sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Tv Paga

Estado de Minas: 20/09/2013 



 (Paris Filmes/Divulgação)

Vou, mato e volto


Não se engane, esse aí da foto não é o Homem de Ferro nem o Robocop, mas a versão mais moderna do Juiz Dredd, papel que no filme original ficou com Sylvester Stallone. Agora, quem comanda as ações é Karl Urban. O personagem vem dos quadrinhos, é um agente da lei responsável por prender, julgar e executar os criminosos de uma megalópole do futuro. Dredd estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium.

Sganzerla lembra fita de
Orson Welles no Brasil


Tirando as bobagens do cinemão mais popular, com seus filmes de muita ação e sem noção, uma boa dica para hoje é Nem tudo é verdade, às 22h, no Arte 1. O diretor Rogério Sganzerla reconstitui a visita do cineasta Orson Welles ao Brasil, para rodar o documentário It's all true, movido pela política de boa vizinhança, em 1941. Ou a reprise de Encontro com o passado, agora em versão dublada, às 22h, na Cultura. No Canal Brasil, fica a expectativa quanto ao escolhido para a Sessão interativa, à 0h30, com dois filmes de Beth Faria disputando a indicação do internauta: Romance da empregada e Lili – A estrela do crime.

Muitas alternativas na
programação de cinema


Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Um faz de conta que acontece, no Disney Channel; Viagem 2 – A ilha misteriosa, na HBO; Sobrenatural, na HBO 2; Abraham Lincoln – Caçador de vampiros, no Telecine Pipoca; Sem saída, no Telecine Action; Quero matar meu chefe, no Max Prime; Kick-Ass – Quebrando tudo, no Universal; e A ovelha negra, no Max. Outras atrações da programação: Duplicidade, às 20h10, na TNT; O traidor, às 21h, no Cinemax; Sob o sol da Toscana, às 21h35, no TBS; e Clube da comédia, às 23h, no Comedy Central.

Patrícia Pillar traça perfil
do cantor Waldick Soriano


A mostra dos 15 anos do Canal Brasil reservou para hoje, às 22h, o documentário Waldick – Sempre no meu coração, em que a atriz Patrícia Pillar faz sua estreia na direção, narrando a trajetória do cantor e compositor Waldick Soriano, símbolo da música romântica. Como aperitivo, às 21h30, o programa O som do vinil vai revelar detalhes da produção do disco Fullgás, que Marina Lima gravou em 1984.

SescTV destaca a mostra
de artes cênicas Mirada


No SescTV, às 20h, a série Mirada, com os melhores momentos do Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, apresenta o episódios “A dança dos paradigmas”, que trata das múltiplas linguagens do teatro e complexidades do diálogo do novo século. Já às 22h, vai ao ar mais um programa Contraplano, hoje discutindo o tema “O operário ontem e hoje”.

Atração do History relata
os horrores da Inquisição


O canal History também preparou uma novidade para hoje: às 22h, a emissora exibe o especial Inquisição, com duas horas de duração. A produção relembra um dos períodos mais obscuros da Igreja Católica, com inúmeros episódios de tortura de indígenas na América, judeus e protestantes expulsos da Europa. 

Além da imaginação [Escher] - Sérgio Rodrigo Reis

Exposição A magia de Escher, no Palácio das Artes, apresenta momentos decisivos da obra do artista holandês e oferece experiências que permitem "Centrar" nas gravuras


Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 20/09/2013 


Autorretrato em esfera espelhada (detalhe), 1935     (Fundação Escher/Reprodução)
Autorretrato em esfera espelhada (detalhe), 1935

 A exposição A magia de Escher, que seduziu 1,2 milhão de brasileiros e se tornou uma das mais visitadas no mundo desde a abertura, em 2010, chega hoje a Belo Horizonte e deve impressionar também os mineiros. As principais galerias do Palácio das Artes foram preparadas para receber as 85 obras, entre gravuras originais, desenhos e fac-símiles, pertencentes à coleção da Fundação Escher, na Holanda, terra natal do artista. Além disso, foram recriadas instalações que permitirão ao espectador a experiência de “entrar” nos desenhos repletos de efeitos, ilusões e paradoxos de encher os olhos. A intenção é instigar o visitante.

Gênio da imaginação lúdica e artesão habilidoso das artes gráficas, Maurits Cornelis Escher (1898–1972) é espelho dos paradoxos que produziu. Trabalhou solitariamente, foi incompreendido, criticado, teve as criações depreciadas pelos que julgavam sua estética antiquada, inspirada em preceitos matemáticos, até que conseguiu dar a volta por cima. Na década de 1950, quando o público americano reconheceu seu talento, o sucesso foi tanto que ele passou a reclamar da falta de tempo para se dedicar às impressões. A xilogravura Nunca pense antes de agir, de 1921, na qual um homem percorre um caminho estreito, à beira de um abismo, tendo à mão uma lanterna, é metáfora do que ele passou na realidade.

“Nas minhas gravuras tento mostrar que vivemos em um mundo belo e ordenado, e não em um caos sem regras... Eu não consigo deixar de brincar com as nossas certezas estabelecidas. Tenho grande prazer, por exemplo, em confundir deliberadamente a segunda e a terceira dimensões, plana e espacial, e ignorar a gravidade”, registrou. Ao potencializar efeitos e as consequências de alguns fenômenos de espelhamento, perspectiva e matemática em diversas instalações interativas e lúdicas, recursos que o tornaram conhecido, a exposição propõe uma viagem pela vida e obra de um dos nomes mais criativos da história da arte contemporânea.


De cima, de baixo, 1947
De cima, de baixo, 1947
A magia de Escher

Até 17 de novembro, nas galerias Alberto da Veiga Guignard, Arlinda Corrêa Lima e Genesco Murta, do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). De terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo e feriados, das 16h às 21h. Entrada gratuita. Classificação



Razão e fantasia
Obra de Escher, em sua rigorosa composição matemática e liberdade de imaginação, vem desafiando a crítica sem nunca deixar de encantar o público de todo o mundo



Sérgio Rodrigo Reis


Cada vez menor (detalhe), de 1958  Sobre o trabalho, Escher explicou: %u201CNessa xilogravura adotei uma redução contínua, quase maníaca, até alcançar o limite da execução na prática%u201D (Fotos: Fundação Escher/Reprodução)
Cada vez menor (detalhe), de 1958 Sobre o trabalho, Escher explicou: %u201CNessa xilogravura adotei uma redução contínua, quase maníaca, até alcançar o limite da execução na prática%u201D
Há duas experiências universais para quem toma contato com a obra de Escher: em primeiro lugar o espanto; em seguida o desafio intelectual de traduzir em palavras o efeito fantástico que emana dos trabalhos. A exposição A magia de Escher lança mão de recursos semelhantes aos que tornaram o artista gráfico holandês conhecido: os paradoxos, a ilusão de ótica e os desenhos realistas. As características foram sendo consolidadas durante as elaborações de trabalhos inspirados em representações de construções impossíveis, no preenchimento regular do plano, em explorações do infinito e em metamorfoses – padrões geométricos entrecruzados que se transformam gradualmente em formas diferentes. Com a técnica, ele realizou gravuras capazes de provocar efeitos impactantes, como as ilusões de ótica, respeitando as regras geométricas da perspectiva.

Ao se deparar com mosaicos mouros numa viagem à Espanha, Escher se sentiu estimulado ainda a desenhar utilizando-se do preenchimento regular do plano. Os efeitos de como as formas das figuras se entrelaçavam e se repetiam, formando padrões geométricos, estimularam sua imaginação. Ao usar nos desenhos uma malha de polígonos, regulares ou não, surgiram modificações sem alterar a área do polígono original. O processo o inspirou a criar figuras de homens, peixes, aves, lagartos, todos envolvidos de tal maneira que nenhum poderia mais ser alterado. Quando decidiu representar o espaço tridimensional no papel, a técnica deu novo salto, originando representações distorcidas e os paradoxos. “Talvez esteja sempre em busca do espantoso e, por isso, procure apenas provocar espanto no espectador”, justificou o artista.

Confira alguns dos recursos dos quais Escher lançou mão para criar efeitos que fazem dele um dos mais importantes artistas gráficos contemporâneos, amado pelo público em todo o mundo, o que confirma a universalidade de seu trabalho.

Ambiguidade






Certa vez Escher disse: “É preciso haver certo grau de mistério, mas que não seja imediatamente aparente”. A litografia Desenhando (foto), de 1948, serve de exemplo desse raciocínio. Tachas fixam um papel em um suporte. Uma mão direita segurando um lápis esboça sobre a folha um punho de camisa. Uma mão esquerda emerge de outro punho e, elevando-se em relação ao plano, ganha vida. Por sua vez, a mão esquerda esboça o punho de onde sai a direita. Mesmo com composição rigorosa, o efeito é de pura fantasia.

Espelhamento




O artista brincava com espelhos e imagens refletidas. Explorou o recurso de vários modos, até mesmo em grande número de autorretratos, que sempre envolviam o uso de um espelho. Sempre trabalhou com um espelho convexo. A distorção produzida cria uma visão ampla do entorno. A litografia Três esferas II (foto), de 1946, ilustra essa pesquisa.

Ladrilhamento





O conceito de divisão regular do plano – o ladrilhamento – é considerado por Escher como seu tema mais importante. Era sua maneira de expressar a fascinação pela eternidade e pelo infinito de diferentes formas. Na xilogravura Céu e água I (foto), de 1938, as silhuetas dos peixes brancos se fundem para formar o céu para as aves, enquanto na metade inferior os pássaros pretos se misturam para dar forma à água para os peixes. Já na litografia Encontro (1944), o recurso é usado para criar dois tipos de figuras que se fundem.

Impossível





Escher induz o espectador a perceber uma situação impossível como realidade. Muitas vezes é necessário um olhar mais atento para perceber que o que se vê não pode ser real. Em De cima, de baixo (1947), a mesma cena é vista duas vezes: na metade superior da gravura, o ponto de vista é o de cima para baixo. A metade inferior oferece a mesma vista, porém nem toda perspectiva parte do nível térreo. “Às vezes parece-me que ficamos aflitos e possuídos por um desejo pelo impossível”, dizia. São exemplos da reflexão o entalhe Outro mundo (1947) e a litografia Cascata (foto), de 1961.

Eternidade




A combinação de técnicas artísticas tradicionais e conhecimentos matemáticos específicos é fundamental para obra de Escher. Os temas matemáticos vão além dos limites tradicionais de arte e dão às gravuras o poder de criar formas e propor mitologias. A xilo Fita de Moebius II  (foto), de 1963, foi feita a partir deste raciocínio. 

FESTIVAL » Viagem literária em Araxá‏

Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 20/09/2013 


O escritor Luiz Ruffato fala hoje sobre viagem na ficção e na não ficção (Simone Ruffato/Divulgação)
O escritor Luiz Ruffato fala hoje sobre viagem na ficção e na não ficção


Começou ontem, no Triângulo Mineiro, a 2ª Edição do Festival Literário de Araxá, o Fliaraxá, que levará à cidade, até domingo, grandes nomes das letras nacionais, como Adélia Prado, Ruy Castro, Heloísa Seixas, Humberto Werneck e Márcia Tiburi, entre outros, além de prestigiar pratas da casa: os irmãos Dirceu e Leila Ferreira, que acaba de lançar o livro de crônicas, Viver não dói, Editora Globo, e Evandro Affonso Ferreira, um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2013, com o romance O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Roterdam, Editora Record. Há anos vivendo em São Paulo, Evandro é autor, ainda, entre outros, dos livros Grogotó, Editora Topbooks, e Cabrâmbias, Editora 34.

O tema escolhido este ano para o evento, que tem patrocínio do Ministério da Cultura, por meio das leis de incentivo, e do Circuito CBMM de Cultura, foi “A viagem na literatura”. Para o curador do festival, o jornalista Afonso Borges, do projeto Sempre um Papo, o objetivo do encontro, como ocorreu no ano passado, será atingir o maior número possível de pessoas, não só de Araxá, como de todo o Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba. “Nossa meta é incentivar a leitura  e fazer com que o livro chegue aos leitores de forma acessível, além de valorizar o escritor brasileiro”, disse.

Bastante diversificado, o festival terá ainda shows musicais, com Juarez Moreira e Chico Amaral Quarteto; saraus de poesia; oficinas de criação literária; e contação de histórias com Roberto Carlos Ramos, entre outras atrações, além de homenagem especial a Vinicius de Moraes, pelo centenário de seu nascimento, que será comemorado em outubro. Os cantores e compositores Rubinho do Vale e Celso Adolfo, que também estarão presentes, ministram as oficinas Aprendendo sobre cultura popular e A música na literatura de Guimarães Rosa. Já o arquiteto Gustavo Pena fala sobre “A literatura na arquitetura”.

Como novidade desta versão, destaca Borges, haverá a realização de concurso literário, que premiará redações feitas por estudantes do ensino médio das escolas públicas e privadas de Araxá. Os prêmios serão entregues amanhã, às 11h, por Adélia Prado, uma das estrelas do encontro.

2º Festival Literário de Araxá – Fliaraxá
Até dia 22, na Fundação Cultural Calmon Barreto, Praça Arthur Bernardes, 10, Centro, Araxá. Entrada franca. Informações: (34) 3691-7133, www.fliaraxá.com.br e info@fliaraxá.com.br.

• Programação

HOJE

13h – Abertura
14h – Rubinho do Vale – Cultura popular – Música e literatura
15h30– Humberto Werneck e Luiz Ruffato – Viagem na ficção e não ficção
16h30 – Alberto Villas e Chico Amaral – Viagem na música e na memória
18h – Heloísa Schurmann e Leila Ferreira – Literatura, viagem e superação
19h30 – Ruy Castro e Heloísa Seixas – Viagem na literatura e jornalismo
21h – Adélia Prado – Viagem pela poesia e literatura
24h – Encerramento

Amanhã

10h – Abertura
11h – Entrega do 1º Prêmio Fliaraxá – Literatura nas escolas, com Adélia Prado
11h30 – José Luiz Golfarb conversa com pais e mestres sobre o tema “A internet e as novas mídias na família e educação”
14h – Cris Guerra e Leila Ferreira – Moda e estilo: uma viagem intuitiva
15h30 – Laura Müller – Altos papos – Viagem na literatura e na sexualidade
17h30 – Márcia Tiburi – A felicidade e a banalidade do vício na era digital
18h30 – Academia Araxaense de Letras – Lançamento da primeira antologia da academia
19h30 – Marcel Souto Maior – Viagem nas vidas e literatura de Alan Kardec e Chico Xavier
20h30 – Leila Ferreira, Dirceu Ferreira, Evandro Affonso Ferreira e Marcel Souto Maior, no debate e lançamento de seus mais recentes livros
24h – Encerramento

Domingo

11h – Sarau de poemas
12h – Homenagem literomusical a Vinicius de Moraes
14h – Encerramento

Novo vilão do Alzheimer‏ - Bruna Sensêve

Identificado receptor que ajuda na formação das placas beta-amiloide no cérebro, condição até agora tida como causadora da doença neurodegenerativa


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 20/09/2013 



O acúmulo de placas da proteína beta-amiloide nos neurônios já foi identificado como uma das possíveis causas para o mal de Alzheimer. Mas um novo protagonista da doença parece estar surgindo. O receptor do sistema imunológico PirB, encontrado em camundongos, e o seu correspondente humano, o LilrB2, devem ocupar o papel de vilão. Eles são responsáveis por deixar as placas beta-amiloides se instalarem nos neurônios, desencadeando a série de defeitos neuronais comuns da enfermidade. Sem esses receptores, a “porta” permanece fechada e as células nervosas, imunes aos danos. A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que sugerem o PirB e o LilrB2 como um novo alvo para terapias de combate à forma mais comum de demência neurodegenerativa.

Os fragmentos da proteína beta-amiloide estão presentes no cérebro inicialmente como pequenos aglomerados solúveis que circulam livremente. Com o passar do tempo, elas formam as placas, levando a um processo inflamatório crônico nos neurônios e prejudicando a condução dos impulsos nervosos. De acordo com o trabalho publicado na edição de hoje da revista científica Science, ainda em forma de aglomerados solúveis, a proteína é capaz de se ligar tão fortemente a receptores que passa a corroer as sinapses nervosas antes mesmo de as placas serem formadas. As sinapses são as regiões de comunicação entre neurônios onde são transmitidos os impulsos nervosos, essenciais para o armazenamento da memória, por exemplo. Para investigar essa possível parceria entre os receptores PirB e LilrB2 e a proteína beta-amiloide, os cientistas usaram um modelo de camundongo produzido em laboratório bastante suscetível ao desenvolvimento do Alzheimer. 

As cobaias foram divididas em dois grupos, sendo que o primeiro tinha receptores PirB e o segundo não os expressava. Cerca de nove meses depois, surgiram apenas nos animais do primeiro grupo os primeiros sinais relacionados à doença, como problemas de aprendizagem e de memória. Surgiu daí a teoria de que o PirB, que reside na superfície da célula, poderia atuar como um cúmplice da beta-amiloide, permitindo que ela se ligue às células e enfraqueça as conexões sinápticas. Frente a esses resultados, a primeira pergunta feita pela equipe de Carla Shatz, professora de neurobiologia da Universidade de Stanford, na Califórnia, foi: como o PirB poderia interagir com a beta-amiloide e influenciar na evolução do Alzheimer em humanos? Ao examinar o tecido cerebral de pessoas com Alzheimer, eles encontraram evidências de que o LilrB2 pode desencadear as mesmas reações nocivas que o PirB. Para Neil Buckholtz, diretor da Divisão de Neurociência do Instituto Nacional do Envelhecimento, ligado ao Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, a compreensão existente até hoje das várias proteínas envolvidas no desenvolvimento do Alzheimer e de como essas proteínas interagem umas com as outras pode um dia resultar em intervenções que atrasem, tratem ou mesmo previnam a doença neurodegenerativa. “Esses resultados fornecem informações valiosas sobre essa doença complexa, que envolve o acúmulo anormal de proteínas, inflamação e uma série de outras alterações celulares”, comenta. Cúmplice Em um novo experimento – liderado por Taecho Kim, pesquisador do Laboratório de Carla Shatz e principal autor do trabalho publicado hoje na Science –, foram comparadas as proteínas produzidas no cérebro dos dois grupos iniciais de camundongos, mais suscetíveis à doença de Alzheimer. Curiosamente, aqueles que tinham o receptor PirB também apresentaram um aumento significativo da enzima cofilina. O mesmo foi observado na análise post-mortem do tecido cerebral de pacientes com Alzheimer. A cofilina trabalha na modulação e na consequente quebra da actina – uma proteína que, no caso dos neurônios, exerce papel essencial para a conservação da estrutura sináptica. “Olhamos para os cérebros humanos nesse estudo e descobrimos que uma perturbação semelhante da atividade da cofilina está presente nos cérebros de pessoas com Alzheimer, mas não o cérebro saudável”, conta Shatz. A ligação da beta-amiloide com o PirB (em camundongos) e com o LilB2 (em humanos) resultou em alterações bioquímicas na cofilina, o que acelera a quebra de actina, levando a uma atividade de desmontagem sináptica. “Sem actina, sem sinapse”, resume Shatz. “As pessoas estão começando a olhar para o que essas proteínas fazem no cérebro. Mais pesquisas são necessárias, mas essas proteínas podem ser um novo alvo para drogas de Alzheimer.” A professora de neurobiologia sugere que drogas que bloqueiem a ligação entre os receptores e a beta-amiloide na superfície das células podem ser capazes de exercer um efeito terapêutico. Até o momento, apenas dois outros receptores beta-amiloide (PRP-C e EphB2) foram encontrados e estão sendo estudados como alvos de drogas. Hoje, nenhum medicamento trata as possíveis causas subjacentes da doença de Alzheimer, já que a maioria das intervenções que atingiu a fase de testes clínicos é projetada para limpar a beta-amiloide das células nervosas.

EDUARDO ALMEIDA REIS - Palavras‏

Esta mania de aportuguesar palavras tem coisas intoleráveis: budoar é uma delas


Estado de Minas: 20/09/2013 



Budoar é de lascar. Parece bu do A.R. (Almeida Reis?) e o Houaiss não tem bu, tem bubonalgia, dor nas virilhas, e o regionalismo bubu, sinônimo de nádegas. É o que os gramáticos, chatos como eles só, chamam de redobro: processo formal de repetir segmentos fônicos de uma palavra ou mesmo toda a sequência fônica de vocábulos, para indicar categorias gramaticais ou para obter efeitos expressivos; reduplicação. Abrange exemplos da linguagem infantil (babá, pipi, titia), hipocorísticos afetivos familiares (Lulu, Vavá) e os mais diversos recursos intensificadores (muito, muito alto; fazer algo devagar, devagar). Por que não escrever boudoir? É cômodo pequeno e elegante, em moradias requintadas, reservado à dona da casa, que nele pode se isolar ou receber pessoas íntimas. Também é local onde se acordam favores amorosos e/ou se pactua secretamente. Daí diplomacia de boudoir. Hoje, local onde se acordam favores amorosos está mais para motel e as moradias requintadas, com pequeno e elegante cômodo, são cada vez mais raras, se é que ainda existem. Há casas imensas e luxuosas, mas pouco ou nada requintadas. Esta mania de aportuguesar palavras tem coisas intoleráveis: budoar é uma delas. Aliás, os lexicógrafos têm coisas inexplicáveis como dicionarizar gougre, adjetivo de dois gêneros. O leitor e o seu philosopho conhecemos uma porção de damas e cavalheiros gougres, mas nunca lemos, ouvimos ou dissemos o adjetivo de dois gêneros, que significa “deselegante no trajar”, regionalismo brasileiro. É dose.

Engordativa
Tive amiga engordativa que só pensava em comida, só falava do que comera e do que pretendia comer. Senhora roliça, prima bem mais velha e da melhor respeitabilidade, descrevia um trajeto de acordo com os restaurantes e as confeitarias do caminho. A Avenida Atlântica, onde se reuniram os milhões de peregrinos do papa Francisco, era “aquela avenida do Lucas”, pelo restaurante da esquina com a Rua Sousa Lima. No Centro do Rio de Janeiro havia a “rua da Pavê”, a “esquina da Colombo”, a “avenida da Maison de France” e assim por diante. Certa feita, descrevendo o acesso ao sítio de um amigo no então longínquo Jacarepaguá, ela citou uns 30 restaurantes que havia pelo caminho para chegar à estrada rural em que você andava oito quilômetros até encontrar, à direita, uma placa: “Vendem-se ovos”. A porteira do sítio ficava do outro lado da estrada.

Sensação térmica
Sempre leio sobre sensação térmica e fiquei feliz de ouvir um meteorologista dizer que é simples fórmula matemática, em que entram a temperatura em graus Celsius, a velocidade do vento e a umidade relativa do ar. Fui procurar no Google e encontrei fórmula complicadíssima, que não considera a umidade relativa e informa o seguinte: “Assim, em um local onde a temperatura é 5°C e o vento sopra a 40 km/h a sensação térmica é de aproximadamente -9,5°C”. A partir daí, a fórmula tem aquele V de raiz quadrada, que nunca entendi. Minha aritmética terminou na tabuada decorada e até hoje sei que 9 x 9 é igual a 81, como também sei que sinto um frio danado. E noto que ligeira alteração no termômetro da sala, coisa de 2°C, melhora minha natural felicidade. Aos 17°C o ambiente é insuportável, melhora bastante aos 19°C e o paroxismo da felicidade começa aos 22°C, ainda muito agasalhado. Nas ruas, velho de canela de fora é um pavor, mas em casa o bermudão é tolerável. Acho que bermudão com bolsos para isqueiros, lenço de linho e lenços de papel, só acima dos 26°C. Vou ficar atento e prometo dar notícia ao pacientíssimo leitor, que presumo interessadíssimo nas minhas sensações térmicas.
 
O mundo é uma bola
20 de setembro de 331 a.C., Alexandre, o Grande, atravessa o Rio Tigre para enfrentar o Império Persa. Tigre ou Tígris, em árabe Dijla, em turco Dicle, na Bíblia Hiddekil, é o mais oriental dos dois grandes rios que delineiam a Mesopotâmia, que significa “terra entre os rios”. O outro é o Eufrates, em aramaico Frot/Frat, em persa antigo Ufrat, em turco Firat. Em 1276, eleição do papa João XXI, o único papa português da história. Em 1378, eleição de Clemente VII, o Antipapa, em oposição a Urbano VI, iniciando o Grande Cisma do Ocidente. Em 1519, a partir da Espanha, Fernão de Magalhães inicia aquela que seria a primeira viagem de circum-navegação do planeta. Fernão morreu flechado no caminho. Em 1870, Risorgimento: fim do domínio dos Estados pontifícios sobre Roma. Em 1898, o mineiro Santos Dumont realiza o primeiro voo de balão com propulsão própria. Em 1919, Cândido Mariano da Silva Rondon é nomeado diretor de engenharia do Exército. Em 1896, nasceu Eduardo Gomes, o brigadeiro, político e militar brasileiro. Em 1897, nasceu Humberto de Alencar Castello Branco, presidente do Brasil, honesto e alfabetizado. Em 1917, veio ao mundo Obdulio Varela, aliás, Obdulio Jacinto Muiños Varela, capitão da Celeste que aprontou em 1950 no recém-inaugurado Maracanã. Em 1936, nasceu Sophia Loren, aliás Sofia Villani Scicoloni, que dispensa considerações. Hoje é aniversário de Pará de Minas, onde Igor, doutor em ciência da computação, tem a mais linda noiva do universo.

Ruminanças
 “Se os macacos chegassem a experimentar o tédio, tornar-se-iam homens” (Goethe, 1749–1832). 

Sociedade Polaroid

Estado de Minas: 20/09/2013 



Saciar a fome e a sede, quando aparecem, é muito bom. É impossível evitar que elas surjam, mas o diferencial de nossa espécie perante as demais é a capacidade de prevermos que sentiremos fome e sede, obrigando-nos a preparar provisões. Arqueólogos são convictos da hipótese de que uma das razões pelas quais o homem de Neanderthal desapareceu foi sua corpulência e insaciável fome. Ele dependia de comer constantemente para sobreviver. Por essa razão, ao que parece, os Homo sapiens, mais leves e resistentes a longos períodos sem se alimentar, sobrevieram e povoaram a terra. A migração para climas temperados fez com que a humanidade, antes nômade, se fixasse e passasse a entender os desafios da perenidade e do sedentarismo, administrando variáveis como clima e trato do solo. Preparar-se para entressafras, obrigando comunidades a deixarem de consumir para terem o que comer durante o frio, é uma característica própria do ser humano. Isso sempre exigiu certa renúncia ao imediatismo.

Ocorre que hoje, com o distanciamento das pessoas do campo e a impressão de que o clima não nos impede de fazer nada, em especial em regiões tropicais, como o Brasil, a noção de preparo para o futuro torna-se vaga e remota. A geração
atual, com acesso a meios de comunicação avançados, valoriza em excesso as experiências do presente. Forma-se uma sociedade do instantâneo, dos que apertam um botão e desejam ver o resultado já, no momento, sem qualquer atraso ou espera. Saciar a fome e a sede no momento em que surgem é algo prazeroso, mas pode significar a penúria de amanhã. O país passa por um momento fantasioso de prosperidade, inebriado pela saciedade de demandas imediatas, sem projeção da sociedade no futuro. Tal constatação decorre da análise do consumo desenfreado e do descontrolado acesso a crédito. A pessoa endivida-se hoje, para consumir e realizar seus sonhos hoje, pouco se importando com o amanhã. A questão fundamental é que o futuro virá, mesmo para uma sociedade, como a brasileira, que se acha eternamente jovem e renovável, crendo que períodos de entressafra jamais serão vivenciados. A história não é nada generosa com os imprevidentes.

Aprender um instrumento musical, um idioma, são esforços de progressão. Abrir mão do tambor, que faz som e anima uma batucada, trocando-o por algo mais elaborado, demanda força de vontade. Tal troca será justificável se for buscado um som mais elaborado, para acompanhar os que tocam tambor. No mundo real, é assim que funciona, e isso explica um pouco por que o Brasil é tão dependente de tecnologia externa.

A assistência imediata (por vezes necessária e inevitável) tem falseado a realidade. O planejamento para o futuro não é papel do governo, mas do povo. A economia e uso racional dos meios se faz urgente. O país ainda prima pelo desperdício, pelas iniciativas engavetadas e refazimento de obras. A perenidade própria das boas fundações não se constrói de um dia para o outro. Estará o país, por seus líderes, pensando nisso?

Barbara Gancia

Fonte: Folha de São Paulo

Sobrou para o Ulysses

Cansei de dizer que não era para tratar como clássico de futebol. Mas, para os 50 gatos pingados que foram choramingar na frente do palácio da Dilma em Brasília na quarta, é bom lembrar que o julgamento do mensalão não acabou em pizza.
Dos 39 réus, dez já foram apenados e outros 12 terão suas penas revistas. Se há o que lamentar, a esta altura, não é a atuação do Supremo ou a suposta impunidade que está reservada a quem dispõe de meios de pagar pelo advogado que saiba cavar as garantias constitucionais estabelecidas pela lei. Afinal, essas garantias, como bem lembrou o ministro Barroso, valem para petistas, peessedebistas, torcedores do Íbis, inocentes, culpados, para seu filho, seu pai, sua sogra ou qualquer outro brasileiro que sente no banco dos réus.
Quem ora está frustrado foi quem embarcou ingenuamente na nau das falsas expectativas. Será que algum processo desse porte, com penas tão altas, poderia ter terminado sem direito a recurso? Sejamos realistas.
Você, que nestes últimos dois dias andou xingando o ministro Celso de Mello como se ele fosse juiz de futebol, será que você se dá conta de que o acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, está sendo julgado pela quarta vez?
Será que você esqueceu de que nossa desigualdade recordista mundial, que coloca o réu que é atendido pela Defensoria Pública em um patamar e aquele que tem meios para contratar bons advogados em outro, é a mesma que é sentida pelo estudante rico que poderá pagar seu caminho do jardim da infância até a faculdade nas melhores instituições de ensino e aquele que será excluído do sistema educacional por falta de investimento do poder público? Ou a mesmíssima diferença que há entre o doente que se vê obrigado a passar pela máquina de horrores do SUS e quem pode se tratar nos hospitais Sírio-Libanês ou Einstein? Cadê a novidade?
Por que os indignados com o resultado sobre os embargos infringentes não espumam bílis ao constatar que Celso Russomanno, Paulo Maluf, Jader Barbalho, José Sarney, Roseana Sarney, Renan Calheiros, Luiz Estevão e outros tantos circulam livremente pelos mesmíssimos motivos que os réus do mensalão? Em algum momento todos eles foram julgados, condenados e obtiveram recursos para serem julgados em outra instância, não?
É evidente que culpados por crimes de corrupção devem ser severamente punidos. Mas o problema neste caso foi a uma vulgar tendência a usar dois pesos e duas medidas por serem os acusados pessoas que causam pavor em certas classes.
Assim, perdemos de novo a oportunidade de discutir o que importa. Que seria, quem sabe, encontrar uma maneira de impor limites recursais para impedir que processos durem "ad eternum". Ou encontrar uma forma de fortalecer a ação das Defensorias Públicas ou ainda os privilégios dos legisladores que legislam em causa própria.
Mas mais do que isso, que nós tivéssemos de uma vez por todas a coragem de tirar a cabeça das nuvens e admitir que nossa gloriosa Carta Magna é nota cinco.
A Constituição de 1988, que todos louvam como se fosse um documento sagrado, foi redigida na ressaca de um regime autoritário e carrega os cacoetes e resquícios de anos de práticas não democráticas. Some-se a isso Códigos Civil e Penal da época do avião a lenha e podemos entender porque daqui a pouco a Nova Guiné será um país bem mais moderno que o nosso.
Se alguém não tiver coragem de propor a correção dos graves desvios contidos na Carta, a coisa não engrena.
Se até o papa Francisco está colocando na roda temas cabeludos como o celibato, não vejo por que não podemos começar a sonhar.
Barbara Gancia
Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".