FERNANDO BRANT »
Uma noite em Santiago de Compostela
Estado de Minas: 15/01/2014
Estado de Minas: 15/01/2014
Também posso dizer
que conheço o Caminho de Santiago. Não andei e nem fui de bicicleta
como o Paulo Sérgio Valle e sua Malena. Sou mais acomodado e apenas
estive no início e no fim do místico percurso. Em 1981, me vi em frente à
Igreja de Saint Jacques, E quase 15 anos depois, passeei meu jeito
mineiro pelas ruas da cidade da Galícia. Logo se deduz que, apesar de
tão demorado, meu trajeto foi feito por avião.
Nas duas aventuras eu acompanhava o meu amigo Bituca. Na primeira, ele fez suas primeiras apresentações em Paris, por duas semanas, no Theatre de La Ville. Foi também meu batismo europeu. Perto do teatro, no Chatelet, fica a construção dedicada ao santo milagreiro.
Fui a Compostela para a encenação da Missa dos Quilombos ou Missa Negra, criação do Milton com textos de Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra. Na praça em frente à monumental catedral seria realizada a cerimônia musical, religiosa, brasileira. Diante da grandeza da igreja, em seu interior a gente se sente ínfimo, uma formiga no infinito. A majestosa e opressiva presença da instituição parece querer nos sufocar, realçando o quão pequeno somos.
Enquanto o palco era armado, andei pelas ruas da Galícia. Além da beleza do sítio , chamaram-me a atenção os vários cartazes conclamando a população a falar galego.
Encontrei-me com vários galegos, que tinham morado muitos anos no Brasil, e que me serviram cervejas, camarões fritos e o destilado Don Pepe. Aí eu me dei conta de que a Galícia, vizinha de janela com Portugal, tem muito a ver conosco. O pessoal do espetáculo tinha me convencido a falar o meu Pai Nosso e eu concordara. O que não deveria ter aceito foi dizê-lo em uma versão para o castelhano. Eu me arrependeria dessa decisão.
A noite foi maravilhosa. A música encantadora e sublime do Milton, os tambores da Serrinha, de Minas e de todos os brasis, as coreografias deslumbrantes e sensuais, o canto harmonioso e divino das moças e rapazes da turma. No intervalo de um solo vocal do Milton, os sinos da monumental igreja começaram a tocar. Era como se o santo quisesse participar do acontecimento. Todos ficaram em silêncio. E quando eles se calaram, a voz do Milton ganhou novamente os ares e os ouvidos. A emoção, os arrepios e as lágrimas se espalharam pela praça.
Ao fim da noitada, sou apresentado a uma juventude galega interessada em nosso trabalho. Quando ficaram sabendo que, apesar de ter declamado o meu Pai Nosso em castelhano, queria mesmo era tê-lo dito em português, eles me recriminaram. Deveria ter falado em nossa língua. Eles entenderiam e achariam mais bonito.
Aí eu recitei para eles, em português, o meu Pai Nosso. E saímos para a noite, ainda jovem.
Nas duas aventuras eu acompanhava o meu amigo Bituca. Na primeira, ele fez suas primeiras apresentações em Paris, por duas semanas, no Theatre de La Ville. Foi também meu batismo europeu. Perto do teatro, no Chatelet, fica a construção dedicada ao santo milagreiro.
Fui a Compostela para a encenação da Missa dos Quilombos ou Missa Negra, criação do Milton com textos de Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra. Na praça em frente à monumental catedral seria realizada a cerimônia musical, religiosa, brasileira. Diante da grandeza da igreja, em seu interior a gente se sente ínfimo, uma formiga no infinito. A majestosa e opressiva presença da instituição parece querer nos sufocar, realçando o quão pequeno somos.
Enquanto o palco era armado, andei pelas ruas da Galícia. Além da beleza do sítio , chamaram-me a atenção os vários cartazes conclamando a população a falar galego.
Encontrei-me com vários galegos, que tinham morado muitos anos no Brasil, e que me serviram cervejas, camarões fritos e o destilado Don Pepe. Aí eu me dei conta de que a Galícia, vizinha de janela com Portugal, tem muito a ver conosco. O pessoal do espetáculo tinha me convencido a falar o meu Pai Nosso e eu concordara. O que não deveria ter aceito foi dizê-lo em uma versão para o castelhano. Eu me arrependeria dessa decisão.
A noite foi maravilhosa. A música encantadora e sublime do Milton, os tambores da Serrinha, de Minas e de todos os brasis, as coreografias deslumbrantes e sensuais, o canto harmonioso e divino das moças e rapazes da turma. No intervalo de um solo vocal do Milton, os sinos da monumental igreja começaram a tocar. Era como se o santo quisesse participar do acontecimento. Todos ficaram em silêncio. E quando eles se calaram, a voz do Milton ganhou novamente os ares e os ouvidos. A emoção, os arrepios e as lágrimas se espalharam pela praça.
Ao fim da noitada, sou apresentado a uma juventude galega interessada em nosso trabalho. Quando ficaram sabendo que, apesar de ter declamado o meu Pai Nosso em castelhano, queria mesmo era tê-lo dito em português, eles me recriminaram. Deveria ter falado em nossa língua. Eles entenderiam e achariam mais bonito.
Aí eu recitei para eles, em português, o meu Pai Nosso. E saímos para a noite, ainda jovem.