domingo, 4 de maio de 2014

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 04/05/2014



 (Animal Planet/Divulgação)

Predadores De hoje ao dia 11, entre 20h e meia- noite, o Animal Planet exibe a Semana dos predadores, com uma seleção do melhor das séries que investigam animais selvagens, seus hábitats, e a sina do caçador: matar para viver. Um dos corajosos aventureiros desta empreitada é Niall McCann (foto), de Grandes e ferozes. Destaque também para o inédito Cobras mortais, que estreia terça-feira, às 22h.

Ficção e realidade Nos canais Discovery, o domingo chega com duas novidades. Às 21h, no ID (Investigação Discovery), estreia Um erro inocente, minissérie em três episódios sobre duas adolescentes acusadas do assassinato de um professor que mantinha um caso com uma delas. Às 21h30, no Discovery Home & Health, o documentário Depois da redução de estômago abre a programação especial Mês sem dietas.

Enlatados

Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br


A volta de Jack Bauer
Um dia após o lançamento nos Estados Unidos, a Fox estreia no Brasil a série 24 horas: viva um novo dia, ressuscitando o agente Jack Bauer quatro anos após o fim do 24 horas original. Na terça-feira, às 22h30, entra no ar a nova (na verdade, a nona) temporada da série, protagonizada por Kiefer Sutherland. O formato é o mesmo, com episódios de uma hora em tempo real, levando Jack até Londres. Em 2010, quando a série terminou, ele era fugitivo da Justiça. Agora, em exílio, está disposto a arriscar a vida e a liberdade para evitar outro desastre global.

Teenager – Ainda na terça-feira, às 21h20, o Glitz começa a apresentar a segunda temporada de The Carrie diaries, a versão adolescente da heroína contemporânea eternizada por Sarah Jessica Parker na saudosa Sex and the city. Este segundo ano introduz a personagem de Samantha Jones, que na trama é interpretada por Lindsey Gort. Prima da garota mais popular do colégio de Carrie, Samantha foi morar em Manhattan para investir na carreira, e ao chegar à cidade logo inicia amizade com Carrie (Anna Sophia Robb).

Reta final – O canal Universal exibe quinta-feira, a partir das 22h, os dois últimos episódios da primeira temporada de Drácula, que narra a saga do mítico personagem de Bram Stocker, agora encarnado por Jonathan Rhys Meyers. E já se preparando para a final, o canal apresenta hoje, a partir das 22h, os três episódios anteriores. Na nova versão, Drácula é um empresário norte-americano, Alexander Grayson, que chega a Londres do final do século 19 com uma aura de visionário. Só que seu objetivo é se vingar daqueles que o amaldiçoaram.

Cancelamento – Exibida pela Warner, em mais uma tentativa de fazer um sci-fi bem-sucedido, Almost human foi cancelada pela Fox americana. A história, que mistura policiais humanos e robôs, teve apenas 13 episódios. Seus criadores eram J. J. Abrams, que dispensa apresentações, e J. H. Wyman, de Fringe. Prova de que boas credenciais não seguram audiência.


De olho na telinha
Simone Castro



Osmar Prado faz o papel do coronel Epa em Meu pedacinho de chão  (Renato Rocha Miranda/Globo )
Osmar Prado faz o papel do coronel Epa em Meu pedacinho de chão

É raro, mas às vezes aparecem novelas para muitos brilharem. Foi assim em Vale tudo e Avenida Brasil, só para citar algumas. O exemplo atual é Meu pedacinho de chão (Globo). Dá gosto assistir. O remake de Benedito Ruy Barbosa, autor também do original, ganhou uma nova concepção com a direção de Luiz Fernando Carvalho. Texto, visual, trilha sonora e interpretações trazem mais uma produção inesquecível.

Luiz Fernando Carvalho já tem, entre tantas, uma marca registrada. Como poucos, além de se dedicar a cada detalhe quase que milimetricamente, também não aceita atuação “meia boca”. Com ele, os atores entram em cena muito antes da estreia, com ensaios à exaustão para que atinjam o ponto pretendido. Quem dera fossem todos os diretores assim e não teríamos tanta exibição constrangedora!

Em Meu pedacinho de chão, os destaques enchem mais do que duas mãos. Um deles atende pelo nome de Rodrigo Lombardi. O ator que já integrou o “grupo dos descamisados”, liderado por Humberto Martins e Marcos Pasquim, há muito se transformou em galã e protagonista de novelas. Com o Raj, de Caminho das Índias, conquistou o status. Mas com o capitão Téo, de Salve Jorge, deixou muito a desejar.

Agora, no papel de Pedro Falcão, o homem que banca o progresso do vilarejo de Santa Fé, e que nada tem a ver com galã, tem a chance quase que de ouro de mostrar seu lado ator e do que é capaz. E o desenrolar do personagem vai muito bem. Outra que também marca seu lugar é Juliana Paes. A Catarina, exagerada até o último fio de cabelo das perucas que usa, é bem construída e já considerada a melhor interpretação na carreira da atriz.

Mais um nome que se destaca em Meu pedacinho de chão é o de Johnny Massaro, que interpreta Ferdinando. Quem se recorda dele no remake de Guerra dos sexos, em que fez Kiko, o filho de Roberta Leone, vivida por Glória Pires, deve ter se surpreendido com a maturidade que mostra em cena agora. De outro lado, gente que parece já ter nascido fazendo o que faz, como Irandhir Santos, o Zelão, apenas dá mais um show. Em tempo: para quem ainda não se tocou, o ator é o mesmo que viveu João, na série Amores roubados.

O grande barato do trabalho de Luiz Fernando Carvalho é que não só opera verdadeiros milagres em alguns casos, como também surpreende o telespectador arrancando atuações ainda mais brilhantes dos atores veteranos, caso de Antônio Fagundes, o italiano Giácomo, Osmar Prado, o coronel Epa, Emiliano Queiroz, o padre Santo. Além de Teuda Bara (Mãe Benta), Inês Peixoto (Tereza), Ricardo Blat (Prefeito das Antas). A destacar, ainda, nomes como de Flávio Bauraqui (Rodapé), Bruna Linzmeyer (Juliana), Paula Barbosa (Gina).

Sem falar nas crianças e na descoberta de novos talentos, outra especialidade do diretor. Serelepe e Pituca são o encanto em figura de gente. Revelações absolutas da trama, os atores-mirins Tomás Sampaio e Geytsa Garcia trazem espontaneidade ao trabalho desenvolvido com eles pelo diretor. Pelo conjunto da obra, Meu pedacinho de chão já é um trunfo e tanto na carreira de Luiz Fernando Carvalho.

PLATEIA

VIVA
Shirley, de Viviane Pasmanter, começa a mostrar sua face realmente vilã na trama de Em família (Globo).

VAIA
Manoel Carlos, autor de Em família, e Jayme Monjardim, diretor de núcleo, não fazem a trama deslanchar.


Caras & Bocas
Simone Castro
simone.castro@uai.com.br



 (Estevam Avellar/Globo)


Dose dupla

Longe da telinha desde o ano passado, quando participou do programa Junto & misturado, Heloísa Périssé (foto) estará de volta este mês na tela da Globo. A atriz e humorista estreia a série Segunda dama, no papel das gêmeas Analu e Marali. De igual mesmo só a herança genética. No pensamento, uma fantasia: viver, nem que seja por um dia, a vida da outra. Separadas na infância, tinham paradeiro desconhecido. Quando se reencontram e trocam de identidade, surgem confusões hilárias. Não é para menos. Enquanto Analu é moradora de um condomínio de luxo no Rio de Janeiro, mas não tem amigas e felicidade, Marali tem que rebolar para pagar as contas. Só que, rodeada de amigos, sua vida é alegria pura. O seriado mescla romance com altas doses de humor, onde nada é o que parece ser. A trama promete surpreender quem pensa que todas as histórias sobre relações humanas e familiares já foram contadas. No elenco estão também Dan Stulbach, Elizângela Vergueiro, Hélio de la Peña, Laura Cardoso, José Loreto, Zezeh Barbosa, Carolina Pismel, e Fábio Lago, entre outros.

VIAÇÃO CIPÓ VAI SUBIR HOJE A SERRA GAÚCHA

O Viação Cipó deste domingo, às 9h, na Alterosa, encara o friozinho do Rio Grande do Sul. A atração leva o telespectador a um passeio por Gramado e Canela, a fim de mostrar os belos atrativos da Serra Gaúcha, destino cada vez mais procurado pelos mineiros. Confira ainda a beleza de uma montanha de neve.

CARLA CAMURATI FALA  SOBRE CINEMA INFANTIL

O Festival Internacional de Cinema Infantil – Fici reúne, desde 2003, filmes infantis de diversas partes do mundo. Já em sua 11ª edição, o evento conta com mais de 100 filmes de 25 países. O ABZ do Ziraldo, hoje, às 12h, na Rede Minas e TV Brasil (canal 65 UHF), vai mostrar como tudo funciona no bate-papo com a diretora Carla Camurati. Ainda na atração, a Cia. de Ideia apresenta um número de dança do espetáculo Batuque contemporâneo.

DR. DRÁUZIO VARELLA APRESENTA NOVA SÉRIE


Estreia hoje, no Fantástico da Globo, a nova série sobre câncer de mama apresentada pelo médico Dráuzio Varella. Pela primeira vez em 15 anos no programa, o médico vai falar sobre a especialidade que exerce há 40 anos. Os cinco episódios lançam o desafio de se compreender como um câncer tão curável ainda apresenta altos índices de mortalidade. Três mulheres com a doença foram acompanhadas durante seis meses.

TV CULTURA VIAJA ATÉ  AS ILHAS GALÁPAGOS

O Planeta terra estreia neste domingo, às 18h, na Cultura (TV paga)), série em quatro episódios sobre as Ilhas Galápagos. O documentário, relatado pelo naturalista britânico David Attentoroug, traz descobertas reveladoras sobre a história evolutiva do Arquipélago de Colombo, outro nome dado às ilhas, que são hábitat de espécies raras, especialmente iguanas, tartarugas e pássaros.

SÍLVIO SE DIVERTE COM ÂNCORAS DO SBT BRASIL


Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto, âncoras do SBT Brasil, participam, hoje, do “Jogo das 3 pistas” no Programa Sílvio Santos. Na atração, eles conversam com o apresentador e terão que responder o maior número de palavras com o menor número de dicas para vencer a competição. Sílvio Santos, como sempre, não perde o comentário: “Hoje nós teremos aqui uma competição extraordinária, porque nós teremos aqui a moça que está saindo nas capas das revistas, uma moça que é muito comentada em todo o Brasil, uma moça que veio de um estado que não me lembro agora”. Depois, ele completa: “Acho que ela veio da Paraíba, mas está fazendo sucesso em todo o Brasil”. E ainda disse que ela estava “extraordinária” na capa da revista Veja...

ODAIR JOSÉ REVISITA  REPERTÓRIO POLÊMICO

 (Rodrigo Clemente/EM/D.A Press-6/4/13)

O cantor Odair José (foto) sobe ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para, 36 anos depois do lançamento de O filho de José e Maria, apresentar todas as faixas do disco, considerado o mais polêmico de sua carreira. O espetáculo, realizado durante a Virada Cultural, é atração exclusiva deste domingo, às 17h, do Canal Brasil (TV paga). Nos anos 1970, durante a ditadura militar, quando artistas buscavam formas de expressar suas opiniões, Odair José conquistou muita popularidade. Com letras consideradas “subversivas”, o LP de 1977 fez dele um dos músicos mais censurados, atrás apenas de Chico Buarque. Concebido como uma ópera-rock, o show emenda canções que narram a história de um homem, filho de José e Maria, que após anos de solidão e insatisfação pessoal encontra plenitude ao entender a própria sexualidade. Na época, o artista foi ameaçado de  excomunhão pela Igreja.

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Homossexualidades

Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 04/05/2014 



Este mês, em Belo Horizonte, ocorrerá o lançamento do livro organizado pelos psicanalistas Antonio Quinet e Marco Antonio Coutinho Jorge: As homossexualidades na psicanálise – Na história de sua despatologização, da Editora Segmento Farma, com apoio da Associação Médica de Minas Gerais.

Trata-se de coletânea com 30 textos de psiquiatras e psicanalistas brasileiros e estrangeiros (franceses e americanos), que refazem o percurso da história e da clínica das homossexualidades na cultura ocidental a partir de cuidadosa revisão do tema.
A homossexualidade, segundo a também autora e psiquiatra Gilda Paoliello, era aceita na Antiguidade e depois foi condenada pela moral cristã. Posteriormente, foi merecedora de pena de morte, ainda hoje adotada em alguns países. Também a medicina do século 19 se apropriou da homossexualidade como uma patologia e só recentemente, em 1982, retirou-a do DSM-II.

O início da despatologização foi anunciado por Freud em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, em 1905, quando afirmou não ser possível tratar homossexuais visando mudar a orientação sexual do paciente. Considerava em cada um a bissexualidade psíquica e impossível transformar um homossexual em hétero.

Em 1920, Freud atende uma jovem homossexual trazida pelo pai, para que, uma vez tratada, pudesse se casar, evitando escândalo público. De fato ela se casa, como relatam as vienenses Ines Rieder e Diana Voigt no livro Desejos secretos (Companhia das Letras), mas não por ter sido curada pela psicanálise.

A coletânea As homossexualidades na psicanálise traz trabalhos apresentados no colóquio As homossexualidades na psicanálise – Pelos 40 anos de Stonewall, ocorrido em 28 de junho de 1969, e mais alguns.

Stonewall é um bar nova-iorquino que se tornou marco histórico do início do movimento de emancipação e liberação dos homossexuais e do combate à homofobia, porque os clientes reagiram vigorosamente a uma batida policial, inaugurando o movimento gay que se alastrou em todo o mundo.

Depois de 40 anos desse ato, temos a transformação nos costumes e nas leis que apontam para maior liberdade de expressão da homossexualidade e, por outro lado, grande repressão, manifestada em atos de agressões, chegando até ao assassinato de homossexuais. No Brasil, em 2011, foram registrados 266 homicídios e 1.259 denúncias de violência.

Os autores dos textos retomam a teoria psicanalítica a partir de Freud e Lacan para demonstrar a diversidade sexual e a escolha de gozo particular de cada sujeito, para assim abordar a multiplicidade das homossexualidades (praticante, latente e sublimada), tanto na teoria psicanalítica quanto na clínica e na vida cotidiana.

O livro mostra os fundamentos teóricos, éticos e clínicos da homossexualidade, denuncia os desvios teóricos na psiquiatria e psicanálise e aponta a homofobia presente tanto nas teorias quanto nas práticas clínicas. Evidencia ainda o desconhecimento que fortalece o preconceito sobre o tema da sexualidade humana na vida cotidiana.

O lançamento será em 16 de maio, às 19h30, na sala multimídia do Estado de Minas, Avenida Getúlio Vargas, 291, Funcionários. 

Matheus Nachtergaele fala da experiência de dirigir grupo de teatro em Tiradentes‏

De carne e alma
 
Matheus Nachtergaele fala da experiência de dirigir grupo de teatro em Tiradentes. Ator define seu ofício como o de um artesão e anuncia projetos para os palcos e para o cinema


Carolina Braga
Estado de Minas: 04/05/2014


Matheus mantém casa em Tiradentes há 10 anos e sua relação com a comunidade o levou a se aproximar do grupo Entre & Vista (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Matheus mantém casa em Tiradentes há 10 anos e sua relação com a comunidade o levou a se aproximar do grupo Entre & Vista

Era uma tarde chuvosa. Na casa branca, de janelas azuis e cortina de fuxicos, não há campainha. Funciona o sistema antigo: três batidinhas na porta. Com óculos de lente pequena, redondinha, blusa de manga comprida para o frio que se anuncia, Matheus Nachtergaele atende com um sorriso. “Vamos entrando”, convida. Na mesinha da sala, ao lado da poltrona, lápis de cores variadas. O caderno de desenho está no chão. Tem ali esboços do que virá a ser um cenário de teatro feito por ele, um ex-estudante de artes plásticas. É assim que ele trabalha. É nostálgico e curioso ao mesmo tempo.

É na intimidade que ele – que também é João Grilo de O auto da compadecida; o Sandro Cenoura de Cidade de Deus; o Fernando de Doce de mãe; o coronel Carvalho de Serra Pelada; o Jó de O livro de Jó e tantos outros personagens marcantes no cinema, na televisão e no teatro – revela o quanto a artesania é relevante para o ofício que escolheu. “Por mais que as tecnologias avancem, por mais que esteja na TV e no cinema, com todos os efeitos especiais e a maquiagem mais incrível, o trabalho do ator é de artesão. O personagem usa o seu corpo, suas memórias emotivas, seu espírito. É uma artesania, uma escultura de carne e alma”, define.

Há mais de 10 anos Matheus Nachtergaele é morador esporádico de Tiradentes, no campo das vertentes. Tinha a pequena casa aos pés da Igreja Matriz como refúgio para recarregar as baterias. Mas o que até então era lugar de descanso se converteu agora em palco para o reencontro com o teatro. A convite do Festival Tiradentes em Cena, o ator, que foi um dos integrantes da primeira formação do Teatro da Vertigem, vai dirigir o grupo local, o Entre & Vista, atuante há mais de 20 anos na cidade. A estreia de Matheus no posto está marcada para o dia 24, no encerramento da maratona de artes cênicas que começa dia 16 na cidade colonial. O texto escolhido para a montagem é O país do desejo do coração, do poeta irlandês William Butler Yeats.

Matheus, um trabalhador incansável, reconhece que criou muito pouco para os palcos. Desde que saiu do Vertigem, em meados de 1990, trabalhou com Daniela Thomas em A gaivota (1998), com Paulo José em A controvérsia (2000) e ao lado de Cibele Forjaz em Woyzeck, o brasileiro (2003). E só. “Faço pouco porque acho que é uma cerimônia e precisa de grande dedicação. Não é muito possível para meu temperamento fazer televisão e teatro, cinema e teatro. Esse ‘e teatro’ eu não consigo”, confessa.

Nas telas Desde 1997, Matheus vem emendando um trabalho no outro. Começou como Jonas em O que é isso companheiro? e dali em diante foram 48 produções na televisão e no cinema. São 27 filmes, entre eles Central do Brasil (1998), O primeiro dia (1998), Amarelo manga (2002), Narradores de Javé (2003) e Árido movie (2005). Só peso pesado. Em 2008, dirigiu A festa da menina morta. Na televisão, entre os trabalhos marcantes estão o Cintura Fina em Hilda Furacão (1998) e Carreirinha, em América (2005).

Na lista dos filmes que estão por vir tem o quarto longa com o diretor pernambucano Cláudio Assis. Matheus estará na adaptação que o cineasta de A febre do rato fará do livro biográfico de Xico Sá, Big jato. Roda depois da Copa do Mundo e já emenda com o novo projeto da diretora paulistana Anna Muylaert, o longa Mãe só há uma. Passados esses compromissos, a ideia é deixar a agenda livre no segundo semestre para se dedicar a um projeto teatral inédito, cujos direitos ainda estão em negociação.

A saudade do palco anda incontrolável. Com cuidado, ele explica que o trabalho na TV tende a deformar a relação com o público. O acentuado culto à celebridade faz com que as pessoas cheguem deslumbradas para falar com os atores. Para quem é cria do palco, foi formado por Antunes Filho e Antônio Araújo, isso é um incômodo.

“O contato verdadeiro e profundo que o teatro dá é diferente. Estou com saudade de amar meu público de verdade e de toda noite fazer para eles. Estou cansado de fugir das pessoas porque elas estão com câmeras fotográficas”, desabafa. Não há julgamento em sua avaliação, apenas uma sensação de estranhamento. Por mais que o tempo de carreira avance e as experiências se multipliquem, fica algo que permanece difícil de lidar. “Ainda é assustador. Mantenho essa ideia de que é uma artesania. Cada trabalho é um processo. Às vezes me confundo e lembro que é um ofício”. E dos mais sagrados.

Cerimônia Para Matheus Nachtergaele, depois do advento da fotografia, do cinema, da televisão e de todas as tecnologias, pouca coisa ficou para o teatro. “Mas o que sobrou é só dele. Tem a ver com cerimônia.” O entendimento que tem da arte de que ela se assemelha a um rito religioso. “Talvez por desconfiar um pouco da maioria das igrejas atuais, acredito que o teatro seja o último lugar da verdadeira delicadeza humana. É quando, ao vivo, nos reunimos para celebrar, para pensar, meditar, conhecer o homem, questionar. É incrível”. É justamente o que ele pretende fazer com o grupo Entre & Vista.

O olho brilha ao falar do projeto. Há anos, desde que frequentou a Escola de Arte Dramática da USP, Matheus guarda o texto de O país do desejo do coração esperando a oportunidade de lançá-lo no Brasil. Pensou em fazer com o grupo paraibano Piolim, mas a ideia não vingou. Quando recebeu o convite do evento mineiro, nem titubeou. Para contar a história de uma família simples, que é assaltada pelo desejo de morte, o ator retoma temas que sempre o interessaram.

Para Matheus Nachtergaele, ao fazer arte, de certa forma está em busca da resposta para uma pergunta fundamental: afinal, o que é a fé?. “Essa questão está no Jó, no Woyzeck, no Paraíso perdido, muito na Festa da menina morta. É a minha pergunta: quem somos nós diante disso tudo?. O que é crendice, o que é verdade? O que é superstição? Deus existe? Quem é o homem simples? A simplicidade inclui só sabedoria ou também a ignorância?”, questiona. Para ele, com o teatro também é assim: “Todo grande teatro é uma pergunta”.

“Estou com saudade de amar meu público de verdade. Estou cansado de fugir das pessoas porque elas estão com câmeras fotográficas”

“Talvez por desconfiar um pouco da maioria das igrejas atuais, acredito que o teatro seja o último lugar da verdadeira delicadeza humana”


Conversas ao pé do ouvido Para montar O país do desejo do coração, o diretor Matheus Natchergaele convidou atores a mergulharem no texto e na criação da dramaturgia do espetáculo, escrito por Yeats
Carolina Braga

Em sua casa em Tiradentes, Matheus Nachtergaele cuida de todos os detalhes da produção e chega a desenhar os cenários com lápis de cor (Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D. A Press)
Em sua casa em Tiradentes, Matheus Nachtergaele cuida de todos os detalhes da produção e chega a desenhar os cenários com lápis de cor

Se for para escolher um estilo para o diretor Matheus Nachtergaele, ele é adepto da delicadeza. Os ensaios com o Entre & Vista começaram há cerca de 20 dias. No primeiro momento, o grupo se dedicou ao entendimento do texto de O país do desejo do coração. Somente agora as cenas começam a ganhar corpo. O Estado de Minas acompanhou com exclusividade a apresentação do primeiro esboço da encenação de uma das passagens escritas por Yeats.

“É muito profundo. Tanto que o trecho que vamos apresentar demorou para entrar na minha cabeça. É extremamente subjetivo”, comenta o ator Sérvulo Matias Filho. Nos jardins internos do Centro Cultural Yves Alves, ele, George José Veloso Cavalcante, Renata De Lucca, Tânia Mara, Elisa Firmino Barbosa, Anderson José Matias e Francisco de Assis Resende transitam em procissão. 

Idealizadora do Tiradentes em cena, Aline Garcia aposta na diversificação do evento
Idealizadora do Tiradentes em cena, Aline Garcia aposta na diversificação do evento

Atento aos detalhes, o diretor observa a proposta dos atores. Em seguida, se dirige a cada um deles e vai ajustando a cena, falando baixo, ao pé do ouvido. O momento é de imersão. Na mesma noite, ainda há trabalho de corpo e mais debate sobre a dramaturgia.

“Estou conhecendo os atores do grupo, seus desejos, e procurando fazer uma encenação para eles, para que se sintam em casa, no seu palco. Quero que saia o que for possível e acho que o que é possível para eles é muito bonito”, diz Matheus. Para Sérvulo, o encontro com Matheus Nachtergaele é também a oportunidade para a profissionalização da companhia. Depois da apresentação no festival Tiradentes em cena, O país do desejo do coração volta ao cartaz em julho, no Centro Cultural Yves Alves, mesmo espaço em que faz sua estreia no dia 24 deste mês.


Canções de Bibi e Ponto de Partida

Atencioso, o ator acompanha o desenvolvimento das cenas e conversa com cada ator envolvido (Juarez Rodrigues/EM/D. A Press)
Atencioso, o ator acompanha o desenvolvimento das cenas e conversa com cada ator envolvido

A segunda edição do Tiradentes em cena tem uma lista de desafios a superar. O maior deles é chamar o público ligado às artes cênicas para a cidade, conhecida por eventos na área de cinema, gastronomia e até motociclismo. Aline Garcia, idealizadora e coordenadora do festival, diz que pretende explorar a diversidade de palcos alternativos disponíveis na cidade. Como está em início de carreira, é natural que o encontro ainda esteja construindo a própria identidade.

O Tiradentes em cena homenageará este ano o grupo Ponto de Partida, de Barbacena. As principais atrações vão se dividir entre o pequeno teatro do Centro Cultural Yves Alves, com capacidade para 120 pessoas, e o palco montado na praça principal da cidade. “Montamos como se fosse em uma sala fechada, com toda a iluminação necessária”, detalha.

É nele que Bibi Ferreira se apresenta na noite de encerramento. Ela estará acompanhada da Orquestra de São João del-Rei, sob a direção de cena de João Falcão, na montagem de Histórias e canções,  espetáculo comemorativo dos 90 anos de vida e 70 de carreira. Bibi interpretará clássicos de Chico Buarque, Noel Rosa, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, entre outros. No mesmo palco, os atores homenageados do Ponto de Partida apresentarão Travessia, com destaque para a obra de Milton Nascimento.

A abertura ficará a cargo da estreia da atriz de Juiz de Fora, Suzana Nascimento. Ela apresenta Calango deu, sob a direção de Isaac Bernat. Entre os destaques da programação, a reestreia do musical Raul fora da lei – a história de Raul Seixas, com Roberto Bontempo; Eu vi o sol brilhar em toda a sua glória, com o ator indicado ao prêmio Shell por São Paulo, João Paulo Lorenzon, além da performance Dos meus olhos saem rosas, de Marise Dinis. Ela se apresentará dentro do Museu da Liturgia. A entrada para os espetáculos é franca.

O objetivo, segundo Aline Garcia, é montar uma programação capaz de agradar tanto a população de Tiradentes como os visitantes. Outro desafio é diversificar as atrações: que não seja de apenas uma região do país ou de estilo único. Por isso, os interessados em se apresentar foram convidados a enviar propostas por meio do site www.tiradentesemcena.com.br. A organização recebeu 382 propostas.

Tiradentes em Cena
De 16 a 24 deste mês. Programação, inscrição e informações: www.tiradentesemcena.com.br

Oficinas
Além da apresentação de espetáculos, o festival oferece cinco oficinas e duas palestras. Lena Cunha é a convidada para falar sobre o artista como gestor de sua carreira e negócio. Já o ator Roberto Bontempo ministra curso de dois dias sobre interpretação. Todas as atividades têm entrada franca.

Síndrome de pós-pólio: a segunda batalha - Luciane Evans

Algumas pessoas que tiveram poliomielite na infância podem enfrentar dores e complicações na vida adulta. Como a pólio foi erradicada, há uma grande desinformação sobre a doença, principalmente no meio médico

Luciane Evans
Publicação: 04/05/2014 04:00
Maria Eunice Santana, de 49 anos, optou pelas muletas para se locomover: %u201CA medicina não se preparou para o nosso futuro%u201D, lamenta a funcionária pública (Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Maria Eunice Santana, de 49 anos, optou pelas muletas para se locomover: %u201CA medicina não se preparou para o nosso futuro%u201D, lamenta a funcionária pública


“Só descobri o que tenho por meio da internet”, revolta-se a funcionária pública Maria Eunice Macedo, de 49 anos. Infectada pelo vírus da poliomielite na infância, o que lhe trouxe como sequelas uma perna atrofiada e problemas na coluna, ela, recentemente, começou a sentir dores insuportáveis pelo corpo e diz estar perdendo aos poucos os movimentos do braço esquerdo. Procurou vários especialistas, que não lhe deram um diagnóstico exato. Por sites e conversas com outros portadores da doença, Eunice chegou a conclusão de que sofre da síndrome da pós-poliomielite (SPP). Considerada a segunda batalha de alguns que foram infectados pela pólio, essa nova condição vem carregada de complicações graves aos pacientes e não é conhecida por muitos médicos, o que dificulta ainda mais o tratamento. “A medicina não se preparou para o nosso futuro”, lamenta a funcionária pública.

E ela tem razão. “O estado, a medicina e a sociedade foram omissos em relação a esses pacientes da pólio. Fomos negligentes”, critica o neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Acary Souza Bulle Oliveira. Membro fundador da Associação Brasileira da Síndrome do Pós -Pólio, o especialista diz que, com a chegada da vacina no país em 1989 e a erradicação da doença, atualmente os cursos de medicina não falam para os futuros profissionais sobre a poliomielite, ainda que haja muitos pacientes sobreviventes. Segundo Oliveira, há aqueles que tiveram comprometimento dos membros, geralmente inferiores, e carregam sequelas desde leves até graves. Desses, 70% vão enfrentar a segunda batalha e, geralmente, são mulheres que sofreram a poliomielite aos 3 anos de idade.

Mas essas pessoas envelheceram, algumas foram submetidas a cirurgias e todas tiveram que se adaptar às limitações que o vírus trouxe. “São pessoas lutadoras, que foram para o mercado de trabalho e levaram a vida, mesmo com suas dificuldades de locomoção”, comenta Acary. Mas, agora, depois de 30, 40 anos da doença original, para alguns, conforme diz o especialista, os corredores começaram a ficar maiores e as escadas parecem mais altas. “Essa fraqueza mais acentuada não vem sozinha. Ela traz dores, fadiga, transtornos de sono. Essa pessoa se vê mais limitada, e aí há o risco de desenvolver uma depressão e a ansiedade”, acrescenta o neurologista. São esses sintomas que fazem parte da chamada síndrome da pós-poliomielite. “Ninguém sabe, ninguém fala. Para aliviar minha dor, tomo analgésico todos os dias. Você procura um ortopedista e ele fala que houve uma lesão no tendão e pronto”, reclama Maria Eunice.

 Definida como uma desordem neurológica, ela produz um conjunto de manifestações clínicas. “Mas não quer dizer que todos que tiveram a poliomielite a terão. Há cinco décadas, as pessoas com poliomielite morriam mais cedo. Hoje em dia, com os avanços da medicina, elas estão vivendo mais, assim como a população em geral. Então, quando essas pessoas chegam aos 40 anos, a síndrome aparece”, afirma a neurologista e presidente da Sociedade Mineira de Neurologia, Rosamaria Peixoto Guimarães.

Essa segunda batalha da pólio tem como sintomas a fraqueza, que pode ser progressiva, fadiga, dor muscular ou articular, nova atrofia muscular, insuficiência respiratória, alterações no sono e intolerância ao frio. Rosamaria destaca, como principais, a fraqueza nos membros já afetados pela pólio, dores musculares, fadiga e cãibra. “A poliomielite, geralmente, causa atrofia nos membros inferiores. A pessoa consegue viver estável muitos anos da sua vida. Quando vem a síndrome, é como se houvesse uma piora”, acrescenta Rosamaria. “Há uma exacerbação das dores musculares, há fraquezas, pode aparecer até mesmo uma dor de cabeça intensa. Todos os sintomas dificultam as atividades diárias do paciente”, comenta o médico fisiatra, reumatologista e o presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e de Reabilitação, Jomar de Abreu Cunha.

AUSÊNCIA DE ESTATÍSTICAS Há várias descrições de casos da síndrome pós-pólio (SPP) desde 1875, especialmente relacionados a epidemias que ocorreram na primeira metade do século 20, em várias partes do mundo. Foi, contudo, na década de 1970 e início dos anos 1980 que se observou uma procura crescente de sobreviventes da poliomielite aos serviços de saúde relatando esses novos sintomas, primeiramente, interpretados como de natureza psicológica. Atualmente, não existem estatísticas precisas sobre o número de portadores da SPP no Brasil. Somente em 2010 a enfermidade foi incluída no Catálogo Internacional de Doenças (CID 2010), graças a um trabalho desenvolvido por pesquisadores brasileiros na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Acary Souza Bulle Oliveira é um dos responsáveis pelo ingresso da síndrome na CID, que tem como código o G14. “A pós-pólio não pode ser considerada uma sequela da poliomielite. É uma condição, o que permite à pessoa que sofre com a síndrome se aposentar”, comenta.

QUEM DEVE ESTAR ALERTA PARA A DOENÇA

» Quem teve poliomielite aguda – ou paralisia infantil – quando criança ou adolescente;

» É mais comum que a síndrome pós-pólio se manifeste em pessoas com histórico de poliomielite paralítica grave. Mas aquelas que ficaram com sequelas mínimas, quase imperceptíveis, como um músculo um pouco mais frágil, também podem desenvolver a doença;

» Há casos de pessoas com pós-pólio que tiveram poliomielite, mas não sabiam, pois o vírus não chegou a provocar paralisia. Poucos casos são conhecidos, mas eles existem.



SINTOMAS MAIS COMUNS

Os sinais da doença são semelhantes aos do envelhecimento precoce

» Fraqueza muscular, tanto em músculos afetados previamente pela poliomielite como em partes que não foram acometidas
» Dor nos músculos e articulações
» Fadiga
» Intolerância ao frio
» Dificuldades respiratórias
» Problemas para dormir


DEPOIMENTO: Simone Conceição Santos Teodoro - de 42 anos

“Aposentei-me por invalidez. Contaminada pela poliomielite quando tinha 1 ano e seis meses, estou desde os 33 em uma cadeira de rodas, por recomendação médica. Agora, sofro de insônia, dores musculares e tenho dificuldades para me movimentar. Minha musculatura está cada dia mais fraca. Já passei por médicos que me disseram que tinha que me acostumar com a dor, e que seria para a vida inteira”


Reativação do vírus é uma das hipóteses para o mal


Estado de Minas: 04/05/2014


Mas por que essa síndrome aparece? A medicina não tem uma explicação exata para a causa. Algumas hipóteses apontam que seria uma reativação dos vírus décadas depois. Porém, Acary cita outra mais aceita. Segundo ele, a causa está justamente naquilo que ajuda a melhorar a pólio: os exercícios físicos. “A poliomielite mata neurônios que estão na frente da medula nervosa. Se o vírus matar todos, a pessoa não se mexe mais. Se mata alguns, ela mexe pouco, e se houve a morte de 50% deles, há a fraqueza dos sobreviventes. Esses que sobrevivem têm que fazer o papel daqueles que morreram. Então, ele trabalha para si e para o outro. É um neurônio que não tira férias. Quando a pessoa se exercita na reabilitação – tratamento essencial para a vítima do pólio –, o neurônio tem que trabalhar, muitas vezes, em dobro. Mas chega o momento em que ele se esgota, geralmente, 35 anos depois que o vírus infectou o paciente. E aí aparece a síndrome”, aponta, dizendo que, por isso, o fisioterapeuta tem que ter a medida certa dos exercícios – não pode ser leve demais, para não atrofiar os músculos, e nem em excesso, para não ‘cansá-los’.

As dificuldades em definir o problema levam os pacientes a percorrer um longo caminho de especialistas da medicina, começando geralmente pelo ortopedista. “Os sobreviventes da pólio têm problemas ao longo da vida, como quedas e outros, e o ortopedista é sempre procurado. Recomendo aos pacientes se informarem bastante e instigar os médicos. E não aceitem justificativas sem muita consistência”, aconselha o neurologista da Unifesp, dizendo que, em São Paulo, há um projeto de criação de um centro voltado para o tratamento multidisciplinar. Geralmente, os médicos responsáveis pela diagnóstico e tratamento da síndrome são os neurologistas e fisiatras.

Segundo o fisiatra Jomar de Abreu, o diagnóstico para a síndrome é totalmente clínico. “Não há exames laboratoriais que apontem o mal”, comenta, chamando a atenção para um dos sintomas da síndrome que é a falta de capacidade de engolir, resultado da fraqueza muscular. Ele aponta ainda aumento de peso nesses pacientes. “Não se sabe se é devido à imobilidade ou se realmente há uma alteração metabólica. Há medidas preventivas para a síndrome, como o uso de órteses para estabilizar as articulações e não sobrecarga nos exercícios físicos.” Conforme o neurologista especializado em doenças neurológicas autoimunes Guilherme Olival, muitos conseguem se recuperar e voltar a ter as mesmas condições que tinham antes da síndrome. “Hoje, o tratamento mais adequado seria a reabilitação, com medicações para as dores”, diz.

Células de porco ajudam na regeneração do tecido muscular

Músculos regenerados com células de porco Procedimento criado por cientistas dos EUA destina-se ao tratamento de lesões graves. O material é implantado nas feridas dos pacientes e acelera a recuperação dos tecidos 
 
Vilhena Soares
Estado de Minas: 04/05/2014




Quando graves, quedas e torções de membros podem provocar danos sérios à musculatura, prejudicando movimentos exigidos em atividades do dia a dia, como dobrar uma perna e correr. A reversão de problemas como esse nem sempre é a desejada. Um grupo de pesquisadores americanos, porém, desenvolveu uma técnica de regeneração do tecido muscular com resultados positivos. A técnica baseia-se na aplicação de células retiradas de porcos no local do machucado e tem potencial de ser aplicada em tratamentos de outros tecidos do organismo humano.

De acordo com Stephen Badylak, um dos autores da pesquisa divulgada na revista Science Translational Medicine, participaram do experimento voluntários com diferentes tipos de perda da massa muscular em decorrência de lesões, também detectadas em grupos musculares distintos. Os cinco voluntários receberam uma matriz extracelular – substância que preenche o espaço entre as células e tem por componentes fibrosos – retirada da bexiga de porcos.

Após a cirurgia, os pacientes foram tratados com fisioterapia. A junção de tratamentos, de acordo com os cientistas, resultou em melhora de movimentação em todos os operados. Os pesquisadores explicam que a matriz extracelular induziu as células-tronco dos participantes a se tornarem células musculares.

Badylak avalia que uma das grandes vantagens da técnica é de, diferentemente das tradicionais, cultivar células-tronco em um ambiente externo ao corpo e depois injetá-las em pacientes. Dessa forma, a pessoa recebe estruturas “indutoras” de regeneração diretamente na ferida, simplificando e agilizando a reação do corpo. “Utilizar uma abordagem que não envolve a entrega de todas as células é importante porque simplifica muito os obstáculos regulatórios que precisariam ser superados e também o custo da terapia. Conseguimos um método eficaz para a restauração muscular vascularizada”, explica o também professor do Departamento de Cirurgia da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores acreditam que a matriz extracelular funciona como um andaime biológico. “A ciência por trás desse estudo mostra que o material implantado é quimiotático, ou seja, os peptídeos liberados por ele servem de dispositivo para as células-tronco do próprio corpo serem recrutadas para o local da lesão e, em seguida, poderem se diferenciar”, explica Badylak.

Patrícia Prank, coordenadora do Laboratório de Hematologia e Células-Tronco da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que a técnica usada no estudo é uma alternativa de tratamento já explorada por outros pesquisadores da área. “O andaime tem esse nome justamente por servir como um suporte para o crescimento de células-tronco. Ao ser implantado, atrai as células até o local em que o tecido precisa ser regenerado. No nosso laboratório, produzimos uma matriz biodegradável (ainda em testes). No caso desses cientistas, eles retiraram o material de porcos, possivelmente pela semelhança dos organismos e conseguiram sucessos reais em humanos”, relata.

Reabilitação imediata Além do impulso da matriz celular, a fisioterapia a que os participantes foram submetidos exerceu papel importante nos resultados atingidos. Os cientistas frisam que, sem o acompanhamento quase imediato, os músculos não teriam recuperado o desempenho. “Esses pacientes foram colocados em reabilitação em um prazo de 24 a 48 horas após a cirurgia. É nesse intervalo que as células entram e se anexam. Depois, o paciente vai para a terapia física, ele se ‘estica’ e as células se carregam e começam a trabalhar”, detalha Badylak.

Ricardo Garcez, pesquisador do Laboratório de Células-Tronco e Regeneração Tecidual da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que as atividades físicas servem como mais um estímulo a fim de que os músculos recuperem a elasticidade. “O tecido muscular está em movimento constante. À medida que ele se movimenta, mais elasticidade terá. É um trabalho conjunto entre a cirurgia e a recuperação”, destaca.

O cientista brasileiro também avalia que o trabalho americano se destaca por não ter gerado efeitos colaterais. “Essa técnica mostra resultados muito positivos, principalmente por não ter nenhuma rejeição às células implantadas, que também acabam se degradando com o tempo, sem nenhum dano ao corpo humano”, complementa.

Badylak acredita que, se as feridas tratadas pela técnica tivessem sido recentes, os resultados seriam ainda melhores. Como estariam “abertas”, a ação da matriz extracelular seria facilitada. O trabalho ainda precisa de mais aprofundamento, como o teste em um número maior de pacientes, mas o pesquisador tem esperanças de que o procedimento seja benéfico para outras partes do corpo humano. “Quando você quiser mover essas células para outros tecidos, como o do coração, do trato gastrointestinal ou do reprodutivo, os conceitos são os mesmos e os fenômenos vão se repetir. Acho que a possibilidade existe, a lógica está lá, mas, como qualquer boa ciência, vai precisar ser provada. Acreditamos que esse é um dos mecanismos mais importantes na área de remodelação construtiva.”

Eduardo Almeida Reis - Imperdoável‏

Se discursa de improviso, a mídia grava sua fala, transcreve e mostra que não dá para entender nada. Quem foi que disse que discurso brasileiro deve ser entendido?



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/05/2014





Coisa que não consigo entender é o sentimento ou demonstração de aversão, a antipatia da imprensa com a senhora Rousseff, a má vontade, a birra, a implicação. Se a ilustre belo-horizontina lê um discurso citando o Velho do Restelo é criticada pela mídia, que diz, com inteira razão, que ela não sabe quem foi Camões e muito menos a mensagem do Velho do Restelo, sobre a qual não se entendem os melhores e mais respeitados camonianos.

Se discursa de improviso, a mídia grava sua fala, transcreve e mostra que não dá para entender nada. Quem foi que disse que discurso brasileiro deve ser entendido? O povão baba para a figura do orador e nunca entende absolutamente nada, enquanto as raras pessoas esclarecidas se lixam para o besteirol ornejado, mas a imprensa é impiedosa e vai buscar trechos como estes do dia 15 de março no próprio Blog do Planalto: “A avaliação nossa é que houve, de dezembro a fevereiro, um fenômeno em cima da Bolívia, entre a parte sul, se eu não me engano, centro e a parte norte ou sul – a centro eu tenho certeza, a sul eu esqueci, se é sul ou se é norte. Bom, mas o que ocorreu ali? Ocorreu uma imensa concentração de chuvas. Nós temos dados de 30 anos, de 30 anos. Nesses 30 anos, não houve nenhum momento, nenhuma situação tão grave quanto essa, em termos de precipitação pluviométrica num só lugar”.

“E aí eu até disse aqui uma fábula, que vocês conhecem a fábula do lobo e do cordeiro. O lobo, na parte de cima do rio, olhou para o cordeiro e disse: “você está sujando a minha água”. O cordeiro respondeu: “não estou, não, eu estou abaixo de você, no rio”. A mesma coisa é a Bolívia em relação ao Brasil. A Bolívia está acima do Brasil em relação à água. Nós não temos essa quantidade de água devido a nós, mas devido ao fato de que os rios que formam o Madeira se formam nos Andes, ou em regiões altas, se eu não me engano, o Madre de Dios e o Beni, em regiões… em região eu acho que de altiplano um pouco mais baixo, o Mamoré”.

“Este país é um imenso país, não é? Vocês vejam só, eu fiquei olhando o Rio Madeira, fiquei olhando… estive lá no Nordeste, o Nordeste está também na pior seca, tem gente que diz que é dos últimos 50, e tem lugares que dizem que é dos últimos 100 anos. Nós temos tido fenômenos naturais bem sérios no Brasil. O fenômeno natural, a gente tem sempre de lembrar, é possível conviver com ele, não é combater ele, nós não queremos combater chuva, nós queremos conviver com a chuva”.

“Estava me dizendo o ministro da Integração, para a gente ter uma ideia: Rio São Francisco, de Sobradinho até o mar, vocês sabem quantos metros tem?. Tem 300 metros de desnível. Do Rio Madeira – eles fizeram um cálculo, foi um cálculo… é aproximado, viu, gente? Depois ninguém vai me perguntar assim: “presidente, é trezentos e tanto”? Por favor, é aproximado, em torno de 300 metros. E do Madeira, daqui de Porto Velho, até o mar, o mar, é 60 metros. É essa a diferença. Então, eu quero explicar o seguinte: não é possível olhar para essas duas usinas e acharem que elas são responsáveis pela quantidade de água que entra no Madeira, a não ser a que a gente acredite na fábula, na história do lobo e na fábula do lobo e do cordeiro”.

O mundo é uma bola

4 de maio de 1493: concluída a bula papal Inter Coetera II, que dava aos espanhóis todas as terras 100 léguas a Oeste do Sul dos Açores e Cabo Verde. Em 1675, durante o reinado de Carlos II, da Inglaterra, criação do Observatório de Greenwich. Em 1776, Rhode Island se torna a primeira das Treze Colônias a renegar fidelidade ao rei Jorge III, da Inglaterra. Em 1814, Napoleão Bonaporte chega a Portoferrado, na Ilha de Elba, onde tem início o seu exílio. Napoleão tinha coisas simpáticas, entre as quais gostar do cheiro de Josefina, sua primeira mulher, dispensando os banhos da viuvinha antes dos finalmentes. Amores têm cheiros.

Em 1858, Benito Juárez estabelece Veracruz como capital do México. Benito Pablo Juárez Garcia (1806-1872) foi cinco vezes presidente mexicano, derrubou o imperador, restaurou a república, esforçou-se para modernizar o país e é frequentemente lembrado como o maior e mais amado líder mexicano. Foi o primeiro líder sem passado militar e o primeiro indígena a servir como presidente do México e comandar um país ocidental em mais de 300 anos. Em 1859, nacionalizou os bens do clero. Sei que o leitor, a exemplo do philosopho, não tem o menor interesse pelos feitos de Juárez. Peço desculpas, mas precisava encher linguiça. Hoje é o Dia do Calculista Estrutural, que erra de vez em quando e mata gente à beça.

Ruminanças


“Serviço sem recompensa é castigo” (George Herbert, 1593-1632).