A TARDE/BA - 07/09/2013
Felizmente a história não para. E podemos
fazê-la mudar para melhor. Depende
do nosso engenho e arte! O fato
de eu manter uma coluna quinzenal n’A TARDE
comprova tal progresso: por mais de duas
décadas, fui humilhado, chamado até de xibungo,
travesti repelente e persona non grata
por um finado jornalista, malgrado os protestos
de diversos Reitores da Ufba e vips
nacionais e estrangeiros. Essa mesma criatura,
autoproclamado Exterminador de Veados,
chegou a publicar: “Mantenha Salvador
limpa, mate uma bicha todo dia!”. Felizmente
esse longo e vergonhoso capítulo de homofobia
foi enterrado. Xocotô beroló!
Coincidentemente, nesta primeira semana
de setembro realizam-se em Salvador dois
eventos já não mais opostos: o II Simpósio
Internacional sobre Inquisição e a XII Parada
Gay da Bahia. Apresentarei duas comunicações:
uma sobre a dúvida dos Inquisidores se
queimavamos sodomitas ou degredavam para
o Brasil – de quatro mil denunciados, só 30
acabaram na fogueira, nenhum brasileiro; a
outra fala é sobre os sodomitas da Bahia,
dentre eles, dois governadores, o valente
construtor do belo Forte São Marcelo, Diogo
Botelho (1607) e Câmara Coutinho (1690), a
quem Gregório de Matos esculhambou em
diversos sonetos. Tudo documentado,
tim-tim por tim-tim, na Torre do Tombo.
O outro destaque nesta primeira semana
setembrina é a Parada Gay, que reunirá mais
de meio milhão de pessoas neste domingo à
tarde no Campo Grande. Presença confirmada
de Daniela Mercury e ainda no suspense
se o governador e prefeito aceitarão nosso
convite e terão a mesma coragem varonil dos
seus congêneres do Rio e São Paulo, que são
aplaudidíssimo pelos participantes desta gaia
manifestação cultural de cidadania.
A História felizmente mudou para melhor:
o mundo civilizado aprendeu a conviver com
negros, índios, judeus, raças que os Inquisidores
chamavam de “infectas”; os protestantes
e candomblezeiros podem seguir sua
fé; até o papa defende agora que os gays
devem ser respeitados! Viva o arco-íris!