quinta-feira, 3 de abril de 2014

Eduardo Almeida Reis - Racismo‏

A gente abre a torneira com a mão suja, lava muito bem ambas as mãos e fecha, com a mão limpa, a torneira aberta pela mão suja. Sai dessa...  


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 03/04/2014

Apesar de botafoguense, o jornalista Arthur Dapieve, carioca de 51 anos, é cavalheiro lúcido. Geralmente escreve sobre música, sua especialidade, mas outro dia cronicou sobre futebol. Caprichou: “O que poderia melhorar – e já houve progressos – é o grau de conscientização em torno do problema. Porque ele jamais desaparecerá, daqui ou da face da Terra. Haverá ‘racismo’ onde quer que fenótipos diferentes convivam, o que aumenta a necessidade de admiti-lo para que se possa reprimi-lo duramente”.

Reprimi-lo duramente. Racismo é crime, portanto passível de punição, mas é biológico: no reino animal, as espécies procuram suas iguais e se afastam, desconfiam das diferentes. Ao longo de muitas dezenas de milhares de anos, a espécie humana se espalhou pela Terra produzindo fenótipos – manifestações visíveis ou detectáveis de genótipos – com cabelos, olhos, narizes, lábios, peles de cores diferentes.

A cavaleiro de um exame de DNA que atesta o meu sangue negro, possivelmente angolano, misturado aos genes de ancestrais que andaram pelos Montes Urais, peço licença para meter minha colher no imbróglio. Chamar alguém de macaco nunca foi ofensa nem aqui nem na China: descendemos de um mesmo tronco.

Sentir-se ofendido por ser comparado ao muriqui, Brachyteles arachnoides, o maior macaco das Américas, é rejeitar a condição de cordial, é admitir que tem índole perversa, pois o mono-carvoeiro é dos raros, talvez o único macho cordial. Passemos aos grandes antropoides: alguém se ofende quando comparado aos chimpanzés? Só pode ser inveja, considerando que os primatas do gênero Pan têm uma libido, um entusiasmo sexual invejável.

É ofensiva a comparação com os gorilas? Poligâmicos talqualmente muitos mórmons, muçulmanos, cristãos e ateus – a monogamia é raríssima entre os mamíferos – os gorilas vivem em grupos de um respeitado macho com várias fêmeas, lavam os capins antes de levá-los às bocas, jamais foram vistos praticando atos de terrorismo, participando do BBB ou assistindo ao indecoroso programa.

E os orangotangos, hein? Vivem sozinhos, sem a exuberante sociabilidade humana, que se manifesta falando mal dos outros, cobiçando a mulher do próximo, praticando roubos, sequestros, crimes de morte. De uns tempos a esta parte, o objetivo supremo do brasileiro jovem tem sido organizar-se em gangues bairristas, facções criminosas, torcidas organizadas.

Crime gravíssimo, no meu entendimento de philosopho, é acusar uma pessoa de não ser aparentada com os macacos, sinal de que o acusador acredita no criacionismo.


Bactérias
Peguei o programa História do banheiro quinze minutos depois de começado e não aguentei chegar ao final. É tanta miséria, 2,3 bilhões de pessoas que nunca viram um banheiro, é tanta criança morrendo de diarreia, que mudei de canal. Já escrevi sobre o programa. E o certo é que passei a gastar toneladas de papéis higiênicos e lenços de papel para não tocar no botão de descarga da privada. No tal programa, um pesquisador de universidade séria esfregou um cotonete esterilizado na alavanca de descarga do vaso, fez uma placa com o esfregaço e mostrou ao repórter o resultado na placa: bactérias a montões, sem exclusão daquela muito perigosa, que pode ser encontrada nos hospitais.

Lavar as mãos depois de ir ao banheiro, dizem todos, é importantíssimo. Tudo bem: lavemos as nossas mãos várias vezes por dia, mas é indispensável que os banheiros tenham torneiras de abrir e manter abertas com o pé. Existem vários modelos. Caso contrário, a gente abre a torneira com a mão suja, lava muito bem ambas as mãos e fecha, com a mão limpa, a torneira aberta pela mão suja. Sai dessa...


Postalistas
Mais do que justa a reivindicação dos carteiros no sentido de que a correspondência passe a ser distribuída pela manhã para fugir do calor da tarde. Os estudos de climatologia zootécnica (pois é, andei estudando isso) indicam que, no Brasil, o período mais quente do dia vai das 14 às 16 horas, quando o solo foi aquecido pelo sol da manhã e do principinho da tarde.

Distribuindo a correspondência pela manhã, o carteiro pode almoçar, tirar uma soneca e fazer a triagem da correspondência na parte da tarde, à sombra, se possível com ar-refrigerado nas cidades mais quentes.


O mundo é uma bola
3 de abril de 1043: Eduardo, o Confessor, é coroado rei da Inglaterra na Catedral de Winchester. Reinou até 1066, quando morreu. Em 1045, casou-se com Edite, filha de Godwin, conde de Wessex, casamento que não durou nem gerou filhos, pois de comum acordo se mantiveram castos. A Wikipédia justifica: “... já que Eduardo era extremamente religioso”. Que coisa, hein? O certo é que Edite e Eduardo se tornaram grandes amigos, o que se explica: marido sem pum e sexo deve ser excelente, sobretudo como rei da Inglaterra.

Em 1493, após a viagem em que descobriu a América, Cristóvão Colombo é recebido em Barcelona pelos Reis Católicos. Em 1862, publica-se o livro Os Miseráveis, de Victor Hugo. Em 1919, circula em Recife, PE, a primeira edição do Jornal do Comércio. Em 1973, Martin Cooper, gerente da Motorola, realiza pela primeira vez uma chamada telefônica através de um celular, praga que tomou conta do planeta em exatos 41 anos. Hoje é o Dia do Atuário.


Ruminanças
“A estatística é a primeira das ciências inexatas” (Edmond e Jules de Goncourt, 1822-1896; 1830-1870).

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 03/04/2014



 (MILTON MICHIDA/AE)

PAULO FRANCIS EM FOCO


O canal Curta! exibe às 21h15 o documentário Caro Francis. O filme dirigido por Nelson Hoineff traça um painel sobre Paulo Francis (foto), jornalista que marcou época e influenciou uma geração. À sua maneira, denunciou a impossibilidade de existência de vida inteligente no pensamento dominante, independentemente de qual seja no momento. Irreverente, ficou famoso por seus comentários ácidos sobre a situação do Brasil em plena ditadura militar.

O JAZZ TOCADO
POR WOODY ALLEN


Dirigido por Woody Allen, Poucas e boas será exibido às 22h, no Telecine Cult. Livremente inspirado na vida do violonista Django Reinhardt, o diretor conta a história de Emmet Ray (Sean Penn), um talentosíssimo músico de jazz que, devido a seu gênio instável e seus vícios, tem problemas com a carreira, com seus relacionamentos amorosos e até com gângsteres.

COMO SERIA O
FIM DO MUNDO?


Estreia às 23h15, no Nat Geo, a série O início do fim. Em seis episódios, a produção, com muitos efeitos especiais, sequências dramáticas e entrevistas com especialistas, explica como acontecerá o fim do mundo. No primeiro episódio, Apocalipse zumbi, o programa examina um cenário bem real – uma pandemia criada por uma mutação do vírus da raiva. Especialistas das áreas de medicina, biologia e ciências sociais explicam o que poderia ocorrer se a humanidade enfrentasse uma epidemia mortal para a qual não há nenhuma cura.

POLICIAIS COM
E SEM FARDA


As câmeras de Polícia 24h testemunham o trabalho dos profissionais da área de segurança dia após dia, em pleno exercício de suas funções, sem maquiagem, sem atores e sem script. A série do A&E, hoje, às 23h30, registra o comprometimento dos policiais em fazer cumprir as leis e sua necessidade de tempo livre com seus familiares, vizinhos e companheiros de ofício.

FANTASMAS EXISTEM
TAMBÉM NO CANAL BIO


Em Minha história de fantasma, os protagonistas registram em vídeo uma diversidade de situações sobrenaturais: de móveis que se movem até aparições violentas. Cada episódio traz relatos incríveis e verdadeiros de pessoas que têm como provar sua aterrorizante experiência. O programa inédito, que vai ao ar às 22h30, no Bio, apresenta uma taberna que já foi ligada à máfia e é assombrada por uma voz que pede ajuda. Traz também um espírito que agarra a perna de uma mulher em uma casa antiga de Iowa e um centro comunitário assombrado por cortinas que se movem, luzes estranhas, vozes de crianças e sombras escuras.

VERSÃO NADA ORTODOXA
DE SHERLOCK HOLMES


O canal Universal exibe, às 23h, o 16º episódio inédito da segunda temporada de Elementary, que conta com participação de Sean Pertwee e de Bill Irwin. Em The one percent solution, Watson (Lucy Liu) chega em casa e encontra Holmes (Jonny Lee Miller) cuidando de galos que "salvou" de um local onde eram realizadas brigas de galos. O detetive recebe uma mensagem do capitão Gregson (Aidan Quinn) em que ele pede para que os dois compareçam com urgência ao local de um crime.




CARAS & BOCAS » Derrocada do vilão
Simone Castro

LC (Antônio Calloni) é enganado pela filha, Lili (Juliana Paiva), e cai em armadilha em Além do horizonte   (Alex Carvalho/TV Globo)
LC (Antônio Calloni) é enganado pela filha, Lili (Juliana Paiva), e cai em armadilha em Além do horizonte

Por esta ele nunca esperou. Nos capítulos de hoje até sábado de Além do horizonte (Globo), LC (Antônio Calloni), o vilão da trama, vai mostrar que não é tão esperto quanto pensava. Ainda sem desconfiar que a filha Lili (Juliana Paiva) não está do seu lado, como imaginava, ele cairá numa armadilha planejada pela jovem e a turma do bem, formada por Marlon (Rodrigo Simas), William (Thiago Rodrigues), Celina (Mariana Rios), André (Caco Ciocler), entre outros. De volta à comunidade com a missão cumprida de trazer William, prova para demonstrar sua fidelidade ao pai e à tal comunidade da felicidade, Lili entrega o que seria parte da fórmula tão cobiçada. A galera do mal comemora. Enquanto isso, Lili ouve de Marlon como agiu durante o período em que ela ficou fora e deu continuidade ao plano contra os membros da cúpula. O cientista Breno (Celso Reeks), porém, descobre que a fórmula é falsa. Lili consegue, mais uma vez, enganar seu pai e Tereza (Carolina Ferraz). E dá certo: LC culpa Angelique (Sabrina Greve) por ter perdido a fórmula. Já André, Celina e Guto (Lucas Salles) chegam a Tapiré. Tereza colhe as impressões digitais de todos os moradores da comunidade. LC encontra impressões de Assis (Ravel Cabral), fiel escudeiro de Tereza, em local sigiloso. William convence a tia e LC da traição de Assis. A cúpula chega a conclusão de que a fórmula está escondida na casa de Vó Tita (Analu Prestes) e LC decide ir para Tapiré. E lá, ao invadir a casa de Fátima (Yanne Lavigne), ele se surpreende ao saber que ela é filha da amante que ele assassinou. O cerco começa a se fechar em torno do vilão.

BIANCA BIN FALA DO DESAFIO
DE TER SIDO MÃE NA FICÇÃO


Na reta final de Joia rara (Globo), Bianca Bin, que interpretou a mocinha Amélia, falou ao site oficial da trama sobre o desafio de viver, com apenas 23 anos, uma mãe na telinha. “Amélia tem uma maturidade que não trago comigo. Esses anos que ela passou presa, tudo que ela sofreu e principalmente a maternidade. Então, com certeza, cresci como atriz”, revela, que na ficção foi mãe de Pérola, vivida por Mel Maia. Segundo Bianca, que quer ser mãe, mas diz que ainda é muito nova, além de todo o crescimento o trabalho em Joia rara também trouxe para a atriz surpresas agradáveis, como a parceria com Bruno Gagliasso, no papel de Franz, e Mel. “A gente tem um jeito muito parecido de lidar com o trabalho. O mais legal é que não tem pudor, não tem frescura”, explica ela sobre o colega de cena. Em relação à “sua filhinha”, ela se derrama: “Trabalhar com ela é incrível. A energia do estúdio muda, criança tem esse dom. E ela materializou ali o meu desejo de ser mãe.”

PESQUISA DIZ QUE ZECA
CAMARGO É REJEITADO


O apresentador Zeca Camargo deixou o estúdio e saiu em campo como repórter do Video show (Globo). É que segundo o site Notícias da TV, pesquisa encomendada pela emissora com vistas a detectar os problemas que causam a baixa audiência da atração, um dos pontos seria a rejeição ao apresentador. Com ele o programa perdeu quase 20% da audiência. Além disso, o público sente falta de mais reportagens sobre bastidores, como era no antigo Video show. No primeiro dia do Zeca “repórter” o vespertino patinou novamente na audiência.

GALVÃO BUENO ESTARÁ NO
JORNAL NACIONAL NA COPA


Em seu site oficial, a Globo divulgou, anteontem, uma novidade para a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil. O Jornal nacional, de 2 de junho a 14 de julho, terá Galvão Bueno ao lado de Patrícia Poeta na bancada e, juntos, farão a apresentação de onde a Seleção Brasileira estiver. Ao todo, estarão envolvidos 1.496 profissionais nas equipes de reportagens. A Copa movimentará o país de 12 de junho a 13 de julho.

HUMORISTAS DÃO O TOM
A ATRAÇÕES NA TV PAGA


Paulo Gustavo na estrada é o nome do reality que vai mostrá-lo durante a turnê da peça Hiperativo, a partir do dia 8, no canal Multishow (TV paga). Também na grade, com estreia dia 11, às 22h, o Não tá fácil pra ninguém, apresentado por Samantha Schmutz. Entre os destaques da atração, números musicais em que serão exibidas performances da humorista de Amy Winehouse e Elis Regina.

TRAFICANTE EM SÉRIE


É de Wagner Moura o papel do traficante Pablo Escobar na série Narcos, da Netflix, que terá direção de José Padilha e produção da Gaumont International Television. A trama vai contar a história do cartel de Medellín, uma das organizações de tráfico mais violentas do mundo. Na primeira temporada, Narcos contará com 10 episódios e será filmada na Colômbia, com lançamento previsto para o início de 2015 em todos os países onde a Netflix opera. “Juntos, Wagner e José criaram um dos retratos mais emocionantes, sofisticados e arrepiantes da criminalidade e da corrupção oficial na sua franquia Tropa de elite”, comentou Ted Sarandos, executivo-chefe de conteúdo da Netflix. “A versão deles do fim do jogo para Escobar será algo nunca antes visto”, avisou.

VIVA
Carmo Dalla Vecchia roubou a cena em Joia rara com seu vilão sociopata Manfred. E só faltava contracenar em cenas fortes com Mel Maia (Pérola). A dupla brindou o telespectador com o encontro.

VAIA

O que foi aquele modelito de blusa de Patrícia Poeta, no tom amarelo-ovo, na edição de anteontem do Jornal nacional (Globo)? A peça desviou a atenção das notícias. Parecia figurino da Chiquinha do Chaves. 

Tereza Cruvinel - A Petrobras e a sucessão‏

Com qualquer CPI, Dilma Rousseff passará pelo teste de seu tefal eleitoral. O de Lula era excepcionalmente resistente, e ele se reelegeu, apesar do mensalão


Estado de Minas: 03/04/2014


As denúncias envolvendo a Petrobras e a guerra entre governo e oposição pela instalação de uma CPI destinada a investigar a empresa começam a criar um clima parecido com o de 2005, que incendiou o Congresso, envenenou a campanha e ameaçou a reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta altura, não há cenário sem repercussão na eleição presidencial: tanto o pior para o governo, o de uma CPI para investigar apenas a estatal, como o da CPI com foco amplo, com o qual os governistas tentam espalhar brasas também na direção dos dois principais adversários da presidente Dilma, o senador tucano Aécio Neves e o governador Eduardo Campos, do PSB. Ontem, os governistas trabalhavam para manter o impasse em torno das CPIs sem solução até terça-feira, quando a presidente da Petrobras, Graça Foster, prestará esclarecimentos à Comissão de Fiscalização. Mas o que está em curso é a luta política, que costuma passar ao largo das racionalizações técnicas.

Dilma já sofreu as primeiras perdas, com as quedas nos indicadores de confiança e aprovação do governo apontados pela pesquisa CNI-Ibope, que mal chegou a captar a repercussão do caso Petrobras. Pesquisas que estão programadas ou em campo devem apontar novos efeitos do caso sobre a imagem dela e seu potencial eleitoral. O deputado tucano Marcus Pestana, do comando aecista, diz que seu partido dispõe de pesquisas qualitativas segundo as quais Dilma começou a ser ferida em seu principal atributo positivo, o conceito de boa gestora. Isso teria começado com os soluços da inflação, as críticas à gestão macroeconômica e os problemas no setor elétrico, agravando-se com o caso Petrobras. Nesse último, ela mesma deu uma contribuição importante à erosão da boa fama, com a declaração de que não teria aprovado contrato de compra da refinaria de Pasadena, quando presidia o Conselho de Administração da Petrobras, se tivesse conhecido todas as cláusulas. De lá para cá, outras revelações vêm servindo ao objetivo da oposição, de mantê-la no centro do escândalo e desconstruir a imagem sobre a qual Lula erigiu a candidatura dela em 2010.

A última contribuição nesse sentido foi a declaração feita ontem por Edson Ribeiro, advogado do ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Depois de avisar que o cliente não será “bode expiatório”, informou que todos os conselheiros receberam cópias da íntegra do contrato 15 dias antes da reunião do conselho. Confirmou, entretanto, que não constavam do resumo executivo apresentado na reunião as duas cláusulas que tornaram o negócio ainda mais danoso.

O tefal de cada um


Aqui, entram os aspectos da vida burocrática no interior do Estado, mal conhecidos por quem vive fora dele. Os conselhos de administração são integrados por autoridades públicas (e privadas, quando a empresa é de economia mista, como a Petrobras) que, tendo suas próprias atividades, não participam do dia a dia da empresa, tocado pela diretoria executiva. Em cada reunião, deparam-se com vasta agenda de medidas para examinar e aprovar. Geralmente, não chegam a ler os contratos, guiando-se pelo resumo executivo, que, no caso de Pasadena, foi realmente incompleto. Os representantes dos acionistas privados eram Fábio Barbosa, Jorge Gerdau e Cláudio Luiz Haddad. Se não eles, dirá a oposição, pelo menos os representantes do governo – que eram, além de Dilma, o hoje governador Jaques Wagner e o ministro da Fazenda, Guido Mantega – deviam ter examinado todo o contrato. “É de espantar que Dilma, famosa pelo costume de espancar projetos que lhe são apresentados por ministros e auxiliares, tenha sido tão passiva nesse caso”, diz Pestana. Mas é também forte o indício de má-fé do então diretor internacional, ao omitir do resumo executivo informações sobre cláusulas tão importantes, fixando a margem de lucro do sócio e a obrigação de compra do resto das ações em caso de impasse. Uma pergunta crucial é: por que houve a omissão?

Pasadena dá um bom discurso, mas a mira da oposição está em Paulo Roberto Costa, o ex-diretor que está preso e tinha conexões com boa parte da base governista. O presidente do Senado, Renan Calheiros, rejeitou os questionamentos à CPI da oposição, mas não descartou a CPI de todo o mundo, proposta pelos governistas. Se ela for instalada, haverá feridos dos dois lados e de quase todos os partidos. Dilma passará pelo teste de seu tefal. O de Lula era excepcionalmente resistente, e ele se reelegeu apesar do mensalão e, depois, dos aloprados.

Ainda 1964

A passagem dos 50 anos do golpe de 1964 desatou uma espécie de catarse coletiva por tudo que não foi dito ou desabafado em uma transição pactuada. Em algum momento isso aconteceria. O saldo deve ser o fortalecimento da democracia e a apropriação da verdade por todos. Quando as Forças Armadas se dispõem a investigar ocorrências de tortura em suas instalações, indicam que venceram o vírus golpista e o horror ao revanchismo. A outra parte do mérito é do ministro da Defesa, Celso Amorim, que tem sabido lidar com esses cristais com muita habilidade.

Olhos protegidos - Bruna Sensêve

Olhos protegidos 
 
Proteína já testada no combate ao câncer pode tratar um dos tipos de degeneração macular, problema que leva à perda de visão 
 
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 03/04/2014


A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) está entre as cinco principais causas para a cegueira no Brasil e é a segunda mais incidente entre os idosos, ficando atrás somente da catarata. Uma diferença fundamental, contudo, é que a última tem tratamento e cura. Já a DMRI não é reversível e, em alguns casos, pode levar à perda de visão quase imediatamente. Estudos buscam novas formas de reverter ou mesmo estacionar o quadro. Entre os trabalhos mais promissores, está o de um grupo de cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Trinity, na Irlanda, que criou uma terapia a partir de uma proteína que vem sendo testada para o tratamento do câncer.

A pesquisa, coordenada pela professora de imunologia Sarah Doyle, foi publicada na edição de hoje da Science Translational Medicine. A principal propriedade da proteína interleucina-18 (IL-18) é a capacidade de suprimir a produção de vasos sanguíneos anormais atrás da retina, no fundo do olho, conforme ficou demonstrado com injeções aplicadas em camundongos.

A produção descontrolada de vasos acontece no tipo úmido da degeneração macular, a que pode provocar cegueira imediata. Nela, a barreira que impede o avanço dos pequenos vasos para a retina começa a sofrer uma degeneração. Dessa forma, os vasos já anormais começam a invadir outras regiões oculares.

“Esses vasos não funcionam corretamente. Eles são frágeis e extravasam líquido. Não são competentes e podem liberar sangue para dentro da retina”, explica o oftalmologista Eduardo Novais, especialista em retina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo que não participou do estudo. Esse processo acontece justamente na região mais nobre da retina, conhecida como mácula. Os novos vasos (neovasos) que formam a membrana neovascular levam a defeitos e a uma baixa visual muito rapidamente.

Não invasiva Para essa forma de DMRI, o tratamento atual é feito com o uso de medicações que inibem a atividade de uma molécula chamada fator de crescimento vascular endotelial (VEGF, na sigla em inglês), que estimula o crescimento de novos vasos sanguíneos. Substâncias anti-VEGF são injetadas diretamente no olho do paciente para absorverem o excesso do fator de crescimento, prevenindo os vasos anômalos de sangrarem. A nova técnica testada por Sarah Doyle é uma associação dessa terapia com as injeções de IL-18. O efeito conjunto mostrou-se mais duradouro. Além disso, em modelos pré-clínicos, constatou-se que a proteína pode ser administrada de uma forma não invasiva. Os pesquisadores consideram que esse fator, em específico, representa uma grande melhora sobre as opções terapêuticas atuais.

O oftalmologista Eduardo Novais considera que os resultados são muito promissores. “Eles frisam que estão propondo um tratamento combinado com a terapia que já existe. O medicamento isolado tem efeito, mas, junto, levou a melhores resultados.” Trabalhos anteriores da equipe irlandesa mostravam que a falta de IL-18 agrava a DMRI úmida, e os novos experimentos confirmaram a eficácia da proteína pode controlar a produção de vasos sanguíneos.

“Temíamos, inicialmente, que a IL-18 causasse danos às células sensíveis da retina, porque a substância normalmente está associada à inflamação. Mas, surpreendentemente, vimos que baixas doses não tiveram efeitos adversos sobre a retina e ainda suprimiram o crescimento anormal de vasos”, comemora Doyle. Segundo Novais, como ainda não são conhecidos todos os mecanismos que levam à degeneração macular, a cada momento surge uma estratégia terapêutica para uma parte diferente do processo. “É uma doença multifatorial, com várias causas. Então, a cada hora, há uma investigação sobre um dos mecanismos.”

Tratamento complicado A degeneração macular envolve uma perda de visão central de tal forma que as pessoas em estágios avançados são incapazes de ler, ver televisão, conduzir ou utilizar computadores. Renato Neves, diretor do Hospital de Olhos de São Paulo, conta que a enfermidade tem um tratamento complicado e, somente há cerca de três anos, surgiram novas drogas capazes de secar a membrana neovascular. “Esse é o mesmo objetivo que tem o tratamento com a interleucina-18. Mas vale ressaltar que o estudo de Doyle ainda é básico, feito com camundongos para testar sua efetividade”, diz. O oftalmologista, fundador e presidente da Fundação Eye Care, garante que a principal busca da pesquisa no campo gira em torno de uma nova alternativa para a regressão dos vasos e a preservação da visão.

A interleucina é uma substância que existe dentro do próprio organismo, capaz de reverter o quadro de degeneração que, para Neves, é tão importante quanto outras em teste para tratar a doença. A relação com substâncias anticancerígenas não é uma novidade para o especialista. “Existem hoje na clínica injeções de drogas que eram utilizadas antes em tratamento contra o câncer e que tratam esses vasinhos logo no começo da fase vascular. Uma injeção desse antiangiogênico consegue secar e prevenir que a pessoa perca a visão”, descreve.

Em casos mais leves, a injeção chega a resolver o problema permanentemente. Condições mais graves pedem três ou mais aplicações para controle. “É como uma quimioterapia. Não há número limite. Você está fazendo um tratamento prolongado para reverter o processo. Tem gente que faz mais de 12, mas não é o normal.”

Brasileiro evita cirurgia por medo de ficar cego

Uma pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa (SBCR) e realizada pela MAAS Marketing em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Recife, revelou que o medo de ficar cego é o fator que mais pesa para uma pessoa optar por não fazer uma cirurgia nos olhos para corrigir algum problema. Entre os 700 entrevistados, 140 já haviam se submetido à cirurgia de correção da visão; mas dos que descartam por completo a opção, 54% disseram ter medo de ficar cegos.

O levantamento indicou ainda que quanto mais baixa a classe social, mais recente é o uso de óculos ou lentes de contato, o que, para a SBCR, sinaliza que nessa camada da população a busca pela melhoria da qualidade visual é postergada e tardia. “Isso é muito preocupante, já que mais de 70% de nosso contato com o mundo é por meio da visão. O comprometimento desse sentido pode prejudicar seriamente o desenvolvimento cognitivo e social”, avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa, Renato Ambrósio Júnior, que anunciou os dados da pesquisa ontem à noite no Rio de Janeiro, no 13º Congresso Nacional de Catarata e Cirurgia Refrativa.

A pesquisa indicou que do total de pessoas abordadas, 58% delas relataram algum problema de visão. Do total, 560 eram portadoras de miopia, astigmatismo e hipermetropia e 140 já tinham passado pela operação. A miopia (dificuldade de enxergar de longe) acomete quase 70% dos portadores de erros de refração; enquanto o astigmatismo (visão dupla) atinge 58%; e a hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto), 15% dos entrevistados.

Entre as pessoas que optaram pelo procedimento cirúrgico, quase 66% disseram usar óculos ou lentes de contato há mais de cinco anos. Os principais motivadores da cirurgia foram a busca de “cura”, “saúde”, “independência” e “liberdade”. A técnica mais recorrente foi a correção visual a laser por Lasik, citada por 57% dos entrevistados, em especial pelos que operaram mais recentemente. O laser PRK foi citado por 36,2% e menos de 1% fez referência ao bisturi, enquanto outra parcela não soube dizer a técnica utilizada.

A pesquisa indicou também que dos 700 entrevistados – homens e mulheres de 20 a 54 anos, das classes A, B, C e D, ouvidos entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014 –, 58% consultam mais de um oftalmologista. Já entre os operados (140 pessoas), 67,4% se dizem fiéis a um único especialista. Entre eles, 85,5% recomendariam o cirurgião. Em Belo Horizonte foi registrada a maior satisfação dos entrevistados operados com seus respectivos cirurgiões: mais de 85%. Para Ambrósio Júnior, “os dados mostram a importância da atenção na relação médico-paciente durante a consulta e a necessidade de ampliar o acesso do paciente à informação segura e correta”.   

Pelo respeito ao autista - Jefferson da Fonseca Coutinho

Pelo respeito ao autista

Jefferson da Fonseca Coutinho
Estado de Minas: 03/04/2014

O casal Fábio Rocha e Michelle Malab, com Pedro Miguel, de 10 anos: mãe e filho são portadores de autismo, e família critica falta de apoio do poder público (Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press    )
O casal Fábio Rocha e Michelle Malab, com Pedro Miguel, de 10 anos: mãe e filho são portadores de autismo, e família critica falta de apoio do poder público
 No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado ontem, o respeito aos portadores da síndrome foi assunto e luz azul de muitas praças da capital – o azul é a cor da data porque o transtorno atinge mais meninos do que meninas, numa proporção de 1 para 4 mocinhas. Longe dos refletores de espaços públicos da cidade, dois anos depois da Lei Federal nº 12.764, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) reconhece os direitos previstos na legislação. O decreto municipal entende o autista como “pessoa com deficiência”. Embora bem recebida, especialistas, militantes e pais veem a medida como um “engatinhar” do assunto.

Números do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) apontam que 1 a cada 68 crianças tem autismo. O que faz da síndrome um distúrbio mais comum e em maior quantidade do que a soma dos casos de Aids, câncer e diabetes juntos. São mais de 70 milhões de pessoas no planeta. No Brasil, pouco se sabe, mas estudo de epidemiologia de autismo da América Latina, sob os cuidados do psiquiatra da infância Marcos Tomanik Mercadante (1960-2011), aponta 1 caso de autismo para cada 368 crianças de 7 a 12 anos.

Para os que acompanham e sentem na pele as dificuldades dos portadores da síndrome, leis e decretos já são muitos e de pouco respeito no Brasil. “Já temos muitas leis, mas na prática é outra história. Nossas crianças estão sendo excluídas na escola, não estão tendo acompanhamento especializado e passam de ano sem estar preparadas. Há muita desinformação e falta de qualificação no serviço público”, avalia Michelle Malab, portadora e mãe de portador de autismo.

Michelle, de 38 anos, é mãe de Pedro Miguel, de 10, diagnosticado com autismo desde os 3. A produtora de eventos só soube da própria condição de autista há 4 meses. “Só busquei agora, aos 38 anos, explicação para o meu perfil por causa das críticas que sempre recebi e pela dificuldade de me relacionar. Se você me perguntar quantas amigas eu tenho, vou responder: ‘nenhuma’”, lamenta. Os olhos verdes e profundos dão vida ao jeito intenso e muito particular de Michelle falar sobre convicções.

A psicóloga Isadora Teixeira chama atenção para a falta de assistência nas redes pública e privada
A psicóloga Isadora Teixeira chama atenção para a falta de assistência nas redes pública e privada
 Ela critica o Decreto 15.519 – que demonstra conhecer bem. “Falta a regulamentação de um plano de inclusão efetiva nas escolas públicas. Falta, de fato, acompanhamento especializado e fiscalizado. As escolas fazem o que querem com o autista”, ressalta. Casada com Fábio Rocha, de 40, ela traça um paralelo entre a felicidade do relacionamento de mais de duas décadas com as necessidades reais do autista. “Deus me deu a oportunidade de ter um companheiro capaz de lidar com as minhas esquisitices. O autista precisa de respeito e compreensão”, considera.

Michelle relembra com riqueza de detalhes os tempos de imersão na adolescência: “Dos 13 aos 16 anos, isolada, passei trancada no quarto, ouvindo Beethoven e escrevendo livros que depois rasguei”. Militante, promotora de encontros e eventos sobre o autismo, Michelle está debruçada sobre dois livros que pretende publicar – um na visão da mãe de Pedro Miguel. O outro no olhar de portadora da Síndrome de Asperger. A autista chama a atenção para a desinformação que favorece enganos: “Ouvi numa palestra, no Rio de Janeiro, que era para a mãe fumar maconha e soprar no ouvido da criança. Levantei-me e fui embora”, conta.

Fábio Rocha, o marido, critica a falta de apoio do poder público. Para o representante comercial, leis e decretos não bastam. Faltam conscientização e respeito, especialmente. “Em BH, estamos desamparados e a pouca ajuda especializada que existe é particular e custa muito caro. Isso pode chegar ao valor médio de R$ 5 mil por mês”, pontua. Fábio se refere às sessões de fonoaudiologia, de atividade física – natação e judô, são as mais comuns –, encontros regulares com psicólogo, psiquiatra e terapias complementares. “Sem falar na escola, que muitas vezes ainda exige um acompanhante pago pela família”, diz.

Roberta Colen Linhares, de 36, mãe de Arthur, de 12, e Isis, de 9, também vê na educação, pública e privada, um grande desafio a ser superado. O filho mais velho é autista e só foi diagnosticado aos 10 anos. “Ele sofreu isolamento e preconceito na escola. Se o que está na lei, no decreto, for mesmo aplicado na prática, quem sabe muitas mães deixem de passar pelo que passamos”, diz. O atendimento médico é outro ponto delicado apontado pela mãe de Arthur. “Da falta de incentivo, de pesquisa, vem a falta de preparo dos profissionais de saúde. Falta um olhar mais sensível, mais humano, voltado para o paciente”, aponta.

AJUDA NOS LIVROS A comerciante e escritora carioca Dalva Tabachi, de 65, que está em Belo Horizonte para o lançamento do livro Mãe, eu tenho direito, reforça que no Brasil as leis ainda são um arremedo do que, de fato, o autista precisa. “Falta investimento, informação e consciência. Temos muitos autistas em nosso redor que não sabem que são autistas. A primeira vez que meu filho ouviu a palavra autista ele tinha 24 anos”, lamenta. Ricardo Tenenbaum, hoje aos 32, é nadador e mora no Rio de Janeiro com os pais. O moço é também a fonte de inspiração de outro livro da mãe: Mãe, me ensina a conversar, de 2006.

A escritora Dalva Tabachi é mãe de autista:
A escritora Dalva Tabachi é mãe de autista: "A primeira vez que ele ouviu a palavra autista tinha 24 anos"
 Para a especialista Isadora Adjuto Teixeira, de 28, o poder público é pouco atuante, e o impacto da lei de 2012 é recente e de pouco efeito. “Em BH, existem apenas algumas ações isoladas. Na saúde, são poucos os especialistas. Essa falta de assistência é consequência da falta de conhecimento a respeito da síndrome. Não só na rede pública, mas também na particular”, considera a mestranda em psicologia do desenvolvimento humano pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A psicóloga é coautora de Síndrome de Asperger e outros transtornos do espectro do autismo de alto funcionamento: da avaliação ao tratamento, organizado por Walter Camargos Jr.


SAIBA MAIS: da ciência à legislação

A ciência sabe pouco sobre o autismo, descrito pela primeira vez em 1943. Em 1993, a síndrome foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde como um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) – que afeta a comunicação, a socialização e o comportamento. É também conhecido como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), do inglês pervasive developmental disorder (PDD). Entretanto, neste contexto, a tradução correta de pervasive é abrangente ou global, e não penetrante ou invasivo. Mais recentemente cunhou-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) para englobar o autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Em 2012, a presidente Dilma sancionou a Lei 12.764, que cria a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo. A nova lei vem sendo chamada de “Lei Berenice Piana”, em homenagem a uma mãe que lutou pela legislação. Em BH, no dia 1º, recebeu atenção especial sob o Decreto 15.519.

Calculadas as idades da Lua e da Terra - Isabela de Oliveira

Estado de Minas: 03/04/2014 

A partir do surgimento da Lua, pesquisadores estimaram a formação do Planeta Azul (Amr Abdallah Dalsh/Reuters - 19/10/13)
A partir do surgimento da Lua, pesquisadores estimaram a formação do Planeta Azul

Algumas histórias, como a da Lua, não são contadas facilmente. Não há manuscrito, hieróglifo ou registro ocular que revele como o único satélite da Terra surgiu. Até porque isso seria impossível, já que o processo ocorreu há bilhões de anos, em meio à formação do Sistema Solar. As pistas deixadas pela natureza são difusas e circunstanciais – basicamente, são indícios que permitem a dedução do que ocorreu. O consenso é de que a Lua nasceu de uma colisão violenta sofrida pela Terra, que estava em processo de formação. Mas até hoje ninguém sabe quando isso ocorreu exatamente.

Uma previsão recente, publicada na edição de hoje da revista Nature, parece ter resolvido o mistério sobre o nascimento da Lua. E, por tabela, possibilita o cálculo mais preciso da idade da Terra. A pesquisa liderada pelo Observatoire de la Côte d’Azur, na França, estima que a Lua surgiu 40 milhões de anos depois do nascimento do Sistema Solar, que tem 4,567 bilhões de anos. Depois do impacto, o Planeta Azul continuou seu desenvolvimento, que durou mais 50 milhões de anos.

Para chegar à idade estimada da Lua e da Terra, os cientistas utilizaram dois conjuntos de simulações. No total, consideraram 259 cenários que reproduziram as condições iniciais do Sistema Solar, com Júpiter e Saturno já posicionados onde estão hoje. A essa altura, ambos planetas já estavam relativamente formados. Na região onde a Terra orbita, os pesquisadores incluíram uma quantidade de embriões de planetas (planetesimais) cujas dimensões variam entre as da nossa Lua e de Marte.

Equações matemáticas foram aplicadas a ambos modelos. Elas simularam, por computador, o que poderia ter acontecido em cada uma das situações. Aos poucos, os planetesimais se aglutinaram e formaram os grandes planetas. Os resultados das simulações foram relacionados com a quantidade de elementos que vêm do espaço, como o irídio e a platina, encontrados hoje na Terra.

Esses elementos derivados de grandes colisões têm mais afinidade com o ferro e, por isso, são abundantes no núcleo do planeta. A partir dessas medições geoquímicas, os cientistas chegaram à conclusão de que a Lua surgiu em meio à formação da Terra, num processo que durou 90 milhões de anos.

Seth A. Jacobson, principal autor do estudo, diz que é a primeira vez que se data um evento do início da história do Sistema Solar sem medir o decaimento radioativo de alguns elementos. Até agora, essa era a única forma de compreender o início da cronologia. “O nosso método é independente de outros anteriores, e nos permitiu verificar que a Lua foi formada mais tarde. Isso também significa que o último grande impacto da Terra não ocorreu quando pensávamos. Nossos resultados convergem com a ideia de que a formação dos planetas é lenta. Exige condições especiais no disco protoplanetário e implica em como era a primeira atmosfera da Terra, o mar e o início das placas tectônicas”, demonstra Jacobson.

Paulo Eduardo de Brito, professor de Física da Universidade de Brasília, observa que o trabalho de Jacobson não contribui apenas para o entendimento da origem da Lua, mas também do nosso próprio planeta. “É importante conhecer a história da Terra e sua origem porque, ao saber como foi sua formação, podemos prever um pouco de sua evolução nos próximos milhares de anos. Entender onde você mora, e há quanto tempo existe, é importante para sabermos como aproveitar melhor nossos recursos”, avalia Brito, que não participou do estudo. 

Pesquisa revela os segredos do cérebro‏

Pesquisa revela os segredos do cérebro Beneficiados por programa lançado há um ano por Obama, cientistas publicam atlas da comunicação de células nervosas. Estudo pode desvendar mecanismos por trás de distúrbios 
 
Paloma Oliveto
Estado de Minas: 03/04/2014


Brasília – O cérebro humano é tão complexo quanto uma galáxia. De fato, estima-se o número de neurônios em 100 bilhões, a mesma quantidade de estrelas da Via Láctea. Esse misterioso e imenso universo compreendido no crânio comanda o corpo inteiro: de atos complexos, como pensamentos, a ações automáticas, como um piscar de olhos. Para isso, as células cerebrais trabalham todo o tempo em sintonia. Falhas na comunicação entre elas podem acarretar problemas variados, que vão de depressão a esquizofrenia.

Apesar da importância das conexões dos neurônios, elas ainda não foram completamente esclarecidas. “Estudar e entender melhor o cérebro é essencial para elucidar os mecanismos que estão por trás de inúmeros distúrbios do neurodesenvolvimento. O que tínhamos até agora, porém, não fornecia o grau de detalhamento que necessitamos para começar a desvendar a complexidade cerebral”, observa Ed S. Lein, pesquisador do Instituto de Ciência Cerebral Allen, de Seattle, nos Estados Unidos. Ele é um dos autores de uma pesquisa publicada na revista Nature que revelou o primeiro atlas com dados em larga escala do cérebro mamífero.

“Essa é uma iniciativa pioneira e revolucionária que nos fornecerá dados sobre como o sistema nervoso processa todo tipo de informação”, acredita. Há um ano, o presidente americano Barack Obama lançou a Iniciativa Cérebro, um projeto de US$ 100 milhões para financiamento de pesquisas com o objetivo de traçar um panorama completo de como se pensa, aprende e recorda. Um dos focos é o combate ao Alzheimer, doença neurodegenerativa que afeta mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo, com perspectiva de atingir o dobro desse número a cada 20 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A pesquisa publicada na Nature foi uma das contempladas com o patrocínio do governo.

O Atlas da Conectividade do Cérebro Roedor contém mais de 1,8 petabytes de dados, o equivalente um vídeo em alta definição com duração de 23,9 anos, e pode ser acessado gratuitamente online pela comunidade científica. As primeiras informações foram inseridas em novembro de 2011, e as mais recentes são do mês passado. Apesar do já robusto volume de dados, ele não está fechado e será atualizado à medida que forem realizadas mais descobertas sobre as conexões dos neurônios. O atlas pode ser acessado no endereço www.brain-map.org.


Erros genéticos O Instituto de Ciência Cerebral Allen realizou dois mapeamentos do funcionamento do cérebro. Um deles identificou alguns dos processos de expressão dos genes no órgão humano em desenvolvimento. Ed S. Lein, principal autor dessa pesquisa, explica que é ainda na fase embrionária e fetal que erros genéticos acabam provocando problemas na comunicação futura dos neurônios. “Esse ainda é um passo inicial, mas conseguimos, entre outras coisas, encontrar as regiões de expressão de muitos genes associados a distúrbios neurológicos e psiquiátricos”, diz.

O atlas, contudo, foi elaborado sobre dados de outro mamífero, o rato. Embora o cérebro do animal seja menor que o humano, com 75 milhões de neurônios, sua estrutura é muito semelhante ao nosso. Acredita-se que a comunicação entre as diferentes áreas cerebrais seja muito parecida nas duas espécies, o que torna o roedor um importante modelo de estudo do cérebro. Até agora, o único mapemaento completo de conexões cerebrais disponíveis era o do verme C. elegans, um organismo microscópico com apenas 302 neurônios.

Depois de coletar imagens com resolução menor que 1 micrômetro de mais de 1,7 mil cérebros, cada um deles dividido em 140 secções, os cientistas do Instituto Allen criaram um diagrama da atividade elétrica dos neurônios, chamado por eles de “connectome”. “É como o mapa da fiação elétrica de um edifício”, compara Hongkui Zeng, diretor de pesquisa da instituição. Em um software, as informações se transformaram em um mapa tridimensional da rede de comunicação do sistema nervoso central. “Isso nunca tinha sido feito antes. Temos detalhes sem precedentes de como as estruturas estão conectadas dentro do cérebro. O atlas é um passo crucial na compreensão da forma como o cérebro codifica as informações”, comemora Zeng.

Em nota, David Anderson, professor de biologia e pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que também participou do estudo, disse que o atlas é um mapeamento das “estradas” do cérebro no nível de rodovias estatuais. “Estradas menores e suas interseções com as interestaduais serão nosso próximo passo, seguido de mapas das ruas em diferentes municípios”, comparou. “Essa informação vai fornecer um ‘padrão de tráfego’ das informações que navegam pelo cérebro durante várias atividades, como tomada de decisões, aprendizado, lembranças e outros processos cognitivos e emocionais”, disse.

Também por meio de um comunicado de imprensa, Thomas R. Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, disse que o atlas é uma “ferramenta de valor inestimável” para toda a comunidade científica. “Esse mapa já está transformando a maneira como os cientistas enxergam o desenvolvimento do cérebro e de distúrbios do neurodesenvolvimento”, considerou. 

Hora certa para hábitos saudáveis - René Berindoague

Hora certa para hábitos saudáveis


René Berindoague
Diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia
Estado de Minas: 03/04/2014



É comum ouvirmos amigos e familiares dizerem “na segunda-feira, inicio a dieta”; “depois do Natal, começo as atividades físicas”; “depois do Carnaval, diminuo a ingestão de bebidas alcoólicas”; ou “depois da Páscoa, paro de comer tanto açúcar”. Nesse sistema, entra e sai mês, os hábitos saudáveis são postergados, quando, de fato, a ação não depende de uma data, mas apenas da iniciativa, vontade e disciplina de cada um. A hora certa de iniciar uma vida saudável, com prática de exercícios físicos e ingestão de dieta equilibrada, é agora.

O que observamos nos consultórios é que, depois de passar uma vida de adiamento dos hábitos saudáveis, quando as pessoas procuram ajuda médica, quase sempre já estão com a saúde comprometida. Sobrepeso, obesidade, obesidade mórbida, diabetes, problemas cardiovasculares, respiratórios e, até mesmo, envelhecimento precoce são resultados de uma vida cheia de “depois”.

Realmente, na vida moderna, há uma série de dificuldades que vão contra os hábitos saudáveis. Em média, uma pessoa em vida produtiva acorda às 6h para sair de casa às 7h e chegar ao trabalho às 9h. Provavelmente, toma o café da manhã por volta das 6h30 (pão com café). Ao chegar ao serviço, nem sempre consegue se lembrar de se alimentar por volta das 10h. Quando se dá conta, são 12h30 e o estômago pede uma alimentação de peso. Lá vai o prato com muita massa, fritura, quase nenhuma salada. No período da tarde, possivelmente, a rotina corrida não permitirá a ingestão de uma fruta, ou um suco. O retorno para casa se dá por volta das 20h. Em tempos de violência, não são todos que se permitem sair de casa após esse horário para a prática de uma atividade física, como caminhadas ou mesmo exercícios numa academia. Dessa forma, dia após dia, a vida saudável nunca acontece.

Embora existam, as dificuldades são maiores devido à falta de prática. O organismo não conhece as substâncias saudáveis, como as endorfinas, resultantes das atividades físicas e de uma dieta equilibrada. A preguiça e as desculpas vencem. Quando falo em dieta balanceada, não é sobre pratos apenas com salada ou cortar integralmente o consumo de doces. Mas, sim, sobre uma alimentação composta de alimentos realmente necessários ao organismo, bem equilibrada, sendo distribuídos ao longo do dia, de forma que não se chegue a sentir fome.

É preciso mudar o modo de ver a própria rotina. Mesmo com uma rotina tão intensa como a anteriormente citada, uma pessoa pode acordar 40 minutos mais cedo, por exemplo, e caminhar 30 minutos antes de ir para o trabalho. Ou, em vez de enfrentar o trânsito caótico das 18h, levar um tênis e fazer uma caminhada de 30 a 45 minutos nas imediações do serviço. Diversos estudos comprovam que essa prática, de 5 a 7 dias por semana, reduz o risco de ataque do coração em mais de 30%. Os idosos com mais de 75 anos e que caminham sempre têm até 45% menos chances de infarto. A mesma medida reduz o risco de câncer de mama, melhora a qualidade do sono, ajuda a conquistar e a manter o peso ideal, reduz o afinamento dos ossos, fortalece as articulações e diminui o estresse.

Sobre a alimentação, nem sempre temos opções saudáveis na rua para os lanches do dia. O melhor é levar esses alimentos de casa: frutas como laranja, banana, maçã, entre outras que não são caras se compradas em sacolão. É necessário disciplina para manter os horários de alimentação. Lembre-se que sua saúde deve estar em primeiro lugar. Como dito anteriormente, o melhor momento para se iniciar esses hábitos é agora. Com certeza, os resultados valerão o esforço. O investimento será muito menor que o valor gasto com remédios quando os problemas de saúde começam a aparecer.

STF vota contra doações de empresas a candidatos‏

STF vota contra doações de empresas a candidatos Para a maioria dos ministros, o financiamento feito pelo setor privado desequilibra a disputa eleitoral. Julgamento ainda não foi concluído e falta decidir se a regra já valerá para outubro 
 
Isabella Souto
Estado de Minas: 03/04/2014




"O poder financeiro acaba tendo influências sobre as decisões políticas do país. (O financiamento empresarial) macula todo o processo político desde a base de formação de alianças partidárias até o resultado das eleições deliberativas" - Marco Aurélio Mello, ministro do STF

As campanhas eleitorais bilionárias podem virar coisa do passado no Brasil. A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem pelo fim das doações feitas pelas empresas a partidos e candidatos. Para se ter uma ideia, nas eleições de 2012, 55 mil empresas doaram R$ 1,8 bilhão. Ao retomar ontem o julgamento de ação proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) questionando a modalidade de doação, mais dois ministros votaram pela alteração na legislação que permite a participação de pessoas jurídicas nas campanhas. Apenas um deles votou contrariamente à opinião dos colegas.

O julgamento ainda não foi concluído, porque o ministro Gilmar Mendes fez um pedido de vista, mas como Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski pediram a antecipação do voto, a parcial já aponta pela declaração de inconstitucionalidade da lei que permite a doação por parte de empresas: seis votos favoráveis e um contrário. Não há um prazo legal para a continuidade do julgamento. E apenas depois do voto dos 11 ministros eles decidirão qual será a modulação dos efeitos da decisão – ou seja, a partir de quando a regra começa a valer. Relator da ação, o ministro Luiz Fux chegou a propor um prazo de dois anos para que o Congresso Nacional aprovasse uma lei estabelecendo critérios de doações. Caso em 18 meses nenhuma mudança seja feita, sugeriu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) crie uma regra provisória.

Ainda faltam votar Cármen Lúcia, Celso de Mello, Gilmar Mendes e Rosa Weber, e até o final do julgamento todos os ministros ainda podem mudar os votos – embora a possibilidade seja remota. Pelo menos a julgar pelos argumentos apresentados pelos ministros ao proferirem seus votos. Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello ressaltou a importância de uma definição sobre a regra em razão da proximidade do período eleitoral. “O poder financeiro acaba tendo influências sobre as decisões políticas do país. (O financiamento empresarial) macula todo o processo político desde a base de formação de alianças partidárias até o resultado das eleições deliberativas”, afirmou.

Ricardo Lewandowski, que concordou com o voto da maioria, foi enfático. “O financiamento de partidos e campanhas por empresas fere profundamente o equilíbrio dos pleitos, que nas democracias deve se reger pelo princípio do one man, one vote. A cada cidadão deve corresponder um voto, com igual peso e idêntico valor. As doações milionárias feitas por empresas a políticos claramente desfiguram esse princípio multissecular”, discursou

Caixa dois O ministro Gilmar Mendes, que pediu para adiar o seu voto, justificou que esta é uma “questão complexa”. Para Mendes, somente os partidos menores e os candidatos com menos recursos seriam prejudicados com o fim das doações de empresas. Além disso, ressaltou que a medida não vai impedir o repasse ilegal para os comitês, o chamado caixa dois.

“Os partidos que estão no poder e que já têm recursos só precisam de mais algumas centenas de milhares de CPFs para novas distribuições. Certamente haverá pessoas pobres que doarão seu salário porque receberão dinheiro para isso. Basta ver o fenômeno de doação para saber como isso opera. Os partidos que tiverem base de raiz vão operar com essa lógica e já operam. O dinheiro não é problema. O problema é encontrar CPFs para fazer essa distribuição”, argumentou Gilmar Mendes.

Atualmente, o financiamento de campanhas eleitorais no Brasil é público e privado. Políticos e partidos recebem dinheiro do Fundo Partidário (formado por recursos do Orçamento, multas e doações), de pessoas físicas (até o limite de 10% do rendimento) e de empresas (limitada a 2% do faturamento bruto do ano anterior ao da eleição).