quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Parar de fumar diminui ansiedade, diz estudo


DA BBC BRASIL


Um estudo feito na Inglaterra com fumantes que estavam tentando abandonar o cigarro revelou que os que conseguiram deixar o tabagismo tiveram uma diminuição "significativa" de seus níveis de ansiedade.
A pesquisa, divulgada pela publicação científica "British Journal of Psychiatry", acompanhou quase 500 fumantes que frequentam clínicas do sistema público de saúde britânico para parar de fumar.
Os 68 dos que tiveram sucesso após seis meses relataram ter sentido uma redução dos seus níveis de ansiedade.
A diminuição foi mais intensa entre aqueles que fumavam por transtornos de humor e ansiedade do que entre os que fumavam por prazer.
TEMOR INFUNDADO
Os pesquisadores --vindos de várias universidades, incluindo Cambridge, Oxford e Kings College de Londres-- afirmam que os resultados devem ser usados para tranquilizar os fumantes que tentam parar, já que mostram que as preocupações com o aumento dos níveis de ansiedade são infundadas.
No entanto, o estudo sugere que uma tentativa frustrada de abandonar o cigarro pode aumentar levemente os níveis de ansiedade entre aqueles que fumam devido a transtornos de humor.
Para aqueles que fumaram por prazer, uma recaída não alterou os níveis de ansiedade.
O estudo foi publicado dias depois de o governo britânico ter lançado uma nova campanha de publicidade antitabagismo.

Luli Radfahrer


Cumpra as promessas de Ano-Novo


Todo fim de ano é a mesma ladainha. Todos prometem comer melhor, parar de fumar, dormir melhor, fazer mais exercícios, ler mais, ter maior autocontrole e se estressar menos no ano que se aproxima. As promessas, no entanto, dificilmente sobrevivem ao cotidiano. Mudanças de estilo de vida costumam ser lentas e demandar acompanhamento diário. Acabadas as férias é difícil ter disposição, tempo ou paciência para fazer registros diários ou contar calorias, e as boas intenções acabam esquecidas.
Mas novas tecnologias prometem facilitar a vida de quem pretende mudá-la. Equipamentos que até há pouco tempo estavam restritos a UTIs hoje são portáteis e baratos. Associados a bases de dados e algoritmos complexos, sensores embutidos em smartphones, pulseiras, relógios ou fitas elásticas presas ao corpo permitem o registro e o compartilhamento de atividades cotidianas que até há pouco eram ignoradas.Aplicativos dignos de ficção científica calculam a frequência cardíaca de repouso a partir de uma fotografia da câmara de celular. Bombinhas de asma usam GPS para evitar áreas de risco. Cápsulas com sensores medem a digestão. Protótipos tentam adivinhar as emoções de seus usuários baseados em suas variações de movimento e padrões de digitação.
A auto-mensuração não é uma prática nova. Atletas, pessoas com alergias e portadores de doenças crônicas monitoram seus hábitos há décadas. A diferença dessas novas tecnologias está na facilidade da coleta e na abrangência da análise. Hoje com um smartphone e aplicativos quase gratuitos qualquer um pode medir qualidade do sono, atividade física, peso e gordura corporal, calorias das refeições, passos caminhados, andares subidos a pé, consumo de álcool, pressão, oxigenação e níveis de açúcar do sangue.
Mesmo que ainda sejam imprecisos, esses aparelhos têm a vantagem de estar sempre disponíveis. Ao facilitar a medição, registrar o progresso em gráficos de desempenho e estimular seu compartilhamento via redes sociais, eles transformam a vontade de mudar em um jogo, um compromisso público com o apoio dos amigos.
Em novas redes sociais, como PatientsLikeMe e CureTogether, seus usuários deixam de lado a privacidade para buscar, no compartilhamento de suas condições, possíveis respostas que melhorem sua situação ou tragam algum conforto. Se por um lado elas estimulam o auto-conhecimento e a mudança através do apoio do grupo, é inegável que também podem levar à automedicação, ou a soluções caseiras inócuas ou perigosas.
Mesmo que seja um placebo distante da verdadeira revolução médica, a mensuração ajuda a potencializar as descobertas científicas na prevenção de doenças enquanto a Engenharia Genética e a Nanotecnologia não ganham as prateleiras das farmácias. É só imaginar a riqueza de dados que pode surgir quando uma parcela dos usuários de redes sociais passar a compartilhar a qualidade de seu sono ou o progresso de sua dieta.
A área é nova e deve ser examinada com cuidado antes de ser defendida ou atacada. Por mais que os benefícios coletivos valham a pena, a exposição individual extrema dos históricos médicos ou terapêuticos pode restringir acessos e causar diversos constrangimentos a seus usuários. Novíssima fronteira da privacidade, os dados médicos só deverão ser comercializados quando seus benefícios superem os custos.
Luli Radfahrer
Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha de São Paulo

Nina Horta

FOLHA DE SÃO PAULO


Biblioteca para viagem
Cozinheiro não pode ler só livros de receitas. Bem ao contrário, tem que fazer um bom muro de cultura geral
Livros para as férias. Tem aquele livro de papel que todo mundo diz que é bom, e você não conseguiu passar da terceira linha. Em falta de outro, você lê inteiro na viagem de avião. Aconselho "Uma Casa para o sr. Biswas", do V.S. Naipaul (editora Cia. das Letras).
Vivo falando que cozinheiro não pode ler só livros de receitas. Bem ao contrário, tem que fazer um bom muro de cultura geral para enfrentar depois as variações de modos, de jeitos de comer, de paladares. Aprendi a tomar uísque na mais tenra idade. Havia um detetive chamado O Santo. Toda vez que ele tomava um uísque, eu me levantava da leitura no sofá e provava uma colherinha de chá da bebida. Acostumei com o gosto.
Nem sei quais livros indicar. Talvez "A Cidade e as Serras", de Eça de Queiroz (várias editoras). A mudança da cidade para o campo, o drama do peixe encalhado no elevador até chegar à galinha ensopada que tinha fígado e tinha moela. É de um frescor.
"Madame Bovary" (várias editoras), porque é preciso. Fala pouquíssimo de comida, mas tenho por mim que no fundo ela se suicidou não por causa das dívidas e dos livros de cavalaria que havia lido, mas por causa do cheiro horrível da sopa de cebolas que o marido tomava todo dia, que empesteava todos os vãos da casa enquanto ela, entediada, beliscava uma amêndoa. E sonhava, depois de ter provado num baile um sorvete de marasquino com colherinha de prata, tão gelado que lhe doeram os dentes.
Experimente um Proust, comida francesa, salões parisienses, a empregada da tia Léonie, esqueci o nome dela. E como é que um cozinheiro pode sobreviver sem entender o que são as madeleines do autor?
Já que estamos na área dos memorialistas, o brasileiríssimo Pedro Nava escreve bem demais, principalmente sobre a casa da avó, o pomar, as jabuticabas, a abóbora cozida na fogueira com vinho do Porto que ficava como castanha portuguesa. As compotas tão lindas, onde as goiabas parecem o "de-dentro" das orelhas. Orelhas de goiaba. Estou escrevendo longe dos livros e talvez esteja inventando um pouco.
De livros de culinária, só os que realmente ajudam na cozinha. Os da Rita Lobo e da Marcella Hazan. Cozinhar nas férias é muito bom.
Eu me lembro de tanta comida boa, em Paraty. Inclusive com a casa ainda por acabar, cozinhando em fogões precários e de lenha na casa de mandioca, aquela casinha velha, de taipa, linda, dava até um fundo mais apetitoso para os camarões fritos bem pequenininhos, com casca e tudo. No Rio de Janeiro, tinham o nome de camarão-lixo, aqui são sete barbas.
E marrecos cozinhando em panela, amolecendo com gotas de tangerina-do-rio. Tem uma coisa que minha cunhada adorava e fala até hoje. Era um peixe vermelho, frito na manteiga e um esparregado ao lado. Tinha levado um livro português e assim se chamavam nele legumes ou verduras batidinhas e cozidas.
Agora, assim, na praia, talvez nem seja preciso ler nada. Comer num bar de ilha, tudo frito, mesmo, com uma caipirinha gelada, uma mandioca derretendo, sei lá se tem livro que ganhe disso.
    via Lea Beraldo no facebook

Tsunami como metáfora - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 02/01/2013


A palavra tsunami só entrou no meu repertório a partir da tragédia acontecida na Tailândia. Antes disso, se eu a vi escrita em algum lugar, devo tê-la confundido com alguma sobremesa, quem me garantiria que não era uma prima do tiramisu?

Pois tsunami, descobri, era outra coisa, possuía um significado trágico. Águas revoltas emborcando corpos, afogando vidas, eliminando gente num ataque surpresa. Você imagina que está no paraíso (à beira-mar, quem não está?) e de repente é arrastado para as profundezas com tal violência que, se conseguir escapar, não voltará o mesmo. Quem sobrevive, coleciona cicatrizes e traumas. Ou seja, tsunami passou a ser a metáfora ideal para todos aqueles momentos em que somos atingidos por uma força exterior capaz de deixar nosso mundo fora de lugar.

Seu marido saiu de casa, um tsunami. Demissão coletiva na empresa, um tsunami. Seu filho foi vítima de um assalto com arma, um tsunami. Todas as vezes em que você disse para si mesmo “não sei se vou segurar a onda”, era porque um tsunami estava passando por cima da vida satisfatória que você tinha antes.

Eu, que sempre fui fascinada por água, que sonho frequentemente com o mar e que costumo comparar a vida a um barco à deriva, passei a usar e abusar do termo tsunami para descrever abalos emocionais. Até que fui assistir ao filme O impossível, que reproduz o que aconteceu a uma família em férias naquele fatídico 26 de dezembro de 2004, e botei meus pés de pato de molho.

Amores terminam, pessoas adoecem, perde-se o emprego, e tudo isso modifica destinos, mas há que se levar em conta que esses são tsunamis razoavelmente previsíveis. É muito improvável que, durante toda uma vida, você não padecerá de algum infortúnio. Doerá, mas sabe-se que são através dessas dores que amadurecemos. Sofrer é péssimo, ninguém deseja nem merece, mas há que se reconhecer algum valor terapêutico nisso.

Já um tsunami de verdade faz sofrer de uma forma bem menos didática. O filme, principalmente no início, é de um realismo de embrulhar o estômago. Do meio para o fim, ele apela um pouco para o melodrama – a trilha sonora avisa a plateia: hora de chorar, pessoal! Mas é nas cenas iniciais, em que um inocente banho de piscina no hotel se transforma num terror absoluto, que a gente se dá conta de que quase nada do que vivemos em nosso cotidiano se compara a essa brutal agressão pela qual se é atingido de um segundo para o outro.

O que é pior: a dor física ou a dor emocional? Quando ambas acontecem ao mesmo tempo, a catástrofe é completa. Fiquei muito impressionada com o que assisti, porque não era apenas um filme, e sim um convite a entender o que sentem as vítimas de um drama que atinge o corpo por dentro e por fora. Tsunami como metáfora? A partir de agora, usarei com mais parcimônia.

Chacinas em escolas são tsunamis. Assassinato de um filho é um tsunami. Já para as nossas dores de cotovelo, frustrações profissionais e tristezas congênitas, a analogia prescreveu. Temporais: é isso que cai sobre nós de vez em quando, amém. 

Quadrinhos

FOLHA DE SÃO PAULO

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MINHA VIDA RIDÍCULA      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

Ganho de doméstica sobe mais que a média

FOLHA DE SÃO PAULO

Escassez de profissionais faz renda da categoria crescer 56% desde 2004, mas remuneração ainda é a mais baixa
Número de pessoas que trabalham na função tem caído desde 2008, com exceção de 2009, ano de crise econômica
PEDRO SOARESDO RIONunca foi tão difícil achar uma empregada doméstica nas maiores metrópoles do país como agora. E, para conseguir uma diarista ou uma mensalista, os patrões tiveram de pagar mais.
Quem ganhou foi a categoria, a de mais baixa remuneração entre todas. Tais conclusões surgem de dados levantados pela Folha, com base na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
O número de pessoas empregadas em serviços domésticos vem caindo desde 2008, com exceção de 2009, quando a crise empurrou trabalhadores para funções menos qualificadas.
Quase 130 mil pessoas deixaram o trabalho doméstico nas seis maiores regiões metropolitanas do país desde 2009 -em novembro, havia 1,5 milhão de pessoas ocupadas com esse tipo de serviço.
Com a menor oferta de domésticos -em sua grande maioria mulheres-, o rendimento do grupo cresceu acima da média.
Desde 2004, o ganho real (descontada a inflação) do salário das domésticas foi de 56%, ante 29% da renda média dos trabalhadores.
Ainda assim, o rendimento dessas funcionárias correspondia, em 2012, a 40% da média da remuneração de todos os trabalhadores.
Elas recebiam, na média das seis regiões metropolitanas, R$ 721 por mês de janeiro a novembro -6,7% a mais que em igual período de 2011.
Segundo Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE, o emprego doméstico é a única categoria em que fica claro que a falta de mão de obra elevou os salários. Somente nesse grupo o emprego não cresceu nos últimos anos.
Outro impulso, afirma Pereira, veio do forte reajuste real do salário mínimo nos últimos anos.
O técnico do IBGE ressalta que, historicamente, a renda das domésticas sempre oscilava em torno do mínimo, mas distanciou-se dessa referência principalmente em 2011 e 2012 com a maior remuneração paga à categoria.
"É uma questão de oferta e demanda. Se há menos trabalhadores disponíveis, o custo desse serviço cresce."
FAMÍLIAS
"A empregada doméstica representa a única categoria não contratada por empresas, mas por famílias, que arcam com uma despesa maior."
A pesquisa do IBGE considera trabalhadoras com carteira, sem carteira, diaristas e mensalistas.
A diarista Raquel Reigada, 47, ilustra a maior procura por domésticas: tem todos os dias da semana ocupados e sua diária aumentou de R$ 80 em 2011 para R$ 100 em 2012.
"Agora está mais fácil trabalhar como doméstica. Os patrões dão aumento todo ano e décimo terceiro. Acho que é porque tem muita gente que não quer esse serviço", afirma Reigada.
"Onde eu moro ninguém quer ser diarista no Rio", diz a moradora de Itaguaí, que gasta duas horas e meia para chegar às casas onde trabalha, na zona sul.
Segundo Márcio Salvatto, professor do Ibmec, as mulheres ampliaram o nível de educação nos últimos anos e, com isso, passaram a procurar postos de trabalho que exigem maior qualificação.
Além disso, elas passaram a ser aproveitadas pelo setor de serviços, que se expandiu e tradicionalmente já era um grande empregador de mão de obra feminina.
Nacionalmente, os dados do Censo de 2010 também mostraram uma redução do número de trabalhadores domésticos e aumento da renda desse grupo -no qual 92% eram mulheres.

    FRASES
    "Agora está mais fácil trabalhar como doméstica. Os patrões dão aumento todo ano e décimo terceiro"
    RAQUEL REIGADA
    diarista no Rio
    "É uma questão de oferta e demanda. O custo cresce se há menos trabalhadores disponíveis"
    CIMAR AZEREDO PEREIRA
    técnico do IBGE

      SAIBA MAIS
      Nova lei vai exigir pagamento de FGTS e hora extra
      DE SÃO PAULOJá aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados, a chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) das domésticas, que amplia os direitos dos empregados do lar, depende, agora, de aprovação do Senado.
      Se passarem, as regras vão valer tanto para os novos contratos quanto para os que já estão em vigor.
      A proposta torna obrigatórios itens como pagamento de adicional noturno, horas extras, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a jornada máxima de trabalho e vale para todos os que prestam serviços domésticos, como jardineiros, motoristas e babás.
      Alguns direitos entram em vigor imediatamente após a aprovação do texto -como o pagamento de horas extras. Outros necessitam de regulamentação, como o adicional noturno e o seguro-desemprego.

        Fernando Brant - Feliz tudo para todos


        Estado de Minas: 02/01/2013 
        Gosto desta época do ano, de festas, principalmente porque é um tempo em que as pessoas desaceleram o ritmo de trabalho, encontram hora para alegria e abraços, fazem projetos para o próximo ano que nem sempre cumprirão. Mas são momentos de relaxamento que fazem bem a qualquer um. 

        Com a família quase toda viajando em busca do sol e da areia das praias, mesmo guardando no fundo do peito um temor diante da realidade de nossas estradas de rodagem, me reservei uma temporada de refresco mental. O ano que passou repetiu o trabalho de Sísifo de outros, mas com uma dosagem mais exagerada. 

        Fiz uma força danada para terminar o ano que se foi, esse 2012 que os crédulos acreditavam que nos traria o fim do nosso mundo. O mundo só acaba para cada um de nós, aqui na Terra e sem considerar a crença de que uma outra vida mais venturosa virá, quando o ar nos faltar, o sangue não mais circular e os olhos se fecharem para os nossos, os que nos cercam e nos amam. Todos os dias o nosso mundo se acaba para alguém, para muitos em nosso planeta. 

        Contamos os anos que passam por convenção, o que é bom para se organizar a vida e renovar a cada 365 dias e seis horas a esperança na justiça, na bondade e na harmonia. Acontece que o nosso calendário não é o mesmo, por exemplo, que ordena os orientais e que também não passa de um pacto acordado por eles. 

        Nada vai ficar melhor por causa dos foguetes que explodem na noite de passagem de ano. Miró, preto labrador companheiro há anos, não gosta nem um pouco do barulho ensurdecedor que violenta seus ouvidos. Deve se perguntar por que os humanos se divertem tão estupidamente. Faço-lhe companhia para acalmá-lo, mas também merecia solidariedade diante dos decibéis que me atacam, no dia a dia, com as buzinas, os motoristas que acionam suas caixas de som e despejam suas músicas primitivas insuportáveis, as motos e suas descargas abertas.

        Mas o que é isso? Não posso iniciar o ano reclamando. Certo que não assistirei às retrospectivas que a mídia teima em repetir a cada ano. Não quero me lembrar das porcarias e das violências do ano que passou. Quero e vou me lavar nas coisas boas que a memória me traz de 2012. São fatos corriqueiros da vida comum, as pequenas grandes alegrias que pude colher em casa e na rua, na família e na amizade.

        Tudo cercado da beleza da música, da poesia, do amor guardado no coração e explicitado em gestos, beijos. Penso em pessoas de ontem e de hoje e desejo a todos o que o título desta crônica diz: feliz tudo para todos.

        Frei Betto - Arte e meditação‏

        Todo artista se julga digno de valor e reconhecimento 


        Frei Betto
        Estado de Minas: 02/01/2013 

        Participei, em fins do ano passado, de três encontros com grupos de oração em torno do tema arte e meditação. Toda obra de arte é sacramento, sinal sensível do que não se vê e, no entanto, ela expressa. Dela emanam sinais polissêmicos. Ela “fala” a cada observador. E este estabelece com ela uma relação sujeito-sujeito, dialógica, interativa. A arte nos desperta a intuição e a emoção. Nos re-liga com algo que, até então, escapava à razão. Daí sua relação com a religião. Ela emite sinais que não são controlados nem pelo artista nem pelo apreciador. A arte, como a meditação, nos induz ao mergulho no próprio eu, lá onde o ego se desfaz qual botão de rosa a se abrir em flor, e nos aproxima da ideia de beleza e harmonia. Enleva-nos, faz-nos apalpar o mistério, balbuciar o impronunciável. Ao contemplar ou desfrutar da obra de arte – pintura, balé, música – ela se metaboliza em nossa sensibilidade. Ao meditar, refluímos os cinco sentidos no núcleo axial que nos remete ao verdadeiro eu e que, na verdade, é um outro que funda nossa verdadeira identidade. O que é, hoje, obra de arte? Há uma dessacralização da arte. O início desse processo talvez possa ser demarcado pela obra A fonte, de Marcel Duchamp, criada em 1917, e representativa do dadaísmo. Trata-se de um urinol de porcelana, idêntico a milhares encontrados em mictórios públicos. Exposta em Paris, está avaliada em 3 milhões de euros.

        Hoje em dia o valor da obra de arte, sua aceitação pelo público, tem muito a ver com a performance do artista. Vide os cantores pop. E é o mercado, apoiado na mídia, que determina o que tem ou não valor. Muitos artistas morreram sem serem reconhecidos, como Van Gogh, que em vida jamais vendeu uma tela. Presenteou seu médico com o quadro Rapaz de quepe, que o doutor aproveitou para tapar um buraco no galinheiro de sua casa... Há pouco essa tela foi vendida por US$ 15 milhões! 

        Todo artista se julga digno de valor e reconhecimento. Isso, entretanto, depende dos críticos, da mídia, da reação do público. São raros aqueles que, mesmo sem cair no gosto do mercado, permanecem fiéis a seu talento criativo. O que pode ser admirado hoje pode ser desprezado amanhã. É o caso de um dos autorretratos de Rembrandt. A cada vez que deixava a Holanda, a tela era assegurada em US$ 4 milhões. Uma comissão de peritos e críticos, que analisou todos os quadros atribuídos ao genial pintor holandês, concluiu que um dos autorretratos, embora assinado com o nome dele, não pode ser atribuído a ele. A obra caiu no ostracismo. 

        O nosso olho, a nossa sensibilidade para a obra de arte, são condicionados pela opinião pública. Esta tende a ser elitista. Considera arte o que atrai o público pagante; e folclore o que atrai pessoas desprovidas de recursos. Não me agrada a adjetivação “arte popular”. Nessa categoria costumam entrar as obras de todos que não têm suficiente erudição artística nem frequentam as rodas que se fecham em galerias sofisticadas ou palcos refinados.      A meditação, como a arte, exige cuidado, ascese, empenho, confiança na própria capacidade criativa. Tanto a arte quanto a meditação nos conectam com o transcendente, nos fazem emergir da esfera da necessidade para a da gratuidade, dilatam em nós potencialidades que nos fazem “renascer”. Não é sem razão que as religiões, sobretudo em suas liturgias, tanto recorrem à arte e têm sido, ao longo dos séculos, escolas de artistas. Quantos cantores e músicos estadunidenses não iniciaram sua arte em igrejas evangélicas! Infelizmente o mercado nos impõe, pela mídia espetaculosa, o mero entretenimento como se fosse obra de arte. Nisso se parecem às liturgias que exacerbam nossa emoção sem nada acrescentar à nossa razão e, muito menos, ao caráter ético de nossa ação. Vide as showmissas.

        A arte não há de ser de esquerda ou de direita, moralista ou inescrupulosa. Há de ser bela. Consta que eram nuas todas as esculturas e figuras pintadas por Michelangelo no Vaticano. Até que um papa escrupuloso pediu a Daniele Volterra, discípulo do genial artista, para cobrir com uma pincelada os órgãos genitais... censura removida recentemente por peritos japoneses. Volterra ganhou o apelido de Il Braguetone (“O Braguilha”). Todo artista é clone de Deus. Extrai de sete notas musicais, dos movimentos do corpo, do desenho, do barro, do modo de narrar uma história, o que há de belo no humano e na natureza. Recria ao criar. E sempre o faz a partir de um estado de concentração comparável à meditação.

        Dom de criar vida - Walter Sebastião‏


        Cinco peças representativas do estilo e da expressividade de dona Izabel fazem parte da mostra no Sesc Palladium

        Dona Izabel está no centro de mostra em cartaz na Galeria GTO do Sesc Palladium. Além de peças da artista, ceramistas fazem homenagem por meio de trabalhos contemporâneos 

        Walter Sebastião


        Estado de Minas: 02/01/2013 
        Está em cartaz em Belo Horizonte bela exposição que reverencia, com elegância e inventividade, uma das maiores artistas em atividade em Minas Gerais: a ceramista Izabel Mendes da Cunha, mais conhecida como dona Izabel, criadora de bonecas celebradas no Brasil e no mundo. As cinco peças expostas na Galeria GTO do Sesc Palladium só confirmam o quanto as reverências são merecidas.

        Dona Izabel e outros contemporâneos traz obras da artista do Vale do Jequitinhonha em diálogo com criações de nomes atuantes na cena das artes plásticas de BH: Erli Fantini, Yara Tupynambá, Bruno Amarante, Juliana Capibaribe, Lucas Dupin e Adel Souki. Todos reinventam motivos presentes no universo da homenageada.

        O curador Jorge Cabrera diz que a mostra reafirma o perfil da Galeria GTO de trabalhar com arte popular e contemporânea. “Nessa homenagem, os artistas mergulham em dimensão poética, que dialoga com o mundo em torno de dona Izabel, inspirando-se nas paisagens e nas tradições do local onde ela mora”, explica.

        Dona Izabel é precursora de uma escola. E tem pesquisa definida, ressalta Jorge Cabrera. “Suas bonecas vão muito além do decorativo e das formas tradicionais com que peças assim sempre foram feitas”, explica. Ele cita aspectos que acentuam a natureza artística da empreitada da mestra mineira – a começar do fato de a própria dona Izabel não gostar de ser chamada de artesã. O curador destaca a escolha minuciosa das cores e o cuidado da ceramista para que suas personagens manifestem sentimentos diferentes.

        “Os olhos das bonecas de dona Izabel são modelados, não pintados como fazem os outros que se dedicam a esses personagens. Isso confere peculiar qualidade expressiva às peças”, ressalta Jorge Cabrera. As bonecas da mestra do Vale do Jequitinhonha apresentam semelhanças com peças sacras e santos com seus olhos de vidro. Para o curador, a poética da artista mineira se distingue daquela de obras criadas pelos surrealistas. Uma é suave e lírica; a outra, questionadora e agressiva. Cabrera lembra: em ambos os casos, o sistema de construção faz a síntese de várias realidades.

        “Dona Izabel é artista especial, tem obra de grande qualidade. Isso fica muito evidente quando se presta atenção às peças feitas por ela”, destaca o curador. Cabrera sugere a quem for à Galeria GTO: “Observe atentamente as bonecas expostas”.

        Equilíbrio 


        Jorge Cabrera também chama a atenção para um aspecto importante da mostra em cartaz, que propõe o encontro entre a arte popular e a arte erudita, procurando o equilíbrio entre elas. Essa atitude veio da vontade de evidenciar que a essência de ambas é uma só: buscar expressão, sentimento, emotividade, conteúdo poético e sensibilidade. “Por mais que se tente afastar esses aspectos na arte, eles resistem. Seja artista popular ou erudito, ninguém parte para a criação tendo como fundamento bases intelectuais”, adverte o curador.

        A diferença entre populares e contemporâneos está na linguagem e nos signos plásticos empregados, acrescenta o curador de Dona Izabel e outros contemporâneos. Entretanto, persiste o preconceito em relação à produção “do artista autodidata”, vista como menor. Cabrera avisa: há cada vez mais pesquisas comprovando a multiplicidade de fontes de onde se origina a arte.

        DONA IZABEL E OUTROS CONTEMPORÂNEOS
        Esculturas de barro de Izabel Mendes da Cunha. Peças de Erli Fantini, Yara Tupynambá, Bruno Amarante, Juliana Capibaribe, Lucas Dupin e Adel Souki. Galeria de Arte GTO, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3214-5350. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Até 24 de fevereiro.

        Artesãos merecem respeito

        Entre as bonecas de dona Izabel expostas na Galeria GTO uma é especial. Ela vem da coleção do Centro de Arte Popular Mineira (Cenart), ponto de venda instalado no Sesc Palladium. Formado ao longo de mais de 40 anos, o acervo conta com cerca de 2 mil peças, calcula Jorge Cabrera. Trata-se de conjunto importante, com criadores donos de obra significativa. Vários deles já morreram.

        O curador explica que o conjunto revela formas de artesanato que praticamente já não são mais praticadas. Há a ideia de se criar sala especial para a exposição permanente do acervo. Mostras com recortes temáticos da coleção Cenart estão em cartaz em cinco unidades do Sesc na Grande BH (veja roteiro ao lado). 

        “O Cenart é mais que uma loja”, avisa Jorge Cabrera. “Trata-se de ação de assistência ao artesão e ao artista popular, que coloca à disposição do público trabalhos com preços acessíveis”, explica. No local também são promovidas oficinas, exposições e cursos.

        “Muitas vezes, focamos no objeto artístico e nos esquecemos do artista. Temos de pensar no autor, em quem produz. Eles precisam de programas de assistência e de saúde”, defende o curador da mostra Dona Izabel e outros contemporâneos.

        Em suas viagens pelo interior de Minas Gerais, Cabrera tem se assustado com a quantidade de artistas importantes vivendo com extrema dificuldade. “Há carência de coisas básicas”, denuncia. E dá um exemplo: “Noemisa Batista, cujas obras alcançam altos preços no mercado de arte, vive na pobreza”. Parte do problema se deve ao excesso de atravessadores no mundo da arte e do artesanato popular, garante o curador.

        CENART
        Exposição e venda de trabalhos realizados em diversas regiões de Minas Gerais. Cerâmica, tapeçaria, pedra-sabão e madeira. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro,(31) 3214-5354. De segunda-feira a sábado, das 10h às 20h.


        Pela cidade

        Outras exposições de arte e artesanato em cartaz em unidades do Sesc 

        Bichos inventados
        Sesc Santa Quitéria. Rua Santa Quitéria, 566, Carlos Prates, (31) 3411-3232 e 3411-3425. De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Entrada franca.

        Cara feia para mim é carranca
        Sesc Floresta. Rua Pouso Alegre, 1.647, Floresta, (31) 3279-1425 e 3279-1433. De segunda a sexta-feira, das 7h às 21h; sábado e domingo, das 7h às 18h. Entrada franca. 

        Vamos recortar paisagens?
        Sesc Tupinambás. Rua Tupinambás, 908, Centro, (31) 3279-1586. De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Entrada franca.

        Cidades imaginárias
        Sesc Venda Nova. Rua Maria Borboleta, s/nº (portaria principal), Bairro Letícia, (31) 3048-7458. Diariamente, das 9h às 17h. Entrada franca

        Personagens
        Sesc Contagem-Betim, Rua Padre José Maria Demam, 805, Novo Riacho, Contagem, (31) 2108-4511. Diariamente, das 8h às 17h. Entrada franca.

        Pacote generoso com os ricos demonstra fraqueza de Obama

        FOLHA DE SÃO PAULO

        ANÁLISE
        DO “NEW YORK TIMES”
        Pela primeira vez desde que George W. Bush iniciou o longo mergulho dos EUA na dívida, ao reduzir os impostos em 2001, um acordo foi fechado para elevar os impostos pagos pelos ricos.
        O acordo é significativo porque começará a reverter o padrão nocivo de lidar com os problemas fiscais de Washington unicamente com cortes nos gastos públicos.
        Mas é um pacto fraco, ainda generoso demais com os ricos e que não trará receita suficiente para cobrir a necessidade profunda de investimentos públicos do país.
        Os republicanos foram forçados a ceder em sua oposição filosófica ao aumento de impostos, mas fizeram com que fosse impossível alcançar um pacto voltado ao futuro.
        A Casa Branca disse que teve de fazer concessões sobre o limite para o aumento de impostos para que fossem renovadas medidas importantes.
        Não foi o único preço pago por Obama. O imposto sobre os maiores espólios do país vai subir levemente, mas muito menos do que seria necessário, numa concessão desnecessária às famílias mais ricas.
        A batalha está longe de ganha. Ainda é preciso um pacto para acabar com os cortes arbitrários para enxugar US$ 110 bilhões dos orçamentos militar e doméstico. E os republicanos aguardam que o Tesouro atinja seu limite de dívida em algumas semanas, na esperança de ter mais reduções dos gastos públicos.
        Obama excluiu negociações sobre o teto da dívida. Mas, como deixa claro esse acordo, ele frequentemente faz concessões no último minuto, e, no caso atual, foram os democratas no Senado que o solaparam. As limitações do acordo mostram quanto os republicanos ganharam em troca de sua intransigência.