VALOR ECONÔMICO - 11/11/2013
O que é melhor para Eduardo Campos, concorrer à Presidência com poucas chances ou ganhar a eleição como vice de Marina?
A política, como as
casas, tem piso e teto. O piso vem antes do teto. Piso são as intenções
de voto garantidas para um candidato, chova ou faça sol; são um ponto de
partida mais ou menos real (na verdade, mais imaginário que real,
porque nem sempre o eleitor honra esse cheque que parecia visado). Teto é
o máximo que um candidato pode obter. Maior a rejeição, menor o teto.
Mas piso alto pode implicar teto baixo. Ser bem conhecido, como José
Serra, pode gerar altas intenções de voto - e também de rejeição. O teto
pode estar bem perto do piso.
Piso e teto são
decisivos para as avaliações, arriscadas por definição, que os partidos
fazem pensando em seu futuro candidato. Um piso alto é um trunfo inicial
importante - mas, se vier acompanhado, como no caso acima, de uma
rejeição elevada? Candidatos de opiniões fortes podem gerar alta recusa,
o que não implica que sejam ruins - porque, se medirmos as coisas só
pelo teto, beneficiaremos quem não fede nem cheira. Às vezes vale a pena
insistir. Um candidato de alta rejeição, que segundo Delfim Neto seria
derrotado até mesmo por um poste, acabou se elegendo na terceira
tentativa e se tornou modelo de presidente popular: Lula.
Teto alto quer dizer que
o céu é o limite. Significa que, no segundo turno, o candidato é
competitivo para vencer o adversário. É essa a diferença, dizem-nos,
entre Serra, bom para se classificar no primeiro turno, e Aécio,
competitivo no segundo. Mas, para chegar ao segundo, ele precisa
emplacar no primeiro... De que adiantará Serra se classificar, se sua
derrota estiver garantida no segundo turno? E por que lançar Aécio, se
esse possível vitorioso na final nem chegar a ela? Por isso, cada lado
apoia o seu nome, mas com uma justificativa oposta. Para salvar os
guardados, Serra pode ser o melhor. Se quiserem disputar a presidência
para valer, Aécio pode ser a aposta. E é, mesmo, aposta - tudo ou nada, a
presidência ou o terceiro lugar, que nos campeonatos eleitorais
equivale a uma desclassificação.
Mas a novidade da
próxima eleição é que temos hoje, no banco de reservas, um nome de piso
alto e teto idem: Marina Silva. De maneira consistente, ela tem recebido
a segunda maior intenção de votos. Se as eleições fossem hoje e, como
na França, qualquer um pudesse concorrer, nosso segundo turno assim
oporia duas mulheres, ambas ex-ministras de Lula - ela e Dilma Rousseff.
Aqui temos uma série de
paradoxos: a segunda maior intenção de voto, hoje a melhor desafiante ao
PT, não é candidata provável por partido algum. Não discuto aqui por
quê, se isso foi causado por nossa lei partidária, se pela demora da
Rede em se constituir. Apenas, constato um quase-buraco negro nas
projeções eleitorais. Porque há outro paradoxo, que é o PSB + Rede ter
como candidato presidencial alguém que dificilmente alçará voo. Eduardo
Campos pode ser ótimo governador, mas não tem as qualidades dela para
multiplicar votos.
Marina é admirada por
muita gente fora dos partidos. No atual panorama, é a única candidata
que tem o considerável asset de não ser, ou não parecer, política.
Galgou uma carreira política, sim, mas o que mais se nota nela são
qualidades éticas, de quem superou analfabetismo, miséria e doença, e
prega há anos, ao mundo dos negócios, que não destrua o verde das matas,
do hino, da bandeira. Seus elevados piso e teto se devem a esta
percepção, tão difundida, de que Marina não é política. Essas
características apontam para a órbita do carisma, o que por sua vez
explica por que ela e a Rede procuram mimetizar a trajetória que foi de
Lula, nosso maior líder carismático desde Getúlio Vargas, e do PT.
Faz sentido, nesse
quadro, Eduardo Campos ser o candidato? O mesmo sistema político que
barra candidaturas independentes reúne fatores de alta racionalidade.
Ora, neste caso, o racional - para o próprio Campos - é ele ter um prazo
para decolar, mesmo que não conte isso a ninguém (o segredo, aqui, é
não contar). Se empolgar o eleitorado em, digamos, seis meses, o lugar é
dele (mas, se ele divulgar que tem um prazo, acabou). Se não conseguir,
o governador de Pernambuco tem ainda uma excelente perspectiva. Pode
ser vice de Marina. Não perde nada. Se continuar com poucas intenções de
voto, e ela com muitas, será vantajoso ele ser vice-presidente com uma
eleição possível, quase provável. Poderá ter uma fatia na administração,
tema que não desperta paixão em Marina (como não despertava em FHC ou
Lula, ao contrário de Serra e Dilma, que gostam de gestão) - quem sabe
num cargo de superministro ou coordenando alguns ministérios-chave, por
exemplo, na área da produção. Quem sabe, ainda, a promessa da
candidatura presidencial em 2018, vitaminada por quatro anos na vice e
no governo. Tudo isso é muito melhor do que correr o provável risco de
acabar em terceiro lugar no ano que vem.
A vantagem é encontrar
um ponto de convergência, que não exaspere os eleitores. A desvantagem é
beneficiar o que é morno, sem projeto, sem odor, que deixa as coisas na
mesma. Foi assim que em 2009 Avatar perdeu para Guerra ao terror . Não
há sistema de escolhas que seja perfeito.