Livros caninos Maria Ester Macielmemaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 14/01/2014
Toda vez que me encontro com Zenóbia conversamos sobre cães. Ela – que já tem mais de 80 anos e conviveu com muitos cachorros ao longo de sua vida – sabe quase tudo sobre eles. Atualmente, Zenóbia vive em uma chácara com três cachorros, dois gatos, duas cabras, um casal de porcos e vários patos, gansos, marrecos e galinhas. “Espero que todos eles morram de velhos”, costuma dizer. Por ser vegetariana, não come nem frango. Mantém os galináceos no terreiro por puro gosto de cuidar deles e observar seus hábitos. Os porcos, inteligentes e afetuosos, dão-lhe tantas alegrias quanto os cães e gatos. Todos os animais da chácara, sem exceção, têm nomes, até mesmo alguns pássaros que, de vez em quando, aparecem para comer as frutas e beber a água que minha amiga, cuidadosamente, deixa para eles em lugares estratégicos.
No nosso último encontro, na semana passada, falamos, entre várias outras coisas, de romances que têm cachorros como personagens. Ela citou uma bela lista de livros (alguns eu já havia lido; outros não) que repasso agora aos meus leitores, como dicas de leitura para as férias de janeiro.
Sabe-se que, em matéria de literatura canina, os livros são inúmeros. Os cães frequentam os livros desde os gregos antigos. Basta irmos à Odisseia, de Homero, para constatar isso. Lá, quando Ulisses volta para casa, depois de um longo tempo de ausência e muitas aventuras, o seu velho cão Argos é quem primeiro o reconhece. Consta que, ao longo de todos aqueles anos, o animal ficou à espera do dono. Só morreu depois que Ulisses voltou.
Zenóbia lembrou-se de Flush – memórias de um cão, da escritora inglesa Virginia Woolf, livro que traz um cão cocker spaniel como personagem principal. Através da vida desse cão, a autora faz um retrato das contradições da sociedade inglesa da era vitoriana e da história do casal de poetas Elizabeth Barrett e Robert Browning. No rastro dessa referência feita por Zenóbia, citei a ela um romance mais recente, do americano Paul Auster, que também tem um cão como personagem central. O título é Timbuktu (palavra que nomeia o “paraíso dos cães”, ou seja, o lugar para onde se acredita que eles vão após a morte). É um belo livro, escrito por um escritor que entende e ama os vira-latas. O cão, chamado Mr. Bones, tem uma vida movimentada e cheia de surpresas. Seus sonhos são instigantes, e suas percepções olfativas são quase inimagináveis. E aqui não podemos nos esquecer também da mais importante personagem canina da literatura brasileira, a cadela Baleia de Vidas secas, de Graciliano Ramos, que também sonha e age de forma impressionante.
Outro romance canino que nós duas comentamos foi O chamado da selva, de Jack London, que mostra a difícil jornada de um cão doméstico rumo à recuperação de sua própria natureza selvagem. A esses se somaram ainda, em nossa conversa, obras mais recentes, como Memórias de um cão, de Peter Mayle, e A hora entre o cão e o lobo, de Eva Hornung. Há também o Amar um cão, da portuguesa Maria Gabriela Llansol, além do Kachtanka, de Tchekhov, e Histórias de Bulka, de Tostói, eminentes representantes caninos da literatura russa. E muitos, muitos outros, que não cabem nesta coluna. São obras que encantam quem ama os cães e sabe o quanto estes são capazes de nos surpreender a todo instante.
Estado de Minas: 14/01/2014
Toda vez que me encontro com Zenóbia conversamos sobre cães. Ela – que já tem mais de 80 anos e conviveu com muitos cachorros ao longo de sua vida – sabe quase tudo sobre eles. Atualmente, Zenóbia vive em uma chácara com três cachorros, dois gatos, duas cabras, um casal de porcos e vários patos, gansos, marrecos e galinhas. “Espero que todos eles morram de velhos”, costuma dizer. Por ser vegetariana, não come nem frango. Mantém os galináceos no terreiro por puro gosto de cuidar deles e observar seus hábitos. Os porcos, inteligentes e afetuosos, dão-lhe tantas alegrias quanto os cães e gatos. Todos os animais da chácara, sem exceção, têm nomes, até mesmo alguns pássaros que, de vez em quando, aparecem para comer as frutas e beber a água que minha amiga, cuidadosamente, deixa para eles em lugares estratégicos.
No nosso último encontro, na semana passada, falamos, entre várias outras coisas, de romances que têm cachorros como personagens. Ela citou uma bela lista de livros (alguns eu já havia lido; outros não) que repasso agora aos meus leitores, como dicas de leitura para as férias de janeiro.
Sabe-se que, em matéria de literatura canina, os livros são inúmeros. Os cães frequentam os livros desde os gregos antigos. Basta irmos à Odisseia, de Homero, para constatar isso. Lá, quando Ulisses volta para casa, depois de um longo tempo de ausência e muitas aventuras, o seu velho cão Argos é quem primeiro o reconhece. Consta que, ao longo de todos aqueles anos, o animal ficou à espera do dono. Só morreu depois que Ulisses voltou.
Zenóbia lembrou-se de Flush – memórias de um cão, da escritora inglesa Virginia Woolf, livro que traz um cão cocker spaniel como personagem principal. Através da vida desse cão, a autora faz um retrato das contradições da sociedade inglesa da era vitoriana e da história do casal de poetas Elizabeth Barrett e Robert Browning. No rastro dessa referência feita por Zenóbia, citei a ela um romance mais recente, do americano Paul Auster, que também tem um cão como personagem central. O título é Timbuktu (palavra que nomeia o “paraíso dos cães”, ou seja, o lugar para onde se acredita que eles vão após a morte). É um belo livro, escrito por um escritor que entende e ama os vira-latas. O cão, chamado Mr. Bones, tem uma vida movimentada e cheia de surpresas. Seus sonhos são instigantes, e suas percepções olfativas são quase inimagináveis. E aqui não podemos nos esquecer também da mais importante personagem canina da literatura brasileira, a cadela Baleia de Vidas secas, de Graciliano Ramos, que também sonha e age de forma impressionante.
Outro romance canino que nós duas comentamos foi O chamado da selva, de Jack London, que mostra a difícil jornada de um cão doméstico rumo à recuperação de sua própria natureza selvagem. A esses se somaram ainda, em nossa conversa, obras mais recentes, como Memórias de um cão, de Peter Mayle, e A hora entre o cão e o lobo, de Eva Hornung. Há também o Amar um cão, da portuguesa Maria Gabriela Llansol, além do Kachtanka, de Tchekhov, e Histórias de Bulka, de Tostói, eminentes representantes caninos da literatura russa. E muitos, muitos outros, que não cabem nesta coluna. São obras que encantam quem ama os cães e sabe o quanto estes são capazes de nos surpreender a todo instante.