sexta-feira, 3 de maio de 2013

A força da democracia no Brasil - Luiz Carlos Mendonça de Barros

folha de são paulo

Tivemos nas comemorações do Dia do Trabalho uma prova do vigor da democracia no Brasil e de sua importância na preservação de conquistas passadas da sociedade.
Faço referência aos encontros promovidos pelas maiores centrais sindicais do país, em São Paulo -com a presença de mais de 1 milhão de pessoas segundo a mídia-, e nos quais o tema da inflação dominou as palavras de muitos líderes presentes.
Nem mesmo o absurdo das propostas defendidas por alguns -como é o caso da volta do gatilho salarial- reduz a importância da volta da inflação como tema político relevante. E a repercussão desses acontecimentos na imprensa ampliou na opinião pública o debate sobre os riscos com a inflação que existem hoje no Brasil.
Muitos poderão dizer que as palavras de algumas lideranças têm objetivos eleitorais de curto prazo e reagem com menos entusiasmo a esses acontecimentos. Respondo eu com a observação singela, mas verdadeira, de que eleições são os momentos mais ricos de uma democracia e, se a perda do vigor no controle da inflação no Brasil de hoje é um fato real, nada mais correto que fazer dele um tema eleitoral.
O compromisso com o controle da inflação é uma das cláusulas pétreas da democracia brasileira nas últimas duas décadas e não pode ser esquecida por nenhum governante. Afinal, tivemos entre 1979 e 1994 um período de mais de 15 anos em que a renda real média do brasileiro reduziu-se em mais de 2,5% ao ano em razão da inflação. Somente em 1994, com o Plano Real, é que a sociedade reconquistou a estabilidade de preços como valor social e um novo futuro no campo econômico.
Nos anos seguintes, graças ao trabalho político de dois presidentes é que essa característica de cláusula pétrea da nossa democracia tomou forma.
E ficou, como herança desse período, o compromisso com um arcabouço macroeconômico que garanta a estabilidade de preços de forma sistêmica e perene.
Pois no governo Dilma -pouco a pouco- esse compromisso com a estabilidade de preços foi se enfraquecendo. Vivendo uma realidade econômica diversa da que marcou os anos dourados de seu antecessor, tivemos gradualmente a volta do pensamento que prevaleceu no Brasil dos militares depois do segundo choque do petróleo, em 1979: é preferível ter um pouco mais de inflação se o resultado for um crescimento econômico maior. Foi esse mantra que nos levou -lenta e gradativamente- ao período citado acima de hiperinflação e queda de renda real.
A nossa presidenta, neste mesmo Dia do Trabalho, apresentou-se em cadeia nacional de televisão para reafirmar seu compromisso com a estabilidade de preços, compromisso reafirmado também por um importante ministro da área social de seu governo no encontro da CUT.
Nos meses que nos separam das eleições do próximo ano, muita água vai passar pela ponte da inflação. E os dois lados -governo e oposição- terão tempo e informação suficientes para desenvolver seus discursos e seduzir os eleitores nas urnas com esse tema.
Mas uma verdade se impõe a partir das comemorações do Dia do Trabalho neste ano de 2013: a questão da inflação -e seu controle pelo governo- passará a ser um item prioritário do debate político eleitoral. Esse fato em si representa um reconhecimento de que a inflação ainda é, para o brasileiro, um elemento importante, apesar de um período longo em que essa questão ficou afastada do debate político. Fico feliz com isso e mais otimista com a condução da política econômica daqui para a frente.
Apesar de não fazer parte do grupo de analistas que entendem estarmos vivendo um período agudo de perda de controle da inflação, preocupava-me a volta ao centro das decisões do Palácio do Planalto dos "conselheiros" que preferem UM POUCO MAIS DE INFLAÇÃO PARA TER UM POUCO MAIS DE CRESCIMENTO.
Os indícios de que a presidenta escuta seus argumentos são crescentes e temo que, sem a pressão da opinião pública e da oposição política mobilizada pelas eleições do próximo ano, o governo vai acabar por trilhar o caminho da época dos militares.
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Luiz Carlos Mendonça de Barros é engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações (governo FHC). É sócio e editor do site de economia e política 'Primeira Leitura'. Escreve às sextas, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      ALVES
alves

Ação de marketing coloca garrafa de Cachaça 51 no seriado 'The Big Bang Theory'

folha de são paulo


LUCAS SAMPAIO
DE SÃO PAULO
video
Os americanos mais atentos que assistiram ao episódio do seriado "The Big Bang Theory" na quinta passada, no canal de televisão CBS, se depararam com um produto inusitado na cozinha do apartamento da personagem Penny: uma garrafa de 51.
O "placement" --divulgarção de um produto colocando-o de forma "orgânica" no cenário, como se ele fizesse parte da decoração-- foi criado e desenvolvido pela agência 3 Apitos e produtora de conteúdo Monarca Group.
No Brasil, o 21º episódio da sexta temporada ("The Closure Alternative") foi transmitido pelo canal de TV a cabo Warner Channel na terça (30) à noite --a série também é transmitida pelo SBT.
Segundo a Cia. Müller de Bebidas, dona da Cachaça 51, o episódio foi assistido nos Estados Unidos por 15,05 milhões de pessoas e a bebida apareceu em três cenas.
Veja abaixo o teaser do episódio "The Closure Alternative".
RECONHECIMENTO
O episódio foi exibido nos EUA duas semanas após o país reconhecer oficialmente a cachaça como produto genuinamente brasileiro --antes, tinham de ser vendidas com o selo "brazilian rum".
A decisão foi anunciada governo norte-americano em março, fruto de um pedido feito pelo Brasil em 2001.
Sócio da 3 Apitos e um dos responsáveis pela campanha, Paulo Pontes diz que a ideia é valorizar a marca nacionalmente. "[A ideia é acabar com] esse estigma de vira-lata do brasileiro, de não se apropriar do que é seu, de criticar a própria bebida."
"No exterior, a 51 custa mais de US$ 20 [R$ 40]. É uma marca que representa o Brasil lá fora." Nos supermercados brasileiros, o produto sai por menos de R$ 5.
OUTRAS SÉRIES
Pontes diz que a ideia foi apresentada à 3 Apitos pela Monarca Group, do gaúcho Ancelmo Martini, ganhador do programa "O Aprendiz 3", e vinha sendo desenvolvida desde o começo deste ano.
"Ele [Ancelmo] apresentou o projeto de expor marcas brasileiras nos EUA", diz o publicitário. Inicialmente, a ideia incluía a possibilidade de filmes em Hollywood.
"Queríamos uma série de impacto. Entre as opções estudadas, estavam 'Two And A Half Men' e 'How I Met Your Mother'", afirma Pontes.
Ele diz que o retorno da ação foi positivo. "Agora é estudar qual vai ser a nossa linha de atuação", afirma. "É uma coisa muito nova ainda. A gente precisava ter um primeiro retorno."
Questionado sobre o custo da ação, Pontes não quis falar em valores. Mas ressaltou que a ação "é mais acessível do que parece". "É até mais barato que anunciar em algumas mídias nacionais."

Tv Paga


Estado de Minas: 03/05/2013 0


Um trio da pesada

Nada como uma boa comédia para começar o fim de semana de alto-astral. Pois a dica de hoje é O grande ano, com Owen Wilson, Jack Black e Steve Martin, estreando às 22h, no Telecine Premium. A trama: Brad, Kenny e Stu têm em comum a paixão por pássaros, mas, apesar do hobby, estão passando por crises em diferentes fases da vida. Para sair da rotina, o trio decide entrar em uma competição, que consiste em identificar o maior número de espécies diferentes em um ano. O jogo fará com que eles passem por situações hilárias.

Muitas alternativas na
programação de filmes


Outra boa indicação para esta noite é O cheiro do papaia verde, às 22h, no Canal Futura. No mesmo horário, a Cultura exibe a versão dublada de Vitus, em sua Mostra internacional de cinema. No Telecine Cult, também às 22h, a atração é Inimigo meu, com Dennis Quaid e Louis Gossett Jr. na pele de um alienígena hermafrodita. Ainda às 22h, o TCM exibe o clássico A lista de Schindler. No FX, hoje tem Sessão duplex com a diva Beyoncé emendando os filmes Resistindo às tentações (20h) e Obsessiva (22h). E mais: Sim senhor, às 21h, no Boomerang; Nem tudo é verdade, às 21h30, no Arte 1; O santo, às 22h, no Space; O ritual, também às 22h, na HBO; Três vezes amor, às 22h20, no Megapix; e Um criminoso decente, às 23h, no AXN.

+Globosat abre segundo
ano de London Hospital


O canal +Globosat estreia hoje, às 22h, a segunda temporada de London Hospital. Se não conhece, confira a sinopse: “Tratamentos médicos, fatos históricos e romance se misturam na série, drama ambientado na Londres do começo do século 20. Na segunda temporada, o hospital recebe as vítimas de uma explosão – a mais recente em uma série de ataques que aconteceram em toda a Europa”.

Alienígenas aterrissam
no History e no Nat Geo


Em 8 de julho de 1947, na cidade de Roswell, no Novo México (EUA), um fazendeiro relatou ter encontrado destroços de um disco voador em sua propriedade. No dia seguinte ele foi desmentido por oficiais do Exército, que informaram que não passava de um balão meteorológico. Ficou a dúvida se realmente aquilo teria sido um engano ou se havia alguma razão secreta para abafar a história. Confira em Acesso secreto: óvnis, às 16h45, no canal History. Coincidentemente, às 19h, o Nat Geo exibe o documentário Histórias de óvnis, com o registro de uma série de avistamentos na Europa.

Bis transmite o festival
de jazz de Nova Orleans


Para fechar, música. A começar pelo Boombox all access com o espanhol Enrique Iglesias, às 15h, no Boomerang. No canal Bis, o New Orleans Jazz & Heritage Festival será transmitido ao vivo hoje, amanhã e domingo, das 16h à meia-noite, com shows de  John Mayer, Ben Harper e Charlie Musselwhite, Billy Joel e Willie Nelson. Às 22h, na HBO Plus, A thousand suns live at Madison Square Garden traz o Linkin Park ao vivo em Nova York. E ainda tem Ronnie Von em O estranho mundo de Zé do Caixão, à meia-noite, no Canal Brasil.

Museu Clube da Esquina ganha parceria da Escola de Música da UFMG e será inaugurado no ano que vem

Outros encontros 

Museu Clube da Esquina ganha parceria da Escola de Música da UFMG e será inaugurado no ano que vem com projeto que amplia sua atuação para as áreas de ensino e pesquisa 



Sérgio Rodrigo Reis

Estado de Minas: 03/05/2013 



Tavinho Moura, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Murilo Antunes, Márcio Borges, Túlio Mourão e Cláudia Brandão, em frente à futura sede do Museu Clube da Esquina, na Praça da Liberdade (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Tavinho Moura, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Murilo Antunes, Márcio Borges, Túlio Mourão e Cláudia Brandão, em frente à futura sede do Museu Clube da Esquina, na Praça da Liberdade

Estudante do Colégio Anchieta, Márcio Borges tinha acabado de voltar da aula quando entrou no apartamento, no 17º andar do Edifício Levy, no Centro de BH, e foi direto para o “quarto dos homens”. Ao chegar, encontrou uma pessoa desconhecida deitada em cima do seu beliche. Não entendeu nada e estranhou ainda mais quando, sem o menor pudor, o sujeito o encarou e disse: “Quem é você!”. Irritado com a situação, retrucou: “Quem é você que está deitado em minha cama.” O diálogo mudou de rumos quando Milton Nascimento, então com 21 anos, às gargalhadas, finalmente se apresentou. “Já sei: você é o Marcinho”, disse apontado para o irmão do Marilton Borges, com quem acabara de formar o grupo Evolussamba, ao lado dos amigos Marcelo Ferrari e Wagner Tiso. A cena de 1963 ilustra bem os bastidores das origens do Clube da Esquina, movimento musical que ganhou o mundo vai virar um museu em Belo Horizonte.

A ideia é antiga. Mas a novidade é que, depois de idas e vindas e inúmeras discussões, com a entrada da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais no projeto, desenvolvido pela Associação dos Amigos do Museu Clube da Esquina (Aamuce), a proposta começa a ganhar forma. A ideia inicial se ampliou. Não será apenas um museu. O novo espaço, que funcionará no prédio do Servas, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade, pretende ser também o Centro de Referência da Música de Minas. É consenso entre os organizadores a importância do Clube da Esquina no cenário nacional. O movimento conseguiu, de forma inédita, realizar fusões entre os mais diversos estilos, do congado ao rock dos Beatles, do repertório barroco ao jazz, e, a partir dessa mistura, propôs nova sonoridade. É este conceito que norteará a ação do museu.

Com previsão de funcionamento para o fim de 2014 – atualmente encontra-se em fase de desenvolvimento dos projetos arquitetônicos –, o Museu Clube da Esquina quer surpreender. Além de exposições convencionais de acervos de fotos e objetos, disponibilizará virtualmente conjunto de depoimentos, músicas, filmes, documentários e, sobretudo, irá se tornar referência em formação na área. “Vai ser um espaço vivo, com apresentações musicais, com professores dando aula e com interessados em buscar referências sobre os temas em torno do Clube”, adianta Márcio Borges. A importância do empreendimento extrapola, na opinião dele, Minas Gerais. “É uma forma de preservarmos e conservarmos a memória de algo muito bom e que projetou o nome do estado no exterior. Nossa proposta é manter aquele clima que nos uniu e o calor daquele acontecimento”, explica o letrista.
Perspectiva do novo museu, que terá espaços dedicados ao ensino da música (UFMG/Reprodução)
Perspectiva do novo museu, que terá espaços dedicados ao ensino da música

Ensino A primeira iniciativa para tornar realidade o Museu Clube da Esquina ocorreu na internet. Num portal virtual estão parte da história dos últimos 40 anos. A implantação do Museu e Centro de Referência pretende potencializar toda a cadeia produtiva da música que se faz no estado. A intenção é oferecer atividades qualificadas para aprendizagem, desenvolvimento, formação de público e fruição de produtos culturais, tendo a música como eixo para a dinâmica do aprimoramento e crescimento pessoal, consolidando e preservando acervo importante para a compreensão da história contemporânea de Minas.

O coordenador do projeto é o professor da Escola de Música, Mauro Rodrigues. “Estamos na fase de compra dos projetos arquitetônicos. Temos a cessão do Servas e, agora, negociamos com o estado para incluir a UFMG também na cessão do prédio, para que a instituição possa realizar intervenções no local.” O objetivo é ambicioso. “Queremos que seja o local de fomento a música de Minas, na medida do possível, em toda sua diversidade. A expectativa é que seja um museu que consiga dar outra vida ao Circuito Cultural da Praça da Liberdade.” A parceria com a UFMG deu outra dimensão à proposta inicial, devido às contribuições da instituição em áreas que vão da museologia aos projetos de acústica. O diretor da Escola de Música, Maurício Freire está satisfeito. “Acho que será um privilégio tanto para ações artísticas quanto para pesquisas”, avalia.

Ar musical de Minas
 

Sérgio Rodrigo Reis


%u201CQueremos que seja o local de fomento a música de Minas em toda sua diversidade%u201D - Mauro Rodrigues, professor da música da UFMG (Fernando Fiúza/Divulgação)
%u201CQueremos que seja o local de fomento a música de Minas em toda sua diversidade%u201D - Mauro Rodrigues, professor da música da UFMG

Milton Nascimento tinha acabado de chegar a Belo Horizonte para trabalhar com contabilidade. Morava numa pensão no quarto andar do Levy, o mesmo edifício onde vivia Wagner Tiso. Já havia tido experiência como crooner em Três Pontas e, nas horas vagas, aproveitava para cantar e tocar violão no novo endereço. No dia em que conheceu Marilton Borges, o responsável por apresentá-lo aos primeiros parceiros artísticos em Belo Horizonte, faltou luz no prédio. Marilton descia as escadas quando ouviu uma voz incomum, que lhe fez parar e procurar de onde vinha. Ali começou a amizade com os irmãos Borges. Depois que se mudaram para o Bairro Santa Tereza, passaram a se encontrar na esquina das ruas Divinópolis com Paraisópolis, local que acabou batizado por dona Maricota, matricarca dos Borges, como Clube da Esquina. Toda vez que alguém procurava os filhos, ela respondia em tom de brincadeira: “Devem estar lá no clube... no Clube da Esquina.”

Naquela esquina, além dos Borges, juntaram-se cada vez mais jovens interessados em tocar e cantar, como Flávio Venturini, Vermelho, Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Guedes e o letrista Fernando Brant. Em 1972, pela EMI, saiu o LP duplo, Clube da Esquina, assinado por Milton e Lô Borges, que apresentou ao país o trabalho daquela turma, as composições engajadas e a rica miscelânea de sonoridades. “A gente não tinha ideia de que aquilo era um movimento. Só o tempo me permitiu ver. Constituímos um movimento espontâneo, baseado no encontro de estudantes. Não foi, como na Tropicália e na Bossa Nova, que tiveram manifesto. Nós não. O que nos unia era uma grande amizade em pé de igualdade e em torno da figura catalisadora de Milton Nascimento”, recorda Márcio, autor do livro Os sonhos não envelhecem, que narra a história do Clube.

O resultado do encontro provocou uma pequena revolução na cultura local. “Conseguimos realizar uma música mineira especial, com grande sofisticação a partir da fusão de gêneros. Com isso ganhamos apreciação do mundo”, diz Márcio. Os caminhos e trilhas abertos por aquele acontecimento artístico, até hoje, na visão dele, continuam reverberando nos artistas. “As novas gerações mineiras seguiram este caminho. Grupos como o Skank fazem uma mistura musical, assim como o Jota Quest e o Pato Fu. Todos, mesmo involuntariamente, pegaram algo que faz parte do ar musical que se respira em Minas. Temos em comum uma vontade de ideias e talentos”, conclui.

Possibilidade de vida não se resume a planetas similares à Terra, diz estudo

folha de são paulo

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com as diferentes composições, massas e órbitas possíveis para os planetas fora do Sistema Solar, a vida talvez não esteja limitada a mundos similares à Terra em órbitas equivalentes à terrestre.
Editoria de arte/Folhapress
Essa é uma das conclusões apresentada por Sara Seager, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, em artigo de revisão publicado no periódico "Science", com base na análise estatística dos cerca de 900 mundos já detectados ao redor de mais de 400 estrelas.
Seager destaca a possível existência de planetas cuja atmosfera seria tão densa a ponto de preservar água líquida na superfície mesmo a temperaturas bem mais baixas que a terrestre.
Como todas as formas de vida conhecidas dependem de água, sua presença na superfície é tratada como o ponto central da definição de "habitabilidade".
Mundos habitáveis tradicionalmente seriam aqueles que, como a Terra, estão a uma distância tal de sua estrela que, com uma atmosfera pouco densa, poderiam ter corpos d'água estáveis no solo.
Contudo, um consenso emergente é o de que a extensão dessa zona habitável depende fundamentalmente das características intrínsecas dos planetas em questão e pode se estender a uma área que iria além da órbita de Júpiter, no Sistema Solar, se o mundo orbitando ali tivesse uma composição adequada.
"As possibilidades mais amplas aumentam a chance futura de descobrirmos um mundo habitado", afirma Seager.
ARQUITETURAS
Graças ao número crescente de descobertas, finalmente os astrônomos começam a entender a natureza da formação dos sistemas planetários.
A boa notícia: é bem parecido com o que sugeria a teoria, criada na época em que só tínhamos um exemplar conhecido, o Sistema Solar.
A realmente boa: existem muito mais variações para a evolução desses sistemas do que os cientistas antes imaginavam.
Na prática, isso quer dizer que a arquitetura básica vista em nosso sistema, com os planetas pequenos rochosos mais próximos da estrela e os gigantes gasosos mais distantes, é apenas um dos possíveis desfechos da formação planetária.
DUAS TÉCNICAS
A imensa maioria dos planetas descobertos fora do Sistema Solar foi revelada por meio de duas técnicas.
A mais antiga e eficaz até hoje é a que mede variações na luz da estrela causadas pelo bamboleio que ela faz conforme planetas giram ao seu redor.
Como ela mede diretamente o efeito da gravidade do planeta sobre sua estrela, é possível ter uma boa estimativa de sua massa.
A segunda técnica envolve a observação de trânsitos --minieclipses causados pela passagem dos planetas à frente de sua estrela--, que só ganhou grande impulso quando foram lançados satélites especializados em detectá-los.
A detecção do trânsito é feita pela medição da redução do brilho da estrela causada pela passagem do planeta. É, portanto, uma boa medida do tamanho.
Juntas, as duas técnicas permitem uma caracterização mais precisa dos planetas extrassolares. Afinal, com a massa e o tamanho, pode-se calcular a densidade.
A densidade, por sua vez, é uma pista bastante concreta da composição.
Foi assim, por exemplo, que os cientistas conseguiram confirmar que pelo menos alguns dos planetas categorizados como "superterras" --por serem maiores que a Terra, mas menores que os menores planetas gigantes do Sistema Solar-- são rochosos como o nosso mundo.
Contudo, nem sempre se pode aplicar as duas técnicas ao mesmo tempo. Enquanto a medição do bamboleio gravitacional é difícil para planetas menores e mais distantes da estrela, a técnica do trânsito depende do alinhamento apropriado do sistema planetário, de forma que os minieclipses possam ser observados daqui.
Ainda assim, conhecendo bem os viéses que cada técnica produz, os cientistas são capazes de compensar matematicamente as falhas para apresentar um quadro estatístico mais seguro dos planetas extrassolares.
É basicamente o que traz Andrew Howard, da Universidade do Havaí em Manoa (EUA), em outro artigo de revisão publicado no especial de exoplanetas da "Science".
Sabe-se hoje, por exemplo, que planetas menores são bem mais comuns na Via Láctea que os gigantes. Contudo, as Terras não são mais comuns que as superterras. Aparentemente, o número de planetas vai aumentando em razão inversa do tamanho (ou seja, quanto menor, mais planetas) até atingir um valor crítico de pouco menos de 3 vezes o diâmetro da Terra. Daí para baixo, a prevalência é aproximadamente igual.

Eduardo Almeida Reis - Implicância‏

Com o passar dos anos, somos assaltados em casa, nas ruas, nos shoppings, nos bancos, nos restaurantes 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 03/05/2013 

Revolta-me a implicância da mídia com ilustrados homens públicos. Ainda outro dia, todo mundo criticou o excelentíssimo senhor secretário de Segurança Pública da Bahia pelo sábio conselho que deu aos baianos: levar no bolso um só cartão de crédito e dinheiro suficiente para não irritar o ladrão. Ora, bolas, até parece que o secretário me ouviu: só levo um cartão, que tenho desde os anos 1970, e dinheiro suficiente para deixar o ladrão contentíssimo. Tudo preso com elásticos, que os belo-horizontinos chamam gominhas. O leitor de Tiro e Queda sabe que moramos num país de donatos, como também sabe que donato, regionalismo brasileiro na linguagem dos delinquentes, significava dono ou morador de casa que foi ou está para ser assaltada. Com o passar dos anos, somos assaltados em casa, nas ruas, nos shoppings, nos bancos, nos restaurantes. Portanto, como recomenda o secretário baiano, é de todo conveniente não irritar o ladrão levando pouco dinheiro. Levando muito há outro risco: o de o ladrão querer mais, ou o leitor já viu sujeito rico se contentar com o que tem?

Implicância também imperdoável foi com a nomeação do sociólogo Wellington Moreira Franco para ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil. Wellington sempre foi respeitado político piauiense. Daí a dizer-se que não sabe distinguir um aeroplano de um gambá – marsupial do gênero Didelphis, os maiores da família dos didelfiídeos, com três espécies, encontrados do Sul do Canadá à Argentina, com até 50cm de comprimento, cauda preênsil, longa e quase inteiramente nua, com a parte distal branca, pelagem cinza, preta ou avermelhada e fêmeas com marsúpio bem desenvolvido – vai uma distância que não posso percorrer.

Aposto que o novo ministro-chefe já viajou de avião. Sei que ele não é nenhum Oleg Antonov, Willy Messerschmitt ou Reuben Hollis Fleet. Cacei e pesquei com mr. Fleet no Pantanal, lá se vão séculos. O projetista do Convair sabia tudo de aviação. Num voo pantaneiro de uma hora esboçou avião de plástico, ideal, segundo nos disse, para voar e hangarar nas condições pantaneiras. O Houaiss e o Volp não têm o verbo hangarar. Problema deles, não meu, que sempre ouvi pilotos dizendo que suas aeronaves estavam hangaradas. Fleet foi deixado o dia inteiro, com água pelo peito, caçando patos com o bugre Nurba, um índio cadiuéu. Nurba não falava uma palavra de inglês e Reuben Fleet, que não falava o cadiuéu de Nurba, só dava duas ou três palavras em português. No final da tarde, quando os pescamos numa lagoa com metro e meio de água, tanto o bugre dizia que o engenheiro aeronáutico era muito inteligente, como Fleet elogiava a inteligência do velho cadiuéu. Devem ter conversado por gestos ou em grego clássico.


Importância
O leitor já deve ter notado que todo mundo se considera muito importante. É raro encontrar cavalheiro ou dama que tenha consciência de suas limitações. Pensando bem, pelas nossas ópticas somos importantíssimos, mas só no que nos diz respeito; no contexto mundial, cada um de nós é subnitrato de pó de bosta, mas vai convencer alguém de sua desimportância. Outro mal de que padecemos é achar que estamos resolvendo todos os problemas da humanidade, quando não conseguimos resolver os nossos problemas. Tempos atrás, tive um problema com um chefe de portaria, importantíssimo como todo chefe de portaria. Tê-lo-ia demitido se procurasse o dono da empresa, muito meu amigo, mas achei melhor deixar o pobre coitado para lá. Dentro de alguns anos, se continuar no emprego, ele vai se aposentar como chefe de portaria. Desejo que seja feliz.

Em rigor, além do guardinha da esquina, não existe gente que se considere mais importante do que os condutores de veículos automotores. Choferes, cinesíforos, condutores, motoristas de ambos os sexos, ou dos 11 sexos que o psiquiatra Pamplona da Costa alinha em seu livro, se acham importantíssimos, buzinam, xingam, brigam e se matam no trânsito. Morro de rir dos imbecis que ficam furiosos quando, dirigindo, deixo um carro entrar à frente do meu. O condutor do veículo que vem atrás fica uma onça, porque perde seis ou sete metros no engarrafamento em que nos metemos. Se soubesse o prazer que me dá com a sua fúria, cuidaria de buzinar mais, piscar os faróis, abanar o braço para fora do seu carro.


O mundo é uma bola
3 de maio de 1494: Cristóvão Colombo descobre a Jamaica, hoje uma nação insular no Mar do Caribe, com 10.991 km2, onde nascem recordistas de 100 e 200 metros rasos e onde foi desenvolvida a raça leiteira bovina jamaica hope. Em 1902, primeiro jogo de futebol no Brasil: Mackenzie 2 x 1 Germânia. A Copa do Mundo vem aí e há estádios novos ameaçando ruir com ventos de 60km/h, pouco mais que uma brisa. Em 2002, o euro se torna moeda definitivamente confirmada nos países da União Europeia, decisão relativa, porque há diversos países prometendo cair fora da moeda que me trouxe da Bélgica lenços e meias da melhor supimpitude. Hoje é o Dia do Solo, do Taquígrafo, que tentei ser, e do Sertanejo, geralmente gente boa, ressalvada sua música.


Ruminanças
“Todas as mulheres deviam ter catorze anos.” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).

DIREITOS HUMANOS » Constrangimento no ninho-Leandro Kleber‏

Tucanos pressionam deputado da legenda a retirar da pauta o projeto de sua autoria que trata da "cura gay". Delegado de polícia, João Campos acumula polêmicas no currículo 


Leandro Kleber

Estado de Minas: 03/05/2013 

Brasília – O deputado João Campos (PSDB-GO), que tem causado constrangimentos ao ninho tucano por defender propostas que a sigla condena de forma veemente na Câmara, foi orientado ontem a pedir a retirada de pauta do projeto que trata da “cura da doença gay”. O recado foi dado por colegas da legenda na Casa até que o PSDB feche uma posição sobre o assunto. O Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 234, de autoria de Campos, está na pauta da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da próxima quarta-feira, conforme antecipou o Estado de Minas.

 “Nós o aconselhamos a não colocar em votação o projeto até que o partido tenha uma posição a respeito do tema”, afirma o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), que é um dos vice-presidentes da legenda, cargo também ocupado por Campos. A matéria suspende a validação de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia, de 1999, que impede que psicólogos tratem homossexuais no intuito de curá-los de uma possível “desordem psíquica”. O presidente da CDHM, Marco Feliciano (PSC-SP), incluiu o item na pauta na noite de terça-feira.

João Campos também está na linha de fogo da recente crise institucional entre o Legislativo e o Judiciário. Ele foi o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33, de autoria do deputado petista Nazareno Fonteles (PI), que submete algumas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Congresso Nacional. O parecer de Campos, que validou o texto de Fonteles, foi aprovado no fim de abril na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Ao discordar da proposta, o PSDB entrou com um pedido de suspensão da matéria no STF, classificando-a como absurda e inconstitucional.

Campos, que é delegado de polícia, ainda está no centro de outra polêmica. Ele é um dos principais articuladores da PEC 37, que limita os poderes de investigação do Ministério Público. A proposta está causando dor de cabeça ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que foi obrigado a criar um grupo, que reúne delegados e procuradores, para buscar um consenso. A oposição no Congresso avalia que os partidos da base são os principais responsáveis pela tramitação da proposta, que foi apresentada pelo deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA).

CPI do aborto Como presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, Campos também atua contra a legalização do aborto. No mês passado, ele apresentou requerimento para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de “investigar a existência de interesses e financiamentos internacionais para promover a legalização do aborto no Brasil”. A prática é tipificada como crime no Código Penal Brasileiro. O deputado estava mobilizado a conseguir as 180 assinaturas necessárias para a efetivação da CPI.

Procurado, Campos não foi localizado pela reportagem. Segundo sua assessoria, ele ficou incomunicável durante todo o dia porque estava em trânsito no interior de Goiás, onde não há sinal de celular. O líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), também não foi encontrado para comentar o assunto.

Criador rejeitou criatura

A terapia “reparativa”, ou a “cura da doença gay”, foi subsidiada por uma pesquisa publicada em 2001, na revista científica Archives of Sexual Behaviour, pelo influente psiquiatra norte-americano Robert Spitzer. A pesquisa daria suporte às tentativas de “curar” a pessoa da sua homossexualidade. Em maio de 2012, o médico recuou e desacreditou seu próprio “artigo da cura”, pelo que ele hoje, aos 80 anos, considera ter sido um “estudo fatalmente defeituoso”. Spitzer enviou carta à mesma revista, pediu desculpas e disse que errou e que devia se retratar junto à "comunidade gay”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, dias antes das desculpas públicas de Spitzer, um relatório onde classifica a terapia da cura como sendo uma séria ameaça à saúde, ao bem-estar e até mesmo às vidas das pessoas envolvidas. Algumas sessões de “cura”  custam US$ 1,2 mil, e já arrebanharam “fiéis” de países como os EUA, França e Brasil.

DIREITOS HUMANOS » Batalha psicológica - Adriana Caitano e Renata Mariz‏


Estado de Minas: 03/05/2013 

Brasília – Marcada para quarta-feira, a votação do projeto apelidado de “cura gay” promete agitar ainda mais o plenário da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara. O ponto principal da proposta pretende restabelecer a legalidade de terapias de “reversão da homossexualidade”, atualmente proibidas por resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Já está confirmada a presença de Rozangela Justino, psicóloga que provocou a apresentação da primeira proposta legislativa nesse sentido, ainda em 2009, depois de ser censurada publicamente pelo CFP por oferecer tratamento para a homossexualidade.

Outra que também foi alvo de processo disciplinar da entidade, a psicóloga evangélica Marisa Lobo não só defenderá o projeto como se filiou nesta semana ao PSC, o partido do deputado Marco Feliciano (SP), presidente da CDHM, que colocou o tema na pauta. Pelo Twitter, Feliciano reproduziu mensagens de Marisa Lobo, que pretende se candidatar a deputada federal, e recorreu à crise entre Legislativo e Judiciário para dizer por que decidiu colocar temas considerados homofóbicos — como o projeto da “cura gay” e outro que criminaliza o preconceito contra heterossexuais — na pauta do colegiado.

“Protelar projetos abre precedente para que denúncias sejam levadas ao STF sob a alegação de que o Congresso é lento em suas decisões”, disse ele. Embora tenha afirmado que a homossexualidade não é doença, o deputado defendeu a proposta que trata do tema. “Esse projeto protege o profissional de psicologia quando procurado por alguém com angústia sobre sua sexualidade”, acredita o parlamentar.

Ameaças Rozangela Justino argumenta na mesma linha. Ao confirmar presença na votação de quarta-feira, ela conta que vive recebendo ameaças de movimentos LGBT. “Até hoje, continuo sendo procurada para ajudar, mas não tenho respondido à demanda, devido à intimidação ‘gaysista’. Os ativistas gays aparelharam o Conselho de Psicologia e prejudicaram não somente a mim, como também a todos os psicólogos”, afirma. A psicóloga só concordou em dar entrevista por e-mail. Ela classifica a resolução do CFP, que desde 1999 proíbe as terapias para mudança de orientação sexual, como inconstitucional. “As próprias pessoas que querem deixar a atração pelo mesmo sexo, que faz parte da minoria das minorias, acabou por ser prejudicada. Isto não é totalmente desumano?”, questiona.

A psicóloga Marisa Lobo também ataca as regras do CFP e critica a alcunha de “cura gay”. “Essa resolução cerceia o direito do profissional. Não se trata de curar gay e sim de respeitar o indivíduo em seu desejo, ainda que seja para mudar sua condição. Não podemos prometer que a mudança ocorra, porém não podemos negar que ela aconteça — ex-gays existem e merecem respeito”, afirmou a psicóloga pelo Twitter. A ida das psicólogas e até de pessoas que afirmam ter deixado a homossexualidade após terapias tem sido articulada por deputados da bancada religiosa evangélica da Câmara. 

Gravidez segura e sem enjoo - Bruna Sensêve‏

Federação de obstetras lança norma para padronizar a prescrição de remédios contra náusea e vômito. Substância recomendada não provoca danos ao embrião 


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 03/05/2013 


Wilka Gusmão Silva, de 22 anos, já trabalhava tempo suficiente na lanchonete do primo para se acostumar ao constante cheiro de óleo de fritura na cozinha. Mas um dia, enquanto hambúrgueres, batatas fritas e outros pratos eram preparados, ela sentiu um peso no estômago. A história repetiu-se duas vezes até Wilka, aconselhada por parentes, fazer o exame de gravidez. Náuseas e vômitos inexplicáveis em jovens saudáveis são indicativo certeiro de gravidez. E Wilka, como esperado, estava havia quase dois meses com Gustavo na barriga sem saber. A surpresa alegrou a família, mas os sintomas que vieram avisá-la da novidade não a deixaram por mais seis meses.

“Não aguentava mais. Continuei enjoando com tudo, principalmente com cheiros. Até deixei de usar meu perfume”, lembra. O pior efeito colateral de que Wilka, hoje com 36 semanas de gravidez, conseguiu se livrar foi a sonolência causada pelo medicamento inibidor das constantes náuseas. “Como tenho anemia, achei que seria o pior, mas não aconteceu nada. Meu problema foi o sono de manhã. Não conseguia acordar, por causa da medicação, nem para comer”, relata. Ela ingeriu um dos medicamentos mais receitados por obstetras para enjoos durante a gestação, mas com esse efeito colateral que tanto incomoda as gestantes. O quadro, porém, deverá mudar.

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) oficializou, na semana passada, a normativa para o tratamento de náuseas e vômitos na gestação. A nova regra, apresentada durante o 46º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal, é resultado de uma revisão da literatura médica e padronizará o receituário no país. 

A recomendação oficial é de que a gestante inicialmente adote orientações dietéticas com uma combinação de piridoxina (vitamina B6) e extrato de gengibre. A diferença principal dessa droga para as prescritas atualmente está no fato de ela ser a única combinação disponível no Brasil considerada classe A pela Food and Drug Administration, agência de vigilância sanitária americana.


Segundo o ginecologista Corintio Mariani Neto, autor da normativa da Febrasgo e doutor em tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas, medicamentos da categoria A são aqueles que não oferecem perigo ou qualquer consequência para o embrião durante todo o período de gestação. “Inclusive no primeiro trimestre, que é a época mais sensível e delicada, além de ser o momento em que mais ocorrem náuseas e vômitos.” Mariani Neto explica que os remédios indicados hoje são de categoria B, o que não quer dizer que são proibidos, mas que a segurança para o bebê não é absoluta. “Eles agem diretamente no sistema nervoso central da mãe e costumam provocar sonolência. É complicado usar pela manhã e deixar a gestante dirigir um carro, ir trabalhar. A piridoxina e o gengibre não têm esse efeito”, compara.
As náuseas e os vômitos na gestação atingem de 55% até 90% das grávidas, sendo que um terço delas tem o dia a dia bastante comprometido por conta desses sintomas, que podem se manter por todo o primeiro semestre da gravidez. Publicações indicam que um pico dos enjoos ocorra entre a nona e a décima semana. “A mulher acorda com algum grau de náusea, vai ingerir alguma coisa, aumentando o enjoo. Algumas só com o sabor da pasta de dente conseguem sentir essa sensação se acentuando”, descreve Mariani Neto.

Essa é a exata descrição de Sheila de Moraes Teixeira, de 31 anos, prima de Wilka. Ela está na quarta gestação e sentiu as náuseas aumentando com o nascimento de cada filho. “É todo dia e toda hora. Não tem remédio que adiante. Cada gravidez é uma gravidez e eu só comecei a enjoar na segunda. Estou quase ganhando (tendo o bebê) e continuo passando mal”, lamenta.

A situação de Sheila é limítrofe para a hiperêmese gravídica, doença diagnosticada no início da gravidez da princesa Kate Mid-dleton, esposa do príncipe inglês William (leia Saiba mais). Ela começou tomando níveis mais leves de um composto com dimenidrinato como princípio ativo. Mesmo agora ingerindo uma alta dosagem da substância, indicada pelo médico, a mãe de Ítalo não resolveu o problema. A solução poderia estar na ondansetrona, prescrita para enjoos provocados por quimioterapia e radioterapia, e pós-operatórios. A indicação, apoiada pela Febrasgo para casos do tipo, pode parecer um pouco assustadora, mas o remédio também pertence à categoria B, só que não provoca alterações no sistema nervoso central.

Precauções essenciais
Confira as recomendações alimentares para os quadros de náuseas e vômitos na gestação

» Beber pequenas quantidades de líquidos, várias vezes ao dia, principalmente água e sucos de frutas
» Adotar uma dieta fracionada: ingerir pequenas quantidades de alimentos com mais frequência (cada duas ou três horas) em vez de grandes refeições
» Evitar ficar com o estômago vazio: fazer lanches ligeiros entre as refeições
» Ao acordar, comer um biscoito seco, do tipo água e sal,
antes de sair da cama
» Evitar alimentos gordurosos, condimentados ou picantes
» Evitar alimentos com cheiro que incomode
» Aproveitar ao máximo o melhor tempo do dia, ou seja, comer
quando se sentir melhor ou sempre que sentir fome
» Deitar-se quando estiver enjoada

Fonte: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)


Saiba mais

Mal-estar persistente
A hiperêmese gravídica é quando as náuseas e os vômitos são persistentes, frequentes e, às vezes, intensos. Ou seja, não cedem facilmente aos tratamentos simples e progridem até causar distúrbios nutricionais e metabólicos, como a perda de peso acima de 4% do valor interior e a desidratação. Outras doenças que causam náuseas e vômitos, como a infecção urinária e a apendicite, precisam ser descartadas antes do diagnóstico definitivo. A hiperêmese gravídica tem uma incidência variável e que depende das condições socioeconômicas do local. É registrado um caso em cada 500 grávidas.

Congresso em bh
Belo Horizonte sedia esta semana o 6º Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia. O evento, promovido pela Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), ocorre no Minascentro. Hoje, entre os vários temas de
debates médicos, estão o HPV (papiloma vírus humano), o parto seguro e a endometriose.



Cuidados com os suplementos



Antes de lançarem as regras para o tratamento de náusea e vômito, os representantes da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) debateram com os participantes do 46º Congresso de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal o consumo de diversos suplementos durante a gravidez, como o ácido fólico, o ômega 3 e a vitamina D. A bancária Dianne Andresa Oliveira dos Santos, de 25 anos, é uma das gestantes que seguem algumas dessas recomendações. Ela está no sétimo mês de gestação e, desde o início, toma um suplemento de ácido fólico, recomendado pelo obstetra. O ideal era que a ingestão tivesse sido iniciada antes da gravidez, mas Vitória chegou de surpresa. De acordo com uma normativa anterior da Febrasgo, o consumo de ácido fólico é indicado para prevenir dois defeitos de formação do tubo neural, que dará origem ao sistema nervoso central do bebê: a anencefalia (ausência parcial do encéfalo e da calota craniana) e a espinha bífida (formação anômala dos ossos da coluna vertebral).

A recomendação é que as mulheres que desejam ter filhos consumam 400 microgramas por dia de ácido fólico durante pelo menos um mês antes de engravidar e ao longo do primeiro trimestre de gestação, que é o período em que o tubo neural está em pleno desenvolvimento. “É feita uma norma porque ficaram comprovados problemas de proteção do bebê e que a mulher já deveria engravidar com uma quantidade reserva de ácido fólico para não haver risco. O que visamos são ações de promoção de saúde do bebê e que a mulher fique antenada quando vai procriar”, detalha o presidente da Febrasgo, Etelvino de Souza Trindade. Ele acredita que as recomendações são também uma forma de auxiliar a gestante a evitar intervenções mais agressivas no futuro, optando por ações padrão feitas de forma progressiva, como a suplementação. (BS)