sexta-feira, 6 de março de 2015

Cheiro - Eduardo Almeida Reis

O cheiro da maconha é horrível para os não iniciados. Pelo menos três vezes, tive o desprazer de sentir


Eduardo Almeida Reis
Estasdo de Minas: 06/03/2015




Um casal de professores foi preso no Rio de Janeiro depois de telefonar para a polícia por desconfiar de assaltantes em seu jardim. Motivo da prisão: em lugar de assaltantes, a polícia encontrou pequena plantação de maconha no tal jardim. Multiplicam-se as notícias sobre maconha no mundo inteiro, estados norte-americanos que liberam a produção e a venda, além do Uruguai de Mujica, do cocalero Evo Morales, reeleito presidente da Bolívia pela terceira vez, dos não sei quantos mil pacotes de baseados vendidos nos EUA pelas finais de um torneio de football, U.S. game played with oval Ball – e assim por diante.

Do meu cantinho, pergunto ao caro e preclaro leitor: e o cheiro? Sim, porque o cheiro da maconha é horrível para os não iniciados. Pelo menos três vezes tive o desprazer de sentir aquele cheiro: em JF, quando resolveram me apresentar a uma jovem carente num botequim, que descobri ser point LGBT; numa festa literária em Diamantina e numa noite belo-horizontina, quando o anfitrião perguntou: “Eduardo, você fuma?”. Respondi que sim, que fumo charutos, mas senti o cheiro horrível no belo apê de cobertura. Como também descobri em JF que a morena carente gostava das mesmas coisas de que gosto e pouco depois, cheirada, estava aos beijos com uma lourinha.

Existirá maconha sem cheiro ruim? É possível, quando se sabe que o THC dos cultivares variam e podem ser muito mais potentes que os outros. Como sabe o leitor, o tetra-hidrocanabinol é substância (C21H30O2) encontrada nas folhas e especialmente nas inflorescências femininas do cânhamo (Cannabis sativa), que atua no sistema nervoso central promovendo sedação, diminuição do desempenho psicomotor e da força muscular, sensação de bem-estar e/ou euforia, sonolência, hipoglicemia etc. É o constituinte ativo da maconha e do haxixe, usado atualmente na medicina por suas propriedades antieméticas.

Fatos

De cotio, a cote, cotidianamente, jornais e revistas nos fazem o favor de publicar fotos da engenheira Maria das Graças da Silva Foster, amiga da economista Dilma Vana Rousseff. Faz tempo que não vejo fotos da senhora Iriny Nicolau Corres Lopes, mineira de Lavras, que tem o ensino médio, é filha de pai grego, passou a infância em Lima Duarte, faz política no Espírito Santo, foi deputada federal (PT-ES) e ministra da Secretaria de Política para as Mulheres. Penso que Iriny e Maria das Graças, como petistas, fazem pendant, isto é, cada um de dois objetos de arte que, destinados a serem dispostos simetricamente, formam um par. Desafortunadamente, Iriny não se elegeu em 2014, mostrando que o eleitor capixaba não tem bom gosto.

Sugiro que o leitor pule este suelto se não quiser ler notícias desagradáveis, não sobre a ex-ministra lavrense, petista de escol, mas sobre a realidade nacional. O certo é que as crises hídrica e energética, os recordes de violência, a incompetência governamental, o PIB zerado, a roubalheira na Petrobras, a inflação, o inacreditável ministério e tantas outras desgraças de que temos tido notícia caminham de mãos dadas com um fato que não tem sido destacado: a quebradeira generalizada.

Em nossa rua, no bairro e na cidade em que moramos, pouco importa se em Minas ou no Piauí, o que tem de gente falindo nunca esteve no gibi. Pessoas físicas e jurídicas que tínhamos na conta de inquebráveis. Não falo de perdulários, megalômanos nem de empresas desestruturadas, mas de gente e empresas que tinham os pés no chão, de comerciantes que sempre honraram os seus compromissos e hoje fogem dos credores.

O mundo é uma bola

6 de março de 1429: Joana d’Arc encontra Carlos VII, o Delfim, em Chino. Cheguei a 2015 sem fazer ideia da existência de Carlos VII e quero continuar assim.

Em 1480, ratificação dos termos do Tratado de Alcáçovas-Toledo, também conhecido como Paz em Alcáçovas, pelos Reis Católicos. Portugal cede as Ilhas Canárias a Castela em troca das suas reivindicações em África Ocidental. Chique isso de reivindicar em África.
Em 1521, Fernão de Magalhães descobre a Ilha de Guam, que serviria de cenário durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1817, início da Revolução Pernambucana, movimento contra o domínio português, que Eduardo Campos intentou repetir em 2014 contra o domínio lulo-petista.

Em 1831, emancipação de Diamantina do município do Serro de dona Lucinha e Márcia, sua linda filha. A Wikipédia fala em “fundação de Diamantina”. Como fundar algo que já existia e só trocou de nome. De Arraial do Tejuco e Ybyty’ro’y (palavra tupi que significa “montanha fria”), a cidade passou a chamar-se Diamantina e foi retratada por Alice Brant, por sinal minha avó, no seu livro Minha vida de menina. Hoje é o Dia Internacional do Optome+trista.

Ruminanças

“Esqueça religião, petróleo, leis e se concentre na moda: aquelas roupas no enterro do rei da Arábia Saudita são de um ridículo atroz” (R. Manso Neto).

VELHOS AMIGOS NOVOS ARRANJOS

VELHOS AMIGOS NOVOS ARRANJOS 

 Sá & Guarabyra, Flávio e Claudio Venturini e 14 Bis se juntam no show Encontro marcado, em que fazem releituras de sucessos como Caçador de mim, Dona e Espanhola


Ailton Magioli
Estado de Minas: 06/03/2015



Flávio Venturini, Vermelho e  Hely Rodrigues (na frente) com Sergio Magrão, Luiz Carlos Sá, Gutemberg Guarabyra e Claudio Venturini (atrás), durante ensaio em um estúdio na capital (Gladyston Rodrigues/EM/D.A. PRESS)
Flávio Venturini, Vermelho e Hely Rodrigues (na frente) com Sergio Magrão, Luiz Carlos Sá, Gutemberg Guarabyra e Claudio Venturini (atrás), durante ensaio em um estúdio na capital


Sá & Guarabyra, Flávio e Claudio Venturini, Sergio Magrão, Vermelho e Hely Rodrigues, do 14 Bis, olharam-se um para o outro com a interrogação evidente: “Por que não havíamos pensado nisso antes?”, relata Luiz Carlos Sá, de 69 anos, o decano da turma, que, sobre a reação que tiveram ao ouvir a proposta de se reunir em um show. A ideia do Encontro marcado, que inaugura sua turnê amanhã à noite, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, partiu dos empresários Carlos Alberto Xaulim (Cadoro Eventos) e Gegê Lara (Nó de Rosas Produções).

O show já havia se anunciado outras vezes. A primeira, quando Zé Rodrix (1957-2008) convocou todos para duas apresentações. “Foi praticamente um show de cada um”, recorda Sá, lembrando que a experiência voltaria a se repetir no ano passado, porém em um show fechado para uma empresa, em Belo Horizonte, além de passagens por uma casa de shows da capital mineira.

O atual formato, com todos em cena cantando simultaneamente, foi escolhido para esse show, que terá pérolas como Espanhola e Caçador de mim, respectivamente de autoria de Flávio Venturini e Gutemberg Guarabyra e Sergio Magrão e Luiz Carlos Sá, cantadas pela primeira vez, ao vivo, pelos próprios compositores.

PALCO A movimentação de palco foi uma das principais preocupações da turma. “São praticamente todos tocando o tempo todo”, diz Luiz Carlos Sá, lembrando que o encontro inaugural de alguns desses músicos remonta aos anos 1970, no célebre Teatro Opinião, do Rio, quando, prestes a estrear a primeira temporada musical, o então recém-formado trio Sá, Rodrigues & Guarabyra procurava baixista e baterista para completar a formação de piano e dois violões. A escolha recaiu então sobre Sergio Magrão, egresso do Grupo Faya, que acompanhou Zé Rodix em carreira solo, e Luiz Moreno, o Morenão, respectivamente.

Com o fim do trio e a decisão de permanecer em duo, Sá & Guarabyra tiveram de formar uma nova banda para acompanhá-los, recrutando o guitarrista Sérgio Hinds e o violonista Cezar Mercês, oriundos de O Terço. Aos dois se juntariam ainda, por indicação de Milton Nascimento, o tecladista Flavio Venturini.

De Belo Horizonte, a turnê de Encontro marcado seguirá para Juiz de Fora (14 de março), Uberaba (20 de março), Patos de Minas (21 de março) e Divinópolis (9 de maio). Posteriormente, o show prosseguirá em turnê Brasil afora. O repertório é basicamente dedicado aos clássicos de carreira dos sete amigos para comemorar 40 anos de sucesso. Encontro marcado irá ganhar os formatos de CD e DVD, já gravados em parte no Estúdio Minério de Ferro, da banda Jota Quest, em Belo Horizonte.

“O interessante é que nós partimos para rearranjar as canções”, conta Luiz Carlos Sá, salientando que foi uma necessidade diante do fato de que os tons de cada um veem-se modificando ao longo dos anos. O caçula da turma, Cláudio Venturini, que já vem tocando com praticamente todos os companheiros desse show, desde os 14 anos, diz que “é um encontro muito natural, que, na verdade, só não havia se consolidado em show, ainda”.

Recém-chegado da Itália, onde fez algumas apresentações, Flavio Venturini comemora a oportunidade de cantar ao vivo canções como Caçador de mim, o que ele havia feito apenas em estúdio ou em vocais do 14 Bis. “Sugeri que não tivéssemos banda em cena, para que, juntos, todos tocássemos e cantássemos a música um do outro”, observa o cantor, lembrando que, durante o encontro da turma proposto por Zé Rodrix, o autor de Casa no campo acabou não participando de um dos dois shows.

Para o baixista Sergio Magrão, “é tudo junto e misturado”. “A banda-base é o 14 Bis mais Sá & Guarabyra nos violões e vocais e Flávio Venturini no teclado”, explica o músico, lembrando que o mais interessante deste Encontro marcado é o fato de todos eles terem uma história juntos. “Eu, por exemplo, comecei tocando com Sá & Guarabyra, com os quais tenho parcerias como Caçador de mim. Já Flávio Venturini fez Espanhola com Guarabyra”, acrescenta. Os fãs terão oportunidade de ouvir novos arranjos para esses e outros hits, como Dona, Criaturas da noite e Sobradinho.


ENCONTRO MARCADO
Amanhã, às 21h, e domingo, às 19h,
no Grande Teatro do Palácio das Artes
(Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Classificação:
livre. Ingressos: Plateia I – R$ 80 (meia) e
R$ 160 (inteira); Plateia II – R$ 70 (meia) e
R$ 140 (meia); Plateia Superior – R$ 60 (meia)
e R$ 120 (inteira), nas bilheterias e www.ingresso.com.

 Ah, são eles! - Márcio Borges


Yes, nós temos Beatuca. Somos todos Beatles, uai, que eram Rolling Stones, como bem pontuou Ronaldo Bastos. Meninos que também eram Yes, eram Genesis e tantos ídolos, tantos gênios a cultuar e admirar.

Mas que eram antes de tudo Brasil, de Cartola a Jobim. Da Tropicália ao cateretê. Do candomblé ao além. Eram o Clube Universal de Todas as Esquinas.

As pedras rolaram.

No Maracanãzinho, naquela noite da Travessia, enfeitada de uma linda Margarida, Bituca e Guarabyra já eram amigos e tornaram-se célebres juntos, praticamente na mesma hora. Luis Carlos Sá, também amigo do Bituca desde aquela época, era jovem jornalista-violonista, lá na sua Zona Norte carioca, de onde mantinha olhos e ouvidos ligados no que se fazia de bom no mundo – e certamente aqueles malucos Beatles mineiros eram algo que se fazia de bom no mundo.

Sá, em tudo e por tudo, é quase um mineiro. Na verdade, sofreu metamorfose, virou um. Sempre ouviu muito bem o chamado de nossas sereias musicais.

Essa minha conversa de Beatles é porque um dia, há muitos anos, Milton e a galera do Clube – nós – foram chamados pela imprensa de Os Beatles brasileiros. Não sei se fomos tanto, mas digo que um mesmo espírito beatlemaníaco e roqueiro há muitos anos baixou em nós todos, do irmãos Venturini ao Vermelho, ao Magrão e Hely, do Bituca ao meus irmãos caçulas.

Baixou e ficou. Juntos, criamos um estilo inclassificável, além dos rótulos. Mas também inconfundível, que todo mundo reconhece na hora: “Ah, são eles!”. E o que isso tem a ver com o show desses meus amigos de fé? Tudo, meu caro, tem tudo a ver. É a prova de que aquele espírito criativo, revolucionário, iconoclasta e rebelde da nossa linda juventude frutificou neles, tornou-se coisa permanente, deu crias maravilhosas e se espalhou tempo afora.

É só ir lá, para ver, ouvir e confirmar.

Márcio Borges, compositor, letrista e escritor, autor de Os sonhos não envelhecem – Histórias
do Clube da Esquina