Maria Ester Maciel
Estado de Minas: 11/03/2014 0
Quase sempre, quando
caminho pela minha rua, vejo-o sentado na pequena murada do canteiro que
fica na esquina. É um senhor já de idade, pequeno e de olhos ternos. Ao
seu lado, um saco cheio de latinhas recolhidas pelo bairro e outro com
verduras e frutas recebidas dos moradores das redondezas. Seu nome é
José. Seu Zé para os que o conhecem. Já um vizinho meu, o Pedrinho, o
chama de Zé dos Cachorros. Isso porque o simpático senhor da esquina
anda sempre acompanhado de três cães vira-latas: o Leão, a Pretinha e o
Pingo. Antes eram seis, mas como ele mesmo me contou um dia, os outros
foram “envenenados por uns covardes” lá do Aglomerado da Serra, onde
mora.
Seu Zé enche os olhos d’água quando fala dos seus cachorros envenenados. “Eles eram muito amigos; não mereciam o que fizeram com eles”, disse-me quando lhe perguntei pelos três faltantes. Contou-me, depois, que Leão está com 8 anos; Pretinha, 7; e Pingo, 5. “Tenho eles como meus filhos”, completou, virando-se para os três, que, naquele momento, dormiam aos seus pés.
O que mais me chama a atenção no seu Zé é que ele, mesmo necessitado, não pede nada a ninguém. Apenas fica lá, sentado na esquina, olhando o movimento das ruas. Às vezes, os cães latem para os carros que se aproximam. Já vi, inclusive, uma cena engraçada: um motorista tentava seguir a rua na contramão, mas os cães o impediram, atravessando na frente do carro, com latidos intermináveis. Na hora, pensei: “Não fariam feio se trabalhassem para a BHTrans”.
Exatamente pelo fato de seu Zé não me pedir nada quando passo por ele, é que paro e lhe dou uns trocados. Quando estou com tempo, vou lá em casa e busco um pouco de ração para os cães. Ele agradece com ênfase e me manda ir com Deus, balançando as mãos, como se me benzesse com o gesto. Nunca deixo de dirigir a palavra a ele, geralmente com alguma pergunta sobre os cães, que, de uns tempos para cá, começaram a abanar o rabo ao me ver. Seu Zé aceita a conversa, meio tímido, e responde a todas as perguntas com gentileza. Nunca quis saber meu nome, mas sempre me cumprimenta como amigo, mesmo quando passo apressada do outro lado da rua.
Aliás, andar a pé é muito bom também para isto: torna possíveis certos encontros quase improváveis de ocorrer de outro modo. E andar na companhia de um cachorro é ainda melhor nesse contexto. Perdi a conta das vezes em que já parei para conversar com alguém na rua por causa de interesses “cachorrais” compartilhados. Digo que Lalinha, minha companheira canina – mesmo com sua rabugice da idade – tem sido responsável por algumas boas amizades feitas nas vizinhanças, todas decorrentes do meu hábito de passear com ela todas as manhãs. Quem tem cachorro ou gosta de cães geralmente adora conversar com quem está na companhia de um, seja no elevador, na porta do prédio ou no meio da rua.
Mas voltando ao seu Zé dos Cachorros, meu carinho por ele é enorme. Sinto que é um homem de alma generosa, capaz de passar uma energia muito boa a quem dele se aproxima. Tem uma simplicidade cativante. Nunca perguntei nada sobre sua vida, nem pretendo fazer isso. Apenas quero tê-lo por perto, na esquina, com seus três cachorros e sua grande dignidade.
Seu Zé enche os olhos d’água quando fala dos seus cachorros envenenados. “Eles eram muito amigos; não mereciam o que fizeram com eles”, disse-me quando lhe perguntei pelos três faltantes. Contou-me, depois, que Leão está com 8 anos; Pretinha, 7; e Pingo, 5. “Tenho eles como meus filhos”, completou, virando-se para os três, que, naquele momento, dormiam aos seus pés.
O que mais me chama a atenção no seu Zé é que ele, mesmo necessitado, não pede nada a ninguém. Apenas fica lá, sentado na esquina, olhando o movimento das ruas. Às vezes, os cães latem para os carros que se aproximam. Já vi, inclusive, uma cena engraçada: um motorista tentava seguir a rua na contramão, mas os cães o impediram, atravessando na frente do carro, com latidos intermináveis. Na hora, pensei: “Não fariam feio se trabalhassem para a BHTrans”.
Exatamente pelo fato de seu Zé não me pedir nada quando passo por ele, é que paro e lhe dou uns trocados. Quando estou com tempo, vou lá em casa e busco um pouco de ração para os cães. Ele agradece com ênfase e me manda ir com Deus, balançando as mãos, como se me benzesse com o gesto. Nunca deixo de dirigir a palavra a ele, geralmente com alguma pergunta sobre os cães, que, de uns tempos para cá, começaram a abanar o rabo ao me ver. Seu Zé aceita a conversa, meio tímido, e responde a todas as perguntas com gentileza. Nunca quis saber meu nome, mas sempre me cumprimenta como amigo, mesmo quando passo apressada do outro lado da rua.
Aliás, andar a pé é muito bom também para isto: torna possíveis certos encontros quase improváveis de ocorrer de outro modo. E andar na companhia de um cachorro é ainda melhor nesse contexto. Perdi a conta das vezes em que já parei para conversar com alguém na rua por causa de interesses “cachorrais” compartilhados. Digo que Lalinha, minha companheira canina – mesmo com sua rabugice da idade – tem sido responsável por algumas boas amizades feitas nas vizinhanças, todas decorrentes do meu hábito de passear com ela todas as manhãs. Quem tem cachorro ou gosta de cães geralmente adora conversar com quem está na companhia de um, seja no elevador, na porta do prédio ou no meio da rua.
Mas voltando ao seu Zé dos Cachorros, meu carinho por ele é enorme. Sinto que é um homem de alma generosa, capaz de passar uma energia muito boa a quem dele se aproxima. Tem uma simplicidade cativante. Nunca perguntei nada sobre sua vida, nem pretendo fazer isso. Apenas quero tê-lo por perto, na esquina, com seus três cachorros e sua grande dignidade.