segunda-feira, 14 de abril de 2014

A crise do circo - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 14/04/2014

Parece que a sociedade está prestando mais atenção ao pão, ao interesse, do que ao circo, à diversão


Pão e circo, diziam os romanos. Talvez esteja aí a essência da política, em todos os tempos. Por um lado, proporcionar ganhos materiais - pelo menos, a sobrevivência. Por outro, inventar fantasias, desejos, essa esfera da vida que não é objetiva, que não se mede, mas compete em importância com o interesse econômico. As pessoas não são loucas, não votarão sistematicamente contra suas vantagens. Por isso, quem quer arrochá-las sempre busca um pretexto, um tema nacionalista, religioso ou moralista. Aqui entra o circo, geralmente alegre, até exultante, mas às vezes sinistro. Quase tudo o que apela à imaginação humana pode dar em circo.

Lula pensou coroar três mandatos sucessivos do PT, marcados pela inclusão social em larga escala, inicialmente denominada "Fome Zero," com duas enormes festas, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Sem maldade nenhuma: depois do pão, o circo. Depois da fome saciada, a festa.

Deu errado. Deu? Ninguém poderia imaginar, um ano atrás, que a hashtag #naovaitercopa pegasse fogo no país do futebol. OK, até penso que a maioria dos brasileiros prefira os jogos da Copa às manifestações. Pode ser que estas últimas estejam sendo superdimensionadas. Mas mesmo assim é triste a esquerda (ou centro-esquerda, como considero mais exato) reagir aos gritos nas ruas evocando os que falam mais em jogos do que em política - os que ficam em casa, os que não soltam a voz, os que veem TV, em vez dos que protestam. "Maioria silenciosa" sempre foi um termo de direita, convém mal à esquerda.

#naovaitercopa pegou fogo no país do futebol

A expressão "pão e circo" costuma ter sentido pejorativo. Entende-se: numa certa altura da história de Roma, quando a grande cidade já dominava praticamente todo o Mediterrâneo, a cidade - ou melhor, seus ricos, os patrícios, os que mandavam - dispôs de recursos para aplacar uma plebe que, no passado, várias vezes ameaçara sua dominação. Isso se obtinha distribuindo-se comida (o "pão") e promovendo-se espetáculos, entre os quais lutas de gladiadores. Aqui está a essência do populismo, que seus atuais críticos conservadores esquecem: ele é uma forma de privar o povo, os pobres, do poder que desejaria ter. O populismo é conservador. Chavez, Lula ou mesmo Vargas não são populistas no sentido de dar pão e circo no lugar de uma coisa maior - porque eles efetivamente melhoraram a condição dos pobres. Já em Roma, distribuir pão e circo foi um meio de não fazer a reforma agrária e de preservar o poder em mãos das velhas classes dominantes.

A rigor, não há sociedade política sem pão e sem circo, sem a satisfação material e a midiática - que substituiu, faz tempo, a espiritual, a tal ponto que várias religiões hoje são tributárias da mídia. Em princípio, é positivo que se preste maior atenção ao pão, porque ele diz respeito ao real interesse das pessoas. Cinquenta ou cem anos atrás, teríamos pregadores dizendo que não, que deveríamos priorizar a alma; hoje, esse tipo de discurso, nas democracias, só tem sucesso nas regiões culturalmente atrasadas dos Estados Unidos. Bill Clinton falava de pão quando adotou o mote "É a economia, estúpido!" Já seu sucessor, o segundo Bush, fez das guerras com os muçulmanos o seu circo, rapidamente perdendo o capital de simpatia obtido com o 11 de setembro.

Não é fácil dizer onde está o interesse real das pessoas, onde estará o seu pão, com os "upgrades" que pode ter numa sociedade desenvolvida. Políticas sociais, que a esquerda aplaude, a direita contesta. O circo também nem sempre é fácil. Até porque em nossa sociedade ambos, pão e circo, foram privatizados. A renda da maioria hoje vem da economia privada - ainda que os governos, com suas políticas, cumpram o papel crucial de estimular ou travar a economia. Já o circo pertence à mídia. O Big Brother, que recém terminou sua 14ª edição anual, é o exemplo mais escarrado. Mas ele embota o sentido crítico das pessoas? Atende a interesses políticos? Favorece a dominação?

As pessoas cultas dirão sim à primeira pergunta, independentemente de sua preferência partidária, mas se dividirão nas outras. Para a esquerda, reduzir o senso crítico da maioria favorece o controle da sociedade pelas classes proprietárias. Já os liberais não verão assim. Mas provavelmente enxergarão a Copa do Mundo como o grande circo do PT e, por isso, só por isso, não porque torçam contra a seleção canarinho, não verterão lágrimas se o circo não for um sucesso de audiência.

Melhor não mentir a si próprio. Qualquer partido que dispute a hegemonia no País adoraria sediar aqui a Copa. Mas quem fez isso foi o PT. Só que esse episódio coincide com a crise dos circos, pelo menos os flagrantes, em nossa política. Essa queda do circo talvez seja sinal de um certo amadurecimento dos costumes. Lamento que o declínio do papel político positivo da festa prejudique um partido que promoveu a inclusão social em escala inédita, um trabalho inconcluso, não por demérito do PT, mas pela dificuldade de uma tarefa que é demandada no Brasil pelo menos desde 1580 (eu dato a luta pela justiça social dos inícios do quilombo dos Palmares). Mas isso aconteceria, cedo ou tarde. Cobrar padrão FIFA para a saúde, a educação, a segurança e o transporte públicos hoje é um slogan contra o PT - pondo-se de lado a culpa dos Estados e municípios em temas que, na maior parte, são de sua responsabilidade constitucional - mas é também uma mudança cultural de monta, que veio para ficar. Isso, só podemos saudar - mesmo aqueles que irão aos estádios e torcerão pelo Brasil e pela festa. O povo quer mais pão, com manteiga ou mesmo convertido em brioche, e menos circo.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

TeVê

TV paga


Estado de Minas: 14/04/2014



 (Futura/Divulgação )


Futura rima com literatura
De hoje a sexta-feira, o canal Futura vai apresentar uma programação inspirada na literatura, com entrevistas com novos autores brasileiros de ficção infantojuvenil: Leonel Caldela, Carolina Pavanelli, Carolina Munhóz, Raphael Draccon e Eduardo Spohr (na foto com o apresentador Cristiano Reckziegel). O Conexão Futura vai ao ar sempre às 15h25.

Pacote sonoro vai do
pop à música erudita
A MTV exibe hoje, às 19h, um especial da banda Forfun, gragado ao vivo no Circo Voador, no Rio de Janeiro. No canal Curta!, mais duas atrações de primeira: os documentários Tempo rei, produzido em 2002 para marcar os 30 anos de carreira de Gilberto Gil, às 21h; e Vida de músico, que traça o perfil de Rogério Duprat, autor do Manifesto da Música Nova e responsável pela sonoridade da Tropicália, às 23h. Também às 23h, o Arte 1 apresenta o concerto comemorativo dos 120 anos do Carnegie Hall, com a Orquestra Filarmônica de Nova York, sob regência do maestro Alan Gilbert e a participação do violoncelista Yo-Yo Ma

HBO retoma a série
premiada Mad men
A cultuada série Mad men volta hoje à grade da HBO, às 21h. No +Globosat, às 23h, estreia a série Being Erica – A vida de Erica, sobre uma mulher de 32 anos que conhece um misterioso terapeuta que a faz viajar no tempo para consertar seus arrependimentos da época do Ensino Médio. No canal Viva, às 23h10, será reapresentada a minissérie Labirinto, com Fábio Assunção, Malu Mader e grande elenco. Já para a criançada, o canal Viva passa a reprisar a novelinha Flora encantada, com Angélica, de segunda a sexta-feira, às 17h. Outra pedida é a série de animação O mundo de Mia, que estreia às 20h30, no Gloob.

A&E fecha a primeira
temporada de Bad ink
O canal A&E exibe hoje, a partir das 22h30, os dois últimos episódios da primeira temporada de Bad ink, comandada por Dirk Vermin e Rob Ruckus, dois apaixonados por tatuagens.

Canal Brasil faz justa
homenagem a Wilker
O Canal Brasil vai homenagear José Wilker, exibindo oito de seus filmes de hoje a 6 de maio, sempre no início da madrugada, começando esta noite com Dona Flor e seus dois maridos, à 0h15. No Telecine Premium, às 22h, estreia o drama Terra prometida, de Gus Van Sant, com Frances McDormand, Matt Damon e John Krasinsk. Ainda na faixa das 22h, o assinante tem mais cinco boas opções: Os candidatos, na HBO 2; John morre no final, no Max; Dois é bom, três é demais, na MGM; Casa comigo?, no Studio Universal; e Oblivion, no Telecine Pipoca. Outros destaques da programação: O melhor amigo da noiva, às 20h10, no Universal; Snatch – Porcos e diamantes, às 21h, no Cinemax; Encontro às escuras, às 21h, no Comedy Central; O advogado do diabo, às 21h55, no Glitz; e Gonzaga – De pai para filho, às 22h30, no Megapix.


CARAS & BOCAS » Um novo amor
Simone Castro

Cadu (Reynaldo Gianecchini) terá momentos   difíceis e bons na trama de Em família (Alex Carvalho/TV Globo)
Cadu (Reynaldo Gianecchini) terá momentos difíceis e bons na trama de Em família


Na trama de Em família (Globo), o casamento de Cadu (Reynaldo Gianecchini) e Clara (Giovanna Antonelli) não é mais o mesmo, e o chef sente que está perdendo a parada para a rival, Marina (Tainá Müller). Ao mesmo tempo, o quadro de saúde dele não é dos melhores. E, nas idas e vindas ao consultório da doutora Sílvia (Bianca Rinaldi), vai surgindo uma aproximação entre médica e paciente que poderá resultar em envolvimento amoroso. Já no capítulo de amanhã, eles se encontrarão no calçadão da praia do Leblon e, animados, tomarão água de coco juntos. A conversa corre solta e Cadu sorri como há muito não fazia. A cena será vista por Clara (Giovanna Antonelli), que passeia com o filho do casal, Ivan (Vítor Figueiredo), e fica incomodada. Dias depois, Cadu poderá receber uma notícia difícil: pode ser que ele tenha de fazer transplante de coração. O autor Manoel Carlos ainda avalia se vai agravar a doença do personagem para que chegue a esse ponto. Uma coisa é certa: a situação, se ocorrer, fará com que acelere o romance entre Cadu e Sílvia, já previsto na sinopse.

EVA WILMA RELEMBRA
MOMENTOS DA CARREIRA

O Agenda desta segunda-feira, às 19h30, na Rede Minas, traz entrevista especial com a atriz Eva Wilma, que completou 80 anos em dezembro do ano passado. Uma das mais consagradas e populares artistas do Brasil, ela começou a carreira como bailarina. Na TV, fez trabalhos memoráveis, como o seriado Alô, doçura, na extinta TV Tupi, e novelas como Pedra sobre pedra, A indomada e O rei do gado. Na atração, Eva Wilma relembra passagens de sua vida e a trajetória nos palcos e nas telas.

IMPAGÁVEL VELHA SURDA
RETORNARÁ A HUMORÍSTICO
Lembra da Velha Surda, personagem do saudoso Rony Rios em A praça é nossa? Pois ela vai voltar ao programa do SBT/Alterosa. O anúncio foi feito pelo apresentador Carlos Alberto de Nóbrega durante o programa Mulheres, da Gazeta, na sexta-feira. Na ocasião, foi realizada homenagem ao ator Ronaldo Ciambroni, que vai vai interpretar o papel. "Ronaldo não fará a Velha Surda que o Rony fazia, mas será uma Velha que vai funcionar bem", disse Carlos. Ainda não foi divulgada oficialmente pela emissora a volta da Velha Surda.

TITI MÜLLER GANHA
PROGRAMA DE VIAGENS
À frente da cobertura das transmissões do Rock in Rio e de outros festivais de música no Multishow (TV paga), Titi Müller acaba de ganhar novo programa no canal. A apresentadora agora viajará por 11 cidades em 40 dias. No roteiro, entre outras, Paris, Roma, Nova York, Berlim, Istambul e Tóquio. A estreia tem previsão para o segundo semestre.

NOVA ATRAÇÃO DA BAND
NÃO TEM DATA DE ESTREIA

Café com jornal, atração em produção pela Band, ainda não tem data para estrear. O programa matinal, que entraria no ar neste mês, previsto inicialmente para ser exibido a partir de janeiro, pode entrar em cena, finalmente, em maio, mas, a emissora ainda não confirmou. No comando, os jornalistas Aline Midlej e Luiz Menegale.

LA DONNA
SUMMER

Ele não pode ouvir Donna Summer que pira e começa a imitar a cantora. Não por acaso, atende pelo nome de Xana Summer e comanda um salão de beleza no subúrbio do Rio de Janeiro. É o personagem da novela Falso brilhante, trama de Aguinaldo Silva que vai substituir Em família (Globo). Trata-se de um homossexual afetadíssimo, que será interpretado por Aílton Graça, segundo o site Notícias da TV. Na história, Xana é o melhor amigo da personagem de Viviane Araújo, que está confirmada no elenco. O nome do ator, que atualmente está no ar na série O caçador (Globo), em que interpreta o policial Lopes, já teria sido confirmado.

VIVA
Cauã Reymond, que está muito bem em O caçador (Globo), no papel de André, policial preso injustamente e que quer limpar seu nome.

VAIA
Dia e horário inadequados para uma série do calibre de O caçador. Sexta-feira, depois do Globo repórter, pode prejudicar a atração. 

Eduardo Almeida Reis - Futebol e samba .‏

Hoje, tudo que acontece de errado no Brasil é culpa da Fifa, antes era dos EUA e já foi de Portugal
 

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 14/04/2014





Para começar a semana, nada melhor do que transcrever parte de um texto que circula na internet como tradução de matéria da revista France Football. Descontados alguns exageros, há muitas verdades no texto traduzido, problemas que os brasileiros não queremos ver ou já nos acostumamos e achamos normais. São 12 páginas da revista, por isso, faço um resumo.

A Fifa não pediu ao Brasil que sediasse a Copa: a iniciativa foi brasileira. A corrupção no Brasil é endêmica, do povo ao governo. A burocracia é cultural: tudo precisa ser carimbado, gerando milhões para os cartórios. Tudo se desenvolve à base de propinas. O alto escalão do governo Lula está preso por corrupção, mas os artistas e grande parte da população acham que eles são honestos e fazem campanhas para recolher dinheiro para eles. Hoje, tudo que acontece de errado no Brasil é culpa da Fifa, antes era dos EUA e já foi de Portugal: o brasileiro não tem culpa de nada.

Os brasileiros se identificam com analfabetos. A carga tributária do Brasil é altíssima, maior que a da França, e os serviços públicos são comparáveis aos do Congo. O brasileiro médio pensa que mora na Suíça. Quem está lá, na verdade, é a Fifa. Há um ditado que diz que “Deus é brasileiro”. A presidente brasileira parece alienada da realidade e diz que será o melhor mundial de todos os tempos, isto é, melhor que o do Japão, dos EUA, da França e da Alemanha. Se ela pensa assim, na Fifa se fala em maior erro estratégico da história da instituição.

Confrontos
Ano passado, os brasileiros saíram às ruas para se manifestar. Pela primeira vez se viu um movimento assim num país acostumado à inércia, mas o governo disse que eles eram baderneiros e reprimiu o movimento com violência. Ninguém foi responsabilizado. Há um movimento chamado Black Blocs que ameaça revidar a violência do governo.

Há um #hashtag que já foi repetido mais de 500.000.000 de vezes nas redes sociais e ameaça: #naovaitercopa. Os próprios brasileiros pedem para os estrangeiros não virem para o Brasil. Há milhares de vídeos feitos por brasileiros neste sentido. O governo brasileiro acaba de gastar 400 milhões de euros com compras de armas para a polícia e disse estar disposto a colocar o Exército na rua para proteger a Copa dos... brasileiros. Isso mesmo, o governo está ameaçando seu próprio povo.

Há um movimento de alguns jogadores de futebol chamado “Bom Senso”, liderado pelo ídolo do Lyon, Juninho Pernambucano, pedindo a conscientização dos jogadores. Analisando os países-sede desde 1970, o número de mortes em estádios nos 16 anos anteriores de cada edição da Copa: México (1970) 6 mortes; Alemanha (1974) 0 mortes; Argentina (1978) 4 mortes; Espanha (1982) 0 mortes; México (1986) 12 mortes; Itália (1990) 0 mortes; EUA (1994) 0 mortes; França (1998) 0 mortes; Japão (2002) 0 mortes; Coreia do Sul (2002) 0 mortes; Alemanha (2006) 0 mortes; África do Sul (2010) 17 mortes; Brasil (2014) 234 mortes.

Obras. Na história dos mundiais, o Brasil foi o país que teve mais tempo para preparar a Copa: sete anos, mas é o país mais atrasado. A França teve apenas três anos e finalizou as obras um ano e dois meses antes do prazo. A África do Sul teve cinco anos e terminou com antecedência de cinco meses. Faltando três meses para a Copa, o Brasil ainda precisa fazer 15% do previsto.

E a diatribe vai por aí falando dos custos dos estádios, dos salários de fome dos operários, tudo financiado com recursos públicos, enquanto na França tudo foi financiado com recursos privados. As verdades continuam nas 12 páginas, mas o meu espaço, felizmente, zé fini.

O mundo é uma bola

14 de abril de 193: Lúcio Septímio Severo é coroado imperador de Roma. Foi o primeiro cidadão oriundo de província, sem ascendentes romanos, a atingir o trono. Quando morreu, foi proclamado Divus pelo Senado Romano. E aqui vai uma explicação: escrevi Senado Romano, que no texto só poderia ser o Senado de Roma, porque tenho um amigo, revisor profissional, que insiste na tese de que Senado, sozinho, só pode ser o brasileiro, instituição presidida pelo admirável alagoano Renan Calheiros, que vê nascendo em sua calva alguns dos mais de 10 mil fios de cabelo que implantou.

Lúcio Septímio Severo foi casado com Júlia Domna, de família síria, mãe dos futuros imperadores Geta e Caracala. Publius Septimius Geta foi morto por ordem do irmão Marco Aurélio Antonino, conhecido como Caracala.

Em 1028, Conrado II, o Navegante, imperador alemão, coroa rei seu filho Henrique III. Em 1191, na flor dos seus 85 aninhos, Giacinto Borboni-Orsini se torna o papa Celestino III. Morreu com 92 anos. Em 1611, o príncipe Federico Cesi usa pela primeira vez a palavra telescópio. Em 1629, Inglaterra e França assinam a Paz de Susa. Vivem assinando a paz e fazendo a guerra. Coisa curiosa: a Wikipédia é omissa quando à Paz de Susa e à biografia do príncipe Federico Cesi. Hoje é o Dia do Técnico em Serviço de Saúde.

Ruminanças

“Não podemos suportar nem os nossos vícios, nem os seus remédios” (Tito Lívio, 64 a.C.-17 d.C.).

Inteligência em quatro rodas

Pesquisadores da Federal de Ouro Preto desenvolvem recurso para carros, no sistema Android, com menor tempo de inicialização. No futuro, novidade deve ter integração com Twitter para indicar melhor trajeto para fugir do trânsito


Shirley Pacelli
Estado de Minas: 14/04/2014



Equipe no Laboratório iMobilis:  testes de metodologia para integrar cada vez mais recursos como mapas, rotas e informações para quem está guiando um automóvel (Eduardo Maia/Divulgação )
Equipe no Laboratório iMobilis: testes de metodologia para integrar cada vez mais recursos como mapas, rotas e informações para quem está guiando um automóvel
Já pensou se o computador de bordo do carro, por reconhecimento facial, identificasse um padrão de sono ou que a pessoa ingeriu excesso de álcool e emitisse alertas para avisar o motorista? Essa possibilidade não está longe de se tornar real. Por meio do projeto Nexus, pesquisadores do laboratório iMobilis da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) têm estudado o recurso num sistema Android, do Google, adaptado para carros. Até o momento, eles já desenvolveram uma metodologia para fazer com que o sistema se inicie mais rapidamente – a média de 40 segundos caiu para cinco segundos. Assim, as informações chegam de forma mais ágil, dando segurança aos motoristas.

O laboratório fechou parceria com a Seva Engenharia Eletrônica, empresa de desenvolvimento de tecnologias para o mercado automobilístico, para fazer os testes. A companhia forneceu o hardware, enquanto os membros do laboratório personalizaram o software e propuseram a metodologia. Os resultados foram publicados no 3º Simpósio Brasileiro de Engenharia de Sistemas Computacionais, realizado em novembro do ano passado, por Ricardo Augusto Oliveira, coordenador do iMobilis, e o professor Vicente Amorim.

Segundo Ricardo, doutor em ciências da computação e professor da Ufop, as pesquisas na área são realizadas desde 2011, quando o sistema Android, plataforma aberta que ficou famosa em smartphones, ainda não era tão popular quanto hoje. A equipe é formada por quatro professores, cinco mestrandos e 12 graduandos das áreas de engenharia e ciências da computação.

O professor conta que os pesquisadores adaptaram o sistema para as condições de trabalho necessárias a um carro. O item mais básico de mudança foi a inicialização do sistema: no automóvel, ela deve ser quase imediata. Foram implementados níveis de prioridade no carregamento das tarefas, além da remoção de aplicações desnecessárias. “A primeira fase é a interação com o motorista. As regras são diferentes. O sistema não pode ter jogos que distraiam a atenção do condutor. É um utilitário do veículo”, esclarece Ricardo.

O coordenador explica que o computador de bordo em desenvolvimento tem sistema de comunicação, sensores do motor e da temperatura, além de todos as outras funcionalidades que os carros mais modernos trazem. “Por exemplo, a pessoa tem um celular com o aplicativo Waze, para ver o trânsito, mais o GPS e o rádio. A tendência é a integração dos três em uma só plataforma. Nossa proposta é nesse sentido, mas vai além, porque o sistema comunica com o carro”, explica. Supondo que o dispositivo já estivesse funcionando, ao entrar no carro, o motorista acionaria o sistema e teria em tempo real os locais com engarrafamento ou alagamento e opções de desvio para chegar ao seu destino final.

Aplicações futuras O maior desafio, segundo Ricardo Oliveira, foi adaptar o sistema Android aos carros, já que ele não foi criado para isso. “Dentro de veículos há regras em relação ao consumo de bateria, à atenção do motorista... A forma de uso é diferenciada”, diz. Leitura de texto automática, comando de voz, bloqueio de determinados aplicativos com o carro em movimento e envio de dados para uma central são algumas das aplicações em desenvolvimento pelo laboratório da federal de Ouro Preto.

Oliveira conta que o sistema desenvolvido pelo Google já oferece certas funcionalidades, como suporte a ruídos e reconhecimento facial. “Seria possível cruzar os dados de uma freada brusca durante um acidente com a identificação de um padrão facial de alteração de humor, de agressividade. As aplicações são infinitas”, destaca. A equipe está avaliando esse recurso por meio de simuladores. Há uma normatização específica que deve ser levada em consideração: o computador não pode afetar a direção, no máximo emitir alertas.

Outra ferramenta pesquisada pela equipe mineira é a integração com um sistema de cidade inteligente. “Supondo que todas as linhas de ônibus tenham o Android e sensores de chuva, poderíamos fazer uma previsão meteorológica exata”, explica. Um interessante recurso que poderia ser implantado seria a capacidade do computador de bordo consultar postagens no Twitter sobre o trânsito, cruzar com informações da velocidade de deslocamento de outros carros com o sistema que estiverem passando no local, processar os dados e recomendar os melhores trajetos.

De acordo com Ricardo Oliveira, o Google já tem investido nessa área automotiva, a Apple finalizou um sistema integrado com o iPhone e grandes fabricantes de veículos anunciaram produtos próprios. A Ford, segundo ele, tem a proposta mais interessante entre as empresas, porque seu projeto é aberto aos desenvolvedores. Todo o mercado tem estudado quais são as melhores plataformas. “O sistema mais popular, no momento, é o Android, mas as criações ainda são incipientes. Não existe um padrão”, ressalva. Os veículos que poderão receber esse tipo de tecnologia fazem parte da frota de luxo, é claro.

SERVIÇO
Confira o projeto em desenvolvimento na Universidade Federal de Ouro Preto pelo site www.decom.ufop.br/imobilis

Estudiosos criam técnica para acabar com o desconforto do fuso-horário

Matemática contra o jet lag 
 
Pesquisadores americanos criam técnica para acabar com o desconforto causado pela mudança brusca de fuso-horário e desenvolvem aplicativo gratuito para orientar quem costuma sofrer com o problema 
 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 14/04/2014



Ir para outro país com fuso horário muito diferente costuma gerar dificuldades de adaptação na rotina e desconfortos como insônia, cansaço e estresse. O quadro, muito bem conhecido por quem costuma fazer longas viagens, é chamado de jet lag. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA) recorreu à matemática para combater o problema e ajudar as pessoas a se adaptarem mais rapidamente aos novos horários. Publicado esta semana na revista Plos One, o estudo apresenta uma série de equações que permitiram aos autores elaborarem um regime de exposição à luz, que, ao ser seguido, ajudará as pessoas a sentirem o mal-estar por menos tempo.

O jet lag é resultado de um desajuste entre o relógio interno da pessoa — os chamados ritmos circadianos — e o ambiente externo. O maior regulador desse relógio biológico é a luz, afirmam os especialistas. Quando está dia, a claridade dispara uma série de processos no organismo. A chegada da noite, e a consequente diminuição da luminosidade, causa outros efeitos, incluindo a sensação de sono. Quando alguém viaja para um ponto distante, há um descompasso. O corpo está em um ritmo, mas o ambiente envia sinais discordantes.

Diferentes estudos já propuseram estratégias de exposição alternada a ambientes claros e escuros para promover a adaptação. Os autores da nova pesquisa, contudo, acreditam ter encontrado uma maneira de fazer isso em um período mais curto. “Muitos têm tentado reduzir o jet lag, e outras programações de iluminação foram propostas no passado para ajudar o corpo a se adaptar. Nossos horários se destacam por trazer a adaptação de forma mais rápida”, diz Olivia Walch, coautora do trabalho.

Com base em dois modelos matemáticos, os cientistas mediram com precisão os ritmos circadianos humanos, analisando vários marcadores biológicos, como a temperatura corporal — reduzida quando o corpo necessita dormir. Os vários cálculos resultaram em tabelas que permitem programar horários aos quais o viajante deve se expor ou não à luz para reajustar sua rotina.

Em determinado momento, por exemplo, é preciso ficar em uma claridade fraca sem, no entanto, dormir. Isso é possível saindo na rua com óculos escuros. Se o horário pedir luz forte, mas for noite, pode-se recorrer à luz artificial intensa. “Nossos horários mostram quando as pessoas devem ‘estar’ na luz e quando devem evitá-la, de modo que elas se movam sempre em direção ao alvo (a equiparação entre os ritmos biológicos e o ambiente)”, completa Walch. “É tudo uma questão de tempo. Se você recebe a luz em um ponto do seu ritmo diário, ela pode empurrar o relógio para a frente ou para trás.”

De acordo com Fabio Maraschin, diretor médico do Centro de Distúrbios do Sono de Porto Alegre (Pneumosono), ao manipular a exposição da luz, a temperatura corporal pode mudar e, desse modo, induzir ou não as pessoas a sentirem sono, graças  à produção de um hormônio específico. “A exposição de luz pela retina inibe a produção da melatonina, que é produzida pelo cérebro e nos deixa sonolento e com a temperatura corporal mais baixa. É fácil notar isso quando passamos à noite em frente a um computador ou vendo televisão. Somos estimulados a manter-nos alertas pela luminosidade. Com base nesses mecanismos, os pesquisadores chegaram a esses horários”, destaca o pesquisador, que não participou do estudo.

Para Maraschin, o agendamento pode mesmo ajudar a lidar com o jet lag e até com outros problemas. “Além da mudança de fusos, temos também casos de pacientes que possuem dificuldades como o distúrbio de fases do sono, que ocorre quando as pessoas só conseguem dormir em horários incomuns, como de madrugada. Já sabíamos que essa manipulação à exposição da luz poderia ajudar, porém não tínhamos como saber em que horários e em que quantidades. Com essa novidade, acredito que muito poderá ser feito.”

Alarmes automáticos  Os cientistas de Michigan realizaram testes com voluntários e atestaram a utilidade do método. Mas como cada indivíduo necessita de uma programação personalizada, afinal cada viajante tem um destino e uma quantidade de horas a compensar, seria inviável publicar uma tabela a ser seguida por todos os interessados.

Assim, a solução encontrada pelos autores do estudo para colocar o conhecimento adquirido em prática foi desenvolver um aplicativo de celular com mais de mil opções de viagens. Batizado de Entrain (arrastar, em inglês), o programa permite que o usuário insira dados como local de partida, destino, hora de chegada, previsão do tempo (ensolarado, chuvoso etc.) e, assim, receba um agendamento personalizado, com lembretes anunciados pelo smartphone.

Walch explica que o aplicativo, já disponibilizado gratuitamente na AppStore (mais informações em www.entrain.org) também poderá fornecer mais dados para a continuidade do estudo. Para colaborar, basta o usuário aceitar que suas informações sejam automaticamente enviadas para a equipe de pesquisadores. “Queremos ver se as pessoas podem seguir os horários ou se eles são muito difíceis de serem obedecidos. Também desejamos confirmar (com mais pessoas) se os sintomas do jet lag são reduzidos como esperamos.”

Felipe Henning, endocrinologista e diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), conta que a proposta dos americanos já é usada em consultórios para pessoas que se queixam de problemas como o jet lag, mas pode facilitar a vida de quem não consegue mudar sua rotina facilmente. "A restrição do sono em busca de horas extras de trabalho, por exemplo, tem provocado danos graves à saúde do brasileiro, como a hipertensão e a obesidade, por exemplo. É essencial frisar para as pessoas a necessidade de dormirem quando devem, para evitar problemas mais graves que podem ser muito prejudiciais para o organismo”, completa.

Palavra de especialista
Adaptação difícil
Ronaldo Maciel Dias,
neurologista do Hospital Santa Luzia


“O que os pesquisadores buscaram foi encontrar formas de, artificialmente, confundir nosso relógio biológico, para que o ciclo de sono-vigília não se modifique, por meio da manutenção do ritmo circadiano. Essa estratégia já é conhecida e sabidamente eficaz. Eles pretendem facilitar e otimizar a aplicação dessa tática através de um aplicativo. Acho válido, mas, muitas vezes, não é possível seguir as recomendações de exposição solar. O aplicativo parece ser bom, mas depende da natureza. Em locais com baixa exposição solar, possivelmente não se conseguirá a quantidade necessária de exposição aos raios luminosos. Isso, porém, não torna o aplicativo inútil, muito pelo contrário, ele certamente auxiliará.”

Perigos do câncer de boca Luciano Eloi Santos

Perigos do câncer de boca
Luciano Eloi Santos
Presidente do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG)

Ana Paula Silva
Assistente técnica do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG)
Estado de Minas: 14/04/2014


Mais de 15 mil pessoas devem desenvolver câncer de boca em 2014. Desse número, 11.280 casos serão detectados em homens e 4.010 em mulheres. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que alerta para a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento. Considerado um problema de saúde pública em todo o mundo, o câncer de boca tem sido motivo de preocupação do Conselho Federal de Odontologia, que, juntamente às suas regionais, vem trabalhando para conscientizar os cirurgiões-dentistas brasileiros para a necessidade de uma política mais abrangente de combate à doença.

O câncer de boca afeta os lábios e o interior da cavidade bucal. Pode acometer regiões como língua, céu da boca, gengivas e bochechas. Representa grande causa de morte na atualidade, atingindo principalmente pessoas do sexo masculino. As estatísticas demonstram que a maioria dos casos é detectada em fase mais avançada, sendo que, nessa etapa, o tratamento quase sempre é muito agressivo e mutilador.

As causas do câncer são variadas, porém, diversos estudos comprovaram que o consumo de bebida alcoólica e de cigarro está diretamente relacionado ao desenvolvimento da doença. Além disso, a predisposição genética também é um fator causador do câncer bucal, embora os casos associados apenas a fatores hereditários sejam raros.

Para prevenir o câncer é necessário adotar hábitos saudáveis, como: não fumar (ao fumar, são liberadas no ambiente mais de 4,7 mil substâncias tóxicas e cancerígenas inaladas por fumantes e por pessoas próximas atingidas pela fumaça); evitar o excesso de peso; manter dieta rica em frutas e vegetais; e praticar atividade física diária.

Outra prevenção fundamental é visitar o cirurgião-dentista periodicamente para avaliação de toda a boca, pois ele é o profissional responsável pelo diagnóstico do câncer bucal e pelo encaminhamento do paciente para tratamento médico. Se diagnosticado na fase inicial e tratado de maneira adequada, cerca de 80% dos casos têm cura. O maior problema é que a maioria dos casos não é diagnosticada na fase precoce e os tratamentos podem não ser eficazes.

Na fase inicial, o câncer pode se apresentar sob diversas formas, como: lesão esbranquiçada ou avermelhada ou ambas; caroço em qualquer região da boca ou no pescoço; ferida que não cicatriza após 20 dias e, geralmente, ausência de dor. Na fase avançada, as lesões geralmente se apresentam na forma de feridas endurecidas e doloridas. Importante destacar que nem todas as lesões que surgem na boca com essas características são diagnosticadas como câncer. Daí o acompanhamento periódico pelo cirurgião-dentista ser fundamental para o diagnóstico da lesão.

 A população deve estar atenta a qualquer alteração na mucosa bucal e lingual, sendo importante o autoexame, pois, se ocorrerem feridas e lesões que não cicatrizam, pode ser um indicativo de câncer de boca. Além da realização do diagnóstico, o dentista deve prevenir e tratar as alterações bucais decorrentes do tratamento oncológico e acompanhar o paciente para promover a sua saúde bucal, com melhor qualidade de vida.

Uma das iniciativas para que a doença não seja esquecida e fique em evidência é o Projeto de Lei 3.939/12, em tramitação no Congresso Nacional, que visa fixar, na primeira semana de novembro, a celebração anual de combate ao câncer de boca. Para estudar essa e outras iniciativas, o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) instituiu o mês de abril como marco dessas discussões, que vão desde a visita a cidades do interior até diversas atividades em Belo Horizonte, entre elas, a conscientização da população pelas explicações sobre o autoexame e a distribuição de cartilhas em diversos pontos da cidade.