Supimpitude
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/11/2014Pergunto ao caro e preclaro leitor: que lhe parecem as frases listadas abaixo? Antes que você responda, vou avisando que são alguns dos títulos de um livrinho que publiquei há exatos três anos. Vamos lá: “Costumo escrever com algum acerto porque sou muito desconfiado”; “Duas coisas exigem cama imediata: gripe e amor”; “O castelo do homem é o seu banheiro”; “Do homem a praça, da mulher a casa”; “Há serviços tão grandes que só podem ser pagos pela ingratidão”; “O Brasil é um país em que o atraso de certas coisas tem progredido muito”; “Por que botar a culpa nos outros, quando o único culpado sou eu?”.
Ainda que você não tenha dito, sou capaz de apostar que achou os títulos da melhor supimpitude. Foi mais ou menos o que disse famoso poeta, jornalista, escritor e comentarista de tevê, quando lhe mandei meu livrinho, que obviamente não leu. Em e-mail a outro amigo, escreveu: “Recebi o último livro do Eduardo. Capítulos extraordinários!”. Mais não disse nem lhe foi perguntado. Ficou evidente pelo comentário que o afamanado brasileiro passou a vista nos títulos dos capítulos, nas duas primeiras páginas do livrinho, e deixou o resto para ler depois, o que significa dizer nunca.
Portanto, ficou sem saber que os títulos dos capítulos, como se vê durante a leitura do livro, são frases que tomei emprestadas de Abgar Renault, Millôr Fernandes, D. Francisco Manuel de Macedo, Alexandre Dumas, pai e Joel Silveira, entre outros que dispensam apresentações. Modéstia às favas, a ideia foi brilhante, porque os textos dos capítulos têm relação com as frases dos títulos. Quanto ao livro, só posso dizer que o autor e suas filhas gostaram muito.
Situação
A excelente série “São Francisco, um rio em agonia”, de Mateus Parreiras e Luiz Ribeiro, me fez lembrar de uma análise que ouvi em Minas há mais de 20 anos: “A situação é tão ruim, que joão-de-barro não está podendo construir casa: está reformando”. Difícil, mesmo, deve ser a reforma do Velho Chico depois das agressões que tem sofrido ao longo dos anos. De brincadeira, sugeri a transposição do Amazonas para aumentar a vazão do São Francisco e permitir que a transposição do Lula alcance o Nordeste. Dias depois, li que se cogita a sério da transposição do Xingu, afluente do Amazonas pela margem direita.
O que havia para ser contado sobre o Velho Chico consta da série dos ótimos jornalistas Parreiras e Ribeiro, por isso me limito, enquanto philosopho, ao capítulo das estações de tratamento inoperantes, nas quais foram gastos mais de 20 milhões de reais. O país deve ser muito rico para poder jogar dinheiro fora.
Tudo começa pela confusão “ter ou não ter esgoto”. Costuma-se dizer que uma rua tem esgoto, quando dispõe de tubulação que recolhe aquela porcariada para jogar in natura em nossos rios. A porcariada sai fresquinha da casa do Fulano, protegida do sol e da chuva, para ser despejada no rio mais próximo. Mil vezes a moita de bananeiras, em que o adubo é depositado ao pé da musácea permitindo que se colham lindos cachos com os frutos muito do aprazimento de todos nós.
Buritizeiro, Iguatama e Pirapora são municípios mineiros em que as estações de tratamento de esgotos foram construídas e estão inoperantes, tomadas pelo mato, correndo o risco de destruição antes de tratar um só litro do esgoto produzido por 92 mil pessoas. O país é pouco sério, mas estava dispensado de exagerar.
O mundo é uma bola
21 de novembro de 1789: após ratificar a Constituição norte-americana, a Carolina do Norte se torna o 12º estado daquele país. Esqueci-me de dizer que em novembro de 235 foi eleito o papa Antero, que morreu em janeiro do ano seguinte, depois de 40 dias de pontificado. Foi o 19º papa, sucedeu a Ponciano e foi sucedido por Fabiano. Antero deve ter sido morto por ordem do imperador Maximino Trácio.
Em 1883, foram inauguradas a linha de trem e a estação de Conservatória (RJ). Em rigor, a notícia não tem a menor importância, mas estou numa falta de assunto que o leitor nem pode imaginar. Tanto assim que lhes conto que em 1964 Pelé marcou seu recorde de gols numa partida: fez oito na vitória do Santos sobre o Botafogo, de Ribeirão Preto, por 11 a 0.
Em 1694, aí sim, tivemos notícia importante: nascimento de Voltaire, que morreria em 1778. Escritor, ensaísta e filósofo iluminista francês, François Marie Arouet nasceu e morreu em Paris. Era deísta e o deísmo, como sabe o leitor, é doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada. O deísmo difundiu-se principalmente entre os filósofos enciclopedistas e foi o precursor do ateísmo moderno. Hoje no Brasil é o Dia Nacional da Homeopatia.
Ruminanças
“Na idade adulta conquistei a tranquilidade do ateísmo desapegado e tolerante” (Tony Belotto).