variados temas que não tinham nada a ver com os portos: cumprimentos a times de futebol de suas cidades, louvores e protestos acerca da contratação de médicos cubanos, exaltação de visitantes e todo o tipo de divagação. A obstrução é um recurso legítimo da minoria mas deve ser usada com alguma racionalidade. Os sucessivos pedidos de verificação, depois do texto básico já aprovado, beiraram a histeria. Nesta cultura, de que adianta adotar novas tecnologias legislativas, como a votação eletrônica e o registro biométrico de presença, se o regimento permite todo tipo de chicana?

Outra guerra
Houve festa e foguetório para a fusão do PPS com o PMN para gerar o novo partido Mobilização Democrática, mas na prática ele ainda não existe. A direção não apresentou o pedido de registro ao TSE à espera de que o tribunal responda a uma consulta do presidente do PSD, Gilberto Kassab, perguntando se partidos decorrentes de fusão são considerados partidos novos. Embora o TSE e o STF já tenham tratado da matéria, considerando que sim, a consulta gerou insegurança. Os deputados de outros partidos que pensavam aderir à nova legenda estão em compasso de espera. Se eventualmente a resposta for não, a migração pode acarretar até a perda de mandato por infidelidade partidária. O MB deixaria de ser uma janela aberta para a migração sem punição e a fusão pode até subir no telhado.

Pressa
O senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, está visitando cada ministro do STF, pedindo atenção ao mandado de segurança contra a aprovação do projeto sobre migrações partidárias, que afetaria o MB e a Rede de Marina Silva, ora nas mãos do ministro Gilmar Mendes. Ontem visitou Dias Toffoli.

Eduardo Almeida Reis-Pedra filosofal‏

Existem dois vareios, e os dicionários não registram o termo turfístico, quando o cavalo dá um vareio nos outros


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 16/05/2013 

Coisa muito valiosa que se procura obter em vão, a pedra filosofal deve e pode ser substituída pelo mapa da mina, que é a chave, o segredo, o recurso ou a estratégia para conseguir mais facilmente um objetivo, para obter sucesso. O conceito de sucesso é que “vareia”, como se diz na roça. O editor de texto do Word 7 não sublinhou “vareia” de vermelho, o que me deixa preocupado. Existem dois vareios, e os dicionários não registram o termo turfístico, quando o cavalo dá um vareio nos outros. É verdade que um dos significados de vareio é “surra” e o cavalo, quando sobra na turma e vence disparado, dá uma surra nos concorrentes.

Veja o caro, preclaro e pacientíssimo leitor como são as coisas: no almoço de hoje, cismei de escrever sobre a pedra filosofal tendo como contrapartida o mapa da mina, esqueci-me de anotar o assunto e fiz o nariz de cera antes de me lembrar do fulcro desta nossa conversa: charutos e forno de micro-ondas. Quando Colombo chegou à América, encontrou os charutos, mas a ideia de usar micro-ondas na cozinha data de 1946, e o eletrodoméstico só se vulgarizou muitos anos depois. Tenho belo Cuisinart comprado há cerca de seis anos.

Nos imensos Cohibas que me chegam de Cuba, todos de terceira e quarta linhas, muitos não queimam bem ou queimam à força, exigindo furos com ferrinhos, que mandei fazer, e dúzias de fósforos extra longos. Depois de anos de sofrimento, constatei que parecem muito úmidos por dentro. Daí a ideia de usar o micro-ondas num dos piores, que havia refugado por entender que não queimaria de jeito e maneira. Sabe o leitor o resultado? Se não sabia, fique sabendo: botei-o no micro-ondas durante um minuto e ficou uma beleza! Ponto para o philosopho, que às vezes acerta na mosca.


Truque
Escrevo numa revista que, por força de sua diagramação, exige textos de 4,2 mil caracteres, com espaços; nem mais, nem menos. Ainda que não pareça, é dificílimo fazer uma crônica respeitando exatos 4,2 mil caracteres com espaços. Fossem 500, 600, 700 palavras, poucas mais ou menos, seria facílimo. Tenho milhares escritas assim, mas os caracteres com espaços me pegaram no contrapé. Vai daí que bolei um truque: dois assuntos numa só página. O resultado fica leve e de fácil digestão. Recolho sueltos virgens, conto os caracteres do primeiro na revisão do Word e procuro outro que complete, mais ou menos, os 4,2 mil caracteres com espaços. Junto os dois, tiro uma palavrinha aqui, outra acolá, e obtenho a contagem desejada. Está ficando fácil. Escrever é muito divertido, mas o cronista não deve permitir que a alegria se transforme numa preocupação aritmética.


Tirol
Tenho bom amigo juiz de direito, casado com procuradora federal, que fica quieto no seu canto até disparar, de tempos em tempos, uma série de e-mails fantásticos. No dia em que capricho nestas bem traçadas foram três, que me encantaram durante meia hora. Um de flores e música, outro sobre Michelangelo e um terceiro sobre o Tirol. Acabo de aprender que o Tirol é uma região histórica da parte ocidental da Europa central, que inclui o estado do Tirol, na Áustria, e na Itália, a Região Autônoma do Trentino-Südtirol, formada pelas províncias autônomas de Bolzano e de Trento. Região, como é do desconhecimento geral, situada na área da antiga Récia, habitada pelos récios, romanizada a partir do século 1 a.C. Récia que ocupava partes das atuais Alemanha, Itália, Suíça e Áustria. A história do Tirol tem início nos séculos centrais da Idade Média com o Principado Episcopal de Trento, que foi Estado autônomo dentro do Sacro Império Romano-Germânico. Nas fotos que ilustram o e-mail impressionou-me vivamente o fato de não se ver um só pedaço de papel, uma guimba de cigarro, um palito de picolé nas ruas e nas calçadas imaculadamente limpas. Como é possível viver sem lixo nas ruas? É pergunta que me tenho feito depois de ver o e-mail. E tem mais uma coisa: todas as casas têm as paredes pintadas com cenas bonitas, sem uma só pichação. Deve ser duro morar no Tirol.


O mundo é uma bola
16 de maio de 1532: sir Thomas More, estadista, diplomata, escritor e jurista abandona o cargo de Lord Chancellor (chanceler do Reino) de Henrique VIII, de Inglaterra. Considerado um dos grandes humanistas do Renascimento, foi canonizado em 1935. De família não célebre, mas honesta, casou-se duas vezes e deu aos filhos e filhas educação excepcional. Fez que estudassem latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Sujeito supimpa. Em 1770, Maria Antonieta, de 14 aninhos, se casa com Luís Augusto, de 16 anos, que seria o rei Luís XVI, da França. Foram mortos pela Revolução Francesa, a tal da liberdade, igualdade, fraternidade inexistentes até hoje. Em 1975, Junko Tabei se torna a primeira mulher a alcançar o cume do Everest. Que se pode esperar de uma alpinista? Hoje é o Dia do Gari. 

VIDA DE CIENTISTA » Até os consagrados sofrem-Carolina Cotta‏

Renomados cientistas BRASILEIROS não estão livres de enfrentar burocracias NO DIA A DIA. Eles reconhecem AUMENTO dA PESQUISA no país, mas ponderam que qualidade não acompanha índices 


Carolina Cotta

Estado de Minas: 16/05/2013 

Sérgio Danilo Pena, integrante do grupo de cientistas que trabalharam no projeto Genoma Humano – um dos maiores esforços internacionais para mapear os genes do homem –, fez pesquisa e lecionou em grandes universidades mundiais por 12 anos. Em 1988, introduziu os testes de paternidade por DNA na América Latina. Já formou 40 doutores, mas tem a mesma dificuldade de importar um reagente que qualquer outro pesquisador. Na quinta e última reportagem da série “Vida de cientista”, o Estado de Minas mostra que a realidade dos percalços da ciência nacional não bate à porta apenas dos  recém-doutores. Cientistas de renome internacional também sofrem na pele com dificuldades.

Sérgio Pena chega a esperar semanas, às vezes meses, para ter o reagente liberado em seu laboratório na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, ou em seu laboratório privado, o Gene. É prova de que os grandes nomes da ciência nacional enfrentam os mesmos problemas de burocracia, remuneração e infraestrutura, mesmo tendo visibilidade internacional.

Especialista em genética, o pós-doutor pelo National Institute for Medical Research, de Londres, tem assento no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, diretamente ligado à Presidência da República. Vê com bons olhos o 13º lugar em produção científica conquistado pelo Brasil, que ultrapassa importantes países europeus, e com olhos menos satisfeitos o ranking de citações, resultado de artigos publicados por pesquisadores brasileiros. “Cresceu a publicação, mas a qualidade do que é produzido não acompanhou esse número”, critica.

Exemplo de modelo no qual o Brasil precisa investir, a ciência translacional, aquela que tem uma reverberação na sociedade, Pena, assim que voltou do exterior, preocupou-se em abrir não só sua linha de pesquisa e laboratório na UFMG, mas também um espaço privado de pesquisa. Para isso, precisou se multiplicar. “Fazia pesquisa no hospital e no Gene. Investi muito para ter uma carreira acadêmica e também privada. Faço pesquisa acadêmica em um e ciência aplicada no outro. Desde o começo vivi esse binômio hoje tão desejável da interação da universidade com a empresa.”

Por outro lado, ele considera fazer ciência em empresa duplamente complicado no país. Nas universidades, por exemplo, é possível fazer importação direta. Nas empresas acaba aparecendo a figura do atravessador. Isso sem contar a demora. “Fora da universidade preciso pagar mais imposto. O que custaria R$ 100 mil, vira R$ 300 mil. Mas talvez o que mais incomode é a morosidade. Tenho que pensar hoje o que vou precisar daqui a seis meses. Isso atrasa a pesquisa.”

PERDA DE TEMPO O problema não é diferente no Departamento de Física, onde trabalha o professor Marcos Pimenta, de 55 anos, referência em nanotubos de carbono. Pós-doutor pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, nos EUA, o pesquisador lembra dos tempos em que fez pesquisa na universidade americana. Se pedia um filtro ótico, no dia seguinte o equipamento estava em sua mesa. “Aqui, tenho que escrever um projeto, esperar que seja julgado, aguardar o dinheiro, fazer o processo de importação. Depois de seis meses, ainda tenho que buscar o material no aeroporto. Passamos parte do tempo trabalhando em coisas que não são nosso objeto final”, diz.

Segundo o secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antônio Rodrigues Elias, o problema do atraso das importações está melhor desde a criação do CNPq Expresso, que reduz a burocracia. A ideia do programa é dar agilidade à vistoria da Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outras instituições de fiscalização nos aeroportos internacionais. “A fiscalização é necessária. Se vou importar um ser vivo para pesquisa, tenho que garantir a sanidade da amostra”, justifica.

Fundador de uma linha de pesquisa inédita no Brasil e à frente do laboratório de espectrospia Raman, que estuda a interação entre luz e matéria, Marcos Pimenta também vê outros entraves ao progresso da ciência nacional, como o tempo de dedicação às aulas. Segundo ele, em países desenvolvidos um pesquisador leciona no máximo quatro horas semanais. A situação já ocorre na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A própria Universidade Federal do Rio de Janeiro já baixou para seis horas. Na UFMG a carga didática é de nove horas por semana.

BOLSA IRRISÓRIA “Damos muita aula e assim ficamos em desvantagem também no tempo disponível para a pesquisa. Muitas vezes trabalhamos como um don Quixote, o tempo inteiro lutando contra os moinhos para fazer a coisa andar”, desabafa. Pesquisador 1A do CNPq, o mais alto nível a ser alcançado por um cientista brasileiro, Marcos recebe uma bolsa de R$ 1.500 em reconhecimento à sua produtividade. Ser referência em sua área tampouco lhe dá retorno salarial. Como professor titular tem salário líquido de R$ 9.500 mensais. “O cientista não é movido pelo dinheiro, mas somos meio vaidosos, existe um certo narcisismo, uma busca por reconhecimento, que é nossa maior força interna”, defende o físico.
Sérgio Pena, em área oposta, não discorda. Convidado para dar uma aula inaugural do curso de medicina, apresentou aos alunos sua visão do que move o cientista no século 21. Em sua opinião, não é fama e glória, e lembrou o fato de o descobridor do código genético, Marshall Niremberg, ter sido identificado com uma interrogação em uma legenda de foto no Instituto de Ciências Biológicas/UFMG, feita por uma secretária da época de sua visita a Belo Horizonte. Tampouco é a expectativa de ter vida mansa, já que é uma atividade de muito trabalho. Boa remuneração também não explicaria essa decisão. Sobrava a quarta opção: criar algum conhecimento novo, de vez em quando. “Essa é a única razão. Esse é o prazer da vida científica. Nosso hobby é a ciência e a frase famosa entre os pesquisadores ganha sentido: ‘Se já temos a ciência, para que algo mais?”

ENTREVISTA » "É preciso mais inovação no país"
Publicação: 16/05/2013 04:00

Luiz Davidovich
Pós-doutor em física e professor titular da Universidade Federal do Rio De Janeiro


Membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Mundial de Ciências, do Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Internacional para a Ciência e da National Academy of Sciences (EUA), Luiz Davidovich é um dos grandes nomes da física mundial. As 24 horas do dia não são suficientes para dar conta de tanta atividade. “Fico sempre devendo”, brinca. Para ele, a pesquisa no Brasil e a inovação tecnológica estão tendo importante impacto internacional, embora a inovação ainda caminhe de forma incipiente. 

A pesquisa brasileira progrediu na última década. Que desafios persistem?
A ciência brasileira está sendo publicada em boas revistas científicas, mas, com raras exceções, ainda não está pautando os principais desenvolvimentos científicos e tecnológicos internacionais. É necessário um salto de qualidade, para alcançar um novo patamar que coloque o país como protagonista no cenário internacional. É necessário ampliar a base que dará origem aos profissionais do futuro e diversificar as instituições de ensino superior. Precisamos investir em áreas do futuro e superar a burocracia. É necessário também reformar com urgência a carreira docente das universidades federais, de modo a valorizar a formação pós-graduada e assegurar que o mérito seja reconhecido. Zelar para que os jovens professores não fiquem soterrados por um número excessivo de horas de aula, exatamente no período de suas carreiras em que podem ser mais criativos na pesquisa, é essencial. Há ainda o grande desafio de modernizar os programas das universidades.

Um brasileiro tem menos oportunidade de sucesso com a estrutura de pesquisa que tem?
Estamos ainda distantes do nível de publicações dos países desenvolvidos. Em parte, essa distância está associada à diferença de recursos para a ciência, à falta de equipamentos adequados para investigações na fronteira do conhecimento em várias áreas. No Brasil, devemos contar com boas ideias realizadas em equipamentos de baixo custo, mas isso não leva o país às primeiras posições na escala de qualidade das publicações internacionais. Pesquisadores brasileiros, sobretudo os envolvidos com pesquisa experimental, gastam um tempo apreciável lutando contra a burocracia, procurando importar insumos ou equipamentos. Ou brigando para fortalecer a universidade. Por outro lado, padece a ciência no Brasil de critérios de avaliação de pesquisadores e programas que privilegiam a análise quantitativa, em detrimento da qualitativa.


GALERIA DE NOTÁVEIS


CARLOS CHAGAS
Oliveira (MG)


Pela primeira vez na história da medicina, um pesquisador conseguiu descrever, por completo, o ciclo de uma doença. No caso, o mineiro Carlos Chagas e a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas. O médico e sanitarista foi responsável por importantes descobertas no ramo da parasitologia e da saúde pública: seus estudos possibilitaram o avanço das práticas de prevenção e combate a doenças como a malária e a gripe espanhola. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, especializou-se no estudo experimental das doenças tropicais. Contratado por Oswaldo Cruz com a missão de controlar a epidemia de malária que assolava o município de Itatinga (SP) e o Norte de Minas Gerais, Chagas acabou descobrindo algo maior. Suas pesquisas em Minas o levaram a um protozoário até então desconhecido, que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. Ficou mundialmente famoso. Em 1921, em viagem pelos Estados Unidos para uma série de conferências, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Harvard, tornando-se o primeiro brasileiro a obter a condecoração. Chagas foi ainda membro honorário da Société de Pathologie Exotique da França, da Royal Society of Tropical Medicine da Inglaterra e das Academias de Medicina de Paris, Bruxelas, Roma e Nova York.

Fonte: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia 

Pele vira embrião-Paloma Oliveto‏

Pesquisadores combinam células epiteliais com óvulo humano não fecundado. Técnica de clonagem pode ajudar em terapias regenerativas



Paloma Oliveto

Estado de Minas: 16/05/2013 


Brasília – Quase 10 anos depois de um dos maiores vexames da história da ciência – o falso anúncio do sul-coreano Hwang Woo-souk sobre obtenção de células-tronco a partir de embriões clonados –, uma equipe de pesquisadores americanos conseguiu alcançar o feito. Em um artigo publicado na revista Cell, geneticistas da Universidade de Saúde e Ciência e do Centro Nacional de Primatas de Oregon, nos Estados Unidos, anunciaram o sucesso de uma técnica que usa células da pele em um óvulo não fecundado e sem informação genética para constituir um embrião. O método é semelhante ao que resultou na ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado da história.

O objetivo dos cientistas, contudo, não é fabricar humanos idênticos. Na realidade, eles nem pensam em implantar o material em um útero, até porque o embrião não passou de seis dias. Além disso, seria necessário desenvolver outras técnicas para fazê-lo se desenvolver até chegar a ser um feto. A ideia do estudo é contribuir para a medicina regenerativa, produzindo células-tronco do próprio paciente, capazes de se converter em qualquer tipo de tecido. “Assim como células-tronco embrionárias normais, as derivadas dessa técnica demonstraram habilidade de se transformar em diversas células, incluindo nervosas, do fígado e do coração”, disse, em nota, Shoukhrat Mitalipov, principal autor do estudo.

Para extrair as células-tronco, os cientistas inseriram os fibroblastos na membrana de um óvulo doado, cujo DNA havia sido retirado previamente. Uma reação química estimulada pelos pesquisadores permitiu a fusão dos dois tipos de célula. No quarto dia, o embrião, na fase de blastocisto, foi destruído, e suas células-tronco, isoladas. Cultivadas, transformaram-se, com sucesso, em estruturas especializadas, formadoras de diferentes tipos de tecido. Mitalipov afirmou que a técnica ainda precisa ser aprimorada, mas que, no futuro, poderia ser usada para o autotransplante de órgãos e contra doenças como Parkinson, esclerose múltipla e problemas cardíacos.

Polêmica Os cientistas que participaram do estudo ressaltam que não há motivo para polêmica e afirmam que o embrião obtido pela técnica nem sequer teria condições de chegar a uma fase de desenvolvimento mais avançada. Eles compararam o blastocisto resultante da pesquisa a um gerado naturalmente e verificaram que o primeiro é muito mais frágil. De acordo com Mitalipov, que em 2007 também gerou embriões a partir de células somáticas (não reprodutivas) em macacos, “essa mesma técnica não seria bem-sucedida na produção de clones humanos”. Nos estudos que ele fez com os primatas, os embriões jamais conseguiram sair desse estágio. Além disso, pesquisas de clonagem animal têm demonstrado que, quando não são abortados, os clones nascem repletos de defeito.

Considerado um dos maiores especialistas mundiais em células-tronco, o brasileiro Stevens Rehen, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias, acha extremamente improvável que algum cientista tente utilizar o método para obter humanos idênticos. “A clonagem humana já começaria com uma limitação: a necessidade de óvulos doados, o que não é uma coisa trivial, independentemente da questão ética”, afirma. “Para que um embrião seja viável, são necessárias centenas de condições. Então, a chance (de a técnica gerar clones) é mínima”, garante. Para ele, o grande mérito da equipe de Mitalipov foi a perseverança. Se em 2004 a ciência sofreu um golpe diante da opinião pública devido à mentira contada por Hwang Woo-souk, publicada também na revista Cell, o novo anúncio “tira o mal-estar criado pelo sul-coreano”.

“A clonagem reprodutiva humana seria a produção de um indivíduo que é exatamente a cópia genética do doador. Já a terapêutica, que busca embriões para tratar doenças, refere-se ao processo no qual as células são desenvolvidas in vitro, no laboratório, e não no útero de uma mulher”, observa Kirstin Matthews, especialista em formulação de políticas públicas na área de ciência e tecnologia do Instituto James A. Baker, da Universidade de Rice. Com o médico Neil Lane, ela produziu, em dezembro de 2008, um documento contendo recomendações sobre pesquisas com células-tronco embrionárias endereçado ao presidente dos EUA, Barack Obama.

Aplicação Apesar do ineditismo do trabalho de Shoukhrat Mitalipov, o chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias pondera que laboratórios do mundo inteiro, incluindo o que o brasileiro comanda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conseguem produzir células-tronco que também se especializam em qualquer tipo de tecido, mas sem precisar de um embrião. Com reprogramação genética, eles usam células adultas e fazem com que voltem ao estágio indiferenciado. São as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), desenvolvidas pelos cientistas John B. Gurdon e Shinya Yamanaka em 2007. A descoberta rendeu a eles o Prêmio Nobel de Medicina no ano passado. “Com a técnica do Yamanaka, eu gero células-tronco a partir de um pedaço de pele ou até mesmo da urina. É mais simples e tem se mostrado extremamente útil para estudar diversas doenças”, afirma Rehen.

Um dos 10 brasileiros que integraram o Projeto Genoma Humano, consórcio mundial que sequenciou o DNA do homem, o geneticista Salmo Raskin concorda que a reprogramação celular tem obtido resultados excelentes e também não vê novidades expressivas para uma aplicação prática do trabalho de Mitalipov, em comparação ao que já é feito com as iPS. “Hoje, todos os estudos são muito preliminares e só no dia em que se disser que as iPS são a mesma coisa que as embrionárias é que essas pesquisas devem ser encerradas”, opina. 

FIOCRUZ » Eficácia contra a leishmaniose Celina Aquino‏


Estado de Minas: 16/05/2013 

Porto de Galinhas (PE) – Antes restrita a ambientes rurais, a leishmaniose avança para áreas urbanas. A doença tornou-se comum em cidades como Belo Horizonte e Araçatuba, no interior paulista, de acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, mas a incidência ainda é maior no Norte e Nordeste do Brasil, onde estão concentrados 70% dos casos. Cinco municípios pernambucanos começam a mudar a estatística com um programa criado há 10 anos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que reduziu em 80% o número de pacientes infectados. Espera-se agora o mesmo resultado em uma região endêmica no Ceará, que será alvo dos pesquisadores, como anunciado ontem no Congresso Mundial de Leishmaniose. O Ministério da Saúde registrou, de 1992 a 2011, quase 600 mil casos no Brasil.
Transmitida pela picada do mosquito flebótomo, mais conhecido como birigui e mosquito-palha, a leishmaniose está presente em mais de 2 mil cidades. São Vicente Férrer, Macaparana, Goiana, Água Preta e Timbaúba foram os municípios escolhidos para dar início ao programa da Fiocruz Pernambuco (Fiocruz PE) porque formam região com alta incidência da doença. Desde 2003, mais de 1,2 mil pacientes foram  acompanhados durante o tratamento. Cinco anos depois, já era possível observar uma queda de 80% do número de casos.

Para a integrante do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, da Fiocruz PE, Otamires Silva, o resultado é reflexo da conscientização dos moradores das cinco cidades, que passaram a adotar medidas de proteção, como uso de mosquiteiro e repelente. Ela destaca o envolvimento dos profissionais de saúde, que participam de treinamentos, e da administração municipal, que garante a desinfecção a cada seis meses em um raio de 500 metros de distância de casas com casos confirmados. A iniciativa facilitou o acesso da população local ao medicamento, que é oferecido gratuitamente pelo governo federal.
A região endêmica se beneficiou ainda da nova logística para análise das amostras coletadas em pacientes com suspeita de leishmaniose. “Antes, a confirmação do diagnóstico, por causa do grande número de amostras que chegavam aos laboratórios, podia chegar a três meses. Agora ela sai no mesmo dia”, diz.  Todos os exames são realizados no Departamento de Parasitologia da Fiocruz PE, mas Otamires reconhece que o melhor seria se cada região tivesse um laboratório próprio.

Com o resultado em Pernambuco, decidiu-se iniciar nova fase do programa em Baturité e Pacoti (CE), a 100 quilômetros de Fortaleza, que reúnem 40 mil habitantes, e onde foram registrados 500 casos desde 2007. Otamires torce para que outras regiões do Brasil aproveitem a experiência para combater a doença.

Com o desmatamento, o aquecimento global e a migração da população, a doença se espalha por zonas urbanas. Em Belo Horizonte, por exemplo, foram anotados 62 casos, em 2009, de leishmaniose visceral, forma mais grave da doença, por afetar órgãos como fígado, baço e medula, número que coincide com o de todo o estado de Pernambuco no mesmo ano.

Pomada pode substituir injeções
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) testa um medicamento que pode tornar menos doloroso o tratamento de leishmaniose tegumentar americana, que provoca feridas na pele. A pesquisa ainda está em fase de experimentação em camundongos, mas a formulação já se mostra mais eficiente porque penetra melhor na pele. Se a eficácia for comprovada em humanos, a pomada será fabricada no Brasil para ser distribuída em todo o mundo. 

Dia mundial da internet - Leonardo Bortoletto‏

Com mais de 52 milhões de usuários, o Brasil já é a sétima audiência do mundo 


Leonardo Bortoletto 

Diretor-presidente da Web Consult e vice-presidente-executivo da Sucesu Minas


Estado de Minas: 16/05/2013

O mundo celebra amanhã, 17 de maio, o Dia Internacional da Internet, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2006. A rede mundial de computadores surgiu em um dos momentos mais tensos do século passado, rodeada por segredos de Estado, para se transformar em uma ferramenta que poderia decidir os rumos da Guerra Fria entre Estados Unidos e a então União Soviética. Quatro décadas se passaram e o que era guardado a sete chaves virou um dos principais expoentes de uma nova era: a sociedade da informação. O surgimento dessa ferramenta configurou uma revolução em todos os setores e, principalmente, no comportamento humano. A internet tornou-se instrumento de trabalho, de estudo e de lazer. Diversos serviços podem ser realizados por meio de um clique ou um toque, como comprar pela internet, ensinar a distância, localizar um estabelecimento e pagar contas. Para se ter ideia da importância da rede mundial de computadores, apenas no Brasil, o número total de usuários ativos na internet, tanto em casa quanto no trabalho, atingiu 52,3 milhões de pessoas, excluindo os meios móveis. O país é a sétima audiência da internet e o maior mercado na América Latina, ou seja, 35% dos 131 milhões de usuários estão em terras brasileiras, segundo relatório publicado pela comScore. A pesquisa mostra também que o tempo gasto na internet é de 27 horas/mês, sendo que a média global é de 24 horas/mês, e a da América Latina, 22 horas/mês.

Como as pessoas passam muito tempo conectadas, cada vez mais as empresas estão valorizando as negociações on-line e até segmentos tradicionais, como a Enciclopédia Britânica, estão investindo no mundo virtual. A digitalização chega como uma tendência comportamental, não apenas para profissionais, mas, também, na dinâmica dos negócios a longo prazo. Podemos destacar o comércio eletrônico como uma das revoluções da internet. Até poucos anos atrás, ninguém imaginaria que fazer compras pela web seria possível, e no entanto, o e-commerce cresce a cada ano. A estimativa de faturamento do setor para 2013 é de R$28 bilhões, segundo a empresa especializada e-bit. Não podemos negar que é um fenômeno e um verdadeiro marco na história da internet. As redes sociais também fazem sucesso no Brasil. Os sites de relacionamento tiveram seu boom em 2006, com o Orkut. Hoje, os mais acessados são o Facebook, o Orkut e o Twitter, de acordo com a pesquisa da comScore. Em 2012, o relatório constou que apenas no Facebook, plataforma com o maior número de usuários no mundo, os brasileiros gastaram mais de 90% do tempo. O Facebook está no topo do ranking das redes sociais, com 67 milhões de usuários, alta de 458% entre 2011 e 2012, segundo afirmação do vice-presidente do Facebook na América Latina, Alexandre Hohagen.

Os números relativos à internet no Brasil e no mundo mostram a revolução que a rede mundial de computadores causou e ainda causa na vida das pessoas e como está mudando a maneira de relacionamento e de fazer negócios. As histórias, os marcos e as conquistas são enormes, tanto no campo empresarial quanto no pessoal. A internet ainda vai evoluir bastante e a tecnologia continuará nos ajudando em situações que jamais poderíamos imaginar. 

Artistas lançam campanha Rio sem Preconceito com show no Circo Voador

folha de são paulo

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

Com um show que incluiu convidados como Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Zélia Duncan e Preta Gil, foi lançada na noite desta quarta (15) a campanha Rio sem Preconceito, promovida pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, órgão da Prefeitura do Rio comandado pelo estilista Carlos Tufvesson.
"Nos somos os agentes transformadores da sociedade. O preconceito é um problema de todos, se você não fizer nada, uma hora ele chega até você. Não podemos continuar a viver num país em que a cada 23 horas um homossexual é vítima de um crime de ódio", disse o estilista.
Realizado no Circo Voador, na Lapa, o evento gratuito teve público de mais de 2.000 pessoas. "A gente tá aqui pra comemorar, estamos em um lugar em que as pessoas são iguais de coração", disse Zélia Duncan, que cantou sucessos como "Alma" e "Toda Forma de Amor". "Pra mim, é difícil entender como alguém pode ser contra a natureza de uma pessoa, se ela não te fere em nada", afirmou a cantora.
Ney Matogrosso, que cantou "Noite Torta" e "Poema", disse que "está havendo uma regressão na cabeça das pessoas". "A falta de informação gera preconceito, e não apenas sexual. Qualquer preconceito é atraso", afirmou o cantor, que citou ainda seu próprio exemplo:
"O que me difere é que eu sempre tive um pensamento livre. Eu segui as minhas necessidades, meus anseios, não concedi a ninguém o direito de determinar qual o meu caminho no mundo."
A proximidade entre o show e a decisão do Conselho Nacional de Justiça obrigando os cartórios a registrarem casamentos homossexuais foi saudada pelos artistas. "Ainda não foi uma lei, mas é um avanço", disse Caetano.
"Essa é a coincidência mais maravilhosa: o evento acontece no mesmo dia em que foi publicada a resolução. A partir de hoje, eu sou tão cidadão quanto os demais brasileiros. Até ontem eu tinha os mesmos deveres, hoje eu tenho os mesmos direitos", disse Tufvesson, que vive há 18 anos com seu companheiro André.
Roberto Frejat, Toni Garrido e Fernanda Abreu também participaram do show, que teve ainda depoimentos em vídeo das atrizes Fernanda Montenegro, Dira Paes e Cissa Guimarães.
O repertório da noite foi eclético, com os convidados alternando sucessos próprios e alheios. Frejat, que cantou "Amor pra Recomeçar" e "Pro Dia Nascer Feliz", resumiu o espírito da campanha: "As escolhas são pessoais. A gente acha nosso caminho na vida e isso tem que ser respeitado. Não existe regra geral pra nada, não existe um caminho só."

Nova classe ociosa: jovens americanos

folha de são paulo

ANÁLISE DO NOTICIÁRIO
Por DAVID LEONHARDT
WASHINGTON - O jovem europeu ocioso, sem trabalho por causa da disfunção do continente, é um dos personagens típicos da economia global. Mas talvez esteja na hora de acrescentar outro protagonista, ainda mais comum: o jovem americano ocioso.
Nos últimos 12 anos, os EUA passaram da mais alta à mais baixa porcentagem de jovens de 25 a 34 anos empregados, entre as grandes economias ricas.
A mudança sombria -"uma reviravolta histórica", segundo Robert A. Moffitt, um economista da Universidade Johns Hopkins em Maryland- deriva de dois aspectos da longa recessão econômica. Primeiro, ela cobrou o preço mais alto dos jovens. E, enquanto a economia americana voltou mais robusta que algumas de suas rivais globais em termos de produção total, a recuperação foi discreta em geração de empregos. As empresas americanas estão fazendo mais com menos.
Os empregadores relutam em contratar novos funcionários. As demissões foram reduzidas, com exceção dos piores meses da crise financeira, mas também a geração de empregos, e ninguém depende tanto de novos empregos quanto os jovens.
Para muitas pessoas com empregos e poupanças, a economia finalmente está se movendo na direção certa. Os salários médios não estão mais atrás da inflação. As ações subiram desde o piso de 2009, e os preços dos imóveis aumentam de novo. Mas pouco disso ajuda os jovens adultos a tentar pôr o pé na economia.
Segundo o Departamento do Trabalho, os trabalhadores entre 25 e 34 anos são a única faixa com salários médios mais baixos no início de 2013 do que em 2000.
Em 2011, o ano mais recente para o qual existem comparações internacionais, 26,6% dos americanos entre 25 e 34 anos não estavam trabalhando. A porcentagem era de 20,2% no Canadá, 20,5% na Alemanha, 21% no Japão, 21,6% na Grã-Bretanha e 22% na França. Em 2000, em contraste, os Estados Unidos lideraram Alemanha, Grã-Bretanha, França, Canadá e Japão -assim como Austrália, Rússia e Suécia- nesses índices de emprego. Hoje estão atrás de todos eles.
Os EUA perderam sua antiga grande vantagem na produção de graduados universitários, e a educação continua sendo a mais bem-sucedida estratégia de empregos em uma economia globalizada e forte em tecnologia. Os lugares mais educados do país, como Boston, Minneapolis e Washington, têm altos índices de emprego, enquanto os menos educados têm baixos. O índice de desemprego oficial para graduados universitários de 25 a 34 anos continua em apenas 3,3%.
O país também tem sido menos agressivo que alguns outros em usar aconselhamento e retreinamento para ajudar os desempregados a encontrar trabalho. Um estudo recente feito na França por economistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts revelou que programas de colocação para desempregados ajudavam não apenas os trabalhadores, mas também a economia. Os trabalhadores aconselhados tinham maior probabilidade de encontrar trabalho, e não simplesmente tiravam os empregos de outros candidatos.
Outra pesquisa nota que os Estados Unidos expandiram a licença parental e o trabalho em tempo parcial menos que outros países -e talvez isso esteja relacionado à queda dos índices de emprego entre as mulheres.
Seja qual for o papel dessas tendências, elas não parecem explicar o declínio do emprego. As empresas existentes não estão criando empregos no mesmo ritmo de antes, e novas empresas não se formam tão rapidamente.
O que poderia ajudar? Facilitar as partes do entramado regulatório que não têm benefícios sociais. Oferecer financiamento público para pesquisa científica em fase inicial e infraestrutura física que o setor privado muitas vezes acha não rentável. Em longo prazo, nada provavelmente será mais importante que melhorar a realização educacional.
Talvez o aspecto mais notável da queda dos empregos seja que os americanos na faixa dos 20 e 30 anos que foram mais afetados por ela continuam decididamente entusiasmados. Eles têm muito mais esperança que as gerações mais antigas, segundo pesquisas, de que o futuro do país será melhor que o passado. Essa resiliência é impressionante -e necessária. A redução dos empregos não vai terminar sem uma grande dose de otimismo.

    Painel - Vera Magalhães

    folha de são paulo

    Pôquer interminável
    A votação da MP dos Portos na Câmara foi conduzida como um jogo de pôquer entre o Palácio do Planalto e o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ). O governo comemorava ter vencido o deputado quando teve de engolir uma das emendas mais polêmicas defendidas por ele. Com os blefes de ambos os lados, a aposta agora é que Dilma Rousseff vai vetar o dispositivo que prevê a renovação de contratos de arrendamento firmados depois de 1993, caso a MP seja aprovada.
    -
    Truco! Quem convenceu Eduardo Cunha a retirar o apoio à emenda de Paulinho da Força (PDT-SP), que obrigava portos privados a contratar trabalhadores por meio dos Órgãos Gestores de Mão de Obra, foi o vice-presidente da República, Michel Temer.
    Seis! "Se deram um truco, não foi em mim: foi no Michel", reagia ontem o líder do PMDB, antes da reviravolta que levou o governo a ceder para viabilizar a votação.
    Água... Em tempos de ânimos exaltados e troca de xingamentos no plenário, a Câmara abriu licitação para comprar 70 toneladas de açúcar cristal, com preço-base inicial de R$ 2,16 por quilo.
    ... com açúcar Segundo indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP, no mercado atacadista a saca de cinco quilos de açúcar sai por R$ 5,56, ou R$ 1,11 por quilo.
    Caudilho Miro Teixeira (PDT-RJ) relatou ontem à Executiva do partido almoço que teve com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato ao Planalto em 2014. Na conversa com Teixeira, Aécio disse ter muita afinidade com o partido de Leonel Brizola.
    Ele é carioca Para ter palanque no Rio, Aécio pode apoiar a candidatura de Miro Teixeira, caso o deputado leve o projeto adiante. Os tucanos também estudam lançar candidato próprio no Estado ou se aliar ao vereador e ex-prefeito César Maia (DEM).
    In concert O ex-titã e ex-tribalista Arnaldo Antunes será a surpresa do show de hoje em São Paulo em favor da Rede de Marina Silva. Além dele, cantam Adriana Calcanhoto e Nando Reis.
    Em rede Aliados da ex-senadora se mobilizaram ontem para negar que ela tivesse defendido Marco Feliciano (PSC). Em duas horas, produziram uma charge e postaram nas redes sociais várias mensagens, entre elas o trecho da palestra em que Marina diz ter sido mal interpretada.
    Tô fora Apontado como possível nome paulista para assumir a secretaria-geral do PSDB, o deputado Emanuel Fernandes avisou a Aécio Neves que não pretende ocupar o cargo por motivos pessoais. Com isso, a vaga pode ficar para Vanderlei Macris.
    Tartaruga Com a demora recorde de seis meses de Dilma para nomear o novo ministro do STF, está parado o processo do chamado mensalão mineiro, cujo julgamento o PT cobra como demonstração de isonomia às condenações de petistas.
    Bonde 1 PSDB e DEM se estranharam na disputa pela presidência da cobiçada Comissão de Transportes da Assembleia paulista, que fiscaliza estradas, pedágios e transportes sobre trilhos.
    Bonde 2 O posto era ocupado por um nome do DEM, mas, com a redução da bancada do partido, foi reivindicado por tucanos. A votação ficou para quarta-feira e deve confirmar vitória do PSDB.
    Chame o ladrão Uma equipe da TV chinesa CCTV News teve uma mochila com R$ 30 mil em equipamentos de vídeo roubada na Exposec, feira internacional de segurança realizada no Centro de Exposições Imigrantes.
    com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA
    -
    TIROTEIO
    "Ao apelar para todo tipo de recurso para aprovar a MP dos Portos, Dilma expõe sua fragilidade e desastrosa articulação política."
    DO DEPUTADO RONALDO CAIADO, líder do DEM, sobre pedido de ajuda do Planalto a Roberto Jefferson, delator do mensalão, na votação de anteontem.
    -
    CONTRAPONTO
    Sua hora vai chegar
    Durante ato pelos dez anos de governo do PT, anteontem em Porto Alegre, Lula discursava quando quis tomar água, mas não encontrou garrafas no palanque.
    Brincando, virou-se para Dilma Rousseff, que estava sentada à mesa de autoridades, e disse no microfone:
    -- Dilma, você se cuide, porque um dia você também vai ser ex-presidente. Quando eu era presidente, só faltava me afogar de tanta água que me davam... Agora vou trazer minha própria garrafinha!
    Dilma caiu na gargalhada e se serviu de água, que estava à sua disposição.

      Os desafios no saneamento - Tendências/Debates

      folha de são paulo

      ROBSON BRAGA DE ANDRADE
      TENDÊNCIAS/DEBATES
      Os desafios no saneamento
      Um dos principais pontos para a universalização do saneamento básico e de sua modernização é a desoneração tributária
      O governo mostra disposição de reverter a situação ruim da infraestrutura no país. Depois de medidas nas áreas de ferrovias, rodovias, aeroportos, energia elétrica e portos, a atenção deve se voltar para o saneamento básico.
      A lenta expansão das redes de água e de coleta e tratamento de esgoto, bem como a baixa qualidade dos serviços trazem severas implicações para a saúde da população e para o ambiente.
      Além disso, implica custos maiores para a sociedade.
      O setor de saneamento investe cerca de R$ 8 bilhões por ano. Mas ainda há um enorme potencial de expansão e melhora dos serviços, o que, se concretizado, facilitaria a atração de capitais produtivos em diversos segmentos da indústria.
      Para o país universalizar o acesso ao saneamento básico até 2030, estima-se que seja necessário investir R$ 18 bilhões por ano em obras para água e esgotos.
      O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) contratou 3.434 empreendimentos, com investimentos de R$ 25 bilhões até 2014 em 1.937 municípios.
      Problemas técnicos afetam não só a expansão do setor como sua rentabilidade e eficiência.
      Em 2010, as perdas das operadoras com vazamentos, roubos, ligações clandestinas e medições incorretas no consumo de água alcançaram, em média, 37,6%.
      Uma redução de apenas 10% nas perdas agregaria R$ 1,3 bilhão à receita operacional com a água.
      A CNI (Confederação Nacional da Indústria), a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), o Instituto Trata Brasil e representantes do setor fizeram propostas conjuntas para facilitar a universalização do serviço e a eliminação dos entraves que impedem sua modernização.
      Um dos principais pontos é a desoneração tributária, já que a cobrança de PIS/Pasep e Cofins sobre a atividade reduz o montante de recursos disponíveis para investimentos. O benefício fiscal permitiria um aumento de 25% na aplicação.
      Essa medida está prevista no projeto de lei nº 7.467/2010, em análise na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
      Devido ao excesso de burocracia, é preciso simplificar os procedimentos de acesso aos financiamentos públicos. Também devem ser apresentados projetos de qualidade, que alcancem o maior número de brasileiros. A indústria deseja outras fontes de recursos como parcerias público-privadas (PPPs).
      É necessário aprimorar a gestão e a eficiência de algumas empresas de saneamento, estimulando o profissionalismo, a capacitação e a qualidade técnica dos funcionários.
      Falta ainda uma modelagem para o setor.
      A regionalização dos serviços, com planos por bacia hidrográfica, seria uma forma de aumentar sua eficiência, integrwando os municípios em torno de objetivos comuns para a despoluição das águas e a melhoria na qualidade da prestação do serviço.
      A estrutura jurídica e burocrática atual resulta em uma dispersão de responsabilidades no setor. Existe uma preocupação com a proliferação de agências reguladoras do governo federal sem que haja, de fato, independência decisória, autonomia financeira e corpo técnico de boa qualidade.
      Deve-se ampliar a atuação do capital privado, incluindo as parcerias com o setor público. Hoje, as concessões privadas respondem por menos de 10% do mercado.
      Num país de dimensões continentais, não deve haver um modelo de saneamento único. O ideal é que exista uma diversidade contratual, com diferentes formas de atuação das empresas privadas.
      A indústria acredita que saneamento de boa qualidade é um dos alicerces do desenvolvimento econômico e social de qualquer nação.
      Temos grandes desafios nessa área, mas precisamos agir agora, com clareza e determinação.

        JOSÉ ANTONIO MEADE KURIBREÑA
        TENDÊNCIAS/DEBATES
        México e Brasil: uma nova relação
        O comércio bilateral hoje é muito baixo. Representa só 2% de nosso comércio total. Mas temos um grande potencial de crescimento
        Um dos eixos do governo do presidente Peña Nieto é consolidar o México como um "ator de responsabilidade global". Essa tarefa começa em nossa área de pertencimento histórico e cultural: a América Latina e o Caribe.
        O governo mexicano está determinado a fortalecer os vínculos regionais de comércio, investimento, cultura e turismo, assim como a revigorar o diálogo político e a cooperação.
        Nesse contexto, o Brasil e o México concordaram em relançar sua relação bilateral, baseada na compreensão mútua, no reconhecimento do papel que ambos desempenham no cenário latino-americano e caribenho e também mundial. Uma comunicação mais estreita entre os dois países oferece grandes possibilidades.
        Como primeiro resultado desse reavivamento, a partir de hoje será eliminada a exigência do visto para os nossos países.
        Isso facilitará o intercâmbio não só de turistas, como também de visitantes em trânsito (que fazem escala em nossas cidades) e de pessoas que viajam a negócios.
        As facilidades para viajar aumentarão o contato entre os cidadãos dos dois países, aprofundando o conhecimento de uns sobre os outros.
        Como resultado, as possibilidades de comércio e investimento bilaterais serão impulsionadas em benefício do desenvolvimento das duas nações.
        A aproximação entre Brasil e México é fundamental por serem grandes economias da América Latina e Caribe.
        O México é um dos dez principais investidores do mundo no Brasil, enquanto o Brasil é o primeiro investidor da região no México.
        O comércio bilateral, que hoje movimenta pouco mais de 10 bilhões de dólares por ano, é muito baixo. Ele representa apenas 2% de nosso comércio total.
        Mas tem um grande potencial de crescimento. Temos excelentes oportunidades para fortalecer a cooperação e o intercâmbio de experiências nas áreas de energia e agronegócio, nas quais ambas as nações têm conhecimentos e práticas interessantes.
        Os investimentos no México anunciados pela Braskem em parceria com a Idesa na exploração petroquímica, por exemplo, foram recebidos muito positivamente em nosso país.
        O México e o Brasil são membros importantes da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Comunidade de Estados Americanos e Caribenhos (Celac) e do G20, entre outros.
        Todos esses fóruns são essenciais para a realização de acordos sobre as principais questões das agendas internacionais e regionais, em especial a dos direitos humanos, a da democracia, a do crescimento econômico e a do ambiente.
        Queremos fortalecer nosso diálogo na busca de soluções comuns.
        A relação renovada entre México e Brasil deve ser a pedra angular de uma América Latina e Caribe fortalecida, unida e em paz.
        A revigorada projeção da região no cenário internacional aumentará o nosso potencial de afirmação, mas também os nossos desafios.

          Kenneth Maxwell

          folha de são paulo

          A maldição do 2° mandato
          Poucos meses após iniciar seu segundo mandato como presidente dos EUA, Barack Obama está enfrentando dois escândalos embaraçosos e potencialmente prejudiciais.
          O primeiro, e mais sério em termos de impacto interno, envolve o Internal Revenue Service (IRS, o serviço de receita federal). E o segundo, a reação de seu governo ao ataque contra o consulado norte-americano em Benghazi, no qual um embaixador norte-americano na Líbia e três outros diplomatas do país foram mortos.
          O IRS é a agência de mais baixa popularidade no governo dos EUA. Tem o poder de ordenar auditorias e cuida de recolher impostos. Supostamente independente, não está sujeita a pressões políticas. Mas agora parece que o IRS estava tomando por alvo grupos conservadores e ligados ao Tea Party, para revisão de sua isenção tributária, e já foi revelado que os dirigentes do IRS estavam cientes do fato dois anos atrás.
          O ataque em Benghazi ocorrido em 11 de setembro de 2012 também se tornou uma questão importante para Obama, ao menos aos olhos dos republicanos do Congresso.
          Surgiram questões sobre as informações divulgadas logo após o ataque pelo Departamento de Estado, das quais foram removidas referências à Al Qaeda e a alertas da CIA sobre terrorismo. Os críticos alegam que isso iludiu o Congresso e o público quanto à ameaça real em Benghazi.
          Um relatório fortemente crítico sobre o fiasco em Benghazi, de autoria do veterano embaixador Thomas Pickering e do almirante Mike Mullen, aparentemente apontou, além disso, para "falhas sistemáticas e problemas de liderança nos escalões mais altos do Departamento de Estado", e determinou que a segurança disponível era insuficiente para enfrentar o ataque.
          A secretária de Estado na época era Hillary Clinton, que já é a principal candidata democrata à indicação presidencial para o próximo pleito.
          Em entrevista coletiva nesta semana, Obama declarou que não toleraria "delitos no IRS". Ele descreveu a perseguição do IRS a grupos conservadores como "revoltante" e "intolerável". Mas também descartou as críticas ao comunicado do Departamento de Estado sobre Benghazi, descrevendo-as como "irrelevantes".
          O problema para Obama é que os jornalistas dos EUA já começam a falar de uma "maldição do segundo mandato".
          Cumprindo o segundo mandato presidencial, Nixon encarou Watergate, Reagan o caso Irã-Contras, Bill Clinton teve Monica Lewinsky e a ameaça de impeachment, e Bush enfrentou o Katrina, o Iraque e a crise financeira. A menos que seja muito cuidadoso, Obama pode terminar ajudando a tornar realidade essa profecia negativa.

            Cristina Grillo

            folha de são paulo

            Câmera, para que te quero?
            RIO DE JANEIRO - Imagens feitas a partir de helicópteros da Polícia Civil, exibidas nos noticiários dos últimos dias, mostram flagrantes de indiscutíveis abusos e excessos do poder policial.
            Uma das operações mais parece um videogame, daqueles bem violentos, com um "jogador" que não passaria da primeira fase da partida: atira freneticamente para todos os lados, pondo em risco todos e atingindo tudo, menos seu alvo, um traficante em fuga pelas ruas de um bairro densamente povoado.
            Na outra ação, as imagens são ainda mais dramáticas: policiais arrastam corpos de dois suspeitos, numa tentativa que parece óbvia de desfazer a cena da morte e transformá-la no chamado "auto de resistência" --termo usado quando um suspeito reage de forma violenta a uma ação de forças de segurança.
            Infelizmente, excessos policiais como os descritos acima não são novidade na cidade.
            Mas como a polícia do Rio não cansa de nos surpreender, dessa vez somos informados que, apesar de os helicópteros policiais estarem equipados com câmeras desde 2010, as imagens que produziram jamais foram analisadas.
            Como disse a chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, não havia um "protocolo" para isso.
            Agora, diz a delegada, haverá o tal protocolo. Além disso, foi criada uma comissão para que os casos sejam investigados.
            Faltou dizer qual o motivo de há três anos ter sido tomada a decisão de colocar câmeras em helicópteros, mas não a de olhar o que seria filmado.
            Também não se esclareceu até agora se as imagens aéreas de operações policiais feitas nos últimos três anos foram armazenadas e se serão examinadas.
            Em resumo: alguém pode explicar para que servem as câmeras nos helicópteros da polícia?

              Valdo Cruz

              folha de são paulo

              Duelo
              BRASÍLIA - O governo Dilma começou o dia celebrando, reservadamente, a derrota do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, na votação da MP dos Portos. Terminou pedindo ajuda daquele que havia derrotado na tentativa de destravar a votação da medida.
              A própria presidente havia festejado o infortúnio do pretenso aliado, que fracassou em sua tentativa de alterar a MP do governo. O que, na avaliação palaciana, mostrou que o "temido" Eduardo Cunha pode ser "enfrentado e derrotado".
              O estado de espírito da presidente Dilma indica como havia uma disputa paralela entre os dois, que não se bicam desde o governo Lula, na apreciação da proposta que busca modernizar os portos brasileiros.
              Dilma estava determinada a derrotar o líder peemedebista. Conseguiu seu objetivo, mas acabou vítima do pretenso aliado, que passou a obstruir as votações pedindo verificação de quórum e deixando o barco rolar solto. Deu o troco.
              Duelo à parte, a vitória dilmista tem sua importância no xadrez palaciano, mas também evidenciou como errou a articulação política do governo ao longo do processo.
              Afinal, votos para aprovar a medida, pelo visto, o Palácio do Planalto tinha, caso contrário não teria derrotado o líder do PMDB. Derrotou pois fez, na reta final, algo que só empurrou com a barriga: negociar e fazer promessas a seus aliados.
              Tivesse atuado com mais competência, a votação não estaria sendo feita às pressas, com o governo buscando fazer em apenas três dias tudo o que não fez em quatro meses desde a edição da medida.
              Resultado: mesmo com a ajuda de última hora do líder peemedebista, aquele que foi dado como derrotado, o governo corria o risco de não conseguir terminar a votação.
              Aí, o Planalto partirá para seu Plano B. Fará a reforma dos portos por medidas administrativas --com o recado de que não irá incluir as concessões feitas nos últimos dias.

                Pasquale Cipro Neto

                folha de são paulo

                'Não conheço ninguém'
                De acordo com essa 'tese', 'Não conheço ninguém' equivale a 'Conheço alguém'. Xô, bobagem!
                Comecei o texto da semana passada referindo-me a mensagens de leitores, que me pedem comentários e explicações sobre os mais diversos temas ligados à nossa língua.
                Pois bem. Uma das questões "penduradas" há um bocado de tempo diz respeito ao emprego do que se costuma chamar "dupla negação". Trata-se do emprego na mesma frase de "não" e "ninguém" ("Não conheço ninguém"), "não" e "nada" ("Não fiz nada"), "não" e "nenhum" ("Não comprei nenhum") etc.
                O argumento dos que condenam essas construções se baseia na suposta impossibilidade do emprego de duas negativas ou num falso conceito linguístico, segundo o qual "duas negações geram uma afirmação". De acordo com essa "tese", uma construção como "Não conheço ninguém" equivale a "Conheço alguém". Xô, bobagem! Não é nada disso.
                Em português (e não só em português), essas duplas negações nem de longe equivalem a uma afirmação. Em italiano, por exemplo, algo como "Non conosco nessuno" equivale literalmente a "Não conheço ninguém". Ocorre exatamente o mesmo com a construção espanhola "No conozco a nadie" ("nadie" = "ninguém").
                E aí eu me ponho a pensar sobre a origem dessas "verdades", que circulam por aí há muito tempo (bem antes da internet, por sinal). Depois da internet, então, a coisa piorou muito. Os textos em que se apresentam essas "teses" circulam "assinados". E as pessoas acreditam.
                Que fique claro, caro leitor: construções como as que aparecem no segundo parágrafo deste texto são mais do que legítimas e têm, sim, valor negativo. Quem diz que não comprou nenhum livro durante a Bienal diz que saiu do evento com zero livro debaixo do braço.
                Convém lembrar que, quando o sujeito da afirmação é "ninguém", não se emprega "não" imediatamente depois de "ninguém" ("Ninguém compareceu", e nunca "Ninguém não compareceu", frase dada como agramatical por inúmeros autores e obras, como o "ABC da Língua Culta", de Celso Pedro Luft).
                Convém lembrar ainda que há uma ordem padrão para os termos desse tipo de declaração: ou se diz "Ninguém compareceu" ou se diz "Não compareceu ninguém".
                Outro caso interessante é o da palavra "algum". Há algum tempo, a Fuvest pediu aos candidatos que escrevessem uma frase em que a palavra "algum" tivesse valor negativo. Por incrível que pareça, foram muitos os que não conseguiram. Basta que se posponha "algum/a" a um substantivo para que se alcance o sentido pretendido pela Fuvest: "Professor algum tem esse direito"; "Mulher alguma deve sujeitar-se a isso"; "Não fiz coisa alguma"; "Pessoa alguma convive com isso".
                Aproveito para lembrar que, em termos de concordância, o verbo fica no singular quando o sujeito é iniciado por "nenhum": "Nenhum dos diretores quis dar entrevista" (e não "Nenhum dos diretores quiseram..."). Tome cuidado com os casos em que o sujeito é longo e, para "piorar", os penduricalhos da palavra "nenhum" aparecem no plural: "Nenhum dos inúmeros deputados oposicionistas presentes aceitou a proposta do líder do governo" (e não "Nenhum dos inúmeros deputados oposicionistas presentes aceitaram...").
                Vale a pena citar também os casos em que a palavra "ninguém" resume termos anteriores, como se vê neste caso: "Pais, irmãos, tios, primos: ninguém convenceu o rapaz a desistir da empreitada" (e não "Pais, irmãos, tios, primos: ninguém convenceram o rapaz a desistir da empreitada").
                Muitos dos casos que vimos aqui ainda são comuns em provas dos mais variados concursos públicos. Se você é ou será candidato, tome cuidado com essas minúcias. É isso.

                Rogerio Gentile


                Folha de são paulo
                Verdades e esculachos
                SÃO PAULO - A Comissão da Verdade, instalada há um ano com a finalidade de investigar e esclarecer graves violações de direitos humanos na ditadura militar, dá a impressão de que resolveu afastar-se dos seus propósitos.
                Qual outra explicação haverá para o fato de ter decidido ouvir militares como o coronel Ustra, chefe do DOI-Codi de São Paulo de 1970 a 1974, período mais violento da repressão, em sessões abertas ao público?
                Afinal, ninguém da comissão é ingênuo a ponto de imaginar que uma pessoa com o histórico e a importância de Ustra na ditadura estaria disposta a se imolar publicamente, revelando, diante de uma plateia lotada e de câmeras de televisão, a sua participação e a de colegas em assassinatos e torturas.
                Se a intenção "é resgatar a nossa história para que isso nunca mais volte a acontecer no país", como disse a presidente Dilma Rousseff após a aprovação do comitê de investigação, conversas reservadas tendem a ser mais eficazes. Para que servem, então, as tais audiências abertas da Comissão da Verdade?
                A mudança de estratégia de funcionamento do grupo, que até então havia interrogado 11 agentes da repressão em eventos fechados, ocorreu após muita pressão nos bastidores. E atende a dois desejos inconfessos de pessoas importantes do governo federal.
                O primeiro objetivo seria tentar criar no país um clima que, de algum modo, pressionasse o Supremo Tribunal Federal a mudar o entendimento da Lei da Anistia (1979), permitindo a punição de militares e policiais que cometeram atos de violência contra opositores políticos.
                O outro desejo por trás desse novo modo de atuação da Comissão da Verdade é bem mais fácil de alcançar: promover grandes sessões de esculachos para, de certa forma, vingar publicamente as vítimas da ditadura --a exemplo das manifestações feitas nos últimos meses na porta da casa de torturadores.

                Editoriais Folha de SP

                folha de são paulo

                O caso Angelina Jolie
                Foi sem dúvida surpreendente e corajoso o artigo que Angelina Jolie escreveu para o jornal "The New York Times", no qual a atriz revelou ter feito cirurgia para retirar as mamas e assim diminuir o risco de desenvolver um câncer.
                Habituada a usar em favor de causas humanitárias o interesse que desperta na imprensa, Jolie, desta vez, deflagrou um debate acerca do procedimento --controverso-- e da promessa de uma medicina cada vez mais personalizada, baseada em informações do perfil genético do paciente.
                Jolie, 37, decidiu realizar dupla mastectomia preventiva após descobrir uma mutação no gene BRCA 1 que a torna extremamente propensa a desenvolver tumores nas mamas e nos ovários --ela ainda planeja removê-los. Segundo a atriz, o risco de câncer de mama era de 87%, e o de ovário, de 50%.
                Só uma minoria dos tumores de mama (cerca de 10%) tem origem genética. Parcela ínfima da população, estimada entre 0,1% e 0,2%, carrega as mutações perigosas, que são um pouco mais frequentes entre judeus de origem europeia.
                Procedimentos como o adotado por Jolie se tornaram possíveis depois que pesquisadores identificaram nos genes BRCA 1 e 2 variantes deletérias associadas à doença e desenvolveram testes para detectá-las. Num lance questionável, ambos os genes foram patenteados nos Estados Unidos pela empresa Myriad Genetics. O caso está na Suprema Corte norte-americana.
                Não menos polêmica é a decisão de Jolie de remover preventivamente tecidos que, até prova em contrário, permaneciam saudáveis. Diversos profissionais de saúde sustentam que seria preferível um acompanhamento rigoroso, ou até uma quimioterapia profilática, a solução tão radical.
                O problema é que ainda não há um número suficiente de casos para determinar de forma estatisticamente segura qual é a melhor conduta. A escolha acaba definida pela tolerância ao risco de cada paciente --decisão pessoal e intransferível, para a qual contribuiu, no caso de Jolie, o fato de sua mãe ter morrido de câncer aos 59 anos.
                Não demorará para que cientistas identifiquem novas associações entre variantes genéticas e moléstias, estendendo a mais pessoas dilemas como o vivido pela atriz.
                Se a era da medicina personalizada acena com medicamentos e terapias mais eficientes, desenhados para o perfil genético de determinada pessoa, também deverá multiplicar as ocasiões em que se conhecerá a doença, mas não a cura. Cada um terá de escolher de quanta informação necessita.

                  EDITORIAIS
                  editoriais@uol.com.br
                  Contra o tempo
                  Manobras obscuras do Congresso ameaçam a MP dos Portos, uma tentativa de pôr o setor no compasso da acirrada competição global
                  A corrida do governo federal para impedir de caducar a medida provisória nº 595 --a famigerada MP dos Portos-- termina hoje, prazo final para o Congresso votá-la. Falta pouco para o público constatar se o Legislativo terá dado o passo à frente de que o país precisa ou se optará pelo arcaísmo que tão bem tem representado.
                  A julgar pelas últimas sessões sobre o tema na Câmara, caberia esperar pelo pior. Quem ainda não se resignou a desviar os olhos do desfile de inanidades presenciou espetáculo surreal em plenário.
                  "MP dos Porcos" e "chefe de quadrilha" foram alguns dos termos que os deputados Anthony Garotinho (PP-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) se permitiram dirigir um ao outro. Surpreende que segmento tão particular da infraestrutura --ainda que vital para a competitividade nacional-- produza tanto ardor e tão pouca luz.
                  Por certo há interesses beneficiados e prejudicados com a mudança do status quo pretendida pela MP --basta mencionar que terminaram envolvidos na discussão negócios e projetos de empresários proeminentes como Daniel Dantas, Eike Batista e Emílio Odebrecht. O controle da alocação de mão de obra nos portos também mobiliza entidades trabalhistas de peso, como a Força Sindical.
                  É de supor que os afetados estejam a exercer pressão sobre aliados no Congresso, atividade que nada teria de questionável se exercida com mais clareza. O baixo nível atingido, entretanto, parece decorrer mais da confluência desses interesses contrariados ou favorecidos com demandas comezinhas da massa parlamentar, que se acredita desatendida e espezinhada pela presidente Dilma Rousseff.
                  Não por acaso, a deficiente articulação política do governo teve de recorrer às burras do Planalto e liberar coisa de R$ 1 bilhão em emendas individuais represadas. Sai muito caro, como de hábito, tanger o Congresso na direção necessária --ainda assim, muito mais barato que tolerar o atraso feudal dos portos nacionais.
                  O Brasil ocupa o 45º lugar, entre 155 países, no índice de desempenho logístico (LPI, em inglês) compilado pelo Banco Mundial em 2012. No ranking de competitividade global de 2013 do Fórum Econômico Mundial, o país subiu da 53ª para a 48ª posição, mas amarga uma 107ª colocação no quesito infraestrutura e despenca para a 135ª em matéria de portos.
                  Dito de outra maneira, o sistema portuário precisa de uma reviravolta, que não virá sem a competição entre terminais. É uma questão de sobrevivência para a economia brasileira. E o Congresso precisa decidir se vai ficar a favor da necessidade histórica --ou contra ela.