terça-feira, 24 de setembro de 2013

EMMY » Influências da rede

Estado de Minas: 24/09/2013 



Atores de Breaking bad celebram a vitória no Emmy (Jason Merritt/AFP)


Atores de Breaking bad celebram a vitória no Emmy

O aclamado drama de televisão Breaking bad ganhou seu primeiro prêmio Emmy importante na noite de domingo, às vésperas do fim da sombria história do professor de química que se torna produtor e traficante de drogas. Resta apenas um episódio da sexta e última temporada para ir ao ar pelo canal AMC, no domingo. Os criadores atribuíram o sucesso de domingo a uma mudança no mundo da televisão, em que sistemas de vídeo on demand e por streaming permitem o consumo de vários episódios sucessivos, e as redes sociais geram o burburinho.

"Acho que nosso programa não teria durado nem sequer além da segunda temporada se não fosse pelo video on demand, e também o componente da internet, onde as pessoas batem papo", disse o criador da série, Vince Gilligan, nos bastidores. "Isso realmente nos manteve em boa posição. É uma ousada nova era." Se o prêmio de Melhor Drama vingou o poderio dos canais a cabo, o prêmio de Melhor Comédia foi um aceno aos valores de produção das redes de TV aberta. Modern family, série altamente estilizada da ABC sobre famílias não convencionais, ganhou nessa categoria pelo quarto ano consecutivo.

Os Emmys são concedidos pela Academia de Artes e Ciências Televisivas. Numa alusão aos novos tempos, o apresentador Neil Patrick Harris abriu a cerimônia fechado em uma sala, assistindo a programas em múltiplas telas para não perder nenhum episódio. A nova sensação no mercado televisivo, a empresa de transmissão on-line Netflix, não conseguiu emplacar os prêmios de Melhor Drama e atuações para seu thriller político House of cards, mas levou o prêmio de Direção e foi motivo de conversas nos bastidores, sendo elogiada por concorrentes por sua capacidade de inovar desenvolvendo conteúdo original para transmissão on-line.

O canal a cabo HBO, que tinha 108 das mais de 500 indicações, mostrou que tem força para se manter num setor cada vez mais competitivo, em que os canais a cabo básicos e o Netflix vêm desafiando suas produções de alta qualidade. Jeff Daniels, que interpreta um esgotado âncora em The newsroom, surpreendeu ao vencer na categoria de Melhor Ator Dramático. Claire Danes emplacou pela segunda vez consecutiva o Emmy de Melhor Atriz Aramática por sua atuação como uma agente da CIA bipolar em Homeland. 

Tv Paga

Estado de Minas: 24/09/2013 



 (Universo Produção/Divulgação )

Resgatando a história


Estreia hoje,. às 22h, no Canal Brasil, o documentário Dossiê Jango (foto). O diretor Paulo Henrique Fontenelle propõe uma reflexão sobre o período da ditadura militar brasileira a partir de um dos mais controversos fatos políticos da história do país: a morte do ex-presidente João Goulart, em 6 de dezembro de 1976, na Argentina. Oficialmente, o ex-presidente morreu de infarto durante seu exílio político, quando planejava voltar ao Brasil. O argumento é de Paulo Mendonça e Roberto Farias.

José Sette faz poesia com  samba de Geraldo Pereira


Também em formato de documentário – ou um poema musical, como preferem alguns –, o longa O Rei do Samba, que o mineiro José Sette de Barros rodou em 1999, é atração de hoje, às 21h50, no Cine Brasil, traçando o perfil do compositor Geraldo Pereira. Outra produção brasileira, O diário de Tati, com Heloisa Périssé, volta em reprise no Telecine Pipoca, também às 22h.

Muitas alternativas na  programação de filmes


Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: O lutador, na MGM; Uma viagem muito louca, na Warner; Sherlock Holmes – O jogo de sombras, na HBO; A máquina do tempo, no ID; Super 8, no Telecine Action; e Anjos da lei, no Telecine Premium. E mais: Ligeiramente grávidos, às 20h, no Megapix; Um homem misterioso, às 20h, no Universal; Martha Marcy May Marlene, às 20h05, no Telecine Premium; A jovem rainha Victoria, às 21h35, no Glitz; e Meu amante é de outro mundo, às 23h , no Comedy Central.

José Wilker entrevista o colega ator Diogo Vilela


Diogo Vilela é o convidado de José Wilker no episódio desta noite de Palco e plateia, às 21h30, no Canal Brasil. Comz uma extensa carreira, com personagens marcantes na televisão, cinema e teatro, Vilela conta histórias de bastidores e curiosidades de sua trajetória.

Abujamra vai provocar  um vegetariano convicto


Na Cultura, às 23h, Antônio Abujamra entrevista o professor de literatura Roberto Juliano Gonçalves em mais um programa Provocações. Professor de cursinho e defensor fervoroso do estilo vegan de vida, Roberto Juliano fala sobre a era do “ecologicamente correto”. Ele é autor do livro O dilema do vegano.

Você já ouviu falar do  Museu do Real Madrid?


Narrado por Milton Gonçalves, Mundo museu vai levar o assinante até o Museu do Real Madrid, na capital espanhola. É isso mesmo: assim como no Brasil, o futebol é parte importantíssima da Espanha. Muito mais que um esporte, é um traço da cultura do país. E na capital, futebol é sinônimo de Real Madrid, o clube mais vitorioso de todos os tempos. Confira no +Globosat, às 21h.

MARIA ESTHER MACIEL » Enfim, a primavera‏

Estado de Minas: 24/09/2013 



Na semana passada, ao descer até o portão de seu prédio, Laura viu a lua. De repente (quase num susto), ela parou e pôs-se a olhar demoradamente para o alto, capturada pelo círculo branco e luminoso que se deixava ver entre as árvores da rua. Há muito tempo ela não contemplava uma lua cheia assim, tão incisiva. Não que Laura seja chegada a paisagens idílicas ou temas românticos. Mas diante dessa lua enorme, algo mexeu com sua sensibilidade. Talvez porque estivesse se sentindo meio triste e sozinha, sem a expectativa de que algo (por mínimo que fosse) pudesse desviá-la da rotina de seus dias. Mas a lua cheia de setembro apareceu, magnífica, e perturbou a mulher por alguns minutos, tornando-se, para ela, o grande acontecimento da noite.

Dias depois, no domingo, e ainda com a memória da lua nos olhos, Laura se deu conta de que a primavera estava para começar naquela tarde. Foi durante uma caminhada até a padaria da esquina que ela se lembrou disso e conferiu a data na tela do celular: 22 de setembro de 2013. “Acho que a lua me preparou para receber a primavera”, disse para si mesma, com certa satisfação. Pelo jeito, ela acredita (ou tenta acreditar) que a primavera chegou para alterar o curso das coisas em sua vida. Afinal de contas, Laura passou por um período difícil nos últimos meses e tem o direito de achar que a primavera pode lhe trazer uma outra fase, bem mais venturosa e amena. Para isso, ela se apega intensamente à simbologia da estação: tempo em que o princípio luminoso volta à terra, depois de um longo período de recolhimento, e confere um novo sentido a tudo. Mesmo que nada disso possa ser verdade na vida real, ela prefere achar que é. “Não custa ser otimista de vez em quando”, Laura pensa, ao chegar em casa e ir para a cozinha preparar um sanduíche. Aí se lembra, sem mais nem menos, de Maria Pastora, uma conhecida sua que lhe escreveu contando ter perdido a única filha, Sílvia, há pouco tempo. Esta completaria 50 anos em 19 de setembro, mas adoeceu e partiu antes disso, deixando a mãe em completo desconsolo. “Que Maria Pastora encontre um alento possível para sua dor, nesta primavera”, desejou, com ternura.

Mais tarde, para não deixar passar o dia 22 em vão, Laura resolveu comemorar a chegada da primavera com duas taças de espumante bem gelado, ao som de um concerto de Keith Jarrett – um de seus pianistas preferidos. Nessa mesma noite, ainda ouviu músicas de John Coltrane. O calor excessivo que fez ao longo de todo o domingo (algo incomum no mês de setembro) não permitiu que ela tomasse o vinho tinto português que tanto gosta de beber nas comemorações especiais. Mas o espumante estava bom, e ela não lamentou a troca. Ligou para Glória, sua vizinha do 13º andar, para convidá-la a compartilhar da bebida e da música, mas não a encontrou em casa. Foi, então, à biblioteca e, depois de percorrer com os olhos toda a parte de poesia, pegou o livro Jardins, de Rainer Maria Rilke, por considerar que ele combinava muito bem com o primeiro dia de primavera do ano. E para não dizer que não pensou em flores, olhou para o vaso de orquídeas no canto da sala e viu, com alegria, que novas flores estavam nascendo. 

Em nome das raízes - Ailton Magioli

Em nome das raízes 

Historiador e sambista Nei Lopes participa de debate em BH. Ele vai falar da importância do negro na formação cultural brasileira e denunciar a existência do preconceito racial no país 

Ailton Magioli

Estado de Minas: 24/09/2013


Nei Lopes se prepara para lançar disco e finaliza dicionário sobre a história social do samba (Márcia Moreira/Divulgação)
Nei Lopes se prepara para lançar disco e finaliza dicionário sobre a história social do samba

O Brasil não seria o que é se não fosse a presença africana. A constatação é do historiador, escritor, cantor e compositor Nei Lopes, um especialista do assunto que vai abordar hoje à noite, no Museu de Artes e Ofício, como convidado do projeto Ofício da Palavra.

Em plena Primavera de Museus, que tem a cultura afro-brasileira por tema, Nei lembra que a presença africana no país é verificada, principalmente, na língua. “De uma forma tão intensa e impregnada que muitas vezes falamos palavras africanas em estado quase puro, sem que nos demos conta disso”, exemplifica Nei Lopes, lembrando que são milhares de palavras, entre as quais ele cita bunda, cachaça, cafuné, carimbo, fofoca, fubá, maconha, moleque, umbanda e zombar, entre outras.

 “Muitas técnicas agrícolas, de criação de gado e de mineração, até hoje praticadas, são de origem africana”, ressalta o historiador. “Também técnicas de tecelagem e ourivesaria, além de usos culinários. Sem falar na música de todo o Brasil, nas várias formas de samba, nos diversos instrumentos usados na música popular fora de mercado, na capoeira, hoje uma prática desportiva mundializada”, acrescenta Nei Lopes.

Segundo ele, a religiosidade de matriz africana também é muito importante, principalmente pelos aportes que trouxe ao catolicismo. “E nessa religiosidade há toda uma fundamentação filosófica e moral. Sem o africano, o Brasil seria muito diferente, talvez nem tivesse uma identidade definida”, adverte o historiador. De acordo com ele, apesar da Lei 10.639/2003, que obriga o ensino de história e cultura africana e afro-rasileira nas escolas, a reação a ela tem sido muito grande.

“E isto principalmente nos redutos menos favorecidos, onde a força das chamadas Igrejas eletrônicas, neopentecostais, sataniza a cultura negra”, denuncia. Na opinião do historiador, é preciso divulgar cada vez mais conteúdos das culturas afro-originadas, para elevar a autoestima dos afrodescendentes, sempre muito baixa no país.

Nei Lopes faz questão de lembrar que, apesar das políticas públicas que menosprezam a presença negra no Brasil, até os anos 1930, desde a década de 1970 as entidades civis de defesa e promoção do povo afrodescendente vêm ganhando força por aqui. “Ainda assim, elas tinham de atuar como entidades meramente culturais, pois a repressão era grande”, recorda.

Como afirma Nei Lopes, foi a militância que fez com que os governos começassem a voltar seus olhos para a questão no Brasil. “Foi assim que chegamos ao Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010), que embora bastante esvaziado em relação ao projeto original, é um texto importante. A própria Constituição federal, promulgada em 1988, já contém dispositivos inovadores, provocados por reivindicações do movimento negro”, defende.

Letra e música
Nei Lopes, que está finalizando o Dicionário da história social do samba, em parceria com Luiz Antônio Simas, lamenta o fato de a presença negra no Brasil só ter visibilidade forte na música e nos esportes. “Mas se a gente levar em conta que, por exemplo, Machado de Assis, Cruz e Souza, Lima Barreto, Mário de Andrade, Gonçalves Dias, Irineu Marinho, Theodoro Sampaio, André Rebouças, João do Rio e Milton Santos eram afrodescendentes, já vai dar vontade de saber onde estão os outros”, conclui.

No momento, ele ainda aguarda o lançamento do CD Samba a rigor, gravado com a Orquestra Coisa Fina, de São Paulo, sob a direção do músico Guga Stroeter. Nei, que acaba de entregar a Íris Amâncio, da Nandyala Editora & Livraria, de Belo Horizonte, um volume de artigos, muitos dos quais publicados em jornais, atualmente mantém  também o blog Meu lote, em seu site oficial: www.neilopes.com.br.

NEI LOPES – OFÍCIO DA PALAVRA
Hoje, 19h30, no Museu de Artes e Ofícios, Praça da Estação, s/nº, Centro. Entrada franca. Informações: (31) 3248-8600.

Ela merece!

Estado de Minas: 24/09/2013 



A cantora Marlene ganha homenagem     (Agência Brasil)

A cantora Marlene ganha homenagem


Marlene, de 90 anos, será homenageada pelo 9º Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas, que recebe inscrições até 15 de outubro. Nada mais justo que lembrar a trajetória da Rainha do Rádio – afinal, a cantora gravou vários sucessos foliões.

A lista é grande: Subúrbio da Central (Carvalhinho e Mário Rossi), A bandinha do Irajá (Murilo Caldas), Estou com o diabo no corpo (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), Sereia da areia (João de Barro, Antônio Almeida e Nássara), Eva (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e Funga-Funga (José Gonçalves e Adelino Moreira) estão entre os hits carnavalescos da artista capixaba, carioca de coração.

Promovido pela Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, o concurso distribuirá R$ 27 mil em prêmios. Inscrições podem ser feitas no site www.concursodemarchinhas.com.br. Escolhidas por jurados, as 10 finalistas farão parte de um CD. A finalíssima será transmitida pelo programa Fantástico, exibido pela Rede Globo, com votação interativa.

RELATÓRIO DA AIDS » Contágios por HIV caem um terço desde 2001‏

Estado de Minas: 24/09/2013 



Genebra – O vírus da Aids (HIV) afeta atualmente cerca de 35,3 milhões de pessoas no mundo, e o número de mortes caiu 33% desde 2001. Alcançou 2,3 milhões de óbitos em 2005, 1,7 milhão em 2011, e 1,6 milhão em 2012. O número de novas contaminações passou para 2,3 milhões no ano passado, 200 mil novos casos a menos do que no ano anterior.
A queda desde 2001 foi mais acentuada entre as crianças (52%), indicou o relatório anual 2013 do Programa das Nações Unidas para o HIV/Aids (Unaids), divulgado ontem em Genebra. A tendência geral é percebida também na América Latina, com 97 mil novos casos registrados em 2001, contra 86 mil em 2012. “O número anual de contágios por HIV continua caindo, com reduções mais importantes no caso das crianças”, destacou Michel Sidibe, diretor executivo da Unaids.
No ano passado foram registrados 260 mil novos contágios em crianças em todo o planeta, 52% a menos que em 2001. O documento ressalta os esforços para fornecer tratamento antirretroviral às mulheres grávidas soropositivas para evitar a transmissão do HIV aos bebês.


Graças a esse tipo de política, o mundo evitou a infecção de 670 mil crianças, calculam os relatores do documento. Na América Latina, quase 15 mil mulheres soropositivas recebem tratamento antirretroviral para evitar a transmissão da infecção aos filhos, o que representa 83% das mulheres grávidas que vivem com HIV nesta região. A probabilidade de uma mulher grávida soropositiva infectar o filho era de 31% em 2009 a nível mundial, mas em 2012 a possibilidade caiu para 9%.
O vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Aids, é transmitido por fluidos corporais, como sangue, sêmen e leite materno, mas pode ser controlado com um coquetel de medicamentos chamado terapia antirretroviral. Até o fim de 2012, cerca de 9,7 milhões de pessoas em países pobres e de renda média tinham acesso a drogas contra a Aids, um aumento de quase 20% em um ano.


A meta em todo o mundo para 2015 é obter uma redução de 90% dos contágios entre as crianças, um objetivo possível, segundo a Unaids, que pretende levar o tratamento a 15 milhões de pessoas nos países de baixa renda. “Não apenas estamos em condições de alcançar este objetivo, como temos de ir além: ter a visão e o compromisso de que não estamos deixando ninguém para trás”, afirma Sidibe.


A meta pode parecer ambiciosa, levando em consideração os recursos financeiros disponíveis. As doações internacionais permanecem estagnadas desde 2008 em consequência da crise econômica, mas a verba destinada ao combate ao HIV nos países mais afetados aumentou nos últimos anos. O total de recursos disponíveis para o HIV em 2012 alcançou US$ 18,9 bilhões. A ONU espera elevar a quantia a US$ 24 bilhões em 2015. “Se não pagarmos hoje, pagaremos mais tarde, pagaremos para sempre”, advertiu Sidibe.

LOCAIS MAIS AFETADOS A África Subsaariana é a região do mundo com mais infectados pelo HIV: 25 milhões de pessoas, sendo 2,9 milhões crianças, e com o maior número de novas infecções em 2012, 1,6 milhão de pessoas (230 mil crianças), e de mortes relacionadas com a doença, quase 1,2 milhão.


Em seguida aparece a região do sudeste asiático, com 3,9 milhões de infectados pelo HIV (200 mil crianças). A América Latina tem 1,5 milhão de infectados (40 mil crianças, enquanto Europa e a América do Norte registram 1,3 milhão de infectados cada.

PRAZER EM AJUDAR » Missão de vida

PRAZER EM AJUDAR » Missão de vida 


Escola Superior de Justiça leva desde 2007 educação a 600 crianças e jovens de 6 a 17 anos em Guiné-Bissau



Lilian Monteiro


Estado de Minas: 24/09/2013 



Cerca de 600 crianças e jovens têm aulas, assistência de saúde e refeições na escola, atividades apoiadas pela empresa educacional brasileira. Ideia é estender projeto, ainda este ano, para outra ilha africana (ESJUS/Divulgação)
Cerca de 600 crianças e jovens têm aulas, assistência de saúde e refeições na escola, atividades apoiadas pela empresa educacional brasileira. Ideia é estender projeto, ainda este ano, para outra ilha africana

O olhar, o ensinamento, a vontade e a atitude de ajudar quem precisa vieram dos pais. Desde criança aprendeu como hábito da família, em Goiás, a participar de ações de responsabilidade social. A lição é passada a cada geração e, há 10 anos vivendo em Minas Gerais, a advogada Sara Bernardes, diretora-presidente da Escola Superior de Justiça (Esjus), mantém há seis o projeto Conhecimento gera vida, que leva educação a 600 crianças de 6 a 16 anos em oito aldeias de Guiné-Bissau, na África Ocidental. “Minha ação é consciência humana porque Cristo disse: ‘Ame teu próximo como a si mesmo’. A paixão pelo projeto nasceu do meu coração. Não é bandeira. Tenho a necessidade de me alimentar diariamente da missão de contribuir com alguém. É implícito ao meu viver. O projeto nasceu da ideia de formar pessoas. A base é cristã e levamos educação, alimentação, vestuário, transporte e saúde. É um trabalho material e espiritual com acompanhamento minucioso”, diz.

Sara conta que a Esjus é a fundadora mantenedora do projeto e tem parceria com o Centro Pedagógico Missionário (Cepem), que coordena e executa o programa com 26 professores e dois coordenadores. Trabalho compartilhado por brasileiros e africanos em ilhas como Aghonho, Ancaodjo, Ancarabe, Ossocon, Aonho e Anghane. A instituição sustenta o projeto integralmente com recursos próprios enviados mensalmente para aquisição de material didático, construção de espaço físico para as aulas e para a alimentação, entre outras demandas. “Há pouco tempo construíram uma canoa para dar mais assistência a alunos em Guiné-Bissau. A ‘Canoa da Esperança’, como foi batizada, é o principal meio de transporte do local e beneficiou cerca de 200 crianças”, conta Sara.


 (ESJUS/Divulgação)


Preocupada em diminuir o índice de analfabetismo, a advogada se sente motivada com os resultados. “No início do projeto a taxa de analfabetismo nas ilhas girava em torno de 30%, hoje caiu para 20%. Com dedicação e empenho, colhemos frutos. É um sentimento de amor ao próximo materializado em atitudes. A Esjus atua na área de educação, preparando profissionais para o mercado de trabalho, por isso, nada mais natural que ter um projeto voltado para o ensino em lugares mais necessitados.”

Braço direito de Sara no projeto em Guine-Bissau, Sirlene Pereira Amorim Silva, diretora do Cepem, conta que tudo começou em 2003, na Ilha de Uno, situada no Arquipélago do Bijagos – Guine-Bissau. A ilha é formada por 31 aldeias, com cerca de cinco mil habitantes e situada a nove horas da capital. “Com grande carência na área de saúde e educação, devido ao difícil acesso e ao próprio isolamento, encontramos jovens de 17 anos que nunca tinham frequentado uma escola. O atendimento é feito em dois turnos e oferecemos ainda alimentação e atendimento de saúde.”

Sirlene destaca que o trabalho evoluiu, principalmente, porque “este ano recebemos muitos voluntários de Portugal (médicos e dentistas) que assistiram não só crianças da escola como toda a população”. A diretora destaca que, com a parceira com a Esjus e o projeto Conhecimento gera vida, a iniciativa que começou com o Cepem em 2003, ganhou mais segurança, já que “hoje, graças ao apoio financeiro integral que recebemos da Escola Superior de Justiça, oferecemos alimentação todos os dias a essas crianças e também ensino de qualidade”.

A cada três meses, a iniciativa recebe auxílio suplementar de alimentos oferecidos por uma organização americana, a IPHD. “O custeio da alimentação pela Esjus também auxilia no aprendizado dos alunos, já que sem comer muitas não conseguiam prestar atenção nas aulas porque sentiam dor de cabeça e de estômago. Alimentadas, o índice de frequência aumentou consideravelmente”, acrescenta a diretora do Cepem.

DESAFIOS Sirlene Amorim lembra que o quadro de analfabetismo mudou bastante desde a fundação do projeto. “Antes, víamos nas classes 6ª, 7ª e 8ª jovens acima de 20 anos. Hoje, essa realidade tem se transformado e estamos direcionando alunos para essas séries com idades corretas . As nossas crianças chegam à pré-escola com 6 anos e entram na primeira classe com 7. Observamos também como melhorou a língua portuguesa, muitos deles só falavam a língua comercial (crioulo) e o dialeto Bijago.” Sirlene enfatiza que o corpo docente é composto por nativos da própria ilha que completaram o ensino fundamental e que recebem a formação de magistério a cada 15 dias. Eles são acompanhados pela equipe pedagógica da escola durante as aulas. “Muitos desses professores tinham abandonado os estudos por falta de condições de ir até a capital. Com o trabalho da Cepem e do projeto Conhecimento gera vida foram incentivados por nós a continuar. Muitos deles já têm o ensino fundamental completo.” Ela acrescenta que o professor Francisco é um exemplo: parou de estudar há 20 anos na 5ª série. “Com o projeto, ele se sentiu estimulado a retomar e já completou a 9ª série. É um dos melhores profissionais da alfabetização.” Mas Sirlene lembra que o grande desafio foi conscientizar os pais sobre a importância da escola, já que a maioria leva as crianças todos os dias para a lavoura. “Para o próximo ano temos metas desafiadoras: expandir a escola para as ilhas vizinhas. Nestse momento, estamos em preparação para darmos início ao programa na Ilha de Formosa, que fica a três horas da Ilha de Uno, onde a realidade é a mesma. E implantar na Ilha de Uno um projeto de alfabetização de adultos com mulheres.”

MUDANÇAS CLIMÁTICAS »IPCC- Veredicto: culpa é do homem‏

IPCC, painel da ONU que reúne cientistas e especialistas de variadas áreas, divulgará na sexta-feira relatório que atesta que problemas ambientais estão ligados à ação humana



Estado de Minas: 24/09/2013


Carro no meio do lamaçal na região central de Nova Friburgo, cidade serrana do Rio de Janeiro, devastada por fortes chuvas há dois anos    (Maurício Lima/AFP %u2013 18/1/11   )
Carro no meio do lamaçal na região central de Nova Friburgo, cidade serrana do Rio de Janeiro, devastada por fortes chuvas há dois anos


Estocolmo – Uma comissão de especialistas da Organização das Nações Unidas está reunida desde ontem para rever o esboço de um relatório que eleva para 95% a probabilidade de que a mudança climática tenha causas humanas, e alerta para episódios climáticos mais extremos se os governos não tomarem drásticas providências. Cientistas e funcionários de 110 governos iniciaram em Estocolmo, na Suécia, uma reunião de quatro dias para editar e aprovar um texto de 31 páginas que também tenta explicar um “hiato” no ritmo do aquecimento global neste século, apesar do aumento nas emissões de gases do efeito estufa.

Situação drástica do Rio Po, que tem 652 quilômetros e atravessa da Itália ao Mar Adriático (GIUSEPPE CACACE/AFP %u2013 25/7/07)
Situação drástica do Rio Po, que tem 652 quilômetros e atravessa da Itália ao Mar Adriático

O Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) repassará o documento ponto a ponto e o apresentará na sexta-feira como principal guia para os governos, que já decidiram aprovar até 2015 um novo acordo climático no âmbito da ONU. Este será o quinto relatório do painel da ONU, que reúne milhares de cientistas, desde sua criação, em 1988. Em 2007, o IPCC gerou uma mobilização sem precedentes a respeito do clima, o que rendeu a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao painel, ao lado do ex-vice-presidente americano Al Gore.


Mudanças na natureza alteraram o clima ao redor do globo, como no Quênia, assolado pela forte seca (Simon Maina/AFP %u2013 20/7/11   )
Mudanças na natureza alteraram o clima ao redor do globo, como no Quênia, assolado pela forte seca

“Espero que o mundo entenda a simplicidade e a gravidade da mensagem que vamos fornecer. As provas científicas das (...) mudanças climáticas se reforçaram a cada ano, deixando pouca incerteza, salvo sobre suas graves consequências”, disse Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, ontem, logo depois da sessão de abertura do encontro. A mudança climática “vai transformar nossas vidas, nossas economias e, na verdade, a forma como o nosso planeta vai funcionar no futuro”, disse Achim Steiner, chefe do Programa de Meio Ambiente da ONU, aos delegados. O grande desafio é todos os países signatários da ONU transformarem suas economias em um modelo mais limpo, baseado em energias renováveis, principalmente.


Usina de energia térmica em Sófia, capital da Bulgária: fumaça que contribui para o efeito estufa  (DIMITAR DILKOFF/AFP %u2013 14/2/13 )
Usina de energia térmica em Sófia, capital da Bulgária: fumaça que contribui para o efeito estufa

O texto destacará a urgência de tomar medidas para poder conter o aquecimento da Terra a mais 20 C, um objetivo adotado pelos 195 países que negociam sob os auspícios da ONU, mas que parece cada vez mais distante, segundo cientistas. Esboços do novo relatório do IPCC indicam que as atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, são, de forma “extremamente provável” (pelo menos 95% de probabilidade), a principal causa do aquecimento global desde a década de 1950. O relatório, assinado por 259 autores de 39 países, é o primeiro de quatro que o IPCC deve lançar em 2014 para tratar do aquecimento global. Os ambientalistas querem uma ação rápida. O Greenpeace disse que os governos deveriam acabar o relatório e passar para as energias limpas. Samantha Smith, do WWF, disse: “O mundo natural está enviando um sinal de socorro, e estamos ignorando isso por nossa conta e risco”.




"Espero que o mundo entenda a simplicidade e a gravidade da mensagem que vamos fornecer. As provas científicas das (...) mudanças climáticas se reforçaram a cada ano, deixando pouca incerteza, salvo sobre suas graves consequências" -Rajendra Pachauri, presidente do IPCC



"Relatório será inquestionável", diz Pachauri

O IPCC já publicou quatro relatórios, em 1990, 1995, 2001 e 2007, que confirmaram o papel que o ser humano desempenha no aquecimento observado no século 20. O informe de 2007 previa um aumento da temperatura média do planeta entre 1,8 e 4 graus e a possibilidade de uma elevação até 60 C com relação às temperaturas anteriores à Revolução Industrial. Este documento indicava a causa humana era vista como “muito provável”, ou uma probabilidade de pelo menos 90%. Em 2010, pouco depois do fracasso da cúpula de Copenhague (em 2009) que pretendia alcançar um acordo climático mundial, o IPCC foi questionado pelos céticos do aquecimento global, que destacaram alguns erros em seu último informe, como o que falava do risco de um derretimento dos gelos do Himalaia antes de 2035.

A data não se baseou em uma das publicações científicas submetidas à avaliação do IPCC. A instituição admitiu ter cometido um “erro lamentável”, embora tenha esclarecido que não colocava em dúvida a validade de suas conclusões. O texto atual indica que a maior parte desses impactos deve piorar se os governos não tomarem medidas para reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa, diz o texto.

Rajendra Pachauri prometeu que o diagnóstico contido no informe será inquestionável. “Não conheço um documento que tenha sido submetido a este tipo de análise minuciosa e que tenha envolvido tantas pessoas com espírito crítico, que ofereceram sua perspicácia e conselhos”, afirmou o co-presidente do grupo de trabalho que assinou o documento, Thomas Stocker. “O documento se baseou em milhares de medições na atmosfera, na terra, no gelo, no espaço”, acrescentou o cientista suíço, que é professor da Universidade de Berna. Ele ressaltou que estas medidas permitem ter uma visão sem precedentes e imparcial do estado do sistema climático. “A mudança climática é um dos grandes desafios de nossa época”, reafirmou o especialista, acrescentando que “esta mudança ameaça nossos recursos primários, a terra e a água. E como ameaça nossa única residência, devemos enfrentá-la”, ressaltou o especialista, frisando que isso exige “as melhores informações para tomar as medidas mais eficazes”.

Simpósio da ABC
No Brasil, eventos extremos, principalmente de chuva, têm sido trágicos e, lamentavelmente, frequentes. De triste lembrança recente são os episódios na região serrana do Rio de Janeiro (janeiro de 2011 e março de 2013) e no Morro do Bumba, em Niterói (abril de 2010), que causaram enorme comoção nacional. Diante disso, o Grupo de Estudos sobre Mudanças Ambientais Globais da Academia Brasileira de Ciências (ABC) está organizando para quinta-feira o simpósio “Mudanças climáticas e desastres naturais no Brasil: desafios e oportunidades para o setor de seguros”. A iniciativa foi do banco Itaú, membro institucional da ABC, que propôs à academia e à Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) que trabalhassem juntas para organizarem evento sobre o assunto. O evento será na sede da ABC, no Centro do Rio de Janeiro. Mais informações e inscrições: Vitor Vieira (vvieira@abc.org.br). 

Unidos contra a obesidade

Pesquisa dos EUA indica que fazer refeições em família e reduzir tempo dedicado à TV são atitudes eficazes de combate ao excesso de peso infantil, e ainda fortalecem laços familiares


Publicação: 24/09/2013 04:00



Kenya Borges come orgânicos desde pequena, estimulada pela mãe. Hoje, repassa a preferência por alimentos saudáveis ao filho Vitor Hugo (Antônio Cunha/Esp.CB/D.A Press  )
Kenya Borges come orgânicos desde pequena, estimulada pela mãe. Hoje, repassa a preferência por alimentos saudáveis ao filho Vitor Hugo

Se alguém pedir a Vitor Hugo, de 9 anos, para escolher entre salgadinhos, doces ou frutas, a resposta do garoto pode surpreender. Diferentemente do que normalmente se espera das crianças – em geral, fascinadas por fast foods e guloseimas –, ele escolherá a fruta. Os bons hábitos alimentares foram aprendidos em casa com os pais e os avós e praticados em conjunto. A mãe do garoto, Kenya Borges, de 31, adaptou os horários para fazer todas as refeições com o marido e os filhos. Café da manhã, almoço e jantar são as oportunidades de eles conversarem sobre o cotidiano. “É um momento em que estamos juntos, podemos conversar sobre o dia, saber o que aconteceu na escola, por exemplo”, diz.

Segundo um estudo publicado no Jama Pediatrics, jornal da Associação Médica Americana, hábitos familiares saudáveis, como fazer as refeições em família, contribuem para prevenir a obesidade infantil e reduzir o excesso de peso. Os pesquisadores de quatro centros de saúde em Boston fizeram um experimento com dois grupos familiares. Um recebeu orientações para mudar os hábitos e o outro teve as práticas já consolidadas acompanhadas. As famílias que alteraram os comportamentos – dormindo o tempo suficiente e passando menos tempo em frente à televisão, por exemplo – tiveram melhoras significativas na saúde alimentar dos filhos.

Na casa de Kenya, os efeitos do experimento são comprovados na prática. “Quando fazemos as refeições juntos, podemos dar o exemplo, comer alimentos saudáveis. Se o pai não come verduras, como esperar isso do filho?”, exemplifica. Ela também aprendeu com os pais a ter uma rotina que levasse em conta uma alimentação mais saudável. "Minha mãe produz vegetais orgânicos e, desde sempre, eles fazem parte da nossa alimentação.”
Silvia Boani começou a cuidar da alimentação de Lucas quando ainda estava grávida (Antônio Cunha/Esp.CB/D.A Press  )
Silvia Boani começou a cuidar da alimentação de Lucas quando ainda estava grávida

Segundo o psicólogo infantil Marcelo Quirino, esse cuidado de reunir a família faz com que os mais novos associem a hora de comer a práticas saudáveis e a um tempo prazeroso de convivência e aprendizado. “As reuniões formam, na mente da criança, a imagem da importância dada à alimentação pela família, o que possibilita que ela perpetue bons hábitos durante a vida", explica.

Ainda no útero Nutrólogo e professor de pediatria da Universidade de São Paulo (USP), Rubens Feferbaum acredita que a influência dos hábitos dos mais velhos sobre os pequenos começa antes mesmo do nascimento das crianças, ainda na gestação. A forma como o bebê se nutre nos primeiros mil dias – 280 de gestação e 720 depois de nascer – é fundamental para a saúde futura. “Desde a gestação, os hábitos da mãe devem ser adequados, a alimentação da criança nessa fase vai se refletir na vida adulta”, afirma.

A advogada Silvia Boani, de 37, intensificou os cuidados que já tinha com a alimentação assim que soube da chegada de Lucas. “Minha preocupação começou desde a gestação. Eu já tinha uma alimentação balanceada, mas passei a me preocupar ainda mais”, conta. Quando Lucas tinha 2 anos, um susto tornou ainda mais rígida a maneira como a família e o garoto se alimentavam. O menino foi diagnosticado com colesterol alto – relacionado a um histórico familiar do problema. Aliados aos hábitos alimentares os exercícios físicos ajudaram a normalizar as taxas de colesterol do garoto.

Médico no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e no Hospital Sírio-Libanês, Paulo Taufi Maluf ressalta que a decisão da família de privilegiar atividades físicas e cuidados gerais com o organismo leva a um risco menor de complicações para a criança. “A prevenção da obesidade resulta da importância que a família dá ao problema e da filosofia de vida que se adota”, afirma.
 
Histórico de exageros
ou de cuidados


Alimentação sem controle e outros costumes inadequados são, na maioria dos casos, frutos das atitudes tomadas pelos pais. O acesso exagerado a salgadinhos, doces e outras guloseimas que podem fazer mal é, na maioria das vezes, possibilitado por algum adulto. Por isso, a mudança na rotina familiar pode provocar tantas mudanças na saúde da criança e na prevenção de alguns problemas. "A ‘culpa’ não é da criança. Os hábitos errôneos vêm da família, não é a criança sozinha que faz as compras e inclui salgadinhos e guloseimas no carrinho do supermercado", pondera o nutrólogo Rubens Feferbaum.

As telas da televisão, de tablets e do computador podem ser um fator de risco durante as refeições. A distração provocada pelos aparelhos eletrônicos faz com que o ato de comer seja deixado de lado, o que pode diminuir a sensação de saciedade e fazer com que a criança mastigue menos do que o ideal. “Nesses casos, o ato de alimentação se torna sem prazer, corrido e até mesmo desnecessário na cabeça de algumas crianças”, diz o psicólogo infantil Marcelo Quirino.

Cantinho do castigo - Rosely Sayão

Fonte: Folha de São Paulo

Cantinho do castigo

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Eu tentei; eu juro que tentei, caro leitor, resistir à tentação de escrever a respeito do cantinho do castigo. Ah, como eu tentei. Mas o maldito cantinho me persegue.
Não há um dia em que, em uma busca de assuntos na internet, eu não me depare com artigos, blogs, reportagens com listas de recomendações aos pais para bem educar o filho, de acordo com a idade que ele tem, que não apresente a ideia do cantinho. Até mesmo de programas de televisão eu não consigo escapar: vira e mexe, lá está a história do cantinho.
Certamente todos conhecem essa estratégia chamada educativa, mas caso alguém tenha tido a sorte de nunca ter se deparado com ela, eu explico. Quando uma criança faz algo que não deveria ter feito, quando se descontrola, quando faz birra ou briga com o irmão, por exemplo, os pais -ou responsáveis, que podem até ser professores- devem levar a criança até um canto, de preferência longe do convívio familiar, e deixar a criança lá por um tempo.
E por quanto tempo a criança deve lá ficar? Ah, depende da idade dela, dizem os adeptos de tal estratégia. Pode ser, por exemplo, um minuto para cada ano que a criança tem, com pequenas variações. E você acredita, leitor, que já há banquinhos em forma de ampulheta, com areia dentro, que demora cinco minutos para passar de um lado ao outro? Então: a estratégia faz tanto sucesso entre os pais que já mobilizou até o mercado de produtos.
Conheço muitas mães que adoram o cantinho. Elas são entusiasmadas assim com a estratégia porque ela funciona, dizem. Sim, funciona. Por um tempo funciona, principalmente com crianças que têm menos de seis anos. As mais indefesas. Experimenta colocar um adolescente no cantinho!
Funciona da mesma maneira que funciona ensinar um cão a atender comandos como "senta" e "fica", por exemplo. Em outras palavras, adestramento, condicionamento, controle funcionam. Por um tempo, reafirmo.
E quando a estratégia do cantinho vem acompanhada da palavra "pensamento"? O tal "cantinho do pensamento" deve levar a criança a pensar na bobagem que fez. Refletir a respeito de seu mau comportamento. Como uma criança pequena pode ter uma atitude reflexiva?
Pensando bem, deve ser divertido para a criança imaginar a areia descendo e passando pelo fino buraquinho do banquinho sobre o qual está sentada. Deve ser bom também ter tempo para pensar no que quiser, imaginar, lembrar. É... o cantinho tem lá sua utilidade boa para a criança!
Em resumo, os ensinamentos nessa linha afirmam que quando a criança se comporta bem, os pais devem elogiar; quando não, levá-la para o cantinho. Na linguagem da psicologia comportamental, elogio é o reforço positivo -que visa aumentar a incidência de um comportamento- e o cantinho é o "time out", técnica que visa reduzir um comportamento indesejado.
As questões sobre as quais devemos refletir -nós, adultos, temos condição de fazer isso- é se essas estratégias educam e respeitam a criança. Minha resposta para ambas as questões é não. O cantinho do castigo, ou do pensamento, é uma punição. E sabemos que punição faz sofrer, mas não ensina nada. Adestra, condiciona, controla. Por um tempo.
Mas, e depois, quando o cantinho não for mais aplicável? O que os mais novos terão aprendido com o uso dele? Essa deve ser a nossa questão quando ficarmos tentados a usar o cantinho.