terça-feira, 10 de setembro de 2013

A liberdade encantoada - Eugênio Bucci

Época - 09/09/2013


A Até outro dia, os vilões da espionagem e da invasão de privacidade eram os governos autoritários, em países como China ou Coreia do Norte. Não sem motivo. Nesses lugares, o Estado não prima pelo respeito à intimidade de seus cidadãos. Sem a menor cerimônia, revira gavetas, atropela memórias familiares e pisoteia segredos pessoais de gente indefesa, tudo em nome de proteger os interesses da pátria, do socialismo, do que quer que seja.

Em 2006, um filme alemão dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, A vida dos outros, escancarou o pesadelo de como a Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental durante a Guerra Fria, instalava escutas dentro de apartamentos a qualquer hora, sob qualquer pretexto, e espionava pessoas comuns enquanto tomavam banho, liam jornal ou faziam amor. A vida dos outros (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2007) chocou suas audiências com o perfil minucioso e aterrador de um Estado que podia tudo contra cidadãos silenciados. A partir dessa pequena obra de arte, e também a partir de relatos factuais, hoje fartamente comprovados pela História, fomos aprendendo uma lição que não temos o direito de esquecer nunca mais: o que separa uma democracia de um regime totalitário é o lugar da transparência.

Na democracia, a lei impõe que a vida privada seja indevassável, assim como impõe que o Estado seja transparente.  Nos regimes totalitários, o Estado é opaco, faz o que bem entende e está acima da lei. Pode até dispor da intimidade das pessoas mais ou menos como um cavalo dispõe do capim que mastiga no pasto. Na democracia, nós, cidadãos, temos o direito a nossos segredos íntimos, do mesmo modo que temos o direito de conhecer cada detalhe da administração pública. No totalitarismo, dá-se o oposto: o funcionário do Estado pode ocultar do público o que bem quiser, além de ter à mão as ferramentas para devassar a privacidade de quem bem entender. Conclusão óbvia: há mais democracia onde o Estado é mais transparente e onde a privacidade é mais respeitada - e há mais autoritarismo onde o Estado é mais opaco e onde os cidadãos não têm como proteger seus assuntos pessoais das investidas das autoridades.

Até outro dia, situações de selvageria estatal como a do filme A vida dos outros eram comuns em países submetidos a ditaduras escarradas. As democracias, ou as pretensas democracias, estavam a salvo desse tipo de deformação, pois asseguravam liberdade de expressão e direito à privacidade. Quando a internet surgiu, foi saudada por muita gente como uma invenção genuinamente democrática, uma tecnologia que as ditaduras jamais conseguiriam controlar. A internet era, então, o casamento perfeito entre a tecnologia de ponta e a democracia mais avançada. Uma era a realização da outra.
Ainda outro dia, em abril deste ano, a revista The Economist, em reportagem sobre a internet na China, lembrou uma frase que Bill Clinton pronunciou quando ainda era presidente dos Estados Unidos. Questionado sobre a possibilidade de o governo chinês monitorar de perto a comunicação na internet, ele afirmou: "Será como enxugar gelo" (em inglês, "nail jelPo to the wall", o que literalmente quer dizer "pregar gelatina na parede"). Com seu estilo espirituoso, leve, fácil, Clinton americano profetizou que a internet não poderia ser administrada pelas garras estatais e sintetizou o olhar do pretenso "mundo livre" sobre as "sociedades fechadas", um olhar superior, confiante e ligeiramente irônico.

Isso tudo foi outro dia. Hoje, o panorama virou de ponta-cabeça. Há uma semana, o Fantástico, da TV Globo, revelou que os e-mails de ninguém menos que a presidente Dilma Rousseff podem ter sido lidos por serviços secretos de inteligência americana, numa operação gigantesca, que transforma as interferências do Estado chinês sobre a rede de computadores numa brincadeira inofensiva (a propósito, contrariando a previsão de Clinton, a China consegue monitorar razoavelmente o fluxo de informações na web). Pelas notícias que correm o mundo, o controle exercido pelo governo americano - não apenas nos Estados Unidos, mas em todos os continentes - parece ser maior, mais poderoso e mais invasivo. E, atenção: não é só a presidente do Brasil que sofre esse tipo de invasão violenta. Cada um nós está sujeito a bisbilhotices análogas. O pior é que não sabemos como isso pode ser feito, pois o Estado americano, opaco, não diz. Um mundo em que não temos direito à privacidade não é um mundo livre. Um Estado dito democrático que se vale da internet para invadir privacidades,bem... não contávamos com isso até outro dia.

Maria Esther Maciel - Milagres‏


Estadod e Minas: 10/09/2013 


Estamos sempre à espera de milagres, mesmo sabendo que eles são muito raros ou podem nunca ocorrer. Afinal, quem somos nós para ter certeza de que existem de fato? Mas só de desejarmos que eles existam (o que pode levá-los a realmente existir), já encontramos um enorme consolo para os nossos desalentos.

Foi Zenóbia quem, um dia, me garantiu que os milagres acontecem quando os desejamos bem lá no fundo. “Nem precisamos ter consciência desse desejo, pois ele fica lá dentro, à nossa revelia, e independe do que possamos pensar dele”, disse ela, ajeitando com a mão direita os fios soltos do cabelo branco, que insistiam em cair-lhe sobre a testa. E como costumo confiar na sabedoria das pessoas muito mais velhas, fiquei com essa frase para poder evocá-la nas horas de desânimo.

Se escrevo agora sobre isso (matéria pouco conveniente para uma crônica de jornal, reconheço), é por culpa do dicionário. Às vezes pego o Aurélio ou o Houaiss e os abro aleatoriamente numa página qualquer. Vejo nisso um exercício interessante não apenas para aprender novas palavras, como também para pensar sobre elas e descobrir seus sentidos fora das definições que lá estão. Ontem mesmo, sem saber sobre o que escrever para a coluna desta terça, peguei o Aurélio, fechei os olhos e o abri ao acaso. A primeira palavra que li na página aberta foi exatamente esta: milagre. Seguida de outras afins: milagreiro, milagrento, milagrosa, milagroso. E imediatamente lembrei-me de Zenóbia, que, no dia da nossa conversa sobre o assunto, mencionou um acontecimento de sua vida, que de tão inexplicável pelas leis da ciência ou da natureza só podia ser considerado um milagre. Ao que ela ainda acrescentou: “Foi algo que só se tornou possível por causa de uma força misteriosa (um desejo fundo?) que eu não sabia que tinha dentro de mim”.

Lembro-me também de ter ouvido Zenóbia falar dos pequenos milagres do dia a dia, esses que dão sentido às coisas mais ordinárias da vida. É sobre esses milagres que os poetas geralmente escrevem. O americano Walt Whitman, por exemplo, fez um belo poema sobre os milagres cotidianos, dizendo que o próprio ato de andar pelas ruas de Manhattan ou ver o leve contorno da lua nova numa noite de primavera já é um milagre. Assim como cada hora de luz ou de treva também é, segundo ele, um milagre. Aliás, creio que Manuel Bandeira soube tratar disso muito bem num poema curto e, de certa forma, irônico, que diz nos últimos versos : “O espaço é um milagre./ A memória é um milagre./ A consciência é um milagre./ Tudo é milagre./ Tudo, menos a morte./ Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.”

Como se vê, milagre pode ser tanto o acontecimento mais raro – por exemplo, quando alguém sobrevive, surpreendentemente, a uma morte quase inevitável – quanto o mais comum, como passear com o cachorro no parque, num dia ameno de sol e poucas nuvens. Tudo depende de quem percebe ou vê o milagre do acontecimento. Agora mesmo, tento vê-lo no próprio ato de escrever quando não se sabe exatamente o que escrever. E é nesse sentido que a crônica de hoje não deixa de ser, também, um milagre. Pelo menos, é o que percebo ou vejo ao chegar a esta última frase.

Tereza Cruvinel - Reforma e arremedo‏

A minirreforma eleitoral que o Senado deve aprovar traz mais facilidades para os políticos do que respostas para os eleitores insatisfeitos 



Estado de Minas: 10/09/2013 


O Senado deve aprovar hoje um mal embrulhado pacote de mudanças nas regras eleitorais, à guisa de justificativa para a recusa do Congresso a realizar plebiscito ou referendo, ou mesmo a aprovar, sem consulta popular, uma reforma política que respondesse às insatisfações dos cidadãos eleitores com o sistema e a crise de legitimidade da representação popular. Com algum atraso, a sociedade civil, que agora deixou as ruas aterrorizada pelos radicais violentos, começa a levantar a bandeira da reforma política, convergindo apoios para o projeto do Movimento Eleições Limpas, elaborado sob a coordenação do juiz Márlon Reis, que puxou a mobilização pela ficha limpa.

A chamada minirreforma eleitoral, que tem como relator o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), traz mais facilidades para os políticos do que respostas para os eleitores. Um dos poucos avanços decorreu da emenda do senador Humberto Costa (PT-PE), proibindo a contratação de cabos eleitorais. Já a emenda do senador Pedro Taques (PDT-MT), tornando obrigatória a divulgação dos nomes dos financiadores de cada campanha, não deve passar. Restarão mudanças cosméticas, como a proibição de envelopagem de carros, uso de faixas, placas e cavaletes nas campanhas. E ainda permite que os candidatos paguem as multas por propaganda irregular com recursos do Fundo Partidário.

O projeto do Movimento Eleições Limpas permitiria mudanças substantivas, já para 2014. O financiamento seria misto, ficando proibidas as doações de empresas e limitadas a R$ 700 as de pessoas físicas. Tudo legal, com cartão ou transferência bancária. Haveria também um fundo público, que seria distribuído aos partidos, proporcionalmente ao tamanho das bancadas. Candidatos sem dinheiro ou patrocinador teriam alguma chance de concorrer, o que traria alguma renovação.

O modo de escolha dos deputados e dos vereadores é que mudaria radicalmente, para melhor. Eles seriam eleitos em dois turnos. No primeiro, cada partido apresentaria seu programa e uma lista de nomes com número equivalente ao dobro das vagas em disputa. Os eleitores votariam nos partidos, e os votos recebidos indicariam quantas cadeiras o partido conquistou. No segundo turno, o eleitor escolheria o nome de sua preferência dentro da lista do partido. A proposta será entregue nos próximos dias, com as assinaturas necessárias para tramitar como iniciativa popular. Mas o Congresso, a seu favor, não dará um passo.

Espionagem: aqui e alhures
O petróleo sempre despertou a cobiça e motivou ações políticas e militares dos Estados Unidos. Em maio, o primeiro-ministro do Timor Leste, Xanana Gusmão, denunciou à Agência Lusa que foram espionadas as negociações entre seu país e a Austrália para a exploração pactuada do campo de Greater Sunrise, no Mar do Timor, que banha os dois países. A Austrália, talvez pelos laços de amizade com os Estados Unidos, havia silenciado. Xanana foi firme: “Eu não teria tomado decisão tão grave (a de denunciar o fato) se não tivesse bases sólidas”.

No início do mês, antes, portanto, das revelações do programa Fantástico, da TV Globo, de que a Petrobras foi alvo da espionagem americana, a presidente Dilma Rousseff disse a auxiliares que, a seu ver, a coleta de informações sobre o pré-sal seria um dos principais objetivos da grande arapongagem. Sabia do que falava. Ontem, ao sancionar a lei que destina 75% dos recursos dos royalties do petróleo à educação, Dilma deitou falação sobre o petróleo brasileiro, mencionando as grandes reservas e a tecnologia nacional de exploração submarina, como quem dissesse: “Sim, temos muito petróleo”. Mas, como no pronunciamento de sexta-feira, silenciou sobre a espionagem, talvez para evitar acusações de que estaria insuflando o sentimento antiamericano que, pelo visto, deixou de existir. Não aparece nem nos protestos em que o que se queima agora é a bandeira brasileira.

O que precisa ser esclarecido é o quê exatamente procuravam os espiões. Se informações sobre reservas, sobre os próximos leilões, que incluem o megacampo de Libra, ou sobre a tecnologia brasileira de exploração em águas profundas. Edward Snowden deve saber mais do que já informou.

Dois pontos

Duas ocorrências do 7 de Setembro continuam ecoando como avisos. Uma, sobre o despreparo das polícias, que, ao reprimir protestos violentos, atacaram também jornalistas e fotógrafos. A flagrante violação da garantia constitucional da liberdade de imprensa repercutiu negativamente mundo afora e, aqui, gerou protestos tanto da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que congrega os profissionais, quanto da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que reúne as empresas.

O segundo aviso foi dos grupos violentos e radicais, que contribuíram para o refluxo das manifestações pacíficas e portadoras de reivindicações claras, ainda que difusas. Isso ficou claro em diversas cidades em que os pequenos grupos de radicais anarquistas atuaram de forma violenta. No Rio de Janeiro, segundo o jornal O Globo, quando os black blocs passaram pelo Largo do Machado, os moradores gritaram das janelas dos prédios: “Atira, atira”, incitando a PM a usar balas de borracha.

Isolando-se, os radicais passaram a justificar a repressão, por ora comandada pelos governos estaduais. O governo federal, que vinha só assistindo, agora vai dar sua contribuição.

Tv Paga


Estado de Minas: 10/09/2013 


 (Fox Life/Divulgação)

Culinária paulistana

A chef Carla Pernambuco (foto) volta ao ar hoje, às 22h15, no canal Bem Simples, com a estreia da terceira temporada de Brasil no prato. Com novo cenário e convidados especiais, o programa faz uma viagem culinária pelas diferentes culturas que caracterizam a cidade de São Paulo. Sem sair da capital paulista, a atração faz um passeio gastronômico pela Coreia, Arábia Saudita, México, Itália, França e Portugal, além do Brasil, sempre trazendo histórias, sabores, cores e aromas.



Trânsito é o que dá mais
trabalho aos socorristas

Continuando em Sampa, o canal Bio exibe, às 18h30, mais um episódio de Socorro imediato, que registra os atendimentos médicos dos bombeiros e do Samu em uma noite movimentada da cidade. Entre as vítimas, uma mulher atropelada por um ônibus. Outros acidentes envolveram dois motoqueiros e três ciclistas.

Multishow vai invadir
hoje o mundo do circo

O tema da semana do Mundo canibal TV são os circos. O convidado para discutir o assunto é o hipnólogo Fábio Puentes, que mostra alguns truques que parecem realmente feitos por um mágico. Ainda na atração, algumas esquetes vão mostrar o dia a dia dos palhaços e dos responsáveis por montar todo o espetáculo. No Multishow, às 17h30.

SescTV continua com
sua mostra de dança

O SescTV continua apresentando espetáculos dos grupos da oitava edição da Bienal Sesc de Dança, em Santos, dentro da série Dança contemporânea, às 23h. Para hoje, a atração escolhida foi Manual de instruções, coreografia da Dani Lima Cia. de Dança, do Rio de Janeiro, que se inspira nas memórias coletivas e individuais para promover o resgate de referências que marcaram gerações e deram vida a formas diferenciadas de pensar o corpo e a dança. Boas alternativas esta
noite no Canal Brasil

No Canal Brasil, às 21h30, José Wilker recebe o ator e diretor Michel Melamed em mais uma edição de Palco e plateia. Melamed vai falar sobre sua origem na poesia, seus últimos espetáculos quase sem textos e seu sofrimento quando entra no palco. Na sequência, às 22h, a emissora exibe o filme Sinfonia de um homem só, de Cristiano Burlan, com argumento inspirado na obra-prima do compositor francês
Pierre Henry.

Fita de Almovdóvar
é destaque no Telecine

Falou em cinema, uma boa pedida é a sessão Cinemundi, do Telecine Cult, hoje com Má educação, de Pedro Almodóvar, às 22h. Num dia com muitas reprises e poucas novidades, o assinante tem mais sete opções na faixa das 22h: Motoqueiro Fantasma: espírito de vingança, no Telecine Premium; Ruby Sparks – A namorada perfeita, no Telecine Pipoca; Assassino a preço fixo, no Telecine Action; Repo men: o resgate de órgãos, no Studio Universal; Terror na Antártida, na Warner; Número 23, no Space; e Barton Fink – Delírios de Hollywood, no TCM. Outras atrações da programação: Exterminador do futuro: a salvação, às 20h30, no Universal Channel; e O rei da baixaria, às 23h, no Comedy Central. 

Noite dos poetas‏


Estado de Minas: 10/09/2013 04:00

A carioca Alice Sant%u2019Anna desembarca em BH     (Alexandre Sant%u2019Anna/divulgação)
A carioca Alice SantAnna desembarca em BH




A poesia contemporânea ganha espaço no projeto Ofício da palavra. Os convidados da noite são os escritores Alice Sant’Anna, de 25 anos, e Fabrício Corsaletti, de 34, que conversarão com o público sobre seu trabalho e recitarão versos.

 A carioca Alice ousa na experimentação de linguagens, explorando tanto a escrita quanto a arte visual. Ela se tornou conhecida pela internet antes de lançar os livros Dobradura (7Letras); Pingue-pongue (independente), publicado em serigrafia – parceria com Armando Freitas Filho; e Rabo de baleia (Cosac Naify).

O paulista Fabrício Corsaletti é um dos expoentes da poesia feita no país atualmente. No entanto, ele se dedica a vários gêneros literários. Em 2001, lançou o primeiro livro, Movediço. Dois anos depois, veio Sobrevivente, seguido de História das demolições e Estudos para o seu corpo, que deu nome à coletânea editada em 2007 pela Companhia das Letras. Esquimó, de 2010, reúne versos escritos entre 2006 e 2009.

Fabrício escreveu também poesia infantil – Zoo (2005) e Zoo zureta (2010) –, contos (King Kong e cervejas, de 2008) e o romance Golpe de ar (2009). Este ano, vai lançar Quadras paulistanas, com estrofes de quatro versos dedicados à capital paulista.

OFÍCIO DA PALAVRA
Museu de Artes e Ofícios, Praça da Estação, Centro. Hoje, às 19h30. Entrada franca. 

Exagerada! [Beyoncé] - Mariana Peixoto

Beyoncé abre turnê em Fortaleza com espetáculo que não economiza efeitos especiais. Amanhã, ela apresenta Mrs. Carter show no Mineirão e ainda há ingressos disponíveis 


Mariana Peixoto

Estado de Minas: 10/09/2013 


Trinta e cinco mil pessoas assistiram, na noite de anteontem, na Arena Castelão, à estreia da nova turnê mundial de Beyoncé no país (Beyonce.com/Divulgação)
Trinta e cinco mil pessoas assistiram, na noite de anteontem, na Arena Castelão, à estreia da nova turnê mundial de Beyoncé no país


Fortaleza – Ela canta e muito. No entanto, Beyoncé insiste em que não prestemos atenção em seu poderio vocal. Somente na meia hora final das duas de duração de Mrs. Carter show é que a catarse, a experiência única provocada por um grande espetáculo, acontece. Em meio ao delírio sensorial provocado por imagens do telão de LED de altíssima definição, extensa troca de figurinos (nove, ao todo), fumaça, fogo, jogos de luzes, inúmeros integrantes (Suga Mama, a banda que a acompanha, conta com 10 instrumentistas, todas mulheres; há também outra dezena de dançarinos) o olhar se perde. E, muitas vezes, se confunde.

Trinta e cinco mil pessoas assistiram, na noite de anteontem, na Arena Castelão, à estreia da nova turnê mundial de Beyoncé no país, três anos depois de sua vinda com I am...tour. Público ruidoso e fanático, mas aquém do esperado – único show até então realizado no novo estádio cearense, o de Paul McCartney, em maio, reuniu 54 mil pessoas –, tanto que era fácil ver grandes vazios, principalmente nas cadeiras posteriores. Belo Horizonte será a segunda das cinco capitais a ver o show da sra. Carter, amanhã, no Mineirão. Depois, Beyoncé faz a abertura do Rock in Rio na sexta-feira; se apresenta em São Paulo no dia 15, e em Brasília em 17 deste mês.

Desde o primeiro semestre Beyoncé está correndo mundo com sua terceira turnê internacional. Mrs. Carter show faz referência ao sobrenome do marido, o rapper Jay-Z, nascido Shawn Corey Carter. Foi concebido para ser o grande show de 2013. E é inegável que deve terminar este ano como tal, dada a parafernália tecnológica que o acompanha. Beyoncé parece desconhecer o conceito de que menos é mais. A opulência encanta nos primeiros momentos, até cansar dada a quantidade de estímulos sensoriais. Curtir, ou não, fica ao gosto do freguês.

O conceito do show é basicamente o seguinte: um telão que vai de uma lateral à outra do palco (uma espécie de parede) atua quase como mais um personagem no universo da Beyoncé. Ora ele está rente ao palco, servindo como pano de fundo (e escondendo a banda, que fica suspensa na parte de trás); ora ele está em cima, exibindo vídeos criados para os momentos em que a cantora está nos bastidores fazendo a troca de figurinos. Dois telões postados nas laterais atuam como suporte para assistir ao espetáculo.

Narrativa

Com 25 minutos de atraso, Beyoncé entrou no palco do Castelão depois de mostrar, no primeiro dos vídeos com narrativa, ela ser coroada num reino absolutamente branco. Surge, agora finalmente em carne e osso, no collant branco bordado. Abre o show com o hit Run the world (Girls), que dá lugar a End of time, música que é seguida de cascata de fogos (isso em pouco mais de 15 minutos de apresentação). Ao final da canção, Beyoncé faz o primeiro dos poucos contatos diretos com o público, quando cumprimenta a cidade de Fortaleza e faz as obrigatórias menções ao Brasil.

Canta no meio do público Flaws and all e depois sai para a primeira troca de roupas (volta com um collant preto). Aí o vídeo de espera já a exibe num mundo destruído. A montanha-russa vai e vem ao longo da hora seguinte. Entre os destaques está a execução de Baby boy, com Beyoncé sozinha acompanhada do telão todo branco, que brinca com imagens em P&B; Naughty girl, em que ela, em frente a um biombo acolchoado, faz um arremedo do que Madonna fez em Human nature, só que com jogo de espelhos, na turnê MDNA; Party remete aos antigos cabarés, e a cantora dança no meio de uma roda de plumas.

É a partir de Irreplaceable que ela vai ao encontro do público. No palco pequeno, mais perto da plateia, as pessoas finalmente pegam na diva. Começa aí a catarse propriamente dita (já tem 1 hora e 20 minutos de show!), com uma sequência que inclui Love on top (e seu delicioso acento Motown), e os megahits Crazy in love e Single ladies (Put a ring on it). Essa última, obviamente, é acompanhada pela indefectível coreografia que toma conta do gramado do estádio. Menos espetacular, mais cantora, Beyoncé capricha nos característicos rebolados e jogadas de cabelo (o aplique atual, por sinal, está pouco abaixo dos ombros).

Volta numa exuberância kitsch com Grown woman, faixa percussiva que remonta à África (telões exibem animais; figurinos trazem estampas estilizadas de onças) para retornar, daí pela última vez. O vídeo final, uma egotrip que a mostra como benfeitora, mulher pública (ao lado de Obama) e também com a filha Blue Ivy (que a acompanha no Brasil) a prepara para a entrada final. Em contraluz, homenageia Whitney Houston com I will always love you, seguida de explosão de luzes que a levam para o centro do palco a cantar Halo e Suga mama, que encerraram o show.

Com mão de ferro


É um contrassenso e tanto, já que quase não se vê uma pessoa do público que não esteja munida de celular com vídeo e câmera. Ontem, já no início da manhã, toda a sorte de imagens da cantora, feitas por fãs, estava disponível na internet. Esse é o único momento em que Beyoncé não consegue exercer o controle de sua imagem. Porque de resto a diva atua com mão de ferro. Além dos dois fotógrafos que integram a equipe internacional da turnê, não houve outro registro profissional permitido.

Até o encontro com a imprensa foi ensaiado. Antes do show, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas estiveram com ela numa área reservada do Castelão. Tiveram a companhia de 10 adolescentes da Central Única de Favelas (Cufa), que momentos antes haviam feito um tête-à-tête com a cantora. Ela responderia a apenas três perguntas, que tinham sido enviadas previamente para aprovação pela produção da cantora.

Subiu a um pequeno tablado em que posou para fotos enquanto respondeu a coisas protocolares como “meu sonho sempre foi conciliar a vida pessoal com a carreira, porque é tão difícil ter uma carreira e ser mãe”; “gosto tanto do Brasil que nem sinto que estou trabalhando”; “sempre fico animada quando posso usar coisas novas nos meus shows. Acho que esse é o que tem o maior número de luzes na história de todas as grandes turnês.”

Foram sete minutos, em que ela, de pé, short curtíssimo e salto vertiginoso, não perdeu a pose para responder às perguntas enquanto os flashes espocavam. Bem, só uma vez. No primeiro momento em que subiu ao tablado logo desceu. O colar tinha sido aberto.

Tem bilhete na promoção

Uma semana antes da apresentação de Beyoncé em Belo Horizonte, anúncios em sites de compras coletivas anunciavam promoções de até 50% no preço dos ingressos para a pista. Como ainda tem ingresso disponível, é sinal de que por aqui a passagem da cantora não será tão avassaladora quanto o esperado. Pelo menos em termos numéricos. A produção está preparada para receber 40 mil pessoas, sendo que a estimativa é a partir de 30 mil.

A montagem do palco no Mineirão começou assim que terminou a partida entre Cruzeiro e Flamengo, no domingo. Quinze carretas já foram descarregadas. A previsão é de que hoje à tarde o restante do material chegue de Fortaleza, inclusive os painéis móveis de LED que concentram boa parte da graça da performance de Mrs. Carter show.

O show está marcado para 20h30 e a previsão é de que até meia-noite não haja mais ninguém dentro do estádio. É esse o acordo feito com a Minas Arena. Os portões serão abertos às 17h30. Aqueles que optarem pelo transporte público contarão com 10 linhas de ônibus que dão acesso ao evento. São elas: 2004 (Bandeirantes/Pilar via Olhos D’água); 5401 (São Luiz/Dom Cabral); 64 (Estação Venda Nova/Santo Agostinho via Carlos Luz); Circulares 503 e 504 (Santa Rosa/Aparecida/São Luís); Suplementares 51 e 52 (Circular Pampulha), 53 (Confisco/Pampulha/São Gabriel), 54A e 54B (Dom Bosco/Shopping Del Rey). Quem quiser ir de carro, o estacionamento do estádio estará disponível pelo valor de R$ 50, a partir das 15h30. (Carolina Braga)

BEYONCÉ

Amanhã, às 20h30, com abertura dos portões às 17h30. Mineirão. Av Antônio Abrahão Caram, 1.001, Pampulha, (31) 2532-8201. Cadeira superior: 1º lote: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia); pista: 1º lote: R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia); pista premium: 2º lote: R$ 600 (inteira) e R$ 300 (meia); camarote premium Beyoncé, 2º lote: R$ 550.